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Direito Canonico I 3

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EA
D
3
O povo de Deus II
1. ObjetivOs
•	 Conhecer	 as	 obrigações	 e	 direitos	 dos	 fiéis	 leigos,	 bem	
como	dos	fiéis	clérigos.
•	 Compreender	a	normativa	relativa	às	associações	de	fiéis.
2. COnteúdOs
•	 Obrigações	e	direitos	dos	fiéis	leigos	(cânn.	224-231).
•	 Obrigações	e	direitos	dos	fiéis	clérigos	(cânn.	273-289).
•	 Associações	de	fiéis	em	geral	(298-329).
3. Orientações para O estudO da unidade
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade,	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:
© Direito Canônico I148
1)	 A	 reflexão	eclesiológica	do	Concílio	Vaticano	 II	 re-propôs	
a	 imagem	bíblica	do	povo	de	Deus	como	uma	expressão	
adequada	da	dimensão	comunitária	e	societária	da	Igreja.	
Tal	imagem	evidencia,	além	da	universalidade	da	redenção	
operada	por	Cristo,	o	caráter	pessoal	da	resposta	a	Deus,	fa-
zendo	emergir	a	condição	do	fiel	cristão	como	o	elemento	
básico	de	pertença	à	Igreja,	como	visto	na	unidade	anterior.
2)	 Partindo	 de	 tais	 premissas,	 os	 sucessivos	 documentos	
do	 Concílio	 desenvolveram	 as	 diversas	 situações	 nas	
quais	os	fiéis	poderão	se	encontrar	na	Igreja,	dedicando	
uma	atenção	especial	à	posição	que	nela	compete	ao	fiel	
leigo.	Portanto,	nesta	unidade,	nosso	foco	se	voltará,	em	
primeiro	lugar,	para	esta	figura,	procurando	apresentar	
suas	obrigações	e	direitos,	como,	também,	sua	presença	
nas	associações.	Nunca	é	demais	lembrar	o	que	o	decre-
to	conciliar	 sobre	o	apostolado	dos	 leigos	Apostolicam 
actuositatem (n.	2)	nos	diz	sobre	o	fiel	leigo:
3)	 Existe	na	Igreja	diversidade	de	serviços,	mas	unidade	de	
missão.	Aos	Apóstolos	e	a	seus	sucessores	foi	por	Cristo	
conferido	o	múnus	de,	em	nome	e	com	o	poder	d'Ele,	
ensinar,	santificar	e	reger.	Os	leigos,	por	sua	vez,	partici-
pantes	do	múnus	sacerdotal,	profético	e	régio	de	Cristo,	
compartilham	a	missão	de	todo	o	povo	de	Deus	na	Igre-
ja	 e	 no	mundo.	 Realizam	 verdadeiramente	 apostolado	
quando	se	dedicam	a	evangelizar	e	santificar	os	homens	
e	animar	e	aperfeiçoar	a	ordem	temporal	com	o	espírito	
do	Evangelho,	de	maneira	a	dar	com	a	sua	ação	neste	
campo	claro	testemunho	de	Cristo	e	a	ajudar	à	salvação	
dos	homens.	Já	que	é	realmente	característico	do	estado	
leigo	viver	em	meio	ao	mundo	e	aos	negócios	seculares,	
são	eles	chamados	por	Deus	para,	abrasados	no	espírito	
de	Cristo,	exercerem	o	apostolado	a	modo	de	fermento	
no	mundo.
4)	 Do	 texto	 conciliar	 acima	 reportado	 podemos	 deduzir	
que	a	missão	da	 Igreja	não	é	exclusiva	e	nem	se	 iden-
tifica	com	aquela	dos	clérigos,	dos	quais,	também,	nos	
ocuparemos	 nesta	 unidade,	 mas	 é	 própria	 de	 todo	 o	
povo	de	Deus,	leigos	incluídos.	Portanto,	o	fiel	leigo	pos-
sui	um	ministério	diferente	do	ministério	dos	clérigos	e	
Claretiano - Centro Universitário
149© U3 - O povo de Deus II
dos	consagrados	em	razão	de	sua	condição	secular,	isto	
é,	do	seu	estar	imerso	na	vida	do	mundo.	Sua	vocação	é	
procurar	que	o	Reino	de	Deus	aconteça	entre	nós,	ocu-
pando-se	das	coisas	temporais	e	ordenando-as	segundo	
os	desígnios	de	Deus.	O	leigo	deve	santificar	a	si	mesmo	
e	ao	mundo	em	que	vive,	isto	é,	na	família,	no	trabalho,	
nas	realidades	sociais.	Portanto,	após	o	Concílio	Vatica-
no	II,	o	leigo	não	é	mais	entendido	como	o	instrumento	
por	meio	do	qual	a	Hierarquia	da	Igreja	age	no	mundo,	
mas	é	considerado	como	a	própria	Igreja	no	mundo.	No	
estudo	desta	unidade,	você	perceberá	tudo	isso.	
5)	 Por	 fim,	 nesta	 unidade	 você	 também	 conhecerá	 um	
pouco	mais	de	perto	a	normativa	sobre	as	obrigações	e	
direitos	dos	ministros	sagrados	ou	clérigos.	Observando-
-a	globalmente,	percebe-se	que	este	estatuto	jurídico	é	
uma	 espécie	 de	 apanhado	 compacto	 e	 proporcionado	
de	elementos	tradicionais,	oportunamente	filtrados	por	
meio	do	magistério	do	Concílio	Vaticano	II,	juntamente	
com	aspectos	novos	emergentes	da	sensibilidade	e	das	
exigências	do	 tempo	presente.	Portanto,	a	 imagem	do	
clérigo	que	deriva	deste	estatuto	reflete	a	realidade	pós-
-Conciliar	e	a	Tradição	da	Igreja.
Vamos	lá,	então?
4. intrOduçãO À unidade
Na	unidade	anterior,	você	teve	a	oportunidade	de	conhecer	al-
guns	aspectos	ligados	à	compreensão	da	Igreja	como	povo	de	Deus,	
como,	também,	os	princípios	que	regem	sua	organização.	Além	disso,	
você	pôde	se	interar	a	respeito	de	uma	categoria	jurídica	muito	im-
portante	(o	fiel),	estudando	os	direitos	e	deveres	que	dela	derivam.
Vistas	 a	 imagem	 ideal	 do	 fiel	 e	 suas	 categorias	 essenciais,	
como	também	as	suas	obrigações	e	direitos,	trataremos,	agora,	da	
normativa	relativa	a	duas	categorias	de	fiéis:	leigos	e	clérigos,	pas-
sando,	deste	modo,	do	gênero	à	espécie.	Além	disso,	vamos	nos	
ocupar	das	associações	de	fiéis	em	geral	e	em	especial.
© Direito Canônico I150
No	final	da	unidade,	você	perceberá	que	no	âmbito	interno	
deste	"povo	de	Deus",	partindo	dos	princípios	da	igualdade	fun-
damental	e	da	diversidade	funcional,	caberá	às	pessoas	e	grupos	
deveres	e	direitos	específicos	que,	numa	perspectiva	de	comu-
nhão,	contribuem	para	que	a	Igreja	realize	a	missão	recebida	de	
Cristo.
5. OBRIGAÇÕES E DIREITOS DOS FIÉIS LEIGOS (CÂNN. 
224-231)
A	grande	maioria	do	povo	de	Deus	é	constituída	por	leigos.	
Iniciamos,	agora,	o	estudo	daqueles	deveres	e	direitos	específicos	
do	leigo.	Valeria	a	pena	acompanhá-lo	de	perto,	pois	há	muita	coi-
sa	interessante	a	ser	descoberta.
	Vamos	lá?
A	 identidade	 do	 leigo	 constrói-se	 na	 relação	 com	 Cristo	 e	
com	o	mundo.	
De	um	ponto	de	vista	jurídico,	o	perfil	canônico	do	leigo	é	de-
finido	não	somente	partindo	do	fato	de	que	ele	seja	um	fiel	cristão,	
mas,	 também,	 considerando	a	 sua	 condição	específica	que	para	
ser	realizada	não	necessita	do	sacramento	da	ordem.	Consequen-
temente,	o	 leigo	pode	ser	descrito	como	aquele	fiel	cristão	que,	
permanecendo	na	consagração	recebida	na	iniciação	cristã,	edifica	
o	Reino	de	Deus	na	Igreja	e	no	mundo	com	a	característica	pecu-
liar,	embora	não	exclusiva,	da	secularidade.	
Para uma maior compreensão das obrigações e direitos dos fiéis 
leigos, sugerimos que você leia o Capítulo IV da Lumen Gentium, 
n. 30-38, que é dedicado aos leigos. Uma noção de leigo e a índole 
secular do estado laical você encontrará no número 31. 
O	cânon	224	logo	de	início	nos	recorda	que	as	normas	relati-
vas	aos	fiéis	leigos	estão	divididas	em	três	grupos:
Claretiano - Centro Universitário
151© U3 - O povo de Deus II
•	 O	primeiro	é	constituído	por	aqueles	que	dizem	respeito	
aos	 deveres	 e	 direitos	 que	 são	 próprios	 de	 todos	 os	 fi-
éis	cristãos	(cânn.	208-223),	e	que	foram	expressamente	
chamados	em	causa	pelo	cân.	224.	Assim,	tais	deveres	e	
direitos	dos	fiéis	em	geral	aplicam-se	predominantemen-
te,	embora	não	exclusivamente,	aos	leigos,	pois	quando	
se	trata	dos	clérigos	e	consagrados,	os	mesmos	cânones	
foram	reformulados	e	adaptados	consideravelmente,	de-
vido	às	exigências	do	estado	clerical	e	da	vida	consagrada.
•	 O	segundo	grupo	é	constituído	por	outros	cânones	espa-
lhados	 pelo	 CIC,	 nos	 quais	 são	 estabelecidos	 deveres	 e	
direitos	relativos	aos	leigos.	A	indicação	de	tais	cânones	
é	muito	genérica.	Trata-se,	especialmente,	de	todas	aque-
las	disposições	que	regulam	a	participação	ou	habilitação	
dos	 leigos	ao	múnus	de	ensinar,	 santificar	e	governar	à	
qual	fazem	referência	os	cânn.	228-230.
•	 O	terceiro	grupo	compreende	os	cânones	225-231.	Temos	
de	admitir	que	não	é	muito	aquilo	que	o	legislador	indi-
cou	como	deveres	e	direitos	específicos	dos	leigos	nestes	
cânones,	mas,	sem	dúvida,	é	suficiente	para	nos	mostrar	
que	o	 leigo	não	pode	ser	definido	somente	em	referên-
cia	aos	clérigos	e	consagrados,	mas,	sim,	por	meio	da	sua	
identidade	específica.	
De	maneira	ilustrativa	e	sintética,	apresentaremos,	também	
aqui,	o	elenco	dos	deveres	e	direitos	dos	fiéis	leigos	contidos	nos	
cânn.	225-231,	com	um	breve	comentário	sobre	eles.	
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Para uma compreensão dos deveres e direitos dos fiéis leigos,sugerimos as 
obras em língua portuguesa: FELICIANI, G. Asbases do Direito da Igreja: co-
mentários ao Código de Direito Canônico. São Paulo: Paulinas, 1994, p. 155-
167.; GHIRLANDA, G. O direito na Igreja, mistério de comunhão. Compêndio de 
Direito Eclesial. Aparecida: Santuário, 2003, p.118-126.; MULLER, I. Direitos e 
deveres do Povo de Deus. Petrópolis: Vozes, 2004, p. 47-69; NEVES, A. O povo 
de Deus: renovação do Direito na Igreja. São Paulo: Loyola, 1987, p. 101-122.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
© Direito Canônico I152
Obrigação e direito de evangelização universal, principalmente, 
naquelas realidades nas quais o leigo é insubstituível (cân. 225 §1)
A	norma	desdobra-se,	afirmando	uma	obrigação	geral	e	um	
direito	genérico	ao	apostolado	em	qualquer	lugar,	precisando,	po-
rém,	que	a	obrigação	vincula	o	leigo,	especialmente,	naquelas	rea-
lidades	em	que	Cristo	não	pode	ser	conhecido	a	não	ser	por	inter-
médio	do	leigo.	Não	se	trata	de	uma	presença	apostólica	supletiva,	
mas	por	meio	do	leigo	é	a	mesma	Igreja	que	se	faz	presente.	Por	
razões	contingentes	e	ambientais,	a	obrigação	do	apostolado	pode	
cair	 predominantemente	ou	até	exclusivamente	 sobre	os	 leigos,	
tornando-se,	neste	caso,	uma	especial	obrigação.	
O	 fundamento	da	norma	encontra-se	 nos	 sacramentos	 do	
batismo	e	da	confirmação.	Trata-se,	portanto,	de	uma	capacitação	
ontológica	que	para	se	tornar	jurídica	não	necessita	de	qualquer	
concessão	da	Hierarquia.	
