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Meteorologia Básica Alexandre A. Costa, Ph.D. Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 1 Introdução à Meteorologia 1. Introdução.................................................................................................................02 2. A Circulação Geral e Local da Atmosfera................................................................03 a. Modelo da Circulação Geral.........................................................................03 b. Influência dos Oceanos no Clima.................................................................06 c. Circulações locais: Brisa Ar-Mar e Brisa Vele-Montanha...........................10 3. Os Sistemas Meteorológicos Atuantes no Nordeste.................................................13 a. Pré-Estação: Vórtices, Instabilidades associadas a Frentes Frias.................13 b. Estação Chuvosa: a Zona de Convergência Inter-Tropical...........................15 c. Pós-Estação: Os Sistemas de Leste...............................................................17 d. Sistemas de Mesoescala................................................................................18 4. Condições Meteorológicas e Queimadas..................................................................19 a. A Estação Seca.............................................................................................19 b. Risco de Incêndio: O Índice de Angstrom....................................................21 c. Outros índices de risco de incêndio..............................................................23 5. Mudanças Climáticas e Impactos..............................................................................26 a. A Física do Efeito Estufa..............................................................................26 b. Os Estudos do IPCC......................................................................................27 c. Possíveis Impactos no Nordeste Brasileiro...................................................32 Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 2 1. Introdução A meteorologia é definida como a ciência que estuda os fenômenos que ocorrem na atmosfera, e está relacionada ao estado físico, dinâmico e químico da atmosfera, as interações entre elas e a superfície terrestre subjacente. A Meteorologia básica, como o próprio nome sugere, nos fornece uma visão mais simples dos fenômenos atmosféricos que ocorrem em nosso dia a dia. Baseados em observações, os elementos meteorológicos mais importantes do ar, a velocidade e direção do vento, tipo e quantidade de nuvens, podemos ter uma boa noção de como o tempo está se comportando num determinado instante e lugar. As leis físicas aplicadas à atmosfera podem explicar o "estado" dela. Mas o estado ou o tempo é o resultado, desses elementos e outros mais com a influência dos fatores astronômicos e fatores geográficos, podem estar distribuídos em um número infinito de padrões no espaço e no tempo e em constante modificação. A meteorologia engloba tanto tempo como clima, enquanto os elementos da meteorologia devem necessariamente estar incorporados na climatologia para torná-la significativa e científica. O tempo e o clima podem, juntos, ser considerados como conseqüência e demonstração da ação dos processos complexos na atmosfera, nos oceanos e na Terra. A Meteorologia no seu sentido mais amplo, é uma ciência extremamente vasta e complexa, pois a atmosfera é muito extensa, variável e sede de um grande número de fenômenos. Neste curso, não nos propomos a nenhum estudo aprofundado dessa ciência, mas queremos apresentar uma visão geral dos principais fenômenos meteorológicos que ocorrem no Nordeste Brasileiro. Essas informações incluem aspectos gerais, com reflexos e impactos em áreas diversas das atividades humanas (recursos hídricos, agricultura, turismo, energia etc.) e aspectos específicos, visando uma maior compreensão do vínculo entre as condições de tempo e clima e o árduo trabalho de combate às queimadas e incêndios. O material se divide em quatro capítulos, além desta breve introdução, abordando aspectos da circulação atmosférica em grande e pequena escala, descrevendo os sistemas causadores de chuva no Nordeste, mostrando as mudanças nas variáveis atmosféricas na estação seca e como isso se reflete no risco de incêndio e, finalmente, apresentando noções sobre mudanças climáticas, discutindo seus possíveis impactos em nossa região. Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 3 2. A Circulação Geral e Local da Atmosfera Modelo da Circulação Geral O termo “circulação geral” se refere aos movimentos do ar na escala do planeta inteiro, ou seja, à constante presença de ventos na atmosfera da Terra. O motor que propulsiona essa máquina em contínuo funcionamento é a energia proveniente do Sol e que é recebida em maior quantidade no Equador do que nos pólos (Figura 1). Figura 1 fonte: http://www.eb23-gois.rcts.pt/estmeteo O papel da chamada circulação geral atmosférica é precisamente o de compensar parte desse desequilíbriom transportando calor das regiões equatoriais, mais quentes para as regiões polares, mais frias. A primeira idéia que se tinha, portanto, da circulação geral, era a de uma corrente circulante, com o ar quente subindo na altura do Equador, viajando por cima e resfriando, descendo nos pólos. A partir daí, o ciclo se fecharia, com o ar frio dos pólos seguindo em baixas altitudes rumo ao Equador. Era o chamado “modelo de uma célula”, indicado na Figura 2. Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 4 Figura 2 adaptada de http://apollo.lsc.vsc.edu/ O que ocorre na realidade, porém, é que a Terra apresenta um movimento de rotação significativo e, graças a essa rotação, as correntes de ar são desviadas. Esse efeito, que faz com que os ventos girem à direita no Hemisfério Norte e à esquerda no Hemisfério Sul é o chamado efeito de Coriolis. Com isso, o modelo idealizado que mais se aproxima da circulação geral de fato observada é um modelo de três células, como na Figura 3. Figura 3 fonte: http://fisica.ufpr.br/grimm/aposmeteo/cap8/cap8-1.html Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 5 No modelo de 3 células, o ar que ascende na zona equatorial se dirige aos pólos mas, em virtude da rotação da Terra, vai se desviando para a direita no HN e para a esquerda no HS e não consegue atingir os pólos, descendo sobre os subtrópicos. Esse ar tem de prosseguir em baixos níveis, com novo movimento ascendente em latitudes médias para finalmente descer sobre os pólos, onde inicia o trajeto inverso. Nesse percurso, ele desenha três circunvoluções em cada hemisfério terrestre: a célula de Hadley, a célula de Ferrel e a célula polar. Particularmente no retorno do fluido atmosférico ao equador, ao se desviar para a direita no HN e para a esquerda no HS, se formam os chamados ventos alísios de nordeste e de sudeste, que transportam umidade e convergem, formando uma região com muitas nuvens e chuva: a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). Na prática, a circulação geral na Terra não é tão bem comportada assim. Ela é perturbada pela presença de continentes e oceanos e pela inclinação do eixo da Terra, que introduz as estações, como esquematizado na Figura 4. Figura 4 fonte: http://www.geografiaparatodos.com.br/ Essa mudança periódica nos padrões de iluminação dos dois hemisférios produz um ciclo anual. Como veremos no capítulo seguinte, no Nordeste, esse ciclo se reflete na migração, para o Norte e para o Sul, da ZCIT, como na Figura 5 (perceba, nessa figura, que a amplitude do movimento da ZCIT é bem maior sobre os continentes do que sobre os oceanos... será que você poderia explicar?). Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 6 Figura 5 fonte: http://www.ideam.gov.coInfluência dos Oceanos no Clima Nosso planeta é recoberto por três quartos de oceanos e somente um quarto de continentes. Além disso, como a água é uma substância de elevado calor específico, os oceanos terminam sendo gigantescos reservatórios de calor, que regulam o clima. De fato, os oceanos exercem um papel fundamental ao determinar o comportamento médio da atmosfera. O exemplo mais claro dessa interação entre oceano e atmosfera é o chamado fenômeno El Niño – Oscilação Sul (ENOS). O "El Niño" consiste no aquecimento acima do normal das águas oceânicas no setor centro- leste do Oceano Pacífico Tropical, desde a costa da América do Sul (próximo ao Peru e Equador) até aproximadamente a Linha da Data Internacional (longitude de 180 graus). Este aquecimento anormal, em geral, observa-se no mês de dezembro, ou seja, próximo do Natal (daí surgiu o nome de El Niño - o menino Jesus - dado pelos pescadores peruanos devido a época de ocorrência desse fenômeno). A Oscilação Sul (OS) caracteriza-se por uma "gangorra barométrica" de grande escala observada sobre a Bacia do Pacífico Tropical. Grandes secas na Índia, no Nordeste do Brasil, na Austrália, Indonésia e África são decorrentes do fenômeno, assim como algumas enchentes no Sul e Sudeste do Brasil, no Peru, Equador e no meio oeste dos Estados Unidos. Em algumas áreas, observam-se temperaturas mais elevadas que o normal (como é o caso das regiões central e sudeste do Brasil, durante sua estação de inverno), enquanto em outras ocorrem frio e neve em Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 7 excesso. Portanto, as anomalias clim ticas associadas ao fenômeno El Niño são desastrosas e provocam sérios prejuízos sócio-econômicos e ambientais. O El Niño ocorrido em 1982-83, o mais forte deste século, deixou um saldo (baseado só em dados que se têm registro) de mais de 30 mil desabrigados, 2.000 mortes pela fome ou enchentes, mais um prejuízo econômico que ultrapassa US$ 8 bilhões. Existem ainda algumas evidências de que o El Niño modifica a circulação das águas frias do fundo do Oceano Pacífico, fazendo com que diminua a quantidade de nutrientes que naturalmente existe em abundância nas proximidades do Peru e Equador. Em decorrência deste fato, há quebra na produção pesqueira daqueles países e uma interferência na fauna das Ilhas Galápagos. Alguns cientistas já relacionaram, inclusive a influência do El Niño no favorecimento da propagação de epidemias ou surtos de algumas doenças como o cólera, a dengue, a malária, etc. O fenômeno El Niño é cíclico, mas não possui um período regular, reaparecendo no intervalo de 3 a 5 anos. Segundo alguns trabalhos baseados em análises de produção pesqueira e de dejetos de pássaros das Ilhas Galápagos, pôde-se inferir a ocorrência do fenômeno (pelo menos) há 500 anos. Os mecanismos