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Historia da Igreja na America Latina e no Brasil 6

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EA
D
O Concílio Vaticano II e 
a Reformulação Eclesial: 
de Medellín a 
Aparecida 6
1. OBJETIVOS
•	 Analisar	o	perfil	da	Igreja	do	Brasil	depois	de	1960.
•	 Compreender	a	relação	existente	entre	Igreja	e	governo	
militar.
•	 Refletir	sobre	as	características	do	período	da	Igreja	po-
pular.
•	 Interpretar	o	pensamento	teológico	e	eclesiológico.
•	 Compreender	os	polos	de	tensão	entre	a	Igreja	do	Brasil	
e	a	Santa	Sé.
•	 Interpretar	alguns	desafios	da	Igreja	no	mundo	contem-
porâneo.
2. CONTEÚDOS
•	 Painel	geral	da	Igreja	na	América	Latina.
•	 A	Igreja	e	o	Concílio	Vaticano	II	(1962-1965).
© História da Igreja na América Latina e no Brasil184
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
•	 A	Igreja	e	o	Regime	Militar.
•	 As	Comunidades	Eclesiais	de	Base	(CEBs).
•	 A	Teologia	da	Libertação.
•	 As	tensões	entre	a	Santa	Sé	e	a	Igreja	do	Brasil.
•	 Os	religiosos	na	Igreja	do	Brasil.
•	 Tensões	e	desafios	da	Igreja	em	um	mundo	de	profundas	
transformações.
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:
1)	 Para	uma	maior	 compreensão	da	década	de	1960,	 su-
gerimos	que	você	leia	a	obra:	BRESSER-PEREIRA,	L.	C.	As 
revoluções utópicas dos anos 60:	a	revolução	estudantil	
e	a	revolução	política	na	Igreja.	3.	ed.	São	Paulo:	Editora	
34,	2006.
2)	 Um	texto	bom	e	sintético	sobre	a	Igreja	e	a	ditadura	você	
poderá	encontrar	 em:	 LUSTOSA,	O.	 F.	A Igreja católica 
no Brasil-República:	 cem	anos	 de	 compromisso	 (1889-
1989).	São	Paulo:	Paulinas,	1991.
3)	 É	importante	e	útil	que	você	reveja	os	conceitos	de	"di-
reita"	e	"esquerda"	e	de	"conservador"	e	"progressista",	
pois	 eles	 aparecem	 com	 frequência	 na	 historiografia	
latino-americana	 e	 são	 aplicados,	 também,	 aos	 bispos	
latino-	americanos	e,	especialmente,	aos	brasileiros.
4)	 Estes	são	alguns	exemplos	de	governos	militares	no	cone	
sul	 e	 na	 região	 andina:	 Chile	 (1973-1990);	 Argentina	
(1966-1983);	 Uruguai	 (1973-1985);	 Brasil	 (1964-1985);	
Paraguai	(1954-1989)	e	Peru	(1965-1980).
5)	 O	Concílio	Vaticano	II	foi	anunciado	no	dia	25	de	janeiro	
de	1959	pelo	papa	João	XXIII	e	foi	convocado	no	dia	25	
de	dezembro	de	1961	pelo	mesmo	papa.	Ele	iniciou-se	
no	dia	11	de	outubro	de	1962	e	 terminou	no	dia	8	de	
dezembro	de	1965	sob	o	pontificado	do	papa	Paulo	VI.	
Foi	realizado	em	quatro	sessões:
185© O Concílio Vaticano II e a Reformulação Eclesial: de Medellín a Aparecida
a)	 primeira	sessão:	de	11	de	outubro	a	8	de	dezembro	
de	1962;
b)	 segunda	sessão:	de	29	de	setembro	a	4	de	dezembro	
de	1963	(em	3	de	junho	morre	João	XXIII;	em	29	de	
junho	assume	Paulo	VI);
c)	 terceira	sessão:	de	14	de	setembro	a	21	de	novem-
bro	de	1964;
d)	 quarta	sessão:	de	14	de	setembro	a	8	de	dezembro	
de	1965	(foram	produzidos	16	documentos).
6)	 Sobre	a	participação	do	episcopado	brasileiro	no	Concí-
lio	Vaticano	II,	sugerimos	que	você	consulte	esta	excep-
cional	obra:	BEOZZO,	J.	O.	A Igreja do Brasil no Concílio 
Vaticano II:	1959-1965.	São	Paulo:	Paulinas,	2005.
7)	 Para	uma	visão	mais	ampla	da	 Situação de nossa Igreja 
nesta hora histórica de desafios.	Você	deverá	consultar	o	
texto:	DOCUMENTO	DE	APARECIDA,	números	98–100.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Nesta	última	unidade	de	História da Igreja na América Latina 
e no Brasil,	será	abrangido	o	período	que	vai	do	Concílio	Vaticano	
II	à	Conferência	de	Aparecida,	ou	seja,	de	1960	até	nossos	dias.	
É	um	período	de	50	anos,	e,	em	termos	cronológicos,	não	é	tão	
longo.	Entretanto,	sem	dúvida,	é	o	mais	importante	e	o	mais	rico	
da	história	de	nossa	Igreja.	É	o	período	em	que	a	Igreja	se	encarna	
na	realidade,	se	faz	povo	e	assume	sua	missão	evangelizadora.	A	
Igreja	deixa	de	copiar	e	de	transplantar	modelos	e	projetos	euro-
peus;	agora,	cria	e	implanta	seus	projetos	de	pastoral.	É	uma	Igreja 
madura	e consciente de sua missão no mundo.	É	uma	Igreja	de	
vanguarda,	não	mais	de	retaguarda.
Quando	falamos	que	este	é	o	mais	importante	e	o	mais	rico	
período	de	nossa	história,	não	estamos	fazendo	referência	a	ne-
nhuma	vitória	ou	a	nenhum	triunfalismo	da	Igreja	perante	o	Estado	
nem	a	qualquer	outra	situação.	Estamos	falando	do	novo modelo	
de	Igreja,	que	brota	do	Concílio	e	das	Conferências	episcopais,	da	
© História da Igreja na América Latina e no Brasil186
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
capacidade	de	conviver	com	as	tensões	internas	–	tendo	em	vista	
a	unidade	e	a	colegialidade	–	e	externas	–	tendo	em	vista	o	enfren-
tamento	constante	de	novos	desafios.	Precisamos	levar	em	conta	
que,	nesse	período,	houve	fases	de	abonança	e	fases	de	seca.
O	conteúdo	desse	período	é	vastíssimo,	e,	por	conta	do	limi-
te	de	nosso	programa,	não	será	possível	abordá-lo	amplamente.	
No	entanto,	você	terá	uma	visão	geral	e,	em	hora	oportuna,	em	
seus	estudos	posteriores,	poderá	aprofundá-lo	em	outros	temas.
Ao	estudar	esta	unidade,	você	deve	ter	como	pano	de	fundo	
alguns	conceitos,	tais	como:	revolução	estudantil,	feminista	e	polí-
tica;	globalização;	cultura	global;	comunicação	global;	cultura	digi-
tal;	mundo	plural;	inculturação;	pluralismo	religioso;	entre	outros.
Lembre-se	de	que,	para	aproveitar	melhor	este	estudo,	é	ne-
cessário	que	você	acompanhe	a	bibliografia,	leia	os	textos	e	faça	
os	exercícios	indicados	no	Caderno de atividades e interatividades.
Vamos	lá?
5. PAINEL GERAL DA IGREJA NA AMÉRICA LATINA
Os campos sociopolítico e econômico
Entre	1960	e	1980,	a	América	Latina	foi	marcada	pela	crise	
da	democracia	e	pela	implantação	dos	Estados	autoritários.	Essa	
crise	foi	consequência	do	colapso	do	populismo,	que	não	conse-
guiu	controlar	os	movimentos	populares	cada	vez	mais	influencia-
dos	pelas	políticas	de	esquerda.
Desde	o	final	da	década	de	1950,	especialmente	após	a	Revo-
lução	Cubana,	em	1959,	os	países	latino-americanos	vão	conviver	
com	frequentes	intervenções	militares.	A	implantação	do	regime	
comunista	em	Cuba	representava	um	possível	avanço	do	comunis-
mo	e	da	antiga	União	Soviética	no	continente	sul-americano.	Era	
preciso	detê-la	a	qualquer	custo.	O	maior	interessado	na	detenção	
187© O Concílio Vaticano II e a Reformulação Eclesial: de Medellín a Aparecida
do	comunismo	era	os	Estados	Unidos,	e,	para	isto,	elaboraram	e	
organizaram	a	chamada	"Doutrina	de	Segurança	Nacional".
Segundo	Moraes	(1993,	p.	334-335),	a	Doutrina	de	Seguran-
ça	Nacional:
Foi	elaborada	pelos	EUA	com	a	função	de	consolidar	suas	posições	
no	continente	e,	principalmente,	evitar	os	avanços	da	URSS.	Ela	foi	
a	base	da	 formação	das	elites	militares	 latino-americanas	após	a	
Segunda	Guerra	Mundial.	Os	princípios	básicos	da	doutrina	são	o	
desenvolvimento	e	a	 segurança	 [...].	Essas	 ideias	desenvolvimen-
tistas	e	da	segurança	nacional	 influenciaram	dezenas	de	golpes	e	
governos	militares	durante	as	décadas	de	50,	60	e	70,	 formando	
um	verdadeiro	"cinturão"	militar	e	autoritário	influenciado	e	sus-
tentado	pelos	EUA.
Entre	1960	e	1980,	a	América	Latina	foi	governada	por	ditadu-
ras	militares.	De	um	modo	geral,	as	características	principais	foram:
a)	 ênfase	no	desenvolvimento	e	na	estatização	da	econo-
mia;
b)	 extinção	dos	partidos;
c)	 repressão	aos	movimentos	sociais;
d)	 perseguição	e	tortura;
e)	 censura	à	imprensa;
f)	 mortes	e	exílios.
Como	 você	 pode	 notar,	 esse	 período	 foi,	 também,	marca-
do	por	guerrilhas	e	por	revoluções,	realizadas	como	expressão	de	
resistência	e	de	combate	ao	regime	militar.	A	década	de	1980	foi	
marcada	pelo	processo	de	redemocratização.	O	modelo	militar	e	
autoritário	entra	em	declínio	e,	aos	poucos,	cede	lugar	aos	regimes	
democráticos	 emergentes.	 As	 causas	 do	 declínio	 são	 inúmeras.	
Dentre	as	quais,	destacamos:
a)	 a	própria	incapacidade	do	modelo	ditatorial	em	gerir	os	
problemas	por	ele	criados;
b)	 a	 perda	 do	 controle	 da	 máquina	 burocrática	 abrindo	
uma	enorme	avenida	para	a	corrupção;
c)	 a	perda	da	credibilidade	junto	ao	povo	e	à	comunidade	
internacional;
© História da Igreja na América Latina e no Brasil188
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
d)	 o	ressurgimentodos	movimentos	sindicais	e	da	organi-
zação	das	classes	trabalhadoras,	bem	como	o	reapareci-
mento	do	debate	político	e	o	movimento	pelas	"diretas	
já"	(no	Brasil);
e)	 a	denúncia	dos	crimes,	das	torturas	e	das	prisões	come-
tidas	pelo	regime	e	feitas	por	organismos	e	instituições,	
como,	por	exemplo,	a	OAB	e	a	CNBB,	em	nível	nacional,	
e	a	Anistia	 Internacional,	entre	outros	organismos	liga-
dos	aos	direitos	humanos,	em	nível	internacional.
O campo eclesial
No	campo	eclesial,	a	década	de	1960	foi	marcada	pelo	pon-
tificado	 dos	 papas	 João	 XXIII	 e	 Paulo	VI,	 assim	 como	 a	América	
Latina	e	o	Brasil	foram	marcados	pela	crescente	atuação	da	CELAM	
e	da	CNBB.	É	a	década	do	Concílio	Vaticano	II,	da	abertura	da	Igreja	
para	mundo,	da	renovação	eclesial	e	do	modelo	de	Igreja	povo de 
Deus,	que,	na	América	Latina,	se	encarnou	na	Igreja dos pobres	ou	
Igreja popular.
A	 renovação	eclesial	 foi	 impulsionada	pelo	Concílio	Vatica-
no	II,	pelas	Conferências	de	Medellín	(1968),	de	Puebla	(1979),	de	
Santo	Domingo	(1992)	e	de	Aparecida	(2007),	pela	Teologia	da	Li-
bertação	e	pelas	Comunidades	Eclesiais	de	Base	(CEBs),	como	tam-
bém	por	outros	movimentos	ligados	aos	jovens	e	à	família.
A	 Igreja	 latino-americana	e	brasileira	 também	 foi	marcada	
pelo	pontificado	do	papa	João	Paulo	II,	por	meio	de	suas	visitas	a	
todos	os	países	da	América	do	Sul	e	por	seus	constantes	atritos,	
ocorridos	em	torno	do	pensamento	teológico,	do	modelo	de	Igreja	
e	da	formação	seminarística.
