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Direito Canonico II 1

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CRC
Caderno de 
Referência de 
Conteúdo
1. INTRODUÇÃO 
Bem vindo (a) ao estudo da disciplina Direito Canônico II!
Acredito que, desta vez, você não esteja mais surpreso (a) 
por novamente se deparar com uma disciplina "jurídica" em um 
curso teológico, pois, afinal de contas, já pôde anteriormente des-
cobrir a importância e o significado do direito na e da Igreja, bem 
como a sua relação com a teologia e com a vida concreta de todos 
os fiéis. 
Nesta segunda parte do curso nos ocuparemos diretamente 
de uma realidade fundamental que, talvez, faça parte do seu dia a 
dia: Os Sacramentos!
Saiba você que o estudo dos sacramentos é uma tarefa bas-
tante complexa, pois nos coloca diante de várias abordagens que 
se complementam entre si: a bíblica, a dogmática, a litúrgica, a 
moral, a pastoral e a jurídica. Aqui, evidentemente, nos fixare-
© Direito Canônico II
Centro Universitário Claretiano
16
mos na dimensão jurídica dos sacramentos e já lhe adianto que o 
campo de estudo também é muito vasto. Por isso, mais uma vez, 
estabeleceremos algumas prioridades, deixando, porém, em suas 
mãos as devidas indicações bibliográficas e outras referências que 
lhe servirão como material de apoio nesta sua busca de conheci-
mento e aprofundamento da disciplina.
O conteúdo programático do curso está dividido em sete 
unidades e foi assim distribuído:
1) Unidade 1 – Os Sacramentos em geral. 
2) Unidade 2 – O Batismo e a Confirmação.
3) Unidade 3 – A Eucaristia.
4) Unidade 4 – A Penitência e a Unção dos Enfermos.
5) Unidade 5 – A Ordem.
6) Unidade 6 – O Matrimônio - parte I.
7) Unidade 7 – O Matrimônio - parte II.
Acredito que, por tratarmos aqui de um tema muito próximo 
da realidade vivida por nossas comunidades e considerando o que 
foi estudado em Direito Canônico I, você terá todas as condições 
para aproveitar bem esta disciplina. No final de nosso percurso, 
você verá que o direito sacramental possui a sua razão de ser na 
vida eclesial. Muitas das relações jurídicas que os fiéis estabele-
cem entre si estão intimamente conexas com os sacramentos.
Desse modo, desejamos que se sinta motivado (a) e desafia-
do (a) neste estudo que agora iniciamos. 
Bom proveito e muito êxito neste caminho que juntos per-
correremos.
2. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA DISCIPLINA
Abordagem Geral da Disciplina
Neste tópico, apresenta-se uma visão geral do que será es-
tudado nesta disciplina. Aqui, você entrará em contato com os 
17© Caderno de Referência de Conteúdo
assuntos principais deste conteúdo de forma breve e geral e terá 
a oportunidade de aprofundar essas questões no estudo de cada 
unidade. No entanto, essa Abordagem Geral visa fornecer-lhe o 
conhecimento básico necessário a partir do qual você possa cons-
truir um referencial teórico com base sólida – científica e cultural 
– para que, no futuro exercício de sua profissão, você a exerça com 
competência cognitiva, ética e responsabilidade social. Vamos co-
meçar nossa aventura pela apresentação das ideias e dos princí-
pios básicos que fundamentam esta disciplina. 
O primeiro passo é situar a normativa relativa aos sacra-
mentos. Saiba você que ela se encontra, sobretudo, no livro IV do 
Código de Direito Canônico atual (CIC) cujo título é: De Ecclesiae 
munere sanctificandi, ou seja, Do múnus de santificar da Igreja. 
Todavia, é bom lembrar que este livro não contém todas as normas 
que regem a função de santificar da Igreja, pois alguns cânones 
coligados com o múnus de santificar foram inseridos, embora em 
escala bem menor, nos livros I, II, III e V do Código, sem falar, ainda, 
nos livros litúrgicos que, também, contém uma normativa litúrgi-
ca e sacramental. Tudo isso nos revela que a função de santificar 
ocupa um lugar central na vida da Igreja e a normativa canônica é 
simplesmente um reflexo disso.
O Título do livro IV
Antes de apresentarmos a sistemática do livro IV (o faremos 
em seguida) me parece importante uma breve alusão ao título 
deste livro, pois possui as suas raízes na reflexão do Concílio Va-
ticano II. Este Concílio deu muita importância à distinção entre as 
três funções (munera) de Cristo e da Igreja (ensinar, santificar e 
governar), resumindo em torno delas toda a missão de Cristo e da 
Igreja. O CIC atual, inspirado, então, pelo Vaticano II, quis mostrar 
com os dois livros que fazem referência à função de ensinar (livro 
III) e santificar (livro IV), a intrínseca relação que existe entre a ma-
téria por eles regulada e a missão salvífica da Igreja. 
© Direito Canônico II
Centro Universitário Claretiano
18
Convém ressaltar, também, que a função de santificar possui 
um significado amplo: significa tanto "tornar-nos santos" e, neste 
sentido, se faz referência àquela parte da liturgia que atinge este 
objetivo em benefício das pessoas (movimento descendente), 
quanto "glorificar Àquele que é santo" e, neste sentido, se faz re-
ferência ao culto divino como tal, isto é, ao serviço humano apre-
sentado a Deus (movimento ascendente). Teologicamente as duas 
partes não estão justapostas, mas cada uma delas é necessária à 
verdade cristã da outra. Coerente com esta perspectiva o CIC pro-
cura dar uma visão unitária seja da liturgia, evitando reduzi-la a 
um conjunto de leis e rubricas, seja do direito dos sacramentos.
Divisão do livro IV
Entrando, agora, na questão sistemática, tenha presente que 
o livro IV foi dividido em três partes e compreende 420 cânones 
assim distribuídos:
1) 06 cânones introdutórios de caráter geral que tratam da 
função de santificar própria da Igreja (cânn. 834-839);
2) 326 cânones sobre os sacramentos assim agrupados: os 
sacramentos em geral (cânn. 840-848); o batismo (cânn. 
849-878); a confirmação (cânn. 879-896); a santíssima 
Eucaristia (cânn. 897-958); a penitência (cânn. 959-997); 
a unção dos enfermos (cânn. 998-1007); a ordem (cânn. 
1008-1054); o matrimônio (1055-1165);
3) 39 cânones sobre os outros atos do culto divino, assim 
distribuídos: os sacramentais (cânn. 1166-1172); a li-
turgia das horas (cânn. 1173-1175); as exéquias eclesi-
ásticas (cânn. 1176-1185); o culto dos santos, imagens 
sagradas e relíquias (cânn. 1186-1190); o voto e o jura-
mento (cânn. 1191-1204);
4) 48 cânones sobre os lugares e tempos sagrados (cânn. 
1205-1253).
Note que a normativa é bastante vasta e não será possível 
estudá-la por completo. De qualquer forma iremos longe, pois 
nesta disciplina você se ocupará dos 326 cânones que se referem 
aos sacramentos, o que não é pouco!
19© Caderno de Referência de Conteúdo
O livro IV e o concílio vaticano II
O livro IV do CIC, como dito, recebeu um grande influxo do 
Concílio Vaticano II e da reforma litúrgica por ele desejada. A reno-
vação resulta evidente se compararmos os caracteres fundamen-
tais do CIC de 1917 em matéria litúrgica com o CIC atual. Vamos 
fazer este exercício de comparação?
No CIC de 1917 o direito litúrgico baseava-se na reforma pós-
-tridentina, confirmada e afirmada pelo Concílio Vaticano I. Dentre 
as características principais desta reforma destacamos:
a) a centralização litúrgica (somente a Santa Sé podia regu-
lar e aprovar os livros litúrgicos); 
b) a uniformidade litúrgica; 
c) a exclusão da adaptação da liturgia às várias culturas; 
d) o rubricismo. 
Não sem razão os críticos afirmavam que o direito litúrgico 
de então tinha se desenvolvido à margem da teologia e da pasto-
ral, limitando-se a conservar determinadas práticas tradicionais. 
A normativa litúrgica do Concílio Vaticano II, por sua vez, 
apresenta características novas em relação àquela anterior. O con-
ceito de liturgia, por exemplo, possui uma inspiração teológica vas-
ta e profunda, sendo, ao mesmo tempo, cristológico e eclesiológi-
co. A referência fundamental para compreendermos tal conceito 
é a constituição Sacrosanctum Concilium (SC), sobretudo, nos nú-
meros 5-7, como, também, a constituição dogmática Lumen Gen-
tium (LG). 
Eis como a SC no nº7 descreve a liturgia: 
Com razão, pois, a Liturgia é tida como o exercício do múnus sacer-dotal de Jesus Cristo, no qual, mediante sinais sensíveis, é signifi-
cada e, de modo peculiar a cada sinal, realizada a santificação do 
homem; e é exercido o culto público integral pelo Corpo Místico de 
Cristo, Cabeça e membros.
Disto se segue que toda a celebração litúrgica, como obra de Cristo 
sacerdote, e de Seu Corpo que é a Igreja, é uma ação sagrada por 
excelência, cuja eficácia, no mesmo título e grau, não é igualada 
por nenhuma outra ação da Igreja. 
© Direito Canônico II
Centro Universitário Claretiano
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À luz desta definição se compreende, então, como a liturgia 
não possa ser reduzida às "rubricas" que regulam as celebrações, 
nem possa ser considerada imutável ou uniforme a ponto de não 
permitir a participação ativa dos fiéis e a adaptação às diversas 
culturas.
É possível constatar que o livro IV do CIC assumiu os grandes 
princípios que inspiraram a reforma do Concílio Vaticano II e que 
os resumimos em nove para o seu conhecimento:
1) A centralidade da liturgia e o seu primado na vida da 
Igreja. 
2) A unidade inseparável entre santificação e culto como 
duas faces de uma mesma realidade. 
3) O reconhecimento da comunidade eclesial inteira como 
sujeito da função de santificar quando esta se manifesta 
e é exercitada nas ações litúrgicas. 
4) A afirmação da necessária relação entre fé e liturgia, 
fundamental para que seja vivida a verdade dos sacra-
mentos e estimulada a ação pastoral. 
