Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 Antifúngicos ANOTAÇÕES DA AULA (FARMACOLOGIA II): 21/10/2020 Pacientes imunossuprimidos são os que mais fazem infecção fúngica (sistêmica), não é comum em indivíduos hígidos Os principais representantes desse grupo de medicamentos são: o Anfotericina B o Nistatina o Derivados azólicos o Equinocandinas o Flucitosina #OBS: Devemos SEMPRE lembrar que assim como no grupo de medicações anti-helminticas é interessante que os antifúngicos tenham largo espectro (ampliado); pois não existem fungos ou vermes em nossa flora normal (endógena). A cautela com o espectro do medicamento é SUPER IMPORTANTE nos antimicrobianos (isso porque o mecanismo de resistência das bactérias a estes é algo relativamente comum e fortalecido pela má prescrição ou utilização do fármaco). Nosso corpo abriga bactérias que fazem parte da nossa flora normal (não são causadoras de doenças); participando de forma benéfica em algumas situações como a exemplo (proteção contra invasão de patógenos) O uso de antimicrobiano pode levar a destruição dessa flora bacteriana intestinal, deixando o organismo mais susceptível a infecções. Outro fator importante é que o uso inadequado/ indevido de antibióticos favorece o mecanismo de resistência bacteriana (mutações/ plasmídios), tornando as bactérias mais fortes (“resistententes”) a esses remédios, que passam a não mais fazerem efeito 1. ANFOTERICINA B o Foi a droga de referência no tratamento de infecções fungicas sistêmicas o Substância estruturalmente semelhante aos macrolídeos o Possui baixa solubilidade aquosa o Elevada toxicidade por via parenteral o Apresentações tópica e IV (elevada toxicidade - *grande risco de apresentação de efeitos adversos) 1.1 Mecanismo de ação da Anfotericina B: Fungicida leva a morte do fungo Depende primariamente de sua ligação com um ergosterol presente na membrana do fungo sensível Essa ligação forma poros na membrana do fungo, alterando a sua permeabilidade – desequilíbrio hidroeletrolítico Também parece causar dano oxidativo na célula fúngica – ainda não muito bem esclarecido 1.2 Espectro de atividade Ativa contra um grande número de fungos (amplo espectro): Aspergillosis, blastomycosis, candidiasis, mucormycosis, coccidioidomycosis, cryptococcosis, histoplasmosis, paracoccidioidomycosis e sporotrichosis; 1.3 Farmacocinética da Anfotericina B Não é bem absorvida no TGI Também não é bem absorvida pela pele – dessa forma o uso tópico não se relaciona ao aparecimento dos efeitos adversos 90% de ligação a proteínas plasmáticas A metabolização ainda é um mistério – não há alteração por insuficiência hepática ou renal 1.4 Utilização clínica da anfotericina B Tratamento de infecções fúngicas sistêmicas GRAVES e no tratamento de diversas micoses em imunossuprimidos: aspergilose, blastomicose, candidiase, coccidioidomicose, cryptococcose, histoplasmose, paracoccidioidomicose e esporotricose. Indicada em endocardite, meningite, peritonite e infecção severa do trato respiratório. Por via tópica é eficiente na candidíase cutânea. Baixa passagem pela BHE, no entanto é efetiva no tratamento de meningoencefalite primárias causada por Naegleria spp. e para o tratamento de leishmaniose visceral e mucocutanea. NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 Associação com flucitosina nos casos mais graves – efeito sinérgico OBS:. O problema é que a combinação flucosina + anfotericina possui atividade sinérgica não só na potencialização do efeito antifúngico, mas também dos efeitos adversos associados a essas medicações 1.5 Efeitos Adversos da Anfotericina B Durante e após administração (que deve durar entre 2 a 3h) – a lentificação da administração é importante para reduzir a magnitude