A	 obrigação	 prevista	 pela	 norma	 possui	 uma	 índole	 geral,	
tendo	um	caráter	mais	moral	que	jurídico	em	sentido	estrito,	pois	
juridicamente	o	apostolado	é	objeto	de	um	direito	de	 liberdade	
e,	portanto,	o	exercício	deste	direito	não	pode	ser	imposto	ou	im-
pedido.	Esta	afirmação	é	confirmada	pelo	fato	de	que	não	existe	
qualquer	 pena	 ou	 punição	 prevista	 pelo	 ordenamento	 canônico	
para	o	 leigo	que	não	faça	apostolado.	Portanto,	trata-se	de	uma	
obrigação	não	tutelada.	
O	direito	previsto	encontra	a	sua	raiz	na	participação	laical	
na	missão	 comum	da	 Igreja,	 sendo,	portanto,	um	direito	 funda-
mental	e	constitutivo	do	povo	de	Deus.	
Em	 relação	 à	 resposta	 que	 a	 Hierarquia	 deve	 dar	 a	 esta	
obrigação-direito,	devemos	 ressaltar	que	 compete	a	ela	 aquelas	
iniciativas	 finalizadas	a	 favorecer	o	cumprimento	da	obrigação	e	
o	exercício	deste	direito.	Seria,	por	exemplo,	o	caso	de	 fornecer	
princípios,	doutrina,	motivações	teológicas	sobre	o	apostolado;	de	
preparar	os	instrumentos	e	os	subsídios	que	tornem	o	apostolado	
efetivo;	de	moderar	aquelas	obras	apostólicas	inspirando-se	na	co-
Claretiano - Centro Universitário
153© U3 - O povo de Deus II
munhão	e	no	bem	comum;	de	vigiar	para	que	sejam	observados	a	
doutrina	e	o	direito	da	Igreja	que	regulam	a	ação	apostólica.
Quanto	 à	modalidade	 de	 apostolado	 prevista	 pela	 norma,	
podemos	afirmar	que	é	dupla:	individual	e	associada.
Para a forma individual, é importante se ater aos documentos do 
Concílio Vaticano II (LG 33; AA 2, 3 e 17; AG 21,36) e à exorta-
ção pós-sinodal Christifideles laici (n. 28). Para a forma associada, 
deve ser seguida a normativa dos cânn. 298-329 que disciplinam o 
direito associativo na Igreja. 
Quanto	ao	âmbito	do	apostolado,	evidentemente	que	abra-
ça	a	missão	da	 Igreja	na	sua	 inteireza.	O	 leigo	desenvolve	o	seu	
serviço	na	Igreja	e	na	vida	quotidiana.	Mas	o	legislador	achou	por	
bem	evidenciar	alguns	espaços	que	serão	mais	bem	precisados	pe-
los	cânones	posteriores.	
Obrigação específica de animar evangelicamente as realidades 
temporais (cân. 225 §2) 
Este	dever	constitui	o	aspecto	específico,	peculiar	e	inaliená-
vel	da	vocação	do	leigo.	Podemos	afirmar	que	o	papel	do	leigo	em	
contato	com	as	realidades	seculares,	mesmo	não	sendo	exclusivo	
e	excludente,	não	poderá	jamais	ser	plena	e	integralmente	desen-
volvido	por	um	clérigo	ou	consagrado.	
É	importante	sublinhar	que	o	sentido	da	expressão	"segundo	
a	própria	condição"	é	diferente	daquele	indicado	pelos	cânn.	208-
223.	Ali,	tratava-se	da	condição	eclesial	e	aqui	se	trata	da	condição	
secular,	mundana,	laical.	Se	a	primeira	é	tríplice,	a	segunda	não	é	
passível	de	descrição,	pois	as	possibilidades	são	inúmeras	(família,	
trabalho,	política,	associações	etc.).
Em	 relação	 à	 natureza	 do	 dever	 contido	 no	 cânon,	 temos	
que	afirmar	que	ela	é	moral	e	não	jurídica.	Trata-se	de	uma	obriga-
ção	evangélica	que	deve	permanecer	como	tal,	mas	que	no	texto	
assume	uma	índole	 jurídica	genérica.	O	motivo	é	que	o	 leigo	no	
© Direito Canônico I154
mundo	é	livre	e,	consequentemente,	esta	sua	liberdade	não	pode	
ser	constrangida	ou	forçada	por	algo	diferente	do	dever	evangélico	
de	proclamar	o	Reino.	Além	disso,	o	poder	da	Hierarquia	limita-se	
à	vida	interna	da	Igreja	e	ao	serviço	desta,	estando	condicionado	
ao	fim	salvífico	da	Igreja	e	a	quem	opta	por	acolher	o	Reino.	Fora	
deste	espaço,	compete	à	Hierarquia	incentivar	o	fiel	para	que	se	
interesse	e	atue	como	fermento	nas	realidades	temporais.
Obrigação específica (para os casados) de edificar o povo de deus 
por meio do matrimônio e da família (cân. 226 §1) 
A	norma	formula	um	dever	moral,	peculiar	e	específico	do	
leigo	casado	de	edificar	(qualitativa	e	quantitativamente)	o	povo	
de	Deus	de	dois	modos	distintos:	mediante	o	sacramento	do	ma-
trimônio	e	a	família.	
Quanto	ao	matrimônio,	ele	edifica	a	Igreja,	pois	o	sacramen-
to	configura	em	Cristo	os	cônjuges,	conferindo	uma	dimensão	so-
brenatural	aos	fins	do	matrimônio,	tornando-os	ministros	de	Cris-
to	enquanto	esposos.
Quanto	à família,	ela	edifica	a	Igreja,	enquanto	se	torna	se-
mente	de	novos	cristãos,	célula	fundamental	da	sociedade	cristã	e	
centro	de	irradiação	cristã.
Convém	observar	 que	 o	 dever	 formulado	 pela	 norma	não	
possui	uma	índole	jurídica	estritamente	falando,	pois	a	família	pos-
sui	uma	dupla	liberdade	que	impede	a	Igreja	de	transformar	esta	
obrigação	moral	em	realidade	 jurídica.	A	primeira	diz	 respeito	à	
liberdade	dos	pais	em	relação	à	geração	e	à	educação	dos	filhos	a	
ser	proclamada	seja	diante	do	Estado,	seja	diante	da	Igreja.	A	se-
gunda	diz	respeito	à	liberdade	dos	pais	e	filhos	entre	si	a	respeito	
da	própria	vida	religiosa.
Obrigação gravíssima (para os pais) de educar os filhos de modo 
cristão, segundo a doutrina da igreja (cân. 226 §2) 
A	norma	 contém	um	duplo	dever-direito.	O	primeiro	é	de	
direito	 natural,	 fundado	 na	 procriação,	 podendo	 ser	 exercitado	
Claretiano - Centro Universitário
155© U3 - O povo de Deus II
imediatamente	depois	e	a	causa	da	procriação	e	aplicando-se	a	to-
dos	os	pais,	e	não	somente	àqueles	cristãos.	O	segundo	é	peculiar-
mente	cristão,	sendo	causado	pelo	primeiro,	ou	seja,	se	os	pais	são	
obrigados	e	têm	o	direito	natural	a	educar	os	filhos,	os	pais	cristãos	
têm	o	dever	e	o	direito	de	educar	na	fé	cristã	aos	próprios	filhos,	
antes	e	acima	de	qualquer	outra	pessoa	ou	entidade	jurídica.	
O	 dever-direito	 natural	 tem	 como	 sujeito	 passivo	 os	 pais	
naturais	e	o	fundamento	deste	é	o	simples	fato	de	terem	gerado	
e	dado	a	vida	aos	filhos.	Era	 impossível	raciocinar	diversamente,	
uma	vez	que	a	Igreja	considera	que	o	pacto	matrimonial	é	orde-
nado	 pela	 sua	 natureza	 ao	 bem	 dos	 cônjuges,	 à	 procriação	 e	 à	
educação	da	prole	(cân.	1055	§1).	Estes	são	os	fins	constitutivos	
do	matrimônio	e,	por	esta	razão,	a	norma	estabelece	um	nexo	de	
causalidade	entre	procriação	e	educação,	subordinando	a	segunda	
à	primeira.	
Convém	destacar	que	a	educação	à	qual	se	refere	o	cânon	
deve	ser	entendida	em	sua	integralidade,	ou	seja,	trata-se	de	um	
desenvolvimento	harmônico	dos	dotes	físicos,	 intelectuais,	artís-
ticos,	morais	e	religiosos	dos	filhos,	ajudando-os	na	aquisição	do	
senso	de	responsabilidade,	do	reto	uso	da	liberdade,	da	participa-
ção	ativa	na	vida	social	e	eclesial	(cânn.	795	e	1136).
Outro	aspecto	relevante	é	a	aplicação	do	adjetivo	"gravíssi-
mo"	ao	dever.	Isso	porque	pertence	à	natureza	mesma	do	homem	
ser	educado;	porque	a	criança	tem	o	direito	à	vida,	ao	crescimento	
e	a	um	amadurecimento	integral	como	pessoa;	porque	osmales	
que	derivariam	da	não	educação	seriam	gravíssimos	para	a	própria	
pessoa,	para	a	sociedade	e	para	a	humanidade.	
Já	o	dever-direito	cristão	tem	como	sujeito	passivo	os	pais	
cristãos,	o	batizado,	vinculando	a	ambos	do	mesmo	modo.	O	fun-
damento	não	é	a	procriação,	mas	os	 sacramentos	do	batismo	e	
da	 confirmação,	 com	as	 relativas	 consequências	 em	nível	 de	 fé.	
A	educação	cristã,	respeitando	as	notas	relativas	à	educação	em	
geral,	impõe	uma	adesão	à	doutrina	da	Igreja	que	encontra	no	CIC	
© Direito Canônico I156
um	consistente	desenvolvimento,	como,	por	exemplo,	nos	cânn.	
774§2;	793;	797;	798;	835§4;	868	§1;	890;	914	e	1366. 
Liberdade condicionada nas realidades terrenas igual àquela que 
compete a qualquer cidadão (cân. 227) 
A	norma	contém	um	direito	e	dois	deveres	relativos	ao	exer-
cício	de	tal	direito:	
•	 o	direito	de	reconhecimento	da	liberdade	(incluída	aque-
la	religiosa	–	LG	36),	que,	por	direito	natural,	compete	a	
cada	cidadão	enquanto	pessoa	e	que	não	pode	ser	dimi-
nuído	pelo	batismo;	
•	 o	dever	prático	de	comportarem-se	como	cristãos	e	pra-
ticantes	do	Evangelho	no	exercício	de	tal	direito,	ou	seja,	
ser	um	cidadão	livre	que	com	espírito	evangélico	escuta	
a	doutrina	proposta	pelo	Magistério	da	Igreja	e	a	coloca	
em	prática;	
•	 o	dever	de	não	apresentar,	nas	questões	que	são	opiná-
veis,	as	opiniões	pessoais	como	sendo	doutrina	da	Igreja.	
O	alcance	do	direito	ao	reconhecimento	da	liberdade	nas	re-
alidades	temporais	é	tão	importante	e	amplo	que	compreende	o	
complementar	direito	à	liberdade	religiosa	(LG	36).	Tanto	um	quan-
to	outro	define	a	posição	jurídica	do	leigo	diante	da	sociedade	civil	
e	eclesiástica.	Não	se	trata	de	um	privilégio	ou	concessão,	mas	de	
reconhecimento	de	algo	que	pertence	à	dignidade	humana.	A	di-
ferença	entre	ambos	consiste	no	fato	de	que	o	direito	de	liberdade	
religiosa	é	formulado,	acima	de	tudo,	diante	do	Estado,	pois	nesta	
matéria	este	é	incompetente.	Em	contrapartida,	o	direito	de	liber-
dade	nas	realidades	terrenas	é	formulado,	acima	de	tudo,	diante	
da	Igreja,	pois	ela	nesta	matéria	também	é	incompetente.	
No	direito	público	externo,	a	liberdade	religiosa	é	a	base	so-
bre	 a	 qual	 se	 fundamenta	 as	 relações	 entre	 Igreja	 e	 Estado.	No	
direito	público	interno,	a	norma	reconhece	um	espaço	de	liberda-
de	que	o	leigo	possui	na	própria	atividade	e	autonomia	temporal.	
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157© U3 - O povo de Deus II
Este	espaço	encontra	um	limite	relativo	no	munus docendi	da	Hie-
rarquia	no	caso	de	magistério	infalível	(cân.	750	§1),	de	magistério	
definitivo	(cân.	750	§2)	e	de	magistério	autêntico	(cân.	752)	seja	
em	matéria	de	fé	ou	de	moral.	