físicos envolvidos no acoplamento oceano-atmosfera sobre a região tropical ainda não são muito bem entendidos. O que se tem como consenso por parte da comunidade científica é que os padrões anormais observados no campo das anomalias de temperatura da superfície do mar (TSM) surgem da dinâmica interna do próprio oceano. E também são forçados pelos processos dinâmicos e termodinâmicos que ocorrem na atmosfera que por sua vez, agem mecanicamente sobre os oceanos tropicais redistribuindo as anomalias de TSM que, por conseguinte, através dos fluxos de calor (evaporação, processos convectivos, formação de nuvens, etc.) forçam, simultaneamente, a atmosfera e provocam mudanças no campo de vento em baixos níveis. Este mecanismo de realimentação "feedback", sob certas condições, produzem instabilidades no sistema acoplado. O fenômeno El Niño Oscilação Sul (ENOS) é um exemplo da manifestação dessa instabilidade. Portanto, o ENOS pode ser definido como um fenômeno de escala global associado a um forte acoplamento oceano-atmosfera que se manifesta sobre o Oceano Pacífico Tropical, no qual consiste de uma componente oceânica, o El Niño, e uma componente atmosférica, a Oscilação Sul. Sob condições normais observa-se o ramo ascendente da Célula de Walker (favorável `a formação de nuvens convectivas profundas) sobre o Pacífico oeste e Austrália onde tem-se águas quentes e pressões baixas. Por outro lado, sobre a região do Pacífico leste, próximo do Peru e Equador, onde verifica-se a presença de águas frias (devido a ressurgência - afloramento na superfície das á guas oceânicas advindas do fundo do Oceano Pacífico) e pressões altas, manifesta-se o ramo subsidente da Célula de Walker (que inibe a formação de nuvens). Isto é mostrado na Figura 6. Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 8 Figura 6 fonte: http://www.funceme.br/DEMET Durante a ocorrência do fenômeno El Niño as interações oceano-atmosfera de grande escala que se processam na Bacia do Pacífico Tropical, provocam modificações na circulação geral da atmosfera, isto é na Célula de Walker e, consequentemente, desencadeiam adversidades climáticas (secas, enchentes, temperaturas altas, etc.) em diversas regiões continentais ao redor do globo. As principais características oceânicas e atmosféricas associadas ao El Niño são: Sobre o Pacífico leste (principalmente na costa do Peru e Equador), onde há normalmente águas frias, aparecem águas mais quentes do que o normal; Os ventos Alísios diminuem sensivelmente a sua intensidade; As pressões no Pacífico leste ficam abaixo do normal, enquanto que no Pacífico oeste as pressões ficam acima do normal; A presença de águas quentes e convergência de umidade favorecem `a formação de nuvens convectivas profundas sobre o Pacífico centro-leste; A circulação atmosférica (Célula de Walker) modifica-se totalmente (compare a figura abaixo com as condições normais na figura ilustrada anteriormente): Sobre o Pacífico oeste (Austrália e Indonésia) onde havia o ramo de ar ascendente (ar subindo), durante o El Niño passa a apresentar o ramo de ar descendente (ar descendo) que inibe a formação de nuvens. Sobre o Pacífico leste (Peru e Equador) onde havia o ramo de ar descendente (ar descendo), durante o El Niño passa a apresentar o ramo de ar ascendente (ar subindo) que é favorável `a formação de nuvens. Sobre a Bacia do Atlântico Equatorial, incluindo o leste da Amazônia e Semi-Árido Nordestino aparece a prediminância de um ramo de ar descendente (ar descendo) que inibe a formação de nuvens. Daí tem-se a explicação física do porque o fenômeno El Niño está associado com chuvas abaixo do normal, principalmente no norte do Semi-Árido Nordestino (que inclue o Estado do Ceará). Essa situação anômala é mostrada na Figura 7. Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 9 Figura 7 fonte: http://www.funceme.br/DEMET O Oceano Atlântico possui uma extensão bem menor e, por isso, sua variabilidade não acarreta impactos globais tão relevantes quanto o Pacífico. No entanto, os reflexos locais sobre o Nordeste de modificações no campo de TSM do Atlântico são bastante significativas, como mostrado na Figura 8.. Figura 8 fonte: http://www.master.iag.usp.b Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 10 Na Figura 8, é mostrada a relação entre a distribuição geral de TSM do Atlântico Tropical e o posicionamento da ZCIT. No capítulo seguinte, discutiremos a influência direta dessa distribuição de TSM sobre as precipitações no Nordeste. Circulações locais: Brisa Ar-Mar e Brisa Vele-Montanha O aquecimento diferenciado da superfície da Terra pelo Sol causa diferenças de pressão. Estas diferenças levam ao movimento do ar. Este movimento do ar verifica-se a diferentes escalas; à escala global (circulação global), à escala média (mesoescala) e à escala local (brisas ar-mar e ventos de montanha). Como sabemos, a água tem uma maior capacidade térmica que o solo, isto é, a água aquece muito mais lentamente que o solo mas pode manter a sua temperatura durante muitomais tempo. Durante o dia, junto a grandes corpos de água, o solo e água verificam uma diferença de temperatura, essencialmente devido às suas diferentes capacidades térmicas. Tal como já sabemos, o Sol aquece diferentemente diferentes partes da Terra o que causa diferenças de pressão. Da