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Escatologia 3

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EA
D
3
Morte e Vida Eterna
1. OBJETIVOS
•	 Interpretar	o	Novo	Testamento	–	os	milagres	–	e	o	Antigo	
Testamento	–	a	longevidade.
•	 Analisar	o	sentido	da	morte.
•	 Refletir	sobre	o	sentido	cristão	da	morte,	bem	como	so-
bre	o	significado	cristão	do	sofrimento.
•	 Analisar	o	ensinamento	da	Igreja	acerca	do	cuidado	com	
os	moribundos	e	os	mortos.
•	 Compreender,	 por	meio	 dos	 ensinamentos	 de	 Cristo,	 a	
Ressurreição.
•	 Conhecer	os	conceitos	básicos	da	Escatologia	 Individual	
na	sua	formulação	dogmática	e	na	sua	interpretação	te-
ológica.
•	 Analisar	a	evolução	do	pensamento	monoteísta	sobre	a	
Escatologia.
© Escatologia70
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
2. CONTEÚDOS
•	 Novo	Testamento:	milagres.	
•	 Antigo	Testamento:	longevidade.
•	 Morte.
•	 Sentido	cristão	da	morte.
•	 Sentido	cristão	do	sofrimento.
•	 Ensinamento	da	Igreja	acerca	do	cuidado	com	moribun-
dos	e	mortos.
•	 Ressurreição.
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE 
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade,	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:
1)	 Lembre-se	de	que	muitos	cristãos	não	gostam	de	refletir	
sobre	a	morte.	No	entanto,	só	quem	compreende	bem	
seu	sentido	conseguem	viver	bem.	Quanto	mais	se	com-
preende	a	morte,	melhor	se	vive.
2)	 É	importante	que	você	tenha	clareza	nos	conceitos	uti-
lizados	nesta	unidade,	a	fim	de	compreender	de	modo	
correto	a	doutrina	da	Igreja	e	as	perspectivas	teológicas.
3)	 Ao	mesmo	tempo	convém	prestar	atenção	aos	concei-
tos	e	 ideias	que	pessoas	ao	seu	redor	tem	sobre	estes	
temas,	pois	há	muito	de	sincretismo	entre	nós	que	não	
condiz	com	aquilo	que	cremos	e	pregamos.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Nesta	unidade,	você	é	convidado	a	refletir	sobre	temas	rela-
cionados	à	morte,	à	ressurreição	e,	também,	à	vida	eterna.
A	escatologia	geral	e	particular	são	apresentadas	servindo-
-se	de	conceitos	próprios	do	tempo,	da	cultura	e	do	contexto	vital	
71© Morte e Vida Eterna
em	que	foram	formuladas.	Desse	modo,	o	pesquisador	atual	ne-
cessita	de	chaves	de	leitura	que	lhe	deem	suporte	e	instrumento	
para	compreender	o	conteúdo.
Utilizando-se	de	 categorias	 científicas	 e	de	 conhecimentos	
acadêmicos,	faremos	contato	com	esse	universo	de	conceitos	e	de	
formulações,	 não	 prescindindo	 da	 discrição	 nem	 da	 humildade,	
que	asseguram	um	olhar	sereno	sobre	as	realidades	apresentadas.
Bom	estudo!
5. VIDA ETERNA
Viver	para	sempre	é	o	desejo	de	todos	os	seres	humanos,	e	
a	doutrina	de	Jesus	assegura	e	aponta	para	essa	certeza	no	Além.	
A	imortalidade	da	alma	confere	à	totalidade	do	ser	humano	a	con-
dição	 de	 vida	 na	 eternidade.	 Já	 perguntava	 Fiódor	 Dostoiévski,	
na	sua	obra	Os irmãos Karamazovi,	se	poderia	haver	virtude	sem	
Deus	e	sem	a	imortalidade	da	alma.	"A	frase	é:	'Se	Deus	não	existe,	
tudo	é	permitido'.	Textualmente,	a	frase	não	é	formulada	assim,	
ainda	que	o	conceito	seja	esse,	há	uma	série	de	variantes	e	recom-
binações"	(FÄRBER,	2009,	p.	330).
A	teologia	bíblica	encontra	ricas	intuições	e	claros	enuncia-
dos	sobre	o	conceito	de	vida	eterna,	que,	como	outros,	foi,	ao	lon-
go	da	história,	evoluindo,	 recebendo	novos	 significados	e	 catali-
sando	o	conjunto	de	crenças	monoteístas.
6. NOVO TESTAMENTO: MILAGRES
A	prédica	e	a	prática	de	Jesus	são	voltadas	para	a	apresenta-
ção	da	vida	plena,	que	começa	na	história	e	atinge	a	consumação	
na	eternidade.	Utilizando-se	de	figuras	de	linguagem	e	de	gêneros	
literários	da	época,	especialmente	das	parábolas	(Lázaro	e	o	rico	
avarento;	as	dez	virgens;	o	banquete	de	núpcias	etc.),	Jesus	ofere-
ce	elementos	para	criar,	no	imaginário	religioso	dos	seus	ouvintes,	
© Escatologia72
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
noções	da	vida	na	eternidade.	Aos	seus	discursos,	frequentemen-
te,	seguem-se	milagres	que	exercem	papel	de	suma	importância	
na	autenticação	da	verdade	exposta.	
A	ideia	de	milagre	está,	frequentemente,	associada	ao	extra-
ordinário,	ao	maravilhoso	e	ao	que	causa	admiração,	mas	milagre	
é	mais	que	 isso.	Milagres	são	acontecimentos	estranhos	e	sinais	
da	ação	salvadora	de	Deus.	Todos	os	milagres	apontam	para	a	vida	
eterna	em	seus	vários	aspectos	e	dimensões.
A	transformação	(a	transubstanciação)	da	água	em	vinho	nas	
bodas	de	Caná	(cf.	Jo	2,1-10)	é	entendida	como	um	sinal	de	que	
Jesus	é	o	Messias;	por	isso,	"seus	discípulos	creram	nele"	e	auten-
ticaram	que	Ele	pode	mudar	as	realidades,	porque	não	está	sob	as	
leis	naturais	e	físicas.
Quando	Jesus	responde	aos	enviados	de	João	Batista	(cf.	Mt	
11,2-6)	se	é	ou	não	o	Messias,	Ele	aponta	para	os	sinais	(milagres)	
que	têm	realizado,	pois	Suas	ações,	entre	as	pessoas,	são	sinais	de	
que	o	Reino	de	Deus	chegou	(cf.	Lc	11,20).	
Os	milagres	de	cura	realizados	por	Jesus	cumprem	a	profecia	
de	Isaías	(53,4),	que	afirma:	"ele	carregou	nossas	enfermidades"	
(cf.	Mc	1,29-31;	Lc	6,6;	22,50s;	Mc	1,4;	Mt	8,15;	Jo	9,6).	Além	dis-
so,	acompanham	o	perdão	dos	pecados	(cf.	Mc	2,1-12)	e	sinalizam	
para	a	salvação	(cf.	Lc	8,47s).	Todas	as	enfermidades	são	"lembre-
tes"	da	finitude	humana.	Uma	vez	consumada	a	história,	elas	não	
mais	existirão	(cf.	Ap	22,2).	A	superação	da	doença,	da	dor,	do	so-
frimento	e	da	morte	na	vida	eterna	(cf.	Ap	21,4)	já	é	esboçada	pe-
los	milagres	de	cura	que	Jesus	operou.	Entretanto,	a	cura	é	menor	
que	a	salvação,	pois	a	salvação	é:
73© Morte e Vida Eterna
A	cura,	por	sua	vez,	é:
Os	milagres	de	expulsão	de	demônio	autenticam	que	o	mal	
é	banido	da	presença	de	Deus	e,	na	eternidade,	ele	terá	desapare-
cido	por	completo	(cf.	Ap	20,14).
