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1 Introdução ao Novo Testamento

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Prévia do material em texto

Estudos Bíblicos: 
Sinóticos e Escritos 
Joaninos
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Prof. Dr. Valter Luiz Lara
Revisão Textual:
Profa. Ms. Luciene Oliveira da Costa Santos
Introdução ao Novo Testamento
• Introdução
• O que são Evangelhos?
• As Origens e Fontes dos Evangelhos
• O Problema Sinótico
• História e Sociedade do Tempo de Jesus
 · Introduzir o aluno ao universo dos textos e contextos do NT. Co-
nhecer as condições históricas e sociais da sociedade no contexto 
da vida de Jesus e da história do desenvolvimento dos textos do NT 
à luz das circunstâncias que fizeram nascer o cristianismo primitivo.
 · Apresentar semelhanças e diferenças entre os Evangelhos, não como 
retrato histórico da vida de Jesus, mas principalmente como teste-
munho da fé e memória das tradições recolhidas pelos primeiros re-
datores cristãos. 
OBJETIVO DE APRENDIZADO
Introdução ao Novo Testamento
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem 
aproveitado e haja uma maior aplicabilidade na sua 
formação acadêmica e atuação profissional, siga 
algumas recomendações básicas: 
Assim:
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e 
horário fixos como o seu “momento do estudo”.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo.
No material de cada Unidade, há leituras indicadas. Entre elas: artigos científicos, livros, vídeos e 
sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você também 
encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua 
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados.
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, 
pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o contato 
com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem.
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte 
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Mantenha o foco! 
Evite se distrair com 
as redes sociais.
Determine um 
horário fixo 
para estudar.
Aproveite as 
indicações 
de Material 
Complementar.
Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar, lembre-se de que uma 
Não se esqueça 
de se alimentar 
e se manter 
hidratado.
Aproveite as 
Conserve seu 
material e local de 
estudos sempre 
organizados.
Procure manter 
contato com seus 
colegas e tutores 
para trocar ideias! 
Isso amplia a 
aprendizagem.
Seja original! 
Nunca plagie 
trabalhos.
UNIDADE Introdução ao Novo Testamento
Contextualização
O Novo Testamento é palco de inúmeros conflitos de interpretação, sobretudo entre 
as Igrejas que se confessam cristãs, mas também entre outras denominações religiosas.
Em relação a esse problema, recomendo a leitura da resenha de Ney Brasil Pereira, feito 
no Portal do Instituto de Teologia dos Franciscanos de Petrópolis – RJ, sobre a edição de 
uma nova tradução de alguns livros do Novo Testamento, justamente dos quatro evangelhos 
e dos Atos dos Apóstolos feita por Haroldo Dutra Dias: O Novo Testamento. Tradução de 
Haroldo Dutra Dias. Brasília: FEB (Federação Espírita Brasileira), 2015. 607 p., 150 x 210mm 
– ISBN 978-85-7328-785-1.
https://goo.gl/vPmhfG
Ex
pl
or
Não seria demais afirmar que a divergência de interpretação é uma das razões 
mais fortes da separação entre igrejas. Esse problema, por exemplo, pode ser 
constatado facilmente quando vemos a variedade de traduções da Bíblia e, por 
conseguinte, dos textos do Novo Testamento. As diferenças entre Bíblias católicas, 
protestantes e judaicas reforçam essa variedade. Entretanto, até no interior das 
igrejas, como na católica, por exemplo, há diferentes edições e cada uma com uma 
determinada perspectiva de tradução. 
Embora o problema da tradução provoque certa desconfiança, o fato é que 
o trabalho da tradução é sempre um desafio de atualização do texto que separa 
temporal, geográfica e socioculturalmente o leitor de hoje dos autores e redatores 
que originalmente escreveram os textos. Ou seja, não há tradução perfeita. Traduzir 
implica sempre escolher a melhor palavra, a melhor sentença para a compreensão 
do interlocutor que o tradutor privilegia ou visa ao desejar comunicar a mensagem 
a ser traduzida. 
O estudo aqui proposto não entra nos detalhes das dificuldades e diversidade de 
traduções do texto bíblico. Consideramos esse um tema para especialistas, exegetas 
que se dedicam aos estudos na tentativa de interpretar os textos segundo a melhor 
adequação às intenções dos autores e redatores originais. Para nós, importa mais 
reconhecer um núcleo comum de escritura considerada sagrada e aceita por todos, 
sem ignorar divergências pontuais, as quais se dão nem tanto por causa da tradução, 
mas muito mais por causa das diferenças doutrinais que influenciam perspectivas 
distintas de interpretação dos textos. 
Uma análise do texto do Novo Testamento talvez seja um desafio àqueles que 
buscam uma leitura mais objetiva e imparcial, isto é, não confessional. Nesse sentido, 
é bom lembrar que o Novo Testamento é também produto de uma confissão de fé 
parcial que rompe com a leitura e interpretação tradicional dos textos do Antigo 
Testamento. Sobre a vida e os fatos que marcaram a figura histórica de Jesus de 
Nazaré, houve um trabalho intenso de reinterpretação. O Novo Testamento e sua 
8
9
pluralidade literária revelam e são testemunho desse trabalho intenso e, muitas 
vezes, conflitivo de reinterpretação. A diversidade de interpretação, pois, não é 
um problema somente atual, mas nasceu com o cristianismo. Por isso são quatro 
evangelhos e não um só. Por isso são vinte e sete escritos e não um só.
Nesse sentido, convidamos você para aproveitar esta Unidade de Introdução ao 
Novo Testamento com o espírito aberto a essa pluralidade. Traga a sua confissão de 
fé, suas crenças e seu aprendizado de leitura anterior já feita sobre os textos, mas 
procure perceber como de fato os contextos, tanto de ontem como de hoje, afeta-
ram e continuam a influenciar não só a interpretação que fazemos dos textos, mas 
influenciaram, por primeiro, a própria produção das mensagens que eles contêm. 
