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A Lenda da Imortalidade da Alma

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A Lenda da Imortalidade da Alma Página 1 
 
 
SUMÁRIO 
 
PREFÁCIO ................................................................................................................................................................ 4 
I-Um testemunho pessoal .......................................................................................................................... 4 
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO AO TEMA ................................................................................................. 13 
I –Introdução ............................................................................................................................................... 13 
II–A Primeira Mentira .............................................................................................................................. 13 
III–Por que a mentira? ............................................................................................................................. 21 
IV–Como o conceito de “alma imortal” entrou no Judaísmo ..................................................... 29 
CAPÍTULO 2 – OS PAIS DA IGREJA E A IMORTALIDADE DA ALMA .......................................... 37 
I–Os Pais da Igreja criam na imortalidade da alma? .................................................................... 37 
II–A Dormição de Maria e a Imortalidade da Alma ...................................................................... 48 
CAPÍTULO 3 – CONCEITOS BÍBLICOS SOBRE CORPO, ALMA E ESPÍRITO ............................ 51 
I–Conceitos com relação à alma ........................................................................................................... 51 
II–Qual é o conceito correto? ................................................................................................................ 51 
III–O que é o “espírito” [ruach] e o que é a “alma” [nephesh]? ................................................. 53 
IV–A morte da alma .................................................................................................................................. 75 
V–Conclusão ................................................................................................................................................ 94 
VI–Sobre os significados secundários para a alma ....................................................................... 95 
CAPÍTULO 4 – A CRENÇA DA IMORTALIDADE DA ALMA NO ANTIGO TESTAMENTO 103 
I –Introdução ao Capítulo .................................................................................................................... 103 
II–Moisés, Jó e a Imortalidade da Alma .......................................................................................... 104 
III–Os Livros Poéticos ........................................................................................................................... 109 
IV–A posição dos Livros Proféticos ................................................................................................. 120 
V–Saul conversou com Samuel depois de morto? ...................................................................... 123 
VI–A alma no lugar de silêncio .......................................................................................................... 129 
VII–Conclusão .......................................................................................................................................... 132 
VIII–Estavam enganados os escritores do Antigo Testamento? .......................................... 136 
CAPÍTULO 5 – A CRENÇA NA IMORTALIDADE DA ALMA NO NOVO TESTAMENTO ..... 146 
I–Introdução ao Capítulo ..................................................................................................................... 146 
CAPÍTULO 5.1 – JESUS PREGOU A IMORTALIDADE DA ALMA? ......................................... 147 
II–A Parábola do rico e do Lázaro .................................................................................................... 147 
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 2 
 
III–A Origem pagã do Hades ............................................................................................................... 154 
IV–O que é o Sheol? ................................................................................................................................ 156 
V–O Significado da Parábola............................................................................................................... 160 
VI–Deus de vivos, não de mortos – Argumento contra ou a favor da imortalidade da 
alma? ............................................................................................................................................................ 174 
VII–Mateus 10:28 e a destruição da alma ..................................................................................... 177 
VIII–Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso? ............................................................................ 183 
IX–Um espírito não tem carne e ossos ........................................................................................... 196 
CAPÍTULO 5.2 – O QUE JESUS REALMENTE ENSINOU? .......................................................... 199 
X–Sobre a entrada no Reino ou na condenação .......................................................................... 199 
XI–Sobre Imortalidade e Vida Eterna ............................................................................................. 208 
XII–Sobre o Estado Final dos ímpios ............................................................................................... 210 
XIII–A Ressurreição de Lázaro .......................................................................................................... 211 
CAPÍTULO 5.3 – OS APÓSTOLOS PREGAVAM A IMORTALIDADE DA ALMA? ............. 216 
XIV–Atos dos Apóstolos ....................................................................................................................... 216 
CAPÍTULO 5.4 – PAULO PREGOU A IMORTALIDADE DA ALMA? ...................................... 225 
XV–Ausente do corpo e presente com Cristo ............................................................................... 225 
XVI–A realidade da ressurreição em contraste com a alma imortal ................................... 237 
XVII–A consolação do apóstolo Paulo aos Tessalonicenses ................................................... 245 
XVIII–“Buscando” aquilo que nós já temos? ................................................................................. 250 
XIX–Deus, o único que possui a imortalidade.............................................................................. 253 
XX–Levou cativo o cativeiro ............................................................................................................... 257 
XXI–A Bíblia e as Experiências Fora do Corpo ............................................................................ 260 
XXII–A Entrada no Reino é somente na Ressurreição .............................................................. 262 
XXIII–Últimas considerações dos ensinos de Paulo contra a imortalidade da alma .... 271 
CAPÍTULO 5.5 – AFINAL, ALGUM APÓSTOLO PREGOU A IMORTALIDADE DA ALMA?
 ............................................................................................................................................................................ 277 
XXIV–O autor desconhecido de Hebreus também desconhecia a Imortalidade da Alma
 ....................................................................................................................................................................... 277 
XXV–Pedro pregou a Imortalidade da Alma? ............................................................................... 289 
XXVI–João pregou a Imortalidade da Alma? ................................................................................ 300 
XXVII–Mais pilares do imortalismosendo derrubados ........................................................... 304 
CAPÍTULO 6 – O SONO DA MORTE ........................................................................................................ 319 
I–A Metáfora do Sono ............................................................................................................................ 319 
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 3 
 
II–O “dormir” é referência somente para o corpo? ................................................................... 323 
CAPÍTULO 7 – A RESSURREIÇÃO DOS MORTOS ............................................................................. 329 
I-A Ressurreição é Física? .................................................................................................................... 329 
II–O que é a “Ressurreição”? .............................................................................................................. 341 
III–A recompensa é no momento da morte ou somente na ressurreição?....................... 343 
IV–Morte – o maior inimigo ................................................................................................................ 345 
V–O que acontece na Ressurreição? ................................................................................................ 346 
CAPÍTULO 8 – A DOUTRINA DO INFERNO E DOS ACONTECIMENTOS FINAIS ................ 358 
I-Introdução ao Capítulo ...................................................................................................................... 358 
CAPÍTULO 8.1 – INFERNO: TORMENTO ETERNO OU ANIQUILACIONISMO? .............. 361 
II–Conceitos errôneos sobre o Inferno........................................................................................... 361 
III–O Repertório Bíblico de Aniquilamento .................................................................................. 363 
IV–Analisando as passagens utilizadas pelos imortalistas ..................................................... 373 
V–O Aniquilamento dos Ímpios ........................................................................................................ 395 
VI–A Lei da Proporcionalidade .......................................................................................................... 410 
VII-A Lei Moral ......................................................................................................................................... 419 
VIII–Conclusão ......................................................................................................................................... 422 
CAPÍTULO 8.2 – OS ACONTECIMENTOS FINAIS ......................................................................... 425 
I–Onde passaremos a eternidade? ................................................................................................... 425 
II-Novos Céus e Nova Terra ................................................................................................................ 428 
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................................................... 433 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 4 
 
PREFÁCIO 
 
I-Um testemunho pessoal 
 
“Se as pessoas que morreram em Cristo já estão no Céu, então qual a necessidade da 
ressurreição? Por que elas precisariam deixar o Céu, voltar para o corpo sepultado, 
ressuscitar novamente e retornar para o Céu? Será que é por causa deste ‘dilema 
doutrinário’, impossível de ser resolvido, que não se vê muita pregação sobre a ressurreição 
nas igrejas cristãs que creem no estado consciente dos mortos?”1 
 
Quem estiver lendo este livro pela primeira vez pode se surpreender em saber que seu 
autor não é adventista ou testemunha de Jeová, mas um evangélico comum que cria na 
imortalidade da alma, a exemplo do que a grande maioria dos evangélicos ainda creem. A 
noção de que Deus tenha implantando um elemento imortal no homem, que sobrevive à 
parte do corpo na morte e volta para Deus em estado incorpóreo esperando a ressurreição 
em um estado intermediário é ponto de fé em muitas religiões, inclusive cristãs. 
 
Nasci e cresci aprendendo a doutrina da imortalidade da alma. Talvez a primeira coisa que 
eu tenha ouvido sobre a morte é que a alma é imortal. Sobre ressurreição? Não, isso não 
era muito importante. Um mero detalhe desnecessário e de menor importância, que não era 
muito ressaltado nas igrejas. Tinha apenas um leve conhecimento sobre ressurreição, mas 
sobre imortalidade da alma estava na ponta da língua. Fui doutrinado, tanto pelas igrejas 
que eu frequentava quanto pelos sites apologéticos evangélicos na internet, que a alma era 
imortal. 
 
Quando comecei a construção de meu primeiro site2, em 2009, eu dediquei uma página 
para “provar” a imortalidade da alma, baseando-me naquelas mesmas meia dúzia de 
passagens bíblicas isoladas que todo bom imortalista sabe de cor: partir e estar com Cristo, 
as “almas” debaixo do altar clamando vingança, o ladrão da cruz, a parábola do Lázaro, os 
espíritos em prisão, etc. Passava essas passagens no site achando que era tudo aquilo que 
a Bíblia tinha a dizer sobre o tema. E, nos debates, sustentava essa mesma posição. 
 
Antes de contar como que eu deixei de crer na imortalidade da alma, será necessário 
começar contando como que tudo começou. Uma daquelas perguntas que todo cristão tem 
em mente mas que apenas alguns poucos têm coragem de assumi-la é sobre como que um 
Deus cheio de amor, graça, justiça e misericórdia poderia deixar queimando literalmente 
entre as chamas de um lago de fogo e enxofre por toda a eternidade os pecadores que 
durante alguns anos não serviram a Cristo em suas vidas terrenas. 
 
Não é preciso ser um filósofo para entender que tal punição seria injusta. Um tormento 
infinito por pecados finitos não entrava na minha cabeça, pelo menos não com o Deus que 
nos é revelado nas Escrituras, que tanto amou o mundo ao ponto de dar o Seu único Filho 
por todos nós. Se nem eu ou você seríamos tão cruéis e implacáveis ao ponto de mandar o 
nosso maior inimigo para literalmente as chamas de um fogo eterno, para sofrer 
terrivelmente para sempre e sem volta, quanto menos Deus, que ama muito mais essa 
pessoa do que eu ou você! 
 