mesma forma, num dia quente, junto à costa, este aquecimento diferenciado da água e do solo conduz à criação de ventos locais denominados de brisa marítima. Assim, uma brisa marítima desenvolve-se, num dia de Sol, quando a temperatura do solo é mais elevada que a da superfície do mar (Figura 9). À medida que o solo aquece, o ar na sua vizinhança expande-se, torna-se menos denso e começa a subir. Para substituir este ar em movimento ascendente surge o ar, inicialmente sobre a superfície do mar, a temperatura mais baixa. Figura 9 fonte: http://www.physicalgeography.net/fundamentals Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 11 Em contraste, durante a noite, a água não se resfria tanto como o solo e a circulação se inverte, verificando-se o deslocamento do ar à superfície sobre o solo para o mar; esta circulação denomina-se de brisa terrestre ou continental (Figura 10). Figura 10 fonte: http://www.physicalgeography.net/fundamentals Nas regiões montanhosas, também se verificam sistemas de vento particulares. As encostas mais inclinadas e as partes mais estreitas dos vales são aquecidas pelo Sol de forma mais intensa que as vastas superfícies dos vales ou os picos. Estas condições conduzem a bisas de vale durante o dia e brisas de montanha durante a noite. O que são estas brisas? O ar, na vizinhança das encostas das montanhas, fica a temperatura mais elevada e eleva-se durante o dia; o ar ascendente é substituído pelo ar que se encontra nos vales. Assim, durante o dia o ar sobe a encosta. Este processo é responsável pela formação de nuvens e ocorrência de precipitação sobre as montanhas ao fim da tarde! Isso é mostrado na Figura 11. Figura 11 fonte: http://www.physicalgeography.net/fundamentals Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 12 Durante a noite, por sua vez, as encostas das montanhas se resfriam. Este ar frio desce a montanha por ação da gravidade. Assim, ao amanhecer, o ar mais frio pode ser encontrado no vale. Se o ar contiver umidade suficiente, pode formar-se nevoeiro no vale (Figura 12). Figura 12 fonte: http://www.physicalgeography.net/fundamentals Costuma-se denominar de vento catabático o vento produzido em região montanhosa à noite, pela inversão do gradiente de pressão, fazendo com que este ar frio, mais denso, se desloque vertente abaixo em direção as depressões e vales. Por sua vez, chama-se vento anabático o vento que se movimenta em direção à parte superior de uma elevação, como resultado de um aquecimento superficial local e independente dos feitos da circulação em larga escala (oposto ao vento catabático). Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 13 3. Os Sistemas Meteorológicos Atuantes no Nordeste Neste capítulo, apresentaremos os principais sistemas causadores de precipitação no setor norte do Nordeste Brasileiro. Nesse setor, onde se encontra o estado do Ceará, a estação chuvosa é definida em função dos meses de maior precipitação (Fevereiro a Maio, com ênfase em Março e Abril). A partir dessa definição, também delimitamos as chamadas pré- estação (Dezembro e Janeiro) e a pós-estação (Junho e Julho). Em cada uma dessas etapas, sistemas meteorológicos característicos atuam. Pré-Estação: Vórtices, Instabilidades associadas a Frentes Frias Os Vórtices Ciclônicos de Ar Superior - VCAS que atingem a região Nordeste do Brasil, formam-se no Oceano Atlântico entre os meses de outubro e março e sua trajetória normalmente é de leste para oeste, com maior freqüência entre os meses de janeiro e fevereiro. O esquema dos ventos e da nebulosidade dos VCAS é mostrado na Figura 13. Figura 13 fonte: Kousky e Gan, 1980 Os VCAS formam um conjunto de nuvens que, observado pelas imagens de satélite, têm a forma aproximada de um círculo girando no sentido horário. Na sua periferia há formação de nuvens causadoras de chuva e no centro há movimentos de ar de cima para baixo (subsidência), aumentando a pressão e inibindo a formação de nuvens. Imagens de satélite de VCAS são mostradas na Figura 14. Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 14 Figura 14 fonte: http://www.funceme.br/DEMET Um outro importante mecanismo causador de chuvas no Nordeste do Brasil na pré-estação do setor norte está ligado à penetração de Frentes Frias até as latitudes tropicais entre os meses de novembro e janeiro. As frentes frias são bandas de nuvens organizadas que se formam na região de confluência entre uma massa de ar frio (mais densa) com uma massa de ar quente (menos densa). A massa de ar frio penetra por baixo da quente, como uma cunha, e faz com que o ar quente e úmido suba, forme as nuvens e consequentemente as chuvas, como na Figura 15. Figura 15 fonte: http://br.geocities.com/saladefisica5 Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 15 A Figura 16, por sua vez, mostra o exemplo de uma imagem de satélite de uma frente fria passando pelo Paraná e Santa Catarina. Figura 16 fonte: http://www.rainhadapaz.g12.br/projetos/geografia Estação Chuvosa: a Zona de Convergência Intertropical A Zona de Convergência Intertropical - ZCIT é o sistema meteorológico mais importante na determinação de quão abundantes ou deficientes serão as chuvas no setor norte do Nordeste do Brasil. Normalmente a ZCIT migra sazonalmente de sua posição mais ao norte, aproximadamente 12ºN, em agosto-setembro para