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Evangelhos Sinoticos 3

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Prévia do material em texto

EA
D
3
A Hipótese de "Q" - A 
Fonte dos Ditos de 
Jesus
1. ObjetivOs
•	 Entender	o	que	é	a	hipótese	da	Fonte	Q.
•	 Compreender	a	reconstrução	da	Fonte	Q	.
•	 Identificar	a	relevância	do	estudo	da	Fonte	dos	Ditos	para	
a	aproximação	do	contexto	imediato	posterior	à	morte	de	
Jesus,	no	qual	estavam	inseridas	as	primeiras	comunida-
des	cristãs.
•	 Indicar	a	relevância	da	Fonte	dos	Ditos	para	a	reconstru-
ção	do	Jesus	Histórico	e	das	primeiras	comunidades	cris-
tãs.
•	 Mostrar	a	relação	entre	Fonte	dos	Ditos	e	os	Sinóticos.
2. COnteúdOs
•	 Gênese	da	hipótese	Fonte	Q:	datação,	 lugar	de	origem,	
gêneros	e	formas	literárias.
© Evangelhos Sinóticos
 Claretiano - REdE dE EduCação
100
•	 Estudos	recentes	sobre	Q.
•	 Conclusões	 do	 pesquisador	 John	 Kloppenborg	 sobre	 a	
Fonte	dos	Ditos	e	as	reações	de	seus	debatedores.
3. Orientações para O estudO da unidade
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade,	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:
1)	 Para	que	esse	aprendizado	seja	construído	de	modo	sa-
tisfatório,	tenha	em	mãos	uma	bíblia	e	confira	as	refe-
rências	que	serão	utilizadas.
2)	 Leia	atentamente	a	unidade	e,	a	seguir,	formule	uma	sín-
tese	com	seus	principais	pontos.
3)	 Após	ter	lido	os	conteúdos	que	dizem	respeito	à	Fonte	
Q,	estabeleça	a	relação	entre	ditos	de	sabedoria	e	mol-
duras	narrativas,	as	"creias".		Mas	atenção	à	diferencia-
ção	entre	um	e	outro!
4)	 Busque	perceber	a	relação	entre	as	tradições	teológicas	
da	hipótese	de	Q	e	os	possíveis	grupos	que	a	constituí-
ram,	considerando-as	como	"espelhos"	dessas	comuni-
dades.
5)	 Como	exercício	exegético,	 leia	 trechos	dos	Evangelhos,	
especialmente,	Mateus	e	Lucas	e	identifique	ditos	de	sa-
bedoria	atribuídos	a	Jesus	e	versos	que	correspondem	a	
narrativas	formuladas	pela	autoria	dos	evangelhos.
6)	 Como	 importante	 leitura	 de	 referência	 a	 respeito	 dos	
conteúdos	apresentados	nesta	unidade,	sugerimos	o	ar-
tigo	de	periódico:	Woodruff,	Archibald	Mulford.	A	fonte	
Q	nas	margens	do	mundo	literário.	 In:	Estudos da Reli-
gião 22	(2002):	p.	37-71.
7)	 Saiba	mais	a	respeito	do	Evangelho	de	Tomé	no	tópico	
Leitura complementar.	Além	disso,	você	pode	consultar:	
MEYER,	Marvin.	O Evangelho de Tomé. As sentenças de 
Jesus.	Rio	de	Janeiro:	Imago,	1993.	
8)	 Para	enriquecer	seu	conhecimento	a	respeito	da	Fonte	
Q,	 confira	WooDRuFF,	 Archibald	Mulford.	A Fonte Q 
101© A Hipótese de "Q" - A Fonte dos Ditos de Jesus
nas margens do mundo literário.	p.	51.	Alguns	estudio-
sos	defendem	que	Q,	assim	como	outras	fontes	antigas	
do	 judaísmo,	misturam	gêneros.	Confira	ALLISoN,	Dale	
C.	Jr.	The Jesus Tradition in Q.	Pennsylvania:	Trinity	Press	
International,	2000.	p.	42.
4. intrOduçãO à unidade
Na	unidade	anterior,	procuramos	formular	as	principais	hipó-
teses	de	formação	dos	Sinóticos,	mostrando	sua	interdependência	
em	relação	ao	Evangelho	de	Marcos.	Tivemos	a	oportunidade	de	
ver	como	os	Sinóticos	são	relevantes	para	a	compreensão	das	ori-
gens	cristãs.	Nesta	unidade,	vamos	estudar	a	Hipótese	da	fonte	Q,	
mais	conhecida	como	"Fonte	dos	Ditos"	ou	"Fonte	Q".	Também,	
nesta	unidade,	usaremos	as	designações	Fonte	dos	Ditos	e	Hipóte-
se	de	Q	por	nos	parecerem	mais	adequadas	ao	contexto	brasileiro.		
É	importante	entender	que	a	Fonte	dos	Ditos	é,	ainda,	uma	
hipótese,	mas	as	publicações	que	versam	sobre	ela	têm,	cada	vez	
mais,	alcançando	notoriedade	em	função	dos	argumentos	sólidos	
que	 os	 estudiosos	 dessa	 fonte	 têm	 apresentado.	 Assim,	 tomar	
conhecimento	desta	discussão	pode	 fornecer	 relevante	conheci-
mento	que	subsidiará	a	aproximação	dos	Evangelhos	Sinóticos	e,	
consequentemente,	das	origens	da	cristandade.