5) O caráter público das ações litúrgicas, acentuando-se a 
participação ativa de todos os membros da Igreja. 
6) A afirmação da dimensão comunitária das celebrações 
litúrgicas, que não são um fato meramente privado. 
7) A atribuição de poder às Conferências Episcopais e ao 
Bispo diocesano em matéria litúrgica. 
8) O reconhecimento implícito do princípio de adaptação e 
de inculturação da liturgia, salva, porém, a unidade que 
não pode de forma alguma ser prejudicada.
9) A harmonização dos outros meios com os quais a Igre-
ja satisfaz a função de santificar (oração pessoal, obras 
de penitência e caridade, exercícios de piedade) com a 
liturgia.
Confrontada com aquela do CIC de 1917 a legislação litúrgica 
renovada a partir do Concílio Vaticano II e contida no Código e nos 
livros litúrgicos, não aparece mais uniforme e imutável. O reconhe-
cimento de um adequado espaço às legítimas diversidades e adap-
21© Caderno de Referência de Conteúdo
tações aos vários grupos étnicos, às regiões e aos povos (SC 38-40) 
abriu o caminho para o direito litúrgico particular que aos poucos 
irá adquirir uma importância cada vez maior (assim esperamos).
Obviamente que nem tudo é perfeito no livro IV do CIC e que 
críticas sempre serão feitas. Contudo, é inegável que Código pôde 
dar a sua parcela de contribuição para uma renovação da liturgia, 
ao menos naquela parte em que depende do direito. 
Feita esta breve apresentação do livro IV do CIC, faremos, 
em seguida, uma sintética exposição dos principais aspectos teoló-
gicos e jurídicos dos sacramentos em geral. Não será possível aqui 
falar de cada sacramento, mesmo porque, é isso que será objeto 
de estudo nas sete unidades deste material didático.
Aspectos teológicos e jurídicos fundamentais
Saiba você que o Código não desenvolve de maneira articu-
lada e completa uma teologia dos sacramentos, pois não é esta a 
função de um texto normativo. Todavia, a pressupõe e dela faz de-
rivar importantes diretivas disciplinares. Sendo assim, é necessário 
conhecê-la um pouco. Vamos lá, então? 
Noção de sacramento – O cân. 80 descreve os sacramentos 
do Novo Testamento como "sinais e meios pelos quais se exprime 
e se robustece a fé, se presta culto a Deus e se realiza a santifi-
cação dos homens". Trata-se de uma descrição em clara sintonia 
com o conteúdo do cân. 834 no qual encontramos a noção de li-
turgia à qual nos referimos há pouco. Na liturgia e, portanto, nos 
sacramentos, se significa e se realiza a santificação dos homens, se 
presta culto a Deus e se expressa e fortalece a fé. Temos, portanto, 
aqui, uma definição clássica de sacramento, adotada pelo Magis-
tério da Igreja. 
Todo sacramento é um sinal eficaz de graça; significa o que 
causa e causa o que significa. Significação e causalidade são, por 
conseguinte, dois componentes essenciais da sacramentalidade 
do Novo Testamento, diferentemente dos sacramentos da Anti-
© Direito Canônico II
Centro Universitário Claretiano
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ga Aliança que prometiam e significavam a salvação, sem, porém, 
realizá-la, uma vez que ela chegou a nós por intermédio de Cristo. 
Portanto, é a atuação de Cristo que comunica a graça que o sacra-
mento significa.
Elementos essenciais – Os sacramentos possuem alguns ele-
mentos essenciais que os configuram como tal. São eles:
a) O sinal sacramental – é sempre de natureza sensível (por 
ex: água, pão, vinho, óleo, etc.). O sinal, além de manter 
o seu significado humano, é enriquecido de novos sig-
nificados dados pela Palavra de Deus. É composto, por-
tanto, por dois elementos: matéria (coisas ou ações) e 
forma (palavras) mediante a qual se determina o signifi-
cado do sinal.
b) A realidade significada e causada pelo sinal – trata-se 
aqui da graça santificante concedida por Deus a quem 
o recebe, pois é através dela que nos santificamos. Esta 
graça é o efeito último, mas não único, do sacramento. 
c) O ministro do sacramento – é aquele que age in persona 
Christi (fazendo as vezes da pessoa de Cristo) e, também, 
in nomine Ecclesiae (em nome ou com o "mandato" e a 
"representação" de toda a Igreja). 
Atua em nome da Igreja aquele que confecciona o sinal sa-
cramental e que administra o sacramento aos fiéis. Sua função é 
apenas instrumental, razão pela qual não se requer essencialmen-
te nem sua fé pessoal e nem sua santidade de vida para que opere 
válida e eficazmente o sacramento. Mesmo que a atuação do mi-
nistro seja apenas instrumental, pois é o próprio Cristo o ministro 
principal dos sacramentos, ela é necessária, pois os sacramentos 
requerem sempre um ministro;
a) O sujeito que recebe o sacramento – É aquele em favor 
do qual o sacramento é administrado. Fora o caso do sa-
cramento da penitência, cujos atos do penitente consti-
tuem parte essencial do rito sacramental, a falta de ade-
quada disposição do sujeito não é um obstáculo para a 
válida celebração do sacramento, mas o é para que a 
graça sacramental produza os seus efeitos e, sobretudo, 
dê seus frutos na vida da pessoa. 
23© Caderno de Referência de Conteúdo
b) A comunidade que celebra o rito – a comunidade ecle-
sial é um aspecto importante a ser recuperado na práti-
ca sacramental, pois os sacramentos não são realidades 
individuais que dizem respeito, apenas, ao ministro e a 
quem o recebe. Os sacramentos são ações de Cristo e da 
Igreja e a presença da comunidade explicita uma eclesia-
lidade ministerial e não, apenas, clerical. 
A eficácia dos sacramentos - Todo sacramento, como disse-
mos, é um sinal eficaz de graça; significa o que causa e causa o que 
significa. Significação e causalidade são, portanto, dois componen-
tes essenciais da sacramentalidade do Novo Testamento.
Em matéria de eficácia dos sacramentos seria conveniente 
recordar aqui duas expressões técnicas e clássicas, muito conhe-
cidas na história da sacramentária: ex opere operato e ex opere 
operantis.
A primeira expressão (ex opere operato) quer exprimir a efi-
cácia objetiva de todo sacramento, uma vez realizado validamen-
te o sinal sacramental. Tal eficácia se fundamenta nos méritos de 
Cristo e não nos do ministro ou de quem recebe o sacramento. 
Afirmar que o sacramento é eficaz ex opere operato significa pro-
clamar que é Deus, e não o homem, quem justifica; que é a ação 
de Cristo, e não a da pessoa, fonte de salvação. Equivale a afirmar 
que os sacramentos são, em primeiro lugar, ações de Cristo, subor-
dinadamente, ações da Igreja e, apenas, instrumentalmente ações 
do ministro. 
A segunda expressão (ex opere operantis) quer exprimir os 
frutos subjetivos de todo sacramento.Dizer que o sacramento é 
eficaz ex opere operantis significa ter presente que a ação santi-
ficadora comunicada pelo sacramento pode ficar bloqueada por 
falta de disposição da pessoa, sem produzir algum fruto, embora 
seja válido. Deste modo, se procura evitar a idéia de que a eficácia 
sacramental ex opere operato seja entendida como um automatis-
mo mágico, pois sacramento não é magia. 
© Direito Canônico II
Centro Universitário Claretiano
24
Enfim, para que o sacramento seja eficaz (produza os seus 
efeitos) é necessário, em primeiro lugar, que tenha sido válido, ou 
seja, que o sinal sacramental seja realizado de acordo com a von-
tade de Cristo e segundo as normas de validade estabelecidas pela 
Igreja. Uma vez celebrado validamente, o sacramento opera ob-
jetivamente sua eficácia salvífica (ex opere operato) e quando tal 
dom é acolhido torna-se, também, frutuoso (ex opere operantis).
Hoje em dia alguns autores ao refletirem sobre os sacramen-
tos e sua eficácia buscam ampliar esta compreensão tradicional, 
recorrendo a outras categorias. Para conhecê-las sugiro que se in-
terem da bibliografia indicada no texto base, como, também, nas 
informações complementares. De qualquer forma é minha função 
orientá-lo (a), apresentando aquelas categorias com as quais o le-
gislador trabalha e que, portanto, estão presentes na normativa.
Outros efeitos dos sacramentos - Suposta a validade do sa-
cramento, se produz objetivamente a graça significada e causa-
da, que, como afirmado, é o efeito último de todo sacramento. 
Não obstante, o sujeito pode colocar obstáculos para a recepção 
da graça e fazer com que o sacramento não seja frutuoso em sua 
vida. Todavia, existem outros efeitos de especial relevância teoló-
gica e canônica que derivam de um sacramento válido, qualquer 
que sejam as disposições do sujeito. Neste sentido, o sacramento 
é sempre eficaz. Vejamos...
Em relação ao batismo, por exemplo, podemos afirmar que 
o seu efeito imediato é o caráter mediante o qual o fiel fica confi-
gurado a Cristo, consagrado e destinado ao culto da religião cristã 
e incorporado à Igreja. Algo semelhante ocorre com o caráter da 
confirmação, mediante o qual os fiéis se vinculam mais estreita-
mente à Igreja e adquirem um compromisso apostólico reforçado. 
No caso do caráter da ordenação, o fiel é configurado com Cristo 
Sacerdote e destinado a exercitar as funções próprias do Cristo-Ca-
beça. Já em relação à Eucaristia, o Corpo e o Sangue do Senhor são 
o primeiro e imediato efeito do sinal sacramental corretamente 
realizado. Por fim, em relação ao matrimônio, o efeito imediato é 
25© Caderno de Referência de Conteúdo
o vínculo sacramental que deriva de um pacto conjugal válido. Se, 
portanto, falta a vida de fé do ministro ou de quem recebe o sacra-
mento, nem por isso os sacramentos perdem a validade e deixam 
de produzir estes efeitos que acabamos de mencionar. 