Podemos	concluir	reafirmando	a	incompetência	da	Igreja	no	
que	diz	respeito	à	organização	e	ao	desenvolvimento	da	vida	tem-
poral.	A	consciência	desta	 incompetência	explica	o	cuidado	com	
o	qual	a	Igreja	prescreve	a	não	instrumentalização	de	seu	nome,	
proibindo	que	se	apresentem	como	doutrina	eclesial	matérias	opi-
náveis	e	relativas	à	ordem	temporal	ou	terrena.	
a participação do leigo no munus regendi (cân. 228) 
A	norma	reconhece	uma	radical	habilidade	global	do	leigo	(in-
dependentemente	da	idade,	do	sexo	ou	do	estado	de	vida,	exceto	
daquele	clerical),	do	ponto	de	vista	jurídico,	para	o	máximo	grau	de	
participação	ao	munus regendi próprio	da	Hierarquia.	Com	exatidão	
o	cânon	emprega	a	expressão	latina	habiles sunt,	pois	não	se	trata	
de	um	direito,	mas	sim	de	uma	capacidade	derivada	do	batismo	e	da	
confirmação.	Esta	encontra	um	limite	insuperável	no	sacramento	da	
ordem,	ou	seja,	os	leigos	são	incapazes	de	desempenharem	aqueles	
ofícios	ou	funções	para	os	quais	se	exige	como	requisito	"ad validita-
tem"	a	recepção	em	qualquer	grau	do	sacramento	da	ordem.	
Embora	a	norma	reconheça	uma	habilidade	global	do	leigo	
para	participar	do múnus	de	governo,	requer-se	dele	uma	idonei-
dade,	ou	 seja,	 um	conjunto	de	 requisitos	 e	qualidades	positivas	
explícita	ou	implicitamente	formuladas	em	relação	a	cada	ofício,	
para	que	possa	receber	validamente	um	ofício	na	Igreja.
Portanto,	do	ponto	de	vista	ontológico-sacramental,	todos	os	
leigos	são	hábeis	e	capazes,	potencialmente	falando,	para	participar	
da	função	de	governo;	mas,	do	ponto	de	vista	jurídico-positivo,	so-
mente	os	leigos	considerados	idôneos	poderão	de	fato	e	de	direito	
receber	os	ofícios	para	os	quais	demonstraram	idoneidade.	Portan-
to,	somente	a	idoneidade	poderá	transformar	em	realidade	prático-
-jurídica	a	habilitação	ou	a	capacidade	ontológico-sacramental.	
© Direito Canônico I158
Quantos	aos	ofícios	e	encargos	para	os	quais	os	 leigos	são	
habilitados,	a	norma	indica	os	seguintes:
1)	 Ofícios	eclesiásticos,	ou	seja,	qualquer	encargo	constitu-
ído	estavelmente	por	disposição	divina	ou	eclesiástica,	a	
ser	exercitado	para	uma	finalidade	espiritual.	As	obriga-
ções	e	direitos	próprios	de	cada	ofício	são	definidos	pelo	
próprio	direito	pelo	qual	o	ofício	é	constituído,	ou	pelo	
decreto	da	autoridade	competente	com	o	qual	é	simul-
taneamente	constituído	e	conferido	(cân.	145).			
 
 São excluídos aqueles ofícios para os quais somente são hábeis 
os que receberam o sacramento da Ordem, mas são incluídos os 
ofícios clericais para os quais o direito admite a cooperação dos 
leigos no seu exercício (cân. 129). 
2)	 Munera,	ou	seja,	encargos	e	funções	distintos	dos	ofícios	
anteriormente	indicados	pelas	seguintes	razões:	
•	 ou	porque	não	possuem	estabilidade;	
•	 ou	porque	não	exigem	o	sacramento	da	Ordem	para	
serem	ocupados;	
•	 ou	porque	foram	pensados	expressamente	pela	Hie-
rarquia	como	ofícios	ou	funções	a	serem	conferidos	
aos	leigos.
3)	 Peritos	ou	técnicos,	ou	seja,	aqueles	ofícios,	estáveis	ou	
não,	ocasionais	ou	permanentes,	que,	humanamente	fa-
lando	e	em	qualquer	grupo	ou	sociedade,	exigem	um	co-
nhecimento	científico,	além	de	prudência	e	honestidade	
de	espírito	e	vida.	
4)	 Conselheiros	ou	consultores,	ou	seja,	aqueles	que	aju-
dam	nas	decisões	de	governo,	atuando	nos	casos	previs-
tos	pelo	direito.
Portanto,	o	cânon	funda	e	acena	para	um	complexo	de	nor-
mas	que,	nos	vários	livros	do	CIC,	configuram	inúmeras	formas	de	
participação	do	leigo	nas	funções	peculiares	da	Hierarquia	relati-
vas	ao	exercício	do	poder	de	regime.	
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Vejamos algumas	dessas	normas:
1)	 moderador	 de	 associações	 públicas	 não	 clericais	 (cân.	
317	§3);	
2)	 os	cânones	que	tratam	dos	superiores	dos	Institutos	lai-
cais	(cân.	596	§§	1	e	3);	
3)	 chanceler	e	notário	(cân.	483	§2);
4)	 administrador	 e	 conselheiro	 econômico	 de	 qualquer	
pessoa	jurídica,	mesmo	pública	(cân.	1279	§2);
5)	 cooperação	no	Sínodo	diocesano	(cânn.	460;	463	§1,5º	
e	§	2	e	3);	
6)	 cooperação	nos	Conselhos	pastorais	(cânn.	512	e	536)	e	
nos	Conselhos	de	Economia	(cânn.	492;	494;	537);	
7)	 cooperação	nos	Concílios	particulares	(cânn.	443	§4);	
8)	 delegação	para	assistir	aos	matrimônios	(cân.	1112);	
9)	 juiz	instrutor	(cân.	1421	§2);	assessor	(cân.	1424);	
10)	auditor	(cân.	1428	§2);	
11)	promotor	de	justiça	e	defensor	do	vínculo	(cân.	1435).	
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Para que você possa compreender melhor a participação do leigo no munus 
regendi, sugerimos os seguintes artigos: GOMES, E. X. Capacidade dos leigos 
para assumirem ofícios eclesiásticos. In: Revista Brasileira de Direito Canônico. 
Rio de Janeiro: Instituto Superior de Direito Canônico, Ano XX, 2006, nº 51, p. 
11-24. VIVEIROS, P. T. Dimensão cooperativo-laical no ofício eclesiástico. In: 
Direito e Pastoral. Rio de Janeiro, Instituto Superior de Direito Canônico, Ano VI, 
1992, n. 23-24, p.3-25.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
a participação do leigo no munus docendi (cân. 229) 
Esta	norma	é	uma	especificação	dos	cânones	217	e	218	que	
regulam	os	deveres	e	os	direitos	dos	 fiéis	à	 formação	e	ao	ensi-
namento.	Trata-se	de	um	direito	laical	de	receber	uma	formação	
doutrinal	 (inclusive	 de	 alto	 nível),como	 também	 da	 habilidade	
para	ensinar	as	ciências	sagradas,	mediante	um	formal	mandato	
dado	pela	legítima	autoridade	eclesiástica.	
© Direito Canônico I160
As	motivações	do	cânon	se	encontram	no	§1:	 testemunho	
na	vida	da	doutrina	cristã;	anúncio	e,	se	necessário,	defesa	desta;	
melhor	participação	no	exercício	do	apostolado.
Quanto	ao	grau	necessário	de	conhecimento	da	doutrina,	o	
legislador	coloca	um	limite	humano	e	de	caráter	pedagógico	com-
preensível	e	realista:	deve	ser	um	grau	adequado	à	capacidade	e	
condição	 de	 cada	 um;	 de	 consequência,	 um	 grau	muito	 diverso	
que,	de	um	 lado,	pode	ser	mínimo,	como	aquele	 imprescindível	
para	uma	pessoa	que	 tenha	desenvolvido	minimamente	as	 suas	
capacidades	mentais,	espirituais	e	intelectuais,	mas	que,	de	outro	
lado,	pode	ser	máximo,	como	aquele	acenado	nos	parágrafos	2	e	3	
da	mesma	norma.	Portanto,	podemos	por	meio	da	catequese	para	
crianças	e	adultos	chegar	até	ao	mais	difícil	 tratado	de	teologia,	
direito	ou	exegese.	
A	diferença	entre	o	primeiro	e	o	segundo	parágrafo	está	no	
fato	de	que,	no	primeiro,	se	fala	de	dever	e	de	direito	simultanea-
mente;	já	no	segundo,	fala-se	somente	de	direito,	pois	não	se	pode	
exigir	de	todos	o	dever	de	chegar	a	um	conhecimento	superior	das	
ciências	sagradas.	
As	 ciências	 sagradas	 indicadas	pela	normativa	 são	aquelas	
que	tradicionalmente	e	atualmente,	em	razão	de	matéria,	são	in-
dicadas	como	tais,	encontrando-se	presente	no	Ordo Accademicus	
das	Universidades	Eclesiásticas	e	Pontifícias	 e	nas	demais	 Facul-
dades	de	Ciências	Religiosas,	à	norma	da	Constituição	Apostólica	
"Sapientia Cristiana"	sobre	os	estudos	eclesiásticos	superiores	e,	
também,	em	documentos	ulteriores	que	possam	surgir.	
O	§3	do	cânon	trata	da	habilitação	para	ensinar	as	ciências	
sagradas.	Para	ensiná-las	sem	qualquer	intervenção	da	Hierarquia,	
não	oficialmente,	mas	privadamente,	não	em	nome	da	Igreja,	mas	
em	nome	próprio,	é	suficiente	conhecê-las.	No	texto	trata-se	de	
ensinar	por	mandato,	ou	seja,	em	nome	da	Igreja	de	modo	que	é	
ela	que	se	vê	representada	no	ensinamento.	
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––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Convém recordar que o Livro III, disciplinando o exercício do Munus Docendi, 
atribui aos leigos outras possibilidades de participação, que são as seguintes: 
admissão para pregar na Igreja ou oratório, se a necessidade o exigir, em de-
terminadas circunstâncias, ou a utilidade o aconselhar, em casos particulares, 
de acordo com as prescrições da Conferência dos Bispos e salvo o cân. 767 §1 
(homilia reservada ao sacerdote ou diácono); colaboração com o pároco na for-
mação catequética dos adultos, dos jovens e das crianças (cân. 776); em âmbito 
missionário, sob a guia do missionário, colaboração como catequistas, como pro-
positores da doutrina evangélica, como organizadores dos exercícios litúrgicos e 
das obras de caridade (cân. 785). 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
a participação do leigo no munus sanctificandi (cân. 230)
A	norma	não	disciplina	toda	a	práxis	dos	ministérios	não	or-
denados,	mas,	somente,	a	habilitação	e	acesso	dos	leigos	aos	mi-
nistérios	instituídos	ou	estáveis	§1,	aos	ministérios	ocasionais	§2	e	
aos	ministérios	extraordinários	ou	supletivos	§3.	
Vamos	conhecer	melhor	esses	ministérios?
1)	 Ministérios	estáveis:	os	ministérios	estáveis	são	somente	
dois:	o	de	leitor	e	o	de	acólito.	Esta	estabilidade	não	de-
riva	da	natureza	ou	das	características	deste	ministério,	
mas,	sim,	do	fato	de	que	são	assumidos	pela	Hierarquia	
com	a	finalidade	de	garantir	a	continuidade	das	mesmas	
pessoas	físicas	nestas	funções	ministeriais	que,	na	práti-
ca,	são	esporádicas	e,	portanto,	instáveis:	
As competências do leitor são as seguintes: o anúncio da Palavra 
de Deus (cânn. 759 e 766), a animação litúrgica; a catequese e a 
preparação dos fiéis para os sacramentos. Já aquelas do acólito são 
as seguintes: o serviço do altar e da Igreja, antes, durante e depois 
das celebrações; a exposição e reposição do Ssmo. Sacramento 
em casos excepcionais (cân. 943); ser ministro extraordinário da 
distribuição da comunhão (cân. 910 §2) e do batismo (cân. 861 §1).
a)	 O	rito	litúrgico	marca	o	momento	jurídico	da	assun-
ção	e	da	estabilidade,	exalta	os	ministérios	e	recorda	
aos	interessados	o	dever	que	assumem	de	servir	pu-
blicamente	a	Igreja,	de	acordo	com	a	natureza	e	as	
funções	do	ministério	recebido.
© Direito Canônico I162
b)	 O	leitorado	e	o	acolitado,	além	de	serem	ministérios	
laicais,	podem	também	ser,	e	são	de	fato	e	de	direi-
to,	 uma	espécie	 de	passagem	prévia	 ao	diaconato	
permanente	 ou	 transeunte,	 sendo	 este	 última	 um	
"degrau"	para	o	presbiterato	(cân.	1035	§1).
c)	 Compete	às	Conferências	Episcopais	instituir	outros	
ministérios	 laicais,	 além	destes	 dois	 previstos	 pela	
legislação	canônica.	Mas,	na	prática,	isso	não	é	mui-
to	comum.		
