Buscar

Historia da Igreja Moderna e Contemporanea 5

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 44 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 44 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 44 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

EA
D
5
Século 20: O Século Breve
1. OBJETIVOS
•	 Analisar	e	compreender	os	fatos	do	século	20,	sobretudo	
as	guerras	mundiais.
•	 Analisar	o	pontificado	de	Pio	X.
•	 Reconhecer	a	história	do	Vaticano	II	e	o	período	pós-con-
ciliar.
2. CONTEÚDOS
•	 Pontificado	de	Pio	X.
•	 Igreja	e	as	duas	guerras	mundiais.
•	 Vaticano	II:	seu	significado	histórico	e	posteriores	desen-
volvimentos	conciliares.
© História da Igreja Moderna e Contemporânea128
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes	de	iniciar	o	estudo	desta	unidade,	leia	as	orientações	
a	seguir:
1)	 Para	enriquecer	seus	conhecimentos,	será		interessante	
que	você	faça	uma	análise	do	contexto	do	século	20	e	
suas	grandes	transformações	no	campo	da	política	e	das	
novas	tecnologias.
2)	 Também	é	 importante	que,	você	aprofunde	seus	estu-
dos	nas	mudanças	ocorridas	após	as	duas	grandes	guer-
ras	mundiais	e	seu	influxo	na	espiritualidade	contempo-
rânea	e	nas	relações	entre	as	religiões.
3)	 Sugerimos	que	você	compreenda	o	processo	de	abertu-
ra	da	Igreja	Católica	para	as	questões	modernas	que	têm	
o	seu	ponto	crucial	no	Concílio	Vaticano	II.
4)	 Para	completar	seus	estudos,	seria	interessante	você	co-
nhecer	a	vida	e	atuação	dos	grandes	papas	deste	perío-
do,	com	destaque	para	Pio	X,	Pio	XII,	João	XXIII,	Paulo	VI,	
João	Paulo	II	e	Bento	XVI.
5)	 Em	torno	do	tema	do	futuro	ou	dos	desafios	do	Cristia-
nismo	no	Terceiro	Milênio,	sugerimos	que	você	leia:
•	 LIBÂNIO,	 J.	 B.	 A Religião no Início do Milênio.	 São																					
Paulo:	Loyola,	2002.
•	 ______.	Olhando para o futuro. Prospectivas teoló-
gicas e pastorais do Cristianismo na América Latina.	
São	Paulo:	Loyola,	2003.
•	 ______.	 Qual o futuro do Cristianismo?	 São	 Paulo:	
Paulus,	2006.	
•	 JENKINS,	P.	A próxima cristandade. A chegada do cris-
tianismo global.	Rio	de	Janeiro:	Record,	2004.	
6)	 É	interessante	conferir	a	obra	do	jornalista	francês:		Hen-
ri.	T.	Desafíos para el papa Del tercer milênio. La herencia 
de Juan Pablo II.	Santander:	Sal	Terrae,	1997.	Ele	traça	
oito	desafios:	Roma:	voltar	a	um	exercício	mais	modesto	
do	papado?	Um	povo	de	crentes:	descentralizar	o	gover-
no	da	Igreja?	Para	uma	Igreja	sem	sacerdotes:	ordenar	
129© Século 20: O Século Breve
homens	casados?	A	outra	metade	da	humanidade:	abrir	
pouco	a	pouco	a	porta	para	as	mulheres?	O	caminho	da	
unidade:	acelerar	a	reunificação	dos	cristãos?	O	Diálogo	
das	Religiões:	 resistir	 aos	 integrismos?	Uma	 sociedade	
moderna	desencantada:	responder	à	busca	de	sentido?	
Até	os	confins	do	mundo:	responder	às	seitas	mediante	
a	inculturação?	
7)	 Sugerimos	que	você	consulte	a	obra:		COMBLIN.	J.	Quais 
os desafios dos temas teológicos atuais?,	São	Paulo:	Pau-
lus,	2007.	Nesta	obra	o	autor		recomenda	uma	teologia	
construída	no	diálogo	com	as	religiões	do	mundo	para	se	
contrapor	ao	imperialismo	da	religião	global	americana.	
Ele	sugere	dez	temas	teológicos	a	serem	aprofundados:	
a	questão	teológica	do	Pobre;	o	Pluralismo	religioso,	a	
Revelação,	 Deus,	 Cristologia,	 Eclesiologia,	 a	 Missão,	 a	
Bioética,	a	Criação	e	os	Sinais	dos	tempos.	
8)	 Sugerimos,	também,	que	você	leia:	LIBÂNIO,	J.	B.	Cená-
rios de Igreja.	São	Paulo:		Loyola,	1999.	O	autor	aponta	
para	quatro	cenários	modelos	existentes	e	nos	convida	
a	um	aprofundamento	sobre	os	mesmos:	uma	Igreja	de	
Instituição,	uma	de	Igreja	de	Kerigma,	uma	Igreja	de	Ca-
rismas	e	uma	Igreja	de	Práxis-Libertadora.	
9)	 Leonardo	 BOFF,	 seguindo	 a	mesma	 dinâmica	 do	 Libâ-
nio,	mas	tendo	como	ponto	de	partida	as	Comunidades	
Eclesiais	de	Base,	CEBs,	aprofunda	o	tema	falando	dos	
seguintes	perfis:		a	Igreja	grande	instituição:	oficial,	dog-
mática,	 hierárquica,	 sacramental;	 a	 Igreja	popular:	 au-
tonomia	das	classes	populares,	devocional,	religiosidade	
popular,	santos	e	leigos;	a	Igreja	rede	de	comunidades:	
CEBs,	círculos	bíblicos,	catolicismo	popular	e	a	Igreja	de	
carismas:	demanda	da	subjetividade,	 centralidade	não	
está	nos	conteúdos	doutrinais,	mas	na	experiência	espi-
ritual,	leigos	têm	a	palavra;	fiel	à	instituição;	mais	intuiti-
va	que	cerebral	e	mais	espiritual	que	material	(	BOFF,	L.	
Igreja:	carisma	e	poder.	Ensaios	de	eclesiologia	militan-
te.	Petrópolis:	Vozes,	1981).
10)	Clodovis	 Boff,	 também	 aprofundou	 o	 tema,	 a	 partir	
daquelas	que	 seriam	as	exigências	do	mundo	contem-
porâneo,	 tão	machucado	 e	 violentado.	 Apresenta	 cin-
© História da Igreja Moderna e Contemporânea130
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
co	apelos	ou	traços	de	 Igreja:	Mística,	contemplativa	e	
mistagógica,	 guiado	pelo	Espírito	 Santo;	Querigmática,	
ou	seja,	anunciadora,	missionária	e	centrada	na	prega-
ção	da	Boa	Nova	do	Reino	de	Cristo;	Igreja	hospitaleira	
que	se	abra	ao	diálogo	com	o	diferente,	e	seja	incluinte,	
magnânima	e	generosa;	uma	Igreja	de	misericórdia,	ter-
nura	e	piedade;	e	uma	Igreja	de	Esperança,	que	vive	o	
dinamismo	de	um	projeto,	com	capacidade	de	sonho	e	
utopia	(	BOFF,	C.	Uma Igreja para o próximo milênio.	São	
Paulo:	Paulus,	1998).
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na	unidade	anterior,	você	aprendeu	sobre	a	doutrina	social	
da	Igreja,	a	questão	social,	a	questão	romana	e	os	tratados	latera-
nenses.
Agora,	nesta	unidade,	veremos	que	o	século	20,	o	mais	vio-
lento	 da	 história	 da	 humanidade,	 se	 apresentou	 com	 aconteci-
mentos	 que	o	marcaram	 intensa	 e	 profundamente,	 de	 tal	 sorte	
que	ele	alterou,	de	maneira	irreversível,	o	homem,	o	seu	ambiente	
e	o	seu	modo	de	encarar	a	história.	Um	século	de	progresso	cien-
tífico	extraordinário,	de	guerras	totais,	de	crises	econômicas	e	de	
prosperidade	desigual,	de	revoluções	na	sociedade	e	na	cultura.	
Pela	aceleração	assumida	pelos	eventos	históricos,	pode-se	dizer	
um	século breve.	
No	 livro	Era dos Extremos. O breve século XX. 1914-1991, 
Eric	Hobsbawm	aprofunda	os	acontecimentos	deste	que	é	consi-
derado	um	dos	 séculos	mais	difíceis	 e	 complexos	da	história	da	
humanidade.	Hobsbawm	divide	o	século	20	em	três	eras:	
A	"da	catástrofe",	é	marcada	pelas	duas	grandes	guerras,	pelas	on-
das	de	revolução	global	em	que	o	sistema	político	e	econômico	da	
URSS	 surgia	 como	alternativa	histórica	para	o	 capitalismo	e	pela	
virulência	da	crise	econômica	de	1929.	Também	nesse	período	os	
fascismos	 e	 o	 descrédito	 das	 democracias	 liberais	 surgem	 como	
proposta	mundial.	A	segunda	são	os	anos	dourado	das	décadas	de	
1950	e	1960	que,	em	sua	paz	congelada,	viram	a	viabilização	e	a	
estabilização	do	capitalismo,	 responsável	pela	promoção	de	uma	
131© Século 20: O Século Breve
extraordinária	 expansão	 econômica	 e	 de	 profundas	 transforma-
ções	sociais.		Entre	1970	e	1991	dá-se	o	"desmoronamento"	final,	
em	que	caem	por	terra	os	sistemas	institucionais	que	previnem	e	
limitam	o	barbarismo	contemporâneo,	dando	lugar	à	brutalização	
da	política	à	irresponsabilidade	teórica	da	ortodoxia	econômica	e	
abrindo	portas	para	um	futuro	incerto	(HOBSBAWM,	1991,	n.p.).
Assim,	o	avanço	da	 industrialização	 levou,	por	meio	de	di-
versas	fases,	ao	modelo	de	sociedade	pós-industrial:	uma	socie-
dade	caracterizada	pela	automação,	pela	produção	desmateriali-
zada	e	pela	acentuação	do	poder	financeiro.	Essa	nova	sociedade	
apresentava	uma	economia	planetária	marcada	por	 contínuas	 e	
profundas	transformações;	era	uma	sociedade	sem	fronteiras,	na	
qual	os	mercados	escapavam	do	controle	de	cada	Estado.	O	futu-
ro	apresentava-se	desarticulado:	de	um	lado,	uma	sociedade	sem	
Estado	e,	do	outro,	a	profusão	crescente	de	sociedades	nacionais	
organizadas	em	Estados.	A	falta	de	equilíbrio	institucional	asseme-
lhava-se	à	falta	de	equilíbrio	dentro	do	homem,	o	qual	estava	per-
dendo	a	evidência	ética	e	transcendente.	Vejamos	o	que	nos	diz	
Zagheni:
O	 século	 XX	 apresenta-se	 extremamente	 complexo,	 porque	 os	
acontecimentos	que	o	caracterizaram	foram	tão	intensos	e	profun-
dos	que	induziram	mudanças	que	alteraram	de	maneira	irreversível	
o	homem,	o	seu	ambiente	e	o	seu	modo	de	encarar	a	história.	"O	
século	vinte	foi	"o	século	mais	violento	da	história	da	humanidade".[...]	Um	século	de	progresso	científico	extraordinário	e	de	guerras	
totais,	de	crises	econômicas	e	de	prosperidade	desigual,	de	revolu-
ções	na	sociedade	e	na	cultura.	Um	´século	breve´,	pela	aceleração	
assumida	pelos	eventos	históricos	e	pelas	transformações	na	vida	
dos	homens,	que	ocorrem	em	ritmo	cada	vez	mais	 vertiginoso	 (	
1999,	p.	206).
Dessa	forma,	conheceremos	ainda	nesta	unidade,	qual	foi	o	
posicionamento	da	Igreja	diante	das	duas	guerras	mundiais,	bem	
como	a	história	do	Concílio	Vaticano	II	e	seu	posterior	desenvolvi-
mento	e	os	desafios	e	possibilidades	do	III	Milênio.	
Está	preparado?	Então,	vamos	aos	estudos!
© História da Igreja Moderna e Contemporânea132
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
5. PONTIFICADO DE PIO X
Eleito	papa	no	dia	4	de	agosto	de	1903,	 José	Sarto	 (1825-
1914)	aceitou,	com	relutância,	tal	designação,	depois	de	longos	e	
quase	intermináveis	conclaves.
"Fazer	a	vontade	de	Deus	e	servi-lo	por	meio	de	um	ministé-
rio	fiel" foi	a	direção	profunda	que	o	guiou	interiormente	duran-
te	todo	o	seu	longo	e	agitado	pontificado.	Angariou	uma	grande	
simpatia	de	todos	e	mostrou	não	ser	um	simples	vigário de roça,	
como	tradicionalmente	foi	apresentado.	Durante	sua	vida,	acumu-
lou	uma	ampla	experiência	pastoral	e	administrativa.	
É	importante	ressaltar	que	Pio	X	foi	um	papa	reformador,	so-
bretudo	no	plano	religioso,	preocupando-se	em	manter	a	unidade	
interna	da	Igreja.	Quando	intervinha,	fazia	com	que	as	mais	diversas	
iniciativas	fossem	controladas	pela	Secretaria	de	Estado	e	pelo	epis-
copado;	isso	já	aparece	claro	pelo	lema	escolhido	para	o	seu	pontifi-
cado:	instaurare omnia in Christo,	isto	é,	fazer	com	que	a	influência	
de	Cristo	se	estendesse	a	toda	a	sociedade,	por	meio	do	seu	vigário	
na	terra	e	dos	seus	demais	representantes.	Tal	obra	de	restauração	
era	necessária	porque	a	sociedade	moderna	 tinha-se	afastado	de	
Deus	 e,	 consequentemente,	 dos	 verdadeiros	 valores.	 Para	 trazer	
Deus	de	volta	à	sociedade,	era	preciso,	antes,	reformar	a	Igreja	in-
ternamente	e	purificá-la	de	tudo	o	que	não	se	adequava	à	missão	
que	Cristo	lhe	havia	confiado.	Restaurar	tudo	em	Cristo	significava	
tornar	a	 Igreja	mais	espiritual,	preservá-la	dos	desvios	doutrinais,	
favorecer	a	unidade	em	 torno	do	pontífice	 romano	e	dos	bispos,	
fazendo	que	sua	mensagem	pudesse	ser	acolhida	por	todos.