1 MEDEIROS, Gilson. Jesus falou mais sobre o inferno do que sobre o Céu. Será? Disponível em: 
<http://prgilsonmedeiros.blogspot.com.br/2009/07/cuidado-com-o-fogo-do-inferno.html>. Acesso em: 
22/08/2013. 
2 apologiacrista.com 
http://prgilsonmedeiros.blogspot.com.br/2009/07/cuidado-com-o-fogo-do-inferno.html
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 5 
 
 
As explicações que ouvia sobre isso não me eram satisfatórias. Uns diziam que o inferno foi 
criado para o diabo e seus anjos, e que “por acidente” os não-cristãos vão acabar 
partilhando do destino do diabo e seus anjos. Mas como Deus é onisciente e sabia muito 
bem de todo o desenrolar da história humana antes mesmo de criar o homem, fica ainda 
mais incoerente crer que ele não tenha previsto esse inferno de tormento eterno para os 
homens pecadores. Na verdade, essa explicação não ajudava nada. 
 
Por esta época, eu comecei a me aventurar a ler vários daqueles relatos de vida após a 
morte. Li desde pessoas que supostamente foram ao Céu, até pessoas que passaram pelo 
inferno e voltaram (há também pessoas que dizem ter visitado o purgatório e o limbo). 
Claro que a maior ênfase e quantidade de relatos era deste último, o inferno. Li desde as 
visões de Santa Faustina do inferno, até a “divina revelação do inferno” de Mary Baxter, os 
“23 minutos no inferno” de Bill Wiese, dentre muitas outras “revelações”, as quais eu me 
amarrava, e tinha toda a credulidade do mundo de que tais visões eram reais. 
 
Na época, eu não tinha qualquer conhecimento bíblico sériosobre o que era realmente o 
inferno bíblico, apenas tinha aquela visão tradicional de inferno, herdada a nós pela Igreja 
Católica na Idade Média, ao maior estilo “Comédia de Dante”. Para mim, o inferno era um 
local subterrâneo, onde as almas ou espíritos imortais dos pecadores desciam, e lá eram 
atormentados por demônios, por fogo, por torturas colossais de todos os tipos. O inferno 
era praticamente uma Disneylândia do demônio, que se divertia à beça torturando os 
pecadores. 
 
Em outras palavras, ao invés de o inferno ser uma punição para o demônio (pois 
foi “preparado para o diabo e seus anjos” – cf. Mt.25:41), era uma total curtição para ele. 
Mas não era somente isso que me estranhava nestes relatos “infernais”. Não era preciso ter 
nenhum conhecimento teológico para perceber que os relatos eram sempre contraditórios 
entre si (portanto, mutuamente excludentes), e em quase todos os casos as pessoas 
encontravam por lá personagens famosos, como Michael Jackson, John Lennon, o papa João 
Paulo II, dentre outros. E os “espíritos”? Estes sangravam, vestiam roupas humanas, 
tinham até pele e ossos. 
 
Tudo isso me parecia muito estranho, para dizer pouco. Mas o ponto em comum em todas 
as visões do inferno é que a pessoa que foi supostamente levada até lá estava ao lado de 
Jesus, que se mostrava profundamente triste com o sofrimento daquelas pessoas, quase 
que arrependido, como se não tivesse sido ele próprio que tivesse preparado aquele lugar e 
soubesse de antemão o destino que os não-salvos teriam ali. Mas dizia que naquele 
momento já não restava mais nada a ser feito, pois aquelas pessoas já estariam 
condenadas para passarem toda a eternidade naquele lugar. Apenas mais tarde fui entender 
que os mortos só serão julgados e condenados na segunda vinda de Cristo (cf. 2Tm.4:1; 
Jo.5:28,29; At.17:31). 
 
Contudo, ao invés de me conformar com essa explicação, isso piorava ainda mais as coisas, 
pois passava a ideia de um Deus que é incapaz de solucionar os problemas ou resgatar as 
pessoas daquele lugar terrível, que sabia premeditadamente que aquelas pessoas iriam 
para aquele lugar, e, ao invés de decretar um juízo justo e correspondente aos pecados de 
cada um, decide por um tormento eterno para todos, indiscriminadamente. Um rapaz de 
doze anos que não conheceu Jesus teria a mesma pena de Adolf Hitler, que exterminou os 
judeus. 
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 6 
 
 
O diabo, autor do pecado e que peca desde o princípio (cf. 1Jo.3:8), ficaria se divertindo 
torturando aqueles que pecaram somente durante algum tempo. Todas as respostas que lia 
e ouvia não serviam para melhorar a situação, mas apenas serviam para acentuar o 
problema. A base filosófica podia às vezes parecer racional, mas nunca atingia o cerne da 
questão. E, com medo de questionar se isso é justo ou não e ir parar neste local infernal, 
tinha receio de questionar o próprio Deus sobre isso, ou de perguntar a outras pessoas. 
 
Afinal, o motor que rege muitos crentes para viverem certinho não é Deus ou a vida eterna, 
é o fogo do inferno. Muitos crentes querem ser santos à marra, por força de obrigação e 
não por livre e espontânea vontade de amar a Deus, porque tem medo de morrer no 
pecado e irem parar neste local infernal. Sendo assim, a real motivação para servir a Cristo 
acaba sendo escapar do inferno, e não encontrar seu Salvador. Para elas, se um tormento 
eterno não existisse, valeria mais a pena viver no pecado! 
 
E cristãos firmados sobre o medo do inferno não são cristãos verdadeiros. O cristão tem que 
estar firmado em Cristo, e somente nEle. Mas isso é muito difícil para alguém que tem em 
mente a ideia de que, se cometer algum deslize, tem um local embaixo da terra com vários 
seres passando por tormentos colossais nas mãos de criaturas demoníacas com um garfo 
na mão, junto a um fogo que queima espíritos incorpóreos para sempre. 
 
Seria mais justo que Deus punisse cada pecador com o tanto correspondente aos seus 
pecados do que enviar todos juntos para uma mesma condenação de um tormento infinito 
por pecados finitos. Da mesma forma que eu considerava injusto que não houvesse castigo 
nem punição pelos pecados, igualmente achava injusto que essa punição fosse eterna para 
todos, indistintamente. A solução para isso seria um castigo proporcional aos pecados de 
cada um, e não uma extinção de vida antes de pagar pelos pecados, e muito menos um 
tormento eterno, que só serviria para perpetuar o pecado, os pecadores, o mal, as 
blasfêmias e o tormento no Universo para sempre, ao invés de eliminá-lo de uma vez por 
todas. 
 
Foi então que, lendo um artigo do doutor Samuele Bacchiocchi (o qual eu faço questão de 
citar neste livro em várias ocasiões), eu descobri a verdade sobre o inferno, que consiste 
em um castigo proporcional às obras e em aniquilacionismo, e não em um tormento 
eterno. É claro que isso não era tudo. Comecei a estudar o assunto e perceber a falácia dos 
argumentos imortalistas para um tormento eterno, os quais serão examinados ao longo 
deste livro. Descobri, então, que Deus não castiga da mesma forma todos os pecadores com 
um tormento eterno para todos indistintamente, mas pune a cada um com o tanto 
correspondente pelos seus pecados. 
 
Descobri que Deus não dá “infinitos açoites” em ninguém, mas que uns receberão “muitos 
açoites” (cf. Lc.12:47), enquanto outros, por sua vez, receberão “poucos açoites” (cf. 
Lc.12:48). Descobri, finalmente, a linguagem bíblica que expressa de maneira grandiosa a 
justiça de Deus: que os ímpios serão castigados pelo tanto correspondente aos seus 
pecados e, em seguida, eliminados, e não atormentados para sempre. 
 
Essa descoberta foi duplamente libertadora: primeiro, me libertou de um engano bíblico 
tremendo que é a crença em um inferno de tormento eterno e consciente, baseando-me em 
uma ou outra passagem isolada, quando a Bíblia por completo rejeita tal doutrina. Segundo, 
ela me libertou de outro tormento, o psicológico, pois pude ver novamente como que o 
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 7 
 
amor e a justiça de Deus andam de mãos dadas, e que Ele não é incoerente com relação ao 
destino eterno dos perdidos. Como o próprio Bacchiocchi disse, “a recuperação do ponto de 
vista bíblico do juízo final pode soltar a língua dos pregadores, porque podem pregar esta 
doutrina vital sem receio de retratar a Deus como um monstro”3. 
 
Mesmo após crer na crença bíblica da destruição eterna dos ímpios e rejeitar a tese do 
tormento eterno, o fato é que eu continuei crendo no estado intermediário, onde as almas 
dos justos já estariam com Deus e as dos ímpios já estariam no inferno (ainda que não seja 
eternamente). Sim, é incoerente crer nisso, pois se a alma sobrevive à morte do corpo é 
porque ela não morre; ou seja, que ela é imortal. Mas se ela morre na segunda morte, 
então ela não é imortal! Em outras palavras, crer que a alma sobrevive após a morte e ao 
mesmo tempo crer que ela perecerá no dia do juízo é ser incoerente: seria o mesmo que 
dizer que a alma morre e não morre, que ela é e não é imortal. 
 
Portanto, de duas, uma: ou a crença no tormento eterno do inferno é verdadeira, ou então, 
se não é, a própria imortalidade da alma em um estado intermediário é falsa. Demorou 
mais algum tempo para descobrir isso, e dessa vez a bomba veio com um 
nome: ressurreição dos mortos! Sim, essa crença tão esquecida e praticamente abandonada 
pelos pastores e igrejas em nossos dias foi exatamente aquilo que me levou rejeitar a 
imortalidade da alma. 
 