2)	 Ministérios	 temporais	 ou	 ocasionais:	 são	 os	 mesmos	
elencados	anteriormente,	materialmente	considerados,	
e	mais	muitos	outros	 criados	de	 acordo	 com	o	direito	
(CIC,	 direito	 litúrgico	 universal	 e	 particular	 e	 normas	
emanas	pela	Conferência	Episcopal)	e	segundo	as	neces-
sidades	pastorais	e	a	capacidade	de	imaginação.	São	di-
ferentes	dos	ministérios	estáveis	pelas	seguintes	razões:	
a)	 são	conferidos	sem	qualquer	rito	litúrgico;	
b)	 são	conferidos	mediante	um	encargo	temporário	e	
menos	formal;	
c)	 são	menos	estáveis;
d)	 limitam-se	a	 algumas	 funções	de	um	determinado	
ministério.
3)	 Ministérios	extraordinários	ou	supletivos:	materialmente	
são	os	mesmos	elencados	pelo	§	1,	mas	com	diferença	de	
grau	e	de	estabilidade	e,	ainda,	outros	possíveis	em	cone-
xão	com	o	leitorado	ou	acolitado.	Outra	diferença	subs-
tancial	são	as	condições	que	devem	ser	observados	para	
a	institucionalização	destes	ministérios:	existência	de	uma	
necessidade	pastoral	e	falta	de	ministros,	tanto	ordinários	
quanto	laicais	aos	quais	se	referem	os	§	1	e	2	da	norma.	
Estes	dois	requisitos	devem	ocorrer	simultaneamente.
Por	fim,	convém	observar	que	as	mulheres	podem	desenvol-
ver	os	ministérios	de	leitor	e	acólito	desde	que	não	ocorra	de	modo	
estável	e	seja	realmente	necessário.	Alguns	justificam	este	limite	à	
assunção	das	mulheres	em	modo	estável	recordando	que	os	minis-
térios	instituídos	na	prática	atual	são	utilizados	como	passo	prévio	
ao	diaconato	e	 isto	poderia	 causar	problemas.	Na	prática,	 a	dife-
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rença	entre	ministério	estável	e	não	estável	desapareceu	e,	em	um	
futuro	não	muito	distante,	o	problema	anteriormente	indicado	po-
derá	ser	solucionado	sem	maiores	problemas,	pois	o	fundamento	
dos	ministérios	não	é	o	sacramento	da	ordem,	mas,	sim,	o	batismo.	
Obrigação de adquirir a devida formação para poder desempenhar 
dignamente os serviços da igreja (cân. 231 §1) 
Na	verdade,	temos	dois	deveres	que	competem	aos	leigos.	
São	eles:
•	 a	necessária	formação	prévia	e	concomitante	à	assunção	
dos	ministérios	e	ao	permanente	exercício	destes;	
•	 a	responsabilidade,	assiduidade	e	consciência	com	a	qual	
deverão	exercitá-lo.
Quanto	à	formação,	não	se	trata	somente	de	um	mero	co-
nhecimento	da	doutrina	cristã	ao	qual	todos	estão	obrigados	(cân.	
229	§1),	mas,	também,	de	um	conhecimento	suficiente	das	disci-
plinas	sagradas	que	estejam	em	conexão	com	o	tipo	de	ministério	
que	irão	desenvolver.
Quanto	à	 responsabilidade,	 assiduidade	e	 consciência,	 é	o	
mínimo	que	se	pode	esperar	daqueles	que	querem	cooperar	com	
a	"salus animarum".
direito à remuneração, previdência, seguro social e assistência à 
saúde (cân. 231 §2)
O	 código	 reconhece	 aos	ministros	 leigos	 que	 prestam	 um	
serviço	especial	à	Igreja,	exceto	aos	leitores	e	aos	acólitos,	dois	im-
portantes	direitos	que	competem	aos	trabalhadores	de	qualquer	
legislação	civil	dos	estados	modernos:	
•	 direito	a	uma	retribuição	econômica	adequada	e	decorosa;
•	 direito	à	seguridade	social.Tratando-se	de	dois	genuínos	direitos,	compete	à	hierarquia	
o	dever	de	observá-los.
© Direito Canônico I164
Os	sujeitos	passivos	beneficiários	deste	direito	são	todos	os	lei-
gos	que	desenvolvem	os	encargos	indicados	pelo	cân.	230,	com	exce-
ção	dos	que	foram	instituídos	estavelmente	como	leitores	e	acólitos.	
Deste	modo,	enquanto	um	encargo	temporário	e	não	estável	é	con-
siderado	pelo	legislador	como	merecedor	de	retribuição,	desde	que,	
à	norma	do	§1	do	mesmo	cânon,	exija	uma	dedicação	a	tempo	pleno	
e	o	serviço	seja	eclesiástico,	o	encargo	de	leitor	e	de	acólito	é	qualifi-
cado	como	uma	função	comum	(para	efeito	meramente	retributivo),	
presumivelmente	porque	o	seu	desenvolvimento	aparece	como	não	
diário	e	não	exige	uma	dedicação	a	tempo	pleno	e,	às	vezes,	coincide,	
inclusive,	com	o	dever	de	participar	das	celebrações.
São	excluídos	desta	norma	os	leigos	que,	a	título	meramente	
profissional	ou	de	trabalho,	prestam	um	serviço	a	entes	eclesiás-
ticos	mediante	a	estipulação	de	um	contrato	de	 trabalho.	Neste	
caso,	deve-se	aplicar	integralmente	o	direito	civil	em	vigor	do	lugar	
onde	se	desenvolve	a	prestação	de	serviço	e,	ainda,	o	cân.	1286.	
A	Hierarquia	deve	ter	presente	que	não	poderá	aplicar	as	leis	civis	
eventualmente	 contrárias	ao	direito	divino	e	aos	direitos	huma-
nos,	nem	aquelas	que	encontram	a	matéria	já	regulada	de	outro	
modo	pelo	direito	canônico	(cân.	22).
6. ObriGações e direitOs dOs FiÉis CLÉriGOs 
(CÂNN. 273-289)
Inicialmente	 é	 necessário	 esclarecer	 que	 por	ministros	 sa-
grados	ou	clérigos	se	entende	aqueles	que	são	constituídos	nas	or-
dens	do	episcopado	ou	do	presbiterato	ou	do	diaconato,	a	norma	
do	cân.	1009.	
Do	ponto	 de	 vista	 canônico,	 os	 termos	ministros	 sagrados	
ou	clérigos	são	equivalentes,	diferentemente	do	CIC	anterior,	que	
considerava	 como	 clérigos	 não	 somente	 os	 ministros	 sagrados,	
mas,	também,	aqueles	que	haviam	recebido	a	primeira	tonsura,	as	
ordens	menores	e	o	subdiaconato.	
Claretiano - Centro Universitário
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––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O Papa Paulo VI, com o motu próprio Ministeria quaedam (15-08-1972), restrin-
giu a noção de clérigo, identificando-a com aquela de ministro sagrado. A orien-
tação eclesiológica do Concílio Vaticano II era direcionada para uma participação 
mais ativa dos fiéis não ordenados na edificação do Corpo de Cristo, não em 
forma supletiva, mas como função própria da condição batismal. Portanto, a par-
tir da reforma realizada por Paulo VI e acolhida pelo CIC atual, alguém se torna 
clérigo com a ordenação diaconal.
–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 
Embora	o	CIC	trate	explicitamente	dos	clérigos	nos	cânones	
232-293,	devemos	observar	que	encontramos	em	outras	partes	do	
código	uma	abordagem	orgânica	do	mesmo	tema,	como	é	o	caso	
da	normativa	a	respeito	do	sacramento	da	ordem	no	contexto	do	
munus sanctificandi	(cânn.	1008-1054)	e	daquela	relativa	à	Consti-
tuição	Hierárquica	da	Igreja	(cânn.	330-572).	
O	fato	de	o	legislador	colocar	este	primeiro	e	mais	importan-
te	bloco	de	normas	relativas	ao	clero	 imediatamente	depois	dos	
fiéis	em	geral	e,	mais	imediatamente	ainda,	depois	dos	fiéis	leigos	
nos	demonstra,	 claramente,	que	o	estatuto	 jurídico	dos	 clérigos	
pode	ser	concebido	somente	como	uma	espécie	do	gênero	chris-
tifidelis (fiel)	e,	portanto,	ao	interno	e	na	prospectiva	deste	estado	
abstrato	e	basilar.	Portanto,	podemos	deduzir	que	o	legislador	na	
elaboração	da	normativa	quis	que	o	clérigo	fosse	e	aparecesse	aci-
ma	de	tudo	como	um	fiel,	assim	como	o	leigo	e	o	consagrado.
Neste	tópico,	vamos	nos	limitar	a	tratar	das	obrigações	e	di-
reitos	dos	clérigos,	deixando	de	lado	os	demais	temas	(formação,	
incardinação,	perda	do	estado	clerical).	
Para um estudo das obrigações e direitos dos fiéis clérigos, su-
gerimos que você consulte os seguintes textos: FELICIANI, G. 
As bases do Direito da Igreja: comentários ao Código de Direito 
Canônico. São Paulo: Paulinas, 1994, p. 152-155.; GHIRLANDA, 
G. O direito na Igreja, mistério de comunhão. Compêndio de Di-
reito Eclesial. Aparecida: Santuário, 2003, p.165-179.; MULLER, 
I. Direitos e deveres do Povo de Deus. Petrópolis: Vozes, 2004, 
p. 70-99.
© Direito Canônico I166
Observações preliminares 
A	normativa	relativa	às	obrigações	e	aos	direitos	dos	clérigos	
têm	por	 finalidade	 tutelar	 a	 identidade	 do	ministério	 sagrado	 e	
se	encontra	prevalentemente	 (não	exclusivamente)	nos	 cânones	
anteriormente	indicados.	Observando-a	globalmente,	percebe-se	
que	este	estatuto	jurídico	é	uma	espécie	de	apanhado	compacto	
e	proporcionado	de	elementos	tradicionais,	oportunamente	filtra-
dos	 por	meio	 do	magistério	 do	Concílio	 Vaticano	 II,	 juntamente	
com	aspectos	novos	emergentes	da	sensibilidade	e	das	exigências	
do	tempo	presente.	Portanto,	a	imagem	do	clérigo	que	deriva	des-
te	estatuto	reflete	a	realidade	pós-Conciliar	e	a	Tradição	da	Igreja.
	 Na	exposição	do	tema,	seguiremos	uma	ordem	diferente	
daquela	adotada	até	aqui.	Agruparemos	os	cânones	partindo	da	
seguinte	classificação:	deveres,	direitos,	proibições	e	recomenda-
ções.	Além	disso,	 iremos	nos	 valer	de	uma	ordem	diferente	da-
quela	que	 se	encontra	no	código,	pois	 julgamos	que	existe	uma	
hierarquia	de	valores	a	ser	observada.	
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
As proibições são uma espécie de "deveres negativos", pois impedem de fazer 
alguma coisa; as exortações ou recomendações são, do ponto de vista jurídico, 
uma espécie de "deveres doces ou débeis". São mais frequentes os deveres po-
sitivos que as proibições, mas, de um ponto de vista ético, todas estas variantes 
são importantes e devem ser tidas em consideração.
Por direito, neste contexto em que nos encontramos, devemos entender um es-
paço de liberdade que compete ao fiel em razão de sua condição eclesial a fim 
de poder realizá-la adequadamente e, nem tanto, uma reivindicação de ordem 
subjetiva no confronto da Hierarquia ou da comunidade. Trata-se de direitos que 
nascem em razão e em função do dever de ser fiel à própria vocação.
Por dever entende-se não uma imposição externa com motivações extrínsecas, 
mas, sim, uma exigência vinculante que encontra as raízes na condição de fi-
delidade, procurando, apenas, reforçá-la. Trata-se de aspectos que devem ser 
observados para que o "dever ser" torne-se uma realidade. Quanto às recomen-
dações, podemos dizer que não possuem um grande alcance jurídico, mesmo 
considerando que são úteis para o desenvolvimento do ministério e para o tes-
temunho pessoal do ministro. Poderiam ter um alcance jurídico se não fossem 
observadas de modo sistemático e por desprezo ao estado clerical e à Igreja.
