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579314116-Etica-Da-Familia-Do-Amor-e-Da-Sexualidade-3

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Prévia do material em texto

EA
D
Para uma ética sexual 
Cristã
3
1. OBJETIVOS
•	 	Conhecer	a	visão	sexual	da	Bíblia.
•	 Interpretar	os	relatos	bíblicos	referentes	à	moral	sexual.
•	 	Refletir	a	partir	de	uma	síntese	do	assunto	e	confrontar	a	
própria	realidade	pastoral.
2. CONTEÚDOS
•	 Visão	ética	sexual	da	Bíblia.
•	 A	história	da	criação.
•	 A	relação	homem	–	mulher,	danificada	pelo	pecado.
•	 O	amor	erótico.
•	 Jesus	e	a	sexualidade.
•	 As	primeiras	comunidades	e	a	sexualidade.
•	 Interpretação	correta	das	normas	sexuais	na	Bíblia.
© Ética da Família do Amor e da sexualidade56
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
3. INTRODUÇÃO À UNIDADE
A	proposta	desta	última	unidade	é	percorrermos	juntos	um	
caminho	pela	Bíblia,	estudando	a	visão	que	ela	apresenta	da	se-
xualidade	do	homem	e	da	mulher,	e	quais	 são	 suas	 implicações	
éticas.	
Inicialmente,	devemos	distinguir	a	mensagem	de	Deus	dos	
condicionamentos	histórico-culturais.	É	importante	entender	que	
a	Revelação	 se	 incorporou	em	determinadas	 culturas,	 com	 seus	
costumes	e	tradições	muito	diferentes	das	nossas	e,	também,	mui-
to	distantes!	Suas	propostas	morais	bíblicas	nascem	neste	contex-
to	 e,	 às	 vezes,	 é	 difícil	 de	 entendê-las.	Uma	exegese	 séria	 pode	
ajudar	na	sua	interpretação.
Além	disso,	à	medida	que	avançamos	na	leitura	bíblica,	ve-
remos	claramente	que	há	uma	evolução	gradual	da	revelação	de	
Deus	e	da	compreensão	por	parte	dos	homens	bíblicos.	Um	pro-
gresso	que	vai	de	Gênesis	às	cartas	das	comunidades	cristãs.
Perante	esta	realidade,	a	Bíblia	nos	dá	o	material	necessário	
para	refletir	e	construir	não	uma	moral	sexual	para	o	nosso	tempo,	
mas	as	diretrizes	básicas	para	uma	ética	sexual	verdadeiramente	
cristã.	Então,	ao	finalizar	esta	jornada,	oferecemos	algumas	dire-
trizes	éticas	que	podem	servir	para	o	seu	ministério.
Do	ponto	de	vista	ético,	a	fé	cristã	envolve	um	conceito	e	um	
comportamento	da	 sexualidade	humana	que	o	 favorece	em	seu	
desenvolvimento	como	sujeito	responsável	e	solidário.	Desta	for-
ma,	rejeita	qualquer	experiência	que	reduz	o	ser	humano	a	objeto	
de	prazer,	de	consumo,	de	capricho	e	de	manipulação	e,	também,	
rejeita	uma	concepção	que	reduz	a	sexualidade	ao	plano	genital.	A	
sexualidade	humana	é	muito	mais	complexa	para	querer	reduzi-la	
aos	órgãos	genitais.	Espero	que,	nesta	fase	de	reflexão,	você	tam-
bém	a	tenha	assumido,	certo?
O	significado	fundamental	da	sexualidade	humana	é	a	reali-
zação	do	encontro	com	os	outros,	consigo	mesmo,	com	a	natureza	
57© Para uma ética sexual Cristã
e	com	Deus.	A	partir	desta	realidade	sexual,	o	ser	humano	se	rea-
liza	como	pessoa	respondendo	a	Deus,	em	um	processo	de	huma-
nização	ou	desumanização.
Mas	você	deve	estar	se	perguntando:	de	onde	vem	essa	con-
cepção	de	ser	humano?	As	fontes	de	reflexão	continuam	sendo	a	
Bíblia	e	a	tradição,	e	hoje,	além	disso,	assumimos	o	diálogo	com	as	
ciências	modernas	que	ajudam	à	teologia	moral	para	produzir	uma	
discussão	mais	completa,	que	responda	às	questões	emergentes	
de	seu	contexto	histórico.	Esse	diálogo	é	muito	 importante	para	
uma	resposta	moral	ao	homem	atual.
Lembre-se	de	que	na	unidade	anterior	falamos	sobre	a	visão	
antropológica	da	 sexualidade.	Agora,	é	hora	de	 fazer	o	 caminho	
específico	da	ética	sexual,	para	ter	uma	visão	ética	da	sexualidade	
humana.
Estão	preparados?	Então	vamos	aos	estudos!
4. VISÃO ÉTICA SEXUAL DA BÍBLIA
A	 Bíblia	 não	 é	 um	manual	 de	 sexualidade,	 mas	 podemos	
encontrar	nela	uma	profunda	mensagem	que	nos	guie,	hoje,	em	
nossa	ética	sexual.	Na	Bíblia	podemos	encontrar	o	significado	mais	
profundo	da	sexualidade	e	suas	implicações	éticas,	mas	devemos	
estar	 conscientes	de	algumas	considerações	prévias	para	poder-
mos	dar	hoje	uma	mensagem	ética	sexual	séria.	O	teólogo	moralis-
ta	Lópex	Azpitarte,	quando	comenta	que	a	questão	da	ética	sexual	
na	Bíblia,	nos	adverte:
Para	saber	se	uma	conduta	é	boa	ou	pecaminosa	não	há	o	porquê	
recorrer	a	uma	citação	bíblica,	que	tantas	vezes	nos	adaptamos	às	
nossas	categorias	atuais.	Da	mesma	forma	que	o	silêncio	sobre	um	
determinado	comportamento	não	é	um	sinal	de	legitimidade	ética.	
Mas	é	útil	considerar	como	a	revelação	valoriza	e	ilumina	os	nossos	
pensamentos	humanos	sobre	um	fenômeno	universal	como	este.	
Por	isso,	nos	reduzimos	a	um	trabalho	de	síntese	muito	generaliza-
do,	deixando	o	exegeta	o	sentido	mais	literal	das	diferentes	afirma-
ções.	O	que	é,	portanto,	que	a	Bíblia	diz	sobre	a	sexualidade	como	
um	todo?	(AZPIARATE	LÓPEZ,	1981,	p.	306).
© Ética da Família do Amor e da sexualidade58
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Por	um	lado,	o	autor	chama	a	atenção	para	não	confiar	de-
mais	no	nosso	discurso	ético	apoiado	na	Bíblia,	que	muitas	vezes	
o	acomodamos	ao	nosso	modo	de	pensar;	por	outro	lado,	adverte	
que	o	que	a	Bíblia	não	menciona,	não	significa	que	é	permitido.	
Quantas	vezes	ouvimos	uma	observação	ética	sobre	a	sexualidade	
apoiada	na	Bíblia,	sem	um	estudo	sério	da	frase	e	do	seu	contexto?	
Por	 isso,	 sugerimos	que	você	analise	o	que	diz	o	documento	da	
Pontifícia	Comissão	Bíblica,	do	ano	de	1993:
Nos	relatos	relacionados	com	a	história	da	salvação,	a	Bíblia	une	es-
treitamente	múltiplas	instruções	sobre	a	conduta	a	ser	observada:	
mandamentos,	proibições,	prescrições	legais	e	injúrias	proféticas,		
conselhos	de	sabedoria.	Uma	das	tarefas	da	exegese	consiste	em	
precisar	o	alcance	deste	abundante	material	e	em	preparar	assim	
o	 trabalho	 dos	 moralistas.	 (Pontifícia	 Comissão	 Bíblica,	 1993,	 p.	
102).
Após os comentários anteriores, você finalmente vai saber o que 
querem comunicar os autores inspirados nos relatos da criação 
sobre a sexualidade humana. Você verá que é um tema muito in-
teressante. Obviamente é necessário que, com a Bíblia em mãos, 
você vá seguindo e refletindo os aspectos que iremos destacan-
do. 
O relato da criação
	
	 O homem criado “a imagem de Deus” (...) é o que conjuga 
aquele “parentesco” divino com uma inserção na história e uma 
tomada de posição diante da natureza. (Croatas, 1974, p. 193) 
Tendo	sido	criados	por	Deus	à	sua	imagem,	somos	respon-
sáveis	perante	todo	o	mundo	criado,	 junto	aos	outros	homens	e	
mulheres	deste	mundo,	diante	de	nós	mesmos	e	diante	do	próprio	
Deus.	É	uma	grandeza	do	ser	humano,	mas	ao	mesmo	tempo	é	
uma	responsabilidade.	
A	tradição	Javista	(a	mais	antiga	dos	relatos	escritos	que	você	
pode	confrontar	em	Gênesis.	2,7,	18-25)	destaca	os	seguintes	as-
pectos	éticos:	
59© Para uma ética sexual Cristã
•	 A	relação	entre	homem	e	mulher	é	uma	"ajuda	adequa-
da".
•	 Esta	relação	interpessoal	de	reciprocidade	implica	a	igual-
dade	entre	o	homem	e	a	mulher.
•	 A	alteridade	sexual	busca	sua	união	e	unidade	no	casal.
O	outro	relato,	da	tradição	sacerdotal	escrito	muito	mais	tar-
de	(Gen.	1,	26-31),	destaca	os	seguintes	aspectos	éticos	sexuais:
•	 	A	alteridade	sexual	(homem-mulher)	é	criada	à	imagem	
e	semelhança	de	Deus.	Isso	resulta	em	ambos	uma	digni-
dade	que	os	coloca	eticamente	em	um	plano	superior	a	
todos	os	outros	seres.	Ambos	devem	se	comportar	como	
seres	dignos,	e	ambos	devem	ser	tratados	como	tal.
•	 Tanto	ao	homem	quanto	à	mulher	 lhes	 são	confiados	a	
criação,	há	para	ambos	uma	mensagem	de	responsabili-
dade.
•	 A	sexualidade	humana	está	relacionada	ao	amor	e	à	fer-
tilidade.	Se	por	amor	foram	criados	como	tais,	é	no	amor	
entre	eles	que	nascerá	a	vida.