9
UNIDADE Introdução ao Novo Testamento
Introdução
A literatura neotestamentária tem em Jesus de Nazaré1 o marco divisor de águas 
que separa o Antigo do Novo Testamento2. São vinte e sete documentos. Há uma 
diversidade de gêneros na identificação literária não só do conjunto dos textos, como 
no interior de cada um deles. São evangelhos, cartas; testamentos, relatos de milagres, 
coleção de ditos de sabedoria, genealogias, trechos de orações e memórias preservadas 
em contexto de culto, códigos de conduta, além de profecias e revelações sobre os fins 
dos tempos, mais conhecidos como textos apocalípticos, que, literalmente, traduzido 
do vocábulo grego (apocalipse) significam textos de revelação. 
O Novo Testamento são testemunhos da vida de pessoas, grupos e comunidades 
que optaram pela confissão de fé em Jesus e o aceitaram como o Messias prometido 
pelas escrituras veterotestamentárias. Esta Unidade I vai apresentar os quatro evange-
lhos canônicos desde um ponto de vista panorâmico, destacando em primeiro lugar 
algumas semelhanças claras entre os três primeiros (os evangelhos de Mateus, Marcos 
e Lucas). Em seguida, serão apresentadas as diferenças que separam os chamados 
evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) e o evangelho de João. 
A escolha dos quatro evangelhos para análise tem como critério o Cânon adotado 
pela Igreja3. Outros evangelhos4 foram escritos e também representaram outras formas 
de viver e testemunhar a fé em Jesus. Alguns deles foram perdidos para sempre, ou-
tros foram encontrados e são acessíveis, inclusive publicados em língua portuguesapor 
editoras credenciadas por diversas igrejas cristãs, católicas e protestantes. Embora não 
tenham entrado no Cânon, são evangelhos que favorecem o estudo e a compreensão 
cada vez mais crítica e profunda da história do cristianismo primitivo. Os mais conhe-
cidos são: Evangelho de Tomé, Evangelho de Maria Madalena, Evangelho de Pedro, 
Evangelho Filipe e Evangelho de Bartolomeu. A maioria deles foi escrita originalmente 
em língua grega, em papiro ou pergaminho, tal como foram escritos os quatro evange-
lhos que encontramos em nossas Bíblias. 
1 “Jesus de Nazaré” é a designação que julgamos a melhor para fazer referência à figura histórica de Jesus. “Jesus 
Cristo” é reconhecidamente a representação que denota a confissão de fé das primeiras comunidades que identificaram 
o Jesus da cidade de Nazaré como o Messias (Cristo em grego). Esse procedimento visa garantir uma abordagem 
mais objetiva do ponto de vista da descrição histórica e científica dos textos que possa ser lida e compreendida pelo 
leitor aluno, independentemente de sua identidade confessional.
2 O texto teórico manterá “Antigo” e “Novo” ao referir-se aos Testamentos Bíblicos, mas faz-se necessário reco-
nhecer que uma linguagem mais adequada a um ambiente de diálogo interreligioso, deva-se usar “Primeiro” e 
“Segundo” Testamentos.
3 O conceito de “Cânon” diz respeito à ordem e aceitação oficial pelas autoridades eclesiásticas dos textos que foram 
considerados confiáveis e adequados à fé da Igreja. Os critérios que definiram este ou aquele texto como inspirado, 
isto é, como Palavra de Deus, foram discutidos ao longo da história da recepção e uso dos textos pelas Igrejas. A 
questão da organização do poder e do exercício da autoridade nas igrejas, da doutrina, dos dogmas e das formas 
como se vivia a liturgia são alguns dos critérios que definiram o que deveria ser aceito e o que deveria ser rejeitado.
4 Esses evangelhos são habitualmente conhecidos como Apócrifos, isto é, como evangelhos proscritos ou como falsos 
evangelhos. Aqui eles serão chamados apenas como Evangelhos Extracanônicos, isto é, como evangelhos que 
simples e objetivamente ficaram de fora do Cânon.
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Duas observações importantes: Os textos do Novo Testamento, de modo especial 
os evangelhos, testemunham historicamente dois grandes momentos: o primeiro é 
contexto do tempo de Jesus e o segundo é o tempo a partir do qual os evangelistas 
retratam a memória mantida sobre Jesus. Veja no quadro a seguir:
1º CONTEXTO
Tempo de Jesus histórico
Registro indireto — condicionado pelo contexto do evangelista 
(autor/redator) 
2º CONTEXTO
Tempo do evangelista (autor/redator)
Registro direto
Condiciona o relato da memória do tempo de Jesus (1º contexto) 
pelos interesses de seu tempo presente — problemas vividos pelas 
comunidades representados pelo evangelista (autor/redator) 
O que são Evangelhos? 
O que são evangelhos? Qual é o propósito dos evangelhos e o que 
eles pretendem comunicar? Em primeiro lugar, é preciso saber que a palavra 
“evangelho” já era utilizada pelo Antigo Testamento. Nos textos de Isaías evangelho 
significa “boa notícia” de libertação e salvação a respeito do futuro que virá (Is 
52,7). A princípio, evangelho não é propriamente literatura, mas o conteúdo 
da pregação dos primeiros missionários cristãos (At 5,42; Rm 1,1s). Em alguns 
textos, a palavra evangelho significa o próprio modo de vida diferenciado que os 
seguidores de Jesus devem testemunhar diante do mundo (Fl 1,5.12.27). Nesse 
sentido, evangelista era uma função de serviço à pregação do evangelho como 
modo de viver a proposta de Jesus. Só mais tarde, quando começaram a surgir os 
escritos sobre a vida e o ensino de Jesus, as palavras “evangelho” e “evangelista” 
ganharam novos contornos e passaram a designar respectivamente “relato escrito” 
e “autores/redatores” dos documentos que passaram a receber essa designação.
Os Evangelhos não são Biografi as de Jesus 
O que os evangelhos escreveram sobre Jesus não representa, necessariamente 
para todos os leitores e intérpretes do Novo Testamento, a expressão da exata iden-
tidade de Jesus, mas da confissão de fé dos evangelistas na messianidade de Jesus. 
11
UNIDADE Introdução ao Novo Testamento
Dificilmente, a totalidade da vida de um homem comum cabe num relato biográfico. A vida 
humana e sua história, no entrelaçar de seus feitos objetivos, significados e interpretações 
subjetivas não esgotam a melhor biografia que se possa fazer dela. O que diremos de uma 
vida tão polêmica, tão intensa e significativa como a de Jesus? As palavras sempre serão 
incapazes de traduzir o que só a vida mesma é capaz de propor. Os evangelhos, em sua 
multiplicidade canônica e extracanônica, atestam essa diversidade da interpretação da vida 
que é muito mais complexa do que uma biografia é capaz de reproduzir. 
