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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO - UEMA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS - CCA CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA DEPARTAMENTO DE CLÍNICAS VETERINÁRIAS DISCIPLINA DE DIAGNÓSTICO POR IMAGEM JÚLIA CAROLINA COSTA PEREIRA ARTRITE REUMATOIDE VETERINÁRAIA: UMA REVISÃO DE LITERATURA São Luís - MA 2020 JÚLIA CAROLINA COSTA PEREIRA ARTRITE REUMATOIDE VETERINÁRAIA: UMA REVISÃO DE LITERATURA Revisão de literatura elaborada como requisito de aprovação da disciplina de Diagnóstico por imagem do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Estadual do Maranhão, ministrada pelo Professor Ms. Danilo Breno de Assis Torres. São Luís - MA 2020 RESUMO A artrite reumatoide (AR) é uma doença pouco relatada na medicina veterinária e de manejo difícil, já que se tem pouco conhecimento da sua origem e o tratamento é utilizado apenas para controlar a dor nas articulações e retardar um pouco o avanço da doença, o que não acaba se fazendo possível porque a maioria dos relatados na literatura se fazem como base o uso de corticoides que tem efeitos colaterais severos. A AR é uma doença difícil de ser diagnóstica por conta do seu desenvolvimento lento e correlação com outras doenças relacionadas com as articulações e isso deve ser considerado pelos médicos veterinários clínicos para estabelecer o diagnóstico diferencial das principais doenças que acometem as cartilagens dos pequenos animais. O presente artigo faz uma revisão sobre a artrite reumatoide em pequenos animais, por meio de relatos de casos e pesquisas sobre AR nacionais e internacionais, fazendo abordagem dos aspectos relacionados com etiologia, fisiopatologia, diagnóstico clínico e laboratorial, tratamento e prognóstico da doença. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO…............……………..............……………………………….………...5 2. REVISÃO DE LITERATURA ….……………………………………………………...6 2.1 CONCEITO E PREVALÊNCIA EM PEQUENOS ANIMAIS ....……………......6 2.2 ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA…...……….……………...……………......5-6 2.3 FATOR REUMATOIDE...................…...……….……………......………..........6-7 2.4. CRITÉRIOS PARA DIAGNÓSTICO..................................................................7-8 2.5. EXAME FÍSICO E SINAIS CLÍNICOS..............................................................8-9 2.6. ACHADOS LABORATORIAIS........................................................................9-10 2.7. DIAGNÓSTICO RADIOGRÁFICO................................................................10-12 2.8. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL.........................................................................12 2.9. TRATAMENTO...............................................................................................12-13 2.10 PROGNÓSTICO...................................................................................................13 CONCLUSÃO……….……………………………………………..............…………...…...15 REFERÊNCIAS…………....………………………………....………………………….16-18 5 1. INTRODUÇÃO A artrite reumatoide é uma doença que tem como característica a inflamação do tecido sinovial, causando à danificação das articulações por erosão do osso e cartilagem (LAURINO et al.,2004). A doença é descrita como de origem autoimune, não infecciosa de caráter crônico tornando dolorosa a locomoção do paciente devido a sua progressão (GOELDNER et al., 2011). A ocorrência desta poliartrite pode ser descrita como natural na espécie canina e tem semelhanças quando comparada à artrite reumatoide humana, as semelhanças podem ser tanto clínicas como patológicas e incluem febre, rigidez, dor, claudicação, edema tanto nos tecidos moles como em torno das articulações. (JERICÓ et al., 2015). A causa inicial desta artrite ainda é desconhecida, no entanto, houve evolução desta doença para resposta imune celular podendo se manifestar em diferentes estágios dependendo da duração e do início da inflamação da membrana sinovial (JERICÓ et al., 2015). Os fatores reumatoides, produzidos pela doença