No	período	que	se	inicia	um	pouco	antes	da	Conferência	de	
Medellín,	a	Igreja	viveu,	também,	tensões	intraeclesiais,	orquestra-
das,	muitas	vezes,	por	membros	da	CELAM,	da	CNBB	ou	de	outros	
organismos	eclesiais	latino-americanos	e	europeus.	Muitas	vezes,	a	
unidade	da	Igreja	ficou	comprometida	e	foi	vivida	na	contradição.
189© O Concílio Vaticano II e a Reformulação Eclesial: de Medellín a Aparecida
Dussel	caracteriza	muito	bem	as	tensões	da	Igreja	desse	pe-
ríodo:
Por	um	lado,	uma	Igreja	que	tem	seus	mártires	em	bispos	como	
Enrique	Angelli	na	Argentina	e	Oscar	Arnulfo	Romero	em	El	Salva-
dor,	porque	não	podemos	relacionar	as	dezenas	de	sacerdotes	e	
religiosos	e	os	milhares	de	membros	do	povo	cristão	martirizado	ao	
longo	destes	anos.	Uma	Igreja	que	tem	sua	teologia	como	reflexo	
de	sua	própria	práxis;	que	tem	sua	memória	na	História	da	 Igre-
ja	que	vai	relatando	os	seus	passos.	Por	outro	lado,	há	toda	uma	
corrente	contra	a	opção	pelos	pobres	e	a	Teologia	da	Libertação,	
que	desconfia	das	comunidades	eclesiais	de	base	e	tenta	desmem-
brar	(trocar	programas,	professores,	 lugares	etc.)	os	 institutos	do	
CELAM	 cuja	 "força	 propulsora	 desta	 campanha	 é	 o	 padre	 Roger	
Vekemans";	"por	parte	do	episcopado	latino-americano	esta	cam-
panha	tem	o	apoio	dos	bispos	colombianos	A.	López	Trujillo	e	Dario	
Castrillón"	[...].	A	partir	desta	alta	instância	foram	modificados	os	
institutos	do	CELAM,	foram	lançadas	campanhas	em	nível	 latino-
-americano	contra	os	teólogos	da	libertação,	contra	a	revolução	ni-
caraguense,	contra	as	Comunidades	Eclesiais	de	Base	(1989,	p.	73).
As	 tensões	 internas	 vividas	 pela	 Igreja	 fizeram	 surgir	 duas	
tendências	 entre	 o	 episcopado:	 os	 conservadores	 e	 os	 progres-
sistas.	Nas	décadas	de	1970	e	1980,	essas	denominações	tinham	
grande	 peso	 no	 CELAM	e	 na	 CNBB	 e	 causavam	grande	 impacto	
político	na	representação	da	Igreja	perante	o	Estado	e	a	sociedade.	
Hoje,	elas	têm	pouco	ou	nenhum	efeito.
Oferecida	uma	visão	geral	da	Igreja	na	América	Latina	depois	
de	1960,	passemos,	agora,	a	concentrar	nosso	foco	de	estudo	na	
Igreja	do	Brasil.
6. A IGREJA E O CONCÍLIO VATICANO II (1962-1965)
Vamos	estudar,	de	maneira	resumida,	qual	foi	e	como	foi	a	
participação	da	Igreja	do	Brasil	no	Concílio,	bem	como	qual	foi	o	
resultado	que	o	Concílio	produziu	em	termos	pastorais,	ou	seja,	
como	foi	a	recepção	do	Concílio	pela	Igreja	do	Brasil.	Não	vamos	
abordar	 a	história	preparatória	do	Concílio	 nem	os	documentos	
que	nele	foram	produzidos.	Certamente,	você	já	os	conhece	por	
meio	de	outras	disciplinas,	especialmente	pela	História	Contem-
© História da Igreja na América Latina e no Brasil190
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
porânea.	Nosso	 foco	 será	o	 impacto	que	o	Concílio	produziu	na	
Igreja	do	Brasil.
A participação no Concílio
O	Concílio	Vaticano	II	foi	um	acontecimento	de	singular	im-
portância	para	a	Igreja	do	Brasil.	A	participação	dos	bispos	come-
ça	 já	na	fase	preparatória,	em	1959,	com	a	resposta	ao	material	
de	consulta	e	o	envio	delas,	os	vota.	Dos	167	bispos	brasileiros,	
132	deles	responderam	à	consulta.	Uma	questão	importante	é	o	
aumento	no	número	de	bispos	ao	 longo	do	Concílio.	Sobre	esse	
crescimento	 e	 sobre	 a	 participação	 do	 episcopado	 brasileiro	 no	
Concílio,	Oscar	Beozzo	(2003,	p.	78)	informa:
Na	primeira	sessão	do	Concílio,	participaram	173	bispos	dos	204	
(84,8%);	na	segunda,	183	de	220	(84,2%);	na	terceira,	167	de	221	
(75,5%);	na	quarta,	192	de	227	(84,6%).	A	estes	227,	deveriam	ser	
agregados	 outros	 dois,	 nomeados	 nos	 últimos	 dias	 do	 Concílio:	
Luís	Gonzaga	Fernandes	(6/11/1965),	para	auxiliar	de	Vitória	(ES),	
e	Ivo	Lorscheiter	(12/11/1965),	para	auxiliar	de	Porto	Alegre	(RS).	
Se	 incluirmos	estes	dois,	com	sua	participação	nos	atos	 finais	do	
Concílio,	o	número	sobe	para	194	participantes,	sobre	229,	e	a	por-
centagem	passa	para	84,7%.
Para	fazer	um	aggiornamento	(uma	apresentação	dos	princí-
pios	católicos	ao	mundo	moderno	e	atual),	dar	suporte	e	oferecer	
subsídio	teológico	ou	sociocultural	ao	episcopado,	eram	promovi-
dos	reuniões,	conferências,	círculos	de	estudo	e	encontros	na	Do-
mus Mariae,	sede	da	Ação	Católica	Feminina	Italiana,	e	no	Colégio	
Pio	Brasileiro,	local	de	hospedagem	dos	bispos	durante	o	Concílio.	
Além	das	conferências	e	das	reuniões,	foram	produzidos	vários	ór-
gãos	 comunicativos	entre	os	bispos,	 tais	 como	cartas,	 revistas	e	
circulares,	tendo	como	objetivo	informar	sobre	o	andamento	das	
discussões	do	Concílio.	Todo	esse	material	se	constitui	em	fontes	
valiosas	sobre	a	participação	do	episcopado	brasileiro	no	Concílio	
(BEOZZO,	2003,	p.	79-136).
Os	 bispos	 brasileiros	 também	 participaram,	 ativamente,	
como	membros	de	Comissões	e	 como	 interventores	nas	assem-
bleias	conciliares.
191© O Concílio Vaticano II e a Reformulação Eclesial: de Medellín a Aparecida
O resultado do Concílio: os novos rumos pastorais
Para	a	Igreja	do	Brasil,	o	Concílio	teve	um	valor	 imenso.	Em	
abril	 de	1962,	ao	 clima	e	às	 vésperas	do	Concílio,	 foi	 aprovado	o	
Plano	de	Emergência	(PE).	Era	o	primeiro	plano	piloto	de	pastoral.	
Em	dezembro	de	1965,	durante	a	última	sessão,	foi	aprovado	o	Pla-
no	de	Pastoral	de	Conjunto	(PPC).	Talvez	seja	este	um	dos	maiores	
frutos	para	a	Igreja	do	Brasil.	De	volta	ao	Brasil,	os	bispos	traziam	
na	bagagem	um	plano	de	pastoral	discutido	e	elaborado	no	calor	
do	Concílio,	inspirado	nos	documentos	conciliares.	O	PPC	deu	novo	
impulso	à	colegialidade	episcopal	e	enfatizou	a	evangelização	como	
uma	missão	da	Igreja	(MATOS,	2003,	p.	191).	Ainda	durante	o	Con-
cílio,	na	Quaresma	de	1964,	foi	realizada	a	primeira	Campanha	da	
Fraternidade,	com	o	objetivo	de	iniciar	"um	grande	processo	de	re-
novação	da	Igreja"	(CNBB	apud BEOZZO,	1994,	p.	85).
Você	deve	estar	 se	perguntando:	quais	 caminhos	 seguiu	o	
Concílio	na	Igreja	do	Brasil?	Como	foi	sua	recepção,	especialmente	
pelas	classes	populares?	Quais	foram	os	caminhos	e	os	descami-
nhos	construídos	pela	recepção	do	Concílio?
A	recepção	e	a	aplicação	do	Concílio	não	 foram	uniformes	
nem	tão	pacíficas.	Passada	a	euforia	inicial	e	as	novidades,	ocor-
reram	as	resistências,	as	rupturas	e	as	diferentes	maneiras	de	se	
entender	a	Igreja	e	a	teologia	pós-conciliar.
A	esse	respeito,	Beozzo	faz	a	seguinte	avaliação:
A	década	de	70	foi	marcada	por	um	olhar	mais	crítico,	deixando,	
é	certo,	o	Concílio	como	um	pano	de	fundo	presente,	mas	com	a	
atenção	centrada	na	realidade	e	nos	seus	desafios,	sobretudo	nos	
que	partiam	dos	mais	pobres.	No	plano	teóricoa	ênfase	deslocou-
-se	para	a	Bíblia	e	para	o	esforço	de	tecer	as	ligações	entre	Bíblia	e	
realidade,	entre	palavra	de	Deus	presente	na	vida	do	povo	de	hoje	
e	palavra	de	Deus	presente	na	vida	do	povo	de	 Israel.	Nos	anos	
80,	sobretudo	no	campo	mais	conservador,	a	ênfase	deslocou-se	
para	a	tentativa	de	esmaecer	a	novidade	do	Concílio,	de	ressaltar	a	
continuidade	existente	entre	a	realidade	eclesial	pré	e	pós-conciliar	
e	de	rejeitar	qualquer	desenvolvimento	posterior,	vendo	o	Concílio	
como	ponto	de	chegada	a	ser	consolidado	mas	não	ultrapassado	
(1994,	p.	85-86).
© História da Igreja na América Latina e no Brasil192
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
De	um	modo	geral,	a	recepção	do	Concílio	trouxe	novos	de-
safios,	novas	situações	eclesiais,	novos	campos	de	divergências	e	
até	 contradições.	 É	 importante	 lembrar-se	 da	 onda	 iconoclasta,	
da	 reforma	 litúrgica,	 do	 choque	 entre	 conservadores	 e	 progres-
sistas,	dos	atritos	entre	os	adeptos	da	teologia	pré-conciliar	e	da	
pós-conciliar,	da	nomeação	de	bispos	mais	jovens,	da	reforma	e	da	
crise	nos	seminários,	da	"saída"	de	centenas	de	padres	da	Igreja.	
Contudo,	o	período	que	se	seguiu	ao	Concílio	foi	como	um	"divisor	
de	águas	entre	bispos,	 teólogos	e	correntes	pastorais"	 (BEOZZO,	
1994,	p.	83-111).
Desse	modo,	a	Igreja	do	Brasil	teve	um	enorme	ganho,	ama-
dureceu	e	tornou-se	cada	vez	mais	sensível	ao	clamor	do	povo,	o	
que	alimentou	cada	vez	mais	o	surgimento	da	Igreja	popular.	Nas	
palavras	de	Beozzo	(2005,	p.	355),	o	Concílio	deu	"nova	dinâmica	
episcopal	e	propiciou	na	prática	uma	refundação	da	CNBB".
7. A IGREJA E O REGIME MILITAR
Como	você	pode	notar,	foi	em	pleno	tempo	de	Concílio	que	
eclodiu,	a	31	de	março	de	1964,	o	golpe	de	Estado	desferido	pe-
las	Forças	Armadas	contra	o	governo	de	João	Goulart,	iniciando	o	
Regime	Militar,	que	perdurou	até	1985.	Inúmeras	foram	as	causas	
para	o	 desfecho	do	 golpe.	O	perigo comunista	 era	 apenas	uma	
delas.
Você	deve	estar	se	perguntando:	como	a	Igreja	reagiu	ao	gol-
pe	e	como	ela	conviveu	com	o	Regime	Militar?	O	golpe	cria	uma	
situação	complexa	e	contraditória	para	a	 Igreja.	De	um	lado,	ela	
apoia	o	golpe	e	o	regime	militar;	de	outro,	discorda	das	medidas	
repressivas	e	violentas	contra	os	cidadãos	e	contra	a	Igreja.
De	um	modo	geral,	podemos	distinguir	três	fases	distintas:
1)	 a	fase	de	apoio;
2)	 a	fase	de	oposição	e	de	denúncia;
3)	 a	fase	de	diálogo	com	o	governo.
