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EA D Para uma ética sexual Cristã 3 1. OBJETIVOS • Conhecer a visão sexual da Bíblia. • Interpretar os relatos bíblicos referentes à moral sexual. • Refletir a partir de uma síntese do assunto e confrontar a própria realidade pastoral. 2. CONTEÚDOS • Visão ética sexual da Bíblia. • A história da criação. • A relação homem – mulher, danificada pelo pecado. • O amor erótico. • Jesus e a sexualidade. • As primeiras comunidades e a sexualidade. • Interpretação correta das normas sexuais na Bíblia. © Ética da Família do Amor e da sexualidade56 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO 3. INTRODUÇÃO À UNIDADE A proposta desta última unidade é percorrermos juntos um caminho pela Bíblia, estudando a visão que ela apresenta da se- xualidade do homem e da mulher, e quais são suas implicações éticas. Inicialmente, devemos distinguir a mensagem de Deus dos condicionamentos histórico-culturais. É importante entender que a Revelação se incorporou em determinadas culturas, com seus costumes e tradições muito diferentes das nossas e, também, mui- to distantes! Suas propostas morais bíblicas nascem neste contex- to e, às vezes, é difícil de entendê-las. Uma exegese séria pode ajudar na sua interpretação. Além disso, à medida que avançamos na leitura bíblica, ve- remos claramente que há uma evolução gradual da revelação de Deus e da compreensão por parte dos homens bíblicos. Um pro- gresso que vai de Gênesis às cartas das comunidades cristãs. Perante esta realidade, a Bíblia nos dá o material necessário para refletir e construir não uma moral sexual para o nosso tempo, mas as diretrizes básicas para uma ética sexual verdadeiramente cristã. Então, ao finalizar esta jornada, oferecemos algumas dire- trizes éticas que podem servir para o seu ministério. Do ponto de vista ético, a fé cristã envolve um conceito e um comportamento da sexualidade humana que o favorece em seu desenvolvimento como sujeito responsável e solidário. Desta for- ma, rejeita qualquer experiência que reduz o ser humano a objeto de prazer, de consumo, de capricho e de manipulação e, também, rejeita uma concepção que reduz a sexualidade ao plano genital. A sexualidade humana é muito mais complexa para querer reduzi-la aos órgãos genitais. Espero que, nesta fase de reflexão, você tam- bém a tenha assumido, certo? O significado fundamental da sexualidade humana é a reali- zação do encontro com os outros, consigo mesmo, com a natureza 57© Para uma ética sexual Cristã e com Deus. A partir desta realidade sexual, o ser humano se rea- liza como pessoa respondendo a Deus, em um processo de huma- nização ou desumanização. Mas você deve estar se perguntando: de onde vem essa con- cepção de ser humano? As fontes de reflexão continuam sendo a Bíblia e a tradição, e hoje, além disso, assumimos o diálogo com as ciências modernas que ajudam à teologia moral para produzir uma discussão mais completa, que responda às questões emergentes de seu contexto histórico. Esse diálogo é muito importante para uma resposta moral ao homem atual. Lembre-se de que na unidade anterior falamos sobre a visão antropológica da sexualidade. Agora, é hora de fazer o caminho específico da ética sexual, para ter uma visão ética da sexualidade humana. Estão preparados? Então vamos aos estudos! 4. VISÃO ÉTICA SEXUAL DA BÍBLIA A Bíblia não é um manual de sexualidade, mas podemos encontrar nela uma profunda mensagem que nos guie, hoje, em nossa ética sexual. Na Bíblia podemos encontrar o significado mais profundo da sexualidade e suas implicações éticas, mas devemos estar conscientes de algumas considerações prévias para poder- mos dar hoje uma mensagem ética sexual séria. O teólogo moralis- ta Lópex Azpitarte, quando comenta que a questão da ética sexual na Bíblia, nos adverte: Para saber se uma conduta é boa ou pecaminosa não há o porquê recorrer a uma citação bíblica, que tantas vezes nos adaptamos às nossas categorias atuais. Da mesma forma que o silêncio sobre um determinado comportamento não é um sinal de legitimidade ética. Mas é útil considerar como a revelação valoriza e ilumina os nossos pensamentos humanos sobre um fenômeno universal como este. Por isso, nos reduzimos a um trabalho de síntese muito generaliza- do, deixando o exegeta o sentido mais literal das diferentes afirma- ções. O que é, portanto, que a Bíblia diz sobre a sexualidade como um todo? (AZPIARATE LÓPEZ, 1981, p. 306). © Ética da Família do Amor e da sexualidade58 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Por um lado, o autor chama a atenção para não confiar de- mais no nosso discurso ético apoiado na Bíblia, que muitas vezes o acomodamos ao nosso modo de pensar; por outro lado, adverte que o que a Bíblia não menciona, não significa que é permitido. Quantas vezes ouvimos uma observação ética sobre a sexualidade apoiada na Bíblia, sem um estudo sério da frase e do seu contexto? Por isso, sugerimos que você analise o que diz o documento da Pontifícia Comissão Bíblica, do ano de 1993: Nos relatos relacionados com a história da salvação, a Bíblia une es- treitamente múltiplas instruções sobre a conduta a ser observada: mandamentos, proibições, prescrições legais e injúrias proféticas, conselhos de sabedoria. Uma das tarefas da exegese consiste em precisar o alcance deste abundante material e em preparar assim o trabalho dos moralistas. (Pontifícia Comissão Bíblica, 1993, p. 102). Após os comentários anteriores, você finalmente vai saber o que querem comunicar os autores inspirados nos relatos da criação sobre a sexualidade humana. Você verá que é um tema muito in- teressante. Obviamente é necessário que, com a Bíblia em mãos, você vá seguindo e refletindo os aspectos que iremos destacan- do. O relato da criação O homem criado “a imagem de Deus” (...) é o que conjuga aquele “parentesco” divino com uma inserção na história e uma tomada de posição diante da natureza. (Croatas, 1974, p. 193) Tendo sido criados por Deus à sua imagem, somos respon- sáveis perante todo o mundo criado, junto aos outros homens e mulheres deste mundo, diante de nós mesmos e diante do próprio Deus. É uma grandeza do ser humano, mas ao mesmo tempo é uma responsabilidade. A tradição Javista (a mais antiga dos relatos escritos que você pode confrontar em Gênesis. 