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Políticas de saúde Aula 1: Compreendendo e percebendo as políticas públicas Apresentação Nesta aula, serão compreendidos os principais conceitos sobre políticas públicas no Brasil, os primeiro, segundo e terceiro nós conceituais; os problemas mais comuns nas instituições de saúde pública; retratos de alguns casos. Da mesma forma será abordado o exemplo dos médicos sem fronteiras para retratar esta realidade. Objetivo Compreender os principais conceitos sobre políticas públicas no Brasil; Identi�car o primeiro, o segundo e o terceiro nós sobre o conceito de políticas públicas; Reconhecer os problemas mais comuns nas instituições de saúde pública; Experimentar alguns casos comuns, por meio do retrato de realidades na saúde. Introdução Na concepção de Bobbio (2002 apud Sechi, 2011, p.08), política, de uma maneira geral, “é a atividade humana ligada à obtenção e manutenção dos recursos necessários para o exercício do poder sobre o homem”. Portanto, a política é responsável por coordenar e gerir as decisões dos homens em relação às pessoas, serviços ou produtos. Fazem parte das normas internas de uma sociedade que, quando respeitadas, tornam-se como padrões da política social. (Fonte: Alexas_Fotos por Pixabay ). Quando nos referimos à política do tipo pública, elaboramos uma relação direta com as decisões tomadas ou propostas para enfrentamento dos problemas apenas de ordem pública. A presente maneira de separar as políticas das instituições públicas e das privadas cria diversos nós conceituais, pois procura-se conceituá-la para cada contexto que será aplicada, não conseguindo promover um conceito generalista a ambas instituições. Nós conceituais da política Primeiro nó conceitual O primeiro nó conceitual se refere à de�nição da política somente como pública quando está relacionada a um ator estatal, ou seja, quando existe retenção das ações por parte do governo. Por outro lado, interpretá-la como uma abordagem multicêntrica, na qual as são considerados participantes das políticas públicas: organizações privadas ou não governamentais, organismos multilaterais, redes de políticas públicas, atores estatais e protagonistas, nos estabelecimentos de políticas públicas. A partir do momento que tornam seus problemas de ordem “pública”, adotam esse termo como adjetivo ao conceito de políticas. Segundo nó conceitual O segundo nó conceitual refere-se à omissão ou negligência do governo em relação à um problema. Somente é considerada como política pública quando o governo dita normas prezando por resolver a situação, mesmo que a estratégia não venha a dar certo. Ditar regras para solução do problema e se colocar parado a espera do resultado, não é considerada uma medida de política pública. Terceiro nó conceitual Por �m, temos a dualidade das medidas micro e macropolíticas. Alguns consideram apenas o setor macro como merecedor de medidas, tais como: política nacional agrária, política nacional educacional, política ambiental, entre outras. Mas tanto os níveis estruturantes, intermediários e operacionais requerem políticas públicas para decisões. Os problemas públicos surgem entre a situação atual utilizada e uma outra situação esperada como resultado. A inadequação na utilização dos serviços atuais vai ser quali�cada quando um grande número de pessoas estiver insatisfeito com os serviços prestados. Ou seja, um problema individual, como não conseguir fazer um exame na instituição A, não é considerado um problema de ordem pública, se afetar apenas esta única pessoa. Os programas públicos, projetos, leis e campanhas são propostas para transformar uma orientação em ação. (Sechi, 2011). Fonte: Chickenonline por Pixabay Conceito sobre políticas e políticas públicas Politics Para uma adequada compreensão do que signi�ca políticas públicas, faz-se necessário apreender o que o termo política representa. “Politics, na concepção de Bobbio (2002), é a atividade humana ligada à obtenção e manutenção dos recursos necessários para o exercício do poder sobre o homem” - SECCHI, 2011 Esse sentido de “política” talvez seja o mais corriqueiro no