Segundo	Weiser	(1978),	de	toda	a	tipologia	dos	milagres,	a	
ressurreição	(reanimação)	de	mortos	é	a	mais	emblemática	(mis-
teriosa),	pois	confere	a	certeza	da	superação	da	morte	física	e,	ain-
da,	chancela	(marca)	a	imortalidade	da	alma.	Assim,	é	demonstra-
da	de	forma	a	abranger	todas	as	pessoas,	de	todos	os	gêneros	e	
faixas	etárias.	Observe:
•	 Jo	11,43s:	adulto	–	"Lázaro,	sai	para	fora!".
•	 Mc	5,41:	menina	–	"Menina,	levanta-te!".	
•	 Lc	7,11-17:	jovem	–	"Jovem,	levanta-te!".
Os	milagres	de	ressurreições	apontam	para	a	vida	definitiva	
que	se	inicia	desde	aqui,	pela	adesão	a	Jesus,	e	que	se	consuma	na	
eternidade.	Assim,	crendo,	temos	a	vida	(cf.	Jo	20,31),	pois	Cristo	é	
a	vida	(cf.	Jo	11,25;	14,6)	e	quer	que	tenhamos	vida	em	plenitude	
(cf.	Jo	10,10).
7. ANTIGO TESTAMENTO: LONGEVIDADE
O	quarto	mandamento	(honrar	pai	e	mãe)	é	o	único	ao	qual	
está	 vinculada	 uma	 promessa	 de	 "vida	 longa	 sobre	 a	 terra"	 (Ef	
6,1ss).
Longevidade	é	um	tema	provocante	nos	escritos	bíblicos	e,	
de	modo	especial,	nos	textos	cujo	gênero	literário	empregado	não	
é	histórico,	mas	poético.	Em	Gênesis	5,	por	exemplo,	uma	lista	de	
© Escatologia74
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
patriarcas	longevos	é	apresentada;	dentre	eles,	destaca-se	Matu-
salém,	que	teria	vivido	969	anos.
Na	verdade,	no	início	da	história	do	povo	hebreu,	ainda	não	
havia	a	revelação	da	vida	eterna	e,	portanto,	da	retribuição	póstu-
ma	do	bem	praticado	na	vida	terrena.	Essa	revelação	foi	ganhando	
forma	ao	longo	da	história	por	meio	da	pedagogia	divina	e	fez	que	
o	 indivíduo	 intuísse	com	base	em	suas	próprias	experiências,	as	
quais	mostravam	que	quem	vivia	mais	tinha	maiores	condições	de	
superação	dos	reveses	que	pudesse	ter	sofrido,	além	de	ter	mais	
tempo	de	aproveitar	o	que,	com	seu	esforço,	adquiriu	e	de	estar	
com	as	pessoas	que	amava.
O	tema	da	imortalidade	da	alma	e	da	retribuição	póstuma	é	
tardio.	É	somente	a	partir	do	Livro	de	Sabedoria	que	ele	será	abor-
dado,	trazendo,	assim,	um	novo	enfoque	sobre	a	duração	da	vida	
e	o	sentido	dado	a	ela:	"o	justo,	ainda	que	morra	prematuramente,	
terá	descanso;	velhice	venerável	não	é	longevidade,	nem	se	mede	
pelo	número	de	anos"	(Sb	4,7s).
Vida	longa	era	sinônimo	de	benção	divina.	Quem	era	bom,	
vivia	muito.	Aqueles	que	foram	muitíssimo	bons	não	são	apresen-
tados	 como	 quem	 teve	 vida	 longa	 e	morreu,	mas	 como	 aquele	
nem	chegou	a	passar	pela	morte	e	foi	arrebatado.	Esse	é	o	caso	de	
Henoc	(cf.	Gn	5,24)	e	de	Elias	(cf.	2Rs	2,11s);	por	terem	vivido	na	
amizade	com	Deus,	ofinal	de	seus	dias	é	apresentado	por	meio	do	
eufemismo	"subiu	ao	céu".
Assim,	entendia-se	que	a	justiça	divina	retribuía	quem	vivia	
de	acordo	com	os	ditames	de	Deus.
Mais	 que	 improvável,	 é	 impossível	 uma	 vida	 longa	 assim	
como	narra	Gênesis	5.	A	longevidade	atribuída	aos	antepassados	
era	a	forma	de	homenagear	quem	merecia	honra	e	respeito.	En-
quanto	alguém	é	lembrado,	permanece	vivo,	ainda	que	na	mente	
daqueles	que	são	seus	pósteros.
75© Morte e Vida Eterna
Mesmo	na	documentação	extrabíblica	aparecem	narrativas	
similares	 a	 Gênesis	 5,	 em	 que	 pessoas	muito	 importantes	 para	
uma	 determinada	 sociedade	 foram	 apresentadas	 como	 quem	
muito	havia	vivido;	contudo,	as	pessoas	não	viviam	mais	que	hoje.	
A	vida	longa	é	um	emblema	de	retribuição	e	de	bênção	(cf.	Dt	4,40;	
30,20),	mas	aponta	para	a	Escatologia	e	para	as	realidades	futuras,	
nas	quais	a	morte	deixará	de	existir	 (cf.	Sl	21	 (20),5;	23(22),6;	 Is	
65,20).	
O	próprio	texto	bíblico	adverte	que	a	vida	é	breve,	e	o	sal-
mista	afirma	que	"setenta	anos	é	o	tempo	da	nossa	vida,	os	mais	
fortes	chegam	aos	oitenta" (cf.	Sl	90	[89],10).
Por	mais	que	a	humanidade	busque	e,	em	determinados	as-
pectos,	alcance,	a	 longevidade	permanece	a	contradição	interior	
do	viver	para	sempre	diante	da	provisoriedade	da	vida.	
A	 semente	de	 eternidade	que	 leva	dentro	 de	 si,	 irredutível	 à	 só	
matéria,	insurge-se	contra	a	morte.	Todas	as	conquistas	da	técnica,	
ainda	que	altíssimas,	 não	 conseguem	acalmar	 a	 angústia	 do	ho-
mem.	Pois	a	longevidade,	que	a	biologia	lhe	consegue,	não	satisfaz	
o	desejo	de	viver	sempre	mais,	que	existe	inelutavelmente	em	seu	
coração	(GS	18a).
8. MORTE
Na	Antropologia	Cristã,	há	sempre	alguma	instância	que	se	
confronta	com	o	tema	"morte",	pois	a	vida	humana	como	um	todo	
é	orientada	para	ela.	A	morte	é	a	realidade	que,	inexoravelmente,	
atinge	e	alcança	toda	a	humanidade;	é	nela	e	por	ela	que	acontece	
a	verdadeira	igualdade	de	todos	os	seres	humanos.	A	morte	equi-
libra	todas	as	forças.
O	mistério	 da	morte	 é	 apresentado	 assim	 na	Gaudium et 
Spes 18a:	"Diante	da	morte,	o	enigma	da	condição	humana	atinge	
seu	ponto	alto".
Segundo	 Färber	 (2009),	 na	 dogmática	 católica,	 a	 univer-
salidade	 da	 morte	 é	 apresentada	 como	 decorrência	 do	 pecado	
© Escatologia76
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
original.	 Se	 todos	pecaram,	 todos	deverão	morrer.	Apesar	dessa	
apresentação,	a	própria	Sagrada	Escritura	prevê	e	relata	exceções,	
como,	por	exemplo,	o	fim	da	história	humana	de	Elias,	que	sobe	ao	
céu	levado	em	um	carro	de	fogo,	ou	de	Henoc,	que	é	arrebatado	
ao	céu	sem	ter	passado	pela	morte.	Ademais,	no	Novo	Testamen-
to,	Paulo	afirma	que	nem	todos	morrerão,	mas,	sim,	serão	trans-
formados	(cf.	1	Cor	15,51).	