2,7, 18-25) destaca os seguintes as- pectos éticos: 59© Para uma ética sexual Cristã • A relação entre homem e mulher é uma "ajuda adequa- da". • Esta relação interpessoal de reciprocidade implica a igual- dade entre o homem e a mulher. • A alteridade sexual busca sua união e unidade no casal. O outro relato, da tradição sacerdotal escrito muito mais tar- de (Gen. 1, 26-31), destaca os seguintes aspectos éticos sexuais: • A alteridade sexual (homem-mulher) é criada à imagem e semelhança de Deus. Isso resulta em ambos uma digni- dade que os coloca eticamente em um plano superior a todos os outros seres. Ambos devem se comportar como seres dignos, e ambos devem ser tratados como tal. • Tanto ao homem quanto à mulher lhes são confiados a criação, há para ambos uma mensagem de responsabili- dade. • A sexualidade humana está relacionada ao amor e à fer- tilidade. Se por amor foram criados como tais, é no amor entre eles que nascerá a vida. Diz Azpitarte: Ambas as descrições coincidem nesta síntese fundamental: a cria- ção do ser humano, na sua dupla qualidade de homem e mulher, não têm sua origem em nenhum princípio mitológico, nem sua di- mensão sexual foi causada por alguma força do mal, mas tudo é fruto da palavra dominante e criadora de Deus (LÓPEZ AZPIARATE, 1981, p. 308). Para os relatos bíblicos, a sexualidade é a criação de Deus, que revela um efeito altamente positivo da sexualidade humana, porque é obra de Deus. A Bíblia possui um sentido altamente posi- tivo da sexualidade humana. Mas nesta história humana, encontramos também a sombra do pecado, que brota dos corações do homem e da mulher, ao rejeitar suacondição de criaturas (Gen. 3, 1-24). © Ética da Família do Amor e da sexualidade60 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Adão e Eva querem ser mais do que humanos, querem ser deuses. O pecado não tem nada a ver com o plano de Deus, é um produto humano, nascido do coração humano. Lembre-se do que você refletiu sobre o pecado em Antropologia Teológica, assim você poderá vinculá-lo com o que abordaremos a seguir. Este drama do pecado prejudica as relações entre o casal, bem como entre eles e a criação. Também afeta a dimensão se- xuada do homem e da mulher. A harmonia que relatam os dois primeiros capítulos do Gênesis é brutalmente interrompida. As consequências do pecado que prejudica a sexualidade humana podem ser vistas no relato javista: • O desejo de domínio (cf. Gen. 3, 16 b) e de auto-afirmação en- trou no coração das pessoas, agora a sexualidade é estabelecida como uma tarefa ética. • Há uma ruptura no “suporte adequado” entre o homem e a mulher que Deus havia estabelecido. Aparecem as acusações: “a mulher que me deste por companheira, ela me deu da árvo- re e comi” (Gen. 3:12). • A maternidade, que acarreta a filiação e o trabalho, entram no contexto de fadiga e suor (cf. Gen. 3, 16). Como também o tra- balho do homem acarreta fadiga e esforço (cf. Gen. 3, 19). Devido ao drama do pecado a vida agora exige esforço. O fato de aceitar ser como humanos e não deuses, torna-se uma ta- refa de humanização. O homem não é como os animais e não deve se comportar como tal. Também não é um ser celestial que se es- quece de sua realidade corporal. Neste processo de humanização não se aceita o desprezo do corpo (como ocorria em algumas aldeias vizinhas), nem a sua exal- tação ou adoração. O caminho de humanização requer um ponto de partida: reconhecê-lo como humano, diferente dos animais, criado por Deus e a consequência de se comportar como tal. Por- tanto, o ser humano tem uma tarefa ética: a de humanizar-se. 61© Para uma ética sexual Cristã Então, pela presença do pecado, a dignidade da sexualidade humana também é apresentada como uma tarefa. Esta tarefa con- siste em recuperar a configuração humana da sexualidade que se expressa no amor recíproco aberto ao divino. Aqui está o princípio triplo que ilumina a sexualidade humana: a humanização, a comu- nidade e a transcendência. A seguir, convidamos você a aprofundar estes princípios que iluminam a sexualidade humana. A relação homem-mulher danificada pelo pecado Como vimos anteriormente, após o pecado, o relacionamen- to entre o casal foi danificado. Essa realidade pode ser vista nas mensagens patriarcais em que a mulher passou a valer apenas por sua condição materna, que pode dar à luz e filhos ao homem. Esta única visão sobre a mulher abriu um mundo de valores e interesses dos homens sobre o corpo das mulheres. Para dar uma descendência ao homem, são consideradas socialmente úteis, caso contrário, são desprezadas. Assim, armou-se uma cadeia de consequências éticas, a partir desta visão, na qual a mulher ficou presa a um mundo isolado e patriarcal. Vejamos algumas dessas consequências éticas relacionadas entre homem e mulher: 1) Algumas destas histórias mostram como as mulheres es- tão obcecadas por ter um filho (na sua maioria do sexo masculino, cf. 1Sam. 1:10-11), porque aí está em jogo seu lugar na comunidade. 2) As histórias de esterilidade são sempre histórias femi- ninas (desde Sara, Raquel, Ana, a mãe de Samuel, até Isabel, a prima de Maria). Mais do que a infertilidade em si, elas sofrem com o desprezo que lhes são dadas. Al- gumas companheiras as zombam e as maltratam (Gen. 16, 5, 1 Sam. 01:06). As relações entre as mulheres são assim danificadas. Existe a rivalidade, a competitividade entre as mulheres. 3) Existem diferenças entre ser mulher e ser homem, dife- renças que ferem a sua dignidade. Elas devem obede- © Ética da Família do Amor e da sexualidade62 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO cer-lhes, submeter-lhes à vida poligâmica legitimamente reconhecida por lei. Desde os patriarcas até a época dos reis vemos como a poligamia era comum. A poligamia sempre foi permitida no povo de Israel, mas era difícil sustentá-la. Era preciso ter uma situação econômica que permitis- se, manter uma família muito numerosa. 4) Em caso de adultério, os adúlteros, homens e mulheres devem ser apedrejados de acordo com a lei, mas nunca houve uma história em que o homem tenha sido puni- do pelo mesmo critério. O costume do apedrejamento prosseguiu até a época de Jesus (Jon 8:05). Os homens que fossem achados deitados com mulher casada, também deviam morrer (cf. Deut. 22,22; Lev. 20,10), mas não há na Bíblia nenhuma acusação a um homem por “tomar os bens alheios” (mandamento do decálogo). Não há acusações de ho- mens contra homens. A desconfiança recai sempre sobre as mu- lheres. Os conselhos que aparecem na Bíblia sempre são referi- dos ao homem, cf. Prov. 2,16; 5,1-14. 5) A menstruação tinha consequências éticas: de certa for- ma a marginalização, porque a converte em impura. A mulher fica sete dias impura nesse período e tudo o que ela tocar fica impuro. A impureza é um estado das pesso- as ou coisas que as tornam impróprias para participarem ou serem utilizadas na adoração, daí o medo de alguns grupos religiosos do tempo de Jesus (Mac. 5, 33). 6) Elas devem submeter-se às leis do levitairo: se não teve filhos e o marido morreu, o cunhado deve ter relações com elas e, assim, dar descendências ao irmão falecido. Quem não cumprir essa lei por egoísmo, Deus o castiga com a morte (Gen. 38, 9-10). Já fomos advertidos nos primeiros relatos de Gênesis da en- trada do pecado e suas consequências: divisão, dor, lutas, margi- nalização, desprezo etc. Muitas atitudes patriarcais que lesaram as mulheres podem aparecer hoje em histórias semelhantes ou idênticas. 