Desse	modo,	Pio	X	quis	uma	reforma	que	abrangesse	todos	
os	aspectos	da	vida	cristã:	o	culto,	a	disciplina,	a	integridade	dou-
trinária,	uma	correta	orientação	em	relação	à	sociedade	e	aos	es-
tados.	Assim,	as	reformas	promovidas	por	Pio	X	referem-se,	princi-
palmente,	ao	Código	de	Direito	Canônico,	à	catequese	e	à	liturgia,	
tópicos	que	veremos	a	seguir.
133© Século 20: O Século Breve
•	 O	código	de	Direito	Canônico:	para	atualizar	de	vez	as	leis	
da	Igreja,	Pio	X	determinou	a	redação	do	Código	de	Direi-
to	Canônico.	Inicialmente,	não	se	acreditava	na	possibili-
dade	de	se	realizar,	em	menos	de	25	anos,	uma	reforma	
do	Código	–	pelo	menos,	 assim	era	o	parecer	dos	mais	
céticos.	O	Cardeal	Gasparri foi	o	responsável	pela	obra	e	
dividiu	o	trabalho	em	diversos	grupos,	que	trabalhavam	
ao	mesmo	 tempo.	 Foram	gastos	 14	 anos	 nessa	 obra,	 e	
cada	um	dos	esquemas	do	novo	Código,	depois	de	pron-
to,	passava,	ainda,	por	25	consultores.	Assim,	Bento	XV,	
no	dia	27	de	maio	de	1917,	na	festa	de	Pentecostes,	pro-
mulgou	o	Código,	que	entrou	em	vigor	um	ano	depois.	
Com	o	passar	dos	anos,	perceberam-se	algumas	reservas	
ao	novo	Código:	incremento à centralização,	já	que	con-
solidou	os	poderes	das	congregações	romanas;	criação	de	
certa	uniformidade	à	Igreja,	problema	sentido,	sobretu-
do,	na	vida	consagrada	em	torno	dos	três	votos,	em	que	
o	Código,	tendendo	a	reduzir	as	características	específicas	
dos	vários	institutos,	não	tutelava	o	carisma	específico	e	
não	deixava	muita	liberdade	de	iniciativa;	acentuação	da	
tendência	à	 latinização	 da	 Igreja;	 e	oferta	de	perigo	da	
prevalência	dos	elementos	 jurídicos sobre	os carismáti-
cos.
•	 De	1500	a	1800,	o	sistema	catequético	da	Igreja	ocidental	
baseava-se	em	quatro	catecismos:	o	de	São Pedro Caní-
sio,	 concluído	por	 volta	da	metade	de	1500	e	que	 teve	
quatrocentas	 edições;	 o	 catecismo para os	 párocos,	 do	
Concílio	de	Trento,	sob	a	direção	de	Carlos	Borromeo;	o	
catecismo	de	Roberto Belarmino	e	o	de	Miguel Casati. A	
catequese	de	1800,	 entretanto,	 tinha	 seus	 limites,	 uma	
vez	que	se	dirigia	somente	às	crianças,	era	assumida	mais	
por	religiosos	do	que	por	 leigos,	buscando	transmitir	as	
verdades	de	fé	de	maneira	mnemônica,	nocional	e	auto-
ritária,	além	de	ser	desprovida	de	inspiração	bíblica	e	ser,	
© História da Igreja Moderna e Contemporânea134
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
também,	individualista.	Somente	por	volta	de	1900,	sen-
tiu-se	a	necessidade	de	se	realizar	uma	reforma	catequé-
tica	com	uma	melhor	utilização	da	Bíblia.	Com	a	encíclica	
Acerbo nimis,	de	15	de	abril	de	1905,	o	papa	descreveu	a	
situação	de	 ignorância	religiosa	e	as	consequências	que	
daí	derivavam,	e	disse	que	a	responsabilidade	recaía	so-
bre	 todos	os	 sacerdotes	e	 catequistas	 leigos	no	 sentido	
de	oferecer	uma	catequese	sólida	a	todos.	O	documento	
dava	normas	práticas:	catecismo	festivo	para	as	crianças;	
preparação	para	a	primeira	comunhão,	confissão	e	cris-
ma;	criação,	em	todas	as	paróquias,	da	congregação	da	
doutrina	cristã;	escolas	especiais	de	religião;	homilia	do-
minical	e	catecismo	de	adultos.	Em	1912,	saiu	o	Catecis-
mo da Doutrina Cristã,	que	era	um	texto	feito	com	base	
em	perguntas	simples	e	respostas	também	simples,	fácil	
de	se	decorar.	O	texto,	todavia,	era	desprovido	de	inspira-
ção	bíblica,	sendo	teológico	demais	e	pouco	pedagógico.	
O	Catecismo	de	Pio	X	formou	todas	as	gerações	desde	o	
início	do	século	até	o	Vaticano	II.
•	 A	reforma	litúrgica:	abrangia	a	música	sacra,	o	Breviário	e	
a	Eucaristia.	Com	o	Motu Proprio,	de	22	de	novembro	de	
1903,	estabeleceu-se	o	princípio	de	que	a	música	estava	a	
serviço	da	liturgia	e	não	o	contrário.	A	música	sacra	devia	
ser	aquela	que	mais	se	aproximava	do	canto	gregoriano	
autêntico	ou	da	polifonia.	A	importância	desse	documen-
to	foi	que	representou	a	carta	magna	do	movimento	litúr-
gico	e	que	indicaria,	mais	tarde,	o	rumo	do	renascimento	
litúrgico,	traçando	com	clareza	a	direção	a	seguir.	O	rumo	
da	piedade	 cristã	 teve	 três	períodos:	 a	partir	 do	 século	
17,	lutas	contra	e	a	favor	do	jansenismo;	depois,	uma	lon-
ga	competição	entre	duas	tendências;	e,	finalmente,	um	
novo	equilíbrio,	com	a	recuperação	de	alguns	elementos	
do	jansenismo	dentro	de	um	contexto	diferente.	No	iní-
cio	do	século	20,	essas	duas	tendências	principais	eram:	
135© Século 20: O Século Breve
uma	minoria	que	pregava	sobre	a	comunhão	frequente	e	
os	que	a	desaconselhavam,	falando	sobre	a	dignidade	do	
sacramento	e	a	necessidade	de	afastamento	do	pecado.	
Com	o	decreto	Quam singulari,	de	8	de	agosto	de	1910,	
que	recordava	a	praxe	da	Igreja	primitiva,	tornava-se	obri-
gatória	a	comunhão	(juntamente	com	a	confissão)	aos	7	
anos	de	idade.	
•	 Existem	muitos	juízos	contrários	e	a	favor	das	iniciativas	
de	Pio	X.	Segundo	Schlesinger;	Porto:	
Ao	contrário	de	Leão	XIII,	que,	que	procurou	dialogar	com	as	ideias	
políticas	e	sociais	do	século	XIX,	Pio	X	foi	preponderantemente	um	
pastor,	mas	voltado	para	a	pastoral	e	o	incremento	da	vida	eclesiás-
tica	e	cristã.	[...]	Alguns	historiadores	têm	apreciado	negativamente	
certos	aspectos	da	luta	de	Pio	X	contra	o	modernismo,	sobretudo	
a	sua	tendência	de	ver	heresia	modernista	em	tudo.	Ele	não	foi	um	
teólogo,	Foi,	sim,	um	pastor	dedicado	e,	sobretudo,	um	verdadeiro	
santo,	extremamente	devoto,	mas	simples	e	sem	ostentação.	Foi	
canonizado	em	1954	(1995,	n.p.).
6. A IGREJA DIANTE DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
O	século	20	tem	sua	primeira	grande	crise	com	os	acontecimen-
tos	em	torno	da	primeira	grande	guerra:	
O	início	do	século	foi	marcado	por	fermentos	sociais	e	por	delitos	
políticos:	entre	eles,	o	assassínio	do	arquiduque	austríaco	Francisco	
Fernando,em	Sarajevo,	foi	o	pretexto	para	a	guerra	declarada,	em	
1914,	pela	Áustria-Hungria	contra	a	Sérvia.	França	e	Grã-Bretanha	
alinharam-se	com	a	Rússia,	e	a	Alemanha	com	a	Áustria.	As	maio-
res	consequências	políticas	desse	primeiro	conflito	mundial	foram	
a	queda	do	regime	czarista,	a	 revolução	bolchevista	de	1917	e	a	
entrada	dos	Estados	Unidos	no	cenário	europeu.	Vencedores	e	ven-
cidos	saíram	do	conflito	arruinados	em	todos	os	campos:	econômi-
co,	ideológico,	político	e	social.	A	organização	da	Europa	adquiria	
uma	nova	fisionomia,	com	o	desaparecimento	de	velhos	Estados	e	
a	criação	de	novos.	Mas	por	toda	a	parte	a	guerra	havia	espalhado	
forte	mal-estar,	que	desembocou,	na	Alemanha,	na	efêmera	mas	
avançada	república	de	Weimar	e,	na	Itália,	nos	confusos	aconteci-
mentos	que	precederam	a	subida	do	fascismo	ao	poder,	em	outu-
bro	de	1922	(ZAGHENI,	1999,	p.	207-208).
© História da Igreja Moderna e Contemporânea136
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Giacomo	Della	Chiesa,	eleito	papa	em	agosto	de	1914,	assumiu	
o	seu	pontificado	com	o	nome	de	Bento	XV.	Entre	seus	desafios,	
estava	a	questão	de	procurar	contribuir	para	a	paz	ou,	pelo	menos,	
evitar	que	o	conflito	se	estendesse	mais	ainda.	
Bento	XV	viveu	momento	difícil	na	condução	do	pontificado	
no	início	do	século	20,	com	tantos	problemas	internos	e	externos:	
Formado	no	serviço	da	secretaria	de	Estado,	sob	Leão	XIII	e	o	car-
deal	 Rampolla,	 possuía,	 no	 campo	 do	 governo	 eclesiástico	 e	 da	
diplomacia,	 aquela	 rica	 experiência	 e	 destreza	 que	 pareciam	 in-
dispensáveis	para	reger	a	Igreja	na	época	da	guerra	mundial.	Con-
temporaneamente	havia	dedicado	 sempre	viva	atenção	 também	
ao	múnus	religioso	e	pastoral	(SCHLESINGER	.;	PORTO,	1995,	n.p.).
Vale	dizer	que,	nessa	época,	o	posicionamento	dos	católicos	
perante	a	guerra	era	bem	diverso,	tanto	por	parte	dos	leigos,	como	
dos	intelectuais	e	membros	do	clero.	Em	geral,	na	Itália,	por	exem-
plo,	professava-se	um	entusiasmo	pela	causa	da	própria	pátria.	
Na	França	e	na	Alemanha,	faziam-se	apelos	à	forte	unidade	
que	devia	 reinar	 naqueles	momentos:	Guilherme	 II	 proclamava,	
em	Berlim,	que	não	deveria	haver	mais	partidos,	mas	somente	ale-
mães;	em	Paris,	Poincaré apelava	para	a	união sagrada	de	todos	
os	franceses,	de	qualquer	religião,	de	qualquer	tendência	política.	
Assim,	de	modo	geral,	os	católicos	tinham	a	tendência	de	defender	
os	 direitos	 dos	 seus	países.	Na	 Itália,	 os	 bispos	 dividiram-se	 em	
três	grupos:	
•	 Os	filonacionalistas,	que	aderiram	à	propaganda	 in-
tervencionista	 e	 ressaltavam	o	 ideal	 de	 uma	 pátria	
maior.	
•	 Os	pacifistas,	que	eram	uma	minoria.		
•	 E	outro	grupo,	que	era	a	maioria	e	que	aceitou	o	fato	
consumado	e	colaborou	com	as	autoridades	para	o	
sucesso	da	luta,	embora	tenha	se	dedicado,	sobretu-
do,	ao	alívio	dos	combatentes	e	de	suas	famílias.
Dentro	desse	contexto,	emergiu	a	figura	de	Bento	XV.	Criti-
cado	em	vida,	tem,	atualmente,	a	aprovação	de	todos	os	historia-
137© Século 20: O Século Breve
dores,	os	quais	o	consideram,	com	unanimidade,	um	dos	maiores	
pontífices	do	século	20.	Sua	conduta	na	guerra	seguiu	três	linhas	
complementares:
•	 Condenação	sem	reservas	do	recurso	às	armas	(guer-
ra)	 como	 meio	 necessário	 para	 resolver	 questões	
pendentes,	 para	 reivindicar	 os	 próprios	 direitos	 e	
para	afirmar	a	própria	segurança;	ao	mesmo	tempo,	
pedia	que	os	católicos,	leigos,	clero	e	bispos	se	manti-
vessem	distantes	da	forte	tentação	do	nacionalismo,	
de	um	amor	exclusivo	e	indiscriminado	pelo	próprio	
país,	em	contraste	com	a	caridade	e	o	universalismo	
cristão.
•	 Oferecimento	de	toda	a	ajuda	possível	às	vítimas	da	
guerra	(feridos,	prisioneiros,	refugiados,	famílias	pri-
vadas	de	seus	chefes).
•	 Esforço	contínuo	para	impedir	que	o	conflito	se	alas-
trasse,	para	apressar	o	retorno	à	paz	sem	parar	em	
genéricas	 afirmações	 de	 princípio,	mas	 descendo	 a	
propostas	concretas.
Essa	ação	caritativa,	no	entanto,	exigia	enormes	recursos	e	
uma	grande	paciência.	A	condenação	da	guerra	supunha	uma	for-
te	maturidade,	capaz	de	se	opor	aos	entusiasmos	tão	difundidos	
na	época,	e	o	esforço	pela	paz	exigia	grandes	qualidades	diplomá-
ticas.	Bento	XV,	rico	de	uma	longa	experiência	diplomática,	firme	
pastoralmente,	mas	aberto,	estava	preparado	para	esses	desafios,	
contando	sempre	com	a	colaboração	do	Cardeal	Gasparri	e	do	jo-
vem	prelado	D.	Pacelli.