A	 morte,	 mais	 que	 um	 ato	 estanque	 na	 existência,	 é	 um	
evento	que	descortina	o	Além	e	revela	o	Aquém.	Morrer	é	um	ato	
pessoal	e	distintivo	do	ser.	Ainda	que	não	nos	tenham	perguntado	
se	queríamos	ou	não	vir	a	existir,	 somos	chamados	a	 responder	
quanto	ao	fim	da	nossa	vida.	Nesse	sentido,	a	morte	é	a	possibili-
dade	mais	íntima	que	o	homem	tem	de	ser	ele	mesmo.	
Diz	Karl	Rahner	(1989,	n.	p.):	
A	vida	tem	uma	finalidade,	um	sentido.	Tal	finalidade	se	realiza	com	
a	morte	que	impõe	esta	finalidade	à	vida,	não	enquanto	a	morte	
constitui	uma	privação,	mas	especialmente	enquanto	é	por	exce-
lência,	um	ato	pessoal	no	qual	atua	a	última	perfeição	do	homem,	
no	sentido	que	a	morte,	pondo	termo	à	vida	temporal,	abre	a	porta	
para	a	vida	plena,	ou	seja,	a	vida	eterna.	
A	responsabilidade	diante	da	morte	é	de	todos,	mas	é,	tam-
bém,	pessoal,	como	o	destino	da	própria	vida	é	individual.	Cabe,	
portanto,	a	cada	um	conscientizar-se	de	que	a	morte	o	cerca,	não	
está	distante	e	nem	é	um	dado	abstrato,	mas	um	evento	natural	
que	confere	qualidade	à	vida	humana;	por	isso,	dirá	Karl	Rahner	
(1989),	é	uma	realidade	fecunda	de	autenticidade.
A	morte,	muito	mais	que	um	tema	ou	um	argumento,	é	um	
fato	e	um	evento	que	atinge	todos	os	seres	vivos,	mas	somente	o	
ser	humano	pode	refletir	sobre	ele.	O	que	difere	o	evento	morte	
entre	as	pessoas	e	os	demais	seres	é	a	capacidade	de	aceitação	e	a	
liberdade	com	que	os	humanos	foram	dotados.	Capacidades	essas	
que	darão	significado	a	esse	momento	de	sua	existência.
O	pensamento	sobre	a	morte	percorre	dois	caminhos	niti-
damente	distintos.	O	primeiro	é	aquele	que	a	entende	como	o	fim	
77© Morte e Vida Eterna
do	viver	biológico,	no	qual	o	corpo,	entrando	em	colapso	e	falên-
cia,	deixa	de	ter	suas	funções.	Adepto	dessa	abordagem,	Jean	Paul	
Sartre	apresenta	a	morte	como	um	evento	meramente	externo	ao	
homem	em	sua	obra	O Ser e o Nada.	Além	dele,	Wittgenstein	afir-
ma:	"A	morte	não	é	um	evento	da	vida,	não	se	vive	a	morte".	Já	
a	segunda	orientação	percebe	a	morte	presente	no	desenrolar	da	
existência	humana.
9. SENTIDO CRISTÃO DA MORTE
Das	inúmeras	possibilidades	de	eventos	que	poderão	ou	não	
acontecer	em	nossa	vida,	a	única	que	temos	certeza	de	enfrentar	
é	a	morte.	Essa	realidade	acompanha	o	ser	humano	desde	sempre	
e	de	modos	diversos.	Morrer	é	preciso,	pois	só	não	morre	aquele	
que	não	viveu.	A	primeira	vez	que	toda	pessoa	encara	a	morte	é	no	
seu	nascimento.	Confortável,	cômoda	e	tranquila	é	a	vida	do	tem-
po	da	gestação,	mas	ela	acaba.	Terminado	esse	prazo	 (às	vezes,	
antes	de	nove	meses),	todos	passam	pela	sua	primeira	experiência	
de	morte.	Nascer	para	essa	vida	equivale	a	morrer	para	a	outra.	
Nunca	mais	aquela	pessoa	viverá	no	útero	materno;	nunca	mais	
sua	conexão	com	o	mundo	e	com	as	pessoas	se	dará	da	forma	que	
acontecia	na	fase	fetal.	Essa	morte	cada	um	vive	a	seu	modo,	mas	
ela	é,	ao	mesmo	tempo,	comum	a	todos.
Poderia	o	bebê	pensar:	"Há	vida	após	o	nascimento?".	Nós,	
experimentados	pela	vida,	responderíamos:	"Sim,	há	vida	após	o	
nascimento.	Só	quem	já	passou	por	esse	evento	conhece	quanta	
vida	há	para	o	lado	de	cá!".	Mais	ampla	é	a	vida	após	o	nascimento,	
e	infinitamente	maior	é	o	espaço	para	viver	e	para	se	movimentar,	
bem	como	o	número	de	pessoas	com	as	quais	se	relacionar;	isso	
sem	mencionar	as	possibilidades	de	conhecer	e	de	experimentar	
coisas	e	sensações.	Uma	vez	feita	a	experiência	da	vida	após	o	nas-
cimento,	não	há	quem	deseje	voltar	e	ter	uma	vida	tão	 limitada	
como	a	que	teve	antes.	
© Escatologia78
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Analisando	desse	modo,	nascimento	e	morte	são	duas	reali-
dades	conexas,	dois	enfoques	do	mesmo	evento.	Negar	um	é,	con-
sequentemente,	negar	o	outro.	O	que	nasceu	para	uma	realidade,	
morreu	para	outra.	
Apesar	dessa	constatação,	ainda	é	comum	ouvirmos	falar	da	
morte	como	fim,	como	sinônimo	de	término,	quando,	na	verdade,	
ela	tem	um	fim,	uma	finalidade.	Essa	finalidade	é	a	vida	plena,	in-
finitamente	mais	ampla	e	cheia	de	possibilidades.
Para	o	cristão,	a	morte	existe	sim	(a	morte	física);	ela,	con-
tudo,	não	é	sinônimo	de	"fim	da	vida".	A	vida	permanece,	trans-
cende-se	e	amplia-se	com	essa	passagem.	Enquanto	vivemos	aqui:	
Trazemos	incessantemente	em	nosso	corpo	a	morte	de	Jesus,	a	fim	
de	que	a	vida	se	manifeste,	também	ela,	em	nosso	corpo	[...]	en-
quanto	o	nosso	homem	exterior	vai	definhando,	o	nosso	homem	
interior	se	vai	renovando	de	dia	a	dia	(2	Cor	4,	10.16).
A	morte	recebe	o	mesmo	olhar	que	a	pessoa	tem	pela	vida;	
por	 isso,	 acolhemos	 a	morte	 da	mesma	 forma	que	 aceitamos	 a	
vida.	Assim	foi	com	Jesus,	como	afirma	o	Documento	de	Apare-
cida:	"Durante	o	ministério	dele,	os	discípulos	não	foram	capazes	
de	compreender	que	o	sentido	de	sua	vida	selava	o	sentido	de	sua	
morte"	(DA	143).	Quem	vivencia	com	serenidade	as	situações	ad-
versas	que	se	apresentam	se	prepara	para	aceitar	a	morte.
Desse	modo,	morre	melhor	quem	morre	um	pouco	a	cada	
dia,	quem	renuncia	e	aceita	as	limitações	que	se	impõem	e,	ainda	
que	não	tenha	todas	as	respostas,	mantém-se	confiante	em	Deus	
e	em	Sua	providência.
Lidar	com	a	morte	nem	sempre	é	fácil,	afinal,	a	ausência	fí-
sica	é	dolorosa.	Pensar	no	futuro	sem	a	pessoa	amada	parece,	a	
princípio,	 inadmissível.	Aceitar	o"nunca	mais	aqui"	é	difícil	e	re-
quer	tempo.	Sofrer	pela	morte	daquele	que	queremos	bem	é	hu-
mano.	Aliás,	o	próprio	Jesus	comove-se	com	a	morte	do	amigo	(cf.	
