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aula de princípios- 2020

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DIREITO DOS CONTRATOS:
TEORIA GERAL DAS OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS
Professora Fernanda Oliveira
HISTORICIDADE DO CONCEITO DE CONTRATO
1 - O CONTRATO NO DIREITO ROMANO
No Direito Romano se tinha uma grande categoria: a convenção. Ela se dividia em contratos – dotado de rigor formalista e protegido via actio – e o pacto – sem rigor formalista e sem proteção pela actio. 
2 - O CONTRATO NO DIREITO MODERNO
PAPEL IDEOLÓGICO NA SOCIEDADE: 
1º) oposição entre o indivíduo e o Estado, que era um mal necessário;
2º) princípio moral da autonomia da vontade: a vontade é o elemento essencial na organização do Estado, na assunção de obrigações etc.;
3º) princípio da liberdade econômica;
4º) concepção formalista de liberdade e igualdade, ou seja, a preocupação era a de que a liberdade e a igualdade estivessem, genericamente, garantidas em lei. Não importava muito garantir que elas se efetivassem na prática.
5º)Liberdade de contratar;
6º)Pacta sunt servanda.
Percurso histórico dos contratos
Visão francesa de contrato: individualista, proprietário, imodificável, absoluto 
Pós Revolução Industrial: repersonificação dos contratos
3 - O CONTRATO NA PÓS-MODERNIDADE
 
Nessa fase encontramos uma grande influência dos princípios, trazendo uma maior ideologia de igualdade entre as partes, a força da boa-fé contratual e a relevância do direito de terceiros;
Titular ativo e Titular passivo;
Constitucionalização do direito contratual;