senso comum: o de atividade e competição políticas. Algumas frases que exempli�cam o uso desse termo: “Minha mãe adora falar sobre política” “A política é para quem tem estômago.” “A política está muito longe das necessidades da nação.” Policy O segundo sentido da palavra “política” é expresso pelo termo policy em inglês. Essa dimensão de “política” é a mais concreta. Políticas são consideradas como relação com orientações para a decisão e ação. Em organizações públicas, privadas e do terceiro setor, o termo “política” está presente em frases do tipo “nossa política de compra é consultar ao menos três fornecedores”, “a política de empréstimos daquele banco é muito rigorosa”. (Sechi, 2011, p.01). (Fonte: StockSnap por Pixabay ). O termo política pública (public policy) está vinculado a esse segundo sentido da palavra “política”. Políticas públicas tratam do conteúdo concreto e do conteúdo simbólico de decisões políticas, e do processo de construção e atuação dessas decisões. Segundo Secchi, (2011, p.1), alguns exemplos do uso do termo “política” com esse sentido estão presentes nas frases: “Temos de rever a política de educação superior no Brasil.” “A política ambiental da Amazônia é in�uenciada por ONGs nacionais, grupos de interesse locais e a mídia internacional.” “Percebe-se um recuo nas políticas sociais de países escandinavos nos últimos anos.” Questão da coletividade Podemos dizer que uma política pública: é uma diretriz elaborada para enfrentar um problema público; é uma orientação à atividade ou à passividade de alguém. possui dois elementos fundamentais: intencionalidade pública e resposta a um problema público. Nesse sentido, a razão para o estabelecimento de uma política pública é o tratamento ou a resolução de um problema entendido como coletivamente relevante. Políticas públicas podem ser interpretadas como “a soma das atividades dos governos, que agem diretamente ou através de delegação, e que in�uenciam a vida dos cidadãos” - Petres, 1 986 apud Souza,2006, p.24. As políticas públicas, então, nascem de uma necessidade da coletividade, mas também in�uencia diretamente o indivíduo que se remete a ela. Considera-se como política pública qualquer medida que venha afetar uma grande quantidade de pessoas, diante de um problema de ordem social e não individual. Hospital (Fonte: Daan Stevens on Unsplash). Exemplo Se você foi a um hospital para ser atendido na emergência e, chegando lá, o hospital se deparou com um grande imprevisto de um acidente muito grande que veio a consumir todos os médicos da unidade e lhe foi solicitado para procurar outra instituição devido à eventualidade. Esse é um problema apenas referente à sua pessoa e que será corrigido naturalmente; portanto, não requer uma medida pública. Para chegar à conceituação sobre políticas públicas, alguns obstáculos foram e buscam ser vencidos na atualidade, devido às divergências dos pensamentos. Primeiro nó conceitual Alguns autores e pesquisadores de políticas públicas defendem a abordagem estatista, enquanto outros defendem abordagens multicêntricas no que se refere ao protagonismo no estabelecimento de políticas públicas. Clique nos botões para ver as informações. Possuem retenções de ações por parte do governo com atores estatais. Quanto a este nó, Teixeira (2002, p.02) a�rma que “nem sempre “políticas governamentais” são públicas, embora sejam estatais. Para serem “públicas”, é preciso considerar a quem se destinam os resultados ou benefícios e se o seu processo de elaboração é submetido ao debate público”. Secchi (2011) ressalta que, segundo essa concepção, o que determina se uma política é ou não “pública” é a personalidade jurídica do ator protagonista. Estatais Incluem todo e qualquer tipo de instituição, sejam elas governamentais, não governamentais, estatais, privadas entre outras. O interesse é resolver o problema que se tornoupúblico. A esse respeito, Secchi (2011) ressalta que a abordagem multicêntrica considera organizações privadas organizações não governamentais, organismos multilaterais, redes de políticas públicas (policy networks) juntamente com os atores estatais, protagonistas no