É certo que as igrejas que pregam a imortalidade da alma, em sua maioria, não rejeitam a 
ressurreição dos mortos. Porém, isso não muda o fato de que ambas as doutrinas são 
mutuamente excludentes. Os gregos da época de Cristo, que difundiram enormemente a 
tese da alma imortal para o mundo, não criam na ressurreição dos mortos, e por isso 
zombaram de Paulo no Areópago (cf. At.17:32).O teólogo luterano Oscar Cullmann logo 
percebeu esse contraste e escreveu o livro: “Imortalidade da Alma ou Ressurreição dos 
Mortos?”, onde ele aborda tal contraste abismal entre ambas as doutrinas. 
 
O fato é que a imortalidade da alma anula completamente o valor e a importância (e 
principalmente a necessidade) da ressurreição. Prova disso é que raramente se vê 
pregações colocando o foco na esperança da ressurreição nos dias de hoje. Desde quando a 
doutrina pagã na imortalidade da alma entrou no Cristianismo, o foco passou a ser a 
esperança da imortalidade da alma, e não mais a esperança de ressurgir dentre os mortos 
na manhã da ressurreição do último dia. O foco mudou completamente. 
 
Da Igreja Primitiva, onde nunca se ouviu falar de “alma imortal” [psiquê athanatos], e que 
pregava que a única esperança dos cristãos era na ressurreição, para a igreja atual, onde 
não se ouve mais pregações sobre a ressurreição, onde ninguém fala que a sua maior 
esperança é em ressuscitar dos mortos, onde a crença na alma imortal suprimiu a crença 
fundamental na ressurreição. Rejeitar a imortalidade da alma não é apenas repudiar uma 
doutrina falsa oriunda do paganismo grego, mas é engrandecer e enaltecer novamente a 
ressurreição dos mortos, assim como era crida na Igreja primitiva. 
 
Diante disso, chegou o dia em que eu parei para ler 1ª Coríntios, capítulo 15. Nunca vou me 
esquecer daquele dia. Nunca algum capítulo mexeu tanto comigo. A cada verso que lia, a 
cada compreensão do ensino de Paulo sobre a ressurreição, eu ficava admirado, e ao 
mesmo tempo espantado – como nunca havia percebido aquilo antes? Era difícil acreditar 
 
3 BACCHIOCCHI, Samuele. Imortalidade ou Ressurreição: Uma abordagem bíblica sobre a 
natureza e o destino eterno. Unaspress, 1ª edição, 2007. 
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 8 
 
que a Igreja se distanciou tanto daquele ensino. Era difícil acreditar que a cada versículo eu 
me convencia cada vez mais que imortalidade da alma não condiz com ressurreição dos 
mortos. 
 
Confesso que fiquei pálido quando li no verso 18 Paulo dizendo que, se não fosse pela 
ressurreição, os que dormiram em Cristo já pereceram. Confesso que fiquei mais pálido 
ainda quando li no verso seguinte que a nossa esperança em Cristo se limitaria somente a 
esta presente vida, se não existisse a ressurreição. Quanto mais eu lia, mais me convencia 
que, se não fosse pela ressurreição do último dia, não existiria nada depois da morte. Tanto 
é que Paulo diz que, sem ressurreição, seria melhor comer, beber e depois morrer (v.32), e 
estaríamos correndo perigos à toa (v.30). 
 
Nunca havia visto um imortalista pregar essas passagens. E até hoje nunca vi alguém as 
explicar satisfatoriamente, à luz de sua crença na imortalidade da alma. Afinal, Paulo 
poderia ter dito que viveríamos no Céu do mesmo jeito sem a ressurreição, estando com 
nossas almas no Paraíso sem um corpo. Para os imortalistas, a ressurreição é isso: um 
detalhe desnecessário. Para que ressuscitar um corpo morto, se já estaríamos no Céu? De 
qualquer forma, na teologia imortalista, a ressurreição é desnecessária e inútil, pois 
estaríamos com Deus no Céu com ou sem um corpo físico glorioso. 
 
Estaríamos desfrutando das delícias do Paraíso para sempre, do mesmo jeito. Estaríamos 
com Deus eternamente, independentemente de um corpo se levantar dos mortos ou não. 
Mas, se a alma não é imortal, então a ressurreição é totalmente necessária. Sem ela, os 
mortos já teriam perecido para sempre (v.18). Sem ela, não haveria outra vida após a 
morte, e a nossa esperança seria somente esta vida presente (v.19). Sem ela, é inútil sofrer 
perseguições por amor a Cristo (v.30). Sem ela, a própria vida é inútil (v.32). Quanta 
diferença entre imortalidade da alma e ressurreição dos mortos! 
 
Depois, li os versos 51-54, onde vejo Paulo dizendo que seremos dotados de imortalidade 
somente após a ressurreição, pois ela não é algo que já trazemos conosco em nossa 
natureza no presente momento. E vejo também que a morte não é a libertadora da alma 
imortal, mas o maior inimigo a ser vencido (vs. 54-55), e que só é tragada na ressurreição 
(v.54). Quão importante, gloriosa e fundamental é a ressurreição! 
 
Quando descobri o valor da ressurreição no Cristianismo, o tanto que ela é importante e 
como ela foi sendo tão sistematicamente abandonada até chegar aos nossos dias (a tal 
ponto que raramente se vê pregações sobre a ressurreição hoje em dia), tentei entender o 
porquê que ela foi tão esquecida. Afinal, isso tudo não poderia ter acontecido do nada, sem 
uma razão de ser. Ao lermos o livro de Atos vemos que em 2/3 das ocasiões em que a 
palavra “esperança” entra em cena ela está relacionada à esperança da ressurreição dos 
mortos, no último dia. 
 
O próprio Paulo disse que “nessa esperança”, isto é, na esperança da “redenção do nosso 
corpo”, é que “fomos salvos” (cf. Rm.8:24), que tinha “a mesma esperança desses homens, 
de que haverá ressurreição tanto de justos como de injustos” (cf. At.24:15), e de que 
estava sendo julgado “por causa da minha esperança na ressurreição dos mortos” (cf. 
At.23:6). Se a esperança da ressurreição era o foco da Igreja primitiva e foi perdendo 
espaço até os dias atuais, é porque algo aconteceu, porque alguma outra coisa foi ganhando 
este espaço. 
 
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 9 
 
E, ao estudarmos a história da Igreja, vemos que no final do século II os filósofos cristãos, 
admiradores da filosofia de Platão, decidiram criar um meio de tentar conciliar o ensino da 
ressurreição com a imortalidade da alma, inventando um estado intermediário, onde as 
almas esperariam em forma incorpórea a ressurreição dos seus corpos. A partir de então, a 
imortalidade da alma foi ganhando cada vez mais espaço, e a ressurreição perdendo cada 
vez mais. Pois, se a alma já vai para o Céu sem a necessidade da ressurreição, para que 
existe ressurreição? A ressurreição seria desnecessária, pois já estaríamos na glória ou pelo 
menos assegurados entre os salvos. 
 
E tudo aquilo que Paulo disse aos coríntios em 1ª Coríntios 15 perderia completamente o 
sentido e a razão de existir. Ao invés de Paulo estar pregando a necessidade da 
ressurreição, ele estaria simplesmente pregando a existência dela. A ressurreição que a 
Bíblia ensina é uma ressurreição não apenas física e real, mas necessária e fundamental. A 
ressurreição crida pelos imortalistas, no entanto, é inútil e desnecessária (pois já estaríamos 
no Céu antes dela e continuaríamos lá sem ela, mesmo se ela nunca existisse). 
 
Esse evidente contraste entre os pontos de vista mortalista e imortalista em relação à vida 
após a morte fica ainda mais acentuado quando vemos que, se de fato é apenas na 
ressurreição que ganhamos vida, então essa deve ser a nossa maior esperança, mas se a 
nossa alma já está no Céu antes dela e sem a necessidade dela, então a nossa esperança 
não é a ressurreição dos mortos, como tão insistentemente pregavam os apóstolos, mas a 
imortalidade da alma. 
 
E é neste espantalho criado pelos imortalistas e apelidado de “ressurreição” que eles 
acreditam: uma ressurreição desnecessária, sem razão lógica de existir, em que viveríamos 
muito bem sem ela e onde é absurdo colocar “esperança” numa tão simples religação de 
corpo com alma por ocasião da segunda vinda de Cristo. A maior razão deste livro existir 
não é dizer que a alma morre, mas é anunciar a verdadeira ressurreição, retornando às 
raízes da esperança cristã primitiva, voltando aos primórdios de quando a imortalidade da 
alma estava das portas para fora da Igreja, e por essa mesma razão a ressurreição era o 
foco de todo o pensamento apostólico e neotestamentário. 
 
Para o inimigo, bastou inventar a mentira de que “certamente não morrerás” (cf. Gn.3:4), 
que o homem rapidamente deixou de lado, arquivado em algumlugar, a sua crença numa 
ressurreição vindoura. Bastou ensinar que a alma não morre para trazer junto consigo todas 
as outras heresias que vemos hoje: oração pelos mortos, culto aos mortos, intercessão dos 
santos falecidos, reencarnação, consulta aos espíritos, purgatório, limbo, dentre outras 
inúmeras heresias perpetuadas até os dias de hoje, tendo todas elas essa mesma base 
inventada pelo maligno, de que existe vida consciente entre a morte e a ressurreição. 
 
O que vemos, na verdade, é que todas as heresias têm como fundamento a crença de que a 
alma sobrevive após a morte. Sem ela, nenhuma das maiores heresias citadas acima 
existiria. Sem ela, Satanás não teria um pretexto para fazer com que o povo ascenda velas 
aos mortos, beije imagens deles, se prostre diante delas, reze a alguém que já faleceu, ore 
por eles ou os consulte. A imortalidade da alma foi a primeira mentira inventada por 
Satanás na história da humanidade (cf. Gn.3:4), porque ela é a base e o fundamento de 
todas as demais mentiras. 
 