Ex
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or
A diversidade de aproximações ao fenômeno Jesus de Nazaré continua a 
produzir divergências e novas formas de atualizar o seu significado. Tal diversidade 
é reveladora do mistério e das dificuldades que os discípulos de ontem tiveram ao 
se depararem com Jesus e ao tentarem interpretar o impacto que ele representou 
para as suas vidas.
Os Evangelhos são Testemunhos de Fé em Jesus
O problema de interpretar e identificar a pessoa de Jesus continua hoje 
interrogando a vida não só daqueles que foram convencidos pela fé cristã, mas 
também daqueles que, imunes à confissão religiosa dessa mesma fé, admiram o 
Jesus da história e procuram compreender o significado de sua mensagem. Você, 
leitor do Novo Testamento, independentemente de sua religião, posição filosófica 
ou conduta científica adotada, ao ler os Evangelhos, também é chamado a dar 
sua própria interpretação ao homem de Nazaré. O distanciamento crítico mais 
saudável talvez seja aquele que admite que nenhuma interpretação, inclusive a 
nossa, é capaz de esgotar a riqueza da plenitude do significado de qualquer vida 
humana, muito menos a de Jesus.
A consciência da relatividade de nossas interpretações não elimina o esforço de 
responder e atualizar continuamente a velha pergunta ainda tão atual: “quem dizeis 
que eu sou?” (Mc 8,29). Essa é a grande pergunta e o grande objetivo da escritura 
dos evangelhos. Eles são um conjunto de relatos cujo objetivo fundamental foi 
traduzir como seus autores/ redatores, discípulos e seguidores do nazareno, viam, 
concebiam e, acima de tudo, experimentavam a fé em Jesus. 
Por isso, os Evangelhos são, em primeiríssimo lugar, documentos religiosos. O 
testemunho de fé é o seu primeiro propósito. A preocupação em manter, dinamizar, 
divulgar e atrair o leitor para a fé em Jesus é o seu maior objetivo. 
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As Origens e Fontes dos Evangelhos
As Origens e Finalidade da Redação dos Evangelhos 
A origem da redação dos evangelhos dá-se principalmente quando os discípulos 
de Jesus começam a sentir necessidade do resgate da memória dos ensinamentos 
e da vida de seu mestre. Eles sentem a necessidade de fundamentar sua vivência 
de fé, o culto, a pregação e os valores novos que eles assumiram no cotidiano de 
suas vidas. O objetivo da redação dos evangelhos é inicialmente a apologia, isto é, 
a defesa da fé diante de um mundo religioso judaico e greco-romano que ignora os 
princípios da adesão a Jesus proclamado como Senhor e Messias. 
A finalidade então dos evangelhos é catequética e missionária, pois quer ensinar 
e fortalecer na fé aqueles que procuram viver e levar a “boa nova” a todos os povos, 
para as mais diferentes pessoas e comunidades de seu tempo (Mt 28,19-20). 
Quem são os Autores dos Evangelhos?
Os autores que de fato escreveram os documentos originais são desconhecidos. 
Aliás, os documentos ou manuscritos mais antigos dos Evangelhos e demais escritos 
do Novo Testamento são cópias dos originais. Sabe-se, graças à crítica literária e 
redacional, que o nome dos autores que conhecemos hoje é uma atribuição dada aos 
textos já há algum tempo depois deles terem sido escritos5. Os nomes de apóstolos(Mateus e João) ou de lideranças apostólicas (Marcos e Lucas) surgiram a posteriori, 
devido ao trabalho das comunidades primitivas que reconheceram nestes nomes a 
origem, a inspiração ou simplesmente uma homenagem à autoridade que pudesse 
legitimar e dar um caráter eclesial incontestável, que fosse admitido por todos. 
Na verdade, com algumas exceções, por exemplo, algumas Cartas de Paulo 
consideradas autênticas, a atribuição de autoria apostólica dada aos textos do 
Novo Testamento é fruto de um grande trabalho feito em mutirão: redatores ou 
editores dos textos originais já escritos eram aceitos e utilizados na vida litúrgica e 
catequética das comunidades. Ensino e culto ajudaram a preservar os textos que, 
num primeiro momento, nasceram da tradição oral e dos testemunhos oculares. 
5 Literalmente, nos manuscritos mais antigos dos Evangelhos, encontra-se o título em grego da seguinte forma: “kata 
Mattaion”, “kata Makron”, “kata Loukan”, “Kata Iwannen”. A palavra “Kata” significa exatamente isso: segundo, 
conforme Mateus, Marcos, Lucas e João. Por isso, é mais adequado interpretar a autoria dos evangelhos como 
testemunho segundo Mateus, Marcos, Lucas e João e não como Evangelhos desses apóstolos, como se fossem 
escritos por eles.
13
UNIDADE Introdução ao Novo Testamento
Formação e Diferentes Planos Históricos 
de Interpretação dos Evangelhos
Os Evangelhos são produtos de histórias e lembranças das palavras e atos 
de Jesus. Além da tradição oral, já existiam escritos de relatos pré-evangélicos 
que serviram como fonte para a composição redacional dos evangelhos, pois 
circulavam entre os cristãos documentos na forma de unidades ou coletâneas de 
ditos, sentenças, parábolas, milagres ou eventos marcantes da vida de Jesus como 
claramente está admitido no prólogo do Evangelho segundo Lucas (1,1-4).
Portanto, para se compreender a mensagem dos Evangelhos, é preciso que o 
leitor atual reconheça os dois contextos que marcaram a sua escritura, tal como foi 
exposto no quadro que finaliza a introdução desta unidade. Quando a esses dois 
contextos se soma o contexto do leitor atual, temos um terceiro. O resultado é 
que a leitura atualizada dos Evangelhos exige do leitor uma postura que é inversa 
àquela que deve ter sido exigida dos apóstolos que conviveram com Jesus. Para 
os apóstolos como testemunhas oculares do homem de Nazaré, a fé em Jesus 
significou ver no homem o Messias prometido. Hoje, para nós, ter fé significa 
descobrir em Jesus Cristo quem foi o homem de Nazaré. 