193© O Concílio Vaticano II e a Reformulação Eclesial: de Medellín a Aparecida
A	 fase de apoio	 situa-se	 nos	 primeiros	 quatro	 anos	 entre	
1964	e	1968,	o	que	não	significa	que	ela	não	tenha	feito	críticas	
ao	regime.	A	Igreja	tinha	no	comunismo	um	inimigo	forte	e	uma	
ameaça	à	ordem	social.	Esse	 inimigo,	para	a	 Igreja,	estava,	 tam-
bém,	dentro	dela,	representado	pelos	movimentos	de	esquerda.	
É,	portanto,	onde	temos	a	razão	do	problema	que	se	instalou	nas	
relações	entre	a	Igreja	e	alguns	setores	da	Ação	Católica,	como	a	
JUC	 e	 a	 JOC.	 Como	a	questão	 comunista	 foi	uma	das	 causas	do	
golpe,	no	sentido	de	restabelecer	a	ordem	e	de	livrar	a	nação	do	
perigo	comunista,	a	 Igreja	passa	a	apoiar	o	golpe	e	os	militares,	
porque,	para	ela,	também	interessava	o	restabelecimento	da	or-
dem	social,	a	qual,	de	certa	forma,	garantia	uma	ordem	religiosa.	
Nessa	fase,	a	Igreja	é	bastante	cautelosa	e	se	concentra	mais	em	
seus	problemas	internos.	É	um	momento,	também,	de	indefinição	
e	de	expectativa	em	relação	ao	desenrolar	dos	acontecimentos.
A	posição	da	Igreja,	nessa	fase,	é	muito	bem	expressada	por	
Barros:
Dada	a	grande	mobilização	da	opinião	pública	ao	longo	de	1963	e	
1964	sobre	a	iminência	de	um	golpe	comunista,	e	o	trabalho	há-
bil	e	sutil	que	os	movimentos	financiados	por	capital	estrangeiro	
(para	fomentar	essa	mobilização)	haviam	efetuado	junto	a	mem-
bros	 do	 episcopado,	 houve	 inicialmente,	 da	 parte	 da	 Igreja,	 um	
voto	de	confiança	no	novo	governo,	apesar	de	as	prisões	arbitrárias	
de	líderes	cristãos	e	de	leigos	ligados	a	instituições	eclesiais	terem	
levantado	algumas	inquietações	e	mesmo	levado	alguns	bispos	a	
empreenderem	gestões	junto	às	novas	autoridades.	Esta	foi,	grosso 
modo, a	posição	assumida	pelo	episcopado	em	maio	de	1964	em	
um	encontro,	realizado	no	Rio	de	Janeiro	(2003,	p.	171).
A	fase de oposição e de denúncia	situa-se	de	1968	ao	final	
do	governo	de	Ernesto	Geisel	(1974-1979).	Em	dezembro	de	1968,	
o	governo	do	general	Costa	e	Silva	decretou	o	Ato	Institucional	nº	
5	(AI-5),	que	foi	a	expressão	da	linha dura	do	Regime	Militar,	pois	
conferia	poderes	absolutos	ao	presidente,	e	que	vigorou	até	1978.	
O	período	que	vai	de	1968	a	1975	é	chamado	anos de chumbo	por	
ser	 considerado	o	 tempo	mais	difícil	 da	ditadura.	O	AI-5	desen-
cadeou	a	mais	ferrenha	perseguição	política,	seguida	de	prisões,	
censuras,	torturas,	mortes,	desaparecimentos	e	exílios.
© História da Igreja na América Latina e no Brasil194
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
À	medida	que	o	 regime	manifestava	sua	 fisionomia	opres-
sora	e	não	protetora,	a	 Igreja	 começa	a	esboçar	uma	 reação	de	
oposição.
Segundo	Barros	 (2003,p.	171),	 três	questões	fundamentais	
começaram	a	inquietar	alguns	bispos:
•	 1)	violação	dos	direitos	humanos;
•	 2)	injustiça	social;
•	 3)	Doutrina	da	Segurança	Nacional,	formulada	pela	Escola	
Superior	de	Guerra.
Essas	 questões	 incomodaram	 muitos	 bispos,	 padres,	 reli-
giosos	e	leigos,	e	o	preço	pago	foi	alto	demais	para	muitos	deles.	
Assim,	 "a	 Igreja	 tornou-se,	na	prática,	 a	única	voz	daqueles	que	
não	tinham	voz	dentro	do	regime	autoritário"	(BARROS,	2003,	p.	
174).	Nessa	fase,	a	Igreja	era	vista	pelos	militares	como	um	perigo	
à	nação.
No	intuito	de	se	opor	ao	regime,	de	denunciar	as	persegui-
ções	e	de	lutar	pelos	direitos	humanos,	direta	ou	indiretamente,	
a	Igreja	criou	e	participou	da	criação	de	vários	órgãos	que	tinham	
por	objetivo	a	defesa	da	pessoa	humana,	 tais	 como	a	Comissão	
Justiça	e	Paz,	a	Comissão	Pastoral	da	Terra	e	o	CIMI.
A	fase	de	diálogo com o governo,	no	final	da	gestão	de	Er-
nesto	Geisel	(1974-1979)	e	no	começo	da	gestão	de	João	Batista	
de	Oliveira	Figueiredo	(1979-1985),	coincide	com	a	abertura	polí-
tica	e	com	o	início	do	processo	de	redemocratização	do	país.	Uma	
abertura	"lenta	e	gradual",	como	ficou	conhecida.	Nessa	fase,	em-
bora	as	tensões	continuassem,	os	conflitos	entre	Igreja	e	Regime	
se	 amenizavam,	 havendo,	 da	 parte	 do	 governo,	 uma	disposição	
para	o	diálogo	e	a	colaboração.
Conforme	as	palavras	de	D.	Luciano	Mendes	de	Almeida:
[...]	houve	uma	abertura	tão	grande	que	o	governo	aceitou	dialogar	
com	a	presidência	da	CNBB.	Pediu	explicitamente	à	presidência	–	
estava	D.	 Ivo,	D.	Clemente,	eu	e	Mons.	Afonso	–	que	desse	cola-
boração	ao	governo	no	campo	econômico	para	que	daí	houvesse	
195© O Concílio Vaticano II e a Reformulação Eclesial: de Medellín a Aparecida
como	consequência	uma	melhoria	social	rápida.	O	presidente	Fi-
gueiredo	disse:	"eu	estou	começando,	quero	colaboração.	Os	se-
nhores	façam	que	seus	institutos	(nós	nos	referíamos	na	época	ao	
IBRADES)	sejam	capazes,	a	curto	prazo,	de	apresentar	soluções	viá-
veis	para	o	Brasil	sair	da	situação	em	que	se	encontra"	(1994,	p.	17).
Contudo,	o	diálogo	nem	sempre	aconteceu,	e,	quando	acon-
teceu,	foi	em	um	clima	de	tensão	que	não	podia	ser	diferente,	pois	
era	um	tempo	de	tensões	em	todos	os	setores	da	vida	pública	do	
país.	A	Igreja,	porém,	não	deixou	de	fazer	sua	parte	e	elaborou	vá-
rios	documentos	com	o	objetivo	de	politizar	o	povo	e	de	despertá-
-lo	para	uma	consciência	crítica.
Desse	modo,	a	Igreja	comandada	pela	CNBB,	iluminada	pelo	
Concílio	Vaticano	II	e	pela	Conferência	de	Medellín,	durante	o	Re-
gime	Militar	e	especialmente	entre	1964	e	1975,	viveu	verdadeiros	
momentos	de	provação.	Não	bastasse	 lutar	contra	uma	situação	
de	 injustiça	e	de	violência	para	com	a	dignidade	humana,	ainda	
teve	de,	muitas	 vezes,	 lutar	 contra	 suas	 contradições	 internas	 e	
encontrar	equilíbrio	entre	as	tendências	conservadoras	e	progres-
sistas,	o	que	equivale	dizerque	nem	todos	os	bispos	concordavam	
em	se	opor	ao	regime	e	em	acatar	as	decisões	da	maioria.	Havia	
aqueles	que	eram	a	favor	do	regime	e	que	denunciavam	seus	pró-
prios	pares	–	quem	sabe,	sem	nenhum	"pingo"	de	consciência	do	
desserviço	que	estavam	prestando	à	Igreja	e	ao	povo.	Mesmo	as-
sim,	durante	o	período	militar,	"a	Igreja	no	Brasil	viveu	um	de	seus	
momentos	mais	fortes	de	comunhão,	de	serviço	à	sociedade,	e	de	
exercício	de	sua	missão,	especialmente	de	sua	missão	profética"	
(BARROS,	2003,	p.	212).
8. COMUNIDADES ECLESIAIS DE BASE (CEBS)
Falar	sobre	as	Comunidades	Eclesiais	de	Base	(CEBs)	não	é	
uma	 tarefa	 fácil,	 pois	o	assunto	é	amplo	e	está	 inserido	em	um	
vasto	movimento	de	 renovação	da	 Igreja	pós-conciliar	 no	 conti-
nente	 latino-americano,	 sobre	 o	 qual	 muito	 se	 escreveu	 entre	
1970	e	1990.	Em	geral,	as	CEBs	são	um	fenômeno	da	Igreja	latino-
© História da Igreja na América Latina e no Brasil196
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
-americana.	Todavia,	foi	na	Igreja	do	Brasil	que	elas	tiveram	maior	
expressão	não	só	por	conta	de	seu	lugar	de	origem,	mas	também	
por	terem	maior	acolhida	da	parte	do	povo.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Não é de intenção nossa, aqui, nesse espaço, discutir e procurar compreender, 
amplamente, a questão da origem das CEBs. Isto, sem dúvida, você já deve 
ter feito, e muito bem, ao estudar a Pastoral da Igreja no Brasil. Nosso objetivo 
é falar de seu significado em um amplo movimento de renovação da Igreja. No 
entanto, trazemos algumas ideias a respeito de sua gênese.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Em	se	tratando	de	sua	gênese,	é	difícil	estabelecer	um	marco	
inicial,	como	aconteceu	com	outros	movimentos	na	Igreja.	As	CEBs	
não	foram	criadas,	oficialmente,	por	decreto,	elas	simplesmente	
foram	surgindo,	 germinado,	 crescendo	e	 florescendo.	 Elas	estão	
na	 linha	 de	 desaparecimento	 e	 de	 confluência	 de	 vários	 outros	
movimentos	 anteriores.	 Na	 Igreja,	 todo	 e	 qualquer	 movimento	
eclesial	 tem	uma	 razão	para	existir,	pois	está	a	 serviço	da	evan-
gelização.	Quando	perde	essa	razão,	deixa	de	existir	e	dá	lugar	a	
outro	movimento.	Nesse	sentido,	as	CEBs	são	tributárias	de	muitas	
influências	 e	 de	muitas	 iniciativas	 pastorais	 populares	 ainda	 an-
tes	do	Concílio	Vaticano	II,	que	depois	foram	regadas	pelo	próprio	
Concílio,	por	Medellín	e	por	Puebla.	Nesse	sentido,	uma	passagem	
do	texto	de	D.	Luís	Fernandes	sobre	a	"Gênese	das	CEBs	no	Brasil"	
ilustra	esse	raciocínio:
Sem	preocupação	de	maior	 rigor,	 já	 se	 tornou	 costume	 lembrar,	
entre	os	pioneiros,	os	catequistas	populares	de	Barra	do	Piraí.	Ou	
também	se	fala,	com	frequência,	nos	trabalhos	do	MEB,	nas	Esco-
las	Radiofônicas,	no	Movimento	de	Natal,	na	renovação	paroquial	
do	"Mundo	Melhor".	Que	haverá	de	verdade	em	tudo	 isso?	Não	
se	pode	duvidar	de	que	foi	justamente	naquele	ambiente	e	dentro	
daquele	caldo	de	cultura	que	germinou	a	CEB	brasileira.	Parece	que	
sem	a	Ação	Católica	e	sem	esses	tantos	outros	fermentos	animado-
res	de	nossa	ação	pastoral,	seria	impensável	o	surgimento	de	uma	
iniciativa	tão	ousada,	qual	foi	nossa	Comunidade	Eclesial	de	Base.	
Nesse	 sentido	 e	 nessa	medida,	 temos	 de	 reconhecer,	 com	 justi-
ça,	os	muitos	precursores	da	nova	explosão	eclesial.	Por	volta	de	
sessenta,	se	percebe	que	nosso	campo	pastoral	estava	como	que	
preparado	e	fertilizado	para	o	despontar	do	novo	rebento,	a	CEB	
[...].	As	Comunidades	Eclesiais	de	Base	certamente	não	apareceram	
197© O Concílio Vaticano II e a Reformulação Eclesial: de Medellín a Aparecida
de	improviso	ou	fruto	do	acaso	cego.	Havia	um	chão	devidamente	
trabalhado	e	 regado	pelo	esforço	de	algumas	gerações	 (1994,	p.	