Na verdade, a maioria dos evangélicos perde tempo enquanto refuta a crença no purgatório, 
intercessão dos santos, imagens, idolatria, culto aos mortos, dentre tantas outras heresias, 
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 10 
 
pois elas são apenas a consequência de uma heresia maior. Todas elas 
são consequências da crença na imortalidade da alma. Destruindo essa maior mentira, 
todas as outras mentiras secundárias caem por terra, sem fazer qualquer esforço, como em 
um efeito dominó. Enquanto os evangélicos apenas atacarem essas doutrinas em si 
mesmas, não estarão fazendo qualquer progresso. Só conseguirão quando perceberem que 
o mal só é cortado se for pela raiz: quando destruirmos a base e o fundamento de todas 
essas heresias, que é precisamente a imortalidade da alma. 
 
Em resumo, aqui escreve alguém que sempre foi doutrinado com os ensinos de imortalidade 
da alma e tormento eterno, que sempre frequentou igrejas que criam e creem nisso, que 
sempre ouviu isso a vida inteira, aí veio a Bíblia e mudou tudo. Como é que isso ocorre? 
Somente quando estamos com a mente aberta para a verdade. O curioso é que eu já havia 
lido 1ª Coríntios 15 diversas vezes antes daquele dia. Por que nunca havia notado nada 
“diferente”? Porque estava com a mente fechada para a verdade. 
 
Enquanto eu estava apenas seguindo uma orientação religiosa proveniente de tradições 
humanas denominacionais de uma igreja X ou Y, eu podia ler mil vezes aquele capítulo, que 
iria estar como que com um “véu” espiritual me cobrindo. Mas, uma vez que dispus em meu 
coração o interesse de descobrir a verdade, e nada além da verdade bíblica, eu conheci a 
verdade, e a verdade me libertou. Todos se deparam com a verdade, mas apenas alguns 
poucos estão realmente abertos a aceitá-la. Da mesma forma que Cristo bate na porta do 
coração de cada um de nós, mas só o aceitamos se estivermos dispostos a isso (cf. 
Ap.3:20), o mesmo acontece com as verdades bíblicas. Certa vez um amigo meu comentou 
o seguinte: 
 
“Sabe o que acontece, Lucas? O problema é que a gente pode até ampliar alguma coisa 
sobre isso, mas não vai pegar. Você, e nem eu, ou quem quer que seja, consegue falar tão 
alto. A coisa talvez até mude, talvez, se quem padronizou o mandamento, no caso a Igreja 
Católica, reverter o quadro, dizendo que houve um erro. Muitos recebem as mudanças com 
alegria, satisfação, concordando com tudo, mas em apenas alguns dias elas voltam à crença 
comum. Pode-se encher isso aqui de textos e mais textos que convençam as pessoas que 
nada vai resolver. Que se encha isso aqui de argumentos que nos deixem com olhos 
lacrimejantes de satisfação, com apenas dez dias sem tocar no assunto, as pessoas são 
novamente empurradas para a crença tradicional ensinada há milênios, no que se refere a 
esses assuntos” 
 
Essa é a mais pura verdade, e é o que eu mais constato nestes tempos em que eu debato 
sobre isso. A maioria das pessoas não segue a Bíblia, segue uma religião. Não segue Cristo, 
segue o ensino denominacional mais tradicional. Não falo mal e nem quero desmerecer 
nenhuma denominação, mas a verdade está somente na Bíblia. Isso vale tanto para 
católicos, como principalmente para os evangélicos, que dizem seguir a Sola Scriptura. 
 
O que vemos é que muitas pessoas não estão com a mente aberta para decidir pela 
verdade bíblica. Elas já têm uma verdade pré-estabelecida na mente delas, oriunda da 
tradição da igreja X, e defendem essa tradição com unhas e dentes, usando a Bíblia não 
para descobrir a verdade que está nela, mas somente para encontrar pretextos e passagens 
que possam corroborar com a crença da tradição. Ao invés de fazerem um estudo sério e 
honesto, com a mente totalmente aberta para a verdade, elas já estão com uma verdade 
pré-concebida na mente delas, e buscam apoio para essa verdade na Bíblia. 
 
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 11 
 
Em outras palavras, a Bíblia não é a fonte da verdade para essas pessoas. A fonte da 
verdade é a tradição denominacional, e a Bíblia é apenas um meio para dar pretextos para 
essa crença. Sendo assim, não me assusta que tantas pessoas leiam 1ª Coríntios 15 a 
exemplo de como fazem com inúmeras outras passagens das Escrituras que desmentem 
claramente a imortalidade da alma, mas elas continuam batendo nessa mesma tecla. 
 
Enquanto eu estive com a mente fechada, ainda que lesse 1ª Coríntios 15 ou ouvisse falar 
sobre ressurreição, não a compreendia. Era como os discípulos, que ouviam Jesus falando 
explicitamente a eles que iria morrer e ressuscitar ao terceiro dia, mas mesmo sendo assim 
tão claro, eles mesmo assim não entendiam, pois o seu entendimento estava encoberto (cf. 
Lc.9:45). Porém, quando estive com a mente aberta para a verdade, a quantidade 
insuperável de evidências bíblicas era tão grande que precisei fazer um livro sobre isso. 
 
Com a mente aberta para a verdade bíblica, não foi difícil achar uma riqueza bíblica que eu 
jamais teria descoberto se não me lançasse nas Escrituras e mergulhasse nelas. Jamais 
teria descoberto tudo isso se não fosse por estar com a mente aberta para a verdade 
bíblica. É claro que a ajuda de apologistas experientes me ajudaram bastante neste 
processo. Tenho que ser grato a Azenilto Brito (que gentilmente me apresentou o livro de 
Bacchiocchi e que me ajudou muito com os seus brilhantes artigos sobre o tema), a 
Samuele Bacchiocchi, a Leandro Quadros, a Oscar Cullmann e a tantos outros, em suas 
maravilhosas defesas deste ponto sobre a vida após a morte. 
 
Porém, acima de tudo, tenho que ser agradecido a Deus, por ter nos dado a Sua Santa 
Palavra. Eu não tive nenhum sonho, nenhuma revelação, não vi Deus, não tive contato com 
um anjo poderoso com uma espada na mão, não fui alvo de uma profecia e nem fui 
arrebatado ao terceiro céu. Tudo isso que eu descobri não foi de alguma forma 
extraordinária: foi somente lendo a Bíblia. Algo tão simples, mas tão pouco praticado por 
muitos. 
 
Fico imensamente agradecido ao Senhor por ter me dado a honra de militar por essa 
doutrina tão abandonada de nossas igrejas nos dias de hoje, chamada ressurreição dos 
mortos, e de poder combater a raiz de todas as heresias e a primeira de todas as mentiras, 
chamada imortalidade da alma. É claro que isso me custou caro. Muito caro. Já fui chamado 
de “herege” por causa disso não poucas vezes. Muitos outros evangélicos perdem o 
prestígio e consideração que tem por mim por verem que eu prego uma coisa que vai 
contra a tradição da igreja deles. Já sabia desse risco desde o início. 
 
Se eu quisesse agradar a homens, estaria pregando aquilo que todo mundo gostaria de 
ouvir. Se eu quisesse agradar a homens, estaria ensinando que “certamente não morrerás”. 
Se a minha intenção em Cristo fosse de fazer amigos que dessem um tapinha nas costas e 
me apoiassem em tudo o que eu dissesse, certamente estaria pregando que possuímos umaalma, e não que somos uma (cf. Gn.2:7). Esse é o preço pago por pregar a verdade, e sei 
que pagarei esse preço até o fim da minha vida. 
 
Todavia, não me importo, nem considero a minha vida de valor algum para mim mesmo, se 
tão somente puder terminar a corrida e completar o ministério que o Senhor Jesus me 
confiou, de testemunhar do evangelho da graça de Deus. E, por essa mesma graça, hoje eu 
fico muito feliz em ver que tantas pessoas já se libertaram dessa doutrina pagã, e hoje 
estão livres para pregar a ressurreição e a vida em Jesus Cristo. 
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 12 
 
 
E eu não sou o único. Poderia passar todo o dia mostrando inúmeros teólogos de diferentes 
segmentos religiosos evangélicos imortalistas, mas que, através de uma leitura sincera e 
honesta das Escrituras, adotaram a postura bíblica da mortalidade natural da alma humana. 
Poderíamos referir aqui os nomes de Oscar Cullmann, Clark Pinnock, John Stott, John 
William Weham, Edward Green, Philip Hughes, David Edwards, Basil Atkinson, Greg Boyd, 
William Branham, Harold Camping, Charles Fitch, Roger Foster, Fudge Edward, Charles 
Gore, Henry Grew, Homer Hailey, Emmanuel Pétavel-Olliff, Oliver Chase Quick, Ulrich Ernst 
Simon, George Storrs, William Temple, dentre tantos outros eruditos e teólogos de renome, 
que não eram adventistas nem testemunhas de Jeová, e que, mesmo fazendo parte de 
denominações que pregavam a imortalidade da alma, adotaram a postura de mortalidade 
da alma após um exame bíblico sério e honesto consigo mesmos. 
 
Todos eles poderiam ter mantido a sua crença na imortalidade da alma, o que seria muito 
mais fácil e confortável para eles. Mas, mesmo sofrendo não poucas vezes a oposição e 
perseguição de ataques contrários, eles não puderam fechar os olhos para as tão grandes e 
notáveis evidências bíblicas que combatem tão fortemente a crença na imortalidade da 
alma, que pode até enganar a muitos com uma dúzia de versos isolados sem exegese, mas 
que dificilmente resiste a um exame bíblico criterioso respeitando as normas da 
hermenêutica bíblica. 
 
É claro que ainda existem aqueles que hesitam, que perseguem, que chamam os outros de 
hereges sem examinar a si mesmos, que olham torto, que são fechados para a verdade ou 
que lerão este livro meramente na intenção de refutá-lo. Isso sempre existiu, e sempre 
existirá. Paulo foi debochado pelos gregos, porque pregava a ressurreição dos mortos, e 
eles a imortalidade da alma (cf. At.17:32). Por isso, não é de se surpreender que a mesma 
coisa aconteça nos dias de hoje. 
 