Jo	11,33).	Diante	do	sofrimento	da	família	de	Lázaro	pela	sua	mor-
te,	Jesus	afirmou:	"Eu	sou	a	ressurreição.	Quem	crê	em	mim,	ainda	
79© Morte e Vida Eterna
que	morra,	viverá.	Quem	crê	em	mim	jamais	morrerá"	(Jo	11,25s).	
É	a	fé	em	Jesus	Cristo	que	fortalece	e	impulsiona	cada	pessoa	em	
tempo	de	luto.	A	ressurreição	de	Jesus	é	a	certeza	e	a	afirmação	
de	que	a	vida	não	acaba,	mas	transcende.	Com	a	morte,	a	pessoa	
sai	do	tempo	para	entrar	na	eternidade,	pois	toda	pessoa	é	um	ser	
imortal	vivendo	no	tempo.
A	dor	do	cristão	que	se	confronta	com	a	morte	não	é	nem	
pode	ser	sinônimo	de	desespero,	pois	é	em	Deus	que	se	deve	re-
pousar	sua	esperança,	afinal,	onde	há	esperança,	não	há	desespe-
ro.	O	Livro	da	Sabedoria	(1,13s)	afirma	que	"Deus	não	fez	a	morte	
nem	experimenta	alegria	quando	perecem	os	vivos.	Criou	todas	as	
coisas	para	que	tenham	existência".
Ainda	que	morte	e	sofrimento	estejam	associados,	a	litera-
tura	bíblica	apresenta	a	intervenção	e	a	presença	de	Deus	nessas	
situações.	Tais	intervenções	acontecem	pela	Sua	palavra	e,	espe-
cialmente,	pela	experiência	de	 Jesus	no	processo	de	Sua	paixão	
e	morte.	Nas	últimas	horas	que	antecederam	a	Sua	morte,	Jesus	
selou	Sua	presença	e	Sua	permanência	na	comunidade	e	na	vida	
de	cada	cristão	por	meio	da	Eucaristia,	que	é,	ao	mesmo	tempo,	
anúncio	e	antecipação	do	evento	pascal,	coroado	pela	ressurrei-
ção.
Tanto	é	certo	que	Deus	quer	que	todos	cheguem	ao	termo	
de	sua	vida	cheios	de	força,	que	se	deu	em	alimento	na	Eucaristia.	
Esta	é,	por	sua	vez,	comunhão	com	Cristo	e	sinal	da	vida	eterna	
que	inicia	seu	processo	já	na	história	cotidiana,	colocando	o	cristão	
na	dinâmica	do	encontro	definitivo	com	Deus	e	com	todos	que	já	
estão	junto	d'Ele:
Quem	comer	do	pão	que	desce	do	céu,	não	morrerá	[...]	quem	co-
mer	deste	pão	viverá	eternamente	[...]	quem	come	a	minha	carne	
e	bebe	do	meu	sangue	tem	a	vida	eterna	e	eu	o	ressuscitarei	no	
último	dia	(Jo	6,50-51.54).	
Com	 Jesus,	 não	há	morte.	Há	páscoa,	 passagem	desta	 vida	
para	a	vida	definitiva:	 "em	verdade,	em	verdade,	vos	digo:	quem	
ouve	a	minha	palavra	e	crê	naquele	que	me	enviou,	possui	a	vida	
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eterna	[...]	passou	da	morte	para	a	vida"	(Jo	5,24).	Quando	acontece	
a	morte	física,	aqueles	que	fizeram	a	opção	fundamental	por	Deus	
estarão	com	Ele	para	sempre,	como	é	apresentado	em	uma	das	sete	
bem-aventuranças	do	Apocalipse:	"Felizes	os	mortos,	os	que	desde	
agora	morrem	no	Senhor.	Sim,	diz	o	Espírito,	que	descansem	de	suas	
fadigas,	pois	suas	obras	os	acompanham"	(Ap	14,15).
Nessa	 linha,	 está,	 também,	 o	 pensamento	 de	 Karl	 Rahner	
(1989),	o	qual	apresenta	o	que	chama	de	"aspecto	velado	da	mor-
te".	Na	morte,	cessa	essa	dimensão	do	viver,	que	comporta	a	afir-
mação	veemente	das	opções	feitas,	pelo	que	morre.	Tais	opções	
fazem	que	a	morte	seja	ou	"em	Adão",	negando	a	Deus	e	tendo	
como	consequência	o	afastamento	Dele,	ou	"em	Cristo",	levando	
à	salvação.	Todavia,	alcançar,	desde	aqui,	esse	conhecimento	não	
é	possível,	pois,	na	morte,	há	um	aspecto	velado	que	só	Deus	pode	
revelar.
10. SENTIDO CRISTÃO DO SOFRIMENTO 
Diante	das	dificuldades	cotidianas,	pode	a	pessoa	encontrar	
alento	ou,	então,	deixá-las	passar	sem	grandes	conflitos.	Entretan-
to,	 a	maneira	de	enfrentá-las	muda	quando	o	 sofrimento	não	é	
corriqueiro,	mas	um	grande	sofrimento,	especialmente	em	decor-
rência	da	morte.
A	Bíblia	 narra	 vários	 casos	de	pessoas	 inquietas	diante	do	
sofrimento.	Um	livro	todo	foi	escrito	sobre	essa	inquietação:	Jó	é	
a	personificação	daquele	que,	sabendo-se	justo,	não	compreende	
seu	sofrimento.	Ele	até	compreende	o	sofrimento	da	pessoa	má,	
pois	este	seria	um	castigo,	mas	por	que	o	justo	sofre?	Assim,	anexa	
Jó	mais	um	sofrimento	aos	que	já	possuía:	o	de	buscar	uma	razão	
para	o	sofrimento.	Depois	de	muitas	tentativas,	ele	acaba	perce-
bendo	que	não	há	 resposta,	mas	que,	pelo	 sofrimento,	 se	pode	
encontrar	com	Deus.	"Conhecia-te	só	de	ouvido,	mas	agora	meus	
olhos	te	viram"	(Jo	42,5).
81© Morte e Vida Eterna
Além	disso,	em	várias	citações	bíblicas,	demonstra-se	que	o	
sofrimento	humano	não	existe	como	punição	e	que	sofrer	não	é	
vergonhoso	e	nem	motivo	para	ser	apontado	como	alguém	que	
está	sofrendo	uma	represália	da	parte	de	Deus.	Jesus	ensinou	isso	
tomando	como	exemplo	a	morte	de	alguns	conterrâneos	dos	dis-
cípulos:	"Acreditais	que	por	terem	sofrido	tal	sorte,	esses	galileus	
eram	mais	pecadores	do	que	os	outros	galileus?	Não,	eu	vos	digo	
[...]"	(Lc	13,1-3).	Assim,	Jesus	dissuade	seus	interlocutores	de	uma	
ideia	 falsa	sobre	as	 tragédias	que	se	abatem	sobre	as	pessoas	e	
a	sua	ligação	com	uma	suposta	punição	pelos	pecados.	Ademais,	
continua	Jesus	a	dissipar	os	equívocos	que	pensamentos	precon-
ceituosos	 produzem	 nos	 discípulos,	 os	 quais	 imaginam	 que	 aci-
dentes	são	represálias	divinas.	Diz	Jesus:	"Ou	os	dezoito	que	a	tor-
re	de	Siloé	matou	em	sua	queda,	julgais	que	a	sua	culpa	tenha	sido	
maior	do	que	a	de	todos	os	habitantes	de	Jerusalém?	Não,	eu	vos	
digo".	Jesus	é	taxativo,	é	claro,	é	conciso.