Quanto aos deveres e proibições, eles são de natureza jurídica, uma vez que a 
não observância causa um dano à vida eclesial. Alguns destes deveres são pro-
tegidos penalmente, como o caso das atividades não convenientes (cân. 1392), 
do celibato e da castidade (cân. 1394) e da obrigação de residência (cân. 1396). 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Claretiano - Centro Universitário
167© U3 - O povo de Deus II
Clérigos
Procurar a santidade (cân. 276) 
A	procura	da	santidade	deve	ser	entendida	não	apenas	como	
uma	dimensão	interior,	mas,	também,	exterior,	no	sentido	que	exi-
ge	uma	postura	coerente	com	a	condição	de	clérigo.	O	fundamento	
deste	dever	está	radicado	na	consagração	a	Deus	mediante	o	sacra-
mento	da	ordem	que	destina	os	clérigos	para	o	serviço	do	povo	de	
Deus,	 tornando-os	dispensadores	dos	mistérios	divinos.	Os	meios	
que	contribuem	para	que	se	chegue	à	santidade	na	vivência	do	pró-
prio	estado	estão	elencados	no	§	2	do	cânon:	o	ministério	pastoral,	
a	Bíblia	e	a	Eucaristia,	a	 liturgia	das	horas,	os	retiros	espirituais,	a	
oração	mental,	o	sacramento	da	penitência,	a	devoção	mariana	etc.
Obediência ao romano pontífice e ao respectivo Ordinário (cân. 273)
Dentre	 os	 deveres	 conexos	 com	 o	 princípio	 de	 comunhão	
encontra-se	a	obrigação	de	umaespecial	reverência	e	obediência	
ao	Romano	Pontífice	e	ao	 respectivo	Ordinário	 (entendido	à	 luz	
do	cân.	134	§1).	Tal	obrigação	deve	ser	vivida	como	uma	obedi-
ência	ativa	no	diálogo,	 como	serviço	e	virtude,	que	possibilitem	
um	desempenho	fiel	da	missão	recebida.	Convém	destacar	que	a	
obediência	à	qual	se	refere	o	cânon	não	deve	ser	entendida	como	
uma	 realidade	apenas	moral,	mas,	 também,	 jurídica	em	 relação	
aos	atos	de	governo	e	de	magistério.	Nunca	é	demais	recordar	o	
quanto	dito	em	relação	ao	dever	de	obediência	que	vincula	a	to-
dos	os	fiéis	(cân.	212	§1).	
A obediência é devida, em primeiro lugar e de modo muito es-
pecial, ao Papa em razão da dimensão universal do presbiterato 
que está ligado à Igreja universal, com toda a ordem episcopal e 
com o Romano Pontífice na condição de cabeça e Ordinário de 
toda a Igreja. É devida, ainda, ao próprio Ordinário em razão da 
comunhão hierárquica que nasce do sacramento e da promessa 
feita no dia da ordenação, como, também, do vínculo gerado pela 
incardinação.
© Direito Canônico I168
vida fraterna e de colaboração (cân. 275) 
Os	clérigos	devem	criar	entre	si	um	clima	de	fraternidade,	de	ora-
ção	e	de	colaboração,	uma	vez	que	todos	participam	da	mesma	missão	
de	edificar	o	corpo	de	Cristo.	Assim,	cabe	ao	direito	particular	dar	nor-
mas	sobre	o	modo	de	fomentar	a	fraternidade	e	a	cooperação	entre	
os	clérigos.	Convém	destacar	que	o	cânon	obriga	os	clérigos	a	remover	
qualquer	postura	paternalista	ou	autoritária	em	relação	aos	leigos,	in-
centivando-os	a	reconhecer	e	promover	a	missão	que	os	leigos	exercem	
na	Igreja	e	no	mundo,	cada	um	conforme	a	parte	que	lhe	cabe.	
Quanto ao exercício da fraternidade presbiteral, ver o nº 8 do de-
creto conciliar Presbyterorum Ordinis (PO).
Continência perfeita e perpétua e celibato (cân. 277)
O	celibato	é	um	elemento	notável	e	importante	para	a	iden-
tidade	do	ministro	sagrado	na	Igreja	latina.	Os	cânones	conciliares,	
certamente	a	partir	do	cân.	33	do	Concílio	de	Elvira	(Espanha)	do	
ano	300	d.C.,	de	modo	constante	e	uniforme	sempre	evidenciaram	
o	caráter	de	conveniência	do	ministério	ordenado	celibatário,	não	
como	um	vínculo	essencial.	Além	disso,	quase	todos	os	Papas	re-
centes	dedicaram	encíclicas	ou	outros	documentos	ao	tema,	reafir-
mando	a	importância	e	valor	do	celibato.	Também	as	Conferências	
Episcopais	de	vários	países	aderiram	a	esta	postura	tradicional	da	
Igreja	quanto	ao	celibato.	Diante	disso,	o	cân.	277	limita-se	a	acolher	
uma	práxis	consolidada	há	muitos	séculos	e	legisla	a	partir	dela.
A afirmação de que o celibato não é uma exigência decorrente da 
natureza do sacerdócio se encontra no decreto Conciliar Presbyte-
rorum Ordinis (PO), nº 16: "A perfeita e perpétua continência pelo 
Reino dos céus, recomendada por Cristo Senhor, ao longo dos sé-
culos, e também nos nossos dias, voluntariamente abraçada e lou-
vadamente observada por não poucos fiéis, sempre foi considerada 
pela Igreja como afim à vida sacerdotal. Certamente essa não é 
uma exigência da natureza do sacerdócio, como resulta evidente da 
práxis da Igreja primitiva e da tradição das Igrejas orientais".
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169© U3 - O povo de Deus II
A	atual	disciplina	contida	no	cân.	277	sublinha	tanto	o	aspec-
to	carismático	("um	dom	especial	de	Deus"	-	PO	16)	quanto	o	as-
pecto	jurídico	(os	clérigos	são	obrigados	a	observar	a	continência	
perfeita	e	perpétua	por	causa	do	Reino	dos	céus;	por	isso	são	obri-
gados	 ao	 celibato),	 afirmando	 implicitamente	 a	 estreita	 relação	
entre	a	lei	e	o	carisma,	como	que	dizendo	que	quem	não	recebeu	
o	dom	não	pode	ser	garantido	somente	pela	lei.	
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
No número 29 da exortação apostólica Pastores dabo vobis de 25 de março de 
1992, o Papa João Paulo II reforça o caráter de dom da vocação à castidade 
celibatária:
Este sínodo novamente e com força afirma quanto a Igreja latina e 
alguns ritos orientais exigem, isto é, que o sacerdócio seja conferido 
somente àqueles homens que receberam de Deus o dom da voca-
ção à castidade celibatária (sem o prejuízo da tradição de algumas 
Igrejas orientais e dos casos particulares de clero casado prove-
niente de conversões ao catolicismo para o qual se dá exceção na 
encíclica de Paulo VI sobre o celibato sacerdotal (n. 42).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O	conteúdo	do	celibato	é	a	continência	perfeita	e	perpétua	
que	se	configura	negativamente	como	renúncia	ao	matrimônio	e,	
positivamente,	como	vida	vivida	de	maneira	casta.	A	finalidade	do	
celibato	é	teologal	e	ascética,	pois	consiste	em	aderir	a	Cristo	mais	
facilmente	com	o	coração	indiviso,	e	eclesial-pastoral,	pois,	assim,	
é	 possível	 se	 dedicar	mais	 livremente	 ao	 serviço	de	Deus	 e	 dos	
homens.
O	 §2	 do	 cânon	 adota	 uma	norma	 cautelar,	 convidando	 os	
clérigos	a	 terem	a	necessária	prudência	nas	 relações	de	 familia-
ridade	 com	aquelas	 pessoas	que	possam	 criar	 dificuldades	 para	
a	observância	da	continência	perfeita	e	do	celibato,	ou	então	que	
possam	gerar	escândalo	para	os	fiéis.	
Por	fim,	cabe	ao	Bispo	diocesano	estabelecer	normas	mais	
determinadas	e	julgar	sobre	a	observância	dessa	obrigação	em	ca-
sos	particulares.	
© Direito Canônico I170
posse e desenvolvimento fiel dos ofícios eclesiásticos de governo 
(cân. 274) 
O	§	1	do	cânon	274	afirma	que	apenas	os	clérigos	podem	
obter	os	ofícios	para	cujo	exercício	se	requer	poder	de	ordem	ou	
poder	de	regime	eclesiástico.	
Você	deve	estar	se	perguntando:	este	texto	deve	ser	 inter-
pretado	no	 sentido	de	que	os	 leigos	 não	podem	 ter	 acesso	 aos	
ofícios	ligados	ao	poder	de	regime?	
Como	 visto	 no	 cân.	 129	 §2,	 os	 leigos	 podem	 cooperar	 no	
exercício	do	poder	de	regime,	à	norma	do	direito.	Contudo,	certas	
funções	do	poder	de	regime	são	conexas	com	o	sacramento	da	or-
dem	e,	neste	sentido,	os	clérigos	são	insubstituíveis,	além,	é	claro,	
daquelas	funções	que	derivam	da	ordenação.	É	nesta	perspectiva	
que	deve	ser	interpretado	o	cân.	274	§1.	O	texto,	longe	de	ser	uma	
reserva	de	direito	subjetivo	exclusivo	dos	clérigos,	é,	ao	contrário,	
a	afirmação	de	uma	exclusiva	obrigação,	à	qual	os	clérigos	não	po-
dem	se	 subtrair,	devido	à	peculiaridade	de	 sua	condição	que	os	
habilita	a	desempenhar	certas	funções	que	não	são	delegáveis	a	
outros.	O	§2,	como	consequência	do	primeiro,	insiste	no	dever	que	
os	clérigos	têm	no	que	tange	à	assunção	e	ao	cumprimento	dos	
encargos	que	 lhes	 tiver	sido	confiados	pelo	Ordinário,	a	não	ser	
que	sejam	escusados	por	legítimo	impedimento.	Não	se	trata,	por-
tanto,	de	uma	obediência	passiva,	mas	ativa,	ou	seja,	consciente	e	
responsável.
residência na igreja particular (cân. 283 §1) 
Coligado	com	a	questão	dos	ofícios	e	encargos	a	serem	assu-
midos	pelos	clérigos	está	o	dever	de	residência,	estendido,	na	ver-
dade,	a	todos	os	clérigos,	pois,	segundo	a	norma,	não	podem	ficar	
ausentes	da	própria	diocese	por	tempo	razoável,	a	ser	determina-
do	pelo	direito	particular,	sem	a	licença,	ao	menos	presumida,	do	
próprio	Ordinário.	No	caso	em	que	não	haja	determinação	alguma	
por	parte	do	direito	particular,	por	analogia	se	poderia	eventual-
mente	recorrer	ao	que	foi	previsto	para	os	párocos	(cân.	533	§2).
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171© U3 - O povo de Deus II
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Antes do CIC de 1917, o dever de residência era diretamente ligado a um ofício. 
Na ausência de um benefício ou de um ofício residencial, não existia uma norma 
comum que exigisse a presença dos clérigos na diocese. Já o cân. 143 do CIC 
de 1917 estabeleceu que, mesmo no caso em que a obrigação de residência não 
estivesse ligada a um ofício ou benefício, os clérigos não deviam se ausentar de 
sua diocese sem a permissão, ao menos presumida, do próprio Ordinário. Esta 
norma foi retomada pelo cân. 283 §1 do CIC atual que praticamente a repete.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Formação permanente (cân. 279) 
O	texto	é	claro	e	dispensamaiores	comentários.	É	certo	que	
a	necessidade	de	um	competente	e	eficaz	exercício	do	ministério	
pastoral	confere	aos	clérigos	a	obrigação	de	buscar	uma	formação	
permanente	e	uma	constante	atualização,	mediante	uma	série	de	
iniciativas	que	aparecem	exemplificadas	no	 cânon,	mas	não	 são	
taxativas.	
O hábito eclesiástico (cân. 284) 
O	presente	cânon	trata	da	questão	relativa	ao	hábito	eclesi-
ástico. A	fórmula	escolhida	pelo	cân.	284	do	CIC	atual	é	bem	geral:	
declara	que	os	clérigos	devem	usar	hábito	eclesiástico	convenien-
te,	de	acordo	com	as	normas	dadas	pela	Conferência	dos	Bispos	e	
com	os	legítimos	costumes	locais.	Em	relação	a	isso,	aqui	no	Brasil,	
a	CNBB	estabeleceu	o	seguinte:	"usem	os	clérigos	um	traje	eclesi-
ástico	digno	e	simples,	de	preferência	o	"clergyman"	ou	"batina".	
Note-se	que	a	expressão	"de	preferência"	indica	que	existem	ou-
tras	opções,	pois,	como	diz	o	texto,	também	é	necessário	levar	em	
conta	os	legítimos	costumes	locais.	