63© Para uma ética sexual Cristã A verdade é que o pecado continua nos corações dos ho- mens e das mulheres. O pecado se manifesta no trato e, no que nos diz respeito à sexualidade do ser humano, foi lesada. A luta de um cristão e uma cristã é interpretar os sinais dos tempos e se esforçar para construir o reino de Deus. Por outro lado, há outros textos que, ao contrário do que es- távamos vendo até agora, valorizam as mulheres, mesmo quando suas ações nos dias de hoje podem ser consideradas como deso- nestas. Observe algumas dessas ações: • Uma dessas histórias é a de Tamar (Gen. 38). Já havíamos falado sobre ela. Como seu marido havia morrido e seu sogro lhe entrega o seu segundo filho, Onã, que também morreu, Tamar espera sob a promessa de seu sogro, que o segundo cunhado cresça para poder deitar com ela e, finalmente, dar-lhe a bendita descendência a seu falecido marido. Mas o tempo passa e o sogro não cumpre a pro- messa. Ela acaba vestindo-se de prostituta para não ser reconhecida e deitando com o sogro. A história termina valorizando a atitude de Tamar, porque sempre procurou cumprir com a lei: a descendência. Entretanto, seu pró- prio sogro, que tinha se esquecido das leis, reconhece a grandeza de Tamar: “mais justa é ela do que eu, porquan- to não a tenho dado a Sela meu filho”, diz o pai em Gêne- sis 38, 26. • Em outra história, aparecem duas mulheres admiradas pelos homens. Essa admiração não tem a ver com seu ventre nem com sua capacidade de ter filhos, mas por sua coragem e grandeza. Uma delas é a profetisa Débora, que os israelitas a têm por sábia, e Jael, que com seus mecanismos sedutores, mata o inimigo dos israelitas de- golando-o. Seu corpo sedutor tem uma valorização ética positiva (Juí.4,4-23). © Ética da Família do Amor e da sexualidade64 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Não julgamos aqui, a partir de nossa realidade, o bom ou o mau comportamento dessas mulheres, mas descobrir que o ponto de vista ético de tais comportamentos foi influenciado pelos inte- resses do povo judeu. Amesma atitude de Jael (cf.Juí 4, 18-23), seduzir para matar, é condenada em outro trecho, na história de Dalila (cf.Juí 16,4-22), que seduz Sansão tira-lhe a força e assim entregá-lo aos filisteus. Observe como aí os interesses jogam um papel importante. O mesmo comportamento em um caso é reconhecido e em outro é condenado. O amor erótico Há muitas histórias na Bíblia em que aparece o amor entre as pessoas, a entrega corporal, o desejo e os corpos valorizados como tais. Nem sempre os homens da Bíblia estão preocupados com a descendência e por ordem no matrimônio, mas também aparecem histórias de “alta voltagem”, contos eróticos do amor humano. Erotismo é uma palavra que a teologia deve recuperar. O erotismo é o amor sensual do ser humano que transita e experi- menta com todos os sentidos. Deus assim nos criou: “e viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom” (Gen. 1, 31). Como diz Santos Benetti (1994, p. 172): Todo nosso conceito de santidade passa pela não sexualidade, pela abstinência sexual, pela castidade absoluta, pela renúncia do pra- zer deste corpo espetacular criado à imagem de Deus, ao contrário do que diz a Bíblia. Não podemos negar a desconfiança que teve a igreja ao lon- go da história sobre o prazer e a sensualidade. Ficou marcado no ensino que o prazer sexual tinha a ver com a concupiscência, como o “apetite desordenado de prazeres desonestos.” Graças a Deus, hoje estamos resgatando o valor positivo de sensualidade e do prazer, porque não podemos negar que assim fomos criados por Deus. 65© Para uma ética sexual Cristã A Bíblia nos apresenta o erotismo humano em muitas histó- rias vivas de seus personagens. Por exemplo, a história de Jacó e Raquel (Gen. 29,9ss), na qual Jacó se apaixona pela beleza de Ra- quel. A história de Sansão, um grande amante com caráter infantil e caprichoso. Seus namoricos são célebres, principalmente com Dalila, que é traído por ela (Juí 16, 1FF). Outro grande galã da Bíblia é Davi, homem de muita experiência com mulheres, casando-se com várias e tendo outras tantas como concubinas (2 Sam 5). Para conhecer todas as histórias amorosas de Davi, você deve pesquisar em todo o primeiro e segundo livro de Samuel. Mas há um livro, uma história, em que a descrição do amor erótico é vivida intensamente. É o livro de Cantares de Salomão. Nele se resume, maravilhosamente, o valor dos corpos e o amor exprimido através deles. Azpitarte Lopez o denomina “um evangelho do amor”: E nesta corrente há uma influência oculta de outra que nasceu an- teriormente no Cantares de Salomão, uma autêntica antologia de poemas cheios de encantos e poesia, "um evangelho do amor eró- tico e da sexualidade." A visão do amor é exaltada até limites que deixam confundidas muitas mentes. Não era compreensível que o Espírito pudesse comunicar a sua mensagem através das expres- sões usadas entre dois amantes ardentemente apaixonados (AZPI- TARTE, 318). Em Cantares encontramos a história de amor mais expressi- va que podemos ver na Bíblia. É uma história entre dois amantes que se buscam e se desejam. Não são dois cônjuges que vivem juntos em suas casas, mas apenas dois namorados adolescentes. Este livro teve um difícil processo de canonização. Sua dificul- dade, entre outras, era pelo tipo de relacionamento em que vivem os protagonistas, não sendo casados. Os personagens principais são dois: os jovens amantes. Também aparece um coro que vai respondendo aos amantes, irmãos da adolescente que se opõem a este amor e os guardas que querem por limite aos desejos e ex- pressão da mulher. © Ética da Família do Amor e da sexualidade66 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO A história começa com um ardente convite da adolescente: Beije-me ele com os beijos da sua boca; porque melhor é o seu amor do que o vinho. Para cheirar são bons os teus ungüentos; como ungüento derramado é o teu nome; por isso as virgens te amam. Leva-me tu, correremos após ti. O rei me introduziu nas suas recâmaras; em ti nos regozijaremos e nos alegraremos; do teu amor nos lembraremos, mais do que do vinho; os retos te amam. (1,2-4) Esta é a proposta que parte dela: um convite a amar-se e gozar e um convite que parte de uma mulher! Ela está embriaga- da pelo amor do jovem, por seus beijos ardentes, por esse prazer mais delicioso do que o vinho. Possui uma ideia: “apartando-me eu um pouco deles, logo achei aquele a quem ama a minha alma; detive-o, até que o intro- duzi em casa de minha mãe, na câmara daquela que me gerou” (3,4). Retorna a mesma ideia em outra passagem: “levar-te-ia e te introduziria na casa de minha mãe, e tu me ensinarias; e te daria a beber vinho aromático e do mosto das minhas romãs (8,2). Pela cultura dos protagonistas, com seus costumes bem mar- cados e altamente respeitados, impedem que a mulher tenha con- tato físico com um homem que não é de sua família. A sociedade censura até as mínimas expressões de carinho em locais públicos, assim: “ah! Quem me dera que foras meu irmão, e que te tivesses amamentado aos seios de minha mãe! Quando te achasse na rua, beijar-te-ia, e não me desprezariam!” (8.1). O nome dado a ela é a Sulamita, o coro e o amado assim a chamam (7.1). O amado percorre seu corpo com os elogios de seu tempo (7,2-8), nos mostrando que ela é desejada para ser mulher amada. Sua beleza também não está vinculada a um estereótipo de beleza. Diz Mercedes Navarro: Em Cantares encontramos um corpo de mulher valorizado por si mesmo, mas oferecido livre e voluntariamente ao olhar e ao tato 67© Para uma ética