Além	 disso,	 Bento	 XV	 não	 cansou	 de	mostrar	 sua	 dor,	 in-
dignação	e	amargura	diante	da	guerra	em	alocuções	e	encíclicas:	
a	guerra,	para	ele,	era	não	só	um	 inútil massacre	 (1º	agosto	de	
1917)	como	o	suicídio	da	Europa	civil	 (4	de	março	de	1916)	e	a	
mais	 tenebrosa	 tragédia	da	 loucura	humana	 (4	de	dezembro	de	
1916).	 Já	no	dia	8	de	 setembro	de	1914,	poucos	dias	depois	da	
© História da Igreja Moderna e Contemporânea138
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
eleição,	ele	expressou	seu	horror	pela	guerra,	que	fazia	a	Europa	
se	avermelhar	de	sangue	cristão,	dizendo:	"basta	de	tanto	sangue	
humano	já	derramado"	(MARTINA,	1996,	p.	134).	Aos	cardeais,	no	
dia	24	de	dezembro,	ele	exprimiu	a	sua	amargura	pelo	fracasso	de	
sua	proposta,	uma	vez	que	pretendia,	ao	menos,	obter	uma	trégua	
natalícia.	Mais	significativos	ainda	foram	os	esclarecimentos	sobre	
a	última	raiz	do	mal:	o	papa	combateu,	sobretudo,	o	nacionalismo 
exagerado	(diferentemente	do	amor	à	pátria).		
A	ação caritativa	da	Santa	Sé	foi	imensa	e	dirigida	a	todos.	
Diante	do	massacre	de	meio	milhão	de	armênios	por	parte	dos	
turcos,	o	papa,	ainda	que	não	condenasse	 solenemente,	desdo-
brou-se	em	favor	das	vítimas	e,	mediante	uma	série	de	passos	di-
plomáticos	 pouco	 conhecidos,	 conseguiu	 fazer	 parar,	 em	 alguns	
casos,	a	continuação	do	autêntico	genocídio.	 Interveio,	também,	
em	favor	da	Rússia,	reduzida	a	condições	desastrosas,	e	em	defesa	
da	Áustria,	derrotada	e	flagelada	pelo	desemprego	e	pela	fome.
As	propostas	 de	mediação	 foram	 tentativas	 concretas	 em	
favor	da	paz,	 como	no	 inverno	e	na	primavera	de	1915,	 tentan-
do	impedir	a	intervenção	italiana.	Em	8	de	setembro	de	1914,	pe-
diu	a	cessação	das	hostilidades;	no	dia	1º	de	novembro,	 indicou	
os	meios	para	o	retorno	à	paz:	renúncia	aos	egoísmos	nacionais	
e	adoção	do	confronto	e	das	negociações;	no	dia	28	de	julho	de	
1915,	em	uma	nota	aos	governos,	indicou	alguns	pontos	a	serem	
considerados	para	a	solução	do	conflito:	renúncia	ao	uso	das	ar-
mas,	recurso	à	diplomacia,	reparação	dos	danos,	respeito	a	cada	
nacionalidade	e	arbitragem	internacional.
No	dia	1º	de	agosto	de	1917,	em	nota	endereçada	às	potên-
cias	beligerantes,	o	papa	propôs	como	base	o	desarmamento,	a	
liberdade	dos	mares,	a	arbitragem	nas	controvérsias,	a	recíproca	
quitação	das	despesas	da	guerra,	a	restituição	dos	territórios	ocu-
pados	e	a	solução	em	espírito	de	equidade	das	questões	territo-
riais	pendentes	entre	a	Alemanha	e	a	França.	Todavia,	a	iniciativa	
não	teve	resultados	positivos.
139© Século 20: O Século Breve
No	último	ano	da	guerra,	o	papa	manteve	um	eloquente	si-
lêncio	sobre	os	problemas	políticos,	voltando	sua	atenção	para	os	
motivos	estritamente	religiosos,	apoiando,	 inclusive,	o	despertar	
da	devoção	ao	Sagrado	Coração,	em	vista	da	 renovação	 interior	
de	todo	o	mundo	contemporâneo.	Mesmo	assim,	a	Santa	Sé	con-
tinuou	seus	esforços	para	uma	verdadeira	reconciliação	entre	os	
povos	para	superar	os	ressentimentos	e	restabelecer	as	relações	
pacíficas.	
Aprofundando	mais	esta	questão,	é	interessante	o	testemu-
nho	de	Lukacs,	quando	afirma	o	seguinte:	
A	Primeira	Guerra	Mundial	acabou	com	a	predominância	das	po-
tências	europeias	no	mundo,	incluindo	a	Grã-Bretanha,	apesar	das	
retiradas	americana	e	russa	da	Europa,	findo	o	conflito.	Na	época,	
o	isolacionismo	americano	era	seletivo;	e	os	Estados	Unidos	já	ti-
nham	se	tornado	a	maior	potência	do	mundo.		A	Rússia,	sem	sua	
revolução	comunista	de	1917-	ou	seja,	se	não	houvesse	se	retirado	
da	guerra	e	da	Europa	teria	estendido	sua	influência	pelo	Leste	Eu-
ropeu;	mas,	ao	contrário	do	que	aconteceuapós	a	Segunda	Guer-
ra	Mundial,	teria	também	se	tornado	mais	europeia.	De	qualquer	
forma,	tal	reconhecimento	do	declínio	da	Europa	promoveu	uma	
consciência	´européia´	entre	algumas	pessoas	e	o	primeiro	movi-
mento	organizado	para	algum	tipo	de	Europa	unida.	Foi	o	movi-
mento	"Pan-Europa",	iniciado	em	1923	pelo	conde	Richard	Coude-
nhove-Kalergi	(homem	muito	culto	com	pai	austríaco,	avós	gregos	
e	mãe	japonesa).	Essa	aspiração	a	uma	conferência	europeia	cor-
respondia	às	ideias	de	importantes	e	respeitáveis	pensadores.	[...]	
Mas	tudo	se	acabou	com	os	movimentos	nacionalistas	radicais	dos	
anos	30,	com	seu	exemplo-líder	Hitler.	Para	os	nacionalistas	–	tanto	
o	adjetivo	"europeu"	como	a	designação	de	alguém	como	europeu	
eram	pejorativos;	para	eles	significava	algo	ou	alguém	cosmopolita,	
antinacional,	decadente.	Somente	depois	 (e,	de	certa	 forma,	du-
rante)	da	Segunda	Guerra	Mundial	é	que	essa	conotação	pejorativa	
desapareceu	(1993,	p.	189-190).
Internamente,	apesar	das	dificuldades	motivadas	pela	guerra,	
Bento	XV	deu	continuidade	à	reforma	interna	da	Igreja:	
Para	o	incremento	dos	estudos	teológicos	foi	instituída	em	1915,	a	
S.	Congregação	cardinalícia	dos	seminários	e	das	universidades	dos	
estudos,	 e	para	 tratar	das	questões	 atinentes	 às	 igreja	orientais,	
que	adquiriram	sempre	maior	importância,	foi	fundada	em	1917,	
também	a	Congregação	adequada	com	um	instituto	oriental	anexo.	
A	obra	de	reforma	da	vida	eclesiástica	interna,	iniciada	já	por	seu	
© História da Igreja Moderna e Contemporânea140
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
predecessor,	foi	continuada	por	ele	nos	limites	consentidos	pelas	
condições	difíceis	dos	tempos.	O	acontecimento	mais	importante	
neste	setor	foi	o	acabamento	e	a	promulgação	da	obra,	já	começa-
da	por	Pio	X,	do	novo	direito	canônico	geral	Codex Iuris canonici	de	
1917	(SCHLESINGER,	1995,	n.p.).	
Mas,	o	ano	de	1939	começa	com	a	eleição	do	Papa	Pio	XII	e	
não	obstante	os	esforços	eclesiásticos	e	de	muitas	lideranças,	no	dia	
1.9.1939,	Adolf	Hitler	ataca	a	Polônia	e	dá	início	à	II	Guerra	Mundial.
7. A IGREJA E A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
Talvez,	um	dos	mais	trágicos	acontecimentos	da	história	da	hu-
manidade	 (se	 não	 o	mais	 trágico)	 tenha	 sido	 a	 Segunda	Guerra	
Mundial.	As	feridas	da	Primeira	Guerra	Mundial	não	estavam	cica-
trizadas	e	novos	interesses	e	cenários	surgiram:	
Entre	 1920	 e	 1940,	 a	 Europa	 viu	 a	 ascensão	do	bolchevismo	na	
Rússia	e	a	sua	progressiva	expansão	para	os	Estados	limítrofes,	viu	
também	a	vitória	do	fascismo	na	Itália	e	na	Espanha,	bem	como	do	
nazismo	na	Alemanha.	A	difícil	situação	econômica	geral,	agrava-
da	pelos	acontecimentos	 ligados	à	primeira	guerra	mundial,	che-
gou	ao	auge	na	grande	depressão	de	1929-30.	O	conflito	 latente	
em	quase	todos	os	Estados	entre	comunismo	e	fascismo	explodiu	
abertamente	na	Espanha	em	1936,	com	a	guerra	civil	e	o	confronto	
final	na	segunda	guerra	mundial.	Esse	grande	conflito	provocou	a	
divisão	da	Alemanha	e	 repercutiu	na	China,	permitindo	a	vitória	
da	revolução,	e	nos	impérios	coloniais,	onde	teve	início	um	rápido	
processo	de	desagregação.	Logo	houve	também	o	enfraquecimen-
to	co	acordo	entre	as	potências	vencedoras	e	começou	a	chamada	
"guerra	fria",	além	de	uma	série	de	conflitos	na	Palestina,	Indochi-
na	e	na	Coréia	(ZAGHENI	G.,	1999,	p.208).
Dentre	várias	tragédias	ocorridas	nessa	guerra,	podemos	ci-
tar	algumas,	como:	
1)	 O	emprego	de	armas	novas,	como	a	bomba	atômica,	e	a	
intensidade	de	todo	tipo	de	armamento.	
2)	 O	uso	da	aviação	com	o	objetivo	de	destruir	(a	pequena	
cidade	 inglesa	de	Coventry foi	arrasada,	de	 forma	que	
até	 se	 criou	 o	 verbo	 "coventrizar",	 que	 significa	 "des-
truir").	
141© Século 20: O Século Breve
3)	 Os	ataques	dos	últimos	anos	da	guerra	sobre	Leipzig	e	
Dresden.	
4)	 A	fome	que	pesou	sobre	populações	inteiras.	
5)	 A	 resistência	 aberta	 ou	 clandestina,	 especialmente	 na	
Polônia,	Itália	e	França.	
6)	 A	reconquista	americana	dos	principais	centros	do	Oce-
ano	Pacífico,	ocupados	pelos	japoneses.	
7)	 Os	 campos	 de	 concentração	 e	 de	 extermínio	 criados	
pelo	nazismo	para	destruir	todo	o	povo	judeu.	
8)	 Os	extermínios	do	Extremo	Oriente.	
9)	 As	bombas	atômicas	lançadas	sobre	Hiroshima	e	Naga-
saki,	nos	dias	6	e	9	de	agosto	de	1945.
10)	Evidentemente,	 essa	 guerra	 não	 foi	 uma	 explosão	 im-
provisada	 e	 imprevista	 de	 violência,	 com	 técnicas	 cui-
dadosamente	 trabalhadas,	 estudadas.	 Nesse	 sentido,	
podem-se	meditar	as	palavras	de	Pio	XII	ditas	no	final	da	
guerra	na	Europa,	no	dia	9	de	maio	de	1945:
Ajoelhados	em	nosso	espírito	diante	dos	túmulos,	[...]	parece-nos	
que	[...]	os	caídos	avisam	os	sobreviventes	e	dizem:	"Saiam	de	nos-
sos	ossos	e	de	nossos	sepulcros	e	da	terra	na	qual	fomos	lançados	
como	grãos	de	trigo,	os	plasmadores	e	os	artífices	de	uma	nova	e	
melhor	Europa,	de	um	novo	e	melhor	universo"	(MARTINA,	1996,	
p.	206).	
A	inútil	carnificina	registrada	por	Bento	XV	em	1917	transfor-
mou-se,	em	1939-1945,	num	fosco	drama	de	dimensões	apocalíp-
ticas.	Não	foi	sem	razão	que	se	falou	de	holocausto,	a	propósito	do	
povo	judeu,	para	resumir	a	intensidade	dessa	tragédia,	que	cons-
tituiu	apenas	a	página	mais	densa	de	um	fenômeno	que	envolveu	
não	somente	os	judeus,	mas	toda	a	humanidade.	
A	II	Guerra	Mundial	envolveu	em	torno	de	setenta	países	dos	cinco	
continentes,	com	uma	população	global	de	1.550	milhões	de	habi-
tantes,	dos	quais	500	milhões	sofreram	diretamente	as	consequ-
ências	da	guerra	em	forma	de	ocupação	militar;	luta	nas	ruas	das	
cidades,	bombardeios	aéreos,	etc.	Só	uns	poucos,	entre	
eles	Espanha,	Suíça	e	Suécia,	permaneceram	neutros.	A	guerra	oca-
sionou	a	invasão	de	24	países	e	seu	custo	total	foi	calculado	em	dois	
bilhões	e	meio	de	dólares.	O	número	total	de	vítimas	se	pode	esti-
mar	em	70	milhões	de	feridos	e	mais	e	28	milhões	de	mortos,	dos	
© História da Igreja Moderna e Contemporânea142
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
quais	17	ou	18	milhões	foram	civis	o	resto,	soldados.	A	guerra	exigiu	
uma	mobilização	total	de	93	milhões	de	homens	e	mulheres	[...]	