autoimune, agem contra imunoglobulinas (IgG e IgM) do hospedeiro e formam imunocomplexos que atacam e destroem tecidos perfeitamente saudáveis (BENNET, 2004). Para diagnóstico são utilizados os mesmos critérios estabelecidos para o diagnóstico da artrite reumatoide humana (JERICÓ et al., 2015). Seu diagnóstico é estabelecido a partir de achados clínicos e exames completares, tanto laboratoriais como de imagem (BÉRTOLO et al., 2009). O diagnóstico precoce, apesar de difícil, é crucial para o manejo adequado do paciente e estabilização do quadro clínico (BÉRTOLO et al., 2009). No entanto, devido à grande diversidade das manifestações clínicas, se torna desafiador o diagnóstico precoce da artrite reumatoide, por isso, é importante o acompanhamento regular do paciente para identificar e realizar o tratamento da doença para que não progrida e se torne mais agrave (GOELDNER et al., 2011). O objetivo proposto por este trabalho é revisar a literatura acerca da artrite reumatoide veterinária, partindo dos primórdios da doença até o diagnóstico, tratamento e prognóstico. 5 2. REVISÃO DE LITERATURA 2. 1 CONCEITO E PREVALÊNCIA NOS PEQUENOS ANIMAIS A artrite reumatoide (AR) é uma artrite erosiva não infecciosa, cujo a etiologia é desconhecida, mas acredita-se que a doença seja tem um imunomediada de caráter crônico que se caracteriza, principalmente, por poliartrite simétrica (HEUSER, 1980). Durante anos, a AR classificada como uma doença benigna, no entanto, devido aos seus efeitos deletérios sobre a mobilidade física e capacidade funcional do organismo, além da persistência do processo inflamatório, não é mais classificada como doença de caráter benigno (GOELDNER et al., 2011). É uma poliartrite grave, erosiva e progressiva que foi rela relatada em cães, uma condição semelhante tem foram relatados em gatos (THRALL, 2010). Nesses animais apresenta inflamação do tecido sinovial de diversas articulações, gerando destruição do tecido afetado, deformidades nas articulações e dor, o que impacta diretamente no bem-estar do paciente. (GOELDNER et al., 2011). A AR é uma doença incomum ou rara na espécie canina, acometendo, aproximadamente, 2 em cada 25.000 cães. Esse distúrbio ocorre principalmente em raças de pequeno porte, de 8 meses a 8 anos de idade (KIMURA, 2017). Nos felinos, essa condição é rara. Gatos de meia idade e mais velhos são os mais afetados por esse distúrbio que tem caráter raro, mas pode simplesmente ser sub-reconhecido. (LEMETAYER; TAYLOR, 2014) 2.2. ETIOLOGIA E FISIOPATOLOGIA A etiologia dessa enfermidade além de complexa, é pouco conhecida. Estudos indicam que existe influência de fatores genéticos e ambientais em sua patogênese (GOELDNER et al., 2011). A membrana sinovial, que envolve a articulação, é formada apenas por uma camada de tecido, no entanto, quando inflamada pode apresentar cerca de dez camadas celulares compostas de macrófagos e fibroblastos transformados, além de produtores de uma série de mediadores inflamatórios denominados interleucinas. Quando inflamada, apresenta um processo 6 inflamatório intenso que causa hipertrofia do tecido afetado e transformação funcional das células presentes na membrana, que são chamados de sinoviócitos (SILVA et al., 2003). Segundo Kohn (2003), os mecanismos imunopatológicos básicos tendem a criação de complexos imunes. Esses complexos imunes podem ser gerados localmente na articulação e/ou sistemicamente na circulação com deposição secundária nas articulações, o que caracteriza uma reação de hipersensibilidade tipo III. Os complexos imunes podem fixar complemento na membrana sinovial e no líquido sinovial, o que fera um danolocal ao tecido e liberação de produtos quimiotáticos para leucócitos polimorfonucleares, além dos neutrófilos liberam produtos biologicamente ativos que causam mais danos aos tecidos. Esses eventos são uma resposta imunológica normal que visa eliminar um antígeno estranho. Se o antígeno persistir ou existir desregulação imunológica, esses eventos podem resultar em doença crônica. A alteração dos próprios antígenos pode levar à perda da tolerância