5. Gênese da hipótese Fonte Q – a Fonte dos di-
tOs de jesus
De	acordo	com	o	estudioso	alemão	Johann	Jacob	Griesbach	
(século	18),	os	materiais	de	Mateus,	Marcos	e	Lucas	estruturam-se	
de	maneira	semelhante	em	conteúdo,	enfoque	e	sequência	geo-
gráfica	 (THEISSEN,	2002).	Por	 isso,	Griesbach	denominou	os	 três	
evangelhos	 "Evangelhos	 Sinóticos",	 porém	 negou	 a	 hipótese	 de	
uma	fonte	de	declarações	de	Jesus	extracanônica.	
© Evangelhos Sinóticos
 Claretiano - REdE dE EduCação
102
Griesbach	aceitava	a	hipótese	mais	antiga	segundo	a	qual	o	
livro	de	Mateus	tem	prioridade.	Assim,	Marcos	e	Lucas	seriam	de-
pendentes	de	Mateus	e	o	teriam	sintetizado.	Essa	hipótese	foi	re-
centemente	defendida	por	Willian	R.	Farmer,	mas	não	encontrou	
muito	apoio	entre	os	estudiosos	da	Bíblia	(KÖester,	2005,	p.	49).
o	primeiro	a	propor	a	existência	de	certa	coleção	de	decla-
rações	de	Jesus	que	teria	sido	incorporada	aos	Evangelhos	foi	Frie-
drich	Schleiermacher	(1768-1834).	Sua	proposta	ficou	conhecida	
como	"hipótese	do	fragmento"	e	afirmava	que	a	forma	mais	an-
tiga	dos	Evangelhos	era	constituída	por	diversos	fragmentos	que	
colecionavam	tradições	sobre	Jesus.	Tal	proposta	assemelhava-se	
a	hipótese	das	Duas	Fontes,	explicitada	na	unidade	1,	já	que	pro-
punha	a	existência	de	uma	coleção	específica	de	Ditos	de	Jesus	e	
outra	de	histórias	e	milagres	(KÖester,	2005,	p.	49).	
Segundo	 a	 hipótese	 das	 Duas	 Fontes,	 proposta	 de	 modo	
completo	 em	 1838	 por	 Christian	 Gottlob	Wilke	 e	 Christian	 Her-
mann	Weisse	(1998,	p.	1-96),	Mateus	e	Lucas	utilizaram	material	
marcano	 para	 escrever	 seus	 evangelhos.	 Assim,	 considerou-se	
Marcos	o	evangelho	mais	antigo	e	que	foi	usado	tanto	por	Mateus	
como	por	Lucas.	Quanto	aos	paralelismos	entre	Mateus	e	Lucas,	
independentes	da	fonte	Marcos,	foram	explicados	com	base	na	hi-
pótese	da	existência	de	certa	fonte	autônoma,	constituída	quase	
que	exclusivamente	por	ditos	de	Jesus;	daí	o	surgimento	da	Fonte	
dos	Ditos	de	Jesus	(WEISSE	apud	SCHWEITZER,	1998).
Por	 volta	do	 século	19,	essa	 fonte	passou	a	 ser	 conhecida	
como	"Q"	–	abreviatura	de	Quelle,	que	em	alemão	significa	"fon-
te",	por	isso	Fonte	Q.	A	tradução	de	epíteto	para	o	português,	por-
tanto,	 seria	 "Fonte	 fonte".	Em	razão	dessa	designação,	no	Brasil	
e	na	América	Latina,	os	nomes	mais	conhecidos	são:	"Fonte	Q";	
"Fonte	dos	Ditos"	ou	"Fonte	das	sentenças	de	Jesus".	
datação 
A	Fonte	dos	Ditos	possui	aproximadamente	250	versos	co-
muns	em	Mateus	e	Lucas	que	são	declarações	(logias)	de	Jesus.	É	
103© A Hipótese de "Q" - A Fonte dos Ditos de Jesus
datada	entre	os	anos	40	e	55	EC.	Contudo,	essa	datação	não	en-
contra	consenso	entre	os	pesquisadores.	Parte	desse	material,	mas	
não	todo,	é	constituído	por	ensinos	que	demonstram	alto	grau	de	
paralelismo	verbal.	Essa	característica	é	importante,	pois	possibi-
lita	a	hipótese	de	ser	uma	fonte	alternativa	escrita	em	aramaico/
hebraico	que	se	diferencia	dos	outros	ensinamentos	de	Jesus	con-
tidos	nos	Sinóticos,	principalmente	quanto	à	 forma.	A	discussão	
em	torno	da	redação	de	Q,	identificação	de	estilos,	do	redator	ou	
dos	evangelistas,	é	contemplada	pelo	grupo	de	pesquisas	The In-
ternational Q Project. 
a divisão da Fonte dos ditos 
Para	John	S.	Kloppenborg	(1987,	p.	88-101)	e	Leif	Vaage,	a	
Fonte	dos	Ditos	divide-se	em	três	estratos	com	comunidades	de	
tradições	 religiosas	 e	 teologias	 diferenciadas,	 que	 assim	 foram	
classificadas:	
•	 Q1:	estrato	sapiencial.
•	 Q2:	estrato	de	tradição	profético-apocalíptica.
•	 Q3:	estrato	formado	pela	narrativa	da	tentação,	própria	
de	Lucas	4.	
De	acordo	com	esses	pesquisadores	que	compõem	a	Escola	
de	Claremont,	o	estrato	Q1	constituiu-se	a	base	de	creias.	
E	o	que	são	"creias"?