Mas a minha alegria é ver que não estou sozinho nesta batalha – estou cercado de tão 
grande nuvem de testemunhas, entre leigos e eruditos, das mais diferentes denominações 
religiosas, que cada vez mais estão abrindo os olhos para a verdade e se libertando do 
engano. Destes, sou apenas mais um militante. Apenas mais um que, ao invés de iludir 
você dizendo que certamente não morrerás, digo que Deus é o único que possui a 
imortalidade, mas que Cristo é a ressurreição e a vida. 
 
 
 
 
 
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 13 
 
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO AO TEMA 
 
 
I –Introdução 
 
“Nenhuma das minhas publicações provocou tal entusiasmo ou tão violenta hostilidade”4. 
 
É assim que Oscar Cullmann, renomado teólogo suíço, definiu o seu livro ferrenhamente 
atacado: “Imortalidade da Alma ou Ressurreição dos mortos?”, após uma mudança de 
posição e consciência sobre a vida pós-morte. A ideia de imortalidade inerente está 
enraizada nas principais religiões do mundo, mas atualmente cresce o número de eruditos 
que, lendo a Bíblia, abandonam tal crença. O que leva tantos teólogos na atualidade, como 
Oscar Cullmann, Clark Pinnock, John Stott, John William Weham, Edward Green, Philip 
Hughes, David Edwards, entre muitos outros, a abandonarem a visão de estado 
intermediário e de eternidade no lago de fogo, se nasceram aprendendo que tais crenças 
eram verdadeiras e apenas as “seitas heréticas” pregavam o contrário? Simplesmente, 
continue lendo. Você vai entender! 
 
 
II–A Primeira Mentira 
 
“Certamente não morrerás” (cf. Gênesis 3:4) 
 
Não é a toa que a crença na imortalidade da alma está presente em praticamente todas as 
religiões pagãs. Todos sabem que existem principados (demônios) atuando por trás dos 
grandes sistemas religiosos, que monitoram, regem, comandam e perpetuam esses 
enganos. Muitas mentiras foram implantadas nas raízes da Igreja ao longo dos séculos, e 
como a tradição foi tendo um valor doutrinário cada vez mais acentuado e muito maior do 
que a própria Escritura Sagrada, estes enganos passaram a atuar nos cristãos como 
verdades independentes da Bíblia. 
 
A justificação ficou por obras, o evangelho deixou de ser “Cristocêntrico”, os que morreram 
passaram a ser intercessores, a ressurreição dos mortos começou a perder a sua 
importância, a salvação da alma poderia perfeitamente achar-se por meio da venda de 
indulgências, a Santa Inquisição tratou de “dar um fim” em quem fosse contra os dogmas 
sagrados da tradição e o evangelho puro, simples, sincero e verdadeiro, que não estava 
sujeito a acréscimos (cf. Gl.1:8), começou a se desviar do Caminho, do foco, daquilo que 
lhes foi originalmente pregado por Cristo e pelos apóstolos. 
 
Ao longo dos séculos, muitos enganos e mentiras foram perspicazmente sendo infiltrados na 
Igreja, e o evangelho estava gritantemente angustiado por uma Reforma. Como os dogmas 
não podiam ser contestados (eram “infalíveis” por meio do Magistério), ninguém ousava 
contrariar aquilo que lhes era dito. E, se alguém ousasse tanto, poderia ser queimado ou 
torturado, intitulado como herege e inimigo público da Santa Sé. É claro que existia um 
livro, que foi praticamente reprimido das mãos do povo, livro este que continha aquilo que 
foi originalmente anunciado, que continha o evangelho puro, sincero, da maneira como era 
no início. 
 
 
4 CULLMANN, Oscar. Imortalidade da Alma ou Ressurreição dos Mortos? Disponível em: 
<http://www.mentesbereanas.org/download/imort-ressur_folheto.pdf>. Acesso em: 13/08/2013. 
http://www.mentesbereanas.org/download/imort-ressur_folheto.pdf
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 14 
 
Essas Sagradas Letras tinham que ser reprimidas, ou, doutra forma, as próprias pessoas 
acabariam por descobrir dezenas de mentiras que foram invadindo o Cristianismo com o 
tempo. O mundo, enquanto sob o jugo da Igreja Romana, vivia em trevas. O povo, sem as 
divinas Escrituras traduzidas em sua língua. E o clero, cada vez mais explorando a 
ignorância deste povo. Isso levou a Igreja Católica a proibir a leitura da Bíblia e a lutar ao 
máximo contra a divulgação dela. O Concílio de Tolosa (1229) categoricamente declarou: 
 
“Proibimos os leigos de possuírem o Velho e o Novo Testamento... Proibimos ainda 
mais severamente que estes livros sejam possuídos no vernáculo popular. As 
casas, os mais humildes lugares de esconderijo, e mesmo os retiros subterrâneos de 
homens condenados por possuírem as Escrituras devem ser inteiramente 
destruídos. Tais homens devem ser perseguidos e caçados nas florestas e cavernas, 
e qualquer que os abrigar será severamente punido”5 
 
Os leigos eram proibidos de lerem as Escrituras Sagradas em sua própria língua e até 
mesmo de possuírem a Bíblia. Tais homens que tivessem uma Bíblia em casa deveriam ser 
condenados, caçados, inteiramente destruídos, perseguidos e caçados nas florestas e 
cavernas. Nesta época de trevas, a Igreja Católica, a serviço de Satanás, lançava dura 
perseguição contra o povo de Deus que se apegava às Escrituras, que tinha que buscar 
locais de esconderijo em retiros subterrâneos para poderem ler a Bíblia, mas a Igreja 
Católica ordenava caçar e perseguir tais homens até nas cavernas ou em qualquer outro 
lugar, até serem destruídos por completo. 
 
Nenhuma perseguiçãoà Bíblia feita por um não-cristão em toda a história da humanidade 
se comparou a perseguição elaborada pela Igreja Romana, nem mesmo a de Diocleciano ou 
a de Nero. O Papa Pio IX defendia que as sociedades bíblicas eram pestes que deveriam ser 
destruídas por todos os meios possíveis: 
 
“Socialismo, comunismo, sociedades clandestinas, sociedades bíblicas... pestes estas 
devem ser destruídas através de todos os meios possíveis”6 
 
A leitura da Bíblia era absolutamente proibida aos leigos e considerada como sendo uma 
peste: 
 
“Essa peste (a Bíblia) assumiu tal extensão, que algumas pessoas indicaram sacerdotes 
por si próprias, e mesmo alguns evangélicos que distorcem e destruíram a verdade do 
evangelho e fizeram um evangelho para seus próprios propósitos... elas sabem que a 
pregação e explanação da Bíblia são absolutamente proibidas aos membros 
leigos”7 
 
John Wycliffe (1328 – 1384 d.C), que lutou fortemente pela restauração do evangelho 
bíblico e chegou até a elaborar uma tradução das Escrituras para tirar o povo das trevas, foi 
chamado de pestilento canalha de abominável heresia, por ter lutado em prol da divulgação 
da leitura bíblica pelos leigos: 
 
 
5 Concil. Tolosanum, Papa Gregório IX, Anno Chr. 1229, Canons 14:2. 
6 Papa Pio IX, em sua Encíclica “Quanta Cura”, Título IV, 8 de Dezembro de 1866. 
7 Acts of Inquisition, Philip Van Limborch, History of the Inquisition, cap. 8. 
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 15 
 
“O pestilento canalha de abominável heresia, que inventou uma nova tradução das 
Escrituras em sua língua materna”8 
 
As decisões dos concílios eram claras: a leitura da Bíblia era proibida aos leigos, mas, 
enquanto a Bíblia era um livro proibido, as “Horas da Bem-aventurada Virgem” era 
permitido: 
 
“Proibimos ainda que seja permitido aos leigos possuir os livros do Velho e Novo 
Testamento, êxito o Saltério, ou o Breviário para dizer o Ofício divino, ou as Horas da 
Bem-aventurada Virgem a quem as desejar ter por devoção; porém proibimos estritamente 
que esses livros sejam em língua vulgar”9 
 
Em outra encíclica do papa Pio IX, ele reitera a proibição da leitura da Bíblia em língua 
vulgar, por sanção geral de toda a Igreja: 
 
"Nas regras que foram aprovadas pelos Padres designados pelo Concílio Tridentino, 
aprovadas por Pio IV e antepostas ao Índice dos livros proibidos, lê-se por sanção geral que 
não se deve permitir a leitura da Bíblia publicada em língua vulgar”10 
 
O papa Leão XII também se revoltou contra aqueles que tentavam trazer ao povo a tão 
sonhada leitura da Bíblia em sua própria língua: 
 
“Não se vos oculta, Veneráveis Irmãos, que certa Sociedade vulgarmente chamada bíblica 
percorre audazmente todo o orbe e, desprezadas as tradições dos santos Padres, contra o 
conhecidíssimo decreto do Concílio Tridentino [v. 786], juntando para isso as suas forças e 
todos os meios, tenta que os Sagrados Livros se vertam, ou melhor, se pervertam nas 
línguas vulgares de todas as nações”11 
 
O papa Pio VII reforça que não somente ele, mas também os seus predecessores avisavam 
constantemente que a leitura da Bíblia ao povo é mais um dano do que algo útil, e a única 
versão permitida era a Vulgata Latina: 
 
"Porque deverias ter tido diante dos olhos o que constantemente avisaram também os 
nossos predecessores, a saber: que se os sagrados Livros se permitem correntemente e 
em língua vulgar e sem discernimento, disso há de resultar mais dano que utilidade. 
Ora, a Igreja Romana que somente admite a edição Vulgata, por prescrição bem notória do 
Concílio Tridentino (ver 785 s), rejeita as versões das outras línguas”12 
 
Como a Vulgata estava escrita em latim e praticamente a totalidade do povo da época não 
entendia nada deste idioma (alguns mal sabiam a sua própria língua, quanto menos o 
latim!), então eles astutamente permitiam somente esta versão da Bíblia, para que o povo 
não entendesse nada do que estava escrito. 
 