imunológica do indivíduo e à formação de autoanticorpos (por exemplo, fatores reumatoides). De acordo com Goeldner et al. (2011), as modificações pós-traducionais induzidas por agentes ambientais tornam moléculas próprias imunogênicas. Em consequência a outros estímulos ambientais, a resposta do sistema imunológico adaptativo pode demorar anos para o aparecimento dos sintomas dos sintomas clínicos da AR. 2.3. FATOR REUMATOIDE O Fator Reumatoide (FH) é um grupo de autoanticorpos caracterizados pela habilidade de reagir com determinados epítopos da porção fragmento cristalizável (Fc) da IgG e atua ativamente na patogênese da AR, sendo sua presença sugestiva de prognóstico desfavorável. O aparecimento de uma imunoglobulina anormal na sinóvia depende de um estímulo antigênico, o que encadeia a produção do fator reumatoide e, posteriormente, o desenvolvimento da doença reumática. Portanto, o FR não propriamente inicia o processo de inflamação da artrite reumatoide, mas amplifica o processo e perpetua. (GOELDNER et al., 2011). A artrite tipo reumatoide é comumente associada à presença de autoanticorpos dirigidos contra imunoglobulina G, conhecido como fator reumatoide (FR). Testes para FR em gatos não estão disponíveis comercialmente, mas modificações do canino Rose-Waaler ou Testes ELiSA têm sido usados para medir RF em gatos. No entanto, um teste de FR positivo não é essencial 7 ou suficiente para o diagnóstico, mas os resultados foram positivo na maioria dos relatos na literatura de gatos com artrite tipo reumatoide (LEMETAYER; TAYLOR, 2014). 2.4. CRITÉRIOS PARA DIAGNÓSTICO A artrite reumatoide canina e felina são distintas de outras poliartrites imunomediadas síndromes em virtude de alterações erosivas diagnosticadas radiograficamente nas articulações e o aparecimento do fator reumatoide no soro (PERRY, 2015). A orientação para a realização do diagnóstico de artrite reumatoide é baseada nos critérios de classificação do Colégio Americano de Reumatologia de 1978 (LAURINO et al.,2004). Os critérios de diagnóstico para AR no cão são adaptados daqueles definidos para humanos. Alguns critérios importantes são a presença de rigidez, de dor na manipulação de pelo menos uma articulação, sinais de artrite há pelo menos 3 meses, edema do tecido mole periarticular, alterações radiográficas típicas (destruição do osso subcondral, irregularidade da superfície articular ou erosões "perfuradas"), além de perda de mineralização da epífise, calcificação do tecido mole ao redor da articulação, alterações no espaço articular (aumento ou diminuição) e extensa destruição óssea com deformidade articular grosseira. A presença de líquido sinovial inflamatório, deformações simétricas características das articulações distais, detecção de fatores reumatoides no soro e alteração histopatológica característica na membrana sinovial, além de sintomas extra articulares como tendovaginite e infadenopatia. (KOHN, 2003). Já Segundo Mota et al., (2013), os critérios que devem ser atendidos para o encaminhamento do diagnóstico de artrite reumatoide são rigidez matinal com duração de pelo menos uma hora, dor ou sensibilidade de três ou mais áreas articulares com edema de partes moles ou derrame articular, artrite nas articulações dianteiras, além de artrite simétrica, nódulos reumatoides, fator reumatoide sérico e alterações radiográficas como erosões ou descalcificações. Para melhor diagnóstico os critérios rigidez matinal, dor ou sensibilidade de áreas articulares, artrite dianteira e simétrica devem estar presentes por pelo menos seis semanas. Para classificar um paciente que tem a doença são necessários sete dos quatro critérios relatados, no entanto, não são eliminados da possibilidade de desenvolvimento da doença pacientes com dois ou três critérios (LAURINO et al.,2004). 8 A falta de sensibilidade nas fases iniciais da doença foi um fator que desencadeou crítica acerca dos critérios de 1987, portanto, foram publicados novos critérios, em 2010, para ajudar no diagnóstico de pacientes que apresentavam menos de quatro critérios presentes. Os critérios do ACR/EULAR de 2010 objetivam classificar a doença e não são diagnósticos, baseiam-se em uma pontuação e as manifestações são divididas em envolvimento articular, sorologia, provas de atividade inflamatória e duração dos sintomas. (CONITEC, 2019). 