Diz	Azpitarte:
Ambas	as	descrições	coincidem	nesta	síntese	fundamental:	a	cria-
ção	do	ser	humano,	na	sua	dupla	qualidade	de	homem	e	mulher,	
não	têm	sua	origem	em	nenhum	princípio	mitológico,	nem	sua	di-
mensão	sexual	 foi	causada	por	alguma	força	do	mal,	mas	tudo	é	
fruto	da	palavra	dominante	e	criadora	de	Deus	(LÓPEZ	AZPIARATE,	
1981,	p.	308).
Para	os	relatos	bíblicos,	a	sexualidade	é	a	criação	de	Deus,	
que	revela	um	efeito	altamente	positivo	da	sexualidade	humana,	
porque	é	obra	de	Deus.	A	Bíblia	possui	um	sentido	altamente	posi-
tivo	da	sexualidade	humana.
Mas	nesta	história	humana,	encontramos	também	a	sombra	
do	pecado,	 que	brota	dos	 corações	do	homem	e	da	mulher,	 ao	
rejeitar	suacondição	de	criaturas	(Gen.	3,	1-24).
© Ética da Família do Amor e da sexualidade60
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Adão	e	Eva	querem	ser	mais	do	que	humanos,	querem	ser	
deuses.	O	pecado	não	tem	nada	a	ver	com	o	plano	de	Deus,	é	um	
produto	humano,	nascido	do	coração	humano.	
Lembre-se do que você refletiu sobre o pecado em Antropologia 
Teológica, assim você poderá vinculá-lo com o que abordaremos 
a seguir.
Este	drama	do	pecado	prejudica	as	 relações	entre	o	casal,	
bem	como	entre	eles	e	a	criação.	Também	afeta	a	dimensão	se-
xuada	do	homem	e	da	mulher.	A	harmonia	que	 relatam	os	dois	
primeiros	capítulos	do	Gênesis	é	brutalmente	interrompida.
As	 consequências	 do	 pecado	 que	 prejudica	 a	 sexualidade	
humana	podem	ser	vistas	no	relato	javista:
•	 O	desejo	de	domínio	(cf.	Gen.	3,	16	b)	e	de	auto-afirmação	en-
trou	no	coração	das	pessoas,	agora	a	sexualidade	é	estabelecida	
como	uma	tarefa	ética.
•	 Há	uma	 ruptura	no	 “suporte	 adequado”	entre	o	homem	e	a	
mulher	que	Deus	havia	estabelecido.	Aparecem	as	acusações:	
“a	mulher	que	me	deste	por	companheira,	ela	me	deu	da	árvo-
re	e	comi”	(Gen.	3:12).
•	 A	maternidade,	que	acarreta	a	filiação	e	o	trabalho,	entram	no	
contexto	de	fadiga	e	suor	(cf.	Gen.	3,	16).	Como	também	o	tra-
balho	do	homem	acarreta	fadiga	e	esforço	(cf.	Gen.	3,	19).	
Devido	ao	drama	do	pecado	a	vida	agora	exige	esforço.	O	
fato	de	aceitar	ser	como	humanos	e	não	deuses,	torna-se	uma	ta-
refa	de	humanização.	O	homem	não	é	como	os	animais	e	não	deve	
se	comportar	como	tal.	Também	não	é	um	ser	celestial	que	se	es-
quece	de	sua	realidade	corporal.
Neste	processo	de	humanização	não	se	aceita	o	desprezo	do	
corpo	(como	ocorria	em	algumas	aldeias	vizinhas),	nem	a	sua	exal-
tação	ou	adoração.	O	caminho	de	humanização	requer	um	ponto	
de	 partida:	 reconhecê-lo	 como	 humano,	 diferente	 dos	 animais,	
criado	por	Deus	e	a	consequência	de	se	comportar	como	tal.	Por-
tanto,	o	ser	humano	tem	uma	tarefa	ética:	a	de	humanizar-se.
61© Para uma ética sexual Cristã
Então,	pela	presença	do	pecado,	a	dignidade	da	sexualidade	
humana	também	é	apresentada	como	uma	tarefa.	Esta	tarefa	con-
siste	em	recuperar	a	configuração	humana	da	sexualidade	que	se	
expressa	no	amor	recíproco	aberto	ao	divino.	Aqui	está	o	princípio	
triplo	que	ilumina	a	sexualidade	humana:	a	humanização,	a	comu-
nidade	e	a	transcendência.
A	seguir,	convidamos	você	a	aprofundar	estes	princípios	que	
iluminam	a	sexualidade	humana.
A relação homem-mulher danificada pelo pecado
Como	vimos	anteriormente,	após	o	pecado,	o	relacionamen-
to	entre	o	casal	 foi	danificado.	Essa	realidade	pode	ser	vista	nas	
mensagens	patriarcais	em	que	a	mulher	passou	a	valer	apenas	por	
sua	condição	materna,	que	pode	dar	à	luz	e	filhos	ao	homem.
Esta	única	visão	sobre	a	mulher	abriu	um	mundo	de	valores	e	
interesses	dos	homens	sobre	o	corpo	das	mulheres.	Para	dar	uma	
descendência	 ao	 homem,	 são	 consideradas	 socialmente	 úteis,	
caso	contrário,	são	desprezadas.	Assim,	armou-se	uma	cadeia	de	
consequências	éticas,	a	partir	desta	visão,	na	qual	a	mulher	ficou	
presa	a	um	mundo	isolado	e	patriarcal.	Vejamos	algumas	dessas	
consequências	éticas	relacionadas	entre	homem	e	mulher:
1)	 Algumas	destas	histórias	mostram	como	as	mulheres	es-
tão	obcecadas	por	ter	um	filho	(na	sua	maioria	do	sexo	
masculino,	 cf.	 1Sam.	 1:10-11),	 porque	 aí	 está	 em	 jogo	
seu	lugar	na	comunidade.
2)	 	As	histórias	de	esterilidade	são	sempre	histórias	femi-
ninas	 (desde	Sara,	Raquel,	Ana,	 a	mãe	de	Samuel,	 até	
Isabel,	a	prima	de	Maria).	Mais	do	que	a	infertilidade	em	
si,	elas	sofrem	com	o	desprezo	que	lhes	são	dadas.	Al-
gumas	companheiras	as	zombam	e	as	maltratam	(Gen.	
16,	5,	1	Sam.	01:06).	As	relações	entre	as	mulheres	são	
assim	danificadas.	Existe	a	rivalidade,	a	competitividade	
entre	as	mulheres.
3)	 Existem	diferenças	entre	ser	mulher	e	ser	homem,	dife-
renças	que	 ferem	a	 sua	dignidade.	Elas	devem	obede-
© Ética da Família do Amor e da sexualidade62
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
cer-lhes,	submeter-lhes	à	vida	poligâmica	legitimamente	
reconhecida	por	lei.	Desde	os	patriarcas	até	a	época	dos	
reis	vemos	como	a	poligamia	era	comum.	
A poligamia sempre foi permitida no povo de Israel, mas era difícil 
sustentá-la. Era preciso ter uma situação econômica que permitis-
se, manter uma família muito numerosa.
4)	 Em	caso	de	adultério,	os	adúlteros,	homens	e	mulheres	
devem	ser	apedrejados	de	acordo	com	a	lei,	mas	nunca	
houve	uma	história	em	que	o	homem	tenha	sido	puni-
do	pelo	mesmo	critério.	O	costume	do	apedrejamento	
prosseguiu	até	a	época	de	Jesus	(Jon	8:05).	
Os homens que fossem achados deitados com mulher casada, 
também deviam morrer (cf. Deut. 22,22; Lev. 20,10), mas não há 
na Bíblia nenhuma acusação a um homem por “tomar os bens 
alheios” (mandamento do decálogo). Não há acusações de ho-
mens contra homens. A desconfiança recai sempre sobre as mu-
lheres. Os conselhos que aparecem na Bíblia sempre são referi-
dos ao homem, cf. Prov. 2,16; 5,1-14.
5)	 A	menstruação	tinha	consequências	éticas:	de	certa	for-
ma	a	marginalização,	porque	a	converte	em	 impura.	A	
mulher	fica	sete	dias	impura	nesse	período	e	tudo	o	que	
ela	tocar	fica	impuro.	A	impureza	é	um	estado	das	pesso-
as	ou	coisas	que	as	tornam	impróprias	para	participarem	
ou	serem	utilizadas	na	adoração,	daí	o	medo	de	alguns	
grupos	religiosos	do	tempo	de	Jesus	(Mac.	5,	33).
6)	 Elas	devem	submeter-se	às	leis	do	levitairo:	se	não	teve	
filhos	e	o	marido	morreu,	o	cunhado	deve	ter	relações	
com	elas	e,	assim,	dar	descendências	ao	irmão	falecido.	
Quem	não	cumprir	essa	lei	por	egoísmo,	Deus	o	castiga	
com	a	morte	(Gen.	38,	9-10).
Já	fomos	advertidos	nos	primeiros	relatos	de	Gênesis	da	en-
trada	do	pecado	e	suas	consequências:	divisão,	dor,	lutas,	margi-
nalização,	 desprezo	etc.	Muitas	 atitudes	patriarcais	 que	 lesaram	
as	mulheres	 podem	aparecer	 hoje	 em	histórias	 semelhantes	 ou	
idênticas.
63© Para uma ética sexual Cristã
A	verdade	é	que	o	pecado	 continua	nos	 corações	dos	ho-
mens	e	das	mulheres.	O	pecado	se	manifesta	no	trato	e,	no	que	
nos	diz	 respeito	à	sexualidade	do	ser	humano,	 foi	 lesada.	A	 luta	
de	um	cristão	e	uma	cristã	é	interpretar	os	sinais	dos	tempos	e	se	
esforçar	para	construir	o	reino	de	Deus.