Dimensão eclesial dos sacramentos - Os sacramentos foram 
instituídos por Cristo e são principalmente ações d’Ele. Eles nos 
recordam sua ação redentora, atualizam aqui e agora esta mesma 
ação e anunciam o estado futuro de nossa consumação definitiva 
em Cristo. Em outras palavras, toda ação sacramental comemora os 
mistérios redentores de Cristo, realiza estes mistérios no tempo da 
Igreja e anuncia a plenitude da salvação em Cristo no final dos tem-
pos. Porque os sacramentos são acima de tudo ações de Cristo é que 
se afirma, como dito, a eficácia sacramental ex opere operato.
Não podemos nos esquecer, porém, que os sacramentos 
são, também, ações da Igreja. Através deles se constrói e edifica a 
Igreja e, portanto, eles são parte essencial de seu mistério, razão 
pela qual a Igreja está sempre implicada em qualquer celebração 
sacramental, mesmo que só esteja presente o ministro e quem re-
cebe o sacramento.
A Igreja não tem o poder sobre a substância dos sacramen-
tos, ou seja, sobre aquelas coisas que, em conformidade com a Re-
velação, Cristo determinou que devessem ser mantidas como sinal 
sacramental. Neste sentido, a Igreja depende e existe mediante 
os sacramentos tais como foram determinados pelo direito divi-
no (Revelado). Porém, este depósito institucional (sacramentos) 
foi confiado à Igreja para que o defenda, interprete, administre 
corretamente e regule a sua disciplina de modo que, mantendo a 
instituição intacta, determine ou modifique o que achar mais con-
veniente para a utilidade dos fiéis. Desde este ponto de vista, os 
sacramentos dependem da Igreja. 
Em resumo: a Igreja faz os sacramentos e os sacramentos 
fazem a Igreja e nada mais lógico que eles concorram para criar, 
fortalecer e manifestar a comunhão eclesial, tal como nos recorda 
o cân. 840.
© Direito Canônico II
Centro Universitário Claretiano
26
Outra dimensão eclesial importante é que "... os sacramentos 
constituem sinais e meios pelos quais se exprime e se robustece a 
fé" (cân. 840). Os sacramentos são celebrações da fé no sentido que 
sempre são celebrados na fé da Igreja. Portanto, é a fé da Igreja que 
assume a intenção do ministro; é a fé da Igreja que entra na consti-
tuição mesma do sacramento, mediante as palavras pronunciadas 
por meio do ministro, outorgando, assim, uma significação ao ele-
mento material. Contudo, não é a fé da Igreja que outorga a eficá-
cia ao sacramento, mas, apenas, o reconhece como instrumento de 
Deus que é a causa eficiente principal de todo sacramento. 
A eficácia jurídica dos sacramentos – Você já sabe que os 
sacramentos são sinais eficazes da graça. Foram instituídos com a 
finalidade de atualizar permanentemente no tempo histórico da 
Igreja a salvação de Jesus Cristo, certo? Tenha presente que esta 
finalidade primária e substancial dos sacramentos não nos impede 
de considerá-los como causa de vários efeitos jurídicos e, inclusi-
ve, de configurá-los como fatos ou atos jurídicos. Estranho isso? 
Lembre-se que entre o sinal visível e a graça existe um efeito in-
termediário revestido de importantes conotações jurídicas. Vamos 
voltar a ele, então... 
A Igreja se constrói como sociedade estruturada e organiza-
da a partir dos sacramentos, pois são eles que estruturam juridica-
mente a Igreja, tornando-se a causa das relações jurídicas básicas 
sobre as quais se fundamenta a estrutura e organização da Igreja. 
Vejamos isso concretamente...
Do batismo e da ordem derivam os dois grandes princípios 
constitucionais do povo de Deus: o princípio da igualdade e o prin-
cípio da diversidade funcional (hierárquico). Pelo batismo se veri-
fica entre todos os fiéis uma verdadeira igualdade (cân. 208). Pela 
ordem, alguns, dentre os fiéis, são constituídos ministros sagrados 
com a finalidade de desempenhar em pessoa as funções de Cristo-
-Cabeça (cân. 1008).
27© Caderno de Referência de Conteúdo
Pelo batismo o homem se incorpora à Igreja e nela se consti-
tui pessoa, com os deveres e direitos que são próprios dos cristãos 
(cân. 96). No batismo se fundamenta a origem do vínculo jurídico 
de incorporação à Igreja e do estatuto jurídico de fiel, com os de-
veres e direitos que o integram.
Pelo sacramento da ordem, o fiel se incorpora à ordem dos 
clérigos, dando origem a um estatuto jurídico próprio, com um 
conjunto de obrigações e direitos que afetam diretamente sua 
vida e ministério. 
Quanto ao matrimônio, além de uma série de efeitos jurídi-
cos que derivam do pacto conjugal, há um importante efeito que 
deriva do sacramento: o vínculo conjugal. Tal vínculo adquire com 
a consumação do matrimônio uma especial firmeza a ponto de 
não poder ser dissolvido por ninguém (cân. 1141), exceto nas pou-
cas exceções previstas das quais não nos ocuparemos aqui. 
Menos perceptíveis são os efeitos jurídicos dos demais sa-
cramentos. Assim, por exemplo, a confirmação imprime caráter e 
é este, portanto, o efeito imediato de tal sacramento. Não está 
claro se si trata de uma capacidade jurídica distinta daquela que o 
fiel já tem como batizado.
Quanto à Eucaristia, mais que produzir efeitos jurídicos, nosencontramos diante de uma realidade para a qual se orientam to-
dos os demais sacramentos e através da qual se significa e realiza 
a unidade do povo de Deus e a edificação do Corpo de Cristo (cân. 
897).
Os sacramentos como objeto de regulamentação canônica 
- Na administração dos sacramentos a Igreja sempre se reconhe-
ceu com poder para estabelecer ou mudar aquilo que, segundo a 
variedade das circunstâncias, tempo e lugar, julga ser mais conve-
niente para a utilidade dos fiéis ou para a veneração dos mesmos 
sacramentos. 
© Direito Canônico II
Centro Universitário Claretiano
28
O Concílio de Trento sancionou esta doutrina afirmando que 
compete a Igreja aprovar ou definir não apenas os requisitos de 
liceidade, como também, aqueles que condicionam a validade dos 
sacramentos. É por isso que os sacramentos sempre foram objeto 
de regulamentação canônica, residindo aí a sua mais conhecida 
dimensão jurídica. A Igreja, através de sua disciplina, determina os 
aspectos fundamentais do sinal sacramental e dos fatores que o 
integra (matéria e forma), assim como os requisitos para a valida-
de e a liceidade (poderes, capacidades, disposições, direitos, deve-
res) que afetam tanto ao ministro quanto o sujeito que o recebe. 
Concluindo: os sacramentos são juridicamente relevantes 
seja porque, queridos por Cristo, desenvolvem uma função consti-
tutiva na Igreja, seja porque são causa de efeitos jurídicos no orde-
namento da Igreja, seja porque necessitam de um adequado orde-
namento que assegure a celebração, administração e recepção de 
acordo com a justiça e a verdade. 
Feita esta grande introdução, na qual nos ocupamos de uma 
série de tópicos com a finalidade de introduzi-lo (a) no estudo da 
disciplina sacramental da Igreja, desejo e espero que se sinta bas-
tante motivado (a) para conhecê-la um pouco mais. Tenho certeza 
que esse estudo, se feito com a devida seriedade e empenho, irá 
surpreendê-lo (a) muito positivamente em relação a uma série de 
coisas, pode acreditar! 
Bom estudo!
Glossário de Conceitos 
O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rápi-
da e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe um bom 
domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de co-
nhecimento dos temas tratados na disciplina Direito Canônico II. 
Veja, a seguir, a definição dos principais conceitos desta disciplina: 
1) Administrador diocesano: é aquele que assume tem-
porariamente o governo de uma diocese durante a va-
29© Caderno de Referência de Conteúdo
cância da sé episcopal. O can. 416 nos recorda que a sé 
episcopal se torna vacante pela morte do Bispo dioce-
sano, pela renúncia aceita pelo Romano Pontífice, pela 
transferência e pela privação intimada ao Bispo.
O administrador diocesano geralmente é eleito pelo co-
légio dos consultores (a respeito do qual nos fala o cân. 
502), tendo as mesmas obrigações e o mesmo poder do 
Bispo diocesano, com exclusão do que se excetua pela 
natureza da coisa ou pelo próprio direito (cân. 427). 
A eleição do administrador diocesano deve ser realizada 
em conformidade com os cânn. 165-178 e os requisitos 
necessários para a função são fixados pelo cân. 425.
2) Ato administrativo: os diversos atos administrativos 
singulares possuem cada um o seu significado específi-
co e características peculiares. Todavia, possuem, tam-
bém, elementos comuns, justamente porque participam 
do gênero ato administrativo singular e, neste sentido, 
podem ser regulados por uma normativa comum. Nos 
cânn. 35-47 encontramos um conjunto de normas que 
regulam esses atos administrativos. 
Por ora basta que saiba que por ato administrativo sin-
gular podemos entender uma disposição dada pela com-
petente autoridade (pessoa física ou jurídica) executiva 
(cân. 35) ou legislativa (cân. 76 §1), na forma estabele-
cida pelo direito, para um caso particular e com eficácia 
jurídica limitada a tal caso.
Às vezes o ato administrativo singular contém uma de-
claração de vontade (licença – cân. 1124; admissão – 
cân. 641; dispensa – cân. 1127 §2; punição – cân. 1375; 
transferência – cân. 190; revogação – cân. 141) e, outras 
vezes, uma decisão de juízo ou de certificação (certifica-
do, autenticação, parecer, etc.). 
3) Caráter – o selo, junto com o penhor do Espírito, talvez 
seja na Igreja primitiva a fórmula encontrada para desig-
nar aquilo que no século IV foi elaborado com o nome 
de caráter sacramental. Nesta evolução teve uma impor-
tância decisiva a discussão com os donatistas no tempo 
do papa Milcíades (311-324), que destacou a validade 
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das ordenações conferidas, inclusive, por apóstatas, 
como ensinou, também, o sínodo de Arles do ano 314. 