Para o leitor de hoje que já nasceu numa cultura cristianizada e que, ao menos 
verbal e aparentemente, parece ter assumido que Jesus é o Messias, o desafio de fé 
é diferente daquele dos apóstolos que foram testemunhas oculares. O desafio é ver 
na divindade do Cristo proclamada pela fé proveniente do legado cultural, histórico 
e eclesial, a humanidade original do Galileu da Vila de Nazaré. 
Desfazer-se do automatismo do “Cristo” como sobrenome de Jesus é fundamental 
para encontrar a novidade da proclamação da fé dos autores dos Evangelhos. Isso 
não significa ter que negar o “Cristo”, mas, ao contrário, reencontrar a profundidade 
do significado da messianidade de Jesus no contexto, tanto da história de Jesus 
quanto na história das comunidades que vieram a professá-lo como tal. 
A história da formação dos Evangelhos, além dos dois contextos já apontados, 
pode ser apresentada, seguindo três planos de abordagem. E a estes três planos, 
pode-se acrescentar o plano do sujeito leitor. 
• 1º Plano: é o plano histórico (1º contexto). Nele temos o principal aconte-
cimento, o evento histórico Jesus de Nazaré, em seu tempo, com sua vida, 
feitos, ditos e, finalmente, sua morte. 
• 2º Plano: é o plano dos discípulos e das primeiras comunidades seguidoras 
de Jesus (Transição entre o 1º e o 2º contexto). Nesse plano, temos a vida das 
comunidades primitivas que permaneceram fiéis aos ditos e ensinamentos de 
Jesus, proclamando seus feitos, sua morte e sua ressurreição. É o período da 
construção da memória e das tradições orais.
14
15
• 3º Plano: é o plano da história dos primeiros evangelistas, escritores e 
redatores dos Evangelhos (2º contexto). Esse é o plano histórico do surgimento 
dos redatores que escreveram os textos sobre a vida de Jesus, segundo as 
tradições orais e outros pequenos textos, que foram sendo compilados 
segundo os interesses de manter, defender e propagar a fé vivida, fixando para 
as futuras gerações critérios e padrões de conduta, doutrina e outras normas 
para o exercício da transmissão de poder e autoridade em relação ao legado 
da tradição sobre Jesus.
• 4º Plano: é o plano do leitor atual. Esse é o plano histórico daquele que lê o 
Evangelho a partir de seu próprio contexto, comunidade, grupo e interesses 
de seu tempo, isto é, do momento em que vive sua própria vida com seus 
problemas e interesses de toda ordem. 
No primeiro plano, a ordem que prevalece é a histórica; no segundo, é a tradição 
oral; no terceiro, é a ordem literária; e, na quarta, é sempre a hermenêutica. A 
interpretação do sujeito leitor condiciona todos os outros planos. 
A formação dos Evangelhos tem uma história e no plano literário ela se conclui 
em contexto bem definido. É o momento da escolha das fontes orais e escritas 
para construir o conjunto da obra narrativa evangélica. Pequenos textos escritos, 
alguns talvez bem próximos dos acontecimentos que retratam, e outros talvez dez, 
vinte ou mais anos depois, são recolhidos e tecidos para compor um grande enredo 
do ministério da vida de Jesus que resultaram nos evangelhos que temos hoje. 
O quarto plano coincide com o contexto de interpretação. O leitor é chamado a 
uma postura crítica capaz de distinguir esses diferentes planos de abordagem do ma-
terial que lê. O estudo crítico pressupõe uma leitura atenta do plano literário, procu-
rando identificar as diferentes etapas da formação e redação dos textos. Nesse plano 
interpretativo, é preciso considerar não apenas os condicionamentos do contexto do 
sujeito que lê o texto, como os condicionamentos dos contextos que marcaram as 
intenções dos sujeitos e interlocutores originários do escritos evangélicos. 
O resultado da análise de toda essa configuração histórica e literária da formação 
dos Evangelhos é a constatação da pluralidade de cristianismos desde suas origens. 
Os Evangelhos são testemunhos materiais de múltiplas abordagens do fenômeno 
religioso da fé em Jesus. A seguir, transcrevemos um quadro dessa complexa 
configuração dos planos e contextos que marcaram as origens e a formação da 
escritura dos Evangelhos. O modelo é uma adaptação livre e criativa do gráfico 
criado pelos teólogos biblistas Michel Gourgues e Etienne Charpentier (GOURGUES 
& CHARPENTIER, 1985, p. 48).
15
UNIDADE Introdução ao Novo Testamento
• 1º Plano: HISTÓRICO — evento Jesus — (1º contexto)
• 2º Plano: TRADIÇÕES ORAIS — construção da memória — testemunhas 
oculares — apóstolos e discípulos — comunidades primitivas (1ª geração) — 
primeiras unidades escritas (Contexto de Transição)
• 3º Plano: LITERÁRIO — pré-textos (tradições orais + fontes de unidades 
escritas) — Evangelistas, autores/redatores – representantes das 2ª e/ou 3ª 
gerações das comunidades primitivas) — surgimento dos EVANGELHOS 
(2º Contexto)
• 4º Plano: HERMENÊUTICO — interpretação dos Evangelhos (3º Contexto) 
— atualização da mensagem a partir da leitura do sujeito leitor desde seu 
próprio contexto 
O Problema Sinótico
O problema sinótico consiste em saber como se explicam a semelhança e a pro-
ximidade de linguagem, fatos e narrativas dos três primeiros evangelhos em relação 
ao quarto, ao mesmo tempo em que se notam algumas diferenças entre eles. 
O nome sinóticos foi dado aos três primeiros evangelhos canônicos no 
fim do séc. XVIII. Provém da synopsis evangeliorum, trabalho publicado 
em halle, em 1776, pelo sábio alemão J.J. Griesbach. Nascera-lhe a 
idéia de elaborar uma edição de Mateus, Marcos e Lucas, que permitisseabranger os três num único olhar. Assim agindo, ele se fizera eco da 
opinião que Santo Agostinho já tinha em 399 e expusera em seu de 
Consensu evangelistarum. Para o bispo de Hipona, os evangelhos teriam 
sido escritos na ordem em que estão no cânon: Marcos teria seguido 
fielmente Mateus, embora resumindo-o; Lucas teria sofrido influência de 
um e de outro. Essa intervenção da sinopse no século XVIII contribuiu 
enormemente para instaurar a era da crítica evangélica. Apenas 
vislumbrada por Agostinho, a questão da formação dos evangelhos ia 
desde então se impor sem dificuldade. Até aquela época, consideravam- 
-se os evangelistas como testemunhas oculares – diferentes, sem dúvida, 
porém, diretos – dos fatos ocorridos, e tudo quanto haviam escrito era 
isento de qualquer erro ou contradição (GOURGUES & CHARPENTIER, 
1985, p. 48). 