Outra	dura	consequência	da	guerra	foi	o	elevado	número	de	pesso-
as	que	se	viram	forçadamente	deslocadas	de	suas	pátrias	e	lares.	O	
número	de	deslocados	se	eleva	a	mais	de	40	milhões	[...]	Estes	des-
locamentos	forçados	não	afetaram	só	aos	alemães.	Sofreram	com	
eles	também,	pessoas	de	outros	países	em	razão	da	condição	em	
que	 lhes	surpreendeu	o	 final	da	guerra:	prisioneiros,	deportados	
políticos	e	raciais,	trabalhadores	requisitados,	personalidades	polí-
ticas	civis,	refugiados,	evacuados	forçados	etc.	Um	autêntico	drama	
humano!	No	fundo	do	desprezo	e	do	sacrifício	de	tantas	vidas	se	
percebe	uma	ideia	errônea	de	homem:	já	não	é	considerado	como	
um	ser	racional	e	livre,	digno	de	amor	e	respeito	por	si	mesmo,	e	
menos	ainda,	se	lhe	aprecia	como	filho	de	Deus;	e	sim	o	valoriza	
como	pura	matéria,	como	uma	simples	máquina.	Ele	é	estimado	
pelo	que	rende	dentro	dos	objetivos	que	se	pretende	alcançar.	Por	
outro	lado,	o	princípio	que	regula	as	ações	das	autoridades	é	que	o	
fim	justifica	os	meios.	Vale	tudo,	se	serve	para	conseguir	os	objeti-
vos	fixados	(Cf.	MARQUÈS	I	SURINACH,	1999,	p.119-121).
Diante	desse	contexto,	você	deve	estar	se	perguntando:	qual	
foi,	nesses	anos,	o	comportamento	da	Igreja,	ou	seja,	a	Santa	Sé,	
do	episcopado	e	dos	fiéis	dos	vários	países?		Esse	comportamento	
esteve	sempre	à	altura	da	sua	missão	e	do	momento	que	toda	a	
humanidade	atravessava?	É	o	que	veremos	a	seguir.	
Pio XII e seu posicionamento durante a guerra
Na	época	da	II	Guerra,	a	maioria	dos	cidadãos	dos	países	que	
participaram	dela,	eram	católicos	e	cristãos	de	várias	confissões.	
Calcula-se	que	só	nos	países	do	 III	Reich	viviam	em	torno	de	50	
milhões	de	 católicos	e	na	 Itália	e	 França	a	grande	maioria	eram	
católicos.
Eugenio	Pacelli	 foi	eleito	papa	no	dia	2	de	março	de	1939.	
Romano,	o	novo	papa,	cujo	nome	adotado	fora	Pio	XII,	tinha	atrás	
de	si	uma	longa	experiência:	fora	núncio	em	Munique	e	Berlim	de	
1917	a	1929,conhecera	e	ajudara	os	esforços	de	Bento	XV	pelo	
fim	da	Segunda	Guerra;	secretário	de	Estado	preferido	de	Pio	XI,	
estivera	ao	 lado	dele	de	1930	até	a	sua	morte,	em	uma	admirá-
vel	sintonia;	homem	de	oração	e	de	severa	ascese,	de	sincero	zelo	
143© Século 20: O Século Breve
pastoral,	exigente	consigo	mesmo	e	com	os	outros,	era	 levado	a	
concentrar	em	suas	mãos	quase	toda	a	responsabilidade	dos	tra-
balhos,	tendo	em	vista	que	não	queria	colaboradores,	mas	execu-
tores.
Quando	se	pressentiu	o	início	da	guerra,	dentre	outros	mo-
tivos	pelas	questões	de	fronteiras,	Pio	XII	apresentou	a	proposta	
de	uma	conferência	internacional	entre	as	potências	interessadas	
em	resolver,	pacificamente,	os	problemas	mais	graves:	a	ideia	foi	
aceita	por	Benito	Mussolini,	mas	logo	esvaneceu-se	por	causa	da	
frieza	e	da	oposição	de	outros	Estados.	No	dia	24	de	agosto,	ele	
lançou,	 então,	 o	 seu	 apelo:	 "nada	 se	perde	 com	a	paz.	 Tudo	 se	
perde	com	a	guerra"	(MARTINA,	1996,	p.	208).	O	papa	não	falou	
de	injusta	agressão,	diante	da	invasão	da	Polônia;	no	entanto,	ma-
nifestou	sua	solidariedade	aos	poloneses.	Nos	primeiros	meses	do	
conflito,	o	pontífice	serviu	de	intermediário	entre	a	resistência	ale-
mã	e	os	aliados	com	a	finalidade	de	reverter	o	nazismo.	Contudo,	
nada	se	conseguiu.	Pio	XII	tentou	aproximar-se	dos	reis	da	Itália,	
mas	Vitorio	Emanuel	III	mostrou-se	frio	e	cético,	e,	em	uma	última	
tentativa,	escreveu	a	Mussolini	para	que	poupasse	o	país	da	 in-
tervenção.	O	duce	respondeu	garantindo	que	haveria	intervenção	
italiana	quando	fosse	"de	meridiana	evidência	para	todos	que,	a	
honra,	os	interesses	e	o	futuro	impunham	de	maneira	absoluta	a	
fazer	isso"	(MARTINA,	1996,	p.	209).
No	início	de	maio,	as	tropas	alemãs	invadiram	os	países	neu-
tros,	Holanda,	Bélgica	e	Luxemburgo,	e	o	papa	enviou	telegramas	
aos	 soberanos	condenando	a	agressão.	Desde	então,	ele	 se	pôs	
em	silêncio.	
Segundo	Marquès	I	Codinach	(1999,	p.126).	
Pio	XII	abraçou	uma	neutralidade	total	que	ele	preferia	interpretar	
como	"imparcialidade".	Por	ocasião	dos	bombardeios	na	cidade,	o	
Papa	foi	ao	bairro	de	São	Lourenço	para	socorrer	os	feridos.	Voltou	
ao	Vaticano	com	a	batina	branca	ensanguentada.	Além	do	mais,	
foi	por	causa	de	sua	atuação	que	Roma	foi	declarada	como	cidade	
aberta	e	foi	salva,	o	que	lhe	conferiu	o	título	de	´Defensor	civita-
tis´[...]	Assim	mesmo,	realizou	numerosas	ações	de	alto	risco,	em	
© História da Igreja Moderna e Contemporânea144
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
parte	conhecidas	e	em	parte	desconhecidas,	dado	que,	pelas	cir-
cunstâncias	do	momento,	a	prudência	exigia	realizá-las	em	silêncio,	
entre	outras,	as	obras	e	atos	de	assistência	empreendidas	pelo	ou	
por	diversas	instituições	do	Vaticano	sob	sua	direção	para	ajudar	as	
vítimas	da	guerra	mundial,	informar	aos	familiares	dos	prisioneiros	
e	desaparecidos	e	salvar	inúmeros	perseguidos,	entre	eles,	muitos	
judeus	[...].
Os silêncios de Pio XII
Pio	 XII	 achava	 que	 não	 poderia	 fazer	 nada	 mais	 além	 do	
que	 já	estava	 fazendo:	 iniciativas	diplomáticas	para	 impedir	que	
o	conflito	se	expandisse;	protestos	diante	das	violações	públicas	
da	neutralidade	de	países	agredidos	e	o	silencioso	trabalho	para	
ajudar	os	judeus.	Quando	a	cidade	de	Roma	foi	bombardeada	em	
19	de	julho	e	13	de	agosto	de	1943,	dirigiu-se	aos	lugares	atingi-
dos	e,	depois	da	fuga	dos	comandos	militares	e	da	casa	real,	foi	a	
única	autoridade	a	permanecer	na	Cidade	Eterna.	De	setembro	de	
1943	a	maio	de	1944,	em	meio	à	angústia	geral,	o	olhar	de	todos	
voltava-se	para	a	Basílica	de	São	Pedro.
No	dia	16	de	outubro	de	1943,	diante	da	devastação	dos	ju-
deus	do	gueto	romano,	que	levou	à	prisão	e	à	deportação	de	mais	
de	mil	judeus,	Pio	XII	tomou	medidas	semioficiais,	por	meio	de	D.	
Hudal,	reitor	da	igreja	alemã	de	S.	Maria	Dell’Anima,	do	Pe.	Pfeiffer	
e	dos	salvatorianos,	conseguindo	que	as	prisões	 fossem	suspen-
sas.	Não	foi	feito	nenhum	protesto	formal,	uma	vez	que	se	temiam	
represálias	por	parte	das	tropas	alemãs.	Pensou-se,	então,	que	o	
melhor	a	se	fazer	era	calar-se,	para	salvar-lhes	a	vida	e,	realmente,	
naquele	momento,	os	judeus	romanos	e	italianos	não	ficaram	sem	
a	solidariedade	das	instituições	católicas	com	a	aprovação	do	Vati-
cano.	Em	outros	lugares,	várias	iniciativas	tiveram	êxito,	como	a	do	
o	Pe.	Bento	Maria	du	Bourg	d’Iré,	que	organizou	uma	imensa	rede	
de	ajuda	a	todos	os	judeus.	
Marqués	I	Surinach	(1999,	p.	126-127)	assim	descreve	a	atu-
ação	de	Pio	XII	em	torno	ao	tema	da	ajuda	aos	judeus:	
145© Século 20: O Século Breve
Menção	a	parte	merece	a	atuação	de	Pio	XII	em	relação	aos	judeus.	
O	pesquisador	 italiano	Antonio	Gaspari,	autor	de	"Los	judíos,	Pío	
XX	i	La	leyenda	negra"	(Ed.	Planeta	Testimonio)	desmonta	tal	len-
da	trazendo	testemunhos	de	dezenas	de	pessoas	que	sofreram	em	
suas	carnes	a	ameaça	nazista	e	demonstra	que	a	Igreja	salvou	dos	
campos	de	concentração	a	milhares	de	pessoas.	Sobre	este	ponto	
disse	o	célebre	cientista	Albert	Einstein:	"Após	a	ocupação	nazista,	
pude	comprovar	como	os	meios	de	comunicação,	como	as	univer-
sidades,	foram	reduzidos	ao	silêncio.	Só	a	Igreja	permaneceu	de	pé	
firme	para	enfrentar	às	campanhas	de	Hitler	para	suprimir	a	verda-
de".	E	como	Einstein,	todo	o	povo	judeu	manifestou	publicamen-
te	seu	agradecimento	a	Pio	XII	pela	atuação	da	Igreja	na	II	Guerra	
Mundial.	Mais	ainda,	apesar	das	tentativas	de	demolir	a	figura	de	
Pio	XII	a	partir	de	distintas	partes	da	comunidade	judaica,	Gaspari	
demonstra	em	seu	livro	que	Pio	XII,	sabendo	que	uma	intromissão	
da	Igreja	no	conflito	poderia		acabar	com	a	vida	de	milhares	de	ju-
deus	católicos,	organizou	uma	 impressionante	rede	de	ajuda	aos	
perseguidos	pelo	nazismo.	Só	em	Roma,	155	asas	religiosas,	paró-
quias	e	colégios	esconderam,	alimentaram	e	salvaram	da	deporta-
ção	4.447	judeus.	No	total,	e	segundo	os	dados	do	cônsul	de	Israel,	
em	Milão,	a	Igreja	católica	salvou	durante	a	II	Guerra	Mundial	mais	
de	oitocentos	mil	judeus	de	serem	transladados	para	os	campos	de	
concentração	nazistas...	O	próprio	Pio	XII,	em	virtude	dos	tratados	
Igreja-Estado,	utilizou	sua	residência	de	Castelgandolfo	como	refú-
gio	de	dezenas	de	perseguidos	pelo	regime	de	Hitler.	
Por que Pio XII se calou?
O	comportamento	da	Santa	Sé	e	de	Pio	XII	suscitou	muitas	
questões	injuriosas,	polêmicas,	sérias,	dignas	de	atenção.	Diante	
do	genocídio	de	milhões	de	judeus,	deveria	o	papa	limitar-se	a	so-
correr,	em	silêncio,	os	indivíduos	ou	levantar	sua	voz	e	protestar	
por	toda	a	comunidade	israelita	ameaçada	globalmente	de	exter-
mínio?	
Não	se	pode	negar	que	Pio	XII	 levantou	sua	voz	nas	radio-
mensagens	natalícias	contra	as	violações	da	lei	natural,	contra	as	
injustiças	que	se	cometiam;	promoveu	e	sustentou	atividades	de	
socorro,	desenvolvidas,	 sobretudo,	por	 seus	 colaboradores	 (Cro-
ácia,	Turquia,	Hungria,	Eslováquia	e	França).	Ele	assistiu	e	salvou	
os	indivíduos	e	as	famílias,	dedicando-se	a	eles,	mas	se	calou.	Por	
quê?
© História da Igreja Moderna e Contemporânea146
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
O	principal	motivo	que	levou	Pio	XII	a	se	limitar	a	condena-
ções	genéricas	foi	o	temor das represálias dos alemães sobre os 
católicos e judeus.	No	Reich,	viviam	40	milhões	de	católicos.	Pode-
-se	falar	de	hesitações	do	papa	entre	duas	soluções,	mas	é	mais	
provável	que	Pio	XII	visse	de	boa	vontade	e	encorajasse	declara-
ções	da	igreja	local,	pois	agia	com	menor	preocupação	de	ofender	
o	sentimento	nacional	e	não	corria	o	risco	de	afastar	os	 fiéis	de	
Roma;	podia	julgar,	com	maior	conhecimento,	a	gravidade	do	risco	
e	a	oportunidade	de	uma	intervenção;	no	que	se	referia	à	Santa	
Sé,	porém,	o	papa	preferiu	maior	reserva.
Alguns	 estudiosos,	 como	Miccoli	 (1985),	 julgam	que	 essas	
explicações	 são	 verdadeiras,	mas	 não	 satisfazem	o	 problema.	O	
silêncio	era	causado	parcialmente	por	aquele	antissemitismo	que	
há	séculos	se	abatera	sobre	o	mundo	católico	e	do	qual	este	ainda	
não	se	libertara	totalmente.	Havia	uma	distinção	clara:	o	antisse-
mitismo	nazista,	radical,condenado,	e	o	antissemitismo	modera-
do,	justificável	e	aceitável.	