sexual Cristã do amado. E isso provoca e produz uma resposta recíproca. A reci- procidade, a mutualidade e alternância são características não só da relação proposta no Cantares, mas da mesma condição corporal erótica dos amantes (NAVARRO, 1996, p. 168). Reciprocidade, mutualidade e alternância: palavras-chave que nos mostram um profundo amor entre os amantes. Todos os sentidos são canais para perceber a beleza do outro corpo: a visão, o tato, o olfato e o paladar. Ele e ela tentam se co- municar com o corpo e seus sentidos. A experiência vital referida pelo Cantares é a característica mais universal do ser humano em qualquer cultura e em qualquer lati- tude do planeta. Portanto, este é um livro que questiona o nosso conceito do religioso como algo separado da vida cotidiana. Para o livro o religioso não é uma concepção espiritualista do mundo, não é uma aprendizagem de dogmas ou de códigos de moral. É a vida! A vida real de um casal que reflete em seu amor a mesmíssima imagem de seu criador. Porque as chamas do amor humano são nada mais do que relâmpagos do fogo de Deus. Um livro que, em seus oito capítulos não fala de Deus, mas do amor de dois adoles- centes. E como fala do amor, fala de Deus em todas as suas páginas (BENETTI, 1994, p. 236). Cabe destacar que o namorado em nenhum momento a vê como possível mãe de seus filhos. Em nenhuma parte do livro é vista como corpo desejável quanto à fertilidade do útero, quanto possível mãe para a descendência do varão, como vimos anterior- mente, tão comum na sociedade patriarcal. Há muito mais para aprofundar neste livro tão maravilhoso como o Cantares de Salomão, mas acho que o que vimos, foi o suficiente para poder resgatar o amor e o erotismo no Antigo Tes- tamento. Recomendamos que você continue aprofundando este estudo com o livro de Santos Benetti, que nos ajudou a entender um pou- co mais a sexualidade na Bíblia. Convidamos, ainda, para que leia atentamente e que você possa descobrir a maravilha do amor humano. © Ética da Família do Amor e da sexualidade68 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Jesus e a sexualidade Passemos agora a ver o que acontece com Jesus. Podemos dizer com certeza que Jesus foi um homem que desfrutou da vida. O prazer pela vida ele manifesta nas suas relações com os amigos, a sua presença em festas e casamentos, em visitaspara comer e partilhar a vida com os demais. Lembre-se de que ele é acusado de “bêbado” e “glutão”! Uma das diferenças que ele tem com seu primo João Batista é o modo de interpretar a permissão de Deus (o reino de Deus por Jesus) e suas implicações éticas. Para João, a vinda de Deus signi- fica o juízo para os homens e mulheres, então é preciso fazer pe- nitência e jejum, pois o julgamento está próximo. João vive no de- serto, afastado do mundo e em permanente estado de resignação. Para Jesus, porém, o reino de Deus significa alegria, especialmente para os marginalizados, pois lhes será devolvida sua dignidade. Por isso, Jesus ama a vida, a celebra e se alegra nela. Ele vive no mun- do e goza dele. Uma das questões que sempre aparece aqui, é se Jesus teve ou não relações sexuais. Do nosso ponto de vista, acreditamos que não, mas não que ele não tenha sentido desejos ou se apaixonado alguma vez (não nos esqueçamos da humanidade de Jesus!), mas pelo respeito que mostrou pelas mulheres de seu tempo. O que queremos dizer? Vamos ver: inicialmente, você tem que se situar no contexto: recordemos o que vimos anteriormente, as mulheres eram valorizadas por seu ventre. As mulheres do tempo de Jesus nem pensavam na possibilidade de não se casar! Seguiam as tradi- ções de seus antepassados. Consideremos também o peso social que havia sobre as mulheres para chegar ao matrimônio virgens e a má reputação se fossem devolvidas pelo marido na casa de seus pais, podiam ser despre- zadas por atos insignificantes. Quem as tomaria novamente? 69© Para uma ética sexual Cristã Por outro lado, as outras mulheres, as prostitutas, eram des- prezadas, mas muitos homens as viam como um instrumento para demonstrar a sua virilidade. Nada disto tem a ver com Jesus, ele não as vê como um instrumento para ter descendência (ter filhos e especialmente meninos) nem as utiliza para mostrar a sua mas- culinidade. Inicialmente, Jesus valoriza a mulher, restaurando-lhe sua dignidade. Ele restaura a liberdade delas se realizarem como mu- lheres e onde sintam que está sua vocação. Dentro da visão cristã da sexualidade, devemos ter uma especial consideração ao com- portamento de Jesus com as mulheres, porque nos ajudará a cons- truir uma sociedade mais justa e igualitária. Nos Evangelhos, pode- mos detectar atitudes, palavras e comportamentos de Jesus que chamam profundamente a atenção considerando o seu contexto. Lembre-se de que Jesus tem um comportamento revolucionário no tratamento para com as mulheres Nas sociedades patriarcais, tal como vimos, a mulher é valo- rizada pelo seu ventre fértil. Ela representa um meio para dar des- cendência aos homens. Também ao longo da história de Israel, po- demos constatar que, no Antigo Testamento, há histórias em que as mulheres são valorizadas além de sua condição de mãe, mas não é mais comum. Em geral, subsiste sempre a ideia de subordi- nação da mulher ao homem, e sua valorização desde seu ventre fecundo. Jesus rompeu com essa ideia, que se apoiava desde o olhar religioso. Jesus abre a possibilidade de discipulado também às mu- lheres. Não as valoriza por poder ser mães, mas por chegarem a ser discípulas. Ouçamos o que nos diz a teóloga espanhola Mercedes Na- varro, quando recorda a resposta que Jesus dá a uma mulher que elogiou a mãe de Jesus (Lucas 11:27): © Ética da Família do Amor e da sexualidade70 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Como boa israelita, ela proclama a Jesus o melhor que conhece e o que a tradição lhe ensinou: “Bem-aventurado o ventre que te trou- xe e os seios que te alimentaram”, uma frase que perpetua o que é a mulher e a recompensa que um bom filho lhe supõe. Uma frase que revela a interiorização das categorias pelas mulheres judias. A resposta de Jesus é altamente subversiva do sistema patriarcal (...) Se a mulher no meio da multidão, diz que a mulher é ventre e seios, mãe, Jesus diz que a mulher é mais ouvido, discípula. Se uma mulher reproduziu o estereótipo das mulheres, Jesus o combateu iniciando-a em uma nova vida, o discipulado, que é um caminho, uma abertura que nunca acaba, uma aprendizagem que não termi- na (NAVARRO, 1996, p. 171-172). Jesus não tinha medo do corpo das mulheres, não as viam como uma ameaça à sua integridade masculina. Continua Mercedes Navarro: As mulheres que se aproximam de Jesus não se escondem. E quan- do alguma o tenta (a mulher que tinha um fluxo de sangue), Jesus não se permitia. As mulheres não tem por que esconder seus cor- pos. A presença de Jesus permite uma visibilidade da corporeidade feminina, que é positiva e digna. Jesus não sexualiza o corpo das mulheres, mas também não o faz problema da sua sexualidade, nem tem medo dela, nem suas condutas mostram que as conside- re um tabu. Para ele, o corpo das