Uma vez superada a ideia de harmonia dos evangelhos, foi preciso explicar a 
razão das semelhanças entre eles. O problema está na dificuldade em se encontrar 
uma solução precisa e definitiva sobre as fontes e tradições que antecederam e 
serviram de base para alicerçar relatos às vezes presentes nos três evangelhos 
(Mateus, Marcos e Lucas), enquanto outros só se encontram em apenas um 
deles. A parábola do semeador, por exemplo, está presente nos três evangelhos 
(Mc 4,3-8; Mt 13,3-8; Lc 8,5-8), enquanto a do bom samaritano apenas em Lucas 
(Lc 10,30-37). 
16
17
Diante das repetições de certos episódios e relatos nos três evangelhos e da 
ausência de outros em um ou dois deles, pergunta-se: quem escreveu primeiro e qual 
dos relatos serviu de fonte para os outros? Considerando diferentes hipóteses, será 
que havia documentos específicos sobre parábolas, milagres ou ditos que serviram 
como fontes comuns aos evangelistas? São perguntas para as quais os estudiosos 
ainda não têm respostas definitivas. São apenas hipóteses, probabilidades que só 
com muita pesquisa e discussão, fazem surgir alguns consensos. 
Portanto, o problema sinótico nascido do questionamento da pretensa harmonia 
dos evangelhos, permitiu que se aprofundasse a razão das diferenças e desacordos, 
buscando explicar as fontes de cada um dos evangelhos. A semelhança maior entre 
os três primeiros evangelhos (Mateus, Marcos e Lucas) em relação ao quarto (João) 
é que levou os estudiosos a lançarem um olhar panorâmico de análise, tomando 
numa só ótica os três primeiros (do grego “sin” + “ótico”). Daí a nomeação dos três 
como Evangelhos Sinóticos. A seguir, veja o quadro que aponta para a estrutura 
dos relatos que dizem respeito à vida de Jesus nos evangelhos sinóticos e que está 
ausente no quarto evangelho. (MONASTERIO, 2000, p. 14):
Temas do Enredo Mt Mc Lc
A) Preparação do ministério de Jesus 3,1-41 1,1-13 3,1-4,13
B) Ministério na Galiléia 4,12-18,35 1,14-9,50 4,14-9,50
C) Viagem a Jerusalém 19,1-20,34 10,1-56 9,51-18,43
D) Paixão e Ressurreição 21-28 11-16 19-24
A crítica moderna à posição de Santo Agostinho sobre a composição e relação 
entre os Evangelhos alterou definitivamente o modo como se concebia até então 
a cronologia e a relação das influências e fontes entre os Evangelhos. Uma teoria 
bem original sobre o problema sinótico e a história da redação dos evangelhos foi 
apresentada por John Dominic Crossan, exegeta estudioso do Novo Testamento. 
Do ponto de vista de uma cronologia das fontes e da redação dos evangelhos, 
Crossan em seu livro Jesus Histórico (1994), propôs diversos conjuntos (que ele 
chama de estratos) de fontes bibliográficas acerca do Jesus da história. Dentre os 
quatro estratos de testemunhos independentes sobre Jesus, reunidos segundo a 
cronologia de sua origem escrita, o Evangelho de Marcos encontra-se apenas como 
parte do segundo estrato (entre os anos 60 e 80). Os Evangelhos segundo Mateus e 
Lucas, assim como o da comunidade joanina pertencem apenas ao terceiro estrato 
(entre os anos 80 e 120). 
Os estudos sobre tradições, fontes e a crítica da redação, além de permitirem a 
análise dos testemunhos distintos sobre Jesus separados por uma escala cronológica, 
acabaram produzindo novas descobertas. Dessa comparação entre os Evangelhos, 
foi descoberta, por exemplo, a fonte Q. Esse “Q” deve-se à palavra alemã “Quelle” 
que significa fonte. Portanto, a fonte Q foi deduzida da comparação entre textos 
paralelos exclusivos de Mt e Lc, presente apenas nesses dois evangelhos e não em 
Marcos. Observe, por exemplo, um trecho da fonte Q na oração do Pai Nosso
(Mt 6,9-13; Lc 11,2-4). 
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UNIDADE Introdução ao Novo Testamento
Modelo Teórico de Resolução do Problema Sinótico
O modelo mais aceito atualmente entre os estudiosos sobre a dependência entre 
os testemunhos existentes entre os Evangelhos Sinóticos pode ser representado 
por duas grandes constatações: o Evangelho de Marcos é fonte principal dos 
Evangelhos de Mateus e Lucas e o documento Q, que é basicamente uma coleção 
de ditos atribuídos a Jesus, é fonte de Mateus e Lucas. Outras hipóteses continuam 
no terreno da especulação e das possibilidades. Dois bons exemplos de hipóteses 
que estão no campo da especulação: 
• 1º O Evangelho de Marcos, original grego que conhecemos, tem como fonte 
um evangelho escrito em aramaico que o antecedeu;
• 2º Os Evangelhos de Mateus e Lucas têm como fonte não o Marcos que co-
nhecemos, mas esse pretenso evangelho que o antecedeu, o Marcos aramaico.
Desse modo, o esquema de resolução do problema da dependência dos 
Evangelhos Sinóticos pode ser assim representado:
Mc Mt
Lc Q
Os estudos literários do Novo Testamento, além da crítica das fontes, precisam 
pressupor o levantamento do contexto histórico que marcou a vida de Jesus na 
sociedade de seu tempo sob o domínio do império romano. Algumas dessas 
informações históricas são fundamentais para compreender a mensagem que os 
evangelistas escreveram sobre Jesus. 