Lukacs	analisa	a	questão	enfatizando	as	alianças	que	o	Cris-
tianismo	fez	com	Estado	em	vários	séculos	de	existência	e	a	partir	
da	 rejeição	ao	 comunismo	que	existia	nos	quadros	 católicos,	na	
época	da	guerra,	com	o	que	ele	chama	de	uma	"indiscutível	e	in-
questionável	respeitabilidade	nacionalista". Assim	ele	escreve:	
Tal	respeitabilidade	do	nacionalismo	-aliada,	na	Alemanha,	a	uma	
tradição	 profundamente	 esgastada	 de	 obediência	 ao	 Estado-	 foi	
um	potente	elemento	do	qual	Hitler	soube	se	aproveitar.	Ele	ascen-
deu	ao	poder	por	causa	dessa	respeitabilidade.	Durante	a	Segun-
da	Guerra	Mundial,	Pio	XII,	aquele	papa	frequente	e	injustamente	
difamado,	não	escapou	imune	ao	argumento	(em	parte	devido	a	
suas	experiências	quando	em	Munique	em	1919).	Sob	vários	as-
pectos	um	homem	puro,	não	era	nacionalista,	nem	nazista,	nem	
simpatizante	do	fascismo.	De	fato,	nutria	uma	profunda	simpatia	
pela	Alemanha	e	pelas	coisas	alemãs	(seu	compositor	favorito	era	
Wagner).	Mais	importante,	politicamente	também	via	a	existência	
da	Alemanha	como	um	bastião	contra	o	comunismo.	Ainda	mais	
importante	era	sua	grande	afeição	pelos	católicos	alemães.	Foi	irre-
preensível	sua	atitude	de	não	sugerir	nem	a	mais	sutil	aprovação	ao	
hitlerismo.	Talvez	houvesse	feito	mais	manifestando-se	abertamen-
te	contra	o	regime;	no	entanto,	contendo-se,	ao	menos	diretamen-
147© Século 20: O Século Breve
te,	revelou-se	prudente.	Indiscutível	é	que	Pio	XII	superestimou	o	
perigo	do	comunismo	ao	mesmo	tempo	que	subestimou	os	perigos	
talvez	menos	evidentes	e	mais	traiçoeiros	do	nacionalismo...	De	to-
das	as	Igrejas	do	Terceiro	Reich,	a	católica	foi	a	que	teve	a	reputação	
menos	comprometida;	contudo	–salvo	por	seus	mártires	e	heróis	
solitários-,	tal	reputação	no	todo	não	demonstrou	arrojo."	(LUKACS	
J.	1993,	p.	247-248).
Naturalmente,	pode-se	discutir	muito	 sobre	a	 linha	adota-
da	por	Pio	XII.	Um	papa	mais	profético	e	menos	diplomata	teria	
seguido	a	mesma	estratégia?	As	denúncias	e	condenações	vagas	
realmente	 diminuíram	 sua	 eficácia	 e	 não	 estimularam	os	 católi-
cos	a	se	afastarem	de	modo	mais	decidido	dos	responsáveis	pela	
tragédia?	Os	que	se	salvaram	mostraram-se	gratos	ao	papa?	Além	
disso,	para	onde	iria	tudo	aquilo	se	o	papa,	em	vez	de	se	limitar	ao	
silencioso	(embora	eficaz)	trabalho,	tivesse	defendido	princípios?
Convém	 ainda	 lembrar	 que,	 nos	 lugares	mais	 tenebrosos,	
a	 Igreja	estava	presente	com	Maximiliano	Kolbe,	Tito	Brandsma,	
Edith	Stein	e	milhares	de	sacerdotes	mortos	nos	diversos	campos	
de	concentração.	Kolbe,	quando	estendeu	sua	mão	ao	algoz,	sor-
rindo,	tornou-se	o	símbolo	da	Igreja,	que	saía	da	guerra	purificada	
de	um	passado	não	isento	de	compromissos	humanos;	uma	Igreja	
que	tinha	consciência	nítida	de	sua	missão	em	defender	os	pobres	
e	oprimidos.
Acabada	a	II	Guerra	em	maio	de	1945,	ficava	um	rastro	de	
sofrimento,	destruição	e	dor	na	vida	milhões	de	sobreviventes.	As	
esperanças	se	renovam	e	se	reforçam	com	Carta	das	Nações	Uni-
das	no	mesmo	ano	e	com	a	Declaração	Universal	dos	Direitos	Hu-
manos	em	1948.	Mas,	parece	que	a	lição	das	duas	grandes	guerras	
não	foi	absorvida	pelas	lideranças	mundiais.	De	1945	ao	ano	2000,	
calcula-se	que	ocorreram	no	mundo	todo	quase	200	conflitos	ar-
mados,	com	um	número	de	mortos	calculado	em	torno	de	40	mi-
lhões.	
E	nestes	12	anos	do	III	Milênio,	infelizmente,	a	humanidade	
não	descobriu	o	caminho	da	paz	e	da	justiça	e	ainda	produz	mi-
© História da Igreja Moderna e Contemporânea148
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
lhões	de	mortes	provocadas	pelas	guerras	locais	e	regionais,	pela	
fome,	pelo	narcotráfico	e	pela	violência	urbana	e	rural.	Ainda	há	
muito	que	se	aprender	e	a	paz	permanecem	um	sonho	alcançável!
8. CONCÍLIO VATICANO II
Ângelo	Roncalli	foi	eleito	papa	no	dia	28	de	outubro	de	1958,	
para	surpresa	de	todos,	e	escolheu	o	nome	de	João	XXIII.	Seus	úl-
timos	seis	anos	de	vida	foram	como	patriarca	de	Veneza	e	não	era	
conhecido,	 já	que	vivera	27	anos	no	exterior.	Todavia,	 logo	após	
sua	eleição,	mostrou	sua	personalidade.	No	discurso	de	sua	coroa-
ção,	em	4	de	novembro,	deixou	claro	quem	ele	era	e	o	que	queria:	
a	missão	do	papa	não	era	nem	diplomática,	nem	organizativa,	e,	
sim, religiosa e pastoral;	assim,	ele	resumiu	a	figura	do	pontífice	
nas	palavras	"bom pastor".	
Além	disso,	João	XXIII	nomeou	cardeais	imediatamente,	en-
tre	os	quais	estava	João	Batista	Montini.	No	natal,	visitou	o	cárcere	
romano	Regina	Coeli.	Há	séculos	nenhum	papa	tinha	passado	pe-
los	umbrais	daquele	cárcere,	melhor	dizendo,	de	nenhum	cárcere	
de	Roma.	
No	dia	25	de	janeiro	de	1959,	em	discurso	a	17	cardeais	pre-
sentes	em	Roma,	ele	anunciou	um	plano	preciso:	um	sínodo	ro-
mano,	um	concílio	ecumênico	e	a	atualização	do	código	de	direito	
canônico.	Foi	uma	verdadeira	bomba,	especialmente	para	quem	
pensava	que	ele	seria	um	"pontífice	de	transição",	uma	vez	que	já	
contava	com	77	anos.	
Vale	dizer	que,	até	os	seus	77	anos,	ninguém	havia	percebido	
quem	era	Roncalli;	foi	assim	que	a	ideia	de	seu	pontificado	de	tran-
sição	desapareceu.	Nota-se	que	tanto	Pio	XI	como	Pio	XII	já	tinham	
pensado	na	realização	de	um	concílio;	no	entanto,	a	ideia	não	teve	
prosseguimento.
Sobre	a	ideia	do	concílio,	Marquès	I	Suriñach	(1993,	p.191-
192)	assim	escreve:	
149© Século 20: O Século Breve
A	ideia	de	convocar	um	Concílio	fora	considerada	pelos	dois	Papas	
precedentes,	isto	é,	por	Pio	XI	e	Pio	II.	Mas	o	projeto	não	prospe-
rou,	por	razões	que	não	se	conhecem	com	exatidão.	Foi,	por	fim,	
João	XXIII	(25.XI,1881-3.VI.1963)	o	promotor	deste	revolucionário	
projeto	que	tinha	com	mexer	com	a	Igreja	e	o	mundo.	No	dia	20	de	
janeiro	de	1959,	quando	tinham	se	passado	somente	dois	meses	
de	seu	pontificado,	recebeu	o	cardeal	Tardini	e	juntos	recordaram	
"as	grandes	angústias	e	agitações	nas	quais	o	mundo	se	encontra-
va...	O	que	fará	a	Igreja?	Se	perguntava	o	papa-.	O	barco	místico	de	
Cristo	está	a	ponto	de	ser	deixada	em	poder	das	ondas	e	ser	arras-
tada	à	deriva?	Não	esperamos,	pelo	contrário,	precisamente,	não	
só	uma	nova	advertência,	e	sim	a	luz	de	um	grande	exemplo?	Em	
que	poderia	consistir	esta	luz?	Logo,	uma	grande	ideia	surgiu	em	
Nós	e	iluminou	Nossa	ala.	A	acolhemos	com	uma	inenarrável	con-
fiança	no	divino	Mestre	e	de	nossos	lábios	saiu	uma	palavra	solene,	
imperativa.	Nossa	voz	a	expressou	pela	primeira	vez:	um	Concílio.	
Essa	decisão	de	celebrar	um	concílio	foi	tomada	pessoalmen-
te	por	João	XXIII.	Ele	tinha	visão	mais	pastoral	do	que	curial	e	quis	
um	concílio	em	que	a	doutrina	da	Igreja	pudesse	ser	transmitida	
com	clareza	ao	mundo	com	intuito	de	instaurar	um	diálogo	com	
a	 humanidade;	 portanto,	 não	 se	 deviam	preparar	 condenações,	
anátemas,	 estratégias	 de	 resistência,	 contraposição	 à	 sociedade	
moderna,	mas	dialogar	com	todos.	Aquele	homem,	até	então	pou-
co	conhecido,	mostrava,	dessa	forma,	uma	coragem	e	um	espírito	
de	iniciativa,	inesperados.
Desenvolvimento do Concílio Vaticano II
No	dia	11	de	outubro,	apresentaram-se	para	a	sessão	inau-
gural	2.540	padres	conciliares.	De	acordo	com	cálculos	dignos	de	
crédito,	em	1961,	havia	2.191	circunscrições	territoriais	entre	pa-
triarcados,	exarcados,	dioceses,	prelaturas,	abadias	 isentas,	vica-
riatos	apostólicos,	entre	outros.	Em	todo	o	mundo,	os	bispos	che-
gavam	a	cerca	de	4.000.	Certamente,	pode-se	dizer	que	todas	ou	
quase	 todas	 as	 dioceses	 estavam	 representadas.	 Jamais,	 não	 só	
na	história	da	Igreja,	mas	na	história	de	toda	a	humanidade,	uma	
assembleia	se	apresentou	tão	numerosa	e	com	caracteres	tão	uni-
versais.	
© História da Igreja Moderna e Contemporânea150
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
O	Concílio	Vaticano	 II	 foi	 realizado	em	quatro	períodos,	de	
1962	a	1964,	com	intervalos	entre	eles	para	estudos,	aprofunda-
mentos	e	revisões.	O	primeiro	período	ocorreu	durante	o	ponti-
ficado	de	 João	XXIII.	Na	noite	 de	 3	 de	 junho	de	1963,	morria	 o	
mentor	do	Concílio.	Sua	morte	foi	lamentada	por	todo	o	mundo:ateus,	homens	de	outras	religiões,	budistas,	muçulmanos,	judeus,	
ortodoxos	etc.	Há	 séculos,	não	 se	verificava	esse	estreito	acom-
panhamento	da	morte	de	um	chefe	da	Igreja	Católica,	respeitado	
e	admirado	em	todos	os	países.	,	No	dia	21,	depois	de	um	rápido	
conclave,	foi	eleito	o	cardeal	João	Batista	Montini,	que	assumiu	o	
nome	de	Paulo	VI.	Sua	missão	não	era	nada	fácil,	pois	teria	de	dar	
continuidade	ao	Concílio,	que	 tinha	um	número	considerável	de	
esquemas	ainda	a	serem	revistos,	rediscutidos	e	aprovados.
Esta	fase	foi	difícil	pois	se	percebia	que	os	participantes	do	
Concílio	ainda	não	estavam	concordes	em	tudo	e	que	era	preciso	
buscar	uma	unidade	ou	evitar	divisões,	como	afirma	Suriñch,	ao	
dizer	que	na	primeira	 sessão,	 do	 ano	1962,	não	 se	 aprovou	ne-
nhum	documento: 
[...]	a	grande	assembleia	conciliar	estava	dividida	e	um	tanto	deso-
rientada.	José	Orlandis,	escreve:	"Como	ocorreu	nos	tempos	do	Va-
ticano	I,	também	agora	foi	comum	ouvir	falar	nos	meios	de	comu-
nicação	sociais	de	um	´maioria´	e	uma	´minoria´.	A	primeira	estaria	
aberta	a	uma	 inovação,	como	o	desejo	de	aproximar	a	 Igreja	do	
mundo	contemporâneo;	a	´minoria´,	mais	tradicional,	se	mostraria	
preocupada	com	a	salvaguarda	da	doutrina	e	da	disciplina	eclesiás-
tica.	A	´maioria´-segundo	alguns	historiadores-	tivera	como	núcleo	
a	que	denominam	´aliança	do	Reno´,	 integrada	por	um	grupo	de	
bispos	procedentes	de	países	 situados	em	uma	e	outra	margem	
do	grande	rio	europeu.	Entre	suas	figuras	mais	destacadas	–ainda	
que	seria	preciso	matizar	muito-	poderia	se	mencionar	os	cardeais	
alemães	Frings	e	Döpfner,	aos	franceses	Liénart	e	Garrone,	ao	belga	
Suenens,	ao	holandês	Alfrinck,	e	também	o	italiano	Lercano.	Junto	
a	eles	trabalharam	especialistas	como	Rahner,	De	Lubac,	Daniélou,	
Ratzinger,	Congar	e	Schilebeeckx,	ainda	que	se	deva	dizer	que	as	
futuras	 trajetórias	desses	 teólogos	na	época	pós-conciliar	 seriam	
muito	 díspares.	 A	minoria	 teve	 entre	 suas	 principais	 figuras	 aos	
cardeais	Ottaviani,	Siri,	Ruffini,	Browne,	Santos	e	contava	com	um	
número	considerável	de	padres,	sobretudo	italianos,	espanhóis	e	
ibero-americanos	(MARQUÈS	I	SURIÑACH,	1993,	p.	195-196).