dos efeitos adversos que são frequentes. Pode surgir: febre ou hiportermia, calafrios, náuseas e vômitos, anorexia, cefaleia, hiperpnéia com discreta broncoconstricção e hipotensão leve. Hipotensão e hiperpneia* - indicação para suspensão da medicação Os efeitos adversos podem perdurar por horas. E se repetem a cada nova administração OBS: o tratamento de infecções fungicas sistêmicas é longo, pode durar semanas ou meses portanto, se o paciente apresenta efeitos adversos é importante graduar a magnitude destes. A terapia prévia profilática com paracetamol ou AINE acompanhado ou não de hidrocortisona (25 a 50mg IV) pode reduzir o aparecimento e a magnitude destas reações. Caso as reações persistam Meperidina (50 a 75mg IV) também pode ser necessária É hepatotóxica e nefrotóxica (mais comum) monitorização da função hepática e renal deve ser feita durante todo o tratamento Azotemia (uremia) aparece em até 80% dos pacientes. Dispnéia (exige interrupção imediata) – OBS: não se deve refazer essa medicação no paciente!! Trocar por outro antifúngico! Outros efeitos: Hipopotassemia (+ frequente) ou hiperpotassemia Hipomagnesemia Supressão da medula óssea (Anemia hemolítica) Taquicardia e arritmias. 1.6 Formulações e vias de administração da Anfotericina B Formulações IV de Anfotericina B O pioneiro: desoxilato de anfotericina B (sempre administrado com soro glicosado). Com veículos lipídicos: possuem menor toxicidade (liberação mais lentado medicamento) e mesma eficácia. As disponíveis são: Complexo Lipídico de Anfotericina B e Anfotericina B Lipossomal. #OBS: Só existe um fabricante para cada uma dessas medicações, portanto, são medicações caras. O tratamento com a Anfotericina B custa em média 200-300 reais por dose. A Anfotericina B lipossomal é ainda mais cara, chegando a custar 2000 reais/ dose. Já a anfotericina- complexo lipídico chega a custar 26 mil reais a dose.Devemos lembrar que os tratamentos de infecções fungicas sistêmicas são de uso mais prolongado, de forma que serão usadas por semanas – dessa forma, serão necessários maior número de doses 2. NISTATINA o Possui mecanismo de ação semelhante a Anfotericina B, porém, maior toxicidade sistêmica. o Utilizada apenas por via tópica: suspensão, pastilhas, pomadas e cremes não tem boa absorção cutânea (controle do aparecimento de reações) o TT de dermatófitos e infecções mucocutâneas por Candida – uso limitado (alta toxicidade) 3. ALILAMINAS: TERBINAFINA E BUTENAFINA 3.1 Mecanismo de ação da Terbitamina e Butenafina Inibe a enzima esqualeno epoxidase Efeito antifúngico devido ao acumulo de esqualeno – formação de solução de continuidade na membrana (fungicida) 3.2 Farmacocinética da Terbitamina e Butenafina Uso tópico e oral* (VO) - *drogas de menor toxicidade Acumulo na pele, unhas (micoses) e tecido adiposo NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 Reações adversas: diarreia, náusea, erupções cutâneas, urticária, fotossensibilidade (recomendar que o paciente não se exponha ao sol durante o tratamento) efeitos são frequentes quando a droga é administrada por VO 4. DERIVADOS AZÓLICOS* o Possuem atividade e mecanismo de ação semelhantes o Bastante utilizados na clínica o São fungistáticos de amplo espectro (principalmente os triazóis) o Os testes in vitro não tem conseguido prever a sensibilidade in vivo dos fungos aos azólicos não adianta fazer cultura 4.1 Mecanismo de ação dos derivados azólicos Inibem o esterol 14-alfa-demetilase a qual representa uma enzima essencial para a síntese dos componentes de membrana e parede celular e para processos enzimáticos dependentes de energia Também atuam na exposição de antígenos de superfície que são responsáveis pelo melhor reconhecimento do sistema imunológico