História e Sociedade do Tempo de Jesus
História
Os escritos do Novo Testamento estão inseridos na cronologia bíblica vetero-
testamentária, que, por sua vez, retrata a história do antigo Estado de Israel. Jesus 
pertenceu a essa história e sua vida é fruto das esperanças que os seus contem-
porâneos depositavam nas profecias do passado. As genealogias dos Evangelhos 
de Mateus e Lucas pretenderam demonstrar exatamente isso: Jesus é o herdeiro 
legítimo e o mais completo modelo das promessas do passado histórico de Israel 
(Mt 1,1-17; Lc 3,23-38). 
18
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Observe abaixo a cronologia da história bíblica em seus principais momentos. 
Ela mostra as grandes etapas da história de Israel6, incluindo o período intertesta-
mentário e o surgimento do cristianismo primitivo no primeiro século de nossa Era.
1000 933-722/1 722/1-587/6 587/6-537 539... 333 167-164 63 40-4
Reino de Davi
e Salomão
História
paralela dos
dois reinos
irmãos: Norte 
(Israel) e Sul 
(Judá)
Único reino 
independente: 
Sul (Judá)
640-609:
reinado de
Josias
Exílio na
Babilônia
Período da 
reconstrução
de Judá-
Jerusalém
Antíoco IV
Epífanes inicia
um processo de
helenização
obrigatória.
Revolta dos
Macabeus.
Perseguição e
mártires.
Reinado de
Literatura Profética
Literatura Sapiencial
933: Separação dos dois
reinos: Norte e Sul
722/1: Assíria invade e destrói
reino Norte (Israel)
597 e 587/6: Babilônia invade Jerusalém e manda parteda
população para o Exílio
539: Vitória de Ciro, rei daPérsia. Início da volta
de alguns exilados.
Diversas tradições que, reunidas, formaram os atuais livros do Pentateuco e da Obra Histórica Deuteronomista
• Criação;
• Dilúvio;
• Patriarcas;
• Êxodo
do Egito;
• Conquista
da terra
prometida;
• Juízes
Alexandre
Magno
conquista o
Antigo Oriente
Próximo
(Oriente
Médio)
Roma
conquista o
Oriente Médio.
6 a.C.:
Nascimento
de Jesus
Figura 1 − Cronologia bíblica
Como se vê, trata-se de uma história marcada principalmente pela dominação 
de Israel sob o poder de diferentes impérios: egípcio, assírio, babilônico, persa, 
grego e romano. A etapa que representa o Novo Testamento traz a figura de 
Jesus e seu movimento, o aparecimento dosprimeiros apóstolos e discípulos com 
suas comunidades e escritos se espalhando pelo mundo que era dominado pela 
ideologia da Pax Romana7. Evidentemente que a paz conquistada por Otávio, 
uma vez tendo vencido seus adversários internos e externos, só pôde ser mantida 
à custa não só da propaganda imperial, mas também de muita repressão militar. 
A destruição de Jerusalém em 70 d.C. na Guerra Judaica e a perseguição aos 
cristãos em diferentes momentos do primeiro século, não deixaram nenhuma 
dúvida sobre o que significou de fato a paz imposta pelos romanos. 
6 Pode-se interpretar e dividir a história do Israel antigo, pressuposto pela narrativa bíblica, em quatro grandes 
períodos: 1ª) Tribalismo: entre os séculos XIV e X a.C., período que antecedeu a formação do Estado no séc. X a.C. 
com Saul, Davi e Salomão; foi a etapa das matriarcas e patriarcas dos tempos das tribos de Israel; 2ª) Formação, 
desenvolvimento do Estado de Israel com seus primeiros reis, a divisão entre os Reinos, o do Norte (Israel) e o 
do Sul (Judá) até o fim da realeza em Jerusalém quando as elites foram deportadas e exiladas para a Babilônia (séc. 
X–VI a.C.); 3ª) Restauração: período do exílio, do retorno à terra às origens do judaísmo (séc. VI-IV a.C.); incluí 
meio século de exílio na Babilônia, o retorno à terra para a reconstrução da cidade e do templo de Jerusalém com 
Esdras e Neemias sob o domínio do império persa; 4ª) Helenismo: período entre os séculos IV-I a.C. em que Israel 
é dominado pelo império macedônico, pelos generais sucessores de Alexandre Magno e mais tarde pelos romanos 
(LARA, 2009, p. 80-87); período que terá a revolta dos irmãos Macabeus (século II a.C.) como evento desencadeador 
de novas configurações sociopolíticas em Israel dos séculos seguintes (LARA, 2009, p. 80-87)
7 Klaus Wengst (1991) escreveu uma obra de análise exaustiva sobre o caráter ideológico da Pax Romana. Vale a pena 
ler e conferir.
19
UNIDADE Introdução ao Novo Testamento
Geografia
A história da sociedade no tempo de Jesus tem como palco e cenário a geo-
grafia da Palestina, terra assim chamada pelos romanos e da qual faziam parte as 
províncias sob o domínio dos procuradores ou reis submissos e obedientes a Roma. 
Judeia, Samaria e Galileia eram regiões sob o domínio político romano, mas que 
anteriormente faziam parte do antigo estado de Israel. Veja a seguir, o mapa da 
Palestina no primeiro século e o compare com o relato do Evangelho de Lucas ao 
situar histórica e politicamente o nascimento de Jesus segundo a divisão adminis-
trativa imposta pelos romanos (Lc 3,1) àquela região.
Figura 2 − Mapa da Palestina na época de Jesus
Fonte: Wikimedia Commons
20
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O território da Palestina na época de Jesus cobria uma área de mais ou menos 
20.000 Km2, numa faixa de terra que alcançava a extensão de 240 Km, medida 
de norte ao sul, e de 85 Km quando considerada a maior distância de leste a 
oeste. Nesse pequeno território, três povos irmãos, convivem em meio a conflitos 
culturais que historicamente acabaram gerando discriminações de toda ordem. 
A parte norte, região da Galileia, juntamente com as planícies do Jordão, são áre-
as férteis com predomínio da agricultura. A região sul, chamada Judéia, onde está Je-
rusalém, é montanhosa e presta-se mais às pastagens e criação do gado e ao cultivo 
da oliveira. [...] Na Judéia estão os judeus, que se julgam a raça pura e os portadores 
da autêntica tradição herdade de Moisés. No norte estão os galileus. Muito embora 
estejam ligados ao centro religioso que é Jerusalém, [...] os galileus são mal vistos 
no sul. Entre a Judéia e a Galiléia está a Samaria. Os samaritanos são considerados 
impuros, sobretudo pelos sulistas (VASCONCELLOS, 1991, p. 16). 