Essa	associação	da	doença,	da	morte	e	do	sofrimento	ao	pe-
cado	é	algo	tão	arraigado	que	os	discípulos	 tiveram	dificuldades	
de	assimilar.	Em	Jo	(cf.	9,3),	eles	perguntam	a	Jesus	se	a	deficiência	
física	é	fruto	do	pecado	do	seu	portador,	ou	se	o	pecado	de	ge-
rações	passadas	estava	afetando	o	cego	e	fazendo-o	sofrer.	Mais	
uma	vez,	Jesus	desmistifica	o	tema,	afirmando	que	nem	um	nem	
outro	pecaram.
Com	o	sofrimento,	especialmente	quando	este	acontece	na	
vida	de	uma	pessoa	de	bem,	é	comum	perguntarem	o	porquê	des-
sa	 realidade,	 o	 porquê	de	 ser	 desse	 jeito,	 o	 porquê	de	 ser	 com	
essa	pessoa.	O	Papa	João	Paulo	II,	na	Carta	Apostólica	 intitulada	
O sentido cristão do sofrimento humano,	diz	que	a	pergunta	que	
deve	ser	feita	é	"para quê?"	e	não	"por quê?".
Gostaríamos	de	obter	uma	resposta	taxativa	sobre	o	porquê	
do	sofrimento,	mas	o	que	nos	ensina	Jesus	sobre	esse	tema	não	
foi,	por	Ele,	feito	um	discurso.	Jesus	não	responde	ao	sofrimento,	
mas	assume-o;	não	explica	o	porquê,	mas	é	solidário	com	quem	
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sofre,	aceitando-se	sofredor.	Em	Isaías	(52,13;	53,12),	o	Messias	é	
identificado	com	o	"homem	das	dores",	tal	era	o	seu	sofrimento.	
Se	somente	as	pessoas	com	um	passado	ruim	sofressem,	o	que	di-
ríamos	da	vida	de	Jesus?	Em	sua	vida,	Jesus	sintetizou	o	sofrimen-
to	humano.	Se	Jesus,	sendo	Deus,	passou	por	tantos	sofrimentos	
sem	 ter	 cometido	 falta	 alguma,	o	 sofrimento	na	 vida	do	 cristão	
não	deve	ser	visto	como	uma	punição	de	Deus.
Jesus	encarou	o	sofrimento	de	maneira	muito	digna	ao	rezar	
assim:	"Se	for	possível	afasta	de	mim	este	cálice,	mas	faça-se	a	tua	
vontade	e	não	a	minha" (Mt	26,	42).	Eloquente	é	o	seu	exemplo:	
apesar	de	sofrer,	abandona-se	na	vontade	do	Pai.	O	Papa	diz	a	nós	
o	seguinte:	"Na	cruz	de	Cristo	não	só	se	realizou	a	Redenção	atra-
vés	do	sofrimento,	mas	também	o	próprio	sofrimento	humano	foi	
redimido".	O	sofrimento	pode	ser	um	momento	de	salto	de	quali-
dade	na	vida	espiritual	ou	pode,	ainda,	ser	um	profundo	fracasso	
no	abismo	do	niilismo	(na	ausência	de	sentido).	Tudo	depende	de	
como	a	pessoa	vê	sua	história	e	de	como	se	relaciona	com	Deus.	O	
cristão,	na	dor	e,	especialmente,	no	confronto	com	a	morte,	deve	
lembrar-se	de	que	o	 sofrimento	não	 tem	sentido	em	si	mesmo;	
será	ele	quem	terá	de	encontrar	e	dar	sentido.
11. ENSINAMENTO DA IGREJA ACERCA DO CUIDADO 
COM MORIBUNDOS E MORTOS
No	Catecismo	da	Igreja	Católica,	são	apresentados	vários	as-
pectos	práticos	do	agir	 cristão	diante	da	morte,	do	morrer	e	do	
morto.	Vamos,	neste	momento,	estudá-los.	Acompanhe.	
Cuidados	com	os	moribundos:
Deve-se	dispensar	atenção	e	cuidado	aos	moribundos	para	os	aju-
dar	a	viver	os	seus	últimos	momentos	na	dignidade	e	na	paz.	De-
vem	também	ser	ajudados	pela	oração	dos	familiares.Estes	cuida-
rão	que	os	doentes	recebam	em	tempo	oportuno	os	sacramentos	
que	preparam	para	o	encontro	com	o	Deus	vivo	(CaIC	2299).
Respeito	com	os	mortos:	
83© Morte e Vida Eterna
Os	corpos	dos	defuntos	devem	ser	tratados	com	respeito	e	carida-
de,	na	fé	e	esperança	da	ressurreição.	O	enterro	dos	mortos	é	uma	
obra	de	misericórdia	corporal	(cf.	Tb	1,16-18)	que	honra	os	filhos	de	
Deus,	templos	do	Espírito	Santo	(CaIC	2300).
Autópsia:	 "a	 autópsia	 de	 cadáveres	 pode	 ser	moralmente	
admitida	por	motivos	de	investigação	legal	ou	de	pesquisa	cientí-
fica"	(CaIC	2301).
Doação	dos	órgãos:	 "a	doação	dos	órgãos	 após	 a	morte	é	
legitima	e	pode	ser	meritória"	(CaIC	2301).
Cremação:
A	Igreja	permite	a	incineração	se	esta	não	manifestar	uma	oposição	
contrária	à	fé	na	ressurreição	dos	mortos	(CaIC	2301).
A	 Igreja	 recomenda	 insistentemente	que	 se	 conserve	o	 costume	
de	sepultar	os	corpos	dos	defuntos;	mas	não	proíbe	a	cremação,	a	
não	ser	que	tenha	sido	escolhida	por	motivos	contrários	à	doutrina	
cristã	(CDC	1176	§	3).
Suicídio:
Não	se	deve	desesperar	da	salvação	das	pessoas	que	se	mataram.	
Deus	pode,	por	caminhos	que	só	ele	conhece	dar-lhes	ocasião	de	
um	arrependimento	salutar.	A	Igreja	ora	pelas	pessoas	que	atenta-
ram	contra	a	própria	vida	(CaIC	2283).
Missa	pelos	mortos:	
O	 Sacrifício	 Eucarístico	 é	 também	 oferecido	 pelos	 fiéis	 defuntos	
que	morreram	em	Cristo	e	não	estão	ainda	plenamente	purifica-
dos,	para	que	possam	entrar	na	luz	e	na	paz	de	Cristo	(CAIC	1371)	
(cf.	MR,	oração	III,	116:	oração	pelos	defuntos).
Eucaristia,	remédio	de	imortalidade:	
Desta	grande	esperança,	a	dos	céus	novos	nos	quais	habitará	a	jus-
tiça,	não	temos	penhor	mais	seguro,	sinal	mais	manifesto	do	que	
a	Eucaristia.	Com	efeito,	 toda	vez	que	é	celebrado	este	mistério,	
opera-se	a	obra	da	nossa	redenção	e	nós	partimos	um	mesmo	pão,	
que	é	remédio	de	 imortalidade,	antídoto	não	para	a	morte,	mas	
para	a	vida	eterna	em	Jesus	Cristo	(CAIC	1405).
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12. RESSURREIÇÃO
A	 ressurreição	 não	 é	 um	 tema	 dentre	 os	 tantos	 no	 corpo	
doutrinal	cristão.	Todavia,	é	o	eixo	que	move	e	que	dá	estrutura	e	
fundamento	para	todas	as	demais	realidades.	
Diz	Libânio	(1985,	p.	193):
O	fulcro	central	da	razão	da	nossa	esperança	é	a	ação	vivificadora	
do	Pai	em	relação	a	Jesus	e	aos	mortos.	A	fé	nesta	ação	de	Deus	
sustentou	a	Igreja	em	seus	começos	difíceis.	É	essa	esperança	que	
alimenta	a	trajetória	da	Igreja	ao	longo	dos	séculos.