mulheres é, antes de mais nada, o corpo de uma pessoa (NAVARRO, 1996, p. 171-172). É interessante ver como Jesus estabelece um novo estilo de vida para elas. Isso pode ser visto no grupo que o seguia, no qual não faltavam mulheres casadas ou solteiras. Com Jesus, a margi- nalização das mulheres é superada, elas podem ser elas mesmas, com sua sexualidade, mostrar-se e serem respeitadas. Seus corpos não lembram o pecado, a tentação, um instrumento para ter fi- lhos, elas também são a imagem e semelhança de Deus. A participação das mulheres no movimento de Jesus não se pode reduzir ao eco que encontra entre os pobres. A superação das estruturas patriarcais está presente na proclamação do reino de Deus e, portanto, a mulher se sente interpelada enquanto mu- lher. O Deus de Jesus restitui sua dignidade para as mulheres, como aos homens. A esta luz, devemos entender a proibição absoluta do divórcio. A mesma pergunta: "pode o marido repudiar a sua mu- 71© Para uma ética sexual Cristã lher?", mostra já a vantagem do homem. A antiga lei permitia o divórcio “por causa da dureza do vosso coração," pela vossa men- talidade patriarcal enraizada. Mas para Jesus as coisas têm que ser de outra forma. "Deus os fez macha e fêmea. Por isso, deixará o homem a seu pai e a sua mãe, e os dois serão uma só carne. O que Deus uniu, não o separe o homem”. O objetivo final das palavras de Jesus não é estabelecer uma lei e muito menos, uma casuística, mas denunciar uma lei injusta que discrimina a mulher, e promo- ver a relação entre pessoas iguais. Daí que a falta do homem que abandona a sua mulher e se une com outra não consista em crime contra o proprietário da que ele tomou, mas na injustiça cometida contra a que ele abandonou, que não é um mero objeto de posse, mas um sujeito pessoal, com quem se estabelecem relações recí- procas (cf. MC10, 11; Mt e 19,9 Mt 5, 32, Lucas 16:18). Isso expli- ca a reação absolutamente machista dos discípulos diante destas palavras tão novas de Jesus: “se assim é a condição do homem relativamente à mulher, não convém casar” (Mt 19:10) (NAVARRO, 1996, p. 171-172). A reciprocidade total das relações entre homens e mulheres, com base na igualdade de sua condição pessoal e diante de Deus, é uma novidade que Jesus introduz e era conhecida por ter profun- das repercussões históricas. A mulher na comunidade primitiva Parece oportuno completar esse percurso seguindo a viagem pelos Atos dos Apóstolos e por algumas cartas, para compreender melhor o caminho empreendido por Jesus e as dificuldades que surgiram nas primeiras comunidades cristãs. Desde o início, há mulheres missionárias da Palavra de Deus, trabalhando, arduamente, com os homens cristãos. Mulheres sol- teiras, viúvas e casadas, que entregaram as suas casas como as primeiras igrejas domésticas. © Ética da Família do Amor e da sexualidade72 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Pelas cartas de Paulo conhecemos a Afia, que, juntamente com Filemom e Arquipo, era líder de uma igreja em Colossos (cf. Filemom 1-2); Ninfa tem uma igreja em Laodicéia, em sua casa (cf. Col 4,15) , Priscila, com seu marido, Áquila, são os cabeçasde uma igreja em Éfeso, em primeiro lugar (cf. 1 Cor 16,19), e depois em Roma, (cf. Rom 16,3-5), Lídia foi a primeira convertida em Fi- lipos, e parece que em sua casa havia uma igreja doméstica (cf. Atos 16:15). Da igreja da cidade de Filipos, conhecemos os nomes de duas mulheres, Evodia e Síntique, que deviam ser muito im- portantes, porque São Paulo se preocupava com as repercussões que poderiam ter para a comunidade a rivalidade que surgiu en- tre elas (cf. Filipenses 4,2-3). O casal Priscila e Áquila precedeu a Paulo na tarefa missionária, colaborou com o apóstolo, mas nunca foram subordinados a ele. Eles são mencionados por sete vezes, e em quatro vezes se nomeia em primeiro lugar à mulher (cf. 1 Cor 16,19, Rm 16,3-5, 2 Tim 4,19, Atos 18, 2-3.18.26). Além disso, Priscila é sempre nomeada pelo seu nome e não pelo nome de seu marido. Priscila e Áquila aparecem em Corinto, Éfeso e Roma. O Apóstolo saúda a quatro mulheres de Roma (Maria, Trifena, Trifosa e Pérsida), em que diz que “trabalharam arduamente no Senhor” (Rom 16,6-12). Uma mulher, Júnia, é chamada apóstola sem quais- quer restrições. Paulo a saúda juntamente com Andrônico, prova- velmente seu marido, que lhes diz que são cristãos e missionários antes dele mesmo (cf. Rom 16:7). Saúda a outros dois casais (Filó- logo e Júlia, Nereu e sua irmã), que provavelmente também são dois casais, talvez igualmente missionários (cf. Rom 16:15). Não somente temos o caso de Priscila e Áquila, mas sabemos que os irmãos do Senhor e Cefas iam a suas missões acompanhados por suas esposas (cf. 1 Cor 9:5). Finalmente, devemos mencionar uma mulher, Febe, que é provavelmente a portadora da carta aos Ro- manos, da qual Paulo diz que é diaconisa e patrona ou presidente da Igreja de Cencreia (o porto de Corinto, cf. Rom 16,1-2). Quando chama Febe de diaconisa não é correto entendê-lo como se tratas- se de uma função da igreja, por exemplo, para servir os pobres, os 73© Para uma ética sexual Cristã doentes e ajudar a vestir e despir as mulheres no seu batismo. Esta seria, em séculos mais tarde, o papel das diaconisas. Mas, no sen- tido Paulino o diácono é responsável por toda a igreja e envolve o ofício eclesiástico de missões e de ensinos. (Fonte: MERCABÁ. Web Católica de Formación y Infomación. Disponível em: <http://www. mercaba.org/FICHAS/HM/724.htm>. Acesso em: 7 set. 2010). Como se vê, no movimento missionário cristão, encontramos muitas mulheres e que são muito ativas. Aparecem, às vezes, tra- balhando em conjunto com Paulo, ensinando como missionárias itinerantes; elas são designadas apóstola, diaconisa, protetora ou dirigente. Nesta época, encontramos mulheres em todos os minis- térios e responsabilidades eclesiais mencionadas. Elas levaram a sério o chamado de Jesus e suas vidas mudaram para sempre. Mas há alguns acontecimentos muito infelizes que marcam uma regressão em relação à posição da mulher na igreja, como “as mulheres estejam caladas nas igrejas” (1 Cor 14,34-36), ou que “elas não ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio” (1 Tm 2,11-15). Isso nos lembra da importância de estudar com uma boa exegese, que nos ajuda a compreender os textos. Informação Complementar: –––––––––––––––––––––––––––– Aconselhamos você a ler todo o artigo que apresenta Mercaba em seu site, dis- ponível em: <http://www.mercaba.org/FICHAS/H-M/724.htm>. Acesso em: 7 set. 2010. Lá você poderá aprofundar entre outras coisas, também as questões do celibato, do casamento e da homossexualidade na época das primeiras comu- nidades. Também poderá investigar em Esperanza Bautista, A mulher na igreja primitiva, Verbo Divino, Navarra 1993. Elisabeth Schüssler Fiorenza, Misssionárias, após- tolas, colaboradoras: Rm 16 e a primitiva história cristã das mulheres, em Ann Loades (ed.) “Teologia Feminista”, Descée de Brouwer, Bilbao 1997, 88-106. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Muitos estudiosos bíblicos estudaram as razões para essas frases. Alguns argumentam que são um claro retrocesso à socieda- de patriarcal, que nada têm a ver com o projeto de Jesus e estão mais condicionadas por seu contexto, no qual há um claro desejo de ser aceitos pela sociedade e pelo Estado, assim vão cedendo © Ética da Família do Amor e da sexualidade74 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO aos costumes patriarcais. Gradualmente, a mulher volta a ser vista com desconfiança e, portanto, relegada. Felizmente, hoje já não consideramos como “o mandamento de Deus” que “a mulher não fale na igreja” ou “elas não ensinam”, como aparecem nas cartas. Fomos capazes de superar essas in- terpretações literais; mas, quantas outras mais estão faltando? Só Deus sabe. Para isso, devemos nos voltar novamente para o foco sobre a ética de Jesus para com as mulheres, que foi sua atitude central e seus comportamentos relacionados a elas. As normas sexuais na Bíblia Como você já sabe, a formação da Bíblia foi gradual, a pala- vra de Deus foi manifestando dentro de um determinado contexto, em uma cultura que levava consigo as suas grandezas e limitações. Antes de passar à escrita, durante séculos, as tradições foram orais, e com o passar do tempo, as histórias foram relidas e com- plementadas a partir de outro contexto. A própria comunidade foi o primeiro lugar onde Deus se manifestou, uma comunidade viva que em um momento determinado decide modelar sua experiên- cia com Deus de forma escrita. Portanto, devemos nos lembrar de que a comunidade foi a primeira a sancionar o que era bom ou ruim, de acordo com seu ideal de continuar sendo Povo de Deus. As normas bíblicas vão emergindo de todo um fundo de cultura, em grande medida alheia à nossa cultura. E que um ato não é bom ou ruim porque a Bíblia diz, mas ao contrário: a Bíblia sanciona como ruim o que a própria sociedade vê como ruim. (BONETTI, 1994, p. 166). A normativa sexual bíblica ocupa um lugar pouco relevante na Bíblia. Trata-se de condutas mínimas e fundamentais, que esta- belecem uma ordem social de convivência harmoniosa. A violação a essas condutas são muito severas e isso concorda com o objetivo: o bem-estar de todos na comunidade do povo de Deus. Sabemos que a lei fundamental do povo de Israel é a Tora e nela o Decálogo 75© Para uma ética sexual Cristã (Os Dez Mandamentos), resume o que o povo deve cumprir depois da Aliança com Deus. O Decálogo é o compromisso da Aliança, a sua violação significa desgraça. Aqui estão algumas regras na Bíblia: O adultério O Decálogo possui duas partes: uma correspondente à rela- ção com Deus e a outra, a relação entre os homens da comunida- de. Os relacionados com Deus marcam a necessidade de manter a fidelidade no único Deus que nos libertou, por isso, não é per- mitida a adoração a outros deuses, nem é admitida a prostituição sagrada, tal como era praticada em outras religiões. A prostituição sagrada é proibida não por ser um pecado sexual, mas por ser um ato de idolatria a outros deuses. Há muitas passagens que lem- bram este mandamento: cf. Deut 23,18-19; Lev 19,29, 21,19, etc. Na outra parte do Decálogo, que fala do modo de se relacio- nar na comunidade, são tradicionalmente considerados dois man- damentos que têm a ver com o nosso ponto: as normas sexuais, o sexto e o nono. Na verdade, o nono, “não cobiçarás a mulher do teu próxi- mo” não é apresentado como um pecado sexual, mas de cobiça. Observe o que o mesmo texto diz: “não cobiçarás a casa do teu próximo; não cobiçaras a mulher do teu próximo, nem seu servo” (Êx. 20,17). No livro de Deuteronômio também aparece assim, mas trocada a ordem: “não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem a sua casa, nem o seu campo” (Deut 5:22). Em suma, o que o tex- to manda é não cobiçar o que não é seu. Considere que, naquela época, a mulher era vista como propriedade do homem. Portanto, não é um pecado sexual, mas de cobiça. Em contraste, um outro mandamento: “não adulterarás” (Ex 20, 14, Deut 5, 18), éuma proibição que pesa sobre o exercício da sexualidade. Aqui também o pecado gira em torno da convivência. O adultério é proibido, não por ser um ato sexual, mas por violar os direitos do marido ofendido. © Ética da Família do Amor e da sexualidade76 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO Na Bíblia encontramos castigos e consequências tremendas de ser violada esta lei. Também é impressionante ver que os filhos de uma relação proibida são desprezados pela própria comunida- de (cf. Eclo. 23,16-27) e que a infidelidade conjugal é punida com a morte (cf. Lev 20, 10, Deut 22, 22). Para os judeus o noivado era muito semelhante ao casa- mento e, era visto como um casamento; por isso, se algum dos noivos comprometidos fosse infiel, sofria o mesmo castigo que os casados. Esta lei de morte sobre quem comete infidelidade ainda é praticada mesmo no tempo de Jesus, como mostra o texto de João 8,1-11, quando lhe apresentam uma mulher adúltera e perguntam a Jesus: “esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando. E na lei nos mandou Moisés que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes?” Na Bíblia, as normas são sempre religiosas, mas estão rela- cionadas às normas sociais da época. Um exemplo dessas normas sociais aparece em um ritual muito estranho para comprovar se a mulher foi infiel ou não (cf. Núm 511-29). Outra norma de origem social muito praticada nos tempos antigos era manter as mulheres virgens até o casamento. Assim que se desenvolviam sexualmente, as casavam rapidamente. Após a noite de núpcias, os pais ficavam com os lençóis manchados de sangue, prova da virgindade de sua filha. Isso servia, caso houvesse falsas acusações por parte do noi- vo (cf. Deut 22,13-21). A virgindade do homem não era muito im- portante socialmente, mas a da mulher sim. O estupro No caso do estupro da mulher, a lei distingue duas situações: uma virgem desposada (na qual se considera também a possibili- dade de adultério), e uma virgem que não está comprometida. No primeiro caso, por sua vez, existem diferenças: se a vio- lação ocorreu na cidade ou no campo. Se fosse na cidade, con- sidera-se que houve adultério, ou seja, a mulher foi cúmplice do 77© Para uma ética sexual Cristã estuprador, pois ela poderia ter gritado e não o fez (cf. Deut 22,23- 24). No caso do campo, não há culpa, pois presume-se que não há ninguém para poder ouvi-la (cf. Deut 22,25-26). A lei obriga a mulher a pedir ajuda, se considerar que na cidade era fácil ouvir gritos. Não pense em uma cidade como as nossas, mas sim um lugar pequeno, onde todos se conhecem e estão pró- ximos. Isto sugere como ainda hoje há algumas crenças que a maioria das mulheres, se foram estupradas, têm alguma respon- sabilidade. É importante observar o fato de que o estupro, para as leis da Bíblia, não é um delito grave, salvo em caso de sua possibilida- de de adultério, em que o homem, noivo ou marido, é caluniado por ter tomado o que é seu: a mulher. No segundo caso, uma jovem não comprometida, quem é le- sado é o pai, por isso, o que a abusou deverá pagar por seus danos e casar-se com a jovem sem possibilidade de repudiá-la (cf. Deut 22,28-29; Êx 22 15-16). No Antigo Testamento há muitas prescrições ou exigências de estilo ritualístico que têm a ver com a sexualidade humana. Ou seja, ações que convertem à pessoa pura ou impura. O estado de impureza, para o povo de Deus, era considerado, não como um pecado, mas um estado de marginalização, no qual não se podia visitar o templo, ou cumprir com alguns ritos tradicionais. Veja alguns exemplos: 1) A menstruação, perda de sangue, deixa a mulher imun- da por sete dias e tudo o que ela tocar se torna imundo (cf. Lev. 15:19). No caso de uma relação com uma mulher menstruada, sabendo o homem desta condição, a puni- ção é a morte (cf. Lev. 20:18). Também a ejaculação do homem o torna imundo e tudo o que toca é imundo (cf. Lv 15,18). 