Também o papa Clemente XI, em sua Constituição Dogmática “Unigenitus”, condenou 
vigorosamente como erradas uma série de reivindicações feitas por Pascásio Quesnel. 
 
8 Condenação de Wycliffe pelo Concílio de Constança, em 1415. 
9 Concílio de Tolosa, 1229, cap. 14. 
10 Pio IX, Encíclica Inter praecipuas, 16 de Maio de 1844. 
11 Leão XII, Encíclica Ubi primum de 5 de Maio de 1824. 
12 Pio VII, carta Magno et acerbo, 3 de Setembro de 1816; Denzinger # 1603. 
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 16 
 
Entre elas, inclui-se a necessidade de estudar as Escrituras, que a leitura da Bíblia é para 
todos, que é danoso querer retrair os cristãos da leitura bíblica, que as mulheres poderiam 
ler a Bíblia, que os cristãos poderiam ler o Novo Testamento, que o povo simples teria o 
direito de ler as Escrituras, entre outros: 
 
70. Útil e necessário é em todo tempo, em todo lugar e para todo gênero de pessoas 
estudar e conhecer o espírito, a piedade e os mistérios da Sagrada Escritura. 
 
71. A leitura da Sagrada Escritura é para todos. 
 
81. A obscuridade santa da Palavra de Deus não é para os leigos razão de dispensar-se da 
sua leitura. 
 
82. O dia do Senhor deve ser santificado pelos cristãos com piedosas leituras e, sobretudo, 
das Sagradas Escrituras. É coisa danosa querer retrair os cristãos desta leitura. 
 
83. É ilusão querer convencer-se de que o conhecimento dos mistérios da religião não 
devem comunicar-se às mulheres pela leitura dos Livros Sagrados. 
 
84. Arrebatar das mãos dos cristãos o Novo Testamento ou mantê-lo fechado, tirando-lhes 
o modo de entendê-lo, é fechar-lhes a boca de Cristo. 
 
86. Arrebatar ao povo simples este consolo de unir a sua voz à voz de toda a Igreja, é uso 
contrário à prática apostólica e à intenção de Deus. 
 
(Denzinger #1429-1434, 1436, 8 de Setembro de 1713) 
 
Por que estamos dizendo tudo isso? Simplesmente porque a própria Igreja Católica 
sabia que tinha algo a esconder. Sabia que, se as Sagradas Letras fossem reveladas ao 
povo, muitas lendas que foram surgindo através dos séculos pela tradição iriam ruir 
sistematicamente. O próprio Magistério católico reconhecia que, de fato, muitas doutrinas 
mentirosas que vão contra o evangelho verdadeiro foram, ao passar dos séculos, 
encontrando lugar na Igreja. Uma dessas principais mentiras era que, como o catecismo 
católico expõe: “A Igreja ensina que toda alma espiritual é criada imediatamente por Deus--
não é ‘produzida’ pelos pais – e também é imortal: não perece quando se separa do 
corpo por ocasião da morte”13 
 
Apesar de boa parte dos “rebeldes” serem facilmente silenciados de um ou de outro jeito 
(na maioria das vezes, do outro), começaram a surgir homens levantados por Deus a fim de 
fazer com que, ao passar dos séculos, a doutrina fosse aos poucos voltando ao foco inicial. 
Muitas doutrinas claramente contraditórias à Palavra de Deus foram aos poucos sendo 
repensadas. O próprio Martinho Lutero chegou a expressar-se de maneira contraria às teses 
de imortalidade da alma, colocando-a no grupo das “monstruosidades sem fim no monte de 
estrume dos decretos romanos”: 
 
“Contudo, eu permito ao Papa estabelecer artigos de fé para si mesmo e para seus próprios 
fiéis – tais como: que o pão e o vinho são transubstanciados no sacramento; que a essência 
de Deus não gera nem é gerada; que a alma é a forma substancial do corpo humano; que 
ele [o papa] é o imperador do mundo e rei dos céus, e deus terreno; que a alma é 
 
13 Catechism of the Catholic Church, pág.93. 
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 17 
 
imortal; e todas estas monstruosidades sem fim no monte de estrume dos 
decretos romanos – para que tal qual sua fé é, tal seja seu evangelho, e tal a sua igreja, 
e que os lábios tenham alface apropriada e a tampa possa ser dignada panela"14 
 
Em outra ocasião, Lutero chamou a imortalidade da alma de "sonho humano" e de "doutrina 
de demônios": 
 
"Daí os especialistas em Roma recentemente pronunciaram um decreto sagrado [no Quinto 
Concílio Laterano, 1512-1517] que estabelece que a alma do homem é imortal, agindo 
como se nós não disséssemos todos em nosso comum Credo, “eu acredito na vida eterna”. 
E, com a assistência do gênio Aristóteles, eles decretam além disto que a alma é 
“essencialmente a forma do corpo humano”, e muitos outros esplêndidos artigos de 
natureza parecida. Estes decretos são, de fato, mais apropriados para a igreja papal, 
pois eles possibilitam a eles manter sonhos humanos e as doutrinas de demônios 
enquanto eles pisam e destroem a fé e ensino de Cristo"15 
 
A visão de Lutero era de uma natureza humana holista, de uma alma mortal e de os mortos 
“dormindo” até a manhã da ressurreição do último dia, quando “Ele nos chamar e nos 
acordar juntamente com todos os Seus queridos filhos para a Sua eterna glória e juízo”. 
Enquanto isso, eles “nada sentem absolutamente”: 
 
“Não há ali deveres, ciência, conhecimento, sabedoria. Salomão opinou que os mortos 
estão a dormir, e nada sentem absolutamente. Pois os mortos ali jazem, não levando 
em conta nem dias nem anos; mas, quando despertarem, parecer-lhes-á haver dormido 
apenas um minuto”16 
 
“Assim como alguém que dorme e chega a manhã inesperadamente, quando acorda, sem 
saber o que aconteceu: assim nós nos ergueremos no último dia sem saber como chegamos 
a morte e como passamos por ela. Nós dormiremos até que Ele venha e bata na 
pequena sepultura e diga: Dr. Martinho, levanta-te! Então eu me erguerei num 
momento e serei feliz com Ele para sempre”17 
 
“Nós devemos aprender a ver nossa morte com a luz correta, de forma que não fiquemos 
alarmados por causa dela, como o descrente faz; porque em Cristo ela não é de fato morte, 
mas um fino, doce e breve sono, que nos traz libertação deste vale de lágrimas, do pecado 
e do temor e extremidade da verdadeira morte e de todos os desfortúnios desta vida, e nós 
devemos estar seguros e sem cuidado, descansando docemente e gentilmente por um 
breve momento, como em um sofá, até o tempo quando ele nos chamar e nos 
acordar juntamente com todos seus queridos filhos para sua eterna glória e gozo. 
Pois já que nós o chamamos de sono, nós sabemos que não ficaremos nele, mas seremos 
novamente acordados e vivificados, e que o tempo durante o qual dormimos, não parecerá 
mais longo do que se nós tivéssemos apenas caído no sono. Daí nós devemos nos censurar 
por estarmos surpresos ou alarmados com tal sono na hora da morte, e de repente formos 
 
14 Martinho Lutero, Assertio Omnium Articulorum M. Lutheri per Bullam Leonis X. Novissimam 
Damnatorum. 
15 Lutero, LW 32:77. 
16 Exposição do Livro de Salomão, Chamado Eclesiastes, de Lutero. 
17 The Chrislian Hope-pág.37. 
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 18 
 
revividos da cova e da decomposição, e inteiramente bem, novo, com uma pura, clara e 
glorificada vida, encontrarmos nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo nas nuvens”18 
 
Infelizmente, a noção de Calvino de que a alma era imortal acabou falando mais alto e a 
maioria das igrejas reformadas acabaram adotando a tese da imortalidade da alma. Para 
não causar divisão e nem atrito com os demais reformadores, Lutero acabou não 
dogmatizando a questão e deixou-a em aberto para quem quisesse crer que a alma era 
imortal (como Calvino cria) ou para quem se unisse à sua crença particular na mortalidade 
natural da alma. 
 
Isso não impediu que, com o tempo, um número impressionante de mestres e teólogos 
respeitados e reconhecidos começassem a repensar as suas doutrinas de imortalidade da 
alma à luz das Sagradas Escrituras, e passaram a ver que, de fato, a doutrina da 
imortalidade da alma não bate com a doutrina da ressurreição e muito menos com o que as 
Sagradas Letras tem a nos dizer. O número de pessoas que deixam a visão dualista da 
natureza humana impressiona não apenas pela quantidade, mas também por estar em 
franco crescimento. De fato, a imortalidade da alma pode ser classificada como sendo a 
primeira mentira que entrou no mundo e provavelmente a última a sair dele. 
 
Muitas pessoas de bem têm sido enganadas atualmente sobre o estado dos mortos. Mas 
não é de hoje que isso acontece. Deus disse para o homem, como consequência do pecado: 
“Certamente morrerás” (cf. Gn.2:17). Mas Satanás, a serpente, retrucou: “Certamente que 
não morrerás” (cf. Gn.3:4). Quem estava com a razão? Deus ou Satanás? Certamente que 
Deus. 
 
A própria presença da “árvore da vida” no jardim do Éden indica claramente que a 
imortalidade era condicional à participação do fruto de tal árvore. Nós não tínhamos uma 
“alma imortal”! Com a Queda da humanidade, quando o pecado entrou no mundo, a morte 
(que não estava prevista no plano inicial de Deus para com a Sua Criação) passou a tornar-
se uma realidade. O estado do homem alterou-se, e este passou a ser um ser mortal. 
 