estabelecimento das políticas públicas. Autores da abordagem multicêntrica atribuem o adjetivo “pública” a uma política quando o problema que se tenta enfrentar é público. Munticêntricas Abordagem estatista versus abordagem multicêntrica A respeito da diferenciação entre a abordagem estatista e multicêntrica, Secchi discorre: “Por exemplo, uma organização não governamental de proteção à natureza que lança a seguinte campanha: “plante uma árvore nativa”. Essa é uma orientação à ação e tem o intuito de enfrentar um problema de relevância coletiva. No entanto, é uma orientação dada por um ator não estatal. Aqueles que se �liam à abordagem estatista não a consideram uma política pública, porque o ator protagonista não é estatal. Por outro lado, autores da abordagem multicêntrica a consideram política pública, pois o problema que se tem em mãos é público.” - SECCHI, 2011, p. 3 A abordagem multicêntrica adota um enfoque mais interpretativo e, por consequência, menos positivista, do que seja uma política pública. A interpretação do que seja um problema público e do que seja a intenção de enfrentar um problema público a�ora nos atores políticos envolvidos com o tema. Políticas governamentais Políticas governamentais são aquelas políticas elaboradas e estabelecidas por atores governamentais. Dentre as políticas governamentais estão as emanadas pelos diversos órgãos dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário. Nos dias atuais, as políticas governamentais são o subgrupo mais importante das políticas públicas, e são as que recebem maior atenção na literatura da área. (Fonte: Maurilio Quadros on Unsplash). A essência conceitual de políticas públicas é o problema público. Exatamente por isso, o que de�ne se uma política é ou não pública é a sua intenção de responder a um problema público, e não se o tomador de decisão tem personalidade jurídica estatal ou não estatal. São os contornos da de�nição de um problema público que dão à política o adjetivo “pública” (SECCHI, 2011). Segundo nó conceitual O segundo nó conceitual diz respeito à omissão ou negligência em relação às políticas públicas. (Fonte: Hunters Race on Unsplash). Omissão/Negligência Para Secchi (2011, p. 4), Uma política pública deve resultar em uma diretriz intencional, seja ela uma lei, uma nova rotina administrativa, uma decisão judicial etc. Se algum ator de qualquer tipo de instituição opta por se manter passivo diante de uma situação problema, essa atitude não é considerada política, pois não visou resolver a situação, apenas se negar a participar do fato. A solução proposta não exige que dê certo, mas que tenha a intenção de minimizar os con�itos. Exemplo Exemplos de orientações persuasivas são: “plante uma árvore”; “vacine seu �lho”; “aplique multa ao motorista embriagado”. Exemplos de orientações dissuasivas são: “não corte as árvores nativas”; “não sonegue impostos”; “não gaste mais do que arrecada”. Em todos esses casos, temos uma tentativa de interferência do policymaker, ou seja, aquele que protagoniza o estabelecimento dessa diretriz, sobre o policytaker, ou seja, aquele que é destinatário da diretriz. Já no caso da omissão, o policymaker decide não interferir na realidade e, por isso, há um vazio de política pública” (SECCHI, 2011, p. 04). Terceiro nó conceitual Existem posicionamentos teóricos que interpretam as políticas públicas como somente macrodiretrizes estratégicas, como: a política educacional e a política nacional agrária. (Fonte: TréVoy Kelly por Pixabay ). Micro e Macrodiretrizes As políticas públicas não estão voltadas apenas para as grandes instituições ou aos grandes problemas. Ela é criada por meio de situações que venham a afetar o bem-estar da sociedade de uma maneira geral. Para tanto, contempla os níveis estruturantes, intermediários e operacionais. Exemplo Criar uma lei que ampara os mineradores quanto aos acidentes frente ao trabalho. É um problema direcionado a um grupo de operários, mas que afeta grande classe de trabalhadores, portanto é de ordem pública. Problemas de ordem pública Um estudo de políticas públicas não prescinde do estudo de um problema que seja