2.5. EXAME FÍSICO E SINAIS CLÍNICOS Os achados típicos são marcha rígida, relutância para se mover, letargia e, em alguns casos, podem se apresentar claudicação crônica sem sinais de doença sistêmica. A gravidade da claudicação pode variar acentuadamente, e frequentemente ocorre uma claudicação de perna móvel. Nos casos menos graves, não mais do que uma vaga rigidez pode ser observada, enquanto os animais severamente afetados podem ser incapazes de ficar em pé ou andar. Típicos, mas nem sempre presentes, são articulações espessadas ou inchadas simétricas bilateralmente com dor ao movimento. (KOHN, 2003) No exame físico o cão apresenta uma leve rigidez nos membros posteriores ao caminhar (HEUSER, 1980). Nos achados clínicos observados por Kimura (2017), o cão inicialmente mostrou depressão, apatia e alguma relutância em se mover. Os primeiros sinais clínicos foram uma claudicação migratória e inchaço dos tecidos moles ao redor das articulações envolvidas. Este edema de tecidos moles foi detectado como leve distensão da cápsula articular devido ao derrame do líquido sinovial, além de lesões articulares aparentes localizadas nos cotovelos, joelhos e nas articulações do carpo e do tarso. Os sinais clínicos relatados por Bacchini-Villanova et al. (2015), foram apatia, hiporexia, emagrecimento progressivo, rigidez logo em seguida do repouso das articulações e extrema dificuldade de locomoção. Além disso, no exame ortopédico realizado no paciente notou-se presença de edema, efusão articular, crepitação e instabilidade em região de carpo bilateralmente com severa deformidade valga. Nos felinos, os sinais clínicos mais encontrado são claudicação e deformidade articular que podem ter evolução lenta durante semanas a meses. A claudicação, em apenas um membro, é frequentemente notada pelo proprietário, no entanto, quando realizado o exame físico encontra-se inchaço nas articulações, o que causa dor nas articulações distais de todos os gatos afetados. Não há relatos de doenças sistêmicas e febre, já que os gatos enfermos são raramente 9 avaliados antes de apresentarem graves deformidades articulares evidentes. (LEMETAYER; TAYLOR, 2014) 2.6. ACHADOS LABORATORIAIS O diagnóstico da AR é realizado pela observação de sinais clínicos e pode ser feito sem a ajuda de exames laboratoriais. No entanto, existem testes que podem ajuda no diagnóstico precoce do paciente e melhor prognóstico deste (SILVA et al., 2003). O líquido sinovial normal, por exemplo, é incolor a ligeiramente amarelado, transparente, não coagula quando exposto ao ar e é de alta viscosidade. Nas artrites imunomediadas, o volume do líquido sinovial costuma aumentar; geralmente é turvo, descolorido, de viscosidade diminuída, pode coagular, e a proteína e o conteúdo de células nucleadas são aumentados. Além disso, os fatores reumatóides podem ser podem ser determinados, entretanto, o teste não é específico para artrite reumatóide e o resultado pode depender do teste e do laboratório. Os testes diagnósticosadicionais dependem da história, dos sinais clínicos e das suspeitas de doenças subjacentes (KOHN, 2003). Nos exames laboratoriais realizados em uma cadela sem raça definida de cinco anos por Bacchini-Villanova et al. (2015), não foram relatados nenhuma alteração. Exames bioquímicos como alanina, aminotransferase, fosfatase alcalina, creatinina e ureia não demonstração nenhuma alteração laboratorial, o mesmo se aplica para o hemograma realizado no paciente e urinálise. De acordo com, Kimura (2017), nos exames realizados em uma cadela da raça Beagle de nove anos, que desenvolveu lesões articulares com ulcerações cutâneas, não houve alteração dos parâmetros eritrocíticos e não foi observada leucocitose e trombocitopenia leves nos exames hematológicos. Os exames bioquímicos séricos revelaram elevações moderadas das atividades de ALP e LDH. Além de um aumento nas concentrações de proteínas totais e diminuição nas concentrações de albumina. A concentração de prolactina sérica desse cão com artrite reumatoide era aparentemente maior que a de cães normais. Um diagnóstico de reumatoide felino artrite requer um teste de fator reumatoide positivo, característica alterações histológicas observadas em uma biópsia sinovial ou em ambos os diagnósticos (THRALL, 2010). 