Ressurreição de Jesus
A	centralidade	do	evento	pascal	faz	com	que	a	morte	e	a	res-
surreição	de	Jesus	sejam	pedagógicas	e	formadoras	da	noção	escato-
lógica	que	se	aplica	a	todo	homem.	Diz	o	Documento	de	Aparecida:
Jesus	Cristo,	verdadeiro	homem	e	verdadeiro	Deus,	com	palavras	
e	ações	e	com	sua	morte	e	ressurreição,	inaugura	no	meio	de	nós	
o	Reino	de	vida	do	Pai,	que	alcançará	sua	plenitude	 lá	onde	não	
haverá	mais	"nem	morte,	nem	luto,	nem	pranto,	nem	dor,	porque	
tudo	o	que	é	antigo	terá	desaparecido".	(DA	143)
A	apresentação	neotestamentária	é	pródiga	na	atestação	da	
ressurreição,	e	o	acento	recai	sobre	a	ressurreição	de	Jesus,	para	
a	qual	são	orientadas	todas	as	reflexões	e	expectativas.	Observe:
•	 "Por	 que	 procurais	 entre	 os	mortos	 aquele	 que	 vive?",	
pergunta-lhes	o	anjo	(Lc	24,5).
•	 "Não	vos	espanteis!	Jesus	Cristo,	o	Crucificado,	Ressusci-
tou!",	diz	o	jovem	(Mc	16,5).
•	 "É	verdade!	O	Senhor	ressuscitou	[...]",	confirmam	os	dis-
cípulos	de	Emaús	(Lc	24,34).	
•	 "Alegrai-vos!",	diz	Jesus	(Mt	28,9).
Em	um	mundo	em	que	o	transitório	é	desejado,	e	os	valores	
são	subvertidos,	Cristo	garante	a	vida	que	vence	a	morte,	pois	a	
morte	não	tem	poder	sobre	Jesus	e,	consequentemente,	sobre	a	
humanidade.	
85© Morte e Vida Eterna
A	 ressurreição,	 de	 forma	 estrita,	 só	 aconteceu	 com	 Jesus.	
Todos	os	demais	que	morreram	e	que	voltaram	à	vida	voltaram,	
também,	 a	morrer.	 Jesus	 não.	Uma	 vez	morto,	 ressuscitou	 para	
sempre.	Isso	faz	da	ressurreição	o	núcleo	central	do	Evangelho,	do	
kerigma	e	do	Cristianismo;	sem	ela,	vazia	seria	a	esperança	cris-
tã	e,	também,	vazio	seria	o	seu	discurso,	diz	São	Paulo	em	1	Cor	
15,13.	Mas	Ele	ressuscitou.	Essa	certeza	brilha	e	ilumina	a	vida	de	
modo	todo	especial	quando	nos	deparamos	com	o	limite	humano	
da	morte.	A	morte	não	tem	a	última	palavra;	a	vida	vence,	trans-
forma-se	e	amplia-se.	
Cristo	ressuscita	e	aparece	para	seus	amigos,	para	seus	dis-
cípulos	e	para	toda	uma	comunidade.	Ressuscitar	é,	portanto,	ter	
o	corpo	emancipado	das	leis	naturais,	mas,	mesmo	assim,	ter	um	
corpo	físico,	visível,	tocável.	Dadas	as	dificuldades	de	compreen-
são,	Jesus	Ressuscitado	dá	provas	de	que	Ele	não	é	uma	visão	ape-
nas	e	de	que	seu	corpo	não	é	uma	projeção	ou	um	ectoplasma.	
Ele	apareceu	para	Pedro,	para	os	Doze	e	para	mais	de	quinhentas	
pessoas	(cf.	1	Cor	15,6).	Fez	refeição	(cf.	At	1,4;	Jo	21,12),	comeu	
diante	deles	(Lc	24,42s)	e,	especialmente,	ordenou	a	Tomé:	"Põe	
teu	dedo	aqui	e	vê	minhas	mãos!	Estende	tua	mão	e	põe-na	no	
meu	lado	e	não	sejas	incrédulo,	mas	crê!"	(Jo	20,27)	–	ainda	que	
Tomé	não	tenha	realizado	o	ato.
Ressurreição da carne
A	profissão	de	 fé	na	 ressurreição	da	carne	 tem	seu	 funda-
mento	 na	 literatura	 bíblica	 veterotestamentária,	 que	 ganhará	
novos	e	decisivos	aportes	no	Novo	Testamento.	Essa	fé	passa	da	
atuação	de	Elias	e	Eliseu	(cf.	1	Rs	17;	2	Rs4)	ao	simbolismo	da	reno-
vação	após	a	morte	na	profecia	dos	ossos	secos	(cf.	Ez	37),	encon-
trando,	na	atuação	de	Jesus	tanto	nas	ressurreições	(cf.	Jo	11,43s;	
Mc	5,41;	Lc	7,11-17)	como	nos	seus	discursos	(cf.	Jo	6,	22-71),	bem	
como	nas	Suas	aparições	depois	de	ressuscitado	(cf.	Mt	28;	Mc	16;	
Lc	24,	Jo	21;	At	1),	a	matriz	para	a	que	a	ressurreição	na	carne	seja	
professada	pelos	cristãos.
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A	fé	na	ressurreição	da	carne	é	professada	pela	Igreja	e	ates-
tada	no	Catecismo	da	Igreja	Católica	dos	números	988	a	1004.	Res-
surreição	da	"carne",	ressurreição	"dos	mortos"	ou,	simplesmen-
te,	"ressurreição"	são	termos	e	expressões	com	os	quais	estamos	
familiarizados.	Apesar	disso,	sua	explicação	 faz-se	necessária	es-
pecialmente	pelo	fato	de	ela,	ao	longo	da	história,	ter	passado	por	
ressignificações	e	releituras.
Carlos	 Susin	 (1995,	p.	 116)	 resenha	esse	 itinerário	e	apre-
senta	questões	abertas	que	clamam	por	respostas.	Nesses	termos:	
Se	o	dualismo	exacerbado	pela	tradição	platônica	foi,	no	entanto,	
suavizado	pelo	pensamento	aristotélico:	a	alma	é	essencialmente	
a	forma	do	corpo.	Santo	Tomás	retomou	esta	concepção	que	arti-
cula	bem	a	relação	de	alma	e	corpo:	'Anima essentialiter corporis 
forma'.	Mas	a	 tradição	platônica	 sempre	 foi	mais	 sedutora	e	até	
'cômoda'.	Tanto	que	a	modernidade	identificou	a	alma	com	pen-
samento,	 consciência,	mas	o	 corpo	continuou	em	segundo	 lugar	
como	máquina	 proletária.	 Só	 em	 nosso	 século,	 já	 na	 aurora	 da	
pós-modernidade,	houve	 tal	 reação	e	 tal	monismo,	expresso	em	
termos	psicofísicos	(ciências	humanas)	e	do	homem-no-mundo	(fi-
losofia),	que	ao	desaparecer	as	relações	do	homem	com	o	mundo,	
dissolve-se	o	homem	como	tal.	A	metafísica	platônica	e	a	ontologia	
aristotélica	foram	substituídas	por	uma	fenomenologia	do	ser-no-
-mundo.	Esta	é	uma	questão	nova,	pós-moderna,	fortemente	desa-
fiadora,	que	magistério	e	teologia	precisam	levar	em	conta	sem	se	
refugiar	em	respostas	estereotipadas.	
O	Concílio	Vaticano	II	também	declarou	a	unicidade	da	pes-
soa	(corpo	e	alma),	seguindo	essa	mesma	abordagem.	Observe:
Corpo	e	alma,	mas	realmente	uno,	o	homem,	por	sua	condição	cor-
poral,	sintetiza	em	si	os	elementos	do	mundo	material,	que	nele	
assim	atinge	sua	plenitude	e	apresenta	livremente	ao	Criador	uma	
voz	de	 louvor.	Não,	é	portanto	 lícito	ao	homem	desprezar	a	vida	
corporal,	mas	ao	contrário,	deve	estimar	e	honrar	o	seu	corpo,	por-
que	criado	por	Deus	e	destinado	à	ressurreição	no	último	dia	(GS	
14a).	