Nesse contexto diverso e complexo, Jesus, como galileu da cidade de Nazaré, 
será reconhecido e se manifestará para a história.
 Sociedade e Política no Tempo de Jesus
O domínio romano impôs à sociedade todo tipo de exploração econômica aos 
habitantes da Palestina, sobretudo, aos camponeses mais pobres e aos pequenos 
proprietários. Se não bastasse o uso da mão de obra escrava, predominante no 
sistema escravagista adotado por Roma, havia a cobrança de impostos de toda 
espécie, inclusive sobre a terra, seus produtos e o comércio. A política tributária 
dificultava a sobrevivência de pequenos proprietários; privilegiava a expansão do 
latifúndio e ignorava os interesses da população local. Parábolas de Jesus como a 
dos trabalhadores da vinha (Mt 20,1-16) mostram que o recrutamento de gente 
desocupada para que trabalhasse no campo como diarista era uma realidade 
bastante comum e exemplo do modelo de exploração dos pobres. 
Instituições fundamentais dos Judeus na Palestina: Templo e Sinédrio
O Templo de Jerusalém representava, no contexto da dominação romana, 
a ponte entre o domínio externo e interno. Ele era um centro de controle da 
vida religiosa do povo e, por isso, uma verdadeira instituição reguladora do 
sistema jurídico com forte influência na estrutura de dominação política da nação. 
A exploração econômica da população também passava pelo Templo. Havia uma 
série de obrigações religiosas que implicavam no pagamento de impostos devidos 
e recolhidos pelo Templo. Não é por acaso que Jesus teve uma atitude muito dura 
e crítica em relação a essa instituição poderosa (Mc 11,15-18).
O Sinédrio funcionava como conselho de anciãos formado principalmente por 
representantes da elite de Jerusalém, grandes fazendeiros, ricos comerciantes, 
escribas e sacerdotes de muito prestígio e fortuna. Apesar de ser uma instituição 
judaica, o Sinédrio possuía certa autonomia, mas de fato, dependia do aval dos 
romanos para exercer seus poderes. O Sumo Sacerdote, o líder espiritual da nação 
21
UNIDADE Introdução ao Novo Testamento
e presidente do Sinédrio poderia ser derrubado do poder a qualquer momento pelo 
procurador romano. O papel do Sinédrio era, portanto, o de um grande Tribunal, 
com força política nas questões de conflito interno, pois arbitrava os processos 
civis, penais e criminais.
A memória de lutas conservadas e mantidas vivas pelas tradições religiosas 
do povo judeu alimentava o sonho de uma sociedade liberta do domínio romano. 
O passado das lutas por libertação dos tempos do tribalismo, como o êxodo do 
Egito liderado por Moisés, as lutas de ocupação da terra por Josué e os ideais 
dos antigos juízes fortaleciam a resistência do povo. A memória profética, por 
outro lado, mantinha a fé e as esperanças da vinda de um messias que governaria 
o povo segundo a vontade de Deus e instauraria um Reino de justiça e paz para 
todos. A memória mais recente da vitória contra a opressão imperial empreendida 
pelos irmãos Macabeus dois séculos antes e movimentos religiosos apocalípticos do 
presente inspiravam cada vez mais movimentos messiânicos de libertação nacional. 
Povo e representantes dos diversos setores da população se multiplicavam e se 
dividiam em diferentes propostas de interpretação e atuação diante da realidade. O 
resultado era a formação de inúmeros movimentos sociais e populares de resistência 
e contestação8. O quadro político religioso pode ser apresentado naquele contexto 
segundo a presença influente dos seguintes grupos: saduceus, herodianos, fariseus, 
essênios e zelotas. Cada um deles propunha, segundo seus próprios interesses, o 
modo como enfrentar as mazelas e os conflitos de seu tempo. Não seria exagero, 
se analogicamente, comparássemos os grupos religiosos do tempo de Jesus como 
verdadeiros partidos políticos de nosso tempo, uma vez que todos eles propunham, 
por meio da fé religiosa, formas de conquistar ou manter o poder para fazer 
prevalecer um determinado projeto de sociedade.
Os partidos religiosos políticos da Palestina no tempo de Jesus
A seguir, apresentamos brevemente as principais características de cada um dos 
partidos religiosos políticos do tempo de Jesus. 
A) Saduceus 
Os saduceus representavam a aristocracia sacerdotal; pertenciam às famílias com 
fortuna;quanto à dominação romana, praticavam uma política de colaboração; 
submissos ao poder de Roma serviam como controladores da ordem e mantenedores 
do funcionamento da sociedade, opondo-se aos interesses das camadas mais pobres 
da população. Eles controlavam o Sinédrio, Jerusalém e o Templo.
B) Herodianos 
Os herodianos eram os políticos de ocasião, partidários do Rei Herodes; 
aproximavam-se dos fariseus graças ao prestígio que eles tinham junto ao povo, 
mas defendiam os interesses da corte em aliança com o poder romano. Eles 
desempenhavam uma forte repressão aos movimentos de contestação ao norte, 
sobretudo na Galiléia.
8 A obra de Horsley e Hanson (1995) levantou a existência de inúmeros movimentos populares no tempo de Jesus.
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C) Fariseus
Os fariseus eram representantes e guardiões da lei em seu cumprimento estrito 
e escrupuloso. Consideravam-se puros e separados; procuravam seguir a lei de 
Moisés à risca; não se misturavam com o povo para não se tornarem impuros, mas 
eram vistos e respeitados por ele como verdadeiros mestres; viviam em oposição 
aos herodianos e saduceus quando o tema se tratava da observação estrita da 
lei e do seguimento da religião; desejavam um Estado Nacional, governado por 
verdadeiros representantes de Deus.
D) Essênios
Os essênios formavam um grupo semelhante ao que chamaríamos hoje de 
monges. Eles viviam separados da sociedade, levando uma vida alternativa em 
comunidades igualitárias, partilhando seus bens, dividindo as tarefas na espera da 
vinda do Messias renovador, pai da Justiça que iria purificar o Templo e restabelecer 
a autonomia da nação.