A segurança de imortalidade baseava-se em partilharem da árvore da vida no Jardim, que 
lhes garantia exatamente a imortalidade (cf. Gn.3:22). É evidente que Deus não iria colocar 
tal árvore a disposição caso já tivesse implantado uma alma eterna que lhes garantisse tal 
imortalidade. Visto que a condição para “viver para sempre” constituía-se na participação do 
fruto da árvore da vida, fica muito claro que eles não detinham em si mesmos a 
imortalidade, supostamente na forma de um elemento eterno implantado em seu ser. Se 
Deus colocou no ser humano uma alma imortal, então por que razão existiria a “árvore da 
vida” no Jardim do Éden? 
 
Ora, se já fôssemos imortais isso seria totalmente desnecessário! Se o homem comesse da 
árvore da vida, se tornaria imortal (cf. Gn.3:22). Contudo, foram expulsos do Jardim do 
Éden, sem terem comido da árvore da vida, e dois querubins ficaram na guarda do 
Jardim, exatamente a fim de que não comessem da árvore da vida e vivessem eternamente 
(cf. Gn.3:24). Tudo isso seria totalmente desnecessário se já possuíssemos uma alma 
imortal. Para que guardar o homem de comer do fruto da árvore da vida e viver para 
sempre se ele já era imortal por meio de uma alma eterna que já lhes teria sido 
implantada? 
 
 
18 Compend of Luther’s Theology, editado por Hugh Thomson Kerr, Jr., p. 242. 
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 19 
 
O homem seria imortal caso comesse do fruto da árvore da vida, mas não comeu. Deus não 
fez o homem com o conhecimento do bem e do mal, mas ele comeu do fruto da árvore do 
conhecimento do bem e do mal e teve tal conhecimento. Da mesma maneira, Deus não fez 
o homem com uma alma imortal. A imortalidade era condicional a participação do fruto da 
árvore da vida, assim como o conhecimento do bem e do mal era condicional a participação 
daquela árvore. Mas, ao contrário do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal na 
qual eles comeram, eles não comeram do fruto da árvore da vida! 
 
O resultado disso é que o homem não tornou-se um ser imortal. Ele, “morrendo, morreria” 
(cf. Gn.2:7). O homem era mortal pela sua natureza original, sem uma alma imortal, mas 
com a possibilidade de receber a imortalidade por meio da participação da árvore da vida. 
Isso, contudo, ele perdeu ao ser expulso do Jardim, e, portanto, perderam a possibilidade 
de participação na árvore da vida que lhes poderia nutrir de imortalidade. O homem perdeu 
a imortalidade quando foi expulso do Éden, e assim a morte veio a partir do pecado, sendo 
revertida na ressurreição (cf. 1Co.15:22,23). 
 
A Bíblia, contudo, nos apresenta que a árvore da vida (imortalidade) estará novamente 
presente no Paraíso, somente aos salvos, após a ressurreição dos mortos (cf. 
Ap.22:2). E acontecerá que “quem temsede, venha; e quem quiser, receba de graça a 
água da vida” (cf. Ap.22:17). O homem, agora sim, se tornaria imortal. A árvore da vida 
representava a imortalidade na comunhão com Deus, mas com o pecado fomos privados do 
acesso desta fonte de eternidade, que agora continua na presença dEle, onde iremos 
desfrutá-la depois que formos ressuscitados (cf. Ap.22:2). A eternidade no homem era 
condicional, não a uma alma que lhes teria implantada, mas sim a obediência ao Ser 
Criador do Universo, como um dom de Deus. 
 
O homem foi privado da árvore da vida para que não se tornasse imortal como Deus, e, de 
fato, não comemos da árvore da vida (cf. Gn.3:22-23). Com a desobediência a Deus, a 
participação na árvore da vida foi cortada (cf. Gn.3:22,23), o que demonstra claramente 
que a imortalidade não residia numa alma imortal recém-implantada, mas sim na 
obediência a Deus. A desobediência foi o que ocasionaria a morte, em um contraste direto 
com a vida eterna residente na forma da árvore da vida. Quando entrou o pecado do 
mundo, juntamente com ele entrou a morte: O processo da morte teria início. 
 
O texto original hebraico simplesmente reza que: “Morrendo, morrereis”. A Bíblia não diz 
que “no dia em que comerdes, certamente morrerás no mesmo dia”. Diz somente que ele 
morreria, mas não diz quando. A morte não estava no plano inicial de Deus para com a Sua 
Criação. Contudo, com o pecado reinou a morte (cf. Rm.5:21; Rm.5:12), que só será 
revertida na ressurreição do último dia (cf. 1Co.15:51-55; 1Co.15:22,23; Jo.6:39,40). 
 
No dia em que Adão comesse daquela árvore proibida ele ia morrer, ou seja, tornar-se-ia 
um ser mortal, o que ele realmente se tornou. O processo de morte como consequência do 
pecado alcançaria a todos os seres humanos a partir do momento em que este pecasse 
contra Deus, tornando-se receptível ao processo de morte que lhes sucederia. Analisando o 
texto original hebraico, vemos que, realmente, a morte seria a cessação total de vida. 
 
O que foi dito a eles: ”umê`êtshadda`ath thobh vârâ` lo' tho'khal mimmennu kiy beyom 
'akhâlkhamimmennu moth tâmuth” (cf. Gn.2:17). Analisando as duas últimas palavras, 
vemos claramente quando é que o homem morreria: “moth tâmuth” – traduzindo: 
“morrendo morrereis”. Isso é omitido pela maioria das versões vernáculas porque contraria 
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 20 
 
diretamente a posição imortalista de que ocorreu apenas uma “morte espiritual” e que esta 
morte teria acontecido logo naquele mesmo dia, ignorando o fato de que o hebraico diz 
taxativamente que tal morte seria quando o homem morresse – “morrendo, morrereis”. 
 
Passando para o bom linguajar português dos dias de hoje, o que Deus estava dizendo era 
que “quando vocês morressem iriam morrer mesmo”! A morte seria o fim total de qualquer 
existência humana, corpo e alma, pois, como consequência do pecado, o processo de morte 
teria início a partir do primeiro falecimento. A verdade incontestável é que não existiria 
nenhum estado de vida entre a morte e a ressurreição. 
 
Ora, se o homem continuasse vivo em um estado intermediário após a morte corporal que 
todos nós passamos, então o homem não morreria completamente – ele estaria vivo em um 
estado desencarnado. Essa é exatamente a mentira que a serpente pregou à Eva (cf. 
Gn.3:4), e que engana milhões de pessoas até hoje, invalidando toda uma consequência de 
morte – física e espiritual – que o homem encontraria como consequência do pecado. 
 
Ademais, a mentira de Satanás seria classificada como uma “verdade”, uma vez que o 
homem não morreria mesmo – viveria eternamente por meio de uma alma imortal que teria 
sido supostamente implantada no ser humano. Fica muito claro que o homem não seria 
inerentemente imortal, mas passaria por um estado de morte – “morrendo, morrereis” – 
por causa do pecado, uma “lacuna”, um período sem vida entre a morte e a ressurreição, 
fato esse que Satanás queria desmentir, dizendo que “certamente não morrerás” (cf. 
Gn.3:4). 
 
O processo de morte alcançaria todos os seres humanos, pois “o salário do pecado é a 
morte” (cf. Rm.6:23) e “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (cf. 
Rm.3:23), por isso, “a alma que pecar, essa morrerá” (cf. Ez.18:4). Isso tudo nos deixa 
claro que a morte como consequência do pecado não alcançaria tão somente o corpo, mas o 
ser integral do ser humano, corpo e alma (cf. Ez.18:4,20; Gn.2:7). Como bem disse o 
pastor luterano Martin Volkmann: “Como vemos, há duas concepções de vida após a morte. 
A diferença, segundo certo modo de pensar, é que a parte supostamente imortal não foi 
afetada pelo pecado em nós, enquanto na outra forma de pensar reconhece-se a 
natureza radical do pecado e proclama uma nova vida através da obra salvadora 
de Deus”. 
 
A morte seria a cessação total de vida. Corpo e alma foram afetados pelo pecado. A 
imortalidade não era uma possessão natural através de uma alma recém-implantada, mas 
condicionada à obediência a Deus na participação da árvore da vida. Mas o homem pecou. 
Transgrediu a ordenança divina. Trouxe a morte para si mesmo. Perdeu a participação na 
árvore da vida. Tornou-se naturalmente mortal. E, a partir deste dia, ele morreria na morte 
– não teria uma existência contínua em forma incorpórea após a morte. 
 
Felizmente, a Palavra de Deus nos apresenta uma reviravolta neste quadro, apresentando 
que o processo de morte iniciado em Adão e a cessação de vida como consequência do 
pecado não seria um quadro perpétuo, mas seria revertido em Cristo, na Sua Vinda: “Pois 
da mesma forma como em Adão todos morrem, em Cristo todos serão vivificados. 
Mas cada um por sua vez: Cristo, as primícias; depois, quando ele vier, os que lhe 
pertencem” (cf. 1Co.15:22,23). 
 
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 21 
 
O processo de cessação de vida na morte, ocorrido com todos os seres humanos e iniciado 
em Adão – “em Adão todos morrem” – seria revertido no “último dia” (cf. Jo.6:39,40), 
quando Cristo há de vivificar os que lhe pertencem por ocasião de sua segunda vinda, 
porque Ele venceu a morte (cf. Hb.2:14), dando-nos também vitória sobre a morte na 
ressurreição (cf. 1Co.15:54). Neste momento, então, Cristo nos resgatará da morte, nos 
vivificará e nos levará para as nossas moradas celestiais onde Ele está (cf. Jo.14:2,3). 
 
Em Adão todos morrem porque ele certamente não viveria eternamente (cf. Gn.2:17; 
Gn.3:4), mas como consequência do pecado ele passaria por um estado sem vida que teria 
início no momento da morte física. Mas a esperança cristã é a de que este estado não é 
perpétuo, mas é revertido pelo milagre da ressurreição, que nos traz vida e nos resgata da 
morte a fim de possuirmos a nossa herança celestial em Cristo. 
 