Por	outro	lado,	há	outros	textos	que,	ao	contrário	do	que	es-
távamos	vendo	até	agora,	valorizam	as	mulheres,	mesmo	quando	
suas	ações	nos	dias	de	hoje	podem	ser	consideradas	como	deso-
nestas.	Observe	algumas	dessas	ações:
•	 	Uma	dessas	histórias	é	a	de	Tamar	(Gen.	38).	Já	havíamos	
falado	sobre	ela.	Como	seu	marido	havia	morrido	e	seu	
sogro	lhe	entrega	o	seu	segundo	filho,	Onã,	que	também	
morreu,	Tamar	espera	sob	a	promessa	de	seu	sogro,	que	
o	segundo	cunhado	cresça	para	poder	deitar	com	ela	e,	
finalmente,	dar-lhe	a	bendita	descendência	a	seu	falecido	
marido.	Mas	o	tempo	passa	e	o	sogro	não	cumpre	a	pro-
messa.	Ela	acaba	vestindo-se	de	prostituta	para	não	ser	
reconhecida	e	deitando	com	o	sogro.	A	história	termina	
valorizando	a	atitude	de	Tamar,	porque	sempre	procurou	
cumprir	com	a	 lei:	a	descendência.	Entretanto,	seu	pró-
prio	sogro,	que	tinha	se	esquecido	das	leis,	reconhece	a	
grandeza	de	Tamar:	“mais	justa	é	ela	do	que	eu,	porquan-
to	não	a	tenho	dado	a	Sela	meu	filho”,	diz	o	pai	em	Gêne-
sis	38,	26.
•	 Em	 outra	 história,	 aparecem	 duas	 mulheres	 admiradas	
pelos	 homens.	 Essa	 admiração	 não	 tem	 a	 ver	 com	 seu	
ventre	 nem	 com	 sua	 capacidade	 de	 ter	 filhos,	mas	 por	
sua	coragem	e	grandeza.	Uma	delas	é	a	profetisa	Débora,	
que	os	 israelitas	 a	 têm	por	 sábia,	 e	 Jael,	 que	 com	 seus	
mecanismos	sedutores,	mata	o	inimigo	dos	israelitas	de-
golando-o.	Seu	corpo	sedutor	tem	uma	valorização	ética	
positiva	(Juí.4,4-23).
© Ética da Família do Amor e da sexualidade64
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Não	julgamos	aqui,	a	partir	de	nossa	realidade,	o	bom	ou	o	
mau	comportamento	dessas	mulheres,	mas	descobrir	que	o	ponto	
de	vista	ético	de	tais	comportamentos	foi	influenciado	pelos	inte-
resses	do	povo	judeu.	
Amesma atitude de Jael (cf.Juí 4, 18-23), seduzir para matar, é 
condenada em outro trecho, na história de Dalila (cf.Juí 16,4-22), 
que seduz Sansão tira-lhe a força e assim entregá-lo aos filisteus. 
Observe como aí os interesses jogam um papel importante. O 
mesmo comportamento em um caso é reconhecido e em outro é 
condenado.
O amor erótico
Há	muitas	histórias	na	Bíblia	em	que	aparece	o	amor	entre	
as	pessoas,	a	entrega	corporal,	o	desejo	e	os	corpos	valorizados	
como	tais.	Nem	sempre	os	homens	da	Bíblia	estão	preocupados	
com	a	descendência	 e	 por	 ordem	no	matrimônio,	mas	 também	
aparecem	histórias	de	 “alta	 voltagem”,	 contos	 eróticos	do	 amor	
humano.
Erotismo	 é	 uma	 palavra	 que	 a	 teologia	 deve	 recuperar.	 O	
erotismo	é	o	amor	sensual	do	ser	humano	que	transita	e	experi-
menta	com	todos	os	sentidos.	Deus	assim	nos	criou:	“e	viu	Deus	
tudo	quanto	tinha	feito,	e	eis	que	era	muito	bom”	(Gen.		1,	31).
Como	diz	Santos	Benetti	(1994,	p.	172):	
Todo	nosso	conceito	de	santidade	passa	pela	não	sexualidade,	pela	
abstinência	sexual,	pela	castidade	absoluta,	pela	renúncia	do	pra-
zer	deste	corpo	espetacular	criado	à	imagem	de	Deus,	ao	contrário	
do	que	diz	a	Bíblia.
Não	podemos	negar	a	desconfiança	que	teve	a	igreja	ao	lon-
go	da	história	sobre	o	prazer	e	a	sensualidade.	Ficou	marcado	no	
ensino	que	o	prazer	sexual	tinha	a	ver	com	a	concupiscência,	como	
o	“apetite	desordenado	de	prazeres	desonestos.”	Graças	a	Deus,	
hoje	 estamos	 resgatando	 o	 valor	 positivo	 de	 sensualidade	 e	 do	
prazer,	porque	não	podemos	negar	que	assim	fomos	criados	por	
Deus.
65© Para uma ética sexual Cristã
A	Bíblia	nos	apresenta	o	erotismo	humano	em	muitas	histó-
rias	vivas	de	seus	personagens.	Por	exemplo,	a	história	de	Jacó	e	
Raquel	(Gen.	29,9ss),	na	qual	Jacó	se	apaixona	pela	beleza	de	Ra-
quel.	A	história	de	Sansão,	um	grande	amante	com	caráter	infantil	
e	 caprichoso.	 Seus	 namoricos	 são	 célebres,	 principalmente	 com	
Dalila,	que	é	traído	por	ela	(Juí	16,	1FF).	Outro	grande	galã	da	Bíblia	
é	Davi,	homem	de	muita	experiência	com	mulheres,	 casando-se	
com	várias	e	tendo	outras	tantas	como	concubinas	(2	Sam	5).	
Para conhecer todas as histórias amorosas de Davi, você deve 
pesquisar em todo o primeiro e segundo livro de Samuel.
Mas	há	um	livro,	uma	história,	em	que	a	descrição	do	amor	erótico	
é	vivida	intensamente.	É	o	livro	de	Cantares	de	Salomão.	Nele	se	resume,	
maravilhosamente,	o	valor	dos	corpos	e	o	amor	exprimido	através	deles.		
Azpitarte	Lopez	o	denomina	“um	evangelho	do	amor”:
E	nesta	corrente	há	uma	influência	oculta	de	outra	que	nasceu	an-
teriormente	no	Cantares	de	Salomão,	uma	autêntica	antologia	de	
poemas	cheios	de	encantos	e	poesia,	"um	evangelho	do	amor	eró-
tico	e	da	sexualidade."	A	visão	do	amor	é	exaltada	até	limites	que	
deixam	confundidas	muitas	mentes.	Não	era	compreensível	que	o	
Espírito	pudesse	comunicar	a	sua	mensagem	através	das	expres-
sões	usadas	entre	dois	amantes	ardentemente	apaixonados	(AZPI-
TARTE,	318).
Em	Cantares	encontramos	a	história	de	amor	mais	expressi-
va	que	podemos	ver	na	Bíblia.	É	uma	história	entre	dois	amantes	
que	 se	buscam	e	 se	desejam.	Não	 são	dois	 cônjuges	que	vivem	
juntos	em	suas	casas,	mas	apenas	dois	namorados	adolescentes.
Este	livro	teve	um	difícil	processo	de	canonização.	Sua	dificul-
dade,	entre	outras,	era	pelo	tipo	de	relacionamento	em	que	vivem	
os	protagonistas,	 não	 sendo	 casados.	Os	personagens	principais	
são	dois:	 os	 jovens	 amantes.	 Também	aparece	um	coro	que	 vai	
respondendo	aos	amantes,	irmãos	da	adolescente	que	se	opõem	
a	este	amor	e	os	guardas	que	querem	por	limite	aos	desejos	e	ex-
pressão	da	mulher.
© Ética da Família do Amor e da sexualidade66
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
A	história	começa	com	um	ardente	convite	da	adolescente:
Beije-me	ele	com	os	beijos	da	 sua	boca;	porque	melhor	é	o	 seu	
amor	do	que	o	 vinho.	 Para	 cheirar	 são	bons	os	 teus	ungüentos;	
como	ungüento	derramado	é	o	 teu	nome;	por	 isso	as	virgens	 te	
amam.	 Leva-me	 tu,	 correremos	 após	 ti.	O	 rei	me	 introduziu	 nas	
suas	recâmaras;	em	ti	nos	regozijaremos	e	nos	alegraremos;	do	teu	
amor	nos	lembraremos,	mais	do	que	do	vinho;	os	retos	te	amam.	
(1,2-4)
Esta	é	 a	proposta	que	parte	dela:	um	convite	 a	 amar-se	e	
gozar	e	um	convite	que	parte	de	uma	mulher!	Ela	está	embriaga-
da	pelo	amor	do	jovem,	por	seus	beijos	ardentes,	por	esse	prazer	
mais	delicioso	do	que	o	vinho.
Possui	uma	ideia:	“apartando-me	eu	um	pouco	deles,	 logo	
achei	aquele	a	quem	ama	a	minha	alma;	detive-o,	até	que	o	intro-
duzi	em	casa	de	minha	mãe,	na	câmara	daquela	que	me	gerou”	
(3,4).
Retorna	a	mesma	ideia	em	outra	passagem:	“levar-te-ia	e	te	
introduziria	na	casa	de	minha	mãe,	e	tu	me	ensinarias;	e	te	daria	a	
beber	vinho	aromático	e	do	mosto	das	minhas	romãs	(8,2).
Pela	cultura	dos	protagonistas,	com	seus	costumes	bem	mar-
cados	e	altamente	respeitados,	impedem	que	a	mulher	tenha	con-
tato	físico	com	um	homem	que	não	é	de	sua	família.	A	sociedade	
censura	até	as	mínimas	expressões	de	carinho	em	locais	públicos,	
assim:	“ah!	Quem	me	dera	que	foras	meu	irmão,	e	que	te	tivesses	
amamentado	aos	seios	de	minha	mãe!	Quando	te	achasse	na	rua,	
beijar-te-ia,	e	não	me	desprezariam!”	(8.1).
O	nome	dado	a	ela	é	a	Sulamita,	o	coro	e	o	amado	assim	a	
chamam	(7.1).	O	amado	percorre	seu	corpo	com	os	elogios	de	seu	
tempo	(7,2-8),	nos	mostrando	que	ela	é	desejada	para	ser	mulher	
amada.	Sua	beleza	também	não	está	vinculada	a	um	estereótipo	
de	beleza.