É doutrina da Igreja que os sacramentos do batismo, da 
confirmação e da ordem imprimem caráter que pode ser 
considerado como uma realidade sobrenatural e confi-
guradora que imprime uma marca no núcleo pessoal do 
homem, de acordo com a finalidade do caráter. Sugiro 
que procure no Catecismo da Igreja Católica ou num di-
cionário de teologia o termo "caráter", pois há muitos 
elementos a considerar quando nos referimos a esta re-
alidade. Saiba, de antemão, que esta palavra possui na 
teologia é empregada com um significado diferente da 
linguagem usual.
4) Concílio Ecumênico: Concílio significa originariamente 
uma reunião ou assembléia para dirimir diferenças. No 
uso eclesiástico desde os primeiros séculos chamaram-
-se concílios as assembléias em que havia uma prevalên-
cia de Bispos. Sempre, porém, houve presença de outras 
pessoas (presbíteros e mesmo leigos). Aos concílios cabe 
deliberar sobre questões de ordem doutrinal, disciplinar 
e pastoral. Já a palavra Ecumênico é utilizada como si-
nônimo de universal. A Igreja católica reconhece como 
ecumênicos 21 concílios, o primeiro dos quais foi o de 
Nicéia (325 dC) e o último o Vaticano II (1962-1965). A 
normativa sobre o Concílio Ecumênico encontra-se ex-
plicitada nos cânn. 337-341 (cf. nota de roda pé do CIC 
de 1983, na qual o Pe. Jesus Hortal, SJ faz um comentário 
ao cânon 337).
5) Domicílio - não é necessário evidenciar a importância do 
lugar na vida do homem e, também, do cristão, e, por 
conseguinte, sua relevância nos ordenamentos jurídicos. 
De fato, nós, vivendo no espaço e no tempo no âmbito 
de uma determinada comunidade, temos precisos pon-
tos de referência ligados ao lugar do nosso nascimento e 
de nossa residência. Tendo por base o lugar são estabe-
lecidos relações no âmbito da família e da comunidade 
eclesial (paroquial ou diocesana). O fiel pelo fato de ha-
bitar em um lugar faz parte de uma comunidade de per-
tença onde exercita alguns de seus direitos fundamen-
31© Caderno de Referência de Conteúdo
tais, como, por exemplo, o de celebrar os sacramentos 
da vida cristã.
A aquisição do domicílio (cân. 102 §1) comporta um 
elemento objetivo: a residência no território de uma 
paróquia ou, ao menos, de uma diocese. Além deste re-
quisito, que não pode faltar, exige-se, ainda, uma certa 
estabilidade que poderá ser verificada a partir de dois 
critérios: tempo ou intenção. No primeiro caso, exige-
-se, então, que a pessoa permaneça no lugar por cinco 
anos completos. No segundo caso, exige-se o animus, ou 
seja, a intenção de permanecer perpetuamente naquele 
determinado lugar em que a pessoa reside, mesmo que, 
por causas imprevistas, tenha que abandonar o lugar. 
Portanto, havendo tal intenção imediatamente se adqui-
re o domicílio, independentemente do tempo.
Já a perda do domicílio se dá quando a pessoa deixa o 
lugar em que reside com a intenção de não mais voltar. 
Aqui temos uma exceção para o menor emancipado, 
pois, neste caso, perde o domicílio legal e adquire o do-
micílio voluntário, podendo ser o mesmo em que já es-
tava. 
6) "Ex opere operato" e "ex opere operantis" – a primeira 
expressão quer exprimir a eficácia objetiva de todo sa-
cramento, uma vez realizado validamente o sinal sacra-
mental. Tal eficácia se fundamenta nos méritos deCristo 
e não nos do ministro ou de quem recebe o sacramento. 
Afirmar que o sacramento é eficaz ex opere operato sig-
nifica proclamar que é Deus, e não o homem, quem jus-
tifica, que é a ação de Cristo, e não a do homem, fonte 
de salvação. Equivale a afirmar que os sacramentos são, 
em primeiro lugar, ações de Cristo, subordinadamente, 
ações da Igreja e, apenas, instrumentalmente ações do 
ministro. A segunda expressão quer exprimir os frutos 
subjetivos de todo sacramento. Dizer que o sacramento 
é eficaz ex opere operantis significa ter presente que a 
ação santificadora comunicada pelo sacramento pode fi-
car bloqueada por falta de disposição do ministro ou de 
quem recebe o sacramento, sem produzir algum fruto. 
Deste modo, procura-se evitar a ideia de que a eficácia 
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sacramental ex opere operato seja entendida como um 
automatismo mágico. 
7) Impedimento – no direito canônico a palavra "impedi-
mento" aparece em contextos diversos. Trata-se de uma 
palavra genérica que significa obstáculo. No contexto 
do direito matrimonial, que é o que nos interessa aqui, 
pode ser aplicada a qualquer obstáculo legal que impeça 
a válida celebração do matrimônio, tanto se tal obstácu-
lo procede de uma qualidade da pessoa, quanto da falta 
de um elemento essencial, como é o caso, por exemplo, 
da forma canônica, ou, mesmo, da falta ou vício de con-
sentimento.
No CIC atual, ainda em âmbito matrimonial, a palavra 
impedimento é acompanhada de um qualificativo: di-
rimente. Na verdade, como é sabido, a divisão dos im-
pedimentos em dirimentes (com sanção de nulidade) e 
impedientes (sem sanção de nulidade) desapareceu do 
código atual. Portanto, todo impedimento é sempre di-
rimente de modo que falar estrita e tecnicamente hoje 
em impedimento matrimonial equivale a dizer impedi-
mento dirimente. Assim, pois, o qualificativo vigente no 
CIC não tem precisamente a função de diferenciar e clas-
sificar, mas, sim, de clarificar o conceito.
Em relação à expressão "dirimente", utilizada pelo cân. 
1073 para clarificar o conceito de impedimento, pode-
mos afirmar que significa duas coisas: a) tais impedimen-
tos proíbem a celebração do matrimônio; b) impedem 
que se contraia validamente o matrimônio. Deste modo, 
fica esclarecida a natureza jurídica do impedimento. Tra-
ta-se de uma lei que, em primeiro lugar, proíbe a uma 
determinada pessoa a celebração do matrimônio. Além 
disso, é uma lei inabilitante, ou seja, à norma do cân. 10, 
torna a pessoa inábil para contrair matrimônio e, caso o 
faça, o mesmo será inválido. Sendo uma lei, o impedi-
mento é uma realidade eminentemente jurídica. Deste 
modo, a circunstância ou o fato que serve de sustenta-
ção para a lei, não entra na natureza do impedimento 
enquanto lei. Em outras palavras, a essência do impedi-
mento consiste em ser lei, que, porém, que não foi ema-
33© Caderno de Referência de Conteúdo
nada por capricho ou arbítrio, mas, sim, fundada sobre 
um fato ou circunstância objetiva que interessa à pessoa 
do contraente. Vejamos um exemplo: o fato da recepção 
do sacramento da ordem serve de sustento ao legislador 
para estabelecer a lei que impede a válida celebração do 
matrimônio a um determinado sujeito. O impedimento 
não seria o fato objetivo que lhe serve de sustento, mas, 
sim, a lei criada a partir deste fato. 
Uma outra qualidade do impedimento, como visto aci-
ma, é a nota da inabilidade. Segundo o cân. 10, as leis 
podem ser consideradas irritantes ou inabilitantes. As 
primeiras interessam diretamente o ato jurídico e o tor-
nam nulo. As segundas tocam diretamente a pessoa e a 
tornam inábil. Em outras palavras, existem leis que para 
tutelar determinados valores estabelecem a nulidade do 
ato jurídico quando não for realizado em conformidade 
com a lei. Esta nulidade poderá derivar ou da falta de 
um elemento que constitui o ato jurídico como tal, ou 
da incapacidade da pessoa para colocar um determina-
do ato jurídico. No primeiro caso, temos uma lei irritante 
e, no segundo, uma lei inabilitante. No caso dos impedi-
mentos matrimoniais nos encontramos diante de uma 
lei inabilitante. Assim, do impedimento-lei que torna a 
pessoa inábil, surge necessariamente o efeito de dirimir 
o matrimônio caso seja realizado.
8) Incardinado, incardinação: no direito canônico antigo os 
clérigos eram normalmente ordenados para o serviço de 
uma determinada igreja. Esta igreja se encontrava natu-
ralmente em uma diocese, mas os clérigos eram adscri-
tos imediatamente na igreja à qual serviam e nem tanto 
em uma diocese. De fato, a incardinatio entendida como 
adscrição a uma diocese, tal como disciplinada pelo CIC 
de 1917, é o resultado de uma práxis do século 19. 
O Concílio Vaticano II nos recorda que o ministro ordena-
do não é um sujeito privado, que administra autonoma-
mente um ministério a ele confiado de acordo com a sua 
utilidade pessoal; ao contrário, ele pertence à Igreja, na 
e por meio da realidade sacramental que a torna presen-
te em um determinado lugar, isto é, a Igreja particular. 
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Além disso, Concílio quis apresentar uma visão mais uni-
versal do ministério sagrado. O sacerdote é visto como 
o colaborador não apenas do seu bispo, mas da ordem 
episcopal (LG 28b). Por isso, o decreto Presbyterorum 
Ordinis no número 10 solicitou que fossem revistas as 
normas sobre a incardinação e a excardinação de modo 
que este instituto antiqüíssimo, mesmo permanecendo 
em vigor, estivesse mais em sintonia com as necessida-
des pastorais de hoje. O motu proprio Ecclesiae Sanctae 
(06/08/1966) deu novas normas que tornavam mais fácil 
a passagem de um clérigo de uma diocese para outra, 
normas que foram integradas substancialmente pelo CIC 
de 1983.
Podemos, portanto, afirmar que o instituto da incardina-
ção não representa um fato acidental, mas pode ser de-
finido como um vínculo jurídico estável que cada clérigo 
tem com uma concreta porção do povo de Deus, para 
ela dedicar-se (servir) sob a autoridade do bispo dioce-
sano (ou equivalente). Isso implica uma pertença a esta 
Igreja em nível jurídico, afetivo e espiritual e a obrigação 
do serviço ministerial.
A normativa relativa à incardinação dos clérigos encon-
tra-se no CIC nos cânn. 265-272. Na nota de roda pé do 
cân. 265, elaborada pelo Pe. Jesus Hortal, encontra-se a 
explicação etimológica da palavra, como, também, a sua 
definição jurídica. 