E) Zelotas
 Os zelotas eram revolucionários, formavam grupos de guerrilheiros, partidários 
de mobilizações ativas, inclusive violentas, contra a dominação romana; trabalhavam 
na clandestinidade; preferiam a morte a viverem passivamente subjugados; em 
ambientes urbanos eram conhecidos como “sicários”, porque andavam armados 
com um pequeno punho chamado “sica”. Eles propunham a libertação nacional, 
a purificação do Templo e medidas de restabelecimento da justiça, reforma agrária 
e anulação das dívidas. 
Conclusão
Jesus viveu intensamente o clima das propostas políticas e religiosas de seu 
tempo. O movimento de Jesus foi profundamente condicionado por esses grupos 
religiosos e políticos, principalmente pelo de João Batista. Muita coisa aproveitou, 
mas não parece ter se identificado plenamente com nenhum deles. No movimento 
que organizou, estavam presentes, sobretudo, trabalhadores, pescadores da Galiléia, 
alguns membros do movimento zelota e partidários de João Batista. Isso mostra o 
caráter de movimento popular, profético e alternativo que marcou a proposta de 
Jesus: um movimento que foi ao encontro dos interesses do povo, principalmente 
dos mais pobres e marginalizados de seu tempo. 
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UNIDADE Introdução ao Novo Testamento
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
 Livros
A Vida no Tempo de Jesus de Nazaré
Consulte o livro de CONNOLLY, Peter. Tradução de Maria das Mercês de Mendonça 
Soares. Lisboa/São Paulo: Editorial Verbo. Trata-se de um livro com informações 
curiosas sobre a cultura, os costumes, o vestuário, a comida e outros detalhes sobre a 
história e a sociedade do tempo de Jesus com ilustrações bem interessantes. Não é um 
livro fácil de ser encontrado, mas vale a pena ser consultado. Poderá ser encontrado 
prioritariamente em bibliotecas de Faculdades de Teologia.
 Vídeos
Jesus e Sua Época - A História Começa
Publicado e postado por Márcio Cruz em 10 de jun de 2013. Trata-se de documentário 
sobre o tempo, a terra e os costumes da sociedade em que viveu Jesus que leva em 
conta como fonte os Evangelhos e outras informações da história. Interessante nesse 
trabalho é que há uma variação entre citações literais dos evangelhos e explicações 
sobre os aspectos socioculturais do contexto histórico que marcaram a vida e o 
ministério de Jesus.
https://youtu.be/HUrn66M-wDs
 Filmes
Jesus de Nazaré
Trata-se de um dos mais célebres e populares dos filmes épicos sobre a vida de Jesus, 
aclamado pela crítica e pelos cinéfilos. Se você ainda não viu, vale a pena desfrutar 
dessa obra clássica de Zeffirelli.
https://youtu.be/P2XwD5M7MNA
 Leitura
Leia alguns artigos de perspectivas distintas sobre a formação do Cânon do Novo 
Testamento. Eles contêm informações sobre as tradições que acabaram por determinar 
o Cânon, isto é, a ordem e a inclusão dos livros, das cartas e dos evangelhos que temos 
hoje no conjunto dos escritos que as Igrejas cristãs, católicas e evangélicas chamam de 
Novo Testamento.
A Definição do Cânon do Novo Testamento
https://goo.gl/KhAanc
A Formação do Cânon do Novo Testamento e as Implicações para a Igreja
https://goo.gl/9VCdA7
Origem e Formação do Cânon do Novo Testamento
https://goo.gl/BbiYMz
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Referências
BRAKEMEIER, Gottfried. Mundo contemporâneo do Novo Testamento. Vol. 1 
e 2. São Leopoldo: Comissão de publicações da Faculdade de Teologia Luterana 
de S. Leopoldo, 1984.
CAMACHO, F. & MATEOS, J. Jesus e a sociedade de seu tempo. São Paulo: 
Paulinas.
CHARPENTIER, E. & Outros. Evangelhos Sinóticos e Atos dos Apóstolos. 2. 
ed. São Paulo: Paulinas, 1985.
CROSSAN, John Dominic. O Jesus Histórico. A vida de um camponês judeu do 
mediterrâneo. Rio de Janeiro: Imago, 1994.
DIAS DA SILVA, Cássio Murilo. “Aprenda a ler o Antigo Testamento”. Artigo 
em PDF disponível em: <http://www.airtonjo.com/download/Aprenda-a-ler-o-
Antigo-Testamento.pdf>. Acesso em 25/07/2017 às 18h41.
GOURGUES, M. & CHARPENTIER, E. “Introdução aos Evangelhos”. In: ANEAU, 
Joseph e outros. Evangelhos Sinóticos e Atos dos Apóstolos. Tradução de M. 
Cecília de M. Duprat. São Paulo: Paulinas, 1985, p. 48. 
HOORNAERT, Eduardo. O movimento de Jesus. PETRÓPOLIS: VOZES.
HORSLEY, Richard A. & HANSON, John S. Bandidos, profetas e messias. 
Movimentos populares no tempo de Jesus. São Paulo: Paulus, 1995.
JEREMIAS, J. Jerusalém no tempo de Jesus. São Paulo: Paulinas
LARA, Valter Luiz. A Bíblia e o desafio da interpretação sociológica. Introdução 
ao Primeiro Testamento à luz de seus contextos históricos e sociais. São Paulo: 
Paulus, 2009. 
MONASTERIO, Rafael Aguirre. “O enigma dos sinóticos”. In: O’ CALLAGHAN, 
José. A formação do Novo Testamento. Tradução de José Afonso Beraldin da 
Silva. São Paulo: Paulinas, 2000. 
SAULNIER, Christiane & ROLLAND, Bernard. A Palestina no tempo de Jesus. 
São Paulo: Paulinas, 1983.
WENGST, Klaus. Pax Romana. Pretensão e Realidade. São Paulo: Paulinas, 1991. 
VASCONCELLOS, Pedro Lima. “Jesus, sua terra e sua proposta”. In: VILLAC, 
Sylvia. Eu vim para que todos tenham vida em plenitude. Introdução ao Novo 
Testamento. 2. ed. São Paulo: ITEBRA – Instituto Teológico Brasilândia, 1991.
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