138-139).
Portanto,	seja	como	for,	o	processo	de	gênese	das	CEBs	deve	
ser	 procurado	na	 influência	 da	 realidade	 eclesial	pré-conciliar e 
pós-conciliar,	na	realidade	eclesial	brasileira	e	na	conjuntura	so-
ciopolítica	e	econômica	brasileira.
Você	deve	estar	se	perguntando:	qual	 foi	o	significado	das	
CEBs	para	a	Igreja?	O	que	elas	representaram?
O	 significado	 das	 CEBs	 foi	 imenso.	 Elas	 representam	 uma	
nova	maneira	de	organizar	a	pastoral	da	 Igreja	em	comunidades	
menores,	nas	quais	as	pessoas	podem	estabelecer	laços	comuni-
tários	entre	si	e	organizar-se	em	torno	de	um	mesmo	objetivo.	Elas	
forçaram	a	Igreja	a	renovar-se	"por	dentro"	e	"por	baixo",	ou	seja,	
partindo	das	camadas	populares.	O	povo	já	não	é	mais	a	massa,	
mas	é	a	comunidade,	é	a	Igreja,	é	o	povo	de	Deus.	Portanto,	não	
pode	ser	mais	usado	para	sustentar	interesses	particulares	como	
ocorrido	nas	décadas	anteriores,	mas	deve	ser	considerado	agente	
da	transformação	social,	bem	como	da	própria	Igreja.
De	um	modo	geral,	podemos	dizer	que	as	CEBs	representam:
1)	 Uma Igreja com rosto popular:	as	CEBs	são	a	expressão	
de	um	novo	jeito	de	ser	Igreja,	uma	"expressão	de	amor	
preferencial	da	Igreja	pelo	povo	simples;	nelas	se	expres-
sa,	valoriza	e	purifica	sua	religiosidade	e	se	lhe	oferece	a	
possibilidade	concreta	de	participação	na	tarefa	eclesial	
e	no	compromisso	de	transformar	o	mundo"	(PUEBLA,	
643).	 Cria-se	 um	 espírito	 de	 comunhão	 e	 de	 valoriza-
ção	do	 leigo,	especialmente	do	 leigo	humilde	e	pobre,	
na	 maioria	 das	 vezes,	 economicamente	 desfavorecido	
e	politicamente	desconsiderado.	Esse	modelo	de	Igreja	
contrasta	com	o	modelo	anterior	elitista	e	verticalista.
2)	 Uma comunidade de fé:	as	CEBs	são	um	lugar	de	pro-
funda	 vivência	 da	 espiritualidade	 que	 brota	 da	 Bíblia.	
À	 luz	do	Evangelho,	o	povo	reflete	sobre	a	realidade	e	
busca	formas	originais	de	exprimir	sua	fé	na	palavra	de	
© História da Igreja na América Latina e no Brasil198
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Deus,	bem	como	de	pô-la	em	prática	(PUEBLA,	99).	Por	
meio	do	método	"ver,	julgar	e	agir",	olha	a	realidade	em	
que	vive,	julga	com	os	olhos	da	fé	e,	à	luz	da	Bíblia,	pro-
cura	caminhos	e	saídas.	As	CEBs	popularizaram	a	Bíblia,	
fazendo	dela	um	"manual"	de	orientação	da	vida	do	po-
bre.	Apesar	de	muitos	participantes	serem	politicamente	
ativos,	envolvidos	com	questões	sociais	ou	partidárias,	
as	CEBs	 são	comunidades	de	 fé	em	que	as	pessoas	 se	
reúnem	para	fazer	a	leitura	da	Bíblia,	para	refletir,	tirar	
lições	para	a	vida,	colocar	seus	problemas	e	dificuldades	
e	para	participar	da	missa	ou	de	qualquer	outra	celebra-
ção.	Assim,	são	encontros	para	celebrar	a	vida.
As	CEBs	representaram	uma	"revolução"	eclesial	para	a	Igre-
ja	 do	Brasil	 e	da	América	 Latina.	 Para	muitos,	 elas	 alimentavam	
uma	grande	esperança	para	a	Igreja	e	para	a	sociedade,	como	se	
fossem	uma	proposta	de	vivência	cristã	comprometida	com	a	rea-
lidade.	Para	outros,	era	apenas	uma	onda	da	época,	mas	que	me-
recia	os	cuidados	de	um	olhar	atento	porque	poderia	trazer	con-
sequências	imprevisíveis.	Ainda	para	outros,	era	um	câncer,	uma	
célula	 doente	 e,	 portanto,	 perigosa,	 porque	 transpirava	 "odores	
revolucionários".	Por	isso,	as	CEBs	foram	combatidas	por	setores	
do	governo,	da	sociedade	civil	e,	também,	por	setores	mais	con-
servadores	da	própria	Igreja.
Para	 encerrar,	 é	 interessante	 colocar	 a	 seguinte	 pergunta,	
pois,	a	partir	dela,	você	poderá	formular	muitas	outras:	qual	é	o	
sentido	e	o	significado	das	CEBs	na	atual	conjuntura	da	Igreja	no	
Brasil?
9. TEOLOGIA DA LIBERTAÇÃO
Na	esteira	do	espírito	renovador	que	tomou	conta	da	Igreja	
latino-americana	e	brasileira	depois	do	Concílio	Vaticano	II,	inclui-
-se,	também,	a	renovação	do	pensamento	teológico,	que	resultou	
na	Teologia da Libertação.
199© O Concílio Vaticano II e a Reformulação Eclesial: de Medellín a Aparecida
Por	se	tratar	de	uma	questão	complexa,	não	vamos	abordar	
a	vertente	protestante	da	Teologia	da	Libertação	nem	a	vertente	
europeia,	muito	menos	fazer	uma	varredura	em	busca	da	origem	
histórica	do	uso	do	termo	libertação	na	Igreja.	De	maneira	sucin-
ta,	vamos	abordar	como	e	em	que	condições	ela	nasceu	na	Igreja	
católica	latino-americana	e	brasileira.
A	Teologia da Libertação	nasceu	de	um	anseiopela	crítica	e	
pela	revisão	da	teologia	tradicional,	da	necessidade	de	se	formular	
uma	teologia	prática	e	da	reflexão	nascida	da	própria	prática,	para	
que	esta	se	tornasse	transformadora	ou	libertadora,	como	gosta-
vam	de	dizer	os	teólogos	da	libertação.
Foi	com	base	nessa	compreensão	que	inúmeras	vozes	se	le-
vantaram	em	vários	pontos	da	América	Latina:
Vejamos	alguns	desses	pensadores	e	teólogos:
a)	 Gustavo	Gutiérrez;
b)	 Hugo	Assmann;
c)	 Jon	Sobrino;
d)	 Enrique	Dussel;
e)	 Pedro	Casaldáliga;
f)	 Leonardo	Boff;
g)	 Clodovis	Boff;
h)	 João	Batista	Libâneo;
i)	 José	Comblin;
j)	 Helder	Câmara	e	outros.
A	data	de	nascimento	da	Teologia da Libertação	é	no	final	da	
década	de	1960	e	no	início	de	1970.	O	contexto	eclesial	é	o	calor	
do	Concílio	Vaticano	 II	 e	 a	Conferência	de	Medellín.	O	 contexto	
político	é	a	fase	das	ditaduras,	da	Guerra	Fria,	do	capitalismo	neo-
liberal,	da	ideologia	socialista-marxista	e	da	teoria	da	dependência	
econômica.	O	contexto	social	é	a	extrema	pobreza,	a	exclusão	e	as	
novas	formas	de	dominação	produzidas	pelo	subdesenvolvimento	
econômico	alastrado	por	toda	a	América	Latina	como	consequên-
cia	da	detenção	da	maior	parte	das	riquezas	nas	mãos	de	poucos.
© História da Igreja na América Latina e no Brasil200
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Como	você	pode	notar,	é	nesse	amplo	e	complicado	contex-
to	que	a	Teologia	da	Libertação	nasce	e	desenvolve	seu	referencial	
teórico	e	interpretativo.	A	opção	pelos	pobres	e	excluídos	era	com-
preendida	como	defesa	da	vida	do	povo	empobrecido,	explorado	e	
condenado	a	morrer	pela	falta	de	chances	para	participar	da	eco-
nomia	e	do	mercado.	O	sistema	econômico	injusto	produzia	uma	
larga	faixa	de	pobres,	marginalizados	e	excluídos.
Os	teólogos da libertação	entendiam	que	esses	problemas	
eram	um	desafio	para	a	fé	e	para	a	vivência	do	Evangelho	e	que	era	
necessário	compreender	as	contradições	da	realidade,	indignar-se	
e	agir.	Em	1978,	quando	a	Igreja	se	preparava	para	a	Conferência	
que	se	realizaria	no	ano	seguinte	em	Puebla,	já	em	um	clima	tu-
multuado,	Leonardo	Boff	escreveu	um	texto	sobre	a	Teologia	da	Li-
bertação.	Um	dos	tópicos	se	intitula:	"O	que	se	precisa	compreen-
der	para	entender	a	teologia	da	libertação".	Vejamos	um	trecho.	
Na	raiz	da	teologia	da	libertação	se	encontra	a	aguda	percep-
ção	da	miséria	a	que	estão	submetidas	as	grandes	maiorias	de	nos-
so	Continente;	há	uma	divisão	profunda	entre	ricos	e	pobres	que	é	
tanto	mais	dolorosa	quanto	sabemos	que	uns	e	outros	professam	
a	mesma	fé.	A	primeira	reação	daquele	que	se	orienta	pela	fé	cris-
tã	é	de	indignação	ética	face	à	pobreza	generalizada.	Não	agrada	a	
Deus!	Em	nome	da	caridade,	da	fé	verdadeira,	do	reconhecimento	
do	próprio	Cristo	na	pessoa	do	pobre	devemos	fazer	alguma	coisa!	
[...].	A	percepção	e	a	indignação	movem	à	ação.	A	Igreja	entendeu	
que	não	basta	reduzir	sua	presença	na	sociedade	mediante	a	prá-
tica	religiosa	(litúrgica,	devocional);	importa	articular	com	ela	tam-
bém	práticas	éticas,	sociais,	de	promoção	do	homem	todo	e	de	todo	
o	homem.	Estas	práticas	são	exigidas	pela	própria	fé	cristã	que,	so-
mente	sendo	informada	pelo	amor	(prática),	se	torna	fé	verdadeira	
e	salvífica;	caso	contrário	é	uma	fé	vazia	que	não	leva	ao	Reino	de	
Deus.	Concluindo:	na	base	da	teologia	da	libertação	há	um	sentir,	
um	re-agir	e	um	agir.	Se	não	compreendemos	esses	passos,	dificil-
mente	entenderemos	a	teologia	da	libertação	(BOFF,	1978,	p.	698-
699).		
201© O Concílio Vaticano II e a Reformulação Eclesial: de Medellín a Aparecida
A	opção	pelos	pobres,	a	reflexão	crítica	da	realidade	e	o	uso	
de	categorias	marxistas,	o	diálogo	com	as	ciências	 sociais,	entre	
outras	causas,	lançou	a	Teologia da Libertação em águas turvas.	
Criou-se	um	clima	de	tensão	e	de	situações	tumultuadas	entre	de-
fensores	e	opositores.	Desde	o	 início,	bispos	e	teólogos	das	alas	
mais	 conservadores	da	 Igreja	não	 só	 fizeram	 forte	oposição	por	
meio	de	críticas	e	anátemas,	como	também	criaram	verdadeiros	
"quartéis"	de	combate	e	agências	de	informação	para	vigiar	os	te-
ólogos.	Gustavo	Gutiérrez	 foi,	desde	o	 início,	o	alvo.	Logo,	um	a	
um,	também	foram	sendo	alvejados.
As	tensões	e	os	atritos	em	torno	da	Teologia da Libertação	
não	permaneceram	aqui	na	América	Latina;	atravessaram	o	Atlân-
tico	e	foram	parar	no	Vaticano.	Foi	lá	que	o	confronto	mudou	de	
tom,	abrindo	uma	grande	crise	entre	a	Santa	Sé	e	a	Igreja	na	Améri-
ca	Latina	e	no	Brasil.	A	Sagrada	Congregação	para	a	Doutrina	da	Fé	
investigou,	advertiu,	censurou,	puniu,	impôs	silêncio	e	condenou	
vários	teólogos.	Em	1984,	a	Sagrada	Congregação	para	a	Doutrina	
da	Fé	publicou	a	"Instrução	sobre	alguns	aspectos	da	Teologia	da	
Libertação"	com	a	finalidade	de	chamar	a	atenção	"para	os	perigos	
de	desvios,	prejudiciais	à	fé	e	à	vida	cristã"	(SAGRADA	CONGREGA-
ÇÃO	PARA	A	DOUTRINA	DA	FÉ,	1984,	p.	6).