do fungo Ação fungistática Os representantes são: Imidazóis Miconazol (tópico) Clotrimazol (tópico) Econazol (tópicos) Cetoconazol (tópico e sistêmico) Triazóis Itraconazol Fluconazol Voriconazol Posaconazol Ravuconazol Albaconazol Isavuconazol #OBS: Os triazóis são drogas de maior espectro e menor toxicidade comparados aos imidazóis Aspergillus sp. e Candida Krusei parecem ser resistentes aos imidazóis e sensíveis a boa parte dos triazóis 4.2 Farmacocinética dos derivados azólicos É bastante variável entre os fármacos dessa classe A absorção é prejudicada em meio básico Não sofre alteração da ingestão alimentar A ½ vida varia de 7-8 h para os imidazóis e de 12 até mais de 24h para os triazóis (ex. fluconazol) A metabolização é hepática (microssomal) sendo excretada nas fezes Obs: atuam em diferentes enzimas ligadas ao citocromo P450* (podendo inibir ou estimular) >80% de ligação a proteínas plasmáticas Concentração no LCS menor que 1% da plasmática 4.3 Efeitos adversos dos derivados Azólicos Reações gastrointestinais 20% dos casos Reações alérgicas em 4% dos pacientes Irregularidades menstruais – 10% mulheres - OBS: risco!!! Interação com anticoncepcional oral – podendo levar a redução de efeito – orientar a pacientes do SF a importância da proteção extra com o preservativo durante todo o ciclo Ginecomastia e redução do libido em homens – tratamentos longos (meses) Supressão de cortisol OBS: sempre checar risco de interações medicamentosas OBS: lembrar que todos esses efeitos são menores em triazois OBS: São drogas hepatotóxicas – lembrar sempre da importância de rastreamento hepático nesses pacientes (dosagem de enzimas) NATÁLIA GIACOMIN LIMA – MEDICINA UFES 101 5. EQUINOCANDINAS o Representantes disponíveis: Caspofungina Micafungina Anidulafungina 5.1 Mecanismo de ação das equinocardinas Podem ser fungicidas ou fungistaticos (dependendo do agente) Candida ssp– fungicidas Aspergillus ssp – fungistático Levam a perda de integridade da parede celular (fungistático) e fragilidade osmótica (fungicida) 5.2 Farmacocinética das equinocandinas São todas de administração IV Baixa taxa de interação medicamentosa Resistência ainda é incomum Baixa apresentação de efeitos adversos, sendo os mais comuns: Reações TGI – diarreia/ nausea Exantema Risco de hepatite – (monitorização da função hepática) OBS:. São medicações novas, seus efeitos a longo prazo ainda não são bem conhecidos. Além disso são medicações caras por isso não são tão comuns na rotina ambulatorial do SUS 6. FLUCITOSINA o É uma piramidina fluorada com atividade antifúngica 6.1 Mecanismo de ação da Flucitosina Nos fungos sensíveis é convertida pela citosina deaminase em 5-fluorouracil, incorporado ao RNA fúngico e, desta forma, interrompendo a síntese proteica (fungistática) A atividade da timidilato sintetase é também inibida e interfere na síntese de DNA fúngico. É ativo contra: Candida spp, Cryptoccus neoformans; Cladosporium spp., e Fonsecaea spp. e algumas formas de Aspergillus É sinérgica com Anfotericina B contra Candida spp. e Cryptococcus neoformans 6.2 Farmacocinética da Flucitosina É bem absorvida por VO e possui ampla distribuição É principalmente excretado pela urina. A meia-vida é de 3 a 6 horas. Tem boa passagem pela BHE. 6.3 Efeitos adversos da Flucitosina Depressão de medula óssea com leucopenia e trombocitopenia Rash cutâneo Reações TGI Alterações de enzimas hepáticas #OBS: muitas vezes a flucitosina é associada a anfotericina – justamente porque essa droga dentre os antifúngicos é a que possui maior grau de resistência. Lembrar que além de ser sinérgica para os efeitos farmacológicos essa droga é sinérgica no que diz respeito aos efeitos adversos quando associada a anfotericina .
Compartilhar