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Durante os primeiros cinco séculos os clérigos não se distinguiam dos leigos no 
que tange às vestes. Segundo a tese tradicional, após as invasões bárbaras, en-
quanto os leigos começaram a usar as roupas segundo o estilo das populações 
do norte, os clérigos teriam continuado a usar as roupas segundo o estilo roma-
no. Graciano em seu decreto recorda que os clérigos não deviam usar roupas 
luxuosas e o Concílio Lateranense de 1215 detalha melhor em que consistiria 
na prática evitar roupas luxuosas. Já no período posterior ao Concílio de Trento 
os sínodos começam a insistir sobre o uso da veste talar de cor preta que, aos 
© Direito Canônico I172
poucos, se tornou o hábito característico dos clérigos, particularmente nos paí-
ses latinos. Mas tal práxis nunca foi uniforme em todos os países. O cân. 136 do 
CIC de 1917 determinava que os clérigos usassem um hábito eclesiástico conve-
niente, segundo os costumes dos lugares e as prescrições do Ordinário do lugar. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Os direitos dos clérigos 
Associação (cân. 278)
O	direito	de	associação,	sancionado	para	todos	os	fiéis	(cân.	
215),	é	reconhecido	e	garantido	também	aos	clérigos	pelo	cân.	278	
§1,	tendo	se	inspirado	no	decreto	conciliar	PO	8.	Note-se	que	o	câ-
non	não	coloca	limite	algum	aos	associados	que,	portanto,	podem	
ser	clérigos	e	leigos	(homens	e	mulheres).	Limitações	existem	para	
os	clérigos	e	em	relação	aos	 fins,	pois	estes	devem	ser	absoluta	
e	 exclusivamente	 conformes	 o	 estado	 clerical.	 Portanto,	 devem	
estar	coerentemente	relacionados	com	a	vida	e	o	ministério	dos	
clérigos,	dando	a	este	ministério	sustento	e	qualificação.	
O	§2	exorta	os	clérigos	seculares	a	darem	importância,	espe-
cialmente,	às	associações	que,	tendo	os	estatutos	aprovados	pela	
autoridade	competente,	por	uma	organização	de	vida	adequada	
e	convenientemente	aprovada,	e	pela	ajuda	fraterna,	são	de	estí-
mulo	à	santidade	no	exercício	do	ministério	e	favoreçam	a	união	
dos	clérigos	entre	si	e	com	o	Bispo.	Em	outros	termos,	o	direito	de	
associação,	embora	reconhecido	como	um	direito	nativo,	é	con-
cebido	em	uma	perspectiva	subsidiária	e	instrumental	em	relação	
à	 globalidade	 do	 ser	 e	 agir	 do	ministro	 sagrado.	 Este	 aspecto	 é	
importante	porque	é	por	meio	dele	que	se	justificaria	e	motivaria	
uma	eventual	intervenção	da	autoridade	eclesiástica	sobre	a	confi-
guração	das	associações	dos	clérigos	em	fase	de	reconhecimento,	
como,	também,	eventuais	restrições	em	relação	à	adesão	dos	clé-
rigos	a	determinadas	associações.	
Em	 relação	à	natureza	 jurídica	das	 associações	de	 clérigos	
ordinariamente	se	tratará	de	associações	privadas,	enquanto	origi-
Claretiano - Centro Universitário
173© U3 - O povo de Deus II
nadas	de	um	livre	acordo	de	seus	membros	(cân.	299	§§1-2).	Não	
se	prevê	aqui,	mas,	também,	não	se	exclui,	a	intervenção	da	auto-
ridade	eclesiástica	na	fundação	destas	associações,	como	seria	o	
caso	se	tratasse	de	associações	públicas.	
O conceito de associação de fiéis e a distinção entre associações 
públicas e privadas veremos mais adiante. As associações de clé-
rigos regem-se pelas normas para as associações de fiéis conti-
das nos cânn. 298-326.
É	 perfeitamente	 possível	 legitimar	 associações	 de	 clérigos	
fundadas	e	erigidas	segundo	as	leis	civis.	São,	ao	contrário,	excluí-
das	aquelas	associações,	erigidas	ou	não	por	clérigos,	que	tenham	
por	 finalidade	ou	atividade	algo	que	resulte	 incompatível	 com	a	
condição	de	clérigo	ou	com	o	cumprimento	dos	ofícios	inerentes	
a	tal	condição.	
Em relação às associações de clérigos proibidas (especialmente 
aquelas que perseguem fins atinentes à política, que maquinam 
contra a Igreja ou que pretendem reunir os presbíteros e diáconos 
em uma espécie de "sindicato"), ver a declaração Quidam Episcopi 
da Congregação para o Clero, de 08 de março de 1982, AAS 74 
(1982), p. 642-645.
remuneração e assistência social (cân. 281) 
O	cân.	281	§1	trata	da	remuneração	dos	clérigos	que	se	dedi-
cam	ao	ministério	eclesiástico,	afirmando	que	estes	merecem	uma	
remuneração	condizente	com	sua	condição,	levando-se	em	conta	
seja	a	natureza	do	próprio	ofício,	 sejam	as	condições	de	 lugar	e	
tempo,	de	modo	que	com	ela	possam	prover	às	necessidades	de	
sua	 vida	 e	 também	a	 justa	 retribuição	daqueles	 de	 cujo	 serviço	
necessitam.	Uma	aplicação	concreta	desta	norma	encontra-se	no	
cân.	1274	§1,	que	trata	do	instituto	diocesano	para	o	sustento	dos	
clérigos.
© Direito Canônico I174
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Os parâmetros indicados pelo cânon, que servirão para quantificar o valor desta 
remuneração (natureza do ofício, condições de lugar e tempo, necessidades da 
vida, justa retribuição daqueles de cujo serviço os clérigos necessitam), são bem 
razoáveis, embora não sejam de fácil aplicação. De qualquer forma, tais critérios 
servem para evitar um nivelamento incompreensível e injustificável entre todos, 
possibilitando a criação de mecanismos elásticos que possam ser adaptados às 
diversas situações. Convém ainda ter presente que tal remuneração jamais deve 
ser entendida como um salário nos termos na legislação trabalhista, ou seja, 
como o pagamento de uma prestação em uma relação de patrão-empregado, 
mas, sim, como uma justa recompensa que se fundamenta no direito de prover 
de maneira digna e sóbria às próprias necessidades e a dos colaboradores.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Conexa	com	o	direito	a	uma	remuneração	está	a	garantia	de	
um	sistema	previdenciário,	de	modo	que	atenda	convenientemen-
te	às	necessidades	dos	 clérigos	em	caso	de	enfermidade,	 invali-
dez	ou	velhice.	No	Brasil,	os	clérigos	que	não	estiverem	filiados	à	
previdência	social	por	outro	título	devem	fazê-lo	na	condição	de	
autônomos.
O	§3	trata	da	remuneração	dos	diáconos	casados.	Aqueles	
que	se	dedicam	em	tempo	integral	ao	ministério	eclesiástico	têm	
direito	a	uma	remuneração	com	que	possam	prover	ao	sustento	
seu	e	da	própria	família;	os	que	receberem	remuneração	em	razão	
de	profissão	civil,	que	exercem	ou	exerceram,	devem	atender	às	
necessidades	próprias	e	de	sua	família	com	tais	rendas.
Férias (cân. 283 §2) 
Todos	os	clérigos	têm	direito	de	gozar	anualmente	do	devido	
e	suficiente	período	de	férias,	determinado	pelo	direito	universal	
e	particular.	Este	tempo	está	fixado	pelo	direito	universal	para	os	
bispos	(cân.	395)	e	para	os	párocos	(cân.	533)	e	consiste	em	um	
mês,	contínuo	ou	interrupto,	sem	computar	nele	os	dias	dedicados	
ao	retiro	anual.	Coincide,	portanto,	com	a	legislação	civil	brasileira.	
O	que	dissemos	vale,	também,	para	os	bispos	coadjutores	e	auxi-
liares	(cân.	410)	e	para	os	vigários	paroquiais	(cân.	550	§3).	Para	os	
demais	é	preciso	recorrer	ao	direito	particular.	
Claretiano - Centro Universitário
175© U3 - O povo de Deus II
isenções (cân. 289 §2)
É	direito	dos	clérigos	fazer	uso	legítimo	das	isenções	de	en-
cargos	e	cargos	públicos	civis,	 impróprios	ao	estado	clerical,que	
lhes	forem	concedidas	pelas	leis,	convênios	ou	costumes,	salvo	de-
cisão	contrária	do	próprio	Ordinário	em	casos	particulares.
as proibições 
Atividade não conveniente (cân. 285) 
Em	geral,	aos	clérigos	é	vetado	tudo	aquilo	que	não	é	con-
veniente	ou	é	impróprio	ao	seu	estado	de	vida.	O	teor	desta	dis-
posição	é	propositada	e	sabiamente	amplo	para	dar	espaço	tanto	
às	determinações	do	direito	particular,	quanto	à	prudência	e	ao	
bom	 senso	 dos	 próprios	 clérigos.	 Caberá,	 especialmente,	 a	 eles	
ponderar	bem	cada	coisa,	julgando,	nas	diversas	situações,	o	que	
é	oportuno	evitar,	mesmo	se	não	exista	uma	prescrição	normativa	
para	determinadas	situações.	
No	cân.	285,	o	legislador	quis	explicitar	algumas	proibições	
relativas	a	determinadas	atividades	que	considera	inconvenientes	
ou	impróprias	ao	estado	clerical:
1)	 os	clérigos	não	podem	assumir	cargos	públicos	que	im-
plicam	participação	no	exercício	do	poder	civil	(legislati-
vo,	executivo	e	judiciário);	
2)	 os	clérigos	não	podem,	sem	a	devida	 licença,	adminis-
trar	bens	pertencentes	a	leigos	e	exercer	ofícios	secula-
res	que	implicam	na	obrigação	de	prestar	contas;
3)	 os	clérigos,	sem	antes	consultar	o	próprio	Ordinário,	não	
podem,	 também,	 prestar	 fiança,	 mesmo	 com	 os	 pró-
prios	bens;
4)	 por	 fim,	 não	 devem	 assinar	 obrigações,	 com	 as	 quais	
se	assume	compromisso	de	pagamento,	sem	nenhuma	
causa	especificada.
© Direito Canônico I176
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Como você pode notar, os clérigos não podem ser membros do congresso na-
cional, das assembleias legislativas, das câmaras municipais, não podem ser 
presidente, ministros de Estado, governadores, prefeitos etc. Não podem ser ma-
gistrados ou membros das diversas cortes. Tal proibição não prevê qualquer tipo 
de exceção, mas, existindo uma adequada motivação, é sempre possível aplicar 
o quanto dispõe o cân. 87 §2, que reconhece ao bispo o poder de dispensar va-
lidamente os próprios súditos das leis disciplinares universais. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
atividade permitida somente com licença (cân. 286) 
Neste	cânon,	o	legislador	proíbe	que	os	clérigos	exerçam,	por	si	
ou	por	outros,	para	utilidade	própria	ou	alheia,	negociação	ou	comér-
cio,	salvo	licença	da	legítima	autoridade	eclesiástica,	que	poderá	ser	o	
Ordinário	próprio	ou,	então,	do	lugar	onde	tem	sede	a	atividade	para	a	
qual	se	solicita	a	licença	que,	caso	seja	negada,	impedirá	tal	atividade.
Para uma compreensão do significado do termo "negociação" e 
"comércio", sugerimos que você leia o comentário do Pe. Jesus 
Hortal, que se encontra na nota de rodapé do cân. 286. Caberá a 
você se inteirar do texto. Cf. CÓDIGO de Direito Canônico. Pro-
mulgado por João Paulo II, Papa. São Paulo: Loyola, 1983.
Militância política e sindical (cân. 287 §2) 
Também	 a	 militância	 ativa,	 ou	 seja,	 a	 adesão	 explícita	 e	
oficial	a	um	partido	político	ou,	mesmo	a	assunção	de	cargos	de	
responsabilidade,	mesmo	colegial,	no	partido	político,	como,	tam-
bém,	a	direção	de	associações	sindicais	são	proibidas.	O	legislador	
prevê	duas	exceções	que	excluem	o	interesse	e	preferências	pes-
soais,	cabendo	à	autoridade	competente,	Ordinário	próprio	ou	do	
lugar	onde	será	desenvolvida	a	atividade,	avaliá-las:	a	defesa	dos	
direitos	da	Igreja	ou	a	promoção	do	bem	comum.	
Quanto ao comentário do cân. 287 §2, ver, também, a nota relativa 
ao cânon elaborada pelo Pe. Jesus Hortal. Caberá a você se in-
teirar do texto. Cf. CÓDIGO de Direito Canônico. Promulgado por 
João Paulo II, Papa. São Paulo: Loyola, 1983. 