posições mais ao sul e aproximadamente 4oS, em março-abril. A ZCIT é uma banda de nuvens que circunda a faixa equatorial do globo terrestre (Figura 17), formada principalmente pela confluência dos ventos alísios do hemisfério norte com os ventos alísios do hemisfério sul. De maneira simplista, pode-se dizer, que a convergência Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 16 dos ventos faz com que o ar, quente e úmido ascenda, carregando umidade do oceano para os altos níveis da atmosfera ocorrendo a formação das nuvens. Figura 17 fonte: http://www.funceme.br/DEMET A Figura 18 mostra a presença da ZCIT próxima ao Nordeste, com maior detalhe. Figura 18 fonte: http://www.funceme.br/DEMET Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 17 A ZCIT é mais significativa sobre os Oceanos e por isso, a Temperatura da Superfície do Mar-TSM é um dos fatores determinantes na sua posição e intensidade, sendo que a ZCIT se forma predominantemente sobre águas mais quentes. Assim, no caso da ZCIT sobre o Atlântico, quando o setor norte da bacia está mais aquecido do que o normal e o setor sul está mais frio do que o normal, as nuvens tendem a se formar mais ao norte, induzindo um ano seco no norte do Nordeste. Do contrário, se o setor norte da bacia do Atlântico se encontrar mais frio do que o normal e o setor sul estivermais quente do que o normal, a tendência é um deslocamento ao sul da ZCIT, favorecendo a ocorrência de um ano chuvoso na região. A qualidade da estação chuvosa também é fortemente influenciada pela configuração da TSM no Pacífico, sendo que eventos de El Niño forte geralmente estão ligados a anos com chuvas abaixo da média histórica. Pós-Estação: Os Sistemas de Leste Os sistemas de leste são ondas que se formam no campo de pressão atmosférica, na faixa tropical do globo terrestre, na área de influência dos ventos alísios, e se deslocam de oeste para leste, ou seja, desde a costa da África até o litoral leste do Brasil. O Estado do Ceará também pode receber chuvas nos meses de junho, julho e agosto, que são influenciadas por esse sistema atmosférico denominado Ondas de Leste (Figura19). Este sistema provoca chuvas principalmente na Zona da Mata que se estende desde o Recôncavo Baiano até o litoral do Rio Grande do Norte. Quando as condições oceânicas e atmosféricas estão favoráveis as Ondas de Leste também provocam chuvas no Estado do Ceará, principalmente na parte centro-norte do Estado. Figura 19 fonte: http://www.funceme.br/DEMET Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 18 Sistemas de Mesoescala Quando usamos o termo mesoescala, nos referimos a uma escala intermediária entre aquelas dos sistemas de grande escala como a ZCIT e os VCAS e a escala de nuvens individuais. Geralmente, sistemas de mesoescala são aglomerados de nuvens com maior ou menor grau de organização e que podem se formar associados ou não a sistemas de escala maior (por exemplo, muitas vezes é possível identificar sistemas de mesoescala embebidos no interior da ZCIT). Uma característica importante dos sistemas de mesoescala é que eles comumente sofrem influência da circulação local, como o sistema de brisa marítima e terrestre e a presença de topografia acentuada. Dois tipos de organização dos sistemas de mesoescala são geralmente identificados: em linha e “em cluster”, isto é, em aglomerado, sem disposição linear. Exemplos de uma linha de instabilidade, que é o nome dado a um sistema de mesoescala organizado em linha e de um complexo convectivo de mesoescala são mostrados na figuras 20 (esquerda e direita, respectivamente). Figura 20 fonte: http://www.funceme.br/DEMET Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 19 4. Condições Meteorológicas e Queimadas A Estação Seca A estação seca geralmente não recebe tanta atenção, uma vez que a maioria dos problemas ligados ao clima no Nordeste estão relacionados à escassez de água e, portanto, é da qualidade da estação chuvosa (e, em menor grau, da pré e pós-estação) que depende grande parte das decisões a tomar referentes a recursos hídricos e agricultura. A Figura 21 nos ajuda a delimitar a estação seca, como sendo o período compreendido entre Agosto e Novembro. Ela mostra a média das chuvas mensais, em mm, para Fortaleza, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia – INMET. Figura 21 fonte: http://www.inmet.gov.br Nesse período, as precipitações climatológicas se aproximam de zero. É o resultado do posicionamento mais ao norte da ZCIT e da presença da alta pressão do Atlântico Sul, caracterizada por movimento de subsidência (isto é, de cima para baixo), que inibe a formação de nuvens e provoca uma redução significativa na umidade. Os ventos também se tornam mais intensos e a ausência ou quase ausência de nuvens favorece o aquecimento Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 20 diurno. As figuras 22 a 24 mostram a umidade relativa, a cobertura de nuvens e a temperatura máxima absoluta ao longo do ano, para Fortaleza, evidenciando esses aspectos. Figura 22 fonte: http://www.inmet.gov.br Figura 23 fonte: http://www.inmet.gov.br Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 21 Figura 23 fonte: http://www.inmet.gov.br Nesse período de agosto a novembro, a ausência de precipitação, as elevadas temperaturas durante o dia e a umidade reduzida, juntamente com ventos mais intensos, concorrem para aumentar o risco de incêndio. Risco de Incêndio: O Índice de Angstrom Há diversas maneiras de se estimar o risco de incêndio. Um dos mais simples é o cálculo do Índice de Angstrom, que leva em conta somente os parâmetros de umidade e temperatura. Este índice é dado por: A = 0,05H – 0,1(T – 27) sendo: A = índice de Angstron H = umidade relativa do ar em % T = temperatura do ar em °C Sempre que o valor de "B" for menor do que 2,5 haverá risco de incêndio, isto é, as condições atmosféricas do dia estarão favoráveis à ocorrência de incêndios. Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 22 Uma das vantagens desse índice é a sua simplicidade, permitindo que o mesmo seja facilmente calculado a partir de observações meteorológicas e de previsões de modelos numéricos. Exemplos de previsão recentes desse índice são mostrados nas figuras 24 e 25, respectivamente para o Nordeste e parte do Brasil central e para o Ceará. Figura 24 fonte: FUNCEME Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 23 Figura 24 fonte: FUNCEME Tais previsões mostravam um risco de incêndio significativo sobre o Ceará, especialmente no sul do Estado (Inhamuns e Cariri), com valores em torno de zero. Evidentemente, considerando-se a região ampliada, as condições do Brasil Central, com índice de Angstrom negativos, são mais críticas. Risco de Incêndio: Outros Índices Há outros índices que também podem ser usados para estimar o risco de incêndio, alguns deles levando em conta o efeito cumulativo de diversos dias secos em seqüência (o que não é o caso do índice de Angstrom). Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 24 Um exemplo de um índice cumulativo é o índice de Nesterov, dado por N = Σ (T-D).T sendo: N = índice de Nesterov T = temperatura do ar em °C D = temperatura do ponto de orvalho em °C A soma é feita desde a última chuva inferior a 3 mm e, a depender do valor de N, o risco é classificado como na tabela abaixo: Valor de N Risco De 0 a 300 Mínimo De 301 a 1000 Moderado De 1001 a 4000 Alto Acima de 4000 Extremo Dentre as diversas utilidades e aplicações dos índices de perigo de incêndios, pode-se destacar: a) Conhecimento do grau de perigo Os índices permitem, diariametne, um conhecimento do grau de perigo a que está sujeita a área florestal, ao estimar a probabilidade de ocorrência de incêndios, desde que exista uma fagulha para iniciar a combustão. b) Planejamento do controle de incêndios A medida que os valores dos índices aumentam, devem ser intensificadas as medidas preventivas de pré-supressão ao fogo. Porém quando os índices indicam que não exsite perigo ou que ele é pequno, as medidas de prevenção e prontidão podem ser atenuadas, reduzindo os custos das operações de controle. c) Permissão para queimas controladas De acordo com o código florestal, as queimas controladas só podem ser feitas mediante autorização do poder público. O índice de perigo de incêndio deve ser um dos fatores fundametnais para a concessão de permissão para queima. Quando o perigo é alto ou muito alto, não devem ser permitidas as queimas, pois o fogo pode escapar e transformar as queimas controladas em incêndios incontroláveis. Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 25 d) Estabelecimento de zonas de perigo O acompanhamento dos índices, durante certo tempo, em grandes regiões, permite estabelecer as zonas potencialmetne mais perigosas ou propícias a ocorrência de incêndios. Considerando que o limite da validade e segurança dos índices e de 40 Km de raio em torno da estação meteorológica que fornece os dados. Portanto, em um Estado como o Paraná deves-e esperar diferenças significativas, entre o grau de perigo das suas diversas regiões. e) Previsão do comportamento do fogo Os índices que estimam também a propagação e o potencial de danos, fornecem uma boa idéia do comportamento do fogo, caso ocorra um incêndio. Mesmo os índices de ocorrência, emborca mais limitados, podem também dar uma indicação do que se deve esperar em termos de comportametno do fogo, que será certamente distinto se o incêndio ocorrer em um dia de perigo médio ou muito alto, por exemplo. f) Advertência pública do grau de perigo A divulgação dos valores dos índices, através dos meios de comunicação disponíveis, é importante para que as pessoas que trabalham na floresta ou a usam como recreação, tenham conhecimento do grau de perigo de incêndio. Este conhecimento, acompanhado de outros esclarecimentos, ajudaa formar na população uma maior conscientização para os problemas que os incêndios podem causar às florestas. Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 26 5. Mudanças Climáticas e Impactos A Física do Efeito Estufa A temperatura média da Terra gira em torno de 15º C. Isso ocorre porque existem naturalmente gases, como o dióxido de carbono, o metano e o vapor d’água em nossa atmosfera que formam uma camada que aprisiona parte do calor do Sol. Se não fossem esses gases, a Terra seria um ambiente gelado, com temperatura média de -17º C. Esse fenômeno é chamado de efeito estufa. Não fosse por ele, a vida na Terra não teria tamanha diversidade. Numa estufa, como na figura 25, a luz do sol atravessa o vidro e, ao ser absorvida, aquece o chão. O chão emite radiação infravermelho, mas o vidro é opaco a esse tipo de radiação eletromagnética e aprisiona energia no interior da estufa. Na atmosfera, os gases de efeito estufa cumprem papel semelhante. Figura 25 fonte: http://www.if.ufrgs.br Na atmosfera, os gases de efeito estufa cumprem papel semelhante. Num planeta em equilíbrio esses gases, ao reter calor, permitem que o planeta mantenha a temperatura que conhecemos. Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 27 Só que desde a revolução industrial, começamos a usar intensivamente o carbono estocado durante milhões de anos em forma de carvão mineral, petróleo e gás natural, para gerar energia, para as indústrias e para os veículos. As florestas, grandes depósitos de carbono, começaram a ser destruídas e queimadas cada vez mais rápido. Com isso, imensas quantidades de dióxido de carbono, metano e outros gases começaram a ser despejadas na atmosfera, tornando a camada que retém o calor mais espessa. Isso intensifica o efeito estufa. E nosso planeta, agora, já mostra sinais de febre. Por isso, o aquecimento do planeta é o maior desafio ambiental do século 21. Somente no último século, a temperatura da Terra aumentou em 0,7º C. Parece pouco, mas esse aquecimento já está alterando o clima em todo o planeta. As grandes massas de gelo começam a derreter, aumentando o nível médio do mar, ameaçando as ilhas oceânicas e as zonas costeiras. Furacões, tufões e ciclones ficam mais intensos e destrutivos. Temperaturas mínimas ficam mais altas, enxurradas e secas mais fortes e regiões com escassez de água, como o semi-árido, viram desertos. A vida na Terra fica ameaçada. Quando o aquecimento global foi detectado, alguns cientistas ainda acreditavam que o fenômeno poderia ser causado por eventos naturais, como a erupção de vulcões, aumento ou diminuição da atividade solar e movimento dos continentes. Porém, com o avanço da ciência, ficou provado que as atividades humanas são as principais responsáveis pelas mudanças climáticas que já vêm deixando vítimas por todo o planeta. Hoje há pouca margem para dúvidas. O homem é o principal responsável por este problema. E é ele que precisa encontrar soluções urgentes para evitar grandes catástrofes. Os Estudos do IPCC IPCC é uma sigla bastante em voga e representa, em inglês, a abreviação de Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas. Foi instituído pela ONU e é vinculado à Organização Meteorológica Mundial. Junto a ele, colaboram milhares de cientistas de todo o mundo, inclusive do Brasil. Ressalte-se que o termo mudança do clima usado pelo IPCC refere-se a qualquer mudança no clima ocorrida ao longo do tempo, devida à variabilidade natural ou decorrente da atividade humana. A primeira constatação relevante que o IPCC mostra no sumário de seu último relatório é a de que “as concentrações atmosféricas globais de dióxido de carbono, metano e óxido nitroso aumentaram bastante em conseqüência das atividades humanas desde 1750 e agora ultrapassam em muito os valores pré-industriais determinados com base em testemunhos de gelo de milhares de anos. Isso é mostrado na Figura 26. Nessa figura, o chamado “forçante” ou “forçamento” radiativo é uma medida da influência de um fator na alteração do equilíbrio da energia que entra e sai do sistema Terra-atmosfera e é um índice da importância do fator como possível mecanismo de mudança do clima. O Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 28 forçamento positivo tende a aquecer a superfície, enquanto o forçamento negativo tende a esfriá-la. Figura 26 fonte: http://www.ipcc.ch Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 29 Para entendermos melhor quem contribui para o resfriamento e quem contribui para o aquecimento do planeta e em que quantidade, o IPCC elaborou o quadro mostrado na figura 27. Fica claro que o dióxido de carbono é o gás de efeito estufa antrópico mais importante. A principal fonte de aumento da concentração atmosférica de dióxido de carbono desde o período pré-industrial se deve ao uso de combustíveis fósseis, com a mudança no uso da terra contribuindo com uma parcela significativa, porém menor. As emissões fósseis anuais de dióxido de carbono4 aumentaram de uma média de 23,5 [22,0 a 25,0] Gt CO2 por ano na década de 90 para 26,4 [25,3 a 27,5] Gt CO2 por ano no período de 2000 a 2005. A compreensão das influências antrópicas no aquecimento e esfriamento do clima melhorou, promovendo um nível muito alto de confiança de que o efeito líquido global das atividades humanas, em média, desde 1750 foi de aquecimento. Essas estimativas do forçante radiativo concordam com observações do sistema climático que mostram o aumento global da temperatura, o aumento do nível do mar e a redução das geleiras (Figura 28). Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 30 Figura 28 fonte: http://www.ipcc.ch Todas essas evidências são reforçadas quando se percebe que os modelos atmosféricos usados nos estudos do IPCC só conseguem simular a evolução da temperatura nas últimas décadas introduzindo-se uma concentração crescente de dióxido de carbono e demais gases-estufa. Isso é mostrado na Figura 29. Nela, as linhas pretas são observações da temperatura nos continentes e no mundo todo. As faixas azuis correspondem aos valores de Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 31 temperatura previstos pelos modelos sem a introdução dos efeitos antrópicos. As faixas de cor magenta representam as previsões dos modelos quando esses efeitos são incluídos. É evidente que estas últimas concordam bem mais com as observações. Figura 29 fonte: http://www.ipcc.ch Os cenários simulados pelo IPCC, a depender da quantidade de emissões de agora em diante, prevêem a continuidade desse aquecimento, em menor ou maior grau. O cenário mais otimista prevê um aquecimento médio global de 1,1 a 2,9 graus ao final do século XXI. O cenário mais pessimista tem uma previsão de um aquecimento de 2,4 a 5,4 graus. A Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 32 evolução da temperatura nos vários cenários é mostrada na figura 30, que inclui um cenário não realista de concentrações constantes dos gases-estufa. Figura 30 fonte: http://www.ipcc.ch Possíveis Impactos no Nordeste Brasileiro Bem mais difíceis de avaliar que os possíveis impactos globais das mudanças climáticas são os impactos regionais. Isso se deve por uma série de fatores, que vão desde a pouca representatividade das projeções para áreas pequenas até a resolução espacial relativamente baixas dos modelos atmosféricos usados (modelos globais com resolução típica da ordem de centena de quilômetros). Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 33 Como se isso não bastasse por si, as chuvas são cruciais no Nordeste e as incertezas quanto a mudanças nos padrões de precipitação são bem maiores do que aquelas relativas à temperatura. Enquanto no que diz respeito a esta última variável, o conjunto dos modelos do IPCC é unânime a prever um aquecimento, há modelos que prevêemum aumento das chuvas no Nordeste e outros que projetam uma redução dessas chuvas. Uma variável importante para nossa região é o chamado índice de aridez, dado pela razão entre a precipitação e a evapotranspiração potencial, ou seja, a quantidade de água que, se estivesse disponível, evaporaria a partir do solo ou da vegetação. A Figura 31 mostra o índice de aridez médio para o Ceará, mostrando que a maior parte de nosso Estado tem características de semi-árido, isto é, possui índice de aridez entre 20% e 50%. Figura 31 fonte: http://www.funceme.br Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 34 Em casos extremos, porém, como em anos secos ou muito secos, uma parcela significativa do território cearense adquire características de regiões áridas, com a redução desse índice. É o que mostramos na figura 32, à esquerda, para o ano de 1983. Anos chuvosos, em contrapartida, apresentam condições bem mais próximas de condições úmidas, como em 1985 (mesma figura, à direita). Figura 32 fonte: http://www.funceme.br A dúvida fica por conta do que acontecerá com as estatísticas de chuva: aumentará a freqüência de anos secos? O total das chuvas aumentará ou diminuirá? Ainda assim, há uma certeza: a do aumento da evapotranspiração potencial, associada ao aumento da temperatura, praticamente dado como certo. Analisando o resultado do conjunto das simulações do IPCC para dois cenários, para a área do norte do Nordeste, obtém-se o quadro mostrado nas figuras 33. O que se percebe é uma tendência a aumento de temperatura, especialmente no cenário A2. Em média, os modelos não prevêem aumento ou redução significativa nas chuvas, mas há muita incerteza, como se vê pela barra de erros. A influência dessas mudanças no índice de aridez é mostrada na figura 34. Ela mostra que, particularmente no cenário A2, nos anos 2080, a região dos Inhamuns passa a apresentar médias perigosamente próximas da categoria de árido. Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 35 Figura 33 Projeção de Temperatura Cenário A2 Projeção de Temperatura Cenário B1 Projeção de Precipitação Cenário A2 Projeção de Precipitação Cenário B1 3.7 0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 A2 / 2070-2099 2.5 0.0 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 6.0 B2 / 2070-2099 -0.2 -4.0 -2.0 0.0 2.0 4.0 A2 / 2070-2099 -4.0 -2.0 0.0 2.0 4.0 B2 / 2070-2099 -0.2 Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 36 Figura 34 Tal quadro é particularmente preocupante quando há regiões significativas do Estado sob risco de desertificação. Estudos do Departamento de Recursos Ambientais da Funceme identificaram essas áreas (mapa na figura 35). Ressaltamos que as queimadas, nesse sentido, cumprem um duplo papel. Ao empobrecerem o solo e investirem contra a biodiversidade, aceleram os aspectos locais da desertificação; -0.60 -0.30 0.00 0.30 0.60 A2 - 2050s A2 - 2080s B2 - 2050s B2 - 2080s Hoje: 26,0% A2-2050: (23,8 ± 5,3)% A2-2080: (21,7 ± 9,3)% B2-2050: (25,1 ± 4,8)% B2-2080: (22,9 ± 7,3)% Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 37 ao produzirem gases estufa (o Brasil é considerado um grande emissor em virtude do que produz nas queimadas), contribuem com a roleta russa em que o homem está colocando o planeta. O combate a queimadas e incêndios adquire, assim, um papel extremamente relevante. Figura 35 fonte: http://www.funceme.br Meteorologia Básica Prof. Alexandre A. Costa, Ph.D. 38 Referências Site da Fundação Cearense de Meteorologia e Re. Hídricos: www.funceme.br Site do Instituto Nacional de Meteorologia: www.inmet.gov.br Site da UFPR: www.floresta.ufpr.br Site do IPCC: www.ipcc.ch
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