10 Um estudo realizado por Bennet e Kelly (1987), onde foram analisados 30 casos de artrite reumatoide em cães, nos exames de hemogramas foram relatados apenas três casos que apresentavam leucocitose e, dos restantes, seis tinham contagem de glóbulos brancos reduzida. Nos eritrócitos, a taxa de sedimentação foi elevada em 24 cães e a contagem de plaquetas ligeiramente diminuída em dois cães. Os níveis de fosfatase alcalina sanguínea, aspartato aminotransferase e alanina aminotransferase aumentou em aproximadamente um terço dos casos. Vinte e dois dos cães (73%) tiveram apresentaram fator reumatoide, além de três cães que se apresentaram título positivo para ANA (anticorpos antinucleares), um fator reconhecido no diagnóstico da artrite reumatoide. Nos felinos, a análise do líquido sinovial revela um aumento do TNCC com inflamação (neutrófilos, linfócitos e macrófagos). Os neutrófilos são geralmente o tipo de célula predominante (86%), mas a inflamação pode ser menos evidente do que em gatos com periósteo poliartrite proliferativa. Na biópsia sinovial há presença de sinovite crônica e hiper, com denso infiltrados linfoides e de células plasmáticas destruindo cartilagem articular. (LEMETAYER; TAYLOR, 2014) 2.7. DIAGNÓSTICO RADIOGRÁFICO Diversas abordagens podem ser utilizadas na avaliação da artrite reumatoide, incluindo radiologia convencional, tomografia computadorizada e densitometria óssea. (MOTA et al., 2013). Estudos longitudinais, com relação ao diagnóstico precoce da artrite reumatoide, demonstram que a imagem por ressonância magnética é mais sensível que o exame radiológico na identificação de danos articulares erosivos. Por meio da técnica de imagem por ressonância magnética pode-se obter imagens de diversos planos e visualizar várias estruturas da articulação, incluindo membrana sinovial, ligamentos, tendões, osso e cartilagem. (JUNIOR et al., 2011). No entanto, segundo Mota et al. (2013), a radiografia convencional é um recurso extremante eficiente para a detecção de artrite reumatoide. Porém, na identificação da doença precocemente essa técnica não é favorável pois não apresenta grau de sensibilidade para demonstrar alterações iniciais como edema de partes moles, osteoporose e erosões ósseas. No início da AR as alterações radiológicas são mínimas ou inexistentes. Podendo ser observado apenas um pequeno aumento nas partes moles ao lado das articulações atingidas, à 11 medida que a doença evolui vão haver mais achados radiológicos como destruição da cartilagem e estreitamente do espaço articular (SILVA et al., 2013). As radiografias feitas precocemente são caracterizadas por periarticulares moles inespecíficas apresentando inchaço do tecido, podendo a cápsula articular pode estar distendida. Os primeiros sinais radiográficos de envolvimento ósseo podem ser detectados em várias semanas após o início dos sinais clínicos, as mudanças que ocorre inicialmente são leves, no entanto, as anormalidades radiográficas tornam-se mais óbvias à medida que a doença avança (THRALL, 2010). A análise da radiologia precisa começar de forma mais geral e, posteriormente, seguir para uma perspectiva mais regional, para que tenhamos um diagnóstico eficiente. É preciso conhecer os achados radiológicos típicos da doença para que seja feita uma avaliação sobre a progressão da enfermidade de forma correta. A artrite reumatoide apresenta destruição bilateral e simétrica nas articulações periféricas e tem baixa frequência na região cervical da coluna, então, nas radiografias são avaliados a evolução e destruição da doença, espaço articular, proliferação óssea, tecidos moles, erosões e deformidades. Para o diagnóstico de Artrite