Claretiano - Centro Universitário
177© U3 - O povo de Deus II
prestação de serviço militar voluntário (cân. 289 §1) 
A	última	proibição	explícita	para	os	clérigos	e	para	os	candi-
datos	às	ordens	sacras	diz	 respeito	ao	serviço	militar	voluntário,	
mesmo	se	a	motivação	da	não	conveniência	de	tal	atividade	com	
a	condição	de	ministro	sagrado	pudesse	ter	sido	colocada	no	con-
teúdo	do	cân.	285	§1.	O	cânon	limita-se	a	proibir	o	serviço	militar	
voluntário,	exigindo	uma	 licença	do	Ordinário	próprio	do	clérigo	
que	queira	se	oferecer	para	isso.
as recomendações
Embora	as	recomendações	não	possuam	um	grande	alcance	
jurídico	(deveres	dóceis),	são	muito	úteis	para	o	desenvolvimento	
do	ministério	e	para	o	testemunho	pessoal	do	ministro	ordenado.	
promoção da paz e da concórdia (cân. 287 §1) 
O	§1	do	cân.	287	destaca	o	dever	dos	clérigos	de	promover	
sempre	e	o	mais	possível	a	manutenção	entre	os	homens	da	paz	
e	da	concórdia	fundamentada	na	justiça,	pois,	sem	esta,	é	muito	
difícil	se	alcançar	aquela.	
vida simples (cân. 282 §1) 
O	legislador	aconselha	os	clérigos	a	buscarem	uma	vida	sim-
ples,	 isto	é,	 livre	de	qualquer	 tipo	de	apego	e	 caracterizada	por	
escolhas	essenciais,	sem	desperdícios	e	sem	vaidade,	sem	o	culto	
à	aparência	e	ancorada	nos	valores	evangélicos,	como	é	o	caso	da	
pobreza.	
discrição no uso dos bens econômicos (cân. 282 §2)
O	 §2	 do	 cânon	 282	 inspira-se	 no	 decreto	 conciliar	 PO	 17,	
que,	por	sua	vez,	está	ancorado	em	uma	antiga	tradição	canônica	
segundo	a	qual	os	bens	eclesiásticos	eram	destinados	em	parte	
aos	pobres.	Considerava-se	que	o	titular	de	um	benefício	eclesiás-
© Direito Canônico I178
tico	era	obrigado,	após	ter	atendido	às	suas	necessidades,	a	utili-
zar	do	seu	benefício	para	as	causas	pias	e	para	os	pobres.
vida comum (cân. 280) 
Ancorado	 em	 uma	 sólida	 tradição,	 o	 cân.	 280	 recomenda	
vivamente	 aos	 clérigos	 certa	 prática	 de	 vida	 comunitária,	 acon-
selhando	que	ela	seja	conservada	nos	lugares	onde	esta	existe.	É	
preciso	admitir	que	a	vida	comunitária	pode	sustentar	a	vida	es-
piritual,	favorecer	a	colaboração	ministerial,	aliviar	as	dificuldades	
da	solidão.	Se,	por	acaso,	fosse	impossível	ou	muito	difícil	cumprir	
esta	recomendação,	seria	conveniente	que,	ao	menos,	os	clérigos	
partilhassem	a	mesa	comum	e	alguns	encontros	periódicos	e	fre-
quentes.	
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Na antiguidade encontramos casos ilustres de vida comum do bispo com alguns 
clérigos, por exemplo, Santo Agostinho. Este último se refere ao ideal presente 
nos Atos dos Apóstolos no qual tudo era colocado em comum. A época carolíngia 
conheceu um movimento favorável à vida comum do clero, particularmente para 
o clero das catedrais e das Igrejas maiores, os "canônicos, influenciada pelo 
modelo monástico. Tratava-se de uma vida comum que comportava, inclusive, 
a partilha de bens. No ano 816, o imperador Ludovico publica algumas regras 
para promover a vida comum dos "canônicos". As recomendações à vida comum 
dos clérigos aparecem, também, durante os séculos 11 e 12, sem que se insista, 
mais, na partilha comum dos bens. O cân. 134 do CIC de 1917 declarava que o 
costume da vida comum no clero deveria ser louvado e conservado onde ainda 
estava em vigor. Uma recomendação aos clérigos para que tenham vida em co-
mum encontramos, ainda, no decreto Presbyterorum Ordinis nº 8. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
estudo pessoal (cân. 279 §1) 
Ao	lado	do	dever	da	formação	permanente	e	de	uma	atuali-
zação	cultural	e	pastoral	de	acordo	com	as	modalidades	propostas	
nas	várias	Igrejas	particulares,	o	legislador	recomenda	aqui	o	es-
tudo	pessoal	e	metódico	para	que	os	clérigos	estejam	em	sinto-
nia	com	o	progresso	das	ciências	sagradas,	para	que	enriqueçam	
a	própria	cultura	teológica,	para	que	se	renovem	espiritual	e	pas-
toralmente.
Claretiano - Centro Universitário
179© U3 - O povo de Deus II
Concluímos	a	parte	relativa	à	exposição	das	obrigações	e	di-
reitos	dos	fiéis	clérigos.	É	importante	que	todos	os	fiéis,	sabedores	
do	que	cabe	a	cada	um	na	Igreja,	se	empenhem	para	que	em	cada	
comunidade	 eclesial	 as	 pessoas	 possam	 viver	 em	 conformidade	
com	a	identidade	que	possuem.	Esta	é	a	melhor	maneira	de	tute-
lar	cada	estado	de	vida	na	Igreja.
7. as assOCiações de FiÉis 
Como	você	pode	notar,	na	Igreja	muitos	fiéis	participam	de	
alguma	associação,	embora,muito	provavelmente,	desconheça	as	
implicações	canônicas	disso.	Saiba	você	que	as	associações	de	fiéis	
foi	um	dos	temas	que	sofreu	no	novo	código	uma	profunda	trans-
formação.	
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O CIC de 1917, fiel à concepção eclesiológica que privilegiava o papel da Hie-
rarquia e ignorava de fato a categoria do fiel cristão com obrigações e direitos 
derivantes do batismo, mesmo dedicando dois títulos às associações canônicas 
(cânn. 684-725) na parte reservada aos leigos, reconhecia como eclesiásticas 
somente aquelas associações erigidas e aprovadas pela autoridade eclesiástica 
(cân. 686 §1). Se, neste caso, a eclesialidade equivalia a "estar na Igreja" era 
necessário reconhecer que as associações surgidas apenas por iniciativa dos 
fiéis e não aprovadas pela autoridade eclesiástica era como se não existissem 
para o ordenamento canônico.
Esta rígida configuração das associações presente no código pio-beneditino foi 
colocada em discussão em 1920 por uma resposta da Sagrada Congregação do 
Concílio. Nela se afirmava a distinção entre associações eclesiásticas e associa-
ções laicais e, observadas certas condições, reconhecia-se a essas últimas for-
mas de eclesialidade que eram completamente ignoradas pelo CIC promulgado 
três anos antes. 
O Concílio Vaticano II desenvolveu o tema e afirmou o duplo princípio do direito 
de associação para os cristãos e insistiu que as associações erigidas por inicia-
tivas dos fiéis possuíssem requisitos de eclesialidade. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Na	normativa	 sobre	 as	 associações	 não	 encontramos	 ape-
nas	 o	 recurso	 a	 uma	 técnica	 jurídica	 atualizada	 para	 dar	 ao	 CIC	
uma	veste	de	modernidade,	colocando-o	no	mesmo	plano	das	le-
gislações	civis	atuais.	O	legislador	quis,	acima	de	tudo,	acolher	no	
ordenamento	canônico	o	direito	de	associação	que	tinha	sido	afir-
© Direito Canônico I180
mado	pelo	Concílio	Vaticano	II,	seja	como	um	direito	fundamental	
da	pessoa	humana	(GS	68),	seja	como	um	direito	do	cristão	(AA	
19).	Além	disso,	quis	formular	este	direito	em	categorias	jurídicas	
adequadas	às	condições	específicas	dos	fiéis.	
Para um estudo da normativa a respeito das associações de fiéis, 
sugerimos a seguinte bibliografia: FELICIANI, G. As bases do Di-
reito da Igreja: comentários ao Código de Direito Canônico. São 
Paulo: Paulinas, 1994, p.142-145.; GUIMARÃES, F. Considerações 
sobre as Associações de Fiéis. In: Direito e Pastoral, nº 19-20. Rio 
de Janeiro: Instituto Superior de Direito Canônico, 1991, p. 39-57.; 
Trombeta, B. Estudo histórico-canônico e sociológico das associa-
ções de fiéis (presbíteros e leigos). In: Direito e Pastoral nº 18. Rio 
de Janeiro: Instituto Superior de Direito Canônico, 1990, p. 11-16.
Nos	próximos	números	iremos	nos	ocupar	de	algumas	ques-
tões	básicas	relativas	ao	fenômeno	associativo	na	Igreja	para,	em	
seguida,	estudarmos	a	normativa.	
Vamos	lá?
Fundamento eclesiológico das associações canônicas
Uma	 primeira	 questão	 a	 esclarecer	 diz	 respeito	 ao	 funda-
mento	eclesiológico	das	associações	de	fiéis.	Para	isso,	recorremos	
aqui	ao	decreto	conciliar	Apostolicam Actuositatem	nº.	18	sobre	o	
apostolado	dos	leigos:
Os	cristãos	são	chamados,	como	indivíduos,	a	exercerem	o	apos-
tolado	 nas	 diversas	 circunstâncias	 de	 sua	 vida.	 Lembrem-se,	 no	
entanto,	que	o	homem	é	por	natureza	social	e	que	agrada	a	Deus	
reunir	os	que	crêem	em	Cristo	no	povo	de	Deus	(1	Pd	2,5-10)	e	em	
um	único	corpo	(1Cor	12,	12).	
Por	isso,	o	apostolado	associado	corresponde	felizmente	às	exigên-
cias	humanas	e	cristãs	dos	fiéis	e	ao	mesmo	tempo	se	apresenta	
como	sinal	da	comunhão	e	da	unidade	da	Igreja	de	Cristo	que	disse:	
'Onde	dois	ou	mais	estiverem	reunidos	em	meu	nome	eu	estarei	no	
meio	deles'	(Mt	18,20).	
Em	 tal	 texto	 fica,	portanto,	evidenciado	que	 se	a	 sociabili-
dade	do	homem	nos	reporta	à	ordem	da	criação,	a	referência	ao	
Claretiano - Centro Universitário
181© U3 - O povo de Deus II
povo	de	Deus	e	ao	único	Corpo	de	Cristo	nos	reporta	à	ordem	da	
redenção.	 Trata-se	 de	 dois	 planos	 que	 se	 fundem	em	um	único	
projeto	de	Deus	e	nos	permitem	reconhecer	no	ser	humano	uma	
fundamental	reciprocidade	que	atinge	a	sua	plenitude	na commu-
nio	(comunhão)	e	nos	permite	explicar	teologicamente	o	fenôme-
no	associativo.
Em	resumo:	as	associações	na	Igreja	não	se	justificam	apenas	
pelas	muitas	vantagens	que	decorrem	da	ação	associada	para	o	apos-
tolado,	mas	porque	sublinham	uma	exigência	co-natural	à	Igreja	e	ao	
ser	cristão,	aquela,	 isto	é,	de	estar	em	comunhão	com	todos	e	em	
todos	os	níveis	e	de	colher	cada	ocasião	para	formar	comunidade.
a autonomia dos fiéis e o papel da autoridade eclesiástica 
A	 inclusão	 do	 direito	 de	 associação	 e	 de	 reunião	 entre	 as	
obrigações	e	os	direitos	do	fiel	cristão	(cân.	215)	nos	obriga	a	con-
figurá-lo	no	âmbito	da	autonomia	que	o	ordenamento	canônico	
reconhece	ao	batizado.	O	termo	"autonomia"	não	nos	deve	enga-
nar.	De	um	ponto	de	vista	jurídico,	autonomia	não	equivale	à	"in-
dependência",	mas,	sim,	a	um	espaço	de	liberdade	que	é	reconhe-
cido	ao	 indivíduo	para	o	exercício	de	seus	direitos	fundamentais	
no	âmbito	de	um	todo	social.	Trata-se,	portanto,	de	um	conceito	
relativo,	que	supõe	uma	relação	com	o	todo.	
Nesse	sentido,	o	direito	de	associação	deve	ser	coordenado	
e	harmonizado	com	todos	os	outros	direitos	e	deve	ser	exercitado	
no	respeito	às	estruturas	fundamentais	do	ordenamento	jurídico,	
mas,	em	contrapartida,	não	pode	ser	considerado	como	uma	mera	
concessão	da	autoridade	e	muito	menos	pode	por	ela	ser	revoga-
do	ou	feito	inoperante.	
No	ordenamento	canônico,	a	autonomia	do	fiel	cristão	deve	
ser	compreendida	ao	interno	da communio;	portanto,	também	o	
direito	de	associação,	se,	de	um	lado,	deve	ser	reconhecido	e	tute-
lado,	de	outro	lado,	deve	ser	exercitado	no	respeito	dos	direitos	de	
todos	os	fiéis	e	no	necessário	vínculo	com	a	autoridade.