151© Século 20: O Século Breve
Em	29	de	setembro	de	1963,	Paulo	VI	abria	o	segundo	pe-
ríodo	do	Concílio	 com	uma	 calorosa	 alocução.	O	 tema	principal	
dessa	nova	parte	era	a	Igreja,	a	sua	relação	com	Cristo,	princípio,	
caminho,	guia,	esperança	e	termo;	a	sua	reforma,	ou	seja,	sua	re-
novada	fidelidade	a	Cristo;	o	seu	diálogo	com	os	irmãos separados	
pelo	perdão	recíproco,	pelo	respeito	das	tradições;	e	o	seu	diálogo	
com	o	mundo moderno,	em	um	tom	otimista	e	realista.	
Ainda	 no	 contexto	 das	 opiniões	 distintas	 entre	 os	 grupos	
conciliares,	vários	temas	foram	discutidos:	a	liberdade	religiosa	e	a	
questão	da	confessionalidade	do	Estado,	a	colegialidade	episcopal,	
os	modos	de	ecumenismo,	a	Igreja	diante	do	comunismo	e	das	́ de-
mocracias	populares´,	a	reforma	litúrgica	incluindo	a	substituição	
da	língua	latina	pelas	línguas	vulgares	etc.	A	disciplina	do	celibato	
não	foi	levada	a	público,	apesar	da	vontade	de	alguns	conciliares	e	
a	questão	do	controle	de	natalidade	ficou	para	ser	resolvido	após	
o	concílio,	de	acordo	com	a	vontade	do	Papa	Paulo	VI.
O	 terceiro	 e	 quarto	 períodos	 seguiram	 aprofundando	 os	
temas	propostos	para	os	documentos	 e	 foram	aprovados	quase	
unanimemente	 pela	 assembleia.	 Em	 uma	 atmosfera	 de	 intensa	
comoção,	 isenta	de	qualquer	 formalismo,	no	dia	8	de	dezembro	
de	1965,	na	cerimônia	de	encerramento,	vários	cardeais	leram	as	
mensagens	que	o	Concílio	enviara	aos	governos,	intelectuais,	cien-
tistas,	artistas,	mulheres,	trabalhadores,	pobres,	doentes,	aos	que	
sofriam,	aos	jovens	etc.	
Iniciava-se,	assim,	uma	nova	etapa	na	história	da	Igreja.	Se-
ria	um	novo	Pentecostes,	uma	autêntica	primavera	ou	uma	idade	
de	novos	contrastes,	ou,	ainda,	uma	difícil	encarnação	da	utopia	
sonhada	pelo	papa	 João	XXIII	e	por	Paulo	VI,	 sem	retorno	a	um	
passado	superado	e	sem	escapadas	para	um	futuro?
Principais documentos conciliares
O	 Concílio	 promulgou	 quatro	 constituições,	 nove	 decretos	 e	
três	declarações.	É	certo	que	houve	uma	reviravolta	conciliar	e	os	as-
pectos	doutrinal	e	pastoral	da	Igreja	tornaram-se	nítidos.	Vejamos:
© História da Igreja Moderna e Contemporânea152
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
1)	 Liturgia:	 a	 constituição	 sobre	 a	 liturgia,	 Sacrossantum 
Concilium,	 confirmou	sua	verdadeira	natureza,	 "exercí-
cio	do	sacerdócio	de	Cristo",	"obra	de	Cristo	sacerdote	
e	de	seu	corpo,	que	é	a	Igreja"	e	desejou	a	"plena,	cons-
ciente	e	ativa	participação	nas	celebrações	litúrgicas	[...]	
de	todo	povo	cristão"	(MARTINA,	1996,	p.	309).	A	parti-
cipação comunitária,	caracterizada	pela	presença	ativa	
dos	 fiéis,	 foi	 preferível	 à	 individual	 e	 quase	 particular.	
Além	disso,	a	língua	latina	foi	mantida,	mas	as	conferên-
cias	episcopais	poderiam	permitir	o	uso	de	suas	línguas	
vernáculas.	O	rito	da	missa	deveria	ser	simplificado,	eli-
minando	as	repetições	e	restabelecendo	elementos	per-
didos;	 concedeu-se	 a	 comunhão	 sob	 as	 duas	 espécies	
também	aos	leigos,	em	determinadas	ocasiões;	deveria	
ser	 revisto	o	rito	da	administração	dos	sacramentos;	o	
ofício	divino	deveria	ser	renovado;	o	calendário	litúrgico	
deveria	 ser	 refeito;	e	o	canto	gregoriano	deveria	man-
ter	o	 lugar	principal,	embora	o	canto	popular	 religioso	
pudesse,	também,	ser	cultivado	e	promovido.	Em	suma,	
o	Concílio	traçava	um	plano	de	renovação	pastoral	que	
deveria	ser	aprofundado	e	destinado	a	permanecer	na	
vida	da	Igreja.	Foi	um	caminho	iniciado	e	percorrido	com	
coragem.
2)	 Igreja:	a	Lumen Gentium	apresentou	uma	eclesiologia	na	
qual	se	ressaltava	a	natureza	e	a	função	do	episcopado,	
apresentado	como	o	apoio	necessário,	o	 insubstituível	
corresponsável	com	o	papado	no	governo	da	Igreja	uni-
versal.	O	documento	mostrava	equilíbrio	com	a	Teologia	
do	 episcopado	 e	 a	 afirmação	 de	 sua	 colegialidade,	 ou	
seja,	de	sua	responsabilidade	com	o	papa	(LG	n.	22).	En-
tre	outras	 imagens,	a	Lumen Gentium	 tinha	predileção	
pelo	povo de Deus	e	ressaltava	a	participação	de	todos	
os	fiéis	na	vida	da	Igreja,	superando	o	clericalismo	dos	
séculos	precedentes	e	sublinhando	o	sacerdócio	univer-
sal	dos	 fiéis.	 Pôs-se,	 também,	em	primeiro	plano	a	di-
mensão	histórica	da	Igreja,	povo	peregrino	no	tempo	a	
caminho	da	eternidade.	"O	novo	Israel	da	era	presente	
[...]	caminha	à	procura	da	cidade	futura	e	permanente	
[...]	e	não	cessa	de	renovar	a	si	mesmo"	(LG	n.	9).
153© Século 20: O Século Breve
3)	 Mundo	contemporâneo:	a	Gaudium et Spes	completou,	
por	certos	aspectos,	a	visão	da	Lumen Gentium	quando	
disse	que	a	Igreja	"caminha	com	toda	a	humanidade	e	
experimenta	juntamente	com	o	mundo	a	mesma	sorte	
terrena"	(GS,	n.	40),	"[...]	não	está	vinculada	a	nenhuma	
forma	particular	de	civilização	humana	ou	sistema	políti-
co,	econômico	e	social".	Assim,	a	Igreja:	
Não	põe	a	sua	esperança	nos	privilégios	que	lhe	oferecem	a	autori-
dade	civil.	Pelo	contrário,	renunciará	ao	exercício	de	certos	direitos	
legitimamente	adquiridos,	quando	se	demonstrar	que	o	uso	deles	
poderá	fazer	duvidar	da	sinceridade	de	seu	testemunho	ou	que	no-
vas	exigências	exigirão	novas	disposições	(GS,	n.	42).
4)	 Religiões:	a	declaração	Nostra Aetate,	sobre	as	relações	
com	as	outras	religiões,	contava	com	quatro	solenes	afir-
mações:	
a)	 Reconheceram-se	os	especiais	vínculos	que	existiam	
entre	judeus	e	cristãos,	que	tinham	em	comum	um	
grande	patrimônio	espiritual.	 Esse	povo	 recebeu	a	
revelação	do	Antigo	Testamento;	os	 judeus	eram	a	
boa	oliveira	na	qual	foram	enxertados	os	gentios.	
b)	 O	chamado	divino	do	povo	hebreu,	os	seus	dons	e	
sua	vocação	permaneceram	irrevogáveis.	
c)	 Era	preciso	promover	o	mútuo	conhecimento	e	es-
tima,	 de	modo	especial	 com	os	 estudos	 bíblicos	 e	
teológicos	e	com	um	fraterno	diálogo.	
d)	 O	 que	 aconteceu	 na	 paixão	 de	 Cristo	 não	 poderia	
ser	atribuído	indistintamente	nem	a	todos	os	judeusque	viviam	na	época,	nem	aos	contemporâneos;	as-
sim,	não	deviam	ser	apresentados	nem	como	rejei-
tados,	nem	como	malditos.	
Por	isso,	a	Igreja	deplorou	os	ódios,	as	perseguições	e	to-
das	as	manifestações	do	antissemitismo	dirigidas	contra	
os	judeus	em	qualquer	época	e	por	quem	quer	que	fos-
se.	Tratava-se	de	uma	reviravolta	radical	em	uma	histó-
ria	secular.	A	reação	do	mundo	hebraico	foi	amplamente	
positiva.
5)	 Liberdade	 religiosa:	 a	 declaração	 Dignitatis humanae	
descrevia	a	liberdade	religiosa	como	do	direito	dos	seres	
humanos	de	se	verem:
© História da Igreja Moderna e Contemporânea154
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Imunes	de	toda	forma	de	coerção	por	parte	dos	indivíduos,	de	gru-
pos	sociais	e	de	qualquer	autoridade	humana,	de	modo	que	em	
matéria	religiosa	ninguém	seja	obrigado	a	agir	contra	a	sua	cons-
ciência,	nem	seja	impedido,	dentro	dos	devidos	limites,	a	agir	em	
conformidade	com	ela,	em	particular	ou	em	público,	de	forma	indi-
vidual	ou	em	grupo	(MARTINA,	1996,	p.	314-315).	
A	declaração	admitia,	ainda,	a	liberdade	psicológica	(a	capa-
cidade	que	Deus	deu	ao	homem	de	construir	seu	próprio	destino,	
até	mesmo,	 em	um	caso	extremo,	de	 se	 rebelar	 contra	o	plano	
divino).	 Assim,	 essa	 declaração	 reconhecia	 a	 liberdade	 de	 culto	
público,	de	propaganda,	de	associação,	mas	reafirmava	os	limites	
dessa	liberdade,	ilícita	quando	se	violassem	os	direitos	dos	outros;	
condenava	toda	forma	de	discriminação	jurídica	por	motivos	reli-
giosos.	Nesse	sentido,	o	Concílio	reivindicou	a	liberdade	religiosa	
para	todas	as	confissões,	não	somente	para	a	religião	católica.	
Levando	em	conta	a	história	da	 Igreja	dos	séculos	que	an-
tecederam	imediatamente	o	Concílio	Vaticano	II,	é	fácil	entender	
que	este	estava	encerrando	uma	época	e	dando	início	a	outra.
Significado histórico do Vaticano II
O	Vaticano	II	fechou,	definitivamente,	a	época	pós-tridentina	
e	abriu	um	novo	curso,	que	não	renega	o	passado,	mas	integra-o,	
aperfeiçoa-o	 e	 adapta-o	 à	 contínua	 evolução	da	humanidade.	A	
afirmação	da	 colegialidade	e	do	episcopado,	os	esclarecimentos	
do	decreto	sobre	os	bispos	Christus Dominus	a	respeito	das	con-
ferências	episcopais,	o	acento	sobre	o	laicato	nos	capítulos	II	e	IV	
da	Lumen Gentium	e,	de	modo	mais	amplo,	no	decreto	sobre	os	
leigos	Apostolicam Actuositatem	mostram-nos	uma	face	da	Igreja	
mais	complexa	e	articulada.	Revalorizam-se,	assim,	as	igrejas	locais	
e	reconhecem-se	a	corresponsabilidade	do	episcopado	em	relação	
à	Igreja	universal,	sublinhando-se	o	sacerdócio	universal	dos	fiéis,	
que	são	chamados	a	uma	participação	ativa	e	responsável,	como	
sujeitos	e	não	só	como	objetos	da	vida	eclesial.	
155© Século 20: O Século Breve
A	 Igreja	 mostrou-se,	 então,	 pobre	 não	 só	 materialmente,	
mas	também	sob	o	ponto	de	vista	pastoral	e	cultural:	não	punha	
mais	a	sua	confiança	no	apoio	e	na	defesa	estatal,	mas	na	graça,	na	
força	da	verdade,	na	pureza	do	seu	testemunho.	Participante	do	
sofrimento	de	todos,	a	serviço	da	humanidade,	sem	soluções	pré-
-fabricadas	 universalmente	 válidas,	 e	 privadas	 de	 competências	
específicas	para	sugerir	soluções	concretas,	ela	pedia	apenas	para	
servir,	como	declarou	Paulo	VI	na	visita	que	fez	à	ONU	no	início	de	
outubro	de	1965.
Desse	modo,	o	Vaticano	II	demonstrou	confiança	no	homem,	
dando	ao	conjunto	uma	imagem	mais	humana	e	mais	completa	do	
matrimônio	e	sublinhando	o	valor	do	mútuo	amor	entre	os	cônju-
ges.	Além	disso,	a	Gaudium et Spes	mostrou	uma	Igreja	solidária	
com	o	mundo,	com	seus	sofrimentos,	mas	também	com	suas	con-
quistas;	uma	 Igreja	que	 reconhecia	a	autonomia	do	 temporal	 e,	
ao	menos	implicitamente,	os	aspectos	positivos	da	secularização.	