A	creia	era	utilizada	como	aforismo	no	sentido	de	máxima	
de	sabedoria,	isto	é,	era	uma	frase	simples	que	trazia	um	princípio	
para	algum	ensino.	A	creia	geralmente	era	atribuída	a	uma	autori-
dade	e	era	acompanhada	por	elementos	característicos.	As	creias	
eram	 pequenas	 anedotas,	 centradas	 em	 uma	 personagem,	 em	
que	a	ênfase	recaía	sobre	as	palavras	faladas	pela	personagem	em	
uma	determinada	situação,	ou,	eventualmente,	de	uma	ação	da	
personagem.	Elas	serviam	muito	bem	ao	estudo	da	filosofia	cínica	
e	outras	manifestações	mais	populares	de	filosofia,	mas	também	
© Evangelhos Sinóticos
 Claretiano - REdEdE EduCação
104
para	generais	e	políticos.	uma	forma	rudimentar	da	creia	pode	ser	
encontrada	na	Fonte	Q	(Woodruff,	2003).	
Também é possível encontrar a definição de "creia" no texto de 
BERGER, Klaus. As formas literárias do Novo Testamento. São 
Paulo: Loyola, 1998. p. 76-88. (Bíblica 23).
Vejamos:
1)	 Era	introduzida	por	"ele	disse".	
2)	 Poderia	iniciar	como	resposta	a	certa	questão,	por	exem-
plo:	"e	respondendo	disse".	
3)	 Poderia	vir	como	resposta	à	exclamação	originada	de	al-
gum	fato	ou	circunstância.	
4)	 Poderia	ser	constituída	de	único	período	gramatical	ou	
vários.	
5)	 Envolvia	ações	ou	ditos,	às	vezes,	ambos.	
6)	 Continha	duas	séries	de	pronunciamentos,	um	em	res-
posta	ao	outro.
Para	melhor	exemplificar	o	que	estudamos	anteriormente,	
vamos	retomar	a	leitura	do	trecho	Mateus	8,	que	estudamos	an-
teriormente.	
18	Vendo	Jesus	que	estava	cercado	de	grandes	multidões,	ordenou	
que	partissem	para	a	outra	margem	do	lago.
19	Então,	chegou-se	a	ele	um	escriba	e	disse:	"Mestre,	eu	te	seguirei	
para	onde	quer	vás".	
20	ao	que	Jesus	respondeu:	"As	raposas	têm	tocas	e	as	aves	do	céu	
têm	ninhos;	mas	o	Filho	do	Homem	não	tem	onde	reclinar	a	cabe-
ça".
21	outro	dos	discípulos	lhe	disse:	"Senhor,	permite-me	primeiro	ir	
enterrar	meu	pai".
22	Mas	Jesus	lhe	respondeu:	"Segue-me	e	deixa	que	os	mortos	en-
terrem	seus	mortos".
Podemos	observar	que	o	verso	18	corresponde	à	introdução,	
uma	espécie	de	moldura	narrativa	para	a	história	que	será	apre-
sentada.	Esse	verso	fornece	o	ambiente	e	as	circunstâncias	em	que	
105© A Hipótese de "Q" - A Fonte dos Ditos de Jesus
Jesus	teria	proclamado	os	ditos	que	seguirão.	Para	que	isso	ocorra,	
ele	 foi	 confrontado	por	um	"escriba"	 (v.	19),	a	quem	respondeu	
com	um	dito	de	sabedoria	(v.	20).	Em	seguida,	outro	discípulo	dis-
se	algo	(v.	21)	que	também	mereceu	resposta	na	forma	de	dito	(v.	
22).
Reparem	que	os	ditos,	aparentemente,	não	possuem	ligação	
direta	com	as	perguntas	que	foram	feitas	a	Jesus.	Alguns	especia-
listas	da	Bíblia	 sugerem	que	 tais	ditos	 teriam	sido	pronunciados	
em	 ocasiões	 diferentes	 e	 inseridos	 artificialmente	 na	 narrativa	
construída	por	Mateus	e	Lucas,	que	não	se	encontra	em	Marcos	e,	
portanto,	seria	originária	da	Fonte	dos	Ditos.
outra	 conclusão	 possível	 é	 que	 esse	 estrato	 teria	 paralelo	
formal	e	histórico	 com	a	escola	 filosófica	 cínica	(cf.	 SILVA	,1996).	
Isso	porque	o	estrato	de	Mateus	8,18-22/Lucas	9,57-62	tem	para-
lelo	com	o	estilo	despojado	dos	filósofos	cínicos	que	perambula-
vam	pela	Decápole.	os	paralelos	apontados	estão:
1)	 na	forma	de	se	vestir;
2)	 na	forma	de	viver	conforme	a	natureza;
3)	 no	desprezo	pela	família	e	pela	pátria;
4)	 no	respeito	à	figura	do	mestre	e	seus	ensinos	como	pro-
grama	de	vida.
Burton	Mack	apud	Mack;	Vernon	Robbins	 (1989,	p.	31-67)		
apontam	 "creias" no	 estrato	 Q2,	 tais	 como	 a	 Cura do servo do 
Centurião	(Mt	8,5-13;	Lucas	7,1-10)	e	as	histórias	acerca	de	João	
Batista.	Para	esses	pesquisadores,	as	"creias" centravam-se	na	fi-
gura	de	certo	herói	e	tanto	Jesus	como	João	Batista	poderiam	ser	
compreendidos	 como	heróis	 em	 torno	 dos	 quais	 essas	 histórias	
ocorreram.	