© Direito Canônico I182
Portanto,	o	papel	da	autoridade	é	garantir	a	autenticidade	
da	fé	e	do	testemunho	cristão,	reconhecer	e	tutelar	os	direitos	dos	
fiéis	e	coordenar	a	ação	comum.	Este	papel	pode	ser	exercitado	de	
várias	maneiras:	tacitamente,	por	meio	de	uma	vigilância	discreta;	
explicitamente,	por	meio	de	intervenções	que	podem	assumir	di-
versas	formas.
Critérios de eclesialidade 
A	necessidade	de	coordenar	a	autônoma	iniciativa	dos	fiéis	
com	a	responsabilidade	da	comunidade	eclesial	coloca	a	questão	
dos	critérios	de	eclesialidade	das	formas	associativas.	Trata-se	de	
dar	 indicações	sobre	os	 requisitos	mínimos	que	cada	associação	
deve	possuir	para	que	possa,	de	fato	e	de	direito,	pertencer	à	Igre-
ja.	Um	eventual	juízo	negativo,	devido	à	falta	de	um	desses	requi-
sitos,	não	poderia	nos	levar	a	afirmar,	em	linha	de	princípio,	que	se	
queira	negar	o	direito	de	associação.	Seria	apenas	uma	forma	de	
disciplinar	o	exercício	de	um	direito	que	para	ser	eclesial	deve	se	
harmonizar	com	a	natureza	e	a	missão	da	Igreja.	
O	problema	dos	critérios	de	eclesialidade	foi	advertido	com	
uma	maior	urgência	após	a	afirmação	do	direito	de	associação	por	
parte	do	Vaticano	 II	 e	 com	o	desenvolvimento	que	o	 fenômeno	
associativo	passou	a	ter	na	Igreja.	O	decreto	sobre	o	apostolado	
dos	 leigos	 indicou	alguns	princípios	que	ajudaram	o	 legislador	a	
fixar	tais	critérios.	
São	eles:
•	 o	direito-dever	dos	fiéis	de	exercitar	os	próprios	carismas	
em	comunhão	com	os	irmãos	e,	sobretudo,	com	os	Pasto-
res	a	quem	cabe	julgar	sobre	a	genuína	natureza	e	sobre	
o	uso	ordenado	dos	carismas	(AA	3);
•	 a	consideração	sobre	a	natureza	das	associações	que	não	
são	consideradas	como	um	fim	em	si	mesmo,	mas	devem	
estar	a	serviço	da	missão	apostólica	no	mundo	(AA	19);	
Claretiano - Centro Universitário
183© U3 - O povo de Deus II
•	 a	 advertência	 de	 que	 a	 incidência	 apostólica	 das	 asso-
ciações	depende	da	conformidade	com	as	finalidades	da	
Igreja,	do	testemunho	e	do	espírito	evangélico	dos	mem-
bros	e	de	toda	a	associação(AA	19).
as associações de fiéis no CiC atual (cânn. 298-326) 
A	Comissão	de	reforma	do	CIC,	ao	formular	os	esquemas	do	
novo	código,	 limitou-se	a	delinear	um	quadro	geral	para	abarcar	
na	sua	globalidade	o	fenômeno	associativo.	Aplicando	o	princípio	
de	subsidiariedade	deixou	uma	ampla	margem	de	autonomia	aos	
legisladores	particulares	e	aos	estatutos.	Portanto,	na	solução	de	
casos	concretos,	não	basta	recorrer	aos	cânones	que	tratam	das	
associações.	Será	preciso	examinar,	também,	as	leis	particulares	e	
os	estatutos	das	associações	à	norma	do	cân.	309.	
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Na assembleia geral do Sínodo Romano de 1967, foram fixados dez princípios 
diretivos para a reforma do Código. Dentre esses princípios, encontramos o de 
subsidiariedade (5º princípio), que basicamente significa o seguinte: os vários 
grupos devem resolver os problemas com os próprios meios e tomar aquelas 
decisões que não ultrapassem suas possibilidades. O nível superior de governo 
poderá fazer aquilo que o nível inferior não é capaz de realizar por si, vindo, 
portanto, em sua ajuda, tanto por iniciativa deste último quanto do primeiro. Evi-
dentemente que tal princípio deve ser aplicado no âmbito interno de um ordena-
mento dado, sendo relativo às leis e a uma estrutura já constituída. 
Aplicação do princípio de subsidiariedade à vida da Igreja significa respeito à 
justa autonomia dos diversos grupos e dos diversos níveis de governo, tendo 
presente o direito universal e o direito particular a fim de que na unidade e na 
pluralidade resplandeça a catolicidade da Igreja. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O	estatuto	jurídico	das	associações	de	fiéis	contido	nos	cânn.	
298-326	constitui	um	idôneo	desenvolvimento	orgânico	e	aplicativo	
dos	direitos	e	da	liberdade	de	associação	e	de	reunião	reconhecidos	
aos	fiéis	em	geral,	ou	seja,	reconhecidos	a	cada	fiel	à	norma	do	cân.	
215.	No	que	diz	respeito	aos	leigos,	encontramos	nos	cânn.	327-329	
uma	aplicação	do	cân.	215,	o	mesmo	ocorrendo	com	os	religiosos,	
nos	cânn.	573-730	e	731-745.	Já	o	mesmo	não	deu	com	os	clérigos,	
pois	não	encontramos	um	estatuto	jurídico	que	seja	uma	aplicação	
do	direito	de	associação	previsto	pelo	cân.	215.	Uma	única	exceção	
© Direito Canônico I184
é	o	caso	singular	da	prelazia	pessoal	enquanto	fenômeno	associati-
vo	hierárquico	e	de	composição	estritamente	clerical.	
Para um estudo das associações de fiéis no CIC atual: tipologia, 
natureza, fins, constituição e relações com a autoridade eclesiás-
tica, admissão e demissão dos membros, administração dos bens 
e extinção, sugerimos o seguinte texto: GHIRLANDA, G. O direito 
na Igreja, mistério de comunhão. Compêndio de Direito Eclesial. 
Aparecida: Santuário, 2003, p. 267-281.
Âmbito da normativa, natureza e finalidade das associações 
O	cân.	298	§1,	com	o	qual	se	inicia	o	título	dedicado	às	as-
sociações	de	fiéis,	estabelece	o âmbito	dentro	do	qual	se	aplicam	
as	normas	 formuladas	pelo	 legislador.	Das	diversas	 formas	asso-
ciativas	existentes	e	que	podem	surgir	na	Igreja	são	excluídos,	so-
mente,	os	 institutos	de	vida	consagrada	e	as	sociedades	de	vida	
apostólica,	 embora,	 em	 tempos	 idos,	 as	 ordens	 e	 congregações	
não	fossem	algo	diferente	das	associações	de	fiéis	que	desejavam	
responder	de	modo	integral	à	sua	vocação	cristã.
A natureza	das	associações	é	delineada	 com	 traços	essen-
ciais:	 encontramo-nos,	 antes	 de	 tudo,	 diante	 de	 um	 fenômeno	
eclesial	 (veja	a	expressão	 "na	 Igreja");	os	membros	destas	asso-
ciações	 são	 fiéis	 ("clérigos	 ou	 leigos,	 ou	 conjuntamente	 clérigos	
e	 leigos")	que	 se	empenham,	mediante	uma	ação	 comum,	para	
realizar	fins	eclesiais.	Portanto,	temos	três	elementos	constitutivos	
para	uma	associação	canônica:	fiéis cristãos,	que	tendem	median-
te	uma	ação comum para	a	realização de fins eclesiais.
A	partir	dos	fins	eclesiais	se	traçam	em	termos	bem	gerais	
os	principais	gêneros:	associações	que	tendem	ao	incremento	de	
uma	vida	mais	perfeita	de	seus	membros;	associações	que	promo-
vem	o	culto	público	e	a	catequese;	associações	que	se	dedicam	às	
obras	de	apostolado:	evangelização,	obras	de	piedade	ou	carida-
de,	animação	da	ordem	temporal	com	espírito	cristão.	
Claretiano - Centro Universitário
185© U3 - O povo de Deus II
tipologia das associações 
O	legislador	eclesiástico	considera	o	complexo	fenômeno	as-
sociativo	a	partir	de	duas	grandes	categorias:	
•	 público;
•	 privado.	
Embora	 na	 linguagem	 corrente	 se	 fale	 de	 confrarias,	 pias	
uniões,	movimentos,	comunidades	de	base,	comunidades	de	vida	
e	amor,	comunidades	de	aliança,	grupos	eclesiais	etc.,	na	lingua-
gem	jurídica	todas	estas	realidades	se	inserem	nas	duas	categorias	
formuladas	pelo	legislador:	públicas	e	privadas.	Mais	adiante	es-
clareceremos	tais	conceitos.
Além	da	distinção	geral	entre	associações	públicas	e	priva-
das,	o	CIC	formula	outras	tipologias	de	menor	relevância	que	se	
aplicam	tanto	a	um	quanto	a	outro	tipo	de	associação.	Uma	das	
distinções	 propostas	 pelo	 CIC	 para	 as	 associações	 faz	 referência	
à	tríplice	classificação	dos	fiéis	em	clérigos,	leigos	e	consagrados.	
Assim,	temos	as	seguintes	associações:	
1)	 clericais:	aquelas	associações	de	fiéis	dirigidas	por	cléri-
gos	que	assumem	o	exercício	de	ordem	sagrada	e	são	re-
conhecidas	como	tais	pela	autoridade	competente	(cân.	
302);
2)	 laicais: aquelas	 associações	 compostas	 por	 leigos	 que,	
de	vários	modos,	se	propõem	a	animar,	mediante	o	espí-
rito	cristão,	as	realidades	temporais	(cân.	327);
3)	 ordens	 terceiras	ou	outro	nome	 idôneo:	aquelas	asso-
ciações	cujos	membros	levam	vida	apostólica	e	tendem	
à	perfeição	cristã,	e	no	mundo	participam	do	espírito	de	
um	instituto	religioso	sob	a	alta	direção	desse	instituto.	
(cân.	303);
4)	 católicas:	aquelas	associações	qualificadas	como	tal	com	
o	consentimento	da	autoridade	eclesiástica	competente;
5)	 associações	privadas: são	mais	complexas,	seja	por	sua	
variedade,	seja	pela	linguagem	pouco	clara	adotada	pelo	
legislador;
© Direito Canônico I186
6)	 informais:	 aquelas	 associações	 constituídas	 mediante	
um	acordo	privado	entre	os	fiéis	e	que	se	propõe	a	rea-
lizar	fins	que	não	são	reservados	à	autoridade	eclesiás-
tica.	Trata-se	de	associações	para	as	quais	não	se	exige	
qualquer	forma	de	aprovação	explícita	por	parte	da	au-
toridade	eclesiástica	ou,	então,	que	ainda	se	encontram	
na	fase	prévia	a	um	explícito	reconhecimento	(cân.	299	
§1);
7)	 associações	 louvadas	 ou	 recomendadas:	 aquelas	 asso-
ciações	privadas	que	receberam	da	competente	autori-
dade	eclesiástica	uma	avaliação	positiva	(cânn.	298	§2;	
299	§2);	esta	avaliação	pressupõe	um	conhecimento	da	
natureza	e	dos	fins	que	a	associação	se	propõe	a	realizar;
8)	 associações	 reconhecidas (cân.	 299	 §3):	 não	 aparece	
muito	claro	o	 significado	 jurídico	que	o	 legislador	quis	
dar	a	este	termo.	Parece	que	se	trata	de	um	juízo	de	ecle-
sialidade	pronunciado	pela	competente	autoridade	após	
ter	examinado	os	estatutos	da	associação.	Este	juízo	não	
muda	a	natureza	privada	da	associação	(cân.	299	§2)	e	
nem	 a	 ela	 confere	 a	 personalidade	 jurídica.	 Limita-se,	
portanto,	a	um	reconhecimento	de	sua	eclesialidade;
9)	 erigidas	em	pessoa	 jurídica:	aquelas	associações	priva-
das	às	quais	a	competente	autoridade	eclesiástica	confe-
riu	a	personalidade	jurídica	(cânn.	116	e	310).
as normas comuns a todas as associações (cânn. 298-311) 
Examinados	 os	 cânones	 nos	 quais	 se	 configura	 a	 natureza	
das	 associações	 e	 se	 estabelece	 sua	 tipologia,	 resta-nos,	 ainda,	
considerar	outros	princípios	gerais	que	o	legislador	formula	para	
todas	as	associações	públicas	e	privadas	e	que	estão	presentes	nas	
normas	 comuns	 (cânn.	 298-311).	 Este	 conjunto	de	 cânones	que	
precede	àqueles	que	contêm	normas	específicas	sobre	as	associa-
ções	públicas	e	privadas	estabelece	as	bases	canônicas	 sobre	as	
quais	se	torna	possível	fundar,	erigir	e	constituir	uma	associação	
de	fiéis	na	Igreja.	
Vejamos,

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