Reumatoide, o envolvimento de pequenas e grandes articulações devem ser definidos, clínica ou radiograficamente, ou descartados. (LLOPIS et al., 2017) De acordo Thrall (2010), a progressão das alterações radiográficas também inclui destruição do osso subcondral e formação de cisto, destruição do osso pericondral, estreitamento do espaço articular, além de opacidade diminuída progressiva de epífises adjacentes às articulações afetadas, proliferação do extremidades dos metacarpos e metatarsos, que ocorre em fases avançadas artrite e representa colapso do osso subcondral, vários graus de subluxação e luxação articular. Outras alterações mais características da doença articular degenerativa que também podem estar presentes são osteófitos e entesófitos, esclerose subcondral e calcificação de tecidos periarticulares. A radiografia de um cão da raça Shepard alemão macho castrado de 2 anos foi com histórico de claudicação severa em várias pernas, apresentou na articulação fêmur-tíbio- rotuliana uma massa de gordura intra-articular deslocada em direção cranioventral devido a quantidade aumentadas de líquido sinovial, pode-se notar, também, que as cápsulas articulares estavam espessadas e distendidas. A presença de alterações no tecido e primeiros sinais de perda de cartilagem articular são bem evidentes, além do espaço articular diminuído no articulações do carpo e do tarso. (LEWIS; BOREL, 1971) 12 Nos felinos, essa poliartrite erosiva se assemelha com o descrito para os humanos, no entanto, é observada em gatos mais velhos. Esta forma é caracterizada radiograficamente por erosão óssea subcondral severa, pericondral erosão óssea e formação de cisto subcondral. formação de entesófitos, destruição óssea em pontos de ligamentos inserção no osso e subluxação de pequenas articulações de as extremidades também ocorrem (THRALL, 2010). Casos avançados podem mostram extensa destruição óssea com deformidades articulares, nos felinos, a formação de novo osso periosteal é mínima e calcificação de os tecidos moles ao redor da articulação podem ser vistos nas radiografias de casos mais avançados (LEMETAYER; TAYLOR, 2014). 2.8. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL O diagnóstico diferencial da AR parte da sintomatologia apresentada pelo animal, restringindo o diagnóstico a um grupo de possíveis doenças que apresentam semelhanças com o quadro clínico apresentado pela artrite reumatoide. As outras poliartrites que são compreendidas no diagnóstico diferencial de AR são a osteoartrose, a fibromialgia, algumas doenças sistêmicas autoimunes e outras doenças sistêmicas que podem apresentar dores articulares. Na grande parte dessas doenças, as dores articulares são de duração curta e não apresentam deformidades, geralmente, abrangem uma grande parte de sinais clínicos que não estão presentes na AR (SILVA et al., 2013). 2.9. TRATAMENTO O tratamentoda artrite reumatoide é realizado buscando controlar a dor, e retardando a natureza progressiva e erosiva da doença. O ácido acetilsalicílico tem propriedades para controlar os sintomas associados a AR, porém é observada progressão da doença somente com uso desse medicamento. O mesmo ocorre quando se trata de corticosteroides, que apresentam um efeito temporário benéfico, no entanto, doses mais altas acabam se fazendo necessárias para apresentar efeitos não tão satisfatórios acerca da progressão do curso da doença. Drogas imunossupressoras, como ciclofosfamida, azatioprina e prednisolona, usadas em combinação parecem ser bem-sucedidos em alguns casos em interromper a doença. Para que a terapia seja 13 benéfica, deve ser instituído antes que a destruição da articulação esteja muito avançada (HEUSER, 1980). No caso clínico relatado por Bacchini-Villanova et al. (2015), foi prescrito prednisolona (3 mg/kg/SID/30 dias), cloridrato de tramadol (3 mg/kg/TID/15 dias) e amitriptilina (2,14 mg/kg/BID por tempo indeterminado). O paciente se mostrou mais ativo e com redução do edema articular após os 30 primeiros dias de tratamento. Após este período, foi feita a redução gradativa da dose diária de