Assim,	os	ditos	 teriam	sido	 colecionados	em	histórias	 cuja	
sequência	 de	 temas	 teológicos	 era	 interessante	 à	 comunidade.	
Nessa	 perspectiva,	 nos	 evangelhos,	 Jesus	 foi	 apresentado	 como	
sábio,	uma	forma	semelhante	à	apresentação	feita	no	Evangelho	
de	Tomé	(EvT).	
© Evangelhos Sinóticos
 Claretiano - REdE dE EduCação
106
Confira	alguns	"logias" do	EvT:
14	Jesus	disse-lhes:	"Se	jejuardes,	gerareis	pecado	para	vós;	se	orar-
des,	 sereis	 condenados;	 se	 derdes	 esmolas,	 fareis	 mal	 a	 vossos	
espíritos.	Quando	entrardes	em	qualquer	país	e	caminhardes	por	
qualquer	lugar,	se	fordes	recebidos,	comei	o	que	vos	for	oferecido	
e	curai	os	enfermos	entre	eles.	Pois	o	que	entrar	em	vossa	boca	
não	vos	maculará,	mas	o	que	sair	de	vossa	boca	–	é	isso	que	vos	
maculará."
15	Jesus	disse:	"Quando	virdes	aquele	que	não	foi	nascido	de	uma	
mulher,	prostrai-vos	com	a	face	no	chão	e	adorai-o:	é	ele	o	vosso	
Pai."
16	Jesus	disse:	"Talvez	os	homens	pensem	que	vim	lançar	a	paz	so-
bre	o	mundo.	Não	sabem	que	é	a	discórdia	que	vim	espalhar	sobre	
a	Terra:	fogo,	espada	e	disputa.	Com	efeito,	havendo	cinco	numa	
casa,	três	estarão	contra	dois	e	dois	contra	três:	o	pai	contra	o	filho	
e	o	filho	contra	o	pai.	E	eles	permanecerão	solitários"	(cf.	Mt	10,34-
36;	Lc	12,51-53).
os	"logias" da	Fonte	dos	Ditos	e	os	do	EvT	correspondem	a	
ensinos	cujo	conteúdo	nos	remete	às	tradições	sobre	Jesus;	porém,	
esses	estratos	possuem	poucas	narrativas.	Estudiosos	supõem	que	
Q	era	literatura	direcionada	ao	público	jovem	e	basicamente,	cons-
tituída	a	partir	de	duas	formas	de	ditos:	gnomes	e	creias.	
os	Gnomes	eram	uma	coleção	de	 sentenças	usada	na	educação	
básica	e	avançada,	com	objetivo	de	fundamentar	valores	éticos	e	
morais.	
As	 créias	 eram	 semelhantes	 a	 ditos	 de	 caráter	 persuasivo	 (KLo-
PPENBoRG,	1987,	p.	290).	
Para	 o	 estudioso	 Kloppenborg	 (1987,	 p.	 290	 e	 309)	 existe	
certa	relação	entre	o	gênero	sapiencial	e	a	forma	"creia",	também	
típica	da	retórica	grega,	que	consta	em	Q1.		
Contudo,	a	classificação	da	Fonte	dos	Ditos	em	estratos	(Q1,	
Q2	e	Q3)	tem	sido	questionada	em	pesquisas	realizadas	pela	ar-
queologia	literária	e	pela	retomada	de	estudos	da	apocalíptica	em	
tradições	antigas	sobre	Jesus.	
Kloppenborg,	Crossan,	Vaage,	entre	outros,	defendem	a	es-
tratificação	 da	 Fonte	 dos	 Ditos	 com	 evidente	 relevância	 de	 Q1,	
tendo	como	argumento	o	gênero	literário	dos	ditos	predominante	
107© A Hipótese de "Q" - A Fonte dos Ditos de Jesus
que	seria	a	"creia".	Assim,	a	Fonte	dos	Ditos	teria	grande	influência	
da	cultura	e	filosofia	grega.	
Nessa	pesquisa,	entretanto,	não	é	dada	importância	à	iden-
tidade	religiosa	de	seus	leitores	e	às	suas	tradições	marcadamente	
de	origem	judaica.	Em	outras	palavras,	trata-se	de	uma	possibilida-
de	de	abordagem	tanto	da	Fonte	Q,	como	do	EvT	e	dos	Sinóticos	
que	os	 toma	como	 literatura	marcada	pela	 influência	da	cultura	
helênica	 e,	 nesse	 sentido,	 desconsidera	 a	matriz	 judaica	 dessas	
produções.
Gêneros e formas literárias 
o	debate	em	torno	da	hipótese	de	Q,	especificamente	rela-
cionado	à	redação,	tem	avançado	nos	últimos	anos.	Atualmente,	
os	 estudiosos	 não	 se	 concentram	 tão	 somente	 na	 busca	 de	 um	
gênero	literário	determinado	ou	da	forma	que	seja	predominante	
em	todo	documento.	Desse	modo,	reconhecem	que	é	possível	en-
contrar,	na	mesma	obra,	gêneros	e	formas	literárias	de	tradições	
distintas.	Se	em	certo	evangelho	é	possível	identificar	sinais	da	for-
ma	"creia",	isso	não	significa	que	seja	assim	por	única	influência	da	
retórica	grega,	antes,	indica	traços	dessa	tradição.	