Diz	Mercedes	Navarro:
Em	Cantares	encontramos	um	corpo	de	mulher	valorizado	por	si	
mesmo,	mas	oferecido	livre	e	voluntariamente	ao	olhar	e	ao	tato	
67© Para uma ética sexual Cristã
do	amado.	E	isso	provoca	e	produz	uma	resposta	recíproca.	A	reci-
procidade,	a	mutualidade	e	alternância	são	características	não	só	
da	relação	proposta	no	Cantares,	mas	da	mesma	condição	corporal	
erótica	dos	amantes	(NAVARRO,	1996,	p.	168).
Reciprocidade,	 mutualidade	 e	 alternância:	 palavras-chave	
que	nos	mostram	um	profundo	amor	entre	os	amantes.
Todos	os	sentidos	são	canais	para	perceber	a	beleza	do	outro	
corpo:	a	visão,	o	tato,	o	olfato	e	o	paladar.	Ele	e	ela	tentam	se	co-
municar	com	o	corpo	e	seus	sentidos.
A	 experiência	 vital	 referida	 pelo	 Cantares	 é	 a	 característica	mais	
universal	do	ser	humano	em	qualquer	cultura	e	em	qualquer	lati-
tude	do	planeta.	Portanto,	este	é	um	livro	que	questiona	o	nosso	
conceito	do	religioso	como	algo	separado	da	vida	cotidiana.	Para	o	
livro	o	religioso	não	é	uma	concepção	espiritualista	do	mundo,	não	
é	uma	aprendizagem	de	dogmas	ou	de	códigos	de	moral.	É	a	vida!	
A	vida	 real	de	um	casal	que	 reflete	em	seu	amor	a	mesmíssima	
imagem	de	seu	criador.	Porque	as	chamas	do	amor	humano	são	
nada	mais	do	que	relâmpagos	do	fogo	de	Deus.	Um	livro	que,	em	
seus	oito	capítulos	não	fala	de	Deus,	mas	do	amor	de	dois	adoles-
centes.	E	como	fala	do	amor,	fala	de	Deus	em	todas	as	suas	páginas	
(BENETTI,	1994,	p.	236).
Cabe	destacar	que	o	namorado	em	nenhum	momento	a	vê	
como	possível	mãe	de	seus	filhos.	Em	nenhuma	parte	do	 livro	é	
vista	como	corpo	desejável	quanto	à	fertilidade	do	útero,	quanto	
possível	mãe	para	a	descendência	do	varão,	como	vimos	anterior-
mente,	tão	comum	na	sociedade	patriarcal.
Há	muito	mais	para	aprofundar	neste	livro	tão	maravilhoso	
como	o	Cantares	de	Salomão,	mas	acho	que	o	que	vimos,	 foi	o	
suficiente	para	poder	resgatar	o	amor	e	o	erotismo	no	Antigo	Tes-
tamento.	
Recomendamos que você continue aprofundando este estudo 
com o livro de Santos Benetti, que nos ajudou a entender um pou-
co mais a sexualidade na Bíblia. Convidamos, ainda, para que 
leia atentamente e que você possa descobrir a maravilha do amor 
humano.
© Ética da Família do Amor e da sexualidade68
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Jesus e a sexualidade 
Passemos	agora	a	ver	o	que	acontece	com	Jesus.	Podemos	
dizer	com	certeza	que	Jesus	foi	um	homem	que	desfrutou	da	vida.	
O	prazer	pela	vida	ele	manifesta	nas	suas	relações	com	os	amigos,	
a	sua	presença	em	festas	e	casamentos,	em	visitaspara	comer	e	
partilhar	a	vida	com	os	demais.	Lembre-se	de	que	ele	é	acusado	de	
“bêbado”	e	“glutão”!
Uma	das	diferenças	que	ele	tem	com	seu	primo	João	Batista	
é	o	modo	de	interpretar	a	permissão	de	Deus	(o	reino	de	Deus	por	
Jesus)	e	suas	implicações	éticas.	Para	João,	a	vinda	de	Deus	signi-
fica	o	juízo	para	os	homens	e	mulheres,	então	é	preciso	fazer	pe-
nitência	e	jejum,	pois	o	julgamento	está	próximo.	João	vive	no	de-
serto,	afastado	do	mundo	e	em	permanente	estado	de	resignação.	
Para	Jesus,	porém,	o	reino	de	Deus	significa	alegria,	especialmente	
para	os	marginalizados,	pois	lhes	será	devolvida	sua	dignidade.	Por	
isso,	Jesus	ama	a	vida,	a	celebra	e	se	alegra	nela.	Ele	vive	no	mun-
do	e	goza	dele.
Uma	das	questões	que	sempre	aparece	aqui,	é	se	Jesus	teve	
ou	não	relações	sexuais.	Do	nosso	ponto	de	vista,	acreditamos	que	
não,	mas	não	que	ele	não	tenha	sentido	desejos	ou	se	apaixonado	
alguma	vez	(não	nos	esqueçamos	da	humanidade	de	Jesus!),	mas	
pelo	respeito	que	mostrou	pelas	mulheres	de	seu	tempo.	O	que	
queremos	dizer?	Vamos	ver:	inicialmente,	você	tem	que	se	situar	
no	contexto:	recordemos	o	que	vimos	anteriormente,	as	mulheres	
eram	valorizadas	por	seu	ventre.	As	mulheres	do	tempo	de	Jesus	
nem	pensavam	na	possibilidade	de	não	se	casar!	Seguiam	as	tradi-
ções	de	seus	antepassados.
Consideremos também o peso social que havia sobre as mulheres 
para chegar ao matrimônio virgens e a má reputação se fossem 
devolvidas pelo marido na casa de seus pais, podiam ser despre-
zadas por atos insignificantes. Quem as tomaria novamente?
69© Para uma ética sexual Cristã
Por	outro	lado,	as	outras	mulheres,	as	prostitutas,	eram	des-
prezadas,	mas	muitos	homens	as	viam	como	um	instrumento	para	
demonstrar	a	sua	virilidade.	Nada	disto	tem	a	ver	com	Jesus,	ele	
não	as	vê	como	um	instrumento	para	ter	descendência	(ter	filhos	
e	especialmente	meninos)	nem	as	utiliza	para	mostrar	a	sua	mas-
culinidade.
Inicialmente,	 Jesus	 valoriza	 a	 mulher,	 restaurando-lhe	 sua	
dignidade.	Ele	restaura	a	liberdade	delas	se	realizarem	como	mu-
lheres	e	onde	sintam	que	está	sua	vocação.	Dentro	da	visão	cristã	
da	sexualidade,	devemos	ter	uma	especial	consideração	ao	com-
portamento	de	Jesus	com	as	mulheres,	porque	nos	ajudará	a	cons-
truir	uma	sociedade	mais	justa	e	igualitária.	Nos	Evangelhos,	pode-
mos	detectar	atitudes,	palavras	e	comportamentos	de	Jesus	que	
chamam	profundamente	a	atenção	considerando	o	seu	contexto.
Lembre-se de que Jesus tem um comportamento revolucionário 
no tratamento para com as mulheres
Nas	sociedades	patriarcais,	tal	como	vimos,	a	mulher	é	valo-
rizada	pelo	seu	ventre	fértil.	Ela	representa	um	meio	para	dar	des-
cendência	aos	homens.	Também	ao	longo	da	história	de	Israel,	po-
demos	constatar	que,	no	Antigo	Testamento,	há	histórias	em	que	
as	mulheres	 são	valorizadas	além	de	sua	condição	de	mãe,	mas	
não	é	mais	comum.	Em	geral,	subsiste	sempre	a	ideia	de	subordi-
nação	da	mulher	ao	homem,	e	sua	valorização	desde	seu	ventre	
fecundo.
Jesus	rompeu	com	essa	ideia,	que	se	apoiava	desde	o	olhar	
religioso.	Jesus	abre	a	possibilidade	de	discipulado	também	às	mu-
lheres.	Não	as	valoriza	por	poder	ser	mães,	mas	por	chegarem	a	
ser	discípulas.
Ouçamos	o	que	nos	diz	a	teóloga	espanhola	Mercedes	Na-
varro,	quando	recorda	a	resposta	que	Jesus	dá	a	uma	mulher	que	
elogiou	a	mãe	de	Jesus	(Lucas	11:27):
© Ética da Família do Amor e da sexualidade70
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Como	boa	israelita,	ela	proclama	a	Jesus	o	melhor	que	conhece	e	o	
que	a	tradição	lhe	ensinou:	“Bem-aventurado	o	ventre	que	te	trou-
xe	e	os	seios	que	te	alimentaram”,	uma	frase	que	perpetua	o	que	é	
a	mulher	e	a	recompensa	que	um	bom	filho	lhe	supõe.	Uma	frase	
que	 revela	 a	 interiorização	das	 categorias	pelas	mulheres	 judias.	
A	resposta	de	Jesus	é	altamente	subversiva	do	sistema	patriarcal	
(...)	Se	a	mulher	no	meio	da	multidão,	diz	que	a	mulher	é	ventre	e	
seios,	mãe,	Jesus	diz	que	a	mulher	é	mais	ouvido,	discípula.	Se	uma	
mulher	reproduziu	o	estereótipo	das	mulheres,	Jesus	o	combateu	
iniciando-a	em	uma	nova	vida,	o	discipulado,	que	é	um	caminho,	
uma	abertura	que	nunca	acaba,	uma	aprendizagem	que	não	termi-
na	(NAVARRO,	1996,	p.	171-172).
Jesus	 não	 tinha	 medo	 do	 corpo	 das	 mulheres,	 não	
as	 viam	 como	 uma	 ameaça	 à	 sua	 integridade	 masculina.		
Continua	Mercedes	Navarro:
As	mulheres	que	se	aproximam	de	Jesus	não	se	escondem.	E	quan-
do	alguma	o	tenta	(a	mulher	que	tinha	um	fluxo	de	sangue),	Jesus	
não	se	permitia.	As	mulheres	não	tem	por	que	esconder	seus	cor-
pos.	A	presença	de	Jesus	permite	uma	visibilidade	da	corporeidade	
feminina,	que	é	positiva	e	digna.	Jesus	não	sexualiza	o	corpo	das	
mulheres,	mas	 também	não	o	 faz	problema	da	 sua	 sexualidade,	
nem	tem	medo	dela,	nem	suas	condutas	mostram	que	as	conside-
re	um	tabu.	Para	ele,	o	corpo	das	mulheres	é,	antes	de	mais	nada,	o	
corpo	de	uma	pessoa	(NAVARRO,	1996,	p.	171-172).