A	respeito	da	crise	que	se	abriu	entre	a	Santa	Sé	e	os	teólo-
gos	da	libertação,	o	texto	de	Scott	Mainwaring	é	ilustrativo:
Desde	a	eleição	de	João	Paulo	II,	a	teologia	da	libertação	vem	sendo	
alvo	de	ataques	do	CELAM	e	de	Roma.	Em	1977,	a	Comissão	Teo-
lógica	Internacional	do	Vaticano	divulgou	uma	declaração	contrá-
ria	às	versões	reducionistas	da	teologia	da	libertação.	Além	disso,	
Roma	pressionou	alguns	bispos	progressistas	para	não	comparece-
rem	ao	II	Congresso	Ecumênico	Internacional	de	Teologia,	realizado	
em	São	Paulo,	em	fevereiro	de	1980.	O	verdadeiro	ataque	contra	a	
teologia	da	libertação	no	Brasil	começou	em	1982,	com	a	publica-
ção	de	diversos	trabalhos	criticando	acerbamente	Leonardo	Boff.	
Desde	a	metade	da	década	de	70	o	Vaticano	tem	investigado	os	tra-
balhos	de	Boff,	o	mais	conhecido	teólogo	brasileiro,	sob	o	pretexto	
de	que	se	desviam	muito	da	ortodoxia	católica	[...].	Em	setembro	
de	1984,	o	teólogo	foi	chamado	a	Roma	[...].	O	Vaticano	condenou	
Boff	formalmente	em	maio	de	1985,	impondo-lhe	um	silêncio	por	
tempo	não	determinado	[...].	A	 investigação	e	a	condenação	aju-
© História da Igreja na América Latina e no Brasil202
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
daram	a	estimular	ataques	contra	ele	e	contra	os	progressistas	no	
Brasil.	Clodovis	Boff,	o	irmão	mais	jovem	de	Leonardo	e	também	
um	teólogo	de	destaque,	igualmente	foi	punido.	Em	24	de	fevereiro	
de	1984,	o	Vaticano	proibiu-o	de	lecionar	em	Roma	(1989,	p.	275).
Para	encerrar,	é	interessante	colocar	as	seguintes	perguntas,	
pois,	a	partir	delas,	você	poderá	formular	muitas	outras:	o	que	é	
que	eclipsou	a	Teologia	da	Libertação?	Diante	de	uma	nova	reali-
dade,	não	é	necessário	fazer	uma	nova	leitura	e	uma	nova	análise?
10. TENSÕES ENTRE A SANTA SÉ E A IGREJA DO BRASIL
As	relações	entre	a	Igreja	do	Brasil	e	a	Santa	Sé	no	final	da	dé-
cada	de	1970	e	no	início	de	1980	constituíram	um	jogo	complexo	
de	forças	convergentes e	divergentes que	caminhava	do	"estímulo	
e	do	apoio	à	contenção	e	à	intervenção"	(BEOZZO,	1993,	p.	213).	
Esse	período	foi	marcado	por	fortes	tensões	e	impasses	no	sentido	
de	conter	a	articulação	da	CNBB,	em	nível	nacional	e	internacional,	
com	a	CELAM	e	com	as	conferências	episcopais	de	outros	países.	
Para	Beozzo	(1993,	p.	227),	o	ano	1980	é	"o	divisor	de	águas	que	
inaugura	toda	uma	década	de	relacionamento	marcado	por	uma	
agenda	conflituosa".
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Percebe-se, aqui, que a Igreja faz caminho inverso ao do Estado Militar. O regi-
me está em declínio e os militares estão articulando a redemocratização. Havia 
passado o tempo da "linha dura". Na Igreja, por sua vez, é no início de 1980 que 
se estabelece uma "linha dura", pois ela volta ao conservadorismo e põe em crise 
a Igreja popular.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Vejamos	alguns	polos	de	tensões	que	marcaram	as	relações	
entre	Roma	e	a	CNBB	e	que	criaram	perplexidades,	embaraços	e	
amarguras	na	Igreja.
Teologia da Libertação
Na	 seção	 anterior,	 já	 abordamos	 alguns	 focos	 de	 tensões	
causados	pela	 Teologia	 da	 Libertação.	Uma	 situação	 singular	 foi	
203© O Concílio Vaticano II e a ReformulaçãoEclesial: de Medellín a Aparecida
o	caso	Boff	e	as	pressões	contra	o	projeto	da	coleção	"Teologia	da	
Libertação"	(BEOZZO,	1993,	p.	237-265).
Liturgia
Em	1977,	a	CNBB	aprovou	o	Diretório	para	Missa	com	Grupos	
Populares.	O	Diretório	respondia	a	uma	real	necessidade	da	Igreja	
do	Brasil,	em	que	70%	das	celebrações	dominicais	eram	realizadas	
por	leigos.	A	Congregação	do	Culto	Divino	não	gostou	e	reivindicou	
para	si	o	direito	de	aprovação,	alegando	que	"uma	liturgia	de	tipo	
popular	era	perigosa	para	a	fé"	(ALBERTI	apud	BEOZZO,	1994,	p.	
220).	Exigiu	que	o	Diretório	fosse	retirado	e	não	mais	usado.
Na	mesma	linha	de	uma	liturgia	popular,	a	CNBB	teve	proble-
mas	com	a	Santa	Sé	em	relação	à	questão	indígena	e	à	"Missa	dos	
Quilombos".	A	Congregação	para	os	Sacramentos	e	o	Culto	Divino	
também	proibiram	a	celebração	dessa	missa.
Formação presbiterial
Na	esteira	das	tensões,	a	formação	dos	seminaristas	talvez	
tenha	sido	o	campo	mais	delicado	nas	relações	da	Igreja	do	Brasil	
com	a	Santa	Sé.	Este	foi	um	caso	típico,	no	qual	prevaleceu	a	arbi-
trariedade	romana.	Contudo,	em	que	ela	não	prevaleceu?
Logo	após	o	Concílio,	com	o	novo	projeto	de	Igreja,	um	gran-
de	número	de	padres	abandonou	o	sacerdócio,	pondo	em	profun-
da	crise	a	formação	presbiterial.	Pulverizou-se	o	modelo	antigo	de	
padre	e	o	modelo	novo	ainda	não	estava	definido,	como	também	
não	se	sabia	qual	seria	a	formação	mais	adequada.	A	consequên-
cia	dessa	situação	foi	o	fechamento	de	vários	seminários,	menores	
e	maiores	tradicionais,	desde	o	Rio	Grande	do	Sul	até	o	Nordeste.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A formação sacerdotal foi uma preocupação da CNBB logo depois do Concí-
lio. Nesse sentido, foram publicados orientações, diretrizes e documentos (For-
mação dos presbíteros da Igreja do Brasil: diretrizes básicas. Documentos da 
© História da Igreja na América Latina e no Brasil204
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
CNBB, n. 30, 1984. Orientações para os estudos filosóficos e teológicos: ementá-
rio. Estudos da CNBB, n. 51, 1987. Formação dos presbíteros da Igreja do Brasil: 
diretrizes básicas. Documentos da CNBB, n. 55, 1994). 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A	ideia	pós-conciliar	de	uma	Igreja	 inserida	no	mundo	afe-
tou,	também,	a	formação	sacerdotal,	fazendo	surgir	várias	tendên-
cias	nesse	campo.	Passou-se	a	pensar	em	uma	formação	sacerdo-
tal	mais	inserida	no	mundo	e	voltada	para	a	pastoral	da	Igreja.
Beozzo	destaca	algumas	linhas	dessa	tendência.	Entre	elas:
a)	 Não	 separação	 entre	 a	 formação	 sacerdotal	 e	 a	 dos	 demais	
agentes	de	pastoral.	b)	eliminação	da	clássica	divisão	entre	filo-
sofia	e	teologia,	pela	criação	de	um	currículo	integrado	de	seis	
anos	com	a	 inserção	de	matérias	de	ciências	sociais.	c)	Surgi-
mento	de	cursos	voltados	para	realidades	mais	especificas,	bus-
cando	 formar	de	maneira	diferenciada	os	 futuros	presbíteros	
e	 agentes	 de	 pastoral.	 d)	 Corpo	 de	 professores	 formado	 por	
homens	e	mulheres,	leigos	e	padres,	religiosos	e	religiosas.	e)	
Surgimento	de	 institutos	 centrais	de	estudo	para	diocesanos,	
religiosos	e	 leigos	de	uma	região.	 f)	Separação	entre	 local	de	
estudo	 e	 casas	 de	 formação.	 g)	 Inserção	 dos	 formandos	 em	
pequenas	comunidades,	próximas	ao	povo,	nas	periferias	das	
cidades.	 h)	 Surgimento	de	 institutos	 de	 teologia	 inseridos	 na	
estrutura	universitária,	 como	na	PUC	de	Porto	Alegre,	Rio	de	
Janeiro,	Belo	Horizonte,	Goiânia	(1993,	267-268).
A	 partir	 de	 1980,	 essa	 tendência	 muda	 e	 Roma	 aperta	 o	
cerco.	Esse	 tipo	de	 formação	sacerdotal,	 adotado	por	boa	parte	
da	Igreja	brasileira,	não	agradava	à	Congregação	para	a	Educação	
Católica	nem	a	um	grupo	de	bispos	do	interior	da	própria	CNBB.	
Dessa	maneira,	a	Santa	Sé,	com	a	ajuda	desses	bispos,	por	meio	
de	visitas	canônicas	esporádicas,	passa	um	"pente	fino"	em	vários	
seminários	e	institutos	de	teologia.	A	questão	culminou	com	o	fe-
chamento	do	Instituto	Teológico	do	Recife	(ITER)	e	do	Seminário	
Regional	do	Nordeste	(SERENE	II),	também	no	Recife,	em	agosto	
de	1989.	A	razão	dada	pela	Congregação	para	a	Educação	Católica	
foi	a	de	que	esses	estabelecimentos	não	ofereciam	condições	ade-
quadas	para	a	formação	sacerdotal.	Houve	esforços	por	parte	de	
vários	bispos	do	nordeste	para	reverter	a	decisão,	mas	a	Santa	Sé	
não	voltou	atrás.
205© O Concílio Vaticano II e a Reformulação Eclesial: de Medellín a Aparecida
Escolha e nomeação de bispos
A	crise	entre	a	 Igreja	do	Brasil	e	a	Santa	Sé	evidenciou-se,	
também,	na	escolha	e	na	nomeação	de	bispos,	assunto	esse	que	
ficou	cada	vez	mais	espinhoso.	Alguns	fatores	afetaram	essa	ques-
tão:
a)	 O abandono do sacerdócio:	a	hemorragia	que	atingiu	o	
clero	depois	do	Concílio	deixou	um	vácuo	muito	grande	
entre	as	gerações.	Havia	uma	geração	de	padres	novos,	
entre	25	e	35	anos,	e	outra,	acima	dos	60	anos.	Faltava,	
justamente,	uma	geração	 intermediária,	dos	35	aos	50	
anos,	que,	de	práxis,	era	de	onde	se	recrutavam	candida-
tos	ao	episcopado.	O	grosso	dessa	geração	havia	deixado	
o	sacerdócio.	Esse	fato	diminuiu	o	ritmo	das	nomeações	
e	também	forçou	o	recrutamento	de	candidatos	da	últi-
ma	geração,	mais	conservadores.	Em	termos	pastorais,	a	
Igreja	teve	reflexos	negativos	porque	freou	parte	de	seus	
projetos,	que	tinham	em	vista	um	engajamento	com	o	
povo	(BEOZZO,	1993,	p.	281).
b)	 A mudança de estratégia e de política:	a	partir	de	1980,	
Roma	também	muda	de	estratégia	e	enquadra	a	nome-
ação	de	bispos	em	um	determinado	perfil.	Descarta,	de	
vez,	 candidatos	 ligados	 à	 chamada	 "Igreja	 popular"	 e	
prefere	candidatos	com	um	perfil	mais	teológico	e	con-
servador	justamente	para	bater	de	frente	com	as	corren-
tes	teológicas	existentes	(sobretudo	com	as	da	linha	da	
libertação),	como	também	para	abrir	um	canal	de	comu-
nicação	direta	com	Roma.	A	preferência	era	por	teólogos	
e	por	biblistas	 (BEOZZO,	1993,	p.	 286),	pastoralmente,	
pouco	comprometidos.
c)	 As transferências internas:	por	meio	de	 transferências	
internas,	de	divisões	de	arquidioceses	e	de	dioceses	e	
da	nomeação	de	auxiliares	muitas	vezes	não	 indicados	
para	o	posto	por	parte	dos	bispos	daqui	do	Brasil,	mani-
festou-se,	também,	a	política	de	congelamento	da	Igreja	
do	Brasil	por	parte	da	Santa	Sé.	Roma	nomeou	"figuras	
de	proa	do	episcopado"	para	dioceses	pequenas	ou	in-
significantes.