Na	forma	"creia",	a	figura	de	algum	mestre,	líder	ou	milagrei-
ro	se	destaca.	É	com	base	nesse	personagem	que	se	dão	os	acon-
tecimentos,	como	se	fossem	atos	de	uma	peça:	cena,	provocação	
e	resposta.	
os	ensinos	são	extraídos	dessas	cenas	e	caracterizados	como	
princípios	para	o	cotidiano	dos	grupos	que	lêem	esses	programas.	
Inicialmente,	narrativas	de	milagres,	curas	e	exorcismos,	eventos	
comumente	destacados	na	"bios"	ou	na	"creia" grega	não	teriam	
tanta	importância	quanto	a	sabedoria	contida	nos	ditos,	conside-
rados	"regra	para	a	comunidade".
Assim	como	os	Sinóticos	não	são	estáticos,	a	Fonte	dos	Ditos	
foi	constituída	por	certa	dinâmica	literária	que	permitiu	o	encon-
© Evangelhos Sinóticos
 Claretiano - REdE dE EduCação
108
tro	de	vários	gêneros	e	formas	literárias	no	seu	texto.	Entre	os	di-
ferentes	gêneros	estava	a	"creia".	
Essa	dinâmica	é	que	possibilitou	a	pluriformidade	do	texto	
da	audiência	da	Fonte	dos	Ditos.	Em	 face	do	debate	promovido	
pela	Crítica	da	Forma	e	da	História	da	Religião,	o	texto	da	Fonte	
dos	Ditos	estaria	diretamente	relacionado	ao	Sitz im Leben	de	um	
grupo,	uma	situação	vivencial	composta	por	diversidade:
A	correta	compreensão	da	crítica	da	forma	repousa	sobre	o	enten-
dimento	deque	a	literatura	que	surgiu	da	vida	de	determinada	co-
munidade,	até	mesmo	a	comunidade	cristã	primitiva,	emerge	de	
condições	e	necessidades	existenciais	bem	definidas,	a	partir	das	
quais	se	desenvolvem	um	estilo	bem	definido	e	formas	e	categorias	
bem	específicas.	Assim,	toda	categoria	 literária	tem	sua	'situação	
vivencial'	(BuLTMANN,	1963,	p.	4).
Dessas	afirmações,	segue	que	os	estratos	da	Fonte	dos	Ditos:	
Q1,	Q2	e	Q3	refletiriam	a	situação	de	comunidades	cristãs	do	perí-
odo.	o	estrato	sapiencial,	composto	de	declarações	e	ensinamen-
tos	de	Jesus,	seria	o	mais	antigo	em	função	da	proximidade	dos	
acontecimentos	relacionados	à	vida	e	morte	de	Jesus.	
o	estilo	mais	direto,	sem	longas	narrativas,	ilustra	essa	pro-
ximidade.	o	estrato	Q2,	composto	de	declarações	e	narrativas	em	
tom	apocalíptico	(com	a	presença	de	temas	como	a	vinda	do	Filho	
do	Homem,	o	julgamento	e	o	reino	de	Deus)	teria	relação	com	a	
expectativa	frustrada	dos	primeiros	cristãos,	em	relação	ao	retor-
no	imediato	de	Jesus.	Por	fim,	o	estrato	Q3,	teria	como	conteúdo	
principal	a	narrativa	da	Paixão,	uma	tradição	já	distante	de	Jesus,	
formulada	e	promulgada	pelos	discípulos	do	Nazareno	como	res-
posta	à	ansiedade	que	se	instalara	entre	os	primeiros	cristãos.
Por	essa	razão,	ao	se	proceder	a	leitura	da	Fonte	dos	Ditos	
não	se	pode	falar	apenas	em	sabedoria.	Em	Q	também	é	possível	
o	encontro	de	elementos	proféticos.	
No	debate	acerca	dos	gêneros	e	das	formas	 literárias,	vale	
ressaltar	a	relação	dialógica	e	circular	entre	textos	e	comunidades,	
autores-redatores	e	audiência.	Dessa	relação	é	que	emergem	os	
109© A Hipótese de "Q" - A Fonte dos Ditos de Jesus
estilos	literários	que	hoje	designamos	(classificações	modernas)	e	
que	nos	auxiliam	a	reconstruir	a	identidade	social	e	religiosa	dos	
cristãos	por	trás	da	Fonte	dos	Ditos.	
A	 presença	 dessas	 formas	 literárias	 é	 fundamental	 para	 a	
natureza	da	literatura	sinótica,	do	mesmo	modo	como	ocorre	na	
Fonte	dos	Ditos.	
A	Crítica	das	Formas	demonstrou	que	os	evangelhos	foram	
constituídos	de	perícopes	com	formas	diferentes,	dentre	as	quais	
se	destacam	o	relato	de	milagre,	a	"creia",	o	aforismo	e	outras	mui-
tas	delas	identificadas	na	tradição	judaica.	Além	de	verificarmos	a	
presença	dessas	formas,	talvez,	mais	rudimentares	na	Fonte	dos	
Ditos,	igualmente,	elas	fazem	parte	dos	Sinóticos,	o	que	corrobora	
ao	argumento	da	interdependência entre	os	Evangelhos.
Contudo,	em	 razão	de	que	as	memórias,	os	ensinamentos	
e	as	tradições	de	Jesus	teriam	sido	documentadas	de	formas	tão	
diferentes?