9) Indulgências – é de fundamental importância sublinhar, 
logo de início, que as indulgências possuem um caráter 
de intercessão que a Igreja eleva em favor dos fiéis em-
penhados nos exercícios de penitência. A Igreja se sen-
te co-envolvida na situação daqueles que, após terem 
recebido o perdão das culpas, estão, agora, expiando 
as conseqüências, históricas e concretas, dos pecados 
cometidos. Isso vale, também, para as dolorosas conse-
qüências que os pecados produzem em nós. A confissão 
das culpas e o perdão que recebemos no sacramento 
da penitência, são, apenas, o primeiro passo, pois, em 
seguida, devemos percorrer um caminho que consisti-
rá em neutralizar os efeitos dos pecados cometidos. A 
35© Caderno de Referência de Conteúdo
indulgência, entendida como intercessão da Igreja em 
favor dos fiéis que se empenham nos exercícios de pe-
nitência entra justamente aqui. Desde as suas origens a 
Igreja sempre acompanhou com as suas orações estes 
esforços dos fiéis e é nesta perspectiva que se desen-
volverá na idade média a oração ligada às indulgências. 
Hoje é impensável um discurso sobre as indulgências 
sem vinculá-las aos méritos da obra redentora de Cristo.
Podemos, então, como definição, afirmar que as indul-
gências são uma invocação dirigida a Deus, para que se 
mostre magnânimo no confronto com o pecador e o cure 
com o seu amor, libertando-o das resistências interiores 
e exteriores, que o fazem ainda depender do pecado, e 
dando a ajuda necessária para que possa ressarcir os da-
nos pelosquais é responsável, abrindo-se, assim, para 
uma vida nova a ser construída. 
10) Liturgia: a Constituição Sacrosanctum Concilium nos diz 
que a Liturgia é tida como o exercício do múnus sacerdo-
tal de Jesus Cristo, no qual, mediante sinais sensíveis, é 
significada e, de modo peculiar a cada sinal, realizada a 
santificação do homem; e é exercido o culto público in-
tegral pelo Corpo Místico de Cristo, Cabeça e membros. 
Disto se segue que toda a celebração litúrgica, como 
obra de Cristo sacerdote, e de Seu Corpo que é a Igre-
ja, é uma ação sagrada por excelência, cuja eficácia, no 
mesmo título e grau, não é igualada por nenhuma outra 
ação da Igreja (SC 7).
11) Ministro ordinário e ministro não ordinário - O primei-
ro é aquele a quem compete por ofício administrar os 
sacramentos, como, por exemplo, o bispo e o pároco. O 
segundo é aquele que sucede o ministro ordinário em 
casos de necessidade, por faculdade ou por delegação, 
como seria o caso, por exemplo, do diácono quando as-
siste ao matrimônio.
12) Ministro sacro: o cân. 1008 nos recorda que por institui-
ção divina, graças ao sacramento da ordem, alguns entre 
os fiéis, pelo caráter indelével com que são assinalados, 
são constituídos ministros sagrados, isto é, são consa-
grados e delegados a fim de que, personificando a Cristo 
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Cabeça, cada qual em seu respectivo grau, apascentem 
o povo de Deus, desempenhando o múnus de ensinar, 
santificar e governar.
No direito canônico, ministro sacro ou sagrado é, portan-
to, aquele que recebeu o sacramento da ordem a qual, 
por sua vez, possui três graus: episcopado, presbiterato 
e diaconato (cân. 1009). 
No direito canônico os ministros sagrados são chamados 
de clérigos (cân. 207). Todavia, convém esclarecer que 
todo sacerdote é um ministro sagrado ou clérigo, mas 
nem todo ministro sagrado é sacerdote, como é o caso 
do diácono.
13) Missio canonica: esta expressão possui, também, alguns 
significados e, portanto, é preciso se ater ao contexto 
no qual aparece. No caso, por exemplo, do exercício do 
múnus de ensinar nas universidades e faculdades eclesi-
ásticas, o legislador foca a sua atenção na figura dos pro-
fessores, pois têm a grande responsabilidade de exer-
citar o ministério da palavra de Deus. Por isso, devem 
ser mestres da fé para os estudantes, testemunhas vivas 
da verdade evangélica e modelos de fidelidade à Igreja. 
Devem, por conseguinte, distinguir-se pela honestidade 
de vida, integridade de doutrina e dedicação ao traba-
lho (SCH art. 26 §1). Aqueles professores que ensinam 
matérias relativas à fé e à moral devem desenvolver esta 
função em plena comunhão com o magistério autêntica 
da Igreja, em particular, do Papa. Por conseguinte, ne-
cessitam receber a missio canonica do Grão Chanceler, 
após terem emitido a profissão de fé e o juramento de fi-
delidade, para poderem lecionar, pois o seu ensinamen-
to é realizado não em nome e por autoridade própria, 
mas em nome e pela autoridade da Igreja.
Neste caso, a missio canonica é um encargo formal para 
ensinar teologia naquela específica universidade ou fa-
culdade eclesiástica. Tal encargo é dado por escrito e 
aquele que o recebe contribui, assim, para a realização 
da função de ensinar da Igreja (cân. 807) em matéria te-
ológica (dogmática, sagrada escritura, moral, direito ca-
nônico, etc.).
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14) Motu proprio: o Romano Pontífice exerce o seu magisté-
rio recorrendo a uma variedade de documentos. Aque-
les documentos papais que contém a expressão "motu 
proprio" indicam que foram escritos por iniciativa pesso-
al dele e com a sua própria autoridade. 
15) Munus docendi, sanctificandi e regendi – como é sabido 
o atual ordenamento jurídico da Igreja possui profundas 
raízes na reflexão do Concílio Vaticano II. Este Concílio 
deu muita importância à distinção entre as três fun-
ções (munera) de Cristo e da Igreja (ensinar, santificar 
e governar), resumindo em torno delas toda a missão 
de Cristo e da Igreja. Por isso o CIC atual, inspirado pelo 
Vaticano II, quis mostrar, com os dois livros que fazem 
referência à função de ensinar (livro III) e santificar (livro 
IV), a intrínseca relação que existe entre a matéria por 
eles regulada e a missão salvífica da Igreja. 
Uma referência importante para compreender estas três 
funções é a constituição dogmática Lumen gentium, par-
ticularmente no capítulo III em que se ocupa da consti-
tuição hierárquica da Igreja e em especial do episcopa-
do, nos números 25 a 27 e, também, no capítulo IV em 
que se ocupa dos leigos, mencionando explicitamente 
a participação deles no múnus sacerdotal (nº 34), pro-
fético (nº 35) e régio (nº36) de Cristo. A leitura de tais 
números é suficiente para uma adequada compreensão 
destes três múnus.
16) Pena irrogada ou declarada: a Igreja ao perseguir o seu 
fim sobrenatural, a salvação das pessoas, além do poder 
legislativo, executivo (administrativo) e judiciário pos-
sui, também, um poder coativo, pois possui o direito e o 
dever de tutelar o bem público através da constituição, 
aplicação e remissão das penas. O resultado do exercício 
desta faculdade é o direito penal, isto é, o complexo das 
normas com as quais a Igreja exercita e regula a faculda-
de punitiva e que se encontra contido no livro VI e em 
parte do livro VII (cânn. 1717-1731) do CIC latino.
A Igreja quando constitui as penas exercita o poder le-
gislativo (emanando leis penais) ou administrativo (ema-
nando preceitos penais). Já quando aplica as penas, 
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exercita o poder judiciário (caso utilize um processo judi-
cial) ou, então, executivo ou administrativo (caso utilize 
um processo administrativo). Por fim, quando remite as 
penas a Igreja se vale do poder executivo ou administra-
tivo. 
Uma peculiaridade do ordenamento canônico é o insti-
tuto das penas latae sententiae. A sua origem se perde 
na primeira metade da Idade Média, embora sua inter-
pretação nem sempre seja clara. É recorrente na Igreja a 
discussão sobre a oportunidade ou não de conservá-lo. 
Existem razões a favor e contra tal instituto. O fato é que 
o CIC atual dá preferência pelas penas ferendae senten-
tiae, mas não renunciou às penas latae sententiae, tor-
nando mais rigorosa a sua aplicação.
A pena é latae sententiae quando configurada de modo 
tal que nela se incorre pelo simples fato de se cometer 
um determinado delito, sem a necessidade de qualquer 
intervenção da autoridade competente. Como diz o ter-
mo, trata-se de uma pena que decorre de uma sentença 
já emanada pelo legislador no momento em que consti-
tui a pena, seja por lei ou preceito. 
A pena é ferendae sententiae quando requer a interven-
ção do Superior ou do juiz que a irroga por decreto ou 
sentença após ter sido cometido o delito. Caso não haja 
a intervenção da autoridade, a pena não é aplicada.
O princípio geral é que na maioria das vezes a pena é 
ferendae sententiae e, portanto, deve constar expressa-
mente na lei quando se tratar de pena latae sententiae. 
No caso de dúvida deve sempre se considerar a pena 
como ferendae sententiae, pois a interpretação é estrita 
(cân. 18).
Diante do exposto podemos esclarecer, agora, os dois 
termos. A pena é irrogada quando é imposta pela inter-
venção do Superior ou do juiz. Faltando tal intervenção 
a pena não é aplicada. A pena é declarada quando a 
pessoa nela incorre pelo simples fato de ter cometido 
o delito, cabendo ao Superior ou juiz apenas declarar o 
fato e não impor pena alguma, pois isso a norma já o fez. 
Evidentemente que no direito penal da Igreja existem 
39© Caderno de Referência de Conteúdo
circunstâncias que mitigam ou agravam a pena, mas não 
é o caso de disso nos ocuparmos aqui. 
17) Sacramental, sacramentais – tendo por referência a 
SC 60, o catecismo da Igreja Católica apresenta os sacra-
mentais da seguinte forma: "A santa mãe Igreja instituiu 
os sacramentais, que são sinais sagradospelos quais, à 
imitação dos sacramentos, são significados efeitos prin-
cipalmente espirituais, obtidos pela impetração da Igre-
ja. Pelos sacramentais os homens se dispõem a receber 
o efeito principal dos sacramentos e são santificadas as 
diversas circunstâncias da vida" (nº 1667). Nos números 
seguintes (1668-1673) encontramos os traços caracterís-
ticos dos sacramentais e as suas diversas formas.