A	ressurreição	é,	portanto,	a	transformação	significativa	da	
condição	de	vida,	alcançadapor	meio	da	morte,	sem	negar	nem	
excluir	as	dimensões	anteriores,	mas	plenificando-as.	Assim,	po-
de-se	entender	o	processo	de	plenificação	da	vida	perfazendo	três	
estágios,	os	quais	estão	inter-relacionados	e	encadeados:	
87© Morte e Vida Eterna
a)	 A vida intrauterina.	É	a	vida	em	sentido	estrito,	com	to-
das	as	prerrogativas	e	direitos	do	ser	humano,	porém,	
diferente	em	aspectos	significativos.	A	forma	de	se	rela-
cionar	é	somente	a	via	materna.	Os	aspectos	sensoriais	
e	 os	 sentidos	 são,	 em	 geral,	 reduzidos,	 fazendo	que	 a	
alimentação	seja	a	nutrição	e	não	o	ato	de	experimentar	
diferentes	sabores,	cheiros	e	texturas.	A	vida	comunitá-
ria	praticamente	 inexiste.	Apesar	disso,	a	vida	é	plena.	
Plena	para	aquela	condição.	Se	 fosse	possível	oferecer	
ao	bebê	a	opção	de	ele	passar	por	uma	transformação	
em	que	todos	os	aspectos	de	seu	viver	seriam	alterados	
para	que	passasse	a	viver	mais	plenamente,	ele,	possi-
velmente,	resistiria.	Contudo,	ao	bebê,	não	é	conferido	
optar.	A	gestação	tem	prazo	e	ao	seu	término	chamamos	
nascimento.	
b)	 A vida depois do nascimento.	 É	 o	 que,	 normalmente,	
convencionamos	chamar	de	vida.	Após	o	final	da	vida	in-
trauterina,	o	corpo	passa	por	adaptações	severas	de	co-
nexão	com	as	pessoas	(que	não	mais	acontece	por	meio	
do	cordão	umbilical)	e	de	influxo	de	sons,	cores,	luzes	e	
movimentos.	Em	todos	os	âmbitos,	o	viver	é	enriqueci-
do.	Mas	esse	segundo	estágio	da	vida	também	tem	um	
limite,	ao	qual	chamamos	de	morte.
c)	 A vida após a morte.	A	vida	atinge	seu	 fim,	sua	 finali-
dade,	ou	seja,	a	plenitude.	Como	acontece	com	a	saída	
do	útero	materno,	de	uma	vida	mais	estreita,	passa-se	
para	uma	vida	muito	mais	ampla,	sem	negar	a	condição	
de	vida	anterior,	 enriquecendo	e	potencializando	 cada	
aspecto	que	já	fazia	parte	integrante	de	seu	existir,	isto	
é,	afetos,	conhecimentos,	 identidade	numérica	 (corpo-
reidade,	gênero).
Essa	é	a	esperança	(porque	estamos	reservados	para	a	vida	
no	Além)	e	a	certeza	(porque	a	fé	nos	assegura)	que	a	expectativa	
cristã	apresenta	e	nutre	a	respeito	da	ressurreição,	como	afirma	a	
GS	22d:	
Por	esse	Espírito,	'penhor	da	herança'	(Ef	1,14),	o	homem	todo	se	
renova	 interiormente,	 até	 a	 redenção	do	 corpo	 (Rm	8,32).	 'Se	o	
Espírito	daquele	que	ressuscitou	Jesus	dos	mortos	habita	em	vós,	
aquele	que	ressuscitou	Jesus	dos	mortos,	vivificará	também	os	vos-
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sos	corpos	mortais,	por	virtude	do	seu	Espírito	que	habita	em	vós'	
(Rm	8,11).	É	certo	que	a	necessidade	e	o	dever	obrigam	o	cristão	
a	 lutar	contra	o	mal	através	de	muitas	 tribulações	e	a	padecer	a	
morte.	Mas,	associado	ao	mistério	pascal,	configurado	à	morte	de	
Cristo	e	fortificado	pela	esperança	chegará	à	ressurreição.
Comunhão dos Santos
As	relações	humanas	e,	portanto,	interpessoais	não	se	desfa-
zem	com	a	morte,	uma	vez	que	a	ressurreição	restabelece,	se	não	
as	características,	as	sinergias	que	configuram	a	individualidade	e	
a	alteridade	do	ser	humano.
Os	relacionamentos	interpessoais	e	os	afetos	não	serão	des-
considerados	na	vida	futura	nem	haverá	ruptura	com	a	condição	
essencial	emocional,	psicológica	e	espiritual	da	pessoa	na	eterni-
dade.	Ao	contrário,	tudo	aquilo	que	há	de	mais	genuíno	do	ser	será	
reafirmado,	daí	a	necessidade	de	empenho	nesta	vida	para	fazer	
opções	que	remetam	à	vida,	Deus.
A	reflexão	que	decorre	desse	postulado	é	de	que	há	uma	co-
nexão	entre	as	pessoas	desde	aqui	que	não	é	dissolvida	pela	morte,	
ainda	que,	fisicamente,	não	possa	ser	verificada.	Essa	é	a	base	para	
entender	a	comunhão	que	nem	o	tempo	nem	o	espaço	desfaz.
Afirma	a	GS	18	b:
Deus	chamou	e	chama	o	homem	para	que	ele,	com	a	sua	nature-
za	inteira,	de	sua	adesão	a	Deus	na	comunhão	perpétua	da	incor-
ruptível	vida	divina.	Cristo	conseguiu	esta	vitória,	por	sua	morte,	
libertando	o	homem	da	morte	e	 ressuscitando	para	a	vida.	Para	
qualquer	homem	que	reflete,	apresentada	com	argumentos	sóli-
dos,	a	fé	dá-lhe	uma	resposta	à	sua	angústia	sobre	a	sorte	futura.	
Ao	mesmo	tempo	oferece	a	possibilidade	de	comunicar-se	em	Cris-
to	com	os	irmãos	queridos	já	arrebatados	pela	morte,	trazendo	a	
esperança	de	que	eles	tenham	alcançado	a	verdadeira	vida	junto	
de	Deus.	
A	comunhão	entre	os	santos	do	Céu	com	o	povo	da	Terra	é	
de	fácil	aceitação	entre	as	pessoas.	 Já	a	reflexão	sobre	essa	rea-
lidade	utilizando-se	de	 categorias	 teológicas	e	doutrinais	 é	mais	
complexa.
89© Morte e Vida Eterna
Apesar	dos	 limites	da	 linguagem	para	 adaptar	o	 conteúdo	
da	revelação	ao	cotidiano	dos	cristãos,	é	notória	a	aceitação	e	a	
crença	na	comunhão	dos	santos,	a	qual	implica	o	reencontro	e	o	
reconhecimento	das	pessoas	no	Além.
Na	literatura	bíblica,	também	está	presente	esta	convicção	do	reen-
contro	das	pessoas	na	vida	eterna,	quando	então,	todos	os	limites	
humanos	serão	superados.	Assim	é	atestado	em	2	Mc	7,29b:	'Acei-
ta	a	morte,	a	fim	de	que	eu	torne	a	recuperar-te	com	eles	na	mise-
ricórdia'	esta	é	a	frase	que	a	mãe	dirige	ao	filho	prestes	a	ser	morto.	