entendido como coletivamente relevante. Uma de�nição prática para “problema”: a diferença entre a situação atual e uma situação ideal possível. Um problema existe quando o status quo é considerado inadequado e quando existe a expectativa do alcance de uma situação melhor (SECCHI, 2011). Naturalmente, a de�nição do que seja um “problema público” depende da interpretação normativa de base. Para um problema ser considerado “público”, este deve ter implicações para uma quantidade ou qualidade notável de pessoas. (Fonte: Free-Photos por Pixabay ). Em síntese, um problema só se torna público quando os atores políticos intersubjetivamente o consideram problema (situação inadequada) e público (relevante para a coletividade). Exemplo Criar uma lei que ampara os mineradores quanto aos acidentes frente ao trabalho. É um problema direcionado a um grupo de operários, mas que afeta grande classe de trabalhadores, portanto é de ordem pública. Exemplos Secchi (2011) oferece alguns exemplos de instrumentos de políticas públicas: Fonte: ( Free-Photos por Pixabay ). Exemplo 1 Uma lei que obrigue os motociclistas a usar capacetes e roupa adequada. Tipo:política regulatória. Problema: altos níveis de acidentes com motociclistas em centros urbanos e a gravidade desses acidentes. (Fonte: StartupStockPhotos por Pixabay). Exemplo 2 Um programa público de crédito a baixo custo oferecido a pequenos empreendedores que queiram montar seu negócio. Tipo: política distributiva. Problema: necessidade de geração de emprego e renda. Fonte: ( succo por Pixabay ). Exemplo 3 A decisão de um juiz de impedir que bares e restaurantes operem entre meia-noite e seis horas da manhã em determinado bairro de uma cidade. Tipo:política regulatória. Problema:distúrbios à ordem pública e à qualidade de vida dos moradores do bairro. Fonte: ( Grégory ROOSE por Pixabay ). Exemplo 4 Uma lei que obrigue partidos políticos a escolher seus candidatos em processos internos de seleção e posteriormente apresentar listas fechadas aos eleitores. Tipo:política constitutiva. Problema: debilidade dos partidos políticos brasileiros, in�delidade partidária por parte dos políticos. Fonte: ( Steve Buissinne por Pixabay ). Exemplo 5 A instituição de um novo imposto sobre grandes fortunas que trans�ra renda de classes abastadas para um programa de distribuição de renda para famílias carentes. Tipo:política redistributiva. Problema: concentração de renda. Concluindo Percebe-se, portanto, que as políticas publicas visam equilibrar a sociedade por meio de padrões de condutas que são mutáveis, conforme novos problemas vão surgindo e de acordo com as novas exigências sociais. Notas XXXXX 1 XXXXX XXXXXXX2 XXXXXReferências ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE MEDICINA.SUS: o que você precisa saber sobre o Sistema Único de Saúde.São Paulo: Ed. Atheneu, 2008. ESCOLA POLITÉCNICA DE SAÚDE JOAQUIM VENÂNCIO (org).Textos de apoio em políticas de saúde. Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2005. LEFEVRE, Fernando. Promoção de Saúde: a negação da negação. Rio de Janeiro. Vieira &Lent, 2004. MEZOMO, João Catarin. Gestão da Qualidade na Saúde: princípios básicos. São Paulo: Manole, 1ª Ed, 2001. PORTER, Michael E.Repensando a saúde: estratégias para melhorar a qualidade e reduzir os custos. Tradução de Cristina Bazan. Porto Alegre: Bookman, 2007. QUEIROZ, Roosevelt Brasil. Formação e gestão de políticas públicas. Curitiba: Ibpex, 2009. SECCHI, Leonardo. Políticas públicas: conceitos, esquemas de análise, casos práticos. São Paulo: Cengage Learning, 1ª Ed., 2011. Próximaaula Tipos de Políticas de Saúde; Tipologias das Políticas de Saúde; Escolha das tipologias diante dos problemas públicos. Explore mais Pesquise na internet, sites, vídeos e artigos relacionados ao conteúdo visto. Em caso de dúvidas, converse com seu professor online por meio dos recursos disponíveis no ambiente de aprendizagem. Leitura: Acesse o artigo Estado e Políticas (Públicas) Sociais <//www.scielo.br/pdf/ccedes/v21n55/5539.pdf> . http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v21n55/5539.pdf
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