18) Salus animarum: o ordenamento jurídico da Igreja, as 
leis e os preceitos, como, também, os direitos e deveres 
que dele derivam devem sempre estar em consonância 
com o fim sobrenatural da Igreja: a salvação das pesso-
as (salus animarum). É certo que nem todas as normas 
jurídicas são dadas diretamente para fomentar a busca 
de tal fim sobrenatural ou para favorecer a cura pasto-
ral. Todavia, é necessário que todas elas, sem exceção, 
estejam sempre em harmonia com o fim sobrenatural 
de todos os homens. Não é à toa que o último cânon 
do CIC atual nos chama justamente a atenção para este 
dado básico, afirmando que na Igreja a salvação das al-
mas (pessoas) deve ser sempre a lei suprema.
19) Válido e lícito – as diversas leis em geral não tornam nulo 
o ato contrário a elas. Trata-se de um princípio de res-
peito do legislador pela liberdade das pessoas que são 
chamadas a respeitar as leis com uma adesão consciente 
e livre. Caso a pessoa aja contra a lei viola um princípio 
jurídico, agindo, portanto, ilicitamente. Porém, tal ato de 
um ponto de vista jurídico não é nulo, isto é, não deixa 
de produzir os seus efeitos. Todavia, há casos ou situa-
ções em que o legislador reage a determinados compor-
tamentos ilegítimos de modo mais severo, declarando 
inválido o ato realizado de modo contrastante com aqui-
lo que foi estabelecido pela lei ou por uma pessoa inábil. 
Veja-se, por exemplo, os cânn. 1108 e 656.
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As leis que prevêem a nulidade do ato quando não rea-
lizado em conformidade com o que estabelece a lei são 
chamadas de irritantes ou inabilitantes. Tais leis são ne-
cessárias para evitar lides, abusos de poder, prepotên-
cias, incertezas e situações perigosas para a moralidade 
e garantir a certeza do direito.
Em matéria de liturgia, o termo "validade" nos remete 
para o conceito de eficácia. O ato válido é eficaz por-
que produz os seus efeitos. Válido e eficaz coincidem. 
O efeito substancial é o de modificar a situação jurídica 
precedente, ou seja, recebido validamente o batismo ou 
ordem ou sendo dado um consentimento matrimonial 
válido, o sujeito resulta batizado, ordenado, casado. A 
situação jurídica precedente muda. 
A eficácia do ato depende da pessoa que o realiza em 
conformidade com o que foi fixado pela lei. O vínculo 
matrimonial deriva do consentimento dos cônjuges ma-
nifestado conforme os cânones. Já o batismo de crianças 
e os efeitos que dele derivam se dão pela fé da Igreja na 
qual são batizados. Não se pode afirmar, então, que o 
batismo é administrado sem a fé. 
Segundo o cân. 124 §1, válido é o ato que possui todos os 
elementos essenciais e que foi realizado na observância 
das formalidades e dos requisitos impostos pelo direito. 
O cân. 841 afirma que aprovar e definir os requisitos de 
validade dos sacramentos compete apenas à suprema 
autoridade da Igreja, ou seja, ao Papa (cân. 331) e ao 
Colégio Episcopal (cân. 336). Isto porque os sacramentos 
pertencem ao depósito da fé. Para a sua interpretação 
é necessário ater-se aos princípios dogmáticos. Já para 
os aspectos de liceidade na celebração, administração e 
recepção, possuem competência as Conferências Epis-
copais e os Bispos diocesanos (cân. 838 §§ 3-4).
20) Vigário geral, vigário episcopal: diferentemente do CIC 
de 1917, o vigário geral é um ofício de constituição obri-
gatória na diocese (cân. 475). Enquanto que a figura do 
vigário geral já aparece no século XI para definir-se no 
século XIV como aquele que faz às vezes do Bispo, o vi-
gário episcopal nasce com o Concílio Vaticano II (cf. CD 
41© Caderno de Referência de Conteúdo
27ª). Tanto o vigário geral quanto o vigário episcopal de-
vem ser sacerdotes, são livremente nomeados pelo Bis-
po diocesano e não podem ser consangüíneos dele até 
o quarto grau. Possuem uma potestade ordinária, vicá-
ria, administrativa (cânn. 476; 479), mas não legislativa 
ou judiciária. Trata-se, portanto, de um ofício de caráter 
eminentemente pastoral.
Como regra geral o CIC estabelece que seja constituído 
um só vigário geral, a não ser que a extensão da dioce-
se, o número de moradores ou outras razões pastorais 
aconselhem diversamente (cân. 475 §2). Podem, ao con-
trário, ser constituídos um ou mais vigários episcopais 
que tenham em determinada parte da diocese, ou em 
determinada espécie de questões, ou quanto aos fiéis 
de determinado rito ou de certa classe de pessoas, o 
mesmo poder ordinário que compete ao vigário geral 
por direito universal (cân. 476). Portanto, em razão de 
seu ofício, o vigário geral possui a potestade executiva 
em toda a diocese (cân. 479 §1), ao passo que o vigário 
episcopal possui, ipso iure, a mesma potestade execu-
tiva, mas circunscrita ao território, ou aos assuntos, ou 
às pessoas a ele confiadas (cân. 479 §2), exceto as cau-
sas que o Bispo tenha reservado a si ou ao vigário geral, 
ou que, pelo direito, exijam mandato especial do Bispo 
(cân. 479 §2).
Cabem também ao vigário geral e ao vigário episcopal, 
no âmbito da própria competência, todas as faculdades 
habituais concedidas ao Bispo diocesano pela Santa Sé, 
como, também, a execução dos rescritos, salvo haja de-
terminação expressa em contrário ou tenha sido esco-
lhida a própria competência pessoal do Bispo diocesano 
(cân. 479 §3).
O vigário geral e o vigário episcopal são considerados no 
CIC como ordinários do lugar no sentido do cân. 134 §§ 
1-2.
A potestade dos vigários é uma participação limitada da 
potestade do ofício principal que é o do Bispo diocesa-
no (cân. 479 §1). Os vigários possuem um poder ordi-
nário (enquanto anexo a um ofício – cân. 131 §1), pró-
© Direito Canônico II
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42
prio (apenas no sentido que existe um âmbito de poder 
atribuído pelo próprio direito ao ofício que ocupam) e 
vicário (pela estreita conexão com as funções e as com-
petências próprias do Bispo diocesano).
Os vigários agem enquanto titulares de um ofício, o qual 
consiste em cooperar com o ofício principal. O ofício 
principal não perde os seus poderes cedendo-os aos vi-
gários, mas estes dele participam de modo subordina-
do. Não há, desta forma, uma descentralização do poder 
com a perda dos poderes por parte do ofício principal, 
mas uma participação subordinada neste poder. Portan-
to, a natureza vicária desta potestade deve ser entendi-
da no sentido de que não poderia existir sem se referir 
de modo subordinado ao ofício principal. 
A cessação do ofício de vigário é ligada a várias circuns-
tâncias: término do mandato, renúncia, remoção, trans-
ferência, morte, sede vacante. 
21) Vigário judicial: o vigário judicial faz as vezes do Bispo 
na área da administração da justiça, quer no julgamento 
das causas, quer no governo do tribunal, neste caso com 
funções administrativas em âmbito judicial (estabelecer 
os turnos dos juízes, confiar as causas a cada turno, dar a 
permissão para que a causa matrimonial seja introduzi-
da no foro do demandante ou das provas, etc.). O vigário 
judicial forma com o Bispo um único tribunal (cân. 1420 
§2), embora tenha a liberdade para julgar, como qual-
quer outro juiz. Por isso, não é possível apelar ao Bispo 
contra as decisões do vigário judicial e nem apresentar a 
ele recursos contra eventuais decisões do Bispo. 
O ofício de vigário judicial é autônomo e independente 
em relação ao vigário geral, pois são esferas diferentes 
de atuação. O primeiro atua em âmbito judicial e o se-
gundo em âmbito executivo ou administrativo. 
22) Viático - é a comunhão dada àquelas pessoas que se 
encontram em perigo iminente de perdera vida, cons-
tituindo-se, portanto, em um auxílio espiritual de gran-
de relevância para os que estão prestes a partir deste 
mundo.
43© Caderno de Referência de Conteúdo
23) Voto: o voto é uma promessa deliberada e livre de um 
bem possível e melhor, feita a Deus, para ser cumprido 
em razão da virtude da religião (cân. 1191). O voto é pú-
blico, quando aceito pelo superior legítimo em nome da 
Igreja; caso contrário é privado. Este termo é importan-
te, particularmente quando se estuda a vida religiosa. 
Nos institutos religiosos os conselhos evangélicos são 
necessariamente assumidos mediante votos públicos, 
pois o instituto religioso para ser tal comporta, acima de 
tudo, o vínculo dos votos. 
Esquema dos Conceitos-chave 
Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais im-
portantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um Es-
quema dos Conceitos-chave da disciplina. O mais aconselhável é 
que você mesmo faça o seu esquema de conceitos-chave ou até 
mesmo o seu mapa mental. Esse exercício é uma forma de você 
construir o seu conhecimento, ressignificando as informações a 
partir de suas próprias percepções. 
É importante ressaltar que o propósito desse Esquema dos 
Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações en-
tre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos mais 
complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliar você 
na ordenação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos de 
ensino. 
Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-
-se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em 
esquemas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu co-
nhecimento de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pe-
dagógicos significativos no seu processo de ensino e aprendiza-
gem. 
Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es-
colar (tais como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas 
em Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda, 
© Direito Canônico II
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44
na ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que es-
tabelece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos 
conceitos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim, 
novas ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem 
pontos de ancoragem. 
Tem-se de destacar que "aprendizagem" não significa, ape-
nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci-
so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure 
como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante con-
siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais 
de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos concei-
tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez 
que, ao fixar esses conceitos nas suas já existentes estruturas cog-
nitivas, outros serão também relembrados. 
Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que é você 
o principal agente da construção do próprio conhecimento, por 
meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações internas 
e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por objetivo tor-
nar significativa a sua aprendizagem, transformando o seu conhe-
cimento sistematizado em conteúdo curricular, ou seja, estabele-
cendo uma relação entre aquilo que você acabou de conhecer com 
o que já fazia parte do seu conhecimento de mundo (adaptado do 
site disponível em: <http://penta2.ufrgs.br/edutools/mapascon-
ceituais/utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 11 mar. 2010). 
45© Caderno de Referência de Conteúdo
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nucleóide e 
citoplasma 
com poucas 
organelas 
Microscópio 
óptico 
Descoberta da 
célula: 
Robert Hooke 
Neurônio e 
Células da 
Glia 
 OS 
SACRAMENTOS 
CIC 
1983 
CCEO 
1990 
Os sacramentos de 
iniciação cristã 
Os sacramentos 
de cura 
Batismo, 
Confirmação e 
Eucaristia 
Penitência e 
Unção dos 
Enfermos 
Os sacramentos 
do serviço: 
 
O ministro 
O Sujeito 
passivo: quem 
recebe o 
sacramento 
Aspectos 
teológico-
jurídicos 
fundamentais 
A 
celebração 
Estrutura comum no estudo canônico 
dos sacramentos 
Ordem e 
Matrimônio 
Síntese 
dogmática e 
implicâncias 
canônicas 
Matéria e 
forma; 
Tempo e 
lugar 
Ordinário, 
Extraordinário 
Validade 
Liceidade 
Intenção, 
habilidade 
jurídica e 
preparação. 
Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave da disciplina Direito Canônico II. 
Como você pode observar, esse Esquema dá a você, como 
dissemos anteriormente, uma visão geral dos conceitos mais im-
portantes deste estudo. Ao segui-lo, você poderá transitar entre 
um e outro conceito desta disciplina e descobrir o caminho para 
construir o seu processo de ensino-aprendizagem. 
© Direito Canônico II
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46
O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos de 
aprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambien-
te virtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como 
àqueles relacionados às atividades didático-pedagógicas realiza-
das presencialmente no polo. Lembre-se de que você, aluno EaD, 
deve valer-se da sua autonomia na construção de seu próprio co-
nhecimento. 
Questões Autoavaliativas
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões 
autoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem ser 
de múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas. 
 Responder, discutir e comentar essas questões, bem como 
relacioná-las com a prática do ensino da Teologia pode ser uma for-
ma de você avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a reso-
lução de questões pertinentes ao assunto tratado, você estará se 
preparando para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso, 
essa é uma maneira privilegiada de você testar seus conhecimentos 
e adquirir uma formação sólida para a sua prática profissional. 
As questões de múltipla escolha são as que têm como respos-
ta apenas uma alternativa correta. Por sua vez, entendem-se por 
questões abertas objetivas as que se referem aos conteúdos 
matemáticos ou àqueles que exigem uma resposta determinada, 
inalterada. Já as questões abertas dissertativas obtêm por res-
posta uma interpretação pessoal sobre o tema tratado; por isso, 
normalmente, não há nada relacionado a elas no item Gabarito. 
Você pode comentar suas respostas com o seu tutor ou com seus 
colegas de turma.
Bibliografia Básica
É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus es-
tudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as bibliogra-
fias apresentadas no Plano de Ensino e no item Orientações para o 
estudo da unidade.
47© Caderno de Referência de Conteúdo
Figuras (ilustrações, quadros...)
Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte inte-
grante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustra-
tivas, pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no 
texto. Não deixe de observar a relação dessas figuras com os con-
teúdos da disciplina, pois relacionar aquilo que está no campo vi-
sual com o conceitual faz parte de uma boa formação intelectual. 
Dicas (motivacionais)
O estudo desta disciplina convida você a olhar, de forma 
mais apurada, a Educação como processo de emancipação do ser 
humano. É importante que você se atente às explicações teóricas, 
práticas e científicas que estão presentes nos meios de comunica-
ção, bem como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois, 
ao compartilhar com outras pessoas aquilo que você observa, per-
mite-se descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo a 
ver e a notar o que não havia sido percebido antes. Observar é, 
portanto, uma capacidade que nos impele à maturidade.
Você, como aluno do curso de Graduação na modalidade 
EaD, necessita de uma formação conceitual sólida e consistente. 
Para isso, você contará com a ajuda do tutor a distância, do tutor 
presencial e, sobretudo, da interação com seus colegas. Sugeri-
mos, pois, que organize bem o seu tempo e realize as atividades 
nas datas estipuladas. 
Éimportante, ainda, que você anote as suas reflexões em 
seu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-
rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-
ções científicas.
Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie 
seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discu-
ta a unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoau-
las. 
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48
No final de cada unidade, você encontrará algumas questões 
autoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre os 
conteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativos 
para sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas, 
pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure-
cimento intelectual.
Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na 
modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurando 
sempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.
Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado a 
esta disciplina, entre em contato com seu tutor. Ele estará pronto 
para ajudar você.
1
EA
D
Os Sacramentos em Geral
1. OBJETIVOS
•	 Analisar o conjunto dos principais aspectos teológicos e 
jurídicos dos sacramentos, globalmente considerados, 
bem como de alguns aspectos jurídicos específicos. 
•	 Identificar a normativa relativa aos sacramentos em geral 
e que precede a disciplina dos sacramentos em especial.
2. CONTEÚDOS
•	 Apresentação geral do livro IV do CIC atual.
•	 Aspectos teológicos e jurídicos fundamentais dos sacra-
mentos em geral.
•	 Aspectos jurídicos específicos relativos aos elementos 
que compõem os sacramentos.
•	 Os cânones preliminares da normativa sacramental do 
CIC atual.
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3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que 
você leia as orientações a seguir:
1) Nesta unidade achamos por bem fazer um pequeno 
apanhado dos principais aspectos teológico-jurídicos 
relativos aos sacramentos em geral, pois consideramos 
de fundamental importância tê-los presente, antes do 
estudo da normativa de cada sacramento em particular. 
2) Na distribuição da matéria relativa aos sacramentos e 
contida no livro IV do CIC o legislador adotou uma sis-
temática inspirada nos textos conciliares e, justamente 
por isso, sugerimos que você esteja atento a essas fontes 
indicadas ao longo do texto.
3) É importante, também, compreender a noção de sacra-
mento, seus elementos essenciais, sua eficácia, sua di-
mensão eclesial e jurídica.
4) No estudo da normativa reveste-se de particular impor-
tância a análise dos cânn. 840-848, pois alguns deles 
contêm os pressupostos doutrinais de toda a legislação 
canônica nesta matéria. Particular destaque merece o 
cân. 844 que traduz em termos disciplinares os princí-
pios que inspiram as relações ecumênicas relativas aos 
sacramentos. O cânon é importante porque mostra a es-
treita ligação que existe entre a comunhão eclesial e a 
comunhão sacramental.
5) Por fim, sugerimos que não deixe de consultar a biblio-
grafia indicada no final da unidade, pois contém algumas 
indicações de leitura que ajudam a completar as infor-
mações disponibilizadas neste material de apoio que, 
como você bem sabe, é apenas um instrumento para 
facilitar um caminho que lhe cabe percorrer.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE 
Nesta primeira unidade, você será convidado a refletir sobre 
o conjunto dos principais aspectos teológicos e jurídicos dos sacra-
51© Os Sacramentos em Geral
mentos, globalmente considerados, bem como sobre alguns as-
pectos jurídicos específicos. Esta visão constituirá uma espécie de 
"pano de fundo" para uma adequada compreensão da normativa 
canônica dos sacramentos, da qual nos ocuparemos nas unidades 
subsequentes. Além disso, você será inserido no estudo da norma-
tiva relativa aos sacramentos em geral e que precede a disciplina 
dos sacramentos em especial.
No final desta unidade, você terá um horizonte de compre-
ensão que lhe permitirá identificar aqueles elementos essenciais 
para uma correta compreensão do direito sacramental da Igreja.
Vamos lá?
5. APRESENTAÇÃO GERAL DO LIVRO IV DO CIC ATUAL
Antes de estudarmos a normativa relativa aos sacramentos, 
é importante que você saiba onde ela se encontra. Por esse mo-
tivo, dedicaremos este espaço para uma breve apresentação do 
livro IV do Código de Direito Canônico atual (CIC), dedicado à fun-
ção de santificar da Igreja, pois é, especialmente, nele que você 
irá encontrar o direito sacramental da Igreja latina. Todavia, saiba 
você que existe um direito litúrgico, presente de modo especial 
nos livros litúrgicos, o qual também contém diversas disposições 
sobre a liturgia e os sacramentos, mas dele não nos ocuparemos 
nesta disciplina.
Na sistemática adotada pelo CIC, o livro IV é dedicado à fun-
ção de santificar da Igreja. Dividido em três partes compreende 
419 cânones assim distribuídos:
1) 06 cânones introdutórios de caráter geral que tratam da 
função de santificar própria da Igreja (cânn. 834-839).
2) 326 cânones sobre os sacramentos assim agrupados: 
a) os sacramentos em geral (cânn. 840-848);
b) o batismo (cânn. 849-878);
c) a confirmação (cânn. 879-896);
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52
d) a santíssima Eucaristia (cânn. 897-958);
e) a penitência (cânn. 959-997);
f) a unção dos enfermos (cânn. 998-1007);
g) a ordem (cânn. 1008-1054);
h) o matrimônio (1055-1165);
3) 39 cânones sobre os outros atos do culto divino assim 
divididos: 
a) os sacramentais (cânn. 1166-1172); 
b) a liturgia das horas (cânn. 1173-1175);
c) as exéquias eclesiásticas (cânn. 1176-1185); 
d) o culto dos santos, imagens sagradas e relíquias 
(cânn. 1186-1190); 
e) o voto e o juramento (cânn. 1191-1204);
4) 48 cânones sobre os lugares e tempos sagrados (cânn. 
1205-1253).
Informação Complementar –––––––––––––––––––––––––––––
Toda esta vasta matéria anteriormente elencada foi recolhida sob o título De Ec-
clesiae munere sanctificandi, que veio substituir o termo res, utilizado pelo CIC 
de 1917 como título para o livro III, o qual compreendia, além dos cânones rela-
tivos à função de santificar da Igreja, aqueles que tratavam dos bens temporais 
(livro V do CIC atual) e da função de ensinar da Igreja (livro III do CIC atual). Con-
vém lembrar que o termo res é de derivação romana (persone, res, actiones) e no 
CIC anterior indicava tudo aquilo que se distinguia das pessoas e dos processos. 