É	interessante	ver	como	Jesus	estabelece	um	novo	estilo	de	
vida	para	elas.	Isso	pode	ser	visto	no	grupo	que	o	seguia,	no	qual	
não	faltavam	mulheres	casadas	ou	solteiras.	Com	Jesus,	a	margi-
nalização	das	mulheres	é	superada,	elas	podem	ser	elas	mesmas,	
com	sua	sexualidade,	mostrar-se	e	serem	respeitadas.	Seus	corpos	
não	 lembram	o	pecado,	a	 tentação,	um	 instrumento	para	 ter	 fi-
lhos,	elas	também	são	a	imagem	e	semelhança	de	Deus.
A	participação	das	mulheres	no	movimento	de	Jesus	não	se	
pode	reduzir	ao	eco	que	encontra	entre	os	pobres.	A	superação	
das	estruturas	patriarcais	está	presente	na	proclamação	do	reino	
de	Deus	e,	portanto,	a	mulher	se	sente	interpelada	enquanto	mu-
lher.	O	Deus	de	Jesus	restitui	sua	dignidade	para	as	mulheres,	como	
aos	homens.	A	esta	luz,	devemos	entender	a	proibição	absoluta	do	
divórcio.	A	mesma	pergunta:	"pode	o	marido	repudiar	a	sua	mu-
71© Para uma ética sexual Cristã
lher?",	mostra	 já	a	vantagem	do	homem.	A	antiga	 lei	permitia	o	
divórcio	“por	causa	da	dureza	do	vosso	coração,"	pela	vossa	men-
talidade	patriarcal	enraizada.	Mas	para	Jesus	as	coisas	têm	que	ser	
de	outra	forma.	"Deus	os	fez	macha	e	fêmea.	Por	isso,	deixará	o	
homem	a	seu	pai	e	a	sua	mãe,	e	os	dois	serão	uma	só	carne.	O	que	
Deus	uniu,	não	o	separe	o	homem”.	O	objetivo	final	das	palavras	
de	Jesus	não	é	estabelecer	uma	lei	e	muito	menos,	uma	casuística,	
mas	denunciar	uma	lei	injusta	que	discrimina	a	mulher,	e	promo-
ver	a	relação	entre	pessoas	iguais.	Daí	que	a	falta	do	homem	que	
abandona	a	sua	mulher	e	se	une	com	outra	não	consista	em	crime	
contra	o	proprietário	da	que	ele	tomou,	mas	na	injustiça	cometida	
contra	a	que	ele	abandonou,	que	não	é	um	mero	objeto	de	posse,	
mas	um	sujeito	pessoal,	com	quem	se	estabelecem	relações	recí-
procas	(cf.	MC10,	11;	Mt	e	19,9	Mt	5,	32,	Lucas	16:18).	Isso	expli-
ca	a	reação	absolutamente	machista	dos	discípulos	diante	destas	
palavras	 tão	novas	de	 Jesus:	 “se	 assim	é	 a	 condição	do	homem	
relativamente	à	mulher,	não	convém	casar”	(Mt	19:10)	(NAVARRO,	
1996,	p.	171-172).
A	reciprocidade	total	das	relações	entre	homens	e	mulheres,	
com	base	na	igualdade	de	sua	condição	pessoal	e	diante	de	Deus,	
é	uma	novidade	que	Jesus	introduz	e	era	conhecida	por	ter	profun-
das	repercussões	históricas.
A mulher na comunidade primitiva 
Parece	oportuno	completar	esse	percurso	seguindo	a	viagem	
pelos	Atos	dos	Apóstolos	e	por	algumas	cartas,	para	compreender	
melhor	o	caminho	empreendido	por	 Jesus	e	as	dificuldades	que	
surgiram	nas	primeiras	comunidades	cristãs.
Desde	o	início,	há	mulheres	missionárias	da	Palavra	de	Deus,	
trabalhando,	arduamente,	com	os	homens	cristãos.	Mulheres	sol-
teiras,	 viúvas	 e	 casadas,	 que	 entregaram	as	 suas	 casas	 como	as	
primeiras	igrejas	domésticas.
© Ética da Família do Amor e da sexualidade72
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Pelas	cartas	de	Paulo	conhecemos	a	Afia,	que,	 juntamente	
com	Filemom	e	Arquipo,	era	líder	de	uma	igreja	em	Colossos	(cf.	
Filemom	1-2);	Ninfa	 tem	uma	 igreja	 em	 Laodicéia,	 em	 sua	 casa	
(cf.	Col	4,15)	,	Priscila,	com	seu	marido,	Áquila,	são	os	cabeçasde	
uma	igreja	em	Éfeso,	em	primeiro	lugar	(cf.	1	Cor	16,19),	e	depois	
em	Roma,	(cf.	Rom	16,3-5),	Lídia	foi	a	primeira	convertida	em	Fi-
lipos,	e	parece	que	em	sua	casa	havia	uma	 igreja	doméstica	 (cf.	
Atos	16:15).	Da	igreja	da	cidade	de	Filipos,	conhecemos	os	nomes	
de	duas	mulheres,	 Evodia	e	 Síntique,	que	deviam	ser	muito	 im-
portantes,	porque	São	Paulo	se	preocupava	com	as	repercussões	
que	poderiam	ter	para	a	comunidade	a	rivalidade	que	surgiu	en-
tre	elas	(cf.	Filipenses	4,2-3).	O	casal	Priscila	e	Áquila	precedeu	a	
Paulo	na	tarefa	missionária,	colaborou	com	o	apóstolo,	mas	nunca	
foram	subordinados	a	ele.	Eles	são	mencionados	por	sete	vezes,	
e	em	quatro	vezes	 se	nomeia	em	primeiro	 lugar	à	mulher	 (cf.	 1	
Cor	16,19,	Rm	16,3-5,	2	Tim	4,19,	Atos	18,	2-3.18.26).	Além	disso,	
Priscila	é	sempre	nomeada	pelo	seu	nome	e	não	pelo	nome	de	seu	
marido.	Priscila	e	Áquila	aparecem	em	Corinto,	Éfeso	e	Roma.	O	
Apóstolo	saúda	a	quatro	mulheres	de	Roma	(Maria,	Trifena,	Trifosa	
e	Pérsida),	em	que	diz	que	“trabalharam	arduamente	no	Senhor”	
(Rom	16,6-12).	Uma	mulher,	Júnia,	é	chamada	apóstola	sem	quais-
quer	restrições.	Paulo	a	saúda	juntamente	com	Andrônico,	prova-
velmente	seu	marido,	que	lhes	diz	que	são	cristãos	e	missionários	
antes	dele	mesmo	(cf.	Rom	16:7).	Saúda	a	outros	dois	casais	(Filó-
logo	e	Júlia,	Nereu	e	sua	 irmã),	que	provavelmente	também	são	
dois	 casais,	 talvez	 igualmente	missionários	 (cf.	 Rom	16:15).	Não	
somente	temos	o	caso	de	Priscila	e	Áquila,	mas	sabemos	que	os	
irmãos	do	Senhor	e	Cefas	iam	a	suas	missões	acompanhados	por	
suas	esposas	(cf.	1	Cor	9:5).	Finalmente,	devemos	mencionar	uma	
mulher,	Febe,	que	é	provavelmente	a	portadora	da	carta	aos	Ro-
manos,	da	qual	Paulo	diz	que	é	diaconisa	e	patrona	ou	presidente	
da	Igreja	de	Cencreia	(o	porto	de	Corinto,	cf.	Rom	16,1-2).	Quando	
chama	Febe	de	diaconisa	não	é	correto	entendê-lo	como	se	tratas-
se	de	uma	função	da	igreja,	por	exemplo,	para	servir	os	pobres,	os	
73© Para uma ética sexual Cristã
doentes	e	ajudar	a	vestir	e	despir	as	mulheres	no	seu	batismo.	Esta	
seria,	em	séculos	mais	tarde,	o	papel	das	diaconisas.	Mas,	no	sen-
tido	Paulino	o	diácono	é	responsável	por	toda	a	igreja	e	envolve	o	
ofício	eclesiástico	de	missões	e	de	ensinos.	(Fonte:	MERCABÁ.	Web 
Católica de Formación y Infomación.	Disponível	em:	<http://www.
mercaba.org/FICHAS/HM/724.htm>.	Acesso	em:	7	set.	2010).
Como	se	vê,	no	movimento	missionário	cristão,	encontramos	
muitas	mulheres	e	que	são	muito	ativas.	Aparecem,	às	vezes,	tra-
balhando	em	conjunto	com	Paulo,	ensinando	como	missionárias	
itinerantes;	elas	são	designadas	apóstola,	diaconisa,	protetora	ou	
dirigente.	Nesta	época,	encontramos	mulheres	em	todos	os	minis-
térios	e	responsabilidades	eclesiais	mencionadas.	Elas	 levaram	a	
sério	o	chamado	de	Jesus	e	suas	vidas	mudaram	para	sempre.
Mas	há	alguns	acontecimentos	muito	infelizes	que	marcam	
uma	 regressão	em	 relação	à	posição	da	mulher	na	 igreja,	 como	
“as	mulheres	estejam	caladas	nas	igrejas”	(1	Cor	14,34-36),	ou	que	
“elas	não	ensine,	nem	use	de	autoridade	sobre	o	marido,	mas	que	
esteja	em	silêncio”	(1	Tm	2,11-15).	Isso	nos	lembra	da	importância	
de	estudar	com	uma	boa	exegese,	que	nos	ajuda	a	compreender	
os	textos.	
Informação Complementar: ––––––––––––––––––––––––––––
Aconselhamos você a ler todo o artigo que apresenta Mercaba em seu site, dis-
ponível em: <http://www.mercaba.org/FICHAS/H-M/724.htm>. Acesso em: 7 set. 
2010. Lá você poderá aprofundar entre outras coisas, também as questões do 
celibato, do casamento e da homossexualidade na época das primeiras comu-
nidades. 