© História da Igreja na América Latina e no Brasil206
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Além	destes,	muitos	outros	polos	de	atrito	e	de	tensões	sur-
giram	entre	a	Santa	Sé	e	a	Igreja	do	Brasil	(BEOZZO,	1993,	p.	290).	
O	que	temos	observado	é	que	estava	em	curso	um	processo	de	
centralização,	de	retorno	da	disciplina	e	de	controle	da	Igreja.	João	
Batista	Libânio,	ao	fazer	um	balanço	da	Igreja	Católica	na	década	
de	1980,	escrevia:	"Depois	de	viver	o	espírito	primaveril	do	Concí-
lio	Vaticano	II,	a	Igreja	Católica	mergulhou,	nos	anos	80,	num	rigo-
roso	inverno	que	reforçou	a	disciplina	interna	e	a	centralização".	
(LIBÂNIO	apud	BEOZZO,	1993,	p.	290).
Infelizmente,	Roma,	ao	querer	salvaguardar	a	Igreja	da	con-
taminação	dos	mais	variados	movimentos,	acabou,	também,	por	
obstruir	sua	vitalidade.
Esse	assunto,	além	de	ser	complexo,	passa	um	aspecto	nega-
tivo	e	uma	visão	um	tanto	pessimista	da	Igreja.
11. RELIGIOSOS NA IGREJA DO BRASIL
Estudar	a	Igreja	do	Brasil	sem	fazer	referência	aos	religiosos	
e	às	religiosas	seria	deixar	uma	lacuna	a	ser	preenchida.	Há,	por-
tanto,	a	necessidade	de	dizer,	pelo	menos,	 "duas	palavrinhas"	a	
respeito	de	sua	missão	na	Igreja.
Não	pretendemos	falar	da	importância	da	vida	religiosa	na	
organização	da	 Igreja	 (como	 fora	 feito	na	 terceira	unidade)	nem	
elencar	o	número	de	congregações	religiosas	masculinas	e	femi-
ninas	existentes	no	Brasil	(haja	vista	que	são	centenas	delas),	mas	
acenar	para	seu	papel	e	sua	importância	na	vida	pastoral	da	Igreja.	
Em	se	tratando	de	pastoral,	não	temos	dúvida	de	que	a	Igreja	do	
Brasil	é	o	que	é	hoje	graças	ao	trabalho	e	à	dedicação	dos	religio-
sos	e	das	religiosas.
Até	a	décadade	1960,	aproximadamente,	de	uma	maneira	
geral,	o	trabalho	dos	religiosos	e	das	religiosas	na	Igreja,	com	ex-
ceção	 de	 poucas	 congregações,	 limitava-se,	 basicamente,	 a	 três	
campos:	social,	caritativo	e	educacional.	Essa	situação	mudou,	ra-
dicalmente,	depois	do	Concílio	Vaticano	II.
207© O Concílio Vaticano II e a Reformulação Eclesial: de Medellín a Aparecida
A	maioria	 das	 congregações	 religiosas	 aderiu	 ao	 ritmo	 de	
abertura	impulsionado	pelo	Concílio,	redimensionando	seu	caris-
ma	à	serviço	da	Igreja.	No	pós-concílio,	animada	pela	Conferência	
dos	 Religiosos	 do	 Brasil	 (CRB),	 a	 grande	maioria,	 especialmente	
feminina,	 abraçou	 o	 projeto	 de	 Igreja	 popular	 partindo	 de	 uma	
pastoral	de	engajamento	nas	periferias	das	cidades	e	nas	regiões	
interioranas	distantes	e	mais	carentes.	Inclusive,	redimensionaram	
seu	trabalho	nos	campos	social,	caritativo	e	educacional,	dando	a	
eles	um	sabor	mais	pastoral.
Ao	lado	dos	leigos,	os	religiosos	e	as	religiosas	estão	presen-
tes	nas	CEBs	desde	seu	nascedouro,	como	animadores	e	articula-
dores	de	uma	pastoral	popular	encarnada	na	realidade	do	pobre.
Não	podemos	nos	esquecer	da	presença	dos	religiosos	e	das	
religiosas	nos	movimentos	populares	de	todos	os	tipos:	nos	sindi-
catos,	nas	lutas	pela	terra	(o	caso	da	irmã	Dorothy	Sting),	no	mun-
do	do	trabalho	e	nos	submundos	das	grandes	cidades,	exercendo	
uma	pastoral	que	leva	em	conta,	também,	a	dimensão	política	e	
cidadã	das	pessoas.
A	opção	preferencial	pelos	pobres	de	centenas	de	religiosos	
e	de	religiosas	tem	gerado	uma	fileira	de	profetas	e	mártires	para	
a	Igreja,	porque	denunciam	as	injustiças	praticadas	contra	os	mais	
fracos.	Essas	"figuras	de	proa"	são	testemunho	de	que	a	Igreja	não	
pode	se	esquecer	de	sua	dimensão	profética	do	anúncio	e	da	de-
núncia.
12. TENSÕES E DESAFIOS DA IGREJA EM UM MUNDO 
DE PROFUNDAS TRANSFORMAÇÕES
Caminhando	para	a	finalização	de	nosso	estudo,	vamos	rela-
cionar	alguns	desafios	da	Igreja	do	Brasil	em	uma	sociedade	global	
e	complexa,	tentando	abrir	um	leque	de	realidades	com	as	quais	
ela	se	confronta	e	convive.	Esses	desafios	são	tanto	de	natureza	
externa	quanto	interna	à	Igreja.
© História da Igreja na América Latina e no Brasil208
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Os desafios externos
a)	 Centralização romana:	o	projeto	centralizador	continua	
sendo	levado	adiante	pela	Santa	Sé.	Trata-se	de	um	pro-
jeto	que	tem	por	base	a	autoridade	hierárquica,	a	obe-
diência	ao	magistério	e	a	dependência	à	Santa	Sé.	A	ten-
são	reside,	justamente,	no	perigo	de	as	ideias	e	atitudes	
teológicas	e	eclesiológicas	diferentes	criarem	um	clima	
tenso	nas	relações	com	Roma.
b)	 Pluralismo cultural e religioso:	a	sociedade	pós-moder-
na	é	marcada	pela	pluralidade	de	culturas	e	de	religiões.	
Diante	 desse	 mundo	 plural	 e	 global,	 muitos	 católicos	
se	encontram	desorientados	e	sem	rumo.	Cabe	à	 Igre-
ja	 reorientá-los	 à	 luz	 do	 Evangelho	 e	 de	 sua	 doutrina.	
O	pluralismo	religioso	abre	um	campo	de	concorrência	
entre	as	religiões	no	interior	das	quais	se	travam	inúteis 
combates,	fazendo	da	religião,	muitas	vezes,	um	produ-
to	puramente	mercadológico.
c)	 Individualismo:	 a	 sociedade	 pós-moderna	 é	 centrada	
no	individualismo	"que	dissolve	a	concepção	integral	do	
ser	humano,	sua	relação	com	o	mundo	e	com	Deus	[...].	
O	 individualismo	enfraquece	os	vínculos	comunitários"	
(DA,	44).	É	inerente	à	Igreja	o	princípio	da	relação	e	da	
fraternidade;	 sem	 isto	não	existe	 comunidade,	 pois	 só	
existe	Igreja	quando	existe	comunhão	fraterna.
d)	 O mundo técnico-científico:	 o	 avanço	 da	 técnica	 e	 da	
ciência	afeta	a	vida	do	povo	e	da	 Igreja.	Ciência	e	 tec-
nologia	são	campos	tênues	para	gerar	tensões.	Por	um	
lado,	 oferecem	 "imensa	 quantidade	 de	 bens	 e	 valores	
culturais	que	têm	contribuído	para	prolongar	a	expecta-
tiva	de	vida	e	sua	qualidade"	(DA,	123),	mas,	por	outro	
lado,	 são	capazes	"de	manipular	geneticamente	a	pró-
pria	vida"	(DA,	34),	transformando	a	pessoa	humana	em,	
simplesmente,	um	objeto	da	ciência	e	da	técnica.	O	de-
safio	consiste	em	manter	um	diálogo	equilibrado	com	a	
comunidade	tecnológica	e	científica	sem	comprometer	
os	princípios	evangélicos	e	os	valores	éticos	e	morais	dos	
cristãos.
e)	 O mundo midiático:	o	avanço	da	tecnologia	criou	uma	
rede	de	comunicação	de	alcance	mundial.	Os	meios	de	
209© O Concílio Vaticano II e a Reformulação Eclesial: de Medellín a Aparecida
comunicação	 estão	 presentes	 em	 todos	 os	 setores	 da	
vida	 social	 e	 familiar	 das	 pessoas.	 Como	 usar	 a	mídia	
em	favor	da	evangelização?	Eis	o	desafio.	Que	os	meios	
de	comunicação	devem	ser	usados	para	veicular	a	men-
sagem	da	Igreja	para	o	mundo,	todos	estão	de	acordo;	
entretanto,	devem	ser	usados	com	seriedade	e	com	res-
ponsabilidade,	para	não	cair	em	banalizações	da	tradição	
da	Igreja,	da	liturgia	e	da	mensagem	do	Evangelho.	Usar	
dos	 meios	 de	 comunicação	 disponíveis	 intencionando	
fazer	marketing	da	Igreja,	da	fé	católica	ou	do	evangelho	
pode	ser	uma	atitude	pouco	consistente.
Os desafios internos
a)	 Escassez de padres:	conforme	o	modelo	eclesial	atual,	
o	padre	continua	sendo	um	elemento	 fundamental	na	
estrutura	 hierárquica.	 Contudo,	 devido	 à	 crise	 nas	 vo-
cações	 e,	 também,	 ao	 aumento	 da	 população,	 o	 con-
tingente	existente	de	padres	torna-se	 insuficiente	para	
atender	às	necessidades	da	Igreja.	A	questão	do	minis-
tério	ordenado	para	casados	está	longe	de	ser	realidade.	
Em	relação	aos	ministérios	leigos,	o	impasse	continua.	
b)	 Diversidade e pluralidade no colegiado episcopal:	des-
de	sua	fundação,	a	CNBB	caracterizou-se	pela	diversida-
de	de	 ideias	e	de	 tendências	do	episcopado.	Às	vezes,	
essa	 diversidade	 é	 tão	 acentuada	 que	 se	 torna	 preju-
dicial	à	própria	ação	pastoral,	 como	também	reproduz	
uma	imagem	negativa	da	Igreja.
c)	 Diversidade e pluralidade de movimentos:	a	diversida-
de	e	a	pluralidade	de	movimentos	(populares	e	de	elite),	
de	instituições,	de	associações	e	de	congregações,	desde	
os	mais	tradicionais,	como	Apostolado	da	Oração,	Con-
gregação	Mariana,	passando	pela	Renovação	Carismáti-
ca,	Focolares,	Neocatecumenato,	Opus	Dei,	Legionários,	
Arautos	do	Evangelho	e	mais	de	uma	centenas	de	ou-
tros,	ao	mesmo	tempo	em	que	enriquecem	a	Igreja,	são	
um	grande	desafio	no	sentido	de	dialogar	e	de	afinar	as	
linhas	pastorais.	Nem	todos	aceitam	e	aderem	às	diretri-
zes	pastorais	da	CNBB.	Muitos	expressam	um	modelo	de	
Igreja	bem	particular	e	reduzido	ao	grupo,	dando	ênfase	
© História da Igreja na América Latina e no Brasil210
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
maior	ao	aspecto	espiritual	da	pessoa	ou	à	conservação	
da	tradição.
d)	 A flutuação ou migração religiosa:	já	estamos	acostuma-
dos	com	as	estatísticas	a	cada	ano	apontando	para	um	
catolicismo	em	queda	e	perdendo	terreno	para	outros	
movimentos	religiosos,	especialmente,	para	os	evangéli-
cos.	Portanto,	boa	parte	da	queda	dos	números	deve-se	
à	flutuação	religiosa,	ou	seja,	aqueles	que,	por	alguma	
razão,	saem	da	Igreja	católica	e	aderem	a	outros	grupos	
religiosos	para	encontrar	respostas	às	suas	inquietações.	