2) O parto torna a mulher imunda (cf. Lev. 12,1-5), e o tem- po de impureza varia se nasceu um menino ou uma me- nina. © Ética da Família do Amor e da sexualidade78 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO 3) O ato sexual torna a ambos imundos por um certo tem- po (cf. Lev. 15,18). 4) São especificados os graus de parentesco que proíbem as relações sexuais (cf. Lev. 18,6-18). Estes códigos de moral sexual estão intimamente relaciona- dos com os costumes das culturas vizinhas. As práticas homosse- xuais são proibidas (cf. Lev. 18,22, Juí. 19,22-23); a bestialidade (cf. Lev 18,23), o incesto (cf. Lev. 20:04), a prostituição (cf. Lv 21 , 7; Dt 23,18-19). No Novo Testamento, as regras são do puro e do imundo e são interpretadas de forma diferente: o que faz um homem imun- do é o que sai do seu coração. Lembre-se das palavras de Jesus quando ele é acusado de não cumprir as normas estabelecidas (cf. Mac. 7,20-23). Jesus passou de uma interpretação ritualística a uma interpretação de responsabilidade ética-chave. Podemos ver que em um todo, o Novo Testamento contém a doutrina dos primeiros capítulos de Gênesis sobre a sexualidade, insiste na igualdade e na complementaridade entre o homem e a mulher. E não se esqueça do tema que vimos anteriormente, de como Jesus recupera eticamente à mulher. Lembra-nos do padre Mifsud, que, nas cartas do Novo Tes- tamento, faz referência aos pecados da sexualidade, no entanto, esses pecados não ocupam um lugar de maior importância dentro das preocupações que aparecem nos escritos. Eles aparecem den- tro das categorias de virtudes e vícios. Nos catálogos de vícios, se destaca a idolatria, a impureza e a cobiça (cf. Rom 13,13 de 1 Co- ríntios 5, 9-11, 2 Coríntios 12,20-21; Gal 5,19-21; Ef 5,5 , Col 3,5-9, 1 Tim 1, 90-10, Apoc 9,20-21). Os pecados da sexualidade que aparecem em algumas car- tas são: • As relações fora do casamento e o adultério (cf. 1 Cor 6,12-20; Heb 13:4). 79© Para uma ética sexual Cristã • A homossexualidade (cf. Rom 1,26-27) é vista aqui como um estado de “injustiça” dos gentios, porque eles se recu- sam à ordem estabelecida por Deus. Como a nossa tarefa não consiste em entrar no estudo da moral sexual concreta, não podemos aprofundar este tema tão atual no nosso tempo. Mas é preciso esclarecer aqui que a homossexuali- dade era uma prática vista em alguns ritos pagãos, por isso, tam- bém está relacionada com a idolatria. Ou seja, o ato sexual tinha a ver com a idolatria e, portanto, não se podia reconhecer ao Deus único e verdadeiro. Além disso, se aparece no Antigo Testamen- to a condenação à homossexualidade, tem muito a ver com uma sociedade patriarcal que condena aos homossexuais por querer transformar-se sexualmente em um ser inferior, lugar que ocupa a mulher unicamente. Em suma, as normas sexuais que aparecem na Bíblia devem ser interpretadas no contexto. Elas representam os valores morais que o povo devia viver. Era uma sociedade, com exigências e con- siderações diferentes à nossa. Para ser mais claro, volte a ler em Moral Fundamental, a re- lação que há entre valores, normas e julgamentos. Lembre-se de que somente é objeto de valorização moral a ação livre da pessoa, o ato que realiza o valor; e que o juízo moral de uma ação deve ter em conta as limitações ligadas ao valor, além de considerar que os outros valores possam entrar em concorrência. A construção da escala de valor nunca é estática, porque respondem a citações concretas. Portanto, as normas que aparecem na Bíblia respondem a juízos morais que têm a ver com uma construção de valores deter- minada pela mesma sociedade ou por uma pessoa concreta. Por exemplo, “que as mulheres estejam em silêncio e não ensinem”, é uma regra proposta que considera mais importante (valor) a acei- tação da religião ao Império e coloca em segundo plano (valor) as consequências das atitudes de Jesus com as mulheres. Para en- tender um pouco, temos que compreender a época em que isto acontece. © Ética da Família do Amor e da sexualidade80Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO As normas sexuais que aparecem na Bíblia devem ser estudadas seriamente a partir dos valores que se queriam viver naquela épo- ca. 5. CONSIDERAÇÕES Para finalizar esse assunto, podemos dizer que, em geral, a Bíblia tem uma visão positiva da sexualidade. Quando encontra- mos passagens sobre as normas sexuais, podemos ver que elas estão relacionadas com os rituais e os tabus e outros interesses, como o homem superior à mulher. Há uma evolução que aparece no Novo Testamento: a importância de relacionar as normas com uma ética de responsabilidade. As normas em geral devem servir para crescer e desenvol- vermos como pessoas humanas. Elas estão relacionadas aos va- lores que defendemos e sustentamos. As regras devem expressar esses valores, mas são regras que não fazem sentido de ser. Em relação às normas sexuais, vivemos hoje um tempo de crise, em que muitas pessoas desafiam o sentido dessas normas. Acreditamos que, se elas estão sustentadas pelo valor da pessoa, pela sua dignidade, seriam normas libertadoras e necessárias para o crescimento pessoal de cada um e de todos em sociedade; mas se não for fundamentada nos valores que correspondem à situa- ção concreta que vivemos hoje, não servirão. As crises que enfrentamos hoje da moral sexual se concre- tizam em larga medida com a crise das normas sexuais. Não se pode continuar a apresentar as regras de como se fazia em outra época e em outro contexto. Uma moral renovada segue o espírito do Concílio Vaticano II e leva a repensar e dar uma boa justificativa às normas sexuais que hoje se propõem. Ninguém duvida de sua necessidade! 81© Para uma ética sexual Cristã Em suma, as regras devem expressar o modelo moral e a an- tropologia que nós temos. Devem expressar e formular a valoriza- ção moral dentro de um marco de função dinâmica e pedagógica. Deixamos aqui algumas ideias que podem ajudar o seu tra- balho pastoral atual ou futuro: 1) A pastoral deve ser evangelizadora, e esperançosa, ou seja, transmitir a mensagem de Jesus, que é, acima de tudo, uma mensagem com implicações éticas. 2) Deve assumir a complexidade da vida atual, reconhecer a autonomia das realidades terrenas e aceitar que “não podemos ter um diagnóstico ou terapia padrão”. 