Também poderá investigar em Esperanza Bautista, A mulher na igreja primitiva, 
Verbo Divino, Navarra 1993. Elisabeth Schüssler Fiorenza, Misssionárias, após-
tolas, colaboradoras: Rm 16 e a primitiva história cristã das mulheres, em Ann 
Loades (ed.) “Teologia Feminista”, Descée de Brouwer, Bilbao 1997, 88-106.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Muitos	estudiosos	bíblicos	estudaram	as	 razões	para	essas	
frases.	Alguns	argumentam	que	são	um	claro	retrocesso	à	socieda-
de	patriarcal,	que	nada	têm	a	ver	com	o	projeto	de	Jesus	e	estão	
mais	condicionadas	por	seu	contexto,	no	qual	há	um	claro	desejo	
de	ser	aceitos	pela	sociedade	e	pelo	Estado,	assim	vão	cedendo	
© Ética da Família do Amor e da sexualidade74
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
aos	costumes	patriarcais.	Gradualmente,	a	mulher	volta	a	ser	vista	
com	desconfiança	e,	portanto,	relegada.	
Felizmente,	hoje	já	não	consideramos	como	“o	mandamento	
de	Deus”	que	“a	mulher	não	fale	na	igreja”	ou	“elas	não	ensinam”,	
como	aparecem	nas	 cartas.	 Fomos	 capazes	de	 superar	essas	 in-
terpretações	literais;	mas,	quantas	outras	mais	estão	faltando?	Só	
Deus	sabe.	Para	isso,	devemos	nos	voltar	novamente	para	o	foco	
sobre	a	ética	de	Jesus	para	com	as	mulheres,	que	foi	sua	atitude	
central	e	seus	comportamentos	relacionados	a	elas.
As normas sexuais na Bíblia
Como	você	já	sabe,	a	formação	da	Bíblia	foi	gradual,	a	pala-
vra	de	Deus	foi	manifestando	dentro	de	um	determinado	contexto,	
em	uma	cultura	que	levava	consigo	as	suas	grandezas	e	limitações.	
Antes	 de	 passar	 à	 escrita,	 durante	 séculos,	 as	 tradições	 foram	
orais,	e	com	o	passar	do	tempo,	as	histórias	foram	relidas	e	com-
plementadas	a	partir	de	outro	contexto.	A	própria	comunidade	foi	
o	primeiro	lugar	onde	Deus	se	manifestou,	uma	comunidade	viva	
que	em	um	momento	determinado	decide	modelar	sua	experiên-
cia	com	Deus	de	forma	escrita.	
Portanto,	devemos	nos	lembrar	de	que	a	comunidade	foi	a	
primeira	a	sancionar	o	que	era	bom	ou	ruim,	de	acordo	com	seu	
ideal	de	continuar	sendo	Povo	de	Deus.
As	normas	bíblicas	vão	emergindo	de	todo	um	fundo	de	cultura,	em	
grande	medida	alheia	à	nossa	cultura.	E	que	um	ato	não	é	bom	ou	
ruim	porque	a	Bíblia	diz,	mas	ao	contrário:	a	Bíblia	sanciona	como	
ruim	o	que	a	própria	sociedade	vê	como	ruim.	(BONETTI,	1994,	p.	
166).
A	normativa	sexual	bíblica	ocupa	um	lugar	pouco	relevante	
na	Bíblia.	Trata-se	de	condutas	mínimas	e	fundamentais,	que	esta-
belecem	uma	ordem	social	de	convivência	harmoniosa.	A	violação	
a	essas	condutas	são	muito	severas	e	isso	concorda	com	o	objetivo:	
o	bem-estar	de	todos	na	comunidade	do	povo	de	Deus.	Sabemos	
que	a	lei	fundamental	do	povo	de	Israel	é	a	Tora	e	nela	o	Decálogo	
75© Para uma ética sexual Cristã
(Os	Dez	Mandamentos),	resume	o	que	o	povo	deve	cumprir	depois	
da	Aliança	com	Deus.	O	Decálogo	é	o	compromisso	da	Aliança,	a	
sua	violação	significa	desgraça.
Aqui	estão	algumas	regras	na	Bíblia:
O adultério 
O	Decálogo	possui	duas	partes:	uma	correspondente	à	rela-
ção	com	Deus	e	a	outra,	a	relação	entre	os	homens	da	comunida-
de.	Os	relacionados	com	Deus	marcam	a	necessidade	de	manter	
a	fidelidade	no	único	Deus	que	nos	libertou,	por	isso,	não	é	per-
mitida	a	adoração	a	outros	deuses,	nem	é	admitida	a	prostituição	
sagrada,	tal	como	era	praticada	em	outras	religiões.	A	prostituição	
sagrada	é	proibida	não	por	ser	um	pecado	sexual,	mas	por	ser	um	
ato	de	 idolatria	a	outros	deuses.	Há	muitas	passagens	que	 lem-
bram	este	mandamento:	cf.	Deut	23,18-19;	Lev	19,29,	21,19,	etc.
Na	outra	parte	do	Decálogo,	que	fala	do	modo	de	se	relacio-
nar	na	comunidade,	são	tradicionalmente	considerados	dois	man-
damentos	que	têm	a	ver	com	o	nosso	ponto:	as	normas	sexuais,	o	
sexto	e	o	nono.
Na	verdade,	o	nono,	“não	cobiçarás	a	mulher	do	teu	próxi-
mo”	não	é	apresentado	como	um	pecado	sexual,	mas	de	cobiça.	
Observe	o	que	o	mesmo	texto	diz:	“não	cobiçarás	a	casa	do	teu	
próximo;	não	cobiçaras	a	mulher	do	teu	próximo,	nem	seu	servo”	
(Êx.	20,17).	No	livro	de	Deuteronômio	também	aparece	assim,	mas	
trocada	a	ordem:	“não	cobiçarás	a	mulher	do	teu	próximo,	nem	a	
sua	casa,	nem	o	seu	campo”	(Deut	5:22).	Em	suma,	o	que	o	tex-
to	manda	é	não	cobiçar	o	que	não	é	seu.	Considere	que,	naquela	
época,	a	mulher	era	vista	como	propriedade	do	homem.	Portanto,	
não	é	um	pecado	sexual,	mas	de	cobiça.
Em	contraste,	um	outro	mandamento:	“não	adulterarás”	(Ex	
20,	14,	Deut	5,	18),	éuma	proibição	que	pesa	sobre	o	exercício	da	
sexualidade.	Aqui	também	o	pecado	gira	em	torno	da	convivência.	
O	adultério	é	proibido,	não	por	ser	um	ato	sexual,	mas	por	violar	
os	direitos	do	marido	ofendido.
© Ética da Família do Amor e da sexualidade76
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Na	Bíblia	encontramos	castigos	e	consequências	tremendas	
de	ser	violada	esta	lei.	Também	é	impressionante	ver	que	os	filhos	
de	uma	relação	proibida	são	desprezados	pela	própria	comunida-
de	(cf.	Eclo.	23,16-27)	e	que	a	infidelidade	conjugal	é	punida	com	a	
morte	(cf.	Lev	20,	10,	Deut	22,	22).
Para	 os	 judeus	 o	 noivado	 era	 muito	 semelhante	 ao	 casa-
mento	e,	era	visto	 como	um	casamento;	por	 isso,	 se	algum	dos	
noivos	comprometidos	fosse	infiel,	sofria	o	mesmo	castigo	que	os	
casados.	Esta	lei	de	morte	sobre	quem	comete	infidelidade	ainda	é	
praticada	mesmo	no	tempo	de	Jesus,	como	mostra	o	texto	de	João	
8,1-11,	quando	lhe	apresentam	uma	mulher	adúltera	e	perguntam	
a	Jesus:	“esta	mulher	foi	apanhada,	no	próprio	ato,	adulterando.	E	
na	lei	nos	mandou	Moisés	que	as	tais	sejam	apedrejadas.	Tu,	pois,	
que	dizes?”
Na	Bíblia,	as	normas	são	sempre	religiosas,	mas	estão	rela-
cionadas	às	normas	sociais	da	época.	Um	exemplo	dessas	normas	
sociais	aparece	em	um	ritual	muito	estranho	para	comprovar	se	a	
mulher	foi	infiel	ou	não	(cf.	Núm	511-29).	Outra	norma	de	origem	
social	muito	praticada	nos	tempos	antigos	era	manter	as	mulheres	
virgens	até	o	casamento.	Assim	que	se	desenvolviam	sexualmente,	
as	casavam	rapidamente.	Após	a	noite	de	núpcias,	os	pais	ficavam	
com	os	lençóis	manchados	de	sangue,	prova	da	virgindade	de	sua	
filha.	Isso	servia,	caso	houvesse	falsas	acusações	por	parte	do	noi-
vo	(cf.	Deut	22,13-21).	A	virgindade	do	homem	não	era	muito	im-
portante	socialmente,	mas	a	da	mulher	sim.
O estupro
No	caso	do	estupro	da	mulher,	a	lei	distingue	duas	situações:	
uma	virgem	desposada	(na	qual	se	considera	também	a	possibili-
dade	de	adultério),	e	uma	virgem	que	não	está	comprometida.
No	primeiro	caso,	por	sua	vez,	existem	diferenças:	se	a	vio-
lação	ocorreu	na	 cidade	ou	no	 campo.	 Se	 fosse	na	 cidade,	 con-
sidera-se	que	houve	adultério,	ou	seja,	a	mulher	foi	cúmplice	do	
77© Para uma ética sexual Cristã
estuprador,	pois	ela	poderia	ter	gritado	e	não	o	fez	(cf.	Deut	22,23-
24).	No	caso	do	campo,	não	há	culpa,	pois	presume-se	que	não	há	
ninguém	para	poder	ouvi-la	(cf.	Deut	22,25-26).	
A lei obriga a mulher a pedir ajuda, se considerar que na cidade 
era fácil ouvir gritos. Não pense em uma cidade como as nossas, 
mas sim um lugar pequeno, onde todos se conhecem e estão pró-
ximos. Isto sugere como ainda hoje há algumas crenças que a 
maioria das mulheres, se foram estupradas, têm alguma respon-
sabilidade. 
É	importante	observar	o	fato	de	que	o	estupro,	para	as	leis	
da	Bíblia,	não	é	um	delito	grave,	salvo	em	caso	de	sua	possibilida-
de	de	adultério,	em	que	o	homem,	noivo	ou	marido,	é	caluniado	
por	ter	tomado	o	que	é	seu:	a	mulher.