Como	resposta	a	esse	problema,	a	Conferência	de	Apa-
recida	 (n.	225-226)	 insiste	que	a	 Igreja	deve	reforçar	a	
experiência	religiosa,	a	vivência	comunitária,	a	formação	
bíblico-doutrinal	e	o	compromisso	missionário	de	toda	a	
comunidade.
e)	 Pastoral urbana:	a	pastoral	urbana	continua	sendo	um	
dos	 grandes	desafios	 da	 Igreja.	A	Conferência	de	Apa-
recida	(n.	509-519)	insiste	que	se	desenvolva	um	estilo	
pastoral	adequado	à	realidade	urbana	e	capaz	de	aten-
der	ao	mundo	complexo	da	cidade.	
f)	 Diálogo ecumênico e inter-religioso:	 a	 Conferência	de	
Aparecida	(n.	227-239)	pede	que	se	 intensifique	o	diá-
logo	entre	os	cristãos	e	os	outros	grupos	religiosos.	Ela	
vê	o	diálogo	ecumênico	e	 inter-religioso	como	um	 ins-
trumento	de	construção	de	uma	nova	humanidade	mais	
justa	e	mais	fraterna.
g)	 A religiosidade popular:	a	religiosidade	popular	consti-
tui	um	dos	aspectos	complexos	da	vida	dopovo.	A	Con-
ferência	de	Aparecida	reconhece	que	o	povo	é	religioso	
e	insiste	em	uma	religiosidade	de	vertente	bíblica,	ma-
riana,	sacramental	e	litúrgica.	No	entanto,	não	podemos	
desconsiderar	que	o	povo	vive,	ainda,	uma	 religião	de	
"muito	santo	e	pouca	missa",	o	que,	muitas	vezes,	sig-
nifica	a	preferência	por	devoções	e	promessas	à	liturgia.
h)	 Por uma Igreja fraterna e participativa:	 construir	uma	
Igreja	fraterna	e	participativa	talvez	seja	o	maior	desafio	
a	ser	enfrentado	diante	da	diversidade	e	da	pluralidade	
de	tendências	internas	e	externas.
211© O Concílio Vaticano II e a Reformulação Eclesial: de Medellín a Aparecida
Além	desses	desafios	elencados,	não	podemos	desconside-
rar	dezenas	de	outros	 igualmente	 importantes	na	 vida	da	 Igreja	
e	na	relação	com	o	mundo.	Dentre	eles,	estão	a	ecologia,	o	mun-
do	da	política,	a	família,	a	juventude,	a	justiça	social,	as	drogas,	a	
universidade,	os	migrantes,	os	afrodescendentes,	os	indígenas,	o	
gênero,	 a	mulher,	 o	 celibato	 eclesiástico,	 a	 teologia	 feminista,	 a	
secularização,	o	laicismo	etc.
13. TEXTO COMPLEMENTAR
As	conferências	a	seguir	serão	de	grande	 importância	para	
completar	o	estudo	desta	unidade.	
As conferências do episcopado latino americano: Rio de 
Janeiro – Aparecida ––––––––––––––––––––––––––––––––––
CONFERÊNCIA DO RIO DE JANEIRO – 1955
No ano de mil e novecentos e cinqüenta e cinco acontece a primeira Conferência 
Geral do Episcopado Latino-Americano – CELAM – realizada no Rio de Janeiro 
– Brasil. O determinante neste encontro é a criação do organismo, em nível de 
América Latina, para pensar a ação eclesial do continente latino. O Papa Pio XII, 
por meio de seu legado, Cardeal Adeodato Giovanni Piazza, enviou uma mensa-
gem, para ser lida na abertura da Conferência e que foi tomada como horizonte 
de orientação dos trabalhos dos bispos. O período da realização desta Confe-
rência deu-se de vinte e cinco de julho a quatro de agosto de mil e novecentos e 
cinqüenta e cinco.
Participaram das sessões de trabalho no Colégio Sacré Coeur os cardeais latino 
americanos, exceto os dois da Argentina, devido a impedimentos causados pelo 
regime peronista. Congregaram-se trinta e sete arcebispos e cinqüenta e oito 
bispos, que representavam sessenta e seis arquidioceses, duzentas e dezoito 
dioceses, trinta e três prelazias, quarenta e três vicariatos e quinze prefeituras 
apostólicas. No total, a Assembléia seria composta de representantes diretos de 
vinte e três países, sessenta províncias, trezentos e cinqüenta circunscrições 
eclesiásticas e cento e cinqüenta milhões de católicos.
Nesta Conferência a Igreja latino-americana, olhava para si mesma, na procura 
de caminhos no dever evangélico de anunciar a pessoa de Jesus Cristo. Na Con-
ferência do Rio de Janeiro, o desafio era o catolicismo desafiado pela laicidade 
moderna e pelo protestantismo. Havia a preocupação de busca dos católicos dis-
tantes da Igreja. Também no Rio de Janeiro, havia a consciência da necessidade 
de um trabalho em âmbito vocacional:
A Conferência estima que a necessidade mais premente da América Latina 
é o trabalho ardoroso, incansável e organizado em favor das vocações 
sacerdotais religiosas, e faz, portanto fervoroso chamado a todos, sacer-
dotes, religiosos e fiéis, para que colaborem generosamente numa ativa e 
perseverante campanha vocacional. 
© História da Igreja na América Latina e no Brasil212
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Os Bispos clamam para um trabalho árduo em âmbito vocacional através da 
oração e do apostolado de todos. O ardente desejo da Conferência é que a 
obra de vocações sacerdotais seja considerada, em todas as dioceses, como 
obra fundamental, insubstituível, que deve preocupar a todos, e que merece uma 
atenção carinhosa e efetiva ajuda de todos. Também nesta foram ressaltadas: 
o zelo apostólico dos missionários, a formação dos leigos e a intensificação da 
evangelização junto aos indígenas.
Os bispos louvam o zelo apostólico dos missionários, seguindo o nobre 
testemunho de seus antecessores. Dedicam especial atenção aos territó-
rios de missão. Diante da escassez de missionários, deve-se favorecer a 
formação de evangelizadores para as missões. Importa intensificar a evan-
gelização junto aos indígenas, por meio de uma organização adequada e 
que crie uma Instituição de caráter etnológico e indigenista.
É louvável o testemunho da consciência missionária dos bispos reunidos no Rio 
de Janeiro. No final da Conferência, os bispos pediram ao papa Pio XII a criação 
de um organismo que congregasse os episcopados de cada país e unisse as for-
ças da Igreja na América Latina. No dia dois de novembro de mil e novecentos e 
cinqüenta e cinco, recebe a aprovação pontifícia, quando se erigia oficialmente o 
CELAM (Conselho Episcopal Latino-americano), que teria sua sede em Bogotá, 
na Colômbia. Através do apoio e decidida animação do CELAM, entre os anos 
de 1956 a 1959 foi criada a maioria das Conferências Episcopais de cada país 
latino-americano. No Concílio Vaticano II (1962-1965), será acolhida e aceita a 
idéia da constituição de Conferências em âmbito nacional e continental, trabalho 
desencadeado no Brasil e, posteriormente, na América Latina através da Confe-
rência do Rio de Janeiro.
CONFERÊNCIA DE MEDELLÍN – 1968
A segunda Conferência Geral do Episcopado Latino-americano foi realizada em 
Medellín, na Colômbia; foi iniciada no dia vinte e seis de agosto e concluída no 
dia seis de setembro de mil e novecentos e sessenta e oito. Durante os quatro 
anos de duração do Concílio Vaticano II (1962-1965), os padres conciliares lati-
no-americanos mantiveram várias reuniões do CELAM em Roma. Assim, surge a 
idéia de propor ao Santo Padre a realização da segunda Conferência Geral. No 
ano de mil e novecentos e sessenta e seis a presidência do CELAM apresentou 
a Paulo VI a proposta da nova Conferência.
O Pontífice acolheu com satisfação e convocou-a, sob o tema: "A Igreja na atu-
al transformação da América Latina à luz do Concílio", Medellín apresentou-se 
como uma releitura do Vaticano II para a Igreja na América Latina. A Conferên-
cia foi inaugurada por Paulo VI na catedral de Bogotá, no dia vinte e quatro de 
agosto, por ocasião do XXXIX Congresso Eucarístico Internacional. Dela partici-
param oitenta e seis bispos, quarenta e cinco arcebispos, seis cardeais, setenta 
sacerdotes e religiosos, seis religiosas, dezenove leigos e nove observadores 
não católicos, presididos pelo cardeal Antonio Samoré, presidente da Comissão 
Pontifícia para a América Latina, e por Dom Avelar Brandão Vilela, arcebispo de 
Teresina (Brasil) e presidente do CELAM. No total, participaram cento e trinta e 
sete bispos com direito a voto e cento e doze delegados e observadores.
O objetivo da Conferência de Medellín não se situava na continuidade da pri-
meira Conferência do Rio de Janeiro; era a aplicação do Concílio Vaticano II à 
realidade da América Latina, principalmente, os temas sociais.
213© O Concílio Vaticano II e a Reformulação Eclesial: de Medellín a Aparecida
A realidade missionária foi compreendida nos diversos temas tratados e 
na preocupação de evangelizar todos e cada um dos povos, com suas 
culturas, para que surjam verdadeiras Igrejas locais. Medellín, com estes 
objetivos e temáticas, representou uma grande colaboração à reflexão teo-
lógica introduzindo novos temas, entre os quais: a religiosidade popular, as 
Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, a libertação, a conscientização, 
a justiça, a paz, meios de comunicação, educação, formação do clero, dos 
religiosos, juventude, a pastoral de conjunto, de massas e das elites, as 
culturas.
Na procura de uma Igreja junto à sociedade, houve movimentos na procura de 
encontrar resposta e engajamento eclesial aos problemas sociais. O documento 
está dividido em três partes: promoção humana, evangelização e crescimento na 
fé e a Igreja visível e suas estruturas. Os temas abordados são dezesseis: justi-
ça, paz, família e demografia, educação e juventude(da primeira parte), pastoral 
popular, pastoral das elites, catequese, liturgia (da segunda parte), movimentos 
de leigos, sacerdotes, religiosos, formação do clero, pobreza da Igreja, pastoral 
de conjunto e meios de comunicação social (terceira parte).
Na consciência missionária, Medellín revela uma lacuna pela ausência do tema 
missão, segundo o Decreto Conciliar Ad Gentes, e a vocação missionária univer-
sal da Igreja. Enquanto reconhece a urgência da evangelização integral dos po-
vos latino-americanos, em sua diversidade cultural, a Conferência não viu claro 
que esta dinâmica missionária implica e exige a dimensão específica e universal.
A realidade da América Latina de dependência, miséria e subdesenvolvimento 
será o local concreto para a aplicação do Concílio Vaticano II. O impacto his-
tórico de Medellín é indiscutível, pois impulsionou o desenvolvimento de uma 
extensa rede de comunidades, que funcionam como meio eficaz de comunicação 
e difusão de idéias. No Brasil, as CEBs Comunidades Eclesiais de Base – se 
consolidam. Nelas havia uma clara e profética posição sócio política, embora não 
comungada por todos os setores da Igreja, tanto por parte da hierarquia quanto 
do laicato.
O surgimento de um novo espírito eclesial, fruto do Vaticano II, levou ao surgi-
mento e à difusão da Teologia da Libertação, com acento no Jesus histórico e 
na Bíblia, como fonte de espiritualidade e de conscientização. Medellín também 
foi o caminho para uma pastoral latino-americana, pois seu documento abrange 
a maioria dos setores pastorais de então, reconhecendo seu pluralismo e dando 
orientações significativas frente ao presente e ao futuro.
Por fim, o documento de Medellín tornou-se uma aplicação criativa do Concílio 
Vaticano II para a América Latina.
CONFERÊNCIA DE PUEBLA – 1979
A terceira Conferência Geral do Episcopado da América Latina foi realizada em 
Puebla de Los Angeles – México – de vinte e sete de janeiro a treze de fevereiro 
de mil e novecentos e setenta e nove. No fim de mil e novecentos e setenta e 
seis, no transcurso da XVI Assembléia do CELAM, celebrada em San Juan de 
Puerto Rico, o cardeal Sebastião Baggio, então prefeito da Congregação para os 
Bispos e presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, anunciou que 
Paulo VI tinha a intenção de convocar a III Conferência Geral.
Os bispos acolheram com entusiasmo a notícia e iniciaram os trabalhos prepa-
ratórios ao evento eclesial. Paulo VI apontou como documento de referência a 
exortação apostólica Evangelli Nuntiandi, de mil e novecentos e setenta e cinco, 
© História da Igreja na América Latina e no Brasil214
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
na qual o Pontífice analisa o que é evangelizar, qual é o conteúdo da evangeliza-
ção, quem são os destinatários da evangelização, quem são seus agentes e que 
espírito deve presidi-lo. Também nas palavras do então presidente do CELAM e 
um dos presidentes de Puebla: Base de toda a reflexão foi a exortação apostó-
lica Evangelli Nuntiandi, de Paulo VI, de oito de dezembro de mil e novecentos 
e setenta e cinco. Como Medellín foi uma releitura do Vaticano II para a América 
Latina e o Caribe, assim Puebla foi uma releitura da Evangelli Nuntiandi. Paulo 
VI convocou oficialmente a III Conferência no dia doze de dezembro de mil e no-
vecentos e setenta e sete, sob o lema: Evangelização no presente e no futuro da 
América Latina. O Pontífice assinalou que ela seria celebrada de doze a dezoito 
de outubro de mil e novecentos e setenta e oito, mas o seu falecimento e o breve 
pontificado de João Paulo I fizeram com que a Conferência fosse adiada. João 
Paulo II, recém-eleito, pediu que fosse adiada para que ele pudesse estudar e 
conhecer a nova Conferência do CELAM, até ter lugar de vinte e sete de janeiro 
a treze de fevereiro de mil e novecentos e setenta e nove.