Por isso os cristãos tem na ressurreição a sua maior esperança (cf. At.26:7), pois é ela que 
nos diz que nem tudo está perdido, que o trabalho dos cristãos não é em vão (cf. 
1Co.15:32), que haverá o momento em que a morte será tragada pela vitória (cf. 
1Co.15:54), que aqueles que fizeram o bem “sairão para a ressurreição da vida” (cf. 
Jo.5:29), quando terão a recompensa pelo o que fizeram em vida e tomarão posse de suas 
moradas eternas. A ressurreição é o antídoto para a morte, é o milagre que Deus 
providenciou a fim de que não ficássemos para sempre sem vida, mas que por meio de 
Cristo pudéssemos herdar a vida eterna. 
 
Claro, não demorou muito para Satanás entrar em cena e deturpar essa verdade, 
propagando o que hoje é a base e fundamento da doutrina imortalista, retirada 
diretamente da boca da serpente: “Certamente não morrerás” (cf. Gn.3:4) – o 
homem seria inerentemente imortal! A ressurreição já não era mais o antídoto para a 
morte, mas sim a libertação da alma se desprendendo da prisão do corpo, como pregava 
Platão. Este foi, com toda a certeza, o primeiro sermão imortalista na história, a primeira 
das mentiras que Satanás implantou no mundo:a lenda da imortalidade da alma. 
 
 
III–Por que a mentira? 
 
Por que a mentira? – O motivo desta pergunta é: “Qual é o objetivo de Satanás em pregar 
tal mentira?”. Certamente que ele teria uma boa razão para isso, além de contradizer o 
ensino claro de Deus (cf. Gn.2:17). Para respondermos a esta pergunta, temos 
primeiramente que ter em mente que o principal objetivo de Satanás é desviar o cristão da 
verdade. Passar a ideia de um Deus mal. 
 
Eis aí a principal das armas de engano de Satanás: Desviar o caráter imutável do amor 
de Deus. Satanás é a serpente, é aquele que engana. Quanto mais pessoas ele conseguir 
desviar de Deus, de preferência passando a ideia de um deus sanguinário, que tem uma ira 
pelos ímpios que não cessa nunca, melhor. Infelizmente, essa tática tem causado muito 
sucesso nas nossas igrejas. 
 
Muitos milhões de indivíduos no mundo todo abandonam a crença em Deus por causa desta 
ideia, por não conseguirem admitir que Deus possa ser ao mesmo tempo bom e mal e com 
duas faces, ou que para demonstrar Sua justiça tenha que atormentar eternamente no fogo 
a alma de bilhões de pessoas, e acabam por pensar: “Ele não existe”. Muitos têm saído das 
fileiras do Cristianismo por causa deste assunto. Isto poderia ser evitado, caso fosse feito 
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 22 
 
um estudo sincero, honesto e fiel à exegese e ao contexto das Escrituras, que é o que 
faremos ao longo de todo este estudo. 
 
O Dr. Samuelle Bacchiocchi elucida a questão nas seguintes palavras: 
 
“Um Deus que inflige torturas infindáveis a Suas criaturas assemelha-se muito mais a 
Satanás do que a um Pai amoroso a nós revelado por Jesus Cristo (...) A justiça divina 
nunca poderia requerer para pecadores finitos a infinita penalidade da eterna dor, porque o 
tormento infindável não serve a qualquer propósito reformatório, precisamente porque não 
tem fim”19 
 
John Stott manifesta a mesma opinião, ao dizer: 
 
“Eu não minimizo a gravidade do pecado como rebelião contra Deus, nosso Criador, mas 
questiono se o tormento eterno consciente é compatível com a revelação bíblica da divina 
justiça”20 
 
A verdade é que muitas pessoas têm deixado as fileiras do Cristianismo por não poderem 
acreditar que Deus, em Sua Onisciência, poderia criar seres sabendo que os puniria com um 
tormento eterno e infindável de maneira premeditada. Seria muito mais lógico e racional 
(pela justiça e pelo amor de Deus) crermos que Ele puniria a cada um de acordo com aquilo 
que cada ser merece, e não uma pena infindável para cada ser que comete pecados finitos, 
tendo como consequência a queima eterna de sua alma em um verdadeiro lago de fogo. 
 
Se tal fato sucedesse, poderíamos também dar margens a movimentos como a “Santa” 
Inquisição, por exemplo, que matou e torturou milhões na Idade Média, mas, como apontou 
Azenilto Brito, “se Deus é impiedoso ao punir pecadores com tormentos infindáveis no 
mundo por vir, porque não devia a Igreja agir de modo semelhante neste presente mundo, 
torturando e queimando os heréticos?”21 
 
O assunto é motivo de entusiasmo para os ateus, e a grande maioria dos cristãos 
defensores da imortalidade da alma não conseguem conciliar o amor divino com a crueldade 
eterna que seria tal destino aos impenitentes. Ademais, muitos cristãos que já estão dentro 
da Igreja não saem, não por buscarem um comprometimento sincero e verdadeiro com 
Deus, mas para escaparem de um tormento eterno no inferno. O Cristianismo não somente 
muda de sentido como também perde o foco, o amor, a justiça e a misericórdia nos 
revelada mediante o evangelho. Na verdade, todos estes atributos – e muitos outros – 
fazem parte da natureza divina e nenhum deles daria margem a um tormento eterno por 
pecados finitos. 
 
Como a Igreja pode coerentemente apresentar Deus como sendo alguém que amou o 
mundo de tal maneira que enviou o Seu único Filho para que todo aquele que nele crê não 
pereça, mas tenha a vida eterna (cf. Jo.3:16), se, por outro lado, odeia os pecadores de tal 
maneira que os envia para um lago de fogo e enxofre onde passarão tormentos infinitos 
 
19 BACCHIOCCHI, Samuele. Imortalidade ou Ressurreição: Uma abordagem bíblica sobre a natureza e o 
destino eterno. Unaspress, 1ª edição, 2007. 
20 STOTT, John. Essentials: A Liberal-Evangelical Dialogue. Londres: Hodder and Stoughton, 1988, p. 
316. 
21 BRITO, Azenilto Guimarães. Implicações Morais e Cosmológicas do Tormento Eterno. Disponível 
em: <http://www.salvos.com.br/inferno>. Acesso em: 15/08/2013. 
http://www.salvos.com.br/inferno
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 23 
 
perpetuados por toda a eternidade sob choro e ranger de dentes e sofrendo torturas 
colossais? Se Deus ama os pecadores (como a teologia moderna ensina), como conciliar 
isso com permitir tamanhos horrores aos pecadores impenitentes? 
 
Ora, se nem mesmo uma pessoa humana, falível e que nem ama tanto assim o próximo (ou 
é até mesmo odeia o próximo) não chegaria ao ponto de enviá-lo para “o quinto dos 
infernos”, sob as chamas de um fogo eterno para sofrer tormentos horríveis por toda a 
eternidade, quanto menos Deus, que em teoria é aquele que mais ama, que mais perdoa e 
que é a fonte de toda a misericórdia! Enquanto a Igreja tiver a noção deste deus mutável, 
que ama os pecadores nesta vida mas já preparou um inferno eterno onde eles deverão 
sofrer horrivelmente após a morte e para sempre, dificilmente um descrente poderá 
compreender perfeitamente o amor de Deus que excede todo o entendimento. Sempre terá 
em mente este contraste que vai claramente contra a moral humana, quanto mais a divina. 
 
Apenas um regresso às Escrituras nos faria ter em mente um Deus justo e verdadeiro, que 
recompensa os justos com a vida eterna e que pude os ímpios de acordo com aquilo que 
cada um merece, e não com um tormento eterno para todos indistintamente. Isso sim é 
unir a justiça e o amor de Deus como descrito no evangelho bíblico. A justiça e o amor de 
Deus andam juntos, e o que Satanás mais quer é desqualificá-los ao perpetuar a primeira e 
provavelmente a maior de todas as mentiras – a da “imortalidade da alma”. 
 
Um exame fiel e honesto das Escrituras não apenas mostra o quanto não-bíblica é essa 
doutrina, mas também nos faz voltar ao Cristianismo puro e verdadeiro focado em um Deus 
de amor e justiça e na ressurreição para a vida eterna que Ele nos concede pela Sua Graça. 
A imortalidade condicional e a “vida somente em Cristo” afirmam a realidade do inferno sem 
impugnar o caráter de Deus, e dá honra completa para Cristo como "a ressurreição e a 
vida”. 
 
 
A crença na imortalidade inerente como base de fé – Satanás continua usando dos mais 
variados meios a fim de perpetuar a primeira mentira, pois isso é um forte meio de desviar 
as pessoas da sinceridade e pureza devidas a Cristo. Por meio da crença da sobrevivência 
da alma na morte, inúmeras religiões do mundo terminam cursando os mais variados meios 
de consulta aos mortos em desobediência à Palavra de Deus. 
 
Existem religiões que tem como base a doutrina da sobrevivência da alma em um estado 
intermediário. Caso essa doutrina esteja errada, a religião termina. O culto aos mortos no 
catolicismo é um bom exemplo disso, uma vez que Cristo deixou claro que “só ao Senhor 
teu Deus darás culto” (cf. Mt.4:10) e que “há um só Deus e um só mediador entre Deus e 
os homens, Cristo Jesus” (cf. 1Tm.2:5). 
 
Satanás usa das mais variadas maneiras para deturpar a Palavra de Deus e perpetuar a 
primeira mentira, da imortalidade da alma, a fim de que o que Paulo mais temia 
acontecesse: “Pois, assim como Eva foi enganada pelas mentiras da cobra, eu tenho medo 
de que a mente de vocês seja corrompida e vocês abandonem a devoção pura e sincera a 
Cristo” (cf. 2Co.11:3). A imortalidade da alma foi a doutrina que Satanás encontrou uma 
“brecha” a fim

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