No	segundo	caso,	uma	jovem	não	comprometida,	quem	é	le-
sado	é	o	pai,	por	isso,	o	que	a	abusou	deverá	pagar	por	seus	danos	
e	casar-se	com	a	jovem	sem	possibilidade	de	repudiá-la	(cf.	Deut	
22,28-29;	Êx	22	15-16).
No	Antigo	Testamento	há	muitas	prescrições	ou	exigências	
de	estilo	ritualístico	que	têm	a	ver	com	a	sexualidade	humana.	Ou	
seja,	ações	que	convertem	à	pessoa	pura	ou	impura.	O	estado	de	
impureza,	para	o	povo	de	Deus,	era	 considerado,	não	como	um	
pecado,	mas	um	estado	de	marginalização,	no	qual	não	se	podia	
visitar	o	templo,	ou	cumprir	com	alguns	ritos	tradicionais.
Veja	alguns	exemplos:
1)	 A	menstruação,	perda	de	sangue,	deixa	a	mulher	imun-
da	por	sete	dias	e	tudo	o	que	ela	tocar	se	torna	imundo	
(cf.	Lev.	15:19).	No	caso	de	uma	relação	com	uma	mulher	
menstruada,	sabendo	o	homem	desta	condição,	a	puni-
ção	é	a	morte	(cf.	Lev.	20:18).	Também	a	ejaculação	do	
homem	o	torna	imundo	e	tudo	o	que	toca	é	imundo	(cf.	
Lv	15,18).
2)	 O	parto	torna	a	mulher	imunda	(cf.	Lev.	12,1-5),	e	o	tem-
po	de	impureza	varia	se	nasceu	um	menino	ou	uma	me-
nina.
© Ética da Família do Amor e da sexualidade78
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
3)	 O	ato	sexual	torna	a	ambos	imundos	por	um	certo	tem-
po	(cf.	Lev.	15,18).
4)	 São	especificados	os	graus	de	parentesco	que	proíbem				
as	relações	sexuais	(cf.	Lev.	18,6-18).	
Estes	códigos	de	moral	sexual	estão	intimamente	relaciona-
dos	com	os	costumes	das	culturas	vizinhas.	As	práticas	homosse-
xuais	são	proibidas	(cf.	Lev.	18,22,	Juí.	19,22-23);	a	bestialidade	(cf.	
Lev	18,23),	o	incesto	(cf.	Lev.	20:04),	a	prostituição	(cf.	Lv	21	,	7;	Dt	
23,18-19).
No	Novo	Testamento,	as	regras	são	do	puro	e	do	imundo	e	
são	interpretadas	de	forma	diferente:	o	que	faz	um	homem	imun-
do	é	o	que	sai	do	seu	coração.	Lembre-se	das	palavras	de	 Jesus	
quando	ele	é	acusado	de	não	cumprir	as	normas	estabelecidas	(cf.	
Mac.	 7,20-23).	 Jesus	 passou	 de	 uma	 interpretação	 ritualística	 a	
uma	interpretação	de	responsabilidade	ética-chave.
Podemos	ver	que	em	um	todo,	o	Novo	Testamento	contém	a	
doutrina	dos	primeiros	capítulos	de	Gênesis	sobre	a	sexualidade,	
insiste	na	igualdade	e	na	complementaridade	entre	o	homem	e	a	
mulher.	E	não	se	esqueça	do	tema	que	vimos	anteriormente,	de	
como	Jesus	recupera	eticamente	à	mulher.
Lembra-nos	do	padre	Mifsud,	que,	nas	cartas	do	Novo	Tes-
tamento,	faz	referência	aos	pecados	da	sexualidade,	no	entanto,	
esses	pecados	não	ocupam	um	lugar	de	maior	importância	dentro	
das	preocupações	que	aparecem	nos	escritos.	Eles	aparecem	den-
tro	das	categorias	de	virtudes	e	vícios.	Nos	catálogos	de	vícios,	se	
destaca	a	idolatria,	a	impureza	e	a	cobiça	(cf.	Rom	13,13	de	1	Co-
ríntios	5,	9-11,	2	Coríntios	12,20-21;	Gal	5,19-21;	Ef	5,5	,	Col	3,5-9,	
1	Tim	1,	90-10,	Apoc	9,20-21).
Os	pecados	da	sexualidade	que	aparecem	em	algumas	car-
tas	são:
•	 As	 relações	 fora	 do	 casamento	 e	 o	 adultério	 (cf.	 1	 Cor	
6,12-20;	Heb	13:4).
79© Para uma ética sexual Cristã
•	 	A	homossexualidade	(cf.	Rom	1,26-27)	é	vista	aqui	como	
um	estado	de	“injustiça”	dos	gentios,	porque	eles	se	recu-
sam	à	ordem	estabelecida	por	Deus.	
Como a nossa tarefa não consiste em entrar no estudo da moral 
sexual concreta, não podemos aprofundar este tema tão atual no 
nosso tempo. Mas é preciso esclarecer aqui que a homossexuali-
dade era uma prática vista em alguns ritos pagãos, por isso, tam-
bém está relacionada com a idolatria. Ou seja, o ato sexual tinha a 
ver com a idolatria e, portanto, não se podia reconhecer ao Deus 
único e verdadeiro. Além disso, se aparece no Antigo Testamen-
to a condenação à homossexualidade, tem muito a ver com uma 
sociedade patriarcal que condena aos homossexuais por querer 
transformar-se sexualmente em um ser inferior, lugar que ocupa a 
mulher unicamente.
 
Em	suma,	as	normas	sexuais	que	aparecem	na	Bíblia	devem	
ser	interpretadas	no	contexto.	Elas	representam	os	valores	morais	
que	o	povo	devia	viver.	Era	uma	sociedade,	com	exigências	e	con-
siderações	diferentes	à	nossa.
Para	ser	mais	claro,	volte	a	ler	em	Moral	Fundamental,	a	re-
lação	que	há	entre	valores,	normas	e	julgamentos.	Lembre-se	de	
que	somente	é	objeto	de	valorização	moral	a	ação	livre	da	pessoa,	
o	ato	que	realiza	o	valor;	e	que	o	juízo	moral	de	uma	ação	deve	ter	
em	conta	as	 limitações	 ligadas	ao	valor,	além	de	considerar	que	
os	outros	 valores	possam	entrar	em	concorrência.	A	 construção	
da	escala	de	valor	nunca	é	estática,	porque	respondem	a	citações	
concretas.
Portanto,	as	normas	que	aparecem	na	Bíblia	 respondem	a	
juízos	morais	que	têm	a	ver	com	uma	construção	de	valores	deter-
minada	pela	mesma	sociedade	ou	por	uma	pessoa	concreta.	Por	
exemplo,	“que	as	mulheres	estejam	em	silêncio	e	não	ensinem”,	é	
uma	regra	proposta	que	considera	mais	importante	(valor)	a	acei-
tação	da	religião	ao	Império	e	coloca	em	segundo	plano	(valor)	as	
consequências	das	 atitudes	de	 Jesus	 com	as	mulheres.	 Para	en-
tender	um	pouco,	temos	que	compreender	a	época	em	que	isto	
acontece.
© Ética da Família do Amor e da sexualidade80Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
As normas sexuais que aparecem na Bíblia devem ser estudadas 
seriamente a partir dos valores que se queriam viver naquela épo-
ca.
5. CONSIDERAÇÕES
Para	finalizar	esse	assunto,	podemos	dizer	que,	em	geral,	a	
Bíblia	 tem	uma	visão	positiva	da	sexualidade.	Quando	encontra-
mos	passagens	 sobre	 as	 normas	 sexuais,	 podemos	 ver	 que	 elas	
estão	relacionadas	com	os	rituais	e	os	tabus	e	outros	interesses,	
como	o	homem	superior	à	mulher.	Há	uma	evolução	que	aparece	
no	Novo	Testamento:	a	importância	de	relacionar	as	normas	com	
uma	ética	de	responsabilidade.
As	normas	em	geral	devem	servir	para	crescer	e	desenvol-
vermos	como	pessoas	humanas.	Elas	estão	 relacionadas	aos	va-
lores	que	defendemos	e	sustentamos.	As	regras	devem	expressar	
esses	valores,	mas	são	regras	que	não	fazem	sentido	de	ser.
Em	relação	às	normas	sexuais,	vivemos	hoje	um	tempo	de	
crise,	em	que	muitas	pessoas	desafiam	o	sentido	dessas	normas.	
Acreditamos	que,	se	elas	estão	sustentadas	pelo	valor	da	pessoa,	
pela	sua	dignidade,	seriam	normas	libertadoras	e	necessárias	para	
o	crescimento	pessoal	de	cada	um	e	de	todos	em	sociedade;	mas	
se	não	for	fundamentada	nos	valores	que	correspondem	à	situa-
ção	concreta	que	vivemos	hoje,	não	servirão.
As	crises	que	enfrentamos	hoje	da	moral	sexual	se	concre-
tizam	em	 larga	medida	 com	a	 crise	das	normas	 sexuais.	Não	 se	
pode	continuar	a	apresentar	as	regras	de	como	se	fazia	em	outra	
época	e	em	outro	contexto.	Uma	moral	renovada	segue	o	espírito	
do	Concílio	Vaticano	II	e	leva	a	repensar	e	dar	uma	boa	justificativa	
às	normas	sexuais	que	hoje	se	propõem.	Ninguém	duvida	de	sua	
necessidade!
81© Para uma ética sexual Cristã
Em	suma,	as	regras	devem	expressar	o	modelo	moral	e	a	an-
tropologia	que	nós	temos.	Devem	expressar	e	formular	a	valoriza-
ção	moral	dentro	de	um	marco	de	função	dinâmica	e	pedagógica.
Deixamos	aqui	algumas	ideias	que	podem	ajudar	o	seu	tra-
balho	pastoral	atual	ou	futuro:
1)	 A	pastoral	 deve	 ser	 evangelizadora,	 e	 esperançosa,	 ou	
seja,	transmitir	a	mensagem	de	Jesus,	que	é,	acima	de	
tudo,	uma	mensagem	com	implicações	éticas.
2)	 Deve	assumir	a	complexidade	da	vida	atual,	reconhecer	
a	autonomia	das	realidades	terrenas	e	aceitar	que	“não	
podemos	ter	um	diagnóstico	ou	terapia	padrão”.