Paulo	VI	no	seu	discurso	conclusivo	do	Concílio	convidou-nos	a	um	
diálogo	com	o	mundo,	chegando	a	reconhecer	a	parte	de	verdade	
que	poderia	haver	até	em	certas	formas	de	ateísmo.
A	constituição	sobre	a	liturgia	Sacrossantum Concilium	coro-
ava	velhas	aspirações	e	permitia	prever	uma	autêntica	revolução;	
propunha-se	aos	fiéis	uma	piedade	alimentada	diretamente	pela	
liturgia,	pela	Escritura,	pelos	padres	e	expressa	de	forma	mais	co-
munitária.
9. PERÍODO PÓS-CONCILIAR
O	período	pós-conciliar	 está	em	processo	de	 caminhada	e	
ainda	é	difícil	prever	os	seus	resultados	finais.	Naturalmente,	há	
muitos	 traços	 comuns	 na	 realidade	 de	 cada	 país	 com	 relação	 à	
aplicação	dos	decretos	conciliares,	mas	é	certo	que	a	história	da	
Igreja	contemporânea	ficaria	mutilada	sem	um	olhar	sobre	os	úl-
timos	anos,	e	um	juízo	sobre	o	Vaticano	II	 ficaria	absolutamente	
© História da Igreja Moderna e Contemporânea156
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
incompleto	se	não	procurássemos	perceber	as	consequências	dele	
na	vida	da	Igreja.	A	história	e	o	significado	de	um	concílio	não	se	
esgotam	na	reconstrução	do	que	nele	aconteceu,	da	convocação	
a	seu	encerramento,	mas	compreende,	também,	a	sua	aplicação.
O	Vaticano	 II	 foi	 uma	das	 realizações	mais	 importantes	da	
história	do	Cristianismo	moderno	e	abriu	possibilidade	para	mui-
tas	outras	reflexões	e	ações.	Mas,	houve	algumas	falsas	interpreta-
ções	ou	compreensões	do	Concílio	que	provocaram	divisões	inter-
nas	no	mundo	católico	e	que	ainda	hoje	perduram:		
Muitos	compartilharam	a	impressão	de	que	tinha	início	uma	nova	
era	para	a	Igreja:	o	Vaticano	II	encerrara	o	período	do	Concílio	de	
Trento.	 Falava-se,	a	partir	de	então,	de	 "pré-concliar"	e	de	 "pós-
-conciliar".	Alguns	consideravam	que	a	igreja,	que	vivera	quatro	sé-
culos	apoiada	no	Concílio	de	Trento,	viveria	numerosos	anos	com	
base	no	Vaticano	II.	Bastava	pôr	em	prática	os	textos!	Na	realidade,	
as	 coisas	não	ocorreram	exatamente	dessa	maneira.	Os	questio-
namentos	do	Concílio,	unidos	à	crise	da	civilização,	mostraram	a	
fragilidade	de	uma	 Igreja	não	qual	 as	divergências	 se	expressam	
mais	livremente	(COMBY,	1994,	p.	213).
O	Papa	Paulo	VI	teve	grandes	momentos	de	tristeza	e	frus-
tração	com	os	rumos	que	alguns	deram	a	alguns	aspectos	do	Con-
cílio	em	torno	de	vários	temas	como:	as	divisões	do	Catolicismo	
no	período	pós-conciliar;	erros	sobre	os	dogmas	e	sacramentos;	
otimismo	ingênuo	ou	fácil	de	alguns	em	torno	da	modernidade;	a	
questão	do	Catecismo	Holandês;	os	desvios	em	torno	da	reforma	
litúrgica;	as	várias	´teologias´,	especialmente	a	´Teologia	da	Liber-
tação´	na	América	Latina;	a	questão	em	torno	do	celibato	e	da	dis-
ciplina	eclesiástica;	o	tema	do	controle	de	natalidade	e	a	encíclica	
´Humanae	vitae´;	o	cisma	do	bispo	Marcel	Lefèvre,	de	cunho	con-
servador;	a	crise	na	Companhia	de	Jesus,	quando	alguns	jesuítas	
propõem	a	renúncia	ao	voto	de	obediência	ao	papa	e	se	direcio-
nam	para	a	promoção	da	 justiça	e	pela	opção	preferencial	pelos	
pobres.
Muitos	autores	escreveram	sobre	isso	e	Marquès	I	Surinach	assim	
escreve:	O	papa	Paulo	VI,	que	conseguira	,	com	uma	dedicação	e	
uma	firmeza	absolutas,	a	síntese	das	correntes	conciliares	na	uni-
dade	 fundamental	do	Concílio,	 se	 lamentará,	e	mais	de	uma	vez	
157© Século 20: O Século Breve
anos	depois,	de	que	a	fumaça do inferno entrara	na	Igreja	através	
das	rachaduras	do	Concílio;	é	uma	das	confissões	mais	amargas	na	
vida	do	Papa	Montini,	num	admirável	e	doloroso	exercício	de	ob-
jetividade	[...]	Efetivamente,	antes	do	Concílio	Vaticano	II	(1962),	a	
Igreja	aparecia	unida	e	compacta,	ainda	que	nela	estavam	 laten-
tes	graves	problemas	de	fundo;	não	obstante	isso,	o	próprio	Papa	
acreditava	que	 todos	 tinham	solução.	Mas,	durante	o	Concílio,	e	
sobretudo	depois	de	sua	conclusão	(1965),	os	conflitos	começaram	
a	flutuar	na	superfície	com	toda	a	sua	crueldade,	até	o	ponto	que	
em	 julho	de	1966	o	cardeal	Ottaviani,	então	Prefeito	da	Congre-
gação	da	Doutrina	da	Fé,	enviou	aos	bispos	de	 todo	o	mundo	e	
superiores	dos	Institutos	Religiosos	uma	carta	em	que	denunciava	
a	propagação	de	fortes	erros	doutrinais	na	 Igreja:	sobre	Cristo,	a	
Eucaristia,	a	desvalorização	sobre	o	pecado	original,	o	ecumenismo	
desviado	e	o	indiferentismo	religioso.	Os	bispos	franceses	qualifica-
ram	de	exagerada	alista	dos	erros	e	fecharam	os	olhos	ao	conjunto	
de	problemas	que,	como	comentava	o	Papa,	eram	reais	(MARQUÈS	
I	SURINACH,	1993,	p.	198-199).
Do	final	do	Concílio	até	hoje,	temos	assistido,	seguramente,	
a	dois	 fenômenos	opostos:	uma	 renovação religiosa	 com	múlti-
plos	aspectos,	e	uma	forte	crise religiosa,	com	uma	secularização	
crescente	e	uma	perda	cada	vez	maior	de	alguns	valores	 funda-
mentais.	É	claro	que	o	afastamento	da	Igreja	oficial	e	a	perda	dos	
valores	não	podem	ser	atribuídos	aos	efeitos	do	Vaticano	II,	visto	
que	o	fenômeno	tem	causas	diferentes	que	atingem	toda	a	socie-
dade,	sem	nenhuma	relação	com	o	Concílio.	
Quais	seriam,	então,	as	perspectivas	para	a	Igreja	neste	novo	
milênio?
As reformas institucionais
Paulo	 VI,	 em	 seu	 pontificado,	 esforçou-se	 para	 que	 fosse	
aplicado	integralmente	o	Concílio	na	realidade	concreta,	com	seus	
grandes	princípios.	Desde	1965	e	com	a	continuação	no	pontifica-
do	de	João	Paulo	II,	sucederam-se	frequentes	constituições	apos-
tólicas	e	documentos	de	outros	gêneros,	que,	no	conjunto,	reno-
varam	a	estrutura	jurídica	da	Igreja.	
© História da Igreja Moderna e Contemporânea158
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Santo Ofício
No	dia	7	de	dezembro,	dia	em	que	o	Concílio	se	encerrava,	
o	Santo	Ofício	mudava	de	nome	e	de	estrutura,	pois	já	se	critica-
va	muito	esse	anacrônico	departamento,	além	do	fato	de	não	ser	
mais	sua	finalidade	condenar	os	erros,	e,	sim,	promover	a	fé.	Pas-
sou,	então,	a	chamar-se	Congregação para a Doutrina da Fé.	
Cúria Romana 
A	Cúria	Romana	atualizou-se	em	vários	aspectos	para	o	me-
lhor	governo	da	Igreja.	Grande	importância	teve	o	desenvolvimen-
to	das	conferências episcopais,	ou	seja,	a	convocação	periódica	do	
sínodo	dos	bispos,	instituído	já	durante	o	Concílio.	A	promulgação,	
em	1983,	do	novo	código	de	Direito Canônico	é	outro	instrumento	
importante	para	a	organização	da	Igreja.		As	conferências	episco-
pais	têm-se	revelado	como	ótimo	instrumento	para	traçar	planos	
e	ação	pastoral	comuns	a	todo	o	episcopado	de	uma	região	ou	de	
uma	nação.	
Também	é	de	fundamental	importância	para	a	vida	da	Igreja,	
atualmente,	o	sínodo dos bispos,	que	é	uma	assembleia	que	se	
reúne,	sem	prazos	fixos,	a	critério	do	pontífice,	que	congrega	os	
bispos	eleitos	pelas	conferências	episcopais,	os	cardeais	que	pre-
sidem	os	dicastérios	romanos,	os	patriarcas,	outros	membros	das	
igrejas	orientais	 e	dez	 religiosos	 eleitos	 pela	União	Romana	dos	
superiores	gerais.	Ele	(o	sínodo)	tem	poderes	consultivos,	não	de-
liberativos,	mas	é	um	instrumento	útil	para	uma	efetiva	colabora-
ção	entre	papado	e	episcopado;	o	pontífice	pode	perceber	melhor	
as	exigências	da	base	e	a	orientação	das	diversas	correntes.	
Desde	1967,	 tem-se	 realizado	essa	 reunião	 a	 cada	 três	ou	
quatro	anos.	O	novo	"código"	procurou	atualizar	sua	linguagem	de	
acordo	com	o	Vaticano	II,	dando	maiores	poderes	ao	episcopado	e	
lembrando	a	missão	dos	leigos	na	Igreja.	
159© Século 20: O Século Breve
Reformas litúrgicas 
Contrariamente	às	reformas	institucionais,	que	não	chama-
ram	muito	a	atenção,	as	litúrgicas	atingiram	quase	todos,	crentes	e	
não	crentes,	praticantes	e	não	praticantes,	porque	trataram-se	de	
mudanças	que	 influenciaram,	também,	os	costumes	que	haviam	
permanecido	imóveis	desde	o	Concílio	de	Trento.	
No	dia	26	de	setembro	de	1965,	foi	decidida	a	ampla	intro-
dução	da	 língua	vulgar	na	 liturgia;	 sucessivamente,	 foram	sendo	
renovadas	as	diversas	partes	da	missa.	Em	maio	de	1970,	estava	
pronto	o	novo	missal;	tinham-se	passado	quatro	séculos	desde	a	
publicação	do	missal	de	Pio	V.	O	calendário	também	foi	reformado,	
dividindo	 com	mais	 clareza	 o	 ano	 litúrgico,	 deslocando	 algumas	
festas,	eliminando-se	alguns	santos	e	introduzindo-se	outros	mais	
representativos	 da	 universalidade	 da	 Igreja.	 A	 partir	 de	 então,	
sucederam-se	novos	ritos	para	a	administração	dos	sacramentos,	
sendo	frequentemente	atualizados	e	revistos.	
A	nós,	hoje,	pode	parecer	que	tais	modificações	não	foram	
grandes	ou	importantes,	no	entanto,	tratou-se	de	uma	autêntica	
revolução	litúrgica,	bem	maior	do	que	no	Concílio	Tridentino.	Pro-
curou-se	apresentar	o	mistério	cristão	em	uma	linguagem	corres-
pondente	à	nova	mentalidade	moderna.	Tentou-se	fazer	da	liturgia	
a	fonte	primeira,	insubstituível,	da	vida	e	da	instrução	do	povo	de	
Deus,	que,	por	muito	tempo,	em	virtude	de	não	compreender	os	
ritos	latinos,	se	refugiara	em	uma	piedade	devocional,	alimentada	
por	orações	diferentes	das	que	se	verificavam	na	liturgia,	endere-
çadas	a	vários	santos,	distantes	de	qualquer	modo	da	linguagem	e	
do	pensamento	bíblico.
Reforma catequética 
A	 renovação	 catequética	 aconteceu	 com	maior	 lentidão	 e	
com	maiores	 dificuldades	 em	 diversos	 países.	 Cada	 conferência	
episcopal	procurou	adaptar	a	realidade	do	Concílio	em	sua	região,	
trabalhando	o	conteúdo	a	ser	ministrado	na	catequese.	
© História da Igreja Moderna e Contemporânea160
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Hoje,	cada	diocese	procura	formular	o	seu	projeto	catequé-
tico	adaptando-o	à	realidade.	Respondendo	a	vários	apelos	feitos	
no	decorrer	das	duas	últimas	décadas,	em	1992,	concluiu-se	o	Ca-
tecismo da Igreja Católica,	uma	obra	de	grande	proporção,	desti-
nada	a	todo	mundo.	A	obra	foi	amplamente	difundida	e	o	futuro	
haverá	de	 fazer	um	 juízo	 sobre	 seu	efetivo	alcance.	Nos	dias	de	
hoje,	a	catequese	aparece	sempre	sendo	um	desafio	e	precisa	ser	
constantemente	revista	e	atualizada.
Teologia da Libertação 
As	novidades	da	Igreja	Católica	no	século	20,	antes	e	depois	
do	Concílio	Vaticano	 II,	não	 foram	poucas.	No	continente	 latino-
-americano,	muitas	lideranças	católicas	(bispos,	padres,	religiosos	
e	religiosas,	leigos	engajados)	apoiadas	nos	escritos	de	João	XXIII	e	
abertura	conciliar,	desenvolveram	uma	teologia	própria,	a	Teologia	
da	Libertação.	Ela	nasce,	a	partir	da	realidade	do	continente	´mais	
católico	do	mundo´,	marcado	pela	 triste	 realidade	das	ditaduras	
militares	e	do	empobrecimento	de	milhões	de	cidadãos	e	fiel	às	
exigências	do	Evangelho	de	Jesus	Cristo	no	apelo	à	transformação	
social	e	à	opção	pelos	pobres	e	excluídos.	