Luís	Alonso	Schökel	escreve	(na	nota	de	rodapé	da	Bíblia do Pere-
grino,	reportando-se	a	esta	narrativa	literária,	da	morte	da	mãe	e	
de	seus	sete	filhos):	'Para	cada	um	deles,	o	sofrimento	e	a	morte	
levam	à	ressurreição;	para	todo	o	povo	esses	sentimentos	marcam	
o	cume	e	o	fim	da	cólera.	Como	haverá	um	tempo	de	misericór-
dia	em	que	voltarão	à	vida,	assim	chega	um	momento	histórico	em	
que	Deus	se	compadece	e	se	torna	propício.	Na	unidade	familiar	
se	reflete	a	unidade	do	povo	fiel.	Como	cada	um	'recuperará'	seus	
membros	amputados,	a	mãe	recuperará	seus	filhos'.	É	também	o	
parecer	de	outros	comentadores	deste	trecho,	original	e	singular,	
da	Sagrada	Escritura:	'Recuperar-te	com	os	teus	irmãos	é	uma	nova	
formulação	do	pensamento	da	ressurreição,	que	assume	aqui	o	ca-
ráter	de	uma	espontânea	manifestação	de	afeto	da	parte	de	uma	
mãe	que	desejava	ter	todos	os	seus	filhos	consigo,	seja	nesta	vida,	
seja	na	outra',	diz	Adalberto	Sisti	(FÄRBER,	2009,	p.	94-95).
O	 mundo	 e	 a	 história	 são	 construídos	 pelo	 homem,	 que,	
ao	mesmo	 tempo,	 sofre	o	 impacto	desses	agentes,	os	quais	 lhe	
impõem	nova	ordem	e	nova	formação.	Sendo	essa	a	dialética	do	
existir	humano,	as	conexões	e	as	relações	estabelecidas	nesta	vida	
não	se	desfazem	com	a	morte	ou,	então,	o	próprio	homem	seria	
desfeito.
Veja	o	que	diz	Libânio	(1985,	p.	194):
Essa	relação	não	se	dissolve	com	a	morte,	fazendo	do	homem	um	
ser	absolutamente	a-histórico	e	acósmico.	Pois	nunca	o	foi	e	nunca	
o	será.	Pela	morte	o	homem	estabelece	uma	relação	pancósmica,	
na	expressão	de	K.	Rahner.	E,	pela	mesma	razão,	relaciona-se	glo-
balmente	com	o	tempo.
Para	 finalizar	nossos	estudos,	é	 interessante	mencionar	al-
guns	dados	sobre	Santo	Agostinho	a	respeito	da	crença	nesse	re-
encontro.	Acompanhe:	
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SANTO AGOSTINHO ––––––––––––––––––––––––––––––––––
Já na época Patrística, Santo Agostinho apresentava a crença nesse reencontro 
quando, utilizando-se do recurso literário da poesia, assim se pronunciou: 
Não chores se me amas.
Se conhecesses o dom de Deus e o que é o céu.
Se pudesses ouvir o canto dos anjos e ver-me no meio deles.
Se pudesses ver abrir-se diante dos teus olhos os horizontes, os campos e os 
novos caminhos que percorro...
Se por um instante pudesses contemplar como eu a beleza diante da qual as 
belezas empalidecem...
Como! ... Tu me viste, tu me amaste no país das sombras e não te resignas a 
ver-me e a amar-me no país das realidades imutáveis?
Crê-me. Quando a morte romper tuas ataduras como rompeu as que me pren-
diam, quando chegar o dia que Deus fixou e conhece, e tua alma chegar a este 
céu no qual te precedeu a minha...
Nesse dia voltarás a ver-me.
Sentirás que continuo amando-te, que te amei, e encontrarás o meu coração com 
todas as suas ternuras purificadas.
Voltarás a ver-me transfigurado, em êxtase feliz.
Já não esperando a morte, mas caminhando comigo, que te levarei pela mão aos 
caminhos novos de luz e de vida.
Enxuga teu pranto enão chores se me amas
(AGOSTINHO, 2012). 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
13. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira,	a	seguir,	as	questões	propostas	para	verificar	seu	de-
sempenho	no	estudo	desta	unidade.
1)	 Porque	os	milagres	de	Jesus	sempre	tem	significado	escatológico?
2)	 Antecipando-se	ao	conceito	de	vida	eterna,	o	AT	privilegia	a	 longevidade.	
Como	justificá-la	em	sentido	escatológico?
3)	 Comente	a	seguinte	afirmação:	A	morte	não	é	o	fim	da	vida.	Mas,	tem	a	fina-
lidade	de	nos	transportar	para	a	vida	eterna.	Ela,	apesar	da	separação,	não	
pode	ser	vista	em	desespero,	antes:	ela	nos	abre	para	a	plenitude	da	vida.
4)	 Porque	se	pode	dar	um	sentido	cristão	ao	sofrimento.
5)	 É	justificável	cristamente	a	cremação?
91© Morte e Vida Eterna
6)	 A	Igreja	católica	está	atenta	aos	moribundos	e	aos	mortos	humanos.	Faria	
sentido	dar	a	mesma	atenção	aos	animais	nestas	circunstâncias?
7)	 O	que	significa	a	ressurreição?
8)	 O	que	a	Igreja	católica	compreende	quando	usa	as	expressões	"ressurreição	
dos	mortos",	"ressurreição	da	carne"	ou	simplesmente	"ressurreição"?
9)	 E	possível	estabelecer	uma	comparação	e/ou	uma	distinção	entre	a	ressur-
reição	de	Jesus	e	a	do	ser	humano	em	geral?
10)	Qual	o	 significado	do	que	professamos	ao	dizer:	 "creio	na	comunhão	dos	
santos"?
11)	Na	oração	sacerdotal	–	a	partir	do	capítulo	15	do	Evangelho	de	São	João	–	Je-
sus	fala	muitas	vezes	de	"vida	eterna".	Como	se	compreende	essa	expressão	
evangélica?
14. CONSIDERAÇÕES
Nesta	unidade,	estudamos	a	morte,	a	vida	eterna	e	a	ressur-
reição.
Na	 próxima	 unidade,	 ampliaremos	 nossos	 conhecimentos	
sobre	o	Céu,	o	Inferno	e	o	Purgatório.
Até	lá!
15. E-REFERÊNCIA
AGOSTINHO.	 Não chores se me amas.	 Disponível	 em:	 <	 http://www.parima.com.br/
imp_noticia.php?cod=2215	>.	Acesso	em:	1	dez.	2009.
CELAM.	Documento de Aparecida.	Aparecida,	30/5/2007.	Disponível	em:	<http://www.
tvaparecida.com.br/santuario/media/arq/DOCUMENTO%20DE%20APARECIDA.pdf	 >	
Acesso	em:	26	jun	2012.
16. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BETTENCOURT,	 Estevão.	Curso de Escatologia.	 Escola	Mater	Ecclesiae.	Rio	de	 Janeiro:	
Última	Cor,	[s/d].
BLANK,	R.	Escatologia do mundo:	o	projeto	cósmico	de	Deus.	São	Paulo:	Paulus,	2002.
______.	Escatologia da pessoa.	São	Paulo:	Paulus,	2003.
© Escatologia92
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
______.	Nosso mundo tem futuro.	São	Paulo:	Paulinas,	1993.
______.	Nossa vida tem futuro.	São	Paulo:	Paulinas,	1991.	
BOFF,	L.	Vida para além da morte.	Petrópolis:	Vozes,	1993.
FÄRBER,	S.	S.	Morte na teologia e na literatura.	Porto	Alegre:	Pallotti,	2009.
LIBÂNIO,	J.	B.;	BINGEMER.	M.	C.	Escatologia cristã.	O	novo	Céu	e	a	nova	Terra.	Petrópolis:	
Vozes,	1985.
QUEIRUGA,	A.	T.	Repensar a ressurreição:	a	diferença	cristã	na	continuidade	das	religiões	
e	da	cultura.	São	Paulo:	Paulinas,	2004.
RAHNER,	K.	Curso fundamental da fé.	São	Paulo:	Paulinas,	1989.
SUSIN,	L.	C.	Assim na Terra como no Céu.	Petrópolis:	Vozes,	1995.
SCHNEIDER,	T.	[Org.]	Manual de Dogmática.	Petrópolis:	Vozes,	2000.	v.	2.
WEISER,	A.	O que é milagre na Bíblia.	São	Paulo:	Paulinas,	1978.

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