3) Você também deve aproveitar da cultura em que vive, sem saltar por cima dela, das mediações sociais, dos avanços científicos e “de se expor a tarefas hermenêu- ticas constantes.” Lembramos que a mensagem de Deus foi transmitida e condicionada pelo tempo e espaço. 4) A ação pastoral deve partir da realidade, isto é, do mun- do em que vivemos, com seus tempos de mudanças e crises, de descobertas e crescimentos. Suas alegrias e frustrações. Aceitar a realidade é o primeiro passo que devemos realizar. Não como um ato de desgraça, mas com uma atitude de diálogo e abertura. 5) É fato que também dentro de nossas comunidades, há pessoas que não conhecem a mensagem do Evangelho. Para elas são mais importantes as regras e as normas sem uma referência aos valores decorrentes de uma lei- tura séria dos Evangelhos. No fundo estão apoiados e sustentados por uma antropologia rigorista, que projeta uma moral com as mesmas características. É necessário recentrar a mensagem cristã. Existe uma hierarquia de verdades e de consequências éticas que é necessário voltar a repensar. 6) O destinatário da evangelização é a pessoa, que é amada e querida por Deus. A condição pessoal é atravessada por sua realidade dinâmica e evolutiva. Por isso, é im- portante notar que não se pode inculcar valores e ati- tudes de adultos em crianças e jovens: cada etapa deve © Ética da Família do Amor e da sexualidade82 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO ser respeitada, e isso o trabalho pastoral deve levar em conta. Como diz Albuquerque (2002, p. 307), “O conhe- cimento das diferentes etapas evolutivas permite, no entanto, ajustar a educação moral às referidas etapas”. 7) O que se busca com a educação é brindar elementos para que cada um dos indivíduos busque seu caminho pessoal em direção a Deus, descubra suas virtudes e queira me- lhorar como pessoa, no seu processo pessoal de huma- nização. Por conseguinte, é importante estimular a sua capacidade crítica e refletir diante de algumas propostas éticas que escondem um olhar utilitarista e de mercado da pessoa e, em particular, da sua sexualidade. 8) Em relação ao anunciante, ao que executa o trabalho pastoral, deve saber que sua missão é muito importante e que se deve ter muito cuidado ao julgar com gestos e palavras, os comportamentos das pessoas. Sua mensa- gem é de misericórdia, tem uma visão positiva da pessoa e deve celebrar a vida em todas as suas manifestações. 9) Seguindo Albuquerque (2002, p. 319), Se a sexualidade deve ser educada, o esforço educativo e a ação pastoral tenderão a situar-se neste horizonte pessoal de integra- ção e humanização. A partir dessa perspectiva humanizadora será capaz de compreender o valor da sexualidade e do sentido de seu crescimento e desenvolvimento; será capaz de fornecer os princi- pais critérios éticos, que fornece uma moral propriamente huma- nizadora. Por fim, ficamos com a proposta feita pelo Padre Miguel Yañez em suas aulas, em um marco de “algumas estratégias” na pastoral: Miguel Yañez: O Padre jesuíta Miguel Yañez, é doutor em teologia moral e ensino na faculdade de teologia de San Miguel, em Bue- nos Aires, Argentina. Disponível em: <http://www.aceja.org/docu- mentos/yanezsj.doc>. Acesso em: 7 set. 2010. • A análise da realidade: estar ciente das correntes massifi- cadoras por meio da propaganda, ou da opinião pública, que exerçam pressão sobre o indivíduo. Promover o co- 83© Para uma ética sexual Cristã nhecimento pessoal e a valorização dos relacionamentos interpessoais. Proporcionar uma compreensão das dinâ- micas próprias da sexualidade humana, de suas potencia- lidades e de suas limitações e riscos. • Aprofundar em uma antropologia unitária e solidária: ambos aspectos se reforçam mutuamente. As dicotomias incentivam os individualismos; o projeto social expande os horizontes da pessoa, convida-a a superar seu auto- centrismo. Daí a conveniência de promover o altruísmo, mediante tarefas de cooperação, voluntariado etc., que ajudem a fazer contato com os marginalizados da socie- dade de consumo e expandem os horizontes estreitos da mera autogratificação. • A compreensão da vocação cristã ao amor como realiza- ção plena da humanidade. O cultivo da amizade, promo- vendo o diálogo e a comunicação, conhecimento e educa- ção afetiva. Criar espaços em que o adolescente e o jovem possa se expressar sem ser julgado, em que tenha a opor- tunidade de debater abertamente as suas ideias e de par- tilhar as suas experiências com confiança; só assim será possível educar, ou seja, promover um crescimento em autoconsciência e liberdade. Portanto, de vez em quando, algum exercício de tomada de decisão fundamentada em possíveis condutas e desafios que a sociedade contem- porânea apresenta ao adolescente e ao jovem, pode ser pedagogicamente eficaz, de forma que sua atuação possa ser o resultado de uma deliberação consciente e não dos diferentes modos de massificação que costumam nos ar- rastar. Desejamos que tenha aproveitado e entendido o estudo da terceira unidade. Para resumir peço que releia cuidadosamente o que foi apresentado nesta unidade. © Ética da Família do Amor e da sexualidade84 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Esperamos que você tenha desfrutado do caminho que per- corremos juntos. Queira Deus que lhe sirva na vida e no seu ca- minho que você empreendeu. Não fique somente nisto, mas que esse conteúdo seja um motivo para que continue estudando e aprofundando os temas de moral sexual. Não se esqueça de que sempre que apresentar uma questão da moral sexual,ou que você estudar um autor sobre a moral sexual, você deve perguntar que antropologia sustenta seu discurso, como de que moral sustenta sua proposta ética sexual. É muito importante que isso esteja cla- ro! Esperamos também que sua visão ética sobre a sexualidade se caracterize por ser: • Totalmente cristã: isto é, seguindo a proposta de Jesus, vendo e conhecendo as suas atitudes e os seus comporta- mentos em relação à sexualidade. A partir dele, observe todo o proceder dos livros restantes da Bíblia, tendo em conta o estudo da hermenêutica para entender melhor. • Reconhecer a contribuição das ciências modernas: elas nos ajudam a compreender melhor a sexualidade huma- na. Não se esqueça de que é preciso ver a realidade a par- tir de diferentes pontos de vista para poder fazer bem um juízo de valor. • Procurar o diálogo também com outras teologias: para que seja completo o olhar sobre a sexualidade; também aqui, esperamos que você busque o diálogo ecumênico, tal como proposto pelo Concílio Vaticano II: junto com as demais igrejas caminhamos rumo ao encontro com Cris- to. • Positiva e não rigorosa: que você leve em conta a beleza da criação de Deus e que busque sempre dar uma mensa- gem de amor para com os outros. 85© Para uma ética sexual Cristã • Misericordiosa: na qual você lembre a própria misericór- dia de Deus para com os seres humanos. • Responsável: que você cuide de seus próprios pensamen- tos e ajude os outros a crescer na liberdade e na respon- sabilidade ética, especialmente nas questões da sexuali- dade. Lembre-se de que o mais importante é o amor, o resto, é subordinado a ele.
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