Na	composição	da	Teologia	da	Libertação	participam	vários	
bispos	(Helder	Câmara,	Aloísio	Lorscheider,	Ivo	Lorscheider,	Paulo	
Evaristo	Arns,	Luciano	Mendes	de	Almeida,	Pedro	Casaldáliga	etc);	
vários	teólogos	e	estudiosos	(Gustavo	Gutierrez,	Juan	Luiz	Segun-
do,	Jon	Sobrino,	Segundo	Galilea,	Leonardo	Boff,	Enrique	Dussell,	
Pablo	Richard,	Ronaldo	Muñoz,	Inácio	Ellacuría	etc.).	
A	 Teologia	 da	 Libertação	 é	 apoiada	 e	 ratificada	 na	 II	 Con-
ferência	 do	 Episcopado	 Latino-americano,	 CELAM,	 em	Medellín,	
Colômbia,	em	1967.	Dela,	participou	o	Papa	Paulo	VI	que	assim	
se	 pronunciava	 no	 seu	 discurso	 aos	 camponeses	 colombianos	 e	
latino-americanos:	
Continuaremos	a	denunciar	as	injustas	desigualdades	econômicas	
entre	ricos	e	pobres,	os	abusos	autoritários	e	administrativos	co-
metidos	contra	vós	e	contra	a	coletividade.	Continuaremos	a	en-
161© Século 20: O Século Breve
corajar	as	 resoluções	e	programas	que	 favoreçam	as	populações	
em	vias	de	desenvolvimento...	Nós	 vos	exortamos	a	não	 colocar	
vossa	confiança	na	violência	e	na	revolução:	isso	seria	contrário	ao	
espírito	cristão,	podendo,	da	mesma	maneira,	retardar,	em	vez	de	
favorecer,	a	elevação	social	à	qual	aspirais	de	pleno	direito	(COMBY,		
1994,	p.	217).
A	 Teologia	 encontra	 oposição	 dentro	 de	 setores	 eclesiais,	
muitos	dos	quais,	que	sempre	estiveram	unidos	aos	grupos	elitis-
tas	 e	 empresariais	 e	 também,	nos	 segmentos	 políticos	 e	 sociais	
que	não	aceitam	um	cristianismo	que	faz	opção	pelo	pobre.	Sur-
gem	os	milhares	de	mártires	no	continente:	Dom	Oscar	Romero,	
Dom	Enrique	Angelelli,	Pe.	João	Bosco	Penido	Burnier,	Pe.	Inácio	
Ellacuría,	Doroth	Stang,	Pe.	Ezequiel	Ramín	etc.	
Pontificado de João Paulo II
Karol	Josef	Wojtyla,	eleito	no	dia	16	de	outubro	de	1978,	as-
sumindo	o	nome	de	 João	Paulo	 II,	nasceu	em	Wadovice,	 cidade	
distante	50	km	de	Cracóvia,na	Polônia,	no	dia	18	de	maio	de	1920.	
Era	o	último	dos	três	filhos	de	Karol	Wojtyla	e	de	Emilia	Ka-
czorowska.	Foi	batizado	no	dia	20	de	junho	de	1920;	com	9	anos,	
recebeu	 a	 primeira	 Eucaristia	 e,	 com	18	 anos,	 o	 sacramento	 da	
Crisma.	Terminados	os	estudos	do	segundo	grau,	inscreveu-se	na	
Universidade	Jagelônica	de	Cracóvia.	Quando	as	forças	nazistas	fe-
charam	a	Universidade	em	1939,	ele	trabalhou	em	uma	mina	de	
extração	de	pedras,	e,	em	seguida,	em	uma	fábrica	química,	para	
poder	ganhar	a	vida	e	evitar	a	deportação	para	a	Alemanha.	
A	partir	de	1942,	 sentindo-se	 chamado	para	o	 sacerdócio,	
frequentou	os	cursos	de	formação	do	seminário	maior	clandestino	
de	Cracóvia,	dirigido	pelo	cardeal	Adam	Stefan	Sapieha.	Ao	mesmo	
tempo,	foi	um	dos	promotores	do	Teatro Rapsódico,	também	clan-
destino.	Depois	da	guerra,	continuou	seus	estudos	no	seminário	
maior	 de	 Cracóvia,	 novamente	 aberto,	 e,	 em	 seguida,	 na	 Facul-
dade	de	Teologia	da	Universidade	 Jagelônica	 até	 sua	ordenação	
presbiteral,	que	 teve	 lugar	no	dia	1º	de	novembro	de	1946,	pe-
© História da Igreja Moderna e Contemporânea162
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
las	mãos	do	arcebispo	Sapieha.	Logo	depois,	foi	enviado	a	Roma,	
onde,	sob	a	direção	do	dominicano	francês	Pe.	Garrigou-Lagrange,	
doutorou-se	em	Teologia,	com	a	tese	sobre	o	tema	da	fé	na	obra	
de	São	João	da	Cruz.	Nesse	período,	durante	as	férias,	exerceu	o	
ministério	pastoral	entre	os	imigrantes	poloneses	na	França,	Bél-
gica	e	Holanda.	
Em	1948,	retornou	à	Polônia	e	foi	coadjutor	em	algumas	pa-
róquias	 vizinhas	 à	 Cracóvia;	 foi	 capelão	universitário	 até	 1951	e	
defendeu	outra	tese	na	Universidade	de	Lublin	sobre	a	ética	cristã	
com	base	no	sistema	ético	de	Max	Scheler.	
Mais	tarde,	tornou-se	professor	de	Teologia	Moral	e	Ética	no	
seminário	maior	de	Cracóvia	e	na	Faculdade	de	Teologia	de	Lublin.	
No	dia	4	de	julho	de	1964,	o	papa	Pio	XII	nomeou-o	bispo	titular	
de	Ombi e	auxiliar	de	Cracóvia.	Recebeu	a	ordenação	episcopal	no	
dia	28	de	setembro	de	1958	na	catedral	de	Wawel	(Cracóvia),	das	
mãos	do	arcebispo	Eugenio	Baziak.	No	dia	13	de	janeiro	de	1964,	
foi	nomeado	arcebispo	de	Cracóvia	por	Paulo	VI,	que	o	criou	car-
deal	no	Consistório	de	26	de	janeiro	de	1967.	
Além	disso,	ele	participou	do	Concílio	Vaticano	II	e	contribuiu	
muito	na	 elaboração	da	 constituição	Gaudium et Spes;	 também	
participou	das	cinco	assembleias	do	sínodo	dos	bispos	anteriores	
ao	seu	pontificado.	
Os	cardeais	reunidos	em	conclave	elegeram-no	papa	no	dia	
16	 de	 outubro	 de	 1978,	 data	 em	que	 assumiu	 o	 nome	de	 João	
Paulo	II	e	tornou-se	o	sucessor	de	Pedro	de	número	263.	Seu	pon-
tificado	foi	um	dos	mais	longos	da	história	e	durou	quase	27	anos.	
Morreu	no	dia	2	de	abril	de	2005.	João	Paulo	II	exerceu	seu	minis-
tério	com	incansável	espírito	missionário,	dedicando	todas	as	suas	
energias	com	solicitude	pastoral	para	toda	a	Igreja.	
	É	considerado	por	muitos	o	papa	mais	importante	do	século	
20	e	talvez,	de	toda	a	história	do	Cristianismo.	Num	século	em	que	
houve	duas	grandes	guerras	e	milhares	de	conflitos	e	ditadores	(Hi-
tler,	Mussolini,	Stalin,	Mao	Tsé	Tung)	e	também,	grandes	santos	e	
163© Século 20: O Século Breve
santas	com	Madre	Teresa	de	Calcutá,	Edith	Stein,	Maximiliano	Kol-
be,	Pio	de	Pietralcina,	Oscar	Romero,	aparece	João	Paulo	II	que	é,	
[...]	sem	dúvida,	a	maior	figura	do	século,	que	sem	derramar	uma	
gota	de	 sangue	–a	não	 ser	o	 seu	próprio-	proclamou	no	mundo	
uma	única	´revolução´	digna	do	homem:	a	´revolução´	fundamen-
tada	no	amor;	o	respeito	aos	direitos	de	Deus,	o	reconhecimento	
da	dignidade	humana,	a	defesa	da	verdadeira	 liberdade,	a	 ilusão	
pela	vida	(MARQUÈS	I	SURIÑACH,	1993,	p.	243-244).
Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Vejamos, em números, a dedicação de João Paulo II:
- 104 viagens apostólicas.
- 146 visitas pastorais na Itália.
- 317 visitas a paróquias como bispo de Roma (sob um total de 333).
- 1166 participações em Audiências Gerais das Quartas-feiras (participaram mais 
de 17 milhões e 600 mil peregrinos).
- 38 visitas oficiais em audiência.
- 738 audiências com Chefes de Estado.
- 246 audiências e encontros com Primeiros Ministros.
- 19 edições da Jornada Mundial da Juventude (iniciadas em 1985).
- 147 cerimônias de beatificações (foram proclamados 1338 beatos).
- 51 canonizações (para um total de 482 santos).
- Proclamou doutora da Igreja Santa Tereza do Menino Jesus.
- Criou 231 cardeais em 9 consistórios (mais um in pectore).
- Convocou 6 reuniões plenárias do Colégio Cardinalício.
- Presidiu 15 assembleias do sínodo dos bispos.
- 14 encíclicas; 15 exortações apostólicas; 11 constituições apostólicas e 45 car-
tas apostólicas estão entre seus principais documentos.
- Promulgou o Catecismo da Igreja Católica.
- Reformou o Código de Direito Canônico Ocidental e Oriental.
- Escreveu 5 livros.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
João	Paulo	II	promoveu,	com	sucesso,	o	diálogo	com	os	ju-
deus	e	com	representantes	de	outras	religiões,	convocando-os	em	
diversos	encontros	de	oração	pela	paz,	especialmente	em	Assis.
Sob	sua	orientação,	a	Igreja	aproximou-se	do	terceiro	milê-
nio	e	celebrou	o	Grande	Jubileu	do	ano	de	2000.	Com	o	Ano	da	
Redenção,	o	Ano	Mariano	e	o	Ano	da	Eucaristia,	João	Paulo	II	pro-
moveu	a	renovação	espiritual	da	Igreja.	
© História da Igreja Moderna e Contemporânea164
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
O	fim	do	século	20	representa	para	muitos	estudiosos	o	for-
talecimento	da	crise	da	sociedade	moderna	em	todos	os	seus	seg-
mentos,	 atingindo,	 especialmente,	 a	 dimensão	 religiosa.	 Repor-
tando-se	ao	fim	do	século	18,	assim	escreve	Lukacs:
O	declínio	da	religião	e	a	decrescente	influência	das	Igrejas	se	torna-
ram	casa	vez	mais	evidentes	ao	longo	do	século	18,	no	fim	do	qual	
tinha-se	a	impressão	de	que	se	tratava	de	um	declínio	irreversível	e	
talvez	até	completo.	(Em	dois	mil	anos,	o	poder	e	o	prestígio	do	pa-
pado	nunca	estiveram	tão	baixos	quanto	em	1799).	Deu-se	então	
um	inesperado	reavivamento	católico	e	ultramontano,	mas	o	declí-
nio,	no	geral,	prosseguiu	durante	o	século	19	e	persiste	no		20.	[...]	A	
maioria	das	pessoas	(inclusive	intelectuais,	teólogos	e	historiadores	
eclesiásticos)	 creem	que	o	declínio	da	crença	 religiosa	 se	deve	à	
ascensão	da	crença	na	ciência.	O	fato	pode	ter	sido	verdadeiro	no	
século	19,	mas	nesse	caso	não	se	tem	evidências	claras.	A	ascensão	
e	o	declínio	da	crença	religiosa	não	corresponde	necessariamente	
ao	declínio	e	ascensão	da	crença	na	ciência.	Ao	rejeitar	Darwin	com	
veemência,	Samuel	Butler	não	aceitou	ou	recuperou	sua	religião.	A	
descoberta	de	Henry	Adams		da	fé	na	Virgem	não	o	levou	à	rejeição	
de	sua	própria	visão	mecanicista-determinista	da	História.		Agora,	
no	final	do	século	20,	muita	gente	respeita	tanto	a	religião	quanto	a	
ciência;	mas	é	um	respeito	vago.	[...]	A	grande	ameaça	à	fé	religiosa	
em	nosso	tempo	(mais	precisamente,	à	qualidade	e	ao	significado	
da	fé)	é	o	nacionalismo	populista.	A	democratização	das	Igrejas	le-
vou	a	isso;	mas	trata-se	apenas	de	uma	consequência	secundária,	
inseparável	da	democratização	de	sociedades	inteiras.	O	elemento	
primário	é	mais	simples	e	mais	importante.	O	fato	é	que	a	religião	
da	nação,	os	símbolos	sentimentais	da	nação,	são	mais	poderosos	
que	a	fé	religiosa,	em	especial	quando	se	misturam.	O	nacionalis-
mo,	repito,	é	o	único	religio	(crença	unificadora)	popular	em	nosso	
tempo.	Não	vai	durar	para	sempre,	mas	está	aí	(	1993,	p.	240-241).
Pós-modernidade e a Igreja no 3º milênio 
A	Igreja,	atualmente,	não	está	isenta	nem	isolada	das	reper-
cussões	de	fenômenos	mundiais	(mundialização	ou	globalização).	
O	tempo	e	a	cultura	de	hoje	são	marcados	por	grandes	mudanças	
que	acontecem	de	 forma	acelerada.	Essas	mudanças	podem	ser	
evocadas	por	 algumas	expressões	que	 se	 sobressaíram	nos	últi-
mos	tempos	nas	discussões	dos	sociólogos	e	antropólogos:	"plu-
ralismo",	"pluralismo	religioso",	"urbanização",	"diferenciação	da	
sociedade",	"aumento	das	desigualdades

Continue navegando

Outros materiais