Como	dissemos	anteriormente,	as	classificações	que	usamos	
hoje	em	dia	constituem	designações	modernas,	desenvolvidas	por	
teólogos,	 exegetas	 e	 estudiosos	 de	 nosso	 tempo.	 Para	 formulá-
-las,	 eles	 usaram	o	 referencial	 teórico	 e	metodológico	 de	 nosso	
tempo,	de	modo	que	outras	ciências	(como	a	literatura,	semiótica,	
história,	sociologia	etc.)	contribuíram	para	as	análises	dos	textos	
bíblicos.	Elas	servem	como	instrumentos	de	análise,	de	mediação,	
entre	nós	e	o	 texto	antigo:	entre	o	nosso	horizonte	de	conheci-
mentos	e	o	mundo	antigo.
Provavelmente,	as	razões	que	moveram	os	autores	e	redato-
res	do	período	bíblico	a	escreverem	dessa	ou	de	outra	forma	de-
terminada,	nunca	nos	serão	absolutamente	claras.	Podemos	intuir,	
juntamente	com	os	críticos	da	forma,	que	essas	formas	têm	a	ver	
com	situações	de	lamento,	de	esperança,	de	alegria	ou	de	profun-
da	crise	na	experiência	religiosa	daqueles	primeiros	cristãos.	
© Evangelhos Sinóticos
 Claretiano - REdE dE EduCação
110
Hipóteses quanto à função da Fonte dos ditos 
Acredita-se	 que	 a	 Fonte	 dos	 Ditos	 tenha	 algumas	 funções	
que	 atendiam	 às	 necessidades	 dos	 primeiros	 cristãos.	 Existem	
pelo	menos	duas	hipóteses	quanto	à	função	de	Q:
1)	 Função	catequética,	por	se	assemelhar	a	um	programa	
de	ensino	formado	por	ditos	colecionados.
2)	 Função	de	manual,	para	missionários	 itinerantes	 (KLo-
PPENBoRG,	1987,	p.	16).
A	primeira	hipótese,	aceita	por	estudiosos	como	Leif	Vaage,	
mostra	que	a	comunidade	em	torno	do	documento	Q	considerava	
essa	tradição	espécie	de	regra	para	seu	modo	de	vida,	pois	abor-
daria	temas	políticos,	econômicos	e	sociais	(KLoPPENBoRG,	1987,	
p.	37).	
Assim,	uma	conclusão	possível	sobre	a	Fonte	dos	Ditos	é	que	
com	base	nas	"creias"	que	compunham	essa	tradição,	juntamente	
com	aforismos,	 relatos	de	milagres,	de	curas	e	outras	narrativas	
(essas	mais	tardias),	a	fonte	reunia	ditos	de	sabedoria	que	serviam	
ao	ordenamento	dos	primeiros	cristãos	e	ao	norteamento	do	com-
portamento	 deles	 em	 grupo.	 os	 ditos	 teriam	 funcionado	 como	
parâmetros	que	em	conjunto	formulavam	um	código	ético-moral.	
Esse	código	estabelecia	uma	nova	postura	que	se	diferenciava	do	
costume	judaico	e	da	interpretação	da	Lei	que	faziam	suas	lideran-
ças,	entre	elas,	os	sacerdotes,	fariseus,	saduceus	e	escribas.	
De	certo	modo,	os	ditos	atribuídos	a	Jesus	e	reunidos	nessa	
fonte	contestavam	a	autoridade	e	a	legitimidade	das	normas	es-
tabelecidas	pela	tradição	judaica.	Todavia,	não	se	descolavam	de	
uma	lógica	de	pensamento	e	de	exegese	que	era	peculiar	à	religião	
dos	judeus.	os	ditos	propiciavam	as	audiências,	oportunidade	de	
reflexão	e	de	crítica	social.	
Consequentemente,	a	mudança	de	comportamento	–	talvez	
pudéssemos	dizer:	a	conversão	ao	cristianismo	–,	ou	a	opção	pelo	
modelo	de	religiosidade	judaica	estabelecido,	ocorreria	mediante	
escolha.
111© A Hipótese de "Q" - A Fonte dos Ditos de Jesus
Lembrando	que	a	escolha	não	era,	naquele	período	da	his-
tória,	algo	individual	e	dado	em	função	da	vontade	do	sujeito,	mas	
algo	decidido	predominantemente	pela	figura	masculina	de	cada	
unidade	 familiar	 ou	 do	 clã.	 Atitudes	 individuais	 que	 colocassem	
em	destaque	a	figura	do	sujeito	não	eram	comuns	naquela	época.	
A	noção	de	indivíduo	como	ator	e	sujeito	da	história	é	uma	con-
cepção	moderna	(estabelecida	a	partir	do	século	16)	e,	portanto,	
recente.
Apesar	de	a	Fonte	dos	Ditos	ser	considerada	hipótese,	per-
manece	sempre	na	pauta	de	discussão	dos	estudiosos	da	literatura	
bíblica,	ora	com	maior,	ora	com	menor	aceitação.
A	 seguir,	 duas	 leituras	 complementares	 para	 auxiliar	 na	
aprendizagem	sobre	o	assunto	tratado	nessa	unidade
Gestos e Palavras que Educam –––––––––––––––––––––––––
No estudo do gênero biografia, pudemos conhecer características típicas dele: 
uma personagem central, sua história com enredo (seqüência de fatos), outras 
personagens, espaço e tempo definidos. A forma créia, assim como a biografia, 
se relaciona com o gênero maior narrativa. Contudo, ela é considerada ficção e 
tem como elemento marcante a ênfase educativa. Essa forma também pode ser 
encontrada em coleções de sabedoria que eram típicas dos mestres gregos e 
tinham a função de ilustrar os princípios e os valores que deveriam ser vividos 
no cotidiano e refletidos no comportamento diário dos jovens discípulos, público 
principal dos filósofos.