Por este motivo é que o livro III da legislação anterior era pouco homogêneo e 
suscitou muitas críticas. Não resta dúvida que do ponto de vista eclesiológico a 
nova sistemática do CIC atual é muito mais expressiva.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
É bom que você saiba que o livro IV não reúne toda a disci-
plina relativa à função de santificar da Igreja, pois encontramos 
alguns cânones coligados com o múnus de santificar, embora em 
escala bem menor, nos livros I, II, III e V do CIC. Isto revela que a 
função de santificar ocupa um lugar central na vida da Igreja. Em 
poucas palavras e de maneira resumida, podemos afirmar que o 
livro IV do CIC, atento à inteira realidade eclesial, coloca em des-
taque a índole sagrada e orgânica desta mesma realidade e como 
nela é exercitada a função de santificar. 
53© Os Sacramentos em Geral
Nesta disciplina, o nosso foco estará voltado exclusivamen-
te para um tema essencial no estudo da função de santificar: os 
sacramentos. Portanto, nos ocuparemos dos cânones que tratam:
1) dos sacramentos em geral (cânn. 840-848);
2) do batismo (cânn. 849-878);
3) da confirmação (cânn. 879-896);
4) da santíssima Eucaristia (cânn. 897-958);
5) da penitência (cânn. 959-997);
6) da unção dos enfermos (cânn. 998-1007);
7) da ordem (cânn. 1008-1054);
8) e do matrimônio (1055-1165).
Isso porque, como há pouco indicado, a normativa contida 
no livro IV é muito extensa e não temos como esgotá-laaqui. Além 
disso, mesmo permanecendo no âmbito do nosso tema, não será 
feita uma análise exaustiva de cada cânon, pois não é o propósito 
desta disciplina e nem teríamos espaço para uma abordagem do 
tipo exegética. Limitaremo-nos aos principais aspectos da norma-
tiva, dentro de uma visão panorâmica, porém, suficiente.
Feitas essas considerações iniciais a respeito dos conteúdos 
do livro IV e do nosso objetivo, iremos tocar, agora, em alguns sub-
-temas que servem como um apoio importante para a compreen-
são daquilo que constitui o objeto de estudo desta disciplina.
O título do livro IV 
O título do livro IV do CIC possui as suas raízes na reflexão do 
Concílio Vaticano II. Este Concílio deu muita importância à distin-
ção entre as três funções (munera) de ensinar, santificar e gover-
nar, resumindo em torno delas toda a missão de Cristo e da Igreja. 
O CIC atual, inspirado pelo Concílio Vaticano II, quis mostrar, com 
os dois livros que fazem referência à função de ensinar (livro III) e 
santificar (livro IV), a intrínseca relação que há entre a matéria por 
eles regulada e a missão salvífica da Igreja. 
© Direito Canônico II
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54
A função de santificar possui um significado amplo: significa 
tanto "tornar-nos santos" e, nesse sentido, faz-se referência àque-
la parte da liturgia que atinge este objetivo em benefício das pes-
soas (movimento descendente), quanto "glorificar Àquele que é 
santo" e, nesse sentido, faz-se referência ao culto divino como tal, 
isto é, ao serviço humano apresentado a Deus (movimento ascen-
dente). Teologicamente, as duas partes não estão justapostas, mas 
cada uma delas é necessária à verdade cristã da outra. Coerente 
com esta perspectiva o CIC procura dar uma visão unitária seja da 
liturgia, evitando reduzi-la a um conjunto de leis e rubricas, seja do 
direito dos sacramentos, do qual nos ocuparemos nesta disciplina.
O livro IV e o Concílio Vaticano II
O livro IV do CIC recebeu um grande influxo do Concílio Vati-
cano II e da reforma litúrgica por ele desejada. A renovação resulta 
evidente se compararmos os caracteres fundamentais do CIC de 
1917 em matéria litúrgica com o CIC atual.
INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR –––––––––––––––––––––––
No CIC de 1917 o direito litúrgico baseava-se na reforma pós-tridentina, confir-
mada e afirmada pelo Vaticano I. Dentre as características principais, destaca-
mos: a) a centralização litúrgica (somente a Santa Sé podia regular e aprovar os 
livros litúrgicos); b) a uniformidade litúrgica; c) a exclusão de adaptação às várias 
culturas e assembleias; d) o rubricismo. Por isso, não sem razão, os críticos 
afirmavam que o direito litúrgico de então tinha se desenvolvido à margem da te-
ologia e da pastoral, limitando-se a conservar determinadas práticas tradicionais. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
A normativa litúrgica do Concílio Vaticano II apresenta ca-
racterísticas novas em relação àquela anterior. O conceito de litur-
gia, de uma inspiração teológica vasta e profunda, é, ao mesmo 
tempo, cristológico e eclesiológico. A referência fundamental para 
compreendermos tal conceito está nas constituições Sacrosanc-
tum Concilium (SC) e Lumen Gentium (LG). 
INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR –––––––––––––––––––––––
A SC no nº7 descreve a liturgia com as seguintes palavras:
Com razão, pois, a Liturgia é tida como o exercício do múnus sacerdotal de Jesus 
Cristo, no qual, mediante sinais sensíveis, é significada e, de modo peculiar a 
55© Os Sacramentos em Geral
cada sinal, realizada a santificação do homem; e é exercido o culto público inte-
gral pelo Corpo Místico de Cristo, Cabeça e membros. Disto se segue que toda 
a celebração litúrgica, como obra de Cristo sacerdote, e de Seu Corpo que é a 
Igreja, é uma ação sagrada por excelência, cuja eficácia, no mesmo título e grau, 
não é igualada por nenhuma outra ação da Igreja.
À luz desta definição se compreende como a liturgia não possa ser reduzida às 
"rubricas" que regulam as celebrações, nem possa ser considerada imutável ou 
uniforme a ponto de não permitir a participação ativa dos fiéis e a adaptação às 
diversas culturas.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O livro IV do CIC assumiu os grandes princípios que inspiraram 
a reforma do Concílio Vaticano II e que os resumimos em nove:
1) A centralidade da liturgia e o seu primado na vida da 
Igreja. 
2) A unidade inseparável entre santificação e culto como 
duas faces de uma mesma realidade.
3) O reconhecimento da comunidade eclesial inteira como 
sujeito da função de santificar enquanto que esta se ma-
nifesta e é exercitada nas ações litúrgicas. 
4) A afirmação da necessária relação entre fé e liturgia, 
fundamental para que seja vivida a verdade dos sacra-
mentos e estimulada a ação pastoral. 
5) O caráter público das ações litúrgicas, acentuando-se a 
participação ativa de todos os membros da Igreja. 
6) A afirmação da dimensão comunitária das celebrações 
litúrgicas. 
7) A atribuição de poder às Conferências Episcopais e ao 
Bispo em matéria litúrgica. 
8) O reconhecimento implícito do princípio de adaptação e 
de inculturação da liturgia, salva, porém, a unidade que 
não pode de forma alguma ser prejudicada. 
9) A harmonização dos outros meios com os quais a Igre-
ja satisfaz a função de santificar (oração pessoal, obras 
de penitência e caridade, exercícios de piedade) com a 
liturgia.
Confrontada com aquela do CIC de 1917 a legislação litúr-
gica renovada a partir do Concílio Vaticano II não aparece mais 
uniforme e imutável. O reconhecimento de um adequado espaço 
© Direito Canônico II
Centro Universitário Claretiano
56
às legítimas diversidades e adaptações aos vários grupos étnicos, 
às regiões e aos povos (SC 38-40) abriu o caminho para o direito li-
túrgico particular que aos poucos adquirirá uma importância cada 
vez maior. Portanto, é inegável que o CIC pôde dar a sua contribui-
ção para uma renovação da liturgia ao menos naquela parte que 
depende do direito. 
6. ASPECTOS TEOLÓGICOS E JURÍDICOS FUNDAMEN-
TAIS DOS SACRAMENTOS EM GERAL
O CIC não desenvolve de maneira articulada e completa uma 
teologia dos sacramentos, pois não é esta a função de um texto nor-
mativo. Contudo, a pressupõe e dela faz derivar importantes direti-
vas disciplinares. Sendo assim, é necessário conhecê-la um pouco. 
Sugestão de leitura –––––––––––––––––––––––––––––––––– 
Todo estudo dos sacramentos em especial deve ser precedido de uma visão 
geral da sacramentária. Muitas vezes se reduz o sacramental aos sete sacra-
mentos, esquecendo-se de que tais sinais estão inseridos em uma realidade 
sacramental bem mais profunda. Para se interar do assunto, sugerimos que você 
leia a obra: Borobio, Dionisio. Celebrar para viver: liturgia e sacramentos da Igre-
ja. São Paulo: Loyola, 2009, p. 103-144. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Noção de sacramento 
Os sacramentos do Novo Testamento são "sinais e meios pe-
los quais se exprime e se robustece a fé, se presta culto a Deus e 
se realiza a santificação dos homens" (cân. 840). Esta noção está 
em clara sintonia com o conteúdo do cân. 834 no qual aparece a 
noção de liturgia. Nela e, portanto, nos sacramentos, se significa 
e realiza a santificação dos homens, se presta culto a Deus e se 
expressa e fortalece a fé. 
Informação Complementar ––––––––––––––––––––––––––––
Na noção de sacramento oferecida pelo cân. 840 encontramos uma sólida teolo-
gia, fruto de séculos de experiência cristã. Este cânon tem como fonte o Decreto 
para os armenos, do Concílio de Florença do ano 1439 (DS 1310-1327), os câ-
57© Os Sacramentos em Geral
nones do Concílio de Trento sobre os sacramentos (DS 1601-1613) e, também, 
o ensinamento do Concílio Vaticano II que nos abriu uma nova síntese entre 
realismo e simbolismo sacramental (SC 59 e 61). Para explorar um pouco mais 
o conteúdo desta noção veja o seguinte texto: HORTAL, J. Os sacramentos da 
Igreja na sua dimensão canônico-pastoral. São Paulo:

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