3)	 Você	também	deve	aproveitar	da	cultura	em	que	vive,	
sem	 saltar	 por	 cima	 dela,	 das	 mediações	 sociais,	 dos	
avanços	científicos	e	“de	se	expor	a	tarefas	hermenêu-
ticas	constantes.”	Lembramos	que	a	mensagem	de	Deus	
foi	transmitida	e	condicionada	pelo	tempo	e	espaço.
4)	 A	ação	pastoral	deve	partir	da	realidade,	isto	é,	do	mun-
do	em	que	vivemos,	com	seus	tempos	de	mudanças	e	
crises,	 de	 descobertas	 e	 crescimentos.	 Suas	 alegrias	 e	
frustrações.	Aceitar	a	realidade	é	o	primeiro	passo	que	
devemos	 realizar.	Não	 como	um	ato	de	desgraça,	mas	
com	uma	atitude	de	diálogo	e	abertura.
5)	 É	fato	que	também	dentro	de	nossas	comunidades,	há	
pessoas	que	não	conhecem	a	mensagem	do	Evangelho.	
Para	 elas	 são	mais	 importantes	 as	 regras	 e	 as	 normas	
sem	uma	referência	aos	valores	decorrentes	de	uma	lei-
tura	 séria	 dos	 Evangelhos.	No	 fundo	 estão	 apoiados	 e	
sustentados	por	uma	antropologia	rigorista,	que	projeta	
uma	moral	com	as	mesmas	características.	É	necessário	
recentrar	a	mensagem	cristã.	Existe	uma	hierarquia	de	
verdades	 e	 de	 consequências	 éticas	 que	 é	 necessário	
voltar	a	repensar.
6)	 O	destinatário	da	evangelização	é	a	pessoa,	que	é	amada	
e	querida	por	Deus.	A	 condição	pessoal	 é	 atravessada	
por	sua	 realidade	dinâmica	e	evolutiva.	Por	 isso,	é	 im-
portante	notar	que	não	se	pode	 inculcar	valores	e	ati-
tudes	de	adultos	em	crianças	e	jovens:	cada	etapa	deve	
© Ética da Família do Amor e da sexualidade82
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
ser	respeitada,	e	isso	o	trabalho	pastoral	deve	levar	em	
conta.	Como	diz	Albuquerque	(2002,	p.	307),	“O	conhe-
cimento	 das	 diferentes	 etapas	 evolutivas	 permite,	 no	
entanto,	ajustar	a	educação	moral	às	referidas	etapas”.
7)	 O	que	se	busca	com	a	educação	é	brindar	elementos	para	
que	cada	um	dos	indivíduos	busque	seu	caminho	pessoal	
em	direção	a	Deus,	descubra	suas	virtudes	e	queira	me-
lhorar	como	pessoa,	no	seu	processo	pessoal	de	huma-
nização.	Por	conseguinte,	é	importante	estimular	a	sua	
capacidade	crítica	e	refletir	diante	de	algumas	propostas	
éticas	que	escondem	um	olhar	utilitarista	e	de	mercado	
da	pessoa	e,	em	particular,	da	sua	sexualidade.
8)	 Em	 relação	 ao	 anunciante,	 ao	 que	 executa	 o	 trabalho	
pastoral,	deve	saber	que	sua	missão	é	muito	importante	
e	que	se	deve	ter	muito	cuidado	ao	julgar	com	gestos	e	
palavras,	os	comportamentos	das	pessoas.	Sua	mensa-
gem	é	de	misericórdia,	tem	uma	visão	positiva	da	pessoa	
e	deve	celebrar	a	vida	em	todas	as	suas	manifestações.
9)	 Seguindo	Albuquerque	(2002,	p.	319),
Se	a	sexualidade	deve	ser	educada,	o	esforço	educativo	e	a	ação	
pastoral	 tenderão	a	 situar-se	neste	horizonte	pessoal	de	 integra-
ção	e	humanização.	A	partir	dessa	perspectiva	humanizadora	será	
capaz	de	compreender	o	valor	da	sexualidade	e	do	sentido	de	seu	
crescimento	e	desenvolvimento;	será	capaz	de	fornecer	os	princi-
pais	critérios	éticos,	que	fornece	uma	moral	propriamente	huma-
nizadora.
Por	 fim,	 ficamos	 com	 a	 proposta	 feita	 pelo	 Padre	 Miguel	
Yañez	em	suas	aulas,	em	um	marco	de	“algumas	estratégias”	na	
pastoral:
Miguel Yañez: O Padre jesuíta Miguel Yañez, é doutor em teologia 
moral e ensino na faculdade de teologia de San Miguel, em Bue-
nos Aires, Argentina. Disponível em: <http://www.aceja.org/docu-
mentos/yanezsj.doc>. Acesso em: 7 set. 2010.
•	 A	análise	da	realidade:	estar	ciente	das	correntes	massifi-
cadoras	por	meio	da	propaganda,	ou	da	opinião	pública,	
que	exerçam	pressão	sobre	o	indivíduo.	Promover	o	co-
83© Para uma ética sexual Cristã
nhecimento	pessoal	e	a	valorização	dos	relacionamentos	
interpessoais.	Proporcionar	uma	compreensão	das	dinâ-
micas	próprias	da	sexualidade	humana,	de	suas	potencia-
lidades	e	de	suas	limitações	e	riscos.	
•	 Aprofundar	 em	 uma	 antropologia	 unitária	 e	 solidária:	
ambos	aspectos	se	reforçam	mutuamente.	As	dicotomias	
incentivam	os	 individualismos;	o	projeto	social	expande	
os	 horizontes	 da	pessoa,	 convida-a	 a	 superar	 seu	 auto-
centrismo.	Daí	a	conveniência	de	promover	o	altruísmo,	
mediante	 tarefas	de	 cooperação,	 voluntariado	etc.,	 que	
ajudem	a	fazer	contato	com	os	marginalizados	da	socie-
dade	de	consumo	e	expandem	os	horizontes	estreitos	da	
mera	autogratificação.
•	 A	compreensão	da	vocação	cristã	ao	amor	como	realiza-
ção	plena	da	humanidade.	O	cultivo	da	amizade,	promo-
vendo	o	diálogo	e	a	comunicação,	conhecimento	e	educa-
ção	afetiva.	Criar	espaços	em	que	o	adolescente	e	o	jovem	
possa	se	expressar	sem	ser	julgado,	em	que	tenha	a	opor-
tunidade	de	debater	abertamente	as	suas	ideias	e	de	par-
tilhar	as	suas	experiências	com	confiança;	só	assim	será	
possível	 educar,	 ou	 seja,	 promover	um	 crescimento	 em	
autoconsciência	e	liberdade.	Portanto,	de	vez	em	quando,	
algum	exercício	de	tomada	de	decisão	fundamentada	em	
possíveis	 condutas	 e	desafios	 que	 a	 sociedade	 contem-
porânea	apresenta	ao	adolescente	e	ao	jovem,	pode	ser	
pedagogicamente	eficaz,	de	forma	que	sua	atuação	possa	
ser	o	resultado	de	uma	deliberação	consciente	e	não	dos	
diferentes	modos	de	massificação	que	costumam	nos	ar-
rastar.	
Desejamos	que	tenha	aproveitado	e	entendido	o	estudo	da	
terceira	unidade.	Para	resumir	peço	que	releia	cuidadosamente	o	
que	foi	apresentado	nesta	unidade.	
© Ética da Família do Amor e da sexualidade84
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Esperamos	que	você	tenha	desfrutado	do	caminho	que	per-
corremos	juntos.	Queira	Deus	que	 lhe	sirva	na	vida	e	no	seu	ca-
minho	que	você	empreendeu.	Não	fique	somente	nisto,	mas	que	
esse	 conteúdo	 seja	 um	motivo	 para	 que	 continue	 estudando	 e	
aprofundando	os	temas	de	moral	sexual.	Não	se	esqueça	de	que	
sempre	que	apresentar	uma	questão	da	moral	sexual,ou	que	você	
estudar	um	autor	sobre	a	moral	sexual,	você	deve	perguntar	que	
antropologia	sustenta	seu	discurso,	como	de	que	moral	sustenta	
sua	proposta	ética	sexual.	É	muito	importante	que	isso	esteja	cla-
ro!
Esperamos	também	que	sua	visão	ética	sobre	a	sexualidade	
se	caracterize	por	ser:
•	 Totalmente	cristã:	 isto	é,	 seguindo	a	proposta	de	 Jesus,	
vendo	e	conhecendo	as	suas	atitudes	e	os	seus	comporta-
mentos	em	relação	à	sexualidade.	A	partir	dele,	observe	
todo	o	proceder	dos	livros	restantes	da	Bíblia,	tendo	em	
conta	o	estudo	da	hermenêutica	para	entender	melhor.
•	 Reconhecer	 a	 contribuição	 das	 ciências	modernas:	 elas	
nos	ajudam	a	compreender	melhor	a	sexualidade	huma-
na.	Não	se	esqueça	de	que	é	preciso	ver	a	realidade	a	par-
tir	de	diferentes	pontos	de	vista	para	poder	fazer	bem	um	
juízo	de	valor.
•	 Procurar	 o	 diálogo	 também	 com	 outras	 teologias:	 para	
que	seja	completo	o	olhar	sobre	a	sexualidade;	também	
aqui,	esperamos	que	você	busque	o	diálogo	ecumênico,	
tal	como	proposto	pelo	Concílio	Vaticano	II:	junto	com	as	
demais	igrejas	caminhamos	rumo	ao	encontro	com	Cris-
to.
•	 Positiva	e	não	rigorosa:	que	você	leve	em	conta	a	beleza	
da	criação	de	Deus	e	que	busque	sempre	dar	uma	mensa-
gem	de	amor	para	com	os	outros.
85© Para uma ética sexual Cristã
•	 Misericordiosa:	na	qual	você	lembre	a	própria	misericór-
dia	de	Deus	para	com	os	seres	humanos.
•	 Responsável:	que	você	cuide	de	seus	próprios	pensamen-
tos	e	ajude	os	outros	a	crescer	na	liberdade	e	na	respon-
sabilidade	ética,	especialmente	nas	questões	da	sexuali-
dade.
Lembre-se	de	que	o	mais	 importante	é	o	 amor,	o	 resto,	 é	
subordinado	a	ele.

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