As créias podem ser encontradas dentro de narrativas e se destacam pela fun-
ção pedagógica que exercem. Geralmente, a créia apresenta:
(1) breve introdução;
(2) anúncio de alguém que vai falar ou responder; 
(3) um dito de sabedoria central.
A partir desse dito, que muitos de nós conhecemos como "provérbio", o mestre 
ilustra certo ensino. É importante notar que esse ensinamento pertence a um 
programa educativo, portanto, tem o objetivo de contribuir para a formação de 
sua audiência. Neste sentido, os ditos pretendem orientar o público no desenvol-
vimento da ética, da moral e da postura que devem ter frente a sociedade.
As créias do Novo Testamento, que provavelmente foram elaboradas sob a in-
fluência dos gregos, são coleções de ditos de sabedoria que têm o objetivo de 
persuadir seus ouvintes e leitores a seguirem o modelo de conduta de Jesus. 
Neste sentido, a créia era usada como máxima, isto é, um princípio básico para 
a compreensão de alguma coisa
Você já deve ter ouvido algo parecido com isso: "Quem fala demais dá bom dia 
a cavalo", "Em boca fechadanão entra mosca" ou "Em certas horas falar é prata 
© Evangelhos Sinóticos
 Claretiano - REdE dE EduCação
112
e calar é ouro" etc. Todas essas frases são máximas de comportamento que 
ilustram o mesmo ensinamento: antes de dizer qualquer coisa, é melhor refletir.
Assim também funciona a créia; vejamos um exemplo em Lc 9.57-62. Neste texto 
temos:
(1) uma breve introdução (v.57); 
(2) resposta de Jesus, caracterizada pela fórmula "Jesus respondeu" (v.58); 
(3) resposta de Jesus, dada na forma de um dito de sabedoria (v.58b).
Esse esquema se repete nos vv. 59-60 e 61-62. Logo, temos três créias nessa 
seqüência narrativa. A partir do dito, a comunidade atualizava certo ensino de 
acordo com seu contexto e o aplicava na sua vida. Por isso, podemos classificar 
o uso desse gênero em dois momentos. No primeiro momento, no caso dos 
gregos, era um exercício retórico praticado pelos discípulos de algum mestre 
com o objetivo de persuadir a audiência. No segundo, no caso de Jesus e seus 
discípulos, a créia era dada para que as comunidades aprendessem o modelo 
ideal de vida, de acordo com a vontade de Deus.
Em Mc 12,17, Jesus arremata brilhantemente a polêmica que alguns queriam 
levantar contra ele, usando um simples dito irônico que desconcerta os espertos 
fariseus.
Extraído de: RODRIGUES, M. P. (Org.); RODRIGUES, E. (et.al.) Palavra de 
Deus, palavra da gente. As formas literárias da Bíblia. São Paulo: Paulus, 2004. 
p.145-146.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
O Evangelho de Tomé –––––––––––––––––––––––––––––––––
O Evangelho de Tomé (EvT) é a segunda obra do Códice II de Nag Hammadi 
(NHC II 2). Descoberto em 1945, localizado em 1948 e apresentado para re-
produção fotográfica em 1957. Foi dado a conhecer em traduções francesas e 
alemãs em 1958 e editado em 1959. Somente na década de 60 atingiu os meios 
de comunicação social que propiciaram estudos desse documento. A partir de 
então multiplicaram-se as traduções. 
O documento
O EvT escrito em língua copta é muito distinto do Evangelio de Tomé o filósofo 
israelita (EvTom), que é um Evangelho da Infância cuja leitura se manteve em 
círculos eclesiásticos durante muitos séculos e só nos chegou na forma completa 
durante anos por meio de tradução eslava.
O EvT permitiu a identificação dos ditos desconhecidos de Jesus, descobertos 
fragmentariamente em grego entre os papiros de Oxirrinco (Poxyr) em 1897 e 
1903. Existem oito ditos fragmentados nesses papiros e graças a descoberta do 
EvT sabemos que correspondem a uma versão grega da mesma obra. As dife-
renças entre os textos podem se dever à tradução livre ou omissões acidentais 
(além de alterações deliberadas).
Data e lugar de composição
O manuscrito escrito em copta é do século 4o. A composição dos fragmentos 
gregos fica em torno de 150. Há hipóteses quanto à composição do documento 
variando entre século 1º e 3º. A opinião mais corrente entre os primeiros estu-
diosos é que o documento foi redigido em meados do século 3o, a partir de 140.
113© A Hipótese de "Q" - A Fonte dos Ditos de Jesus
Nos últimos anos desenvolve-se com força a tese de que o EvT é um texto inde-
pendente dos Sinóticos e que foi compilado da metade ao fim do século 1o.
Testemunhos Antigos
Há testemunhos externos desde o século 3o a respeito do EvT. Dentre os antigos 
autores eclesiásticos que o mencionam, encontram-se: Hipólito (Elen V 7,20; 
8,32), Orígenes (HomLc I 2), Eusébio de Cesaréa (E. III 25,6), Cirilo de Jeru-
salém (Cathechesis IV 36; VI 31) e Jerônimo e Ambrósio, que dependem de 
Orígenes.