A participação deu-se através de trezentos e cinqüenta e seis delegados, sendo 
previstos inicialmente duzentos e quarenta e nove, onde duzentos e vinte e um 
eram bispos. A presidência da Conferência de Puebla esteve a cargo do car-
deal Sebastião Baggio, prefeito da Congregação para os Bispos e presidente 
da Comissão Pontifícia para a América Latina; do cardeal Aloísio Lorscheider, 
arcebispo de Fortaleza – Brasil – presidente da Conferência Nacional dos Bispos 
do Brasil – e presidente do CELAM; e de Dom Alfonso López Trujillo, arcebispo 
de Medellín – Colômbia – e secretário-geral do CELAM. O papa João Paulo II 
inaugurou a III Conferência pessoalmente, com um discurso lido no Seminário 
Palafoxiano de Puebla. Essa foi a primeira viagem do Papa polonês à América 
e despertou interesse de multidões. Seu discurso inaugural ditaria a marcha dos 
trabalhos da reunião eclesial.
O documento conclusivo da Conferência de Puebla tem cinco partes, cujos títulos 
são: na primeira parte apresenta a visão pastoral da realidade latino-americana, 
como desafio inicial; a segunda parte é a secção doutrinária, onde está afirma-
da a identidade da Igreja, também da Igreja latino-americana, destacando-se o 
tema da evangelização da cultura; na terceira parte, intitulada A evangelização 
da Igreja da América Latina: comunhão e participação, acentuando os centros 
de comunhão e participação; na quarta parte, Igreja missionária a serviço da 
evangelização na América Latina, onde se encontram as opções preferenciais: 
pelos pobres, pelos jovens, a ação da Igreja junto aos construtores da sociedade 
pluralista na América Latina e a ação em prol da pessoa na sociedade nacional 
e internacional, e, por fim, a quinta parte, Sob o dinamismo do Espírito: opções 
pastorais constituem o agir. O documento pode ser compreendido a partir do 
método: ver, julgar e agir.
A primeira parte do documento abre com uma visão da realidade latino-ameri-
cana, que inicia com um olhar pelos cinco séculos de evangelização da Igreja:
Nosso radical substrato católico, com suas formas vitais de religiosidade 
vigente, foi estabelecido e dinamizado por uma imensa legião missionária 
de bispos, religiosos e leigos. Em primeiro plano, temos as realizações 
de nossos santos, como Turíbio de Mogrovejo, Rosa de Lima, Martinho 
de Porres, Pedro Claver, Luís Beltran e outros. Ensinam-nos todos que, 
superadas as debilidades e a covardia dos homens que os cercavam e 
às vezes os perseguiam, o Evangelho, em sua plenitude de graça e de 
amor, foi e pode ser vivido na América Latina como sinal da grandeza e da 
verdade de Deus.
215© O Concílio Vaticano II e a Reformulação Eclesial: de Medellín a Aparecida
A identidade e herança religiosa são constitutivas do caráter no povo latino-ame-
ricano. Também os bispos atentam para o fenômeno da desigualdade e da in-
justiça na América Latina, que gera uma situação de pobreza desumana em que 
vivem milhões de latino-americanos, fato visto como escândalo e contradição 
com o ser cristão.Na segunda parte das conclusões apresenta o conteúdo da 
evangelização e o que é evangelizar.
Propomos agora anunciar as verdades centrais da evangelização: Cristo, 
nossa esperança, está no meio de nós, como enviado do Pai, animando 
com seu Espírito a Igreja e oferecendo sua palavra e sua vida de hoje, 
para levá-lo à sua libertação integral. A Igreja, mistério de comunhão, povo 
de Deus a serviço dos homens, continua sendo evangelizada através dos 
tempos e levando a todos a Boa Nova. O homem, por sua dignidade de 
imagem de Deus, merece nosso compromisso em favor de sua liberdade 
e realização total em Cristo Jesus. Só em Cristo se revela a verdadeira 
grandeza e só nele é que se conhece, em plenitude, a realidade mais pro-
funda do homem.
Os bispos enfatizam que a evangelização dá a conhecer Jesus como Senhor 
que nos revela o Pai que nos comunica seu Espírito. E, no processo seguinte, 
a conversão que é a reconciliação e vida nova, leva-nos à comunhão com o Pai 
que nos torna filhos e irmãos.
A terceira parte das conclusões de Puebla refere-se à evangelização da América 
Latina, por meio da comunhão e participação. Aborda a situação dafamília latino-
-americana, das paróquias e pequenas comunidades, do ministério hierárquico, 
da vida consagrada, dos leigos, da pastoral vocacional. Como valores presentes 
na alma do povo latino-americano, são a liturgia, a oração particular e piedade 
popular. Também se destacam o testemunho como primeira opção pastoral, a 
catequese, que permite formar homens pessoalmente comprometidos com Cris-
to; e, no final, a educação e os meios de comunicação social como instrumentos 
imprescindíveis de promoção humana e auxílio à instauração do Reino de Deus. 
A saber, que a própria evangelização em nossos dias não pode prescindir, sem 
os meios de comunicação social.
Na quarta parte das conclusões de Puebla, que aborda o tema da Igreja missio-
nária a serviço da evangelização, os bispos afirmam que "os pobres e os jovens 
constituem, portanto, a riqueza e a esperança da Igreja da América Latina, e sua 
evangelização é, por conseguinte, prioritária".
Na opção preferencial pelos pobres apontada por Puebla, na perspectiva de Me-
dellín, será retomada a necessidade de conversão de toda a Igreja para uma 
opção preferencial pelos pobres, no intuito de sua integral libertação. A opção 
preferencial pelos jovens entende:
Uma linha pastoral global: desenvolver, de acordo com a pastoral diferen-
cial e orgânica, uma pastoral da juventude que leve em conta a realidade 
social dos jovens de nosso continente; atenda ao aprofundamento e cres-
cimento da fé para a comunhão com Deus e os homens; oriente a opção 
vocacional dos jovens; ofereça-lhes elementos para se converterem em 
fatores de transformação e lhes proporcione canais eficazes para a partici-
pação ativa na Igreja e na transformação da sociedade.
Na quinta parte das conclusões de Puebla enfatiza: Sob o dinamismo do Espírito: 
Opções Pastorais. Nesta ressaltam-se as opções pastorais numa Igreja sacra-
mento de comunhão, também uma Igreja servidora e missionária; a necessidade 
do planejamento pastoral; o homem novo; e, por fim, os sinais de esperança e 
© História da Igreja na América Latina e no Brasil216
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
de alegria. A respeito de uma Igreja missionária, apresentada pelo documento de 
Puebla, onde é destacado a evangelização. Um grande avanço missionário foi a 
consciência de que a missão evangelizadora é de todo o povo de Deus. Ao mes-
mo tempo, a dimensão e destino universal da evangelização exigem comunida-
des eclesiais vivas e evangelizadoras para atender às situações que mais preci-
sam de evangelização: situações permanentes, novas e particularmente difíceis.
Também o crescimento da consciência missionária e novas frentes de ação 
evangelizadoras são desencadeadas por Puebla.
A mudança do marco conceitual da missão estabelece uma relação teo-
lógico-pastoral entre os aspectos de evangelização: formar comunidades 
eclesiais vivas e dinâmicas, atender às situações missionárias que mais 
precisam e projetar a missão ad gentes. Assume compromissos universais 
de comunhão entre Igrejas locais, partilhando valores e experiências, bem 
como favorecendo o intercâmbio de pessoas e de bens, pois a missão é 
de todo o povo de Deus.
Assim, sob o aspecto doutrinário, os fios condutores do documento são a evan-
gelização, como tema central, a comunhão e participação como a meta, a liber-
tação, como o caminho pelo qual a evangelização impulsiona tudo e a todos em 
direção da meta, e os pobres, os sujeitos preferenciais.
As suas linhas de força e as grandes orientações são a realidade; o primado da 
evangelização; a constatação da violação dos direitos humanos no continente, 
seguida da reflexão antropológica e de uma fundamentação bíblica, que mostram 
a dignidade humana; a opção pelos pobres e por uma evangelização libertadora; 
a cultura e as culturas na América Latina e a sua evangelização; a necessidade 
de espiritualidade própria para a evangelização e evangelizadores da América 
Latina. Destacam-se a busca e a vontade de fazer da Igreja da América Latina 
uma Igreja identificada com a evangelização missionária, no sentido de entender 
a Igreja em estado de missão.
CONFERÊNCIA DE SANTO DOMINGO – 1992
A quarta Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano foi realizada em 
Santo Domingo – República Dominicana – em mil e novecentos e noventa e dois. 
O Papa João Paulo II convocou-a oficialmente no dia doze de dezembro de mil 
e novecentos e noventa, estabelecendo como tema "Nova Evangelização, Pro-
moção humana, Cultura cristã", sob o lema "Jesus Cristo ontem, hoje e sempre" 
(Hb 13, 8). O CELAM fora o encarregado de preparar a Conferência, tendo divul-
gado o documento de consulta em mil e novecentos e noventa e um. Este, após 
as contribuições das Igrejas locais, transformou-se no Documento de Trabalho, 
base das discussões dos bispos e convidados.
A Conferência de Santo Domingo foi celebrada de doze a vinte e oito de outubro 
de mil e novecentos e noventa e dois. Marcava-se no contexto da celebração 
dos quinhentos anos do início da evangelização no continente americano. Ela 
teria três objetivos: celebrar Jesus Cristo, ou seja, a fé e a mensagem do Senhor 
crucificado e ressuscitado; prosseguir e aprofundar as orientações de Medellín 
e Puebla; definir uma nova estratégia de evangelização para os próximos anos, 
respondendo aos desafios do tempo. Entre bispos, peritos e convidados parti-
ciparam cerca de trezentas pessoas. Destas, duzentas e trinta e quatro eram 
bispos com direito a voto.
A América Latina passara por diferentes mudanças desde mil e novecentos e 
setenta e nove. Havia-se alterado a situação política das repúblicas latino-ame-
217© O Concílio Vaticano II e a Reformulação Eclesial: de Medellín a Aparecida
ricanas, passando de ditaduras de distinto matiz a regimes políticos mais ou 
menos democráticos. Constatara-se a derrocada do socialismo e afirmava-se 
o neoliberalismo de cunho anglo-saxão. A violência do narcotráfico se estendia, 
em convivência com algumas guerrilhas. Nos anos de oitenta se acentuava a 
urbanização, evidenciando a miséria de grandes parcelas da população aglome-
rados nas grandes cidades. A quarta Conferência Geral do Episcopado Latino-
-americano quis traçar linhas fundamentais de um novo impulso evangelizador, 
que colocasse Cristo no coração e nos lábios, na ação e na vida de todos os 
latino-americanos.
O documento está dividido em três partes: na primeira, intitulada, Jesus Cristo, 
Evangelho do Pai entendido em dois aspectos: a profissão de fé e os quinhentos 
anos da Primeira Evangelização; a segunda, Jesus Cristo evangelizador vivo 
em sua Igreja, subdividido em três capítulos: a Nova Evangelização, a Promo-
ção Humana e a Cultura Cristã; a terceira parte apresenta Jesus Cristo, vida e 
esperança da América Latina e Caribe, através das linhas pastorais prioritárias. 
A segunda parte é mais desenvolvida, pois está composta por três capítulos, 
cada um deles abordando os três temas propostos pelo Santo Padre e debatidos 
durante os trabalhos da Conferência. A frase bíblica Jesus Cristo ontem, hoje e 
sempre (cf. Hb 13, 8) serviu de inspiração.
A primeira parte das conclusões de Santo Domingo intitula-se Jesus Cristo, Evan-
gelho do Pai. Abre com bela e profunda profissão de fé. Em seguida há um breve 
panorama dos quinhentos anos da primeira evangelização da América Latina.
A segunda parte, a mais longa das conclusões, redige-se sob o título Jesus Cris-
to, evangelizador vivo em sua Igreja. Apresenta elementos que serviram de base 
para concretizar a estratégia evangelizadora para os próximos anos. É apresen-
tado o termo nova evangelização.
Falar	de	Nova	Evangelização	é	reconhecer	que	existiu	uma	antiga	
ou	primeira.	Seria	impróprio	falar	de	nova	evangelização	de	tribos	
ou	povos	que	nunca	receberam	o	Evangelho.	Na	América	Latina,	
pode-se	falar	assim,	porque	aqui	se	realizou	uma	primeira	evange-
lização	nos	últimos	quinhentos	anos.	
A Nova Evangelização entende quatro âmbitos: a Igreja convocada à santidade; co-
munidades eclesiais vivas e dinâmicas; na unidade

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