prednisolona para 1,4 mg/kg. Nove dias após a redução, o animal apresentou quadro estável e o medicamento foi mantido com intervalo de administração de 48 horas. O tratamento após três meses apresentou melhores significativas no paciente quanto a redução das alterações morfológicas da doença. No tratamento sugerido por Kohn (2003), para casos graves de AR, podem ser utilizados aurotiomalato 0,5 mg/kg IM uma vez por semana durante 6 semanas; e auranofina 0,05-0,2 mg/kg, dose máxima 9 mg / dia. Os efeitos colaterais são depressão da medula óssea, insuficiência renal, dermatose, diarreia e úlceras da córnea. Já o tratamento descrito por Heuser (1980) para cães foi prednisona 2mg/kg administrado a cada 12 horas. A resposta clínica ao tratamento foi boa. A rigidez clínica diminuiu, o cão voltou a andar e correr sem qualquer tipo de relato de dor. A avaliação da atividade da doença deve ser feita periodicamente até que o paciente entre em remissão da doença. Sugere-se a repetição de exames radiográficos de mãos, punhos e pés a cada ano para acompanhamento evolutivo das erosões ósseas (GOELDNER et al., 2011). A artrite tipo reumatoide é agressiva, destrutiva e irreversível, se precoce a terapia modificadora da doença não é administrada. A maioria dos gatos tem apenas uma resposta mínima ao tratamento com anti-inflamatórios não esteroidais ou glicocorticoides. O tratamento realizado com metotrexato em combinação com leflunomida resultou em marcada melhora clínica em 58% dos gatos, sem toxicidade grave. A maioria gatos com artrite tipo reumatoide também requerem medicamentos analgésicos, mas os AINEs e glicocorticóides nunca devem nunca foi administrado simultaneamente (LEMETAYER; TAYLOR, 2014). O tratamento com glicocorticoides (prednisona ou prednisolona) diminui a gravidade dos sinais e pode retardar a progressão da doença, mas não é curativo. Cerca de metade de gatos tratados melhoram e têm uma qualidade de vida razoável quando tratados ao longo da vida com glicocorticoides e analgésicos (BENNET; NASH, 1988). 14 2.10. PROGNÓSTICO Na AR, o prognóstico é desfavorável se ocorrer destruição articular progressiva. Cães com AR geralmente precisam de medicação constante (KOHN, 2013). Diagnóstico e tratamento precoces, principalmente, depois do aparecimento dos primeiros sinais clínicos, podem diminuir a presença de deformidades e perdas da funcionalidade da articulação (SILVA et al., 2013). 15 CONCLUSÃO A artrite reumatoide é uma doença erosiva, autoimune e debilitante que não tem etiologia definida. A importância da descoberta da AR precocemente se faz crucial para um prognóstico melhor do paciente, já que é uma doença de categoria extremante agressiva. No entanto, existe dificuldade para diagnosticar precocemente a doença já que os sinais demoram a aparecer e, quando começam a aparecer, já apresentam um estágio mais avançado da doença. Apesar da evolução nos estudos dessa enfermidade ainda persistem muitos questionamentos e objeções acerca da abordagem correta do paciente desde do diagnóstico ao tratamento, por conta de sua etiologia pouco conhecida. Pacientes que apresentam a doença morrem precocemente devido as complicações da doença associada com um tratamento não efetivo. Portanto, é de suma importância mais estudos acerca da artrite reumatoide em cães e gatos, além de acompanhamento frequente dos animais no veterinário para serem sempre avaliados e examinados. Tornando possível o diagnóstico precoce, caso um animal demonstre alguns dos critérios para diagnóstico da AR e exames laboratoriais que apresentem alguma anormalidade relatada na literatura. 16 REFERÊNCIAS LAURINDO I.M.M. et al. Artrite Reumatóide: Diagnóstico e Tratamento. Rev Bras Reumatol, v, 44 . n. 6 , p . 435·42, 2004. GOELDNER I. et al. Artrite reumatoide: uma visão atual. Bras Patol Med Lab, v. 47, n. 5, p. 495-503, 2011. JERICÓ M.M. et al. Tratado de medicina interna de cães e gatos. Rio de Janeiro, 2015. BÉRTOLO M. B. et al. Atualização do Consenso Brasileiro no Diagnóstico e Tratamento da Artrite Reumatoide. 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