Judas Tomé, o Gêmeo
É Tomé "o chamado gêmeo" (Jo 11,16; 20,24). Judas Tomé, segundo o texto 
siríaco de Cureton em João 14,22 e mencionado de Taciano, São Efrén, Corres-
pondência de Abgar, Doctrina Apostolorum é Tomé gêmeo para HchTom. Tudo 
isso está no âmbito das tradições orientais centradas na Síria. Temos aqui uma 
identificação de Judas, o irmão de Jesus e Tomé, que trará alguma confusão pos-
terior (em que Tiago e Judas Dídimo, ambos irmãos de Jesus, foram entendidos 
como gêmeos). 
Está claro que Tomé exerceu uma fascinação pela especulação gnóstica. A glori-
ficação de Tomé aparece também nos HchTm, o único dos cinco textos apócrifos 
utilizados pelos manuscritos que nos chegou por inteiro. A obra, composta em 
siríaco na primeira metade do século 3o, narra o embarque de Tomé para Índia 
e sua missão na corte do rei Gundafor, dado que nos remete à Pérsia. Também 
Eusébio de Cesárea, no começo do século 4º, atribui a Tomé a pregação do 
evangelho na Pérsia.
Gênero Literário
A designação dos ditos de Jesus como logias procede dos fragmentos de Papías 
(cf. Eusébio, H.E. III 39,1.16).
O EvT 38 se refere a esses ditos como "estas palavras", o que poderia ser a tra-
dução de logos, uma designação corrente na tradição dos Sinóticos para referir-
-se às palavras de Jesus (cf. Mt 7,24; Lc 6,47; Jo 8,52).
Os Sinóticos nos oferecem vários paralelos formulados diferentemente em di-
versos contextos. Também há diferenças nos ditos de Jesus em 1Clem 13,1-2 e 
46,7, que oferece uma composição de ditos formulados segundo um molde mais 
uniforme.
O EvT é uma mostra do gênero literário Coleção de ditos, assim como seria a 
Fonte dos Ditos. Seu descobrimento foi entendido como confirmação indireta do 
documento Q, a fonte comum de Mateus e Lucas quando não seguem Marcos, 
segundo a hipótese das "duas fontes", que é, na pesquisa atual, a hipótese pre-
dominante para explicar as relações entre os textos Sinóticos.
Apresentação baseada em: PIÑERO, Antonio (Ed.). Textos gnósticos - Biblioteca 
de Nag Hammadi II. Evangelios, hechos, cartas. Madri: Editorial Trotta, 1999. 
p. 55-78. (Colección Paradigmas: Biblioteca de las Ciencias de las Religiones).
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
6. questões autOavaLiativas
Confira,	na	sequência,	as	questões	propostas	para	verificar	
seu	desempenho	no	estudo	desta	unidade:
© Evangelhos Sinóticos
 Claretiano - REdE dE EduCação
114
1)	 Qual	a	relação	entre	a	hipótese	de	Q	e	o	contexto	histórico,	político	e	cultu-
ral	dos	primeiros	cristãos	e	as	primeiras	comunidades	cristãs?	
2)	 Em	que	medida	a	hipótese	de	Q	permite	a	reconstrução	do	Jesus	Histórico?
3)	 Qual	a	relevância	de	registrar	as	tradições,	as	memórias	e	os	ensinamentos	
de	Jesus	por	meio	de	ditos	de	sabedoria?
4)	 Você	concorda	com	a	tese	de	que	Jesus	de	Nazeré	teria	semelhanças	com	os	
filósofos	cínicos	que	andavam	pela	Decápole?
7. COnsiderações 
É	fascinante	a	hipótese	da	existência	de	uma	Fonte	de	Ditos,	
uma	coleção	de	ditos	de	sabedoria	de	Jesus	proferidos	em	aramai-
co/hebraico,	em	ocasiões	e	lugares	diferentes	e	compilados	em	um	
documento	que	se	perdeu.	Certamente,	se	fosse	confirmada	pela	
descoberta	arqueológica	da	coleção,	tantas	vezes	sugerida	por	his-
toriadores	antigos	e	estudiosos	modernos,	seria	uma	descoberta	
memorável	para	a	história	da	pesquisa	da	literatura	bíblica.
Ela	nos	permitiria	reconstruir	com	mais	tranquilidade	o	que	
talvez	tenha	sido	o	cotidiano	das	primeiras	comunidades	cristãs.	
Embora	não	 a	 tenhamos	 "em	mãos",	 as	 reconstruções	que	 têm	
sido	feitas,	cuidadosamente,	nas	últimas	décadas,	nos	dão	conta	
de	que	essa	hipótese	tem	–	no	dizer	de	Archibald	Woodruff,	citado	
nessa	apostila	–,	cada	vez	mais,	"rosto,	personalidade	e	endereço".
Para	nós,	estudantes	e	pesquisadores	da	 literatura	neotes-
tamentária,	o	estudo	da	Fonte	dos	Ditos	é	necessário,	diria	indis-
pensável.	Prova	disso	são	as	publicações	acerca	desse	tema,	cada	
vez	mais	freqüentes.	Estudar	a	Fonte	dos	Ditos	de	Jesus	nos	apro-
xima	não	apenas	do	Jesus	Histórico	e	das	tradições	que	sobre	ele	
foram	reunidas	nos	Sinóticos,	mas	também	ajuda-nos	a	compre-
ender	quais	dessas	tradições	foram	consideradas	relevantes	para	
as	primeiras	comunidades,	a	ponto	de	terem	sido	selecionadas	e	
compiladas	nos	Evangelhos.	Entender	a	Fonte	dos	Ditos	nos	auxilia	
a	entender	o	movimento	interno	da	literatura	sinótica.
115© A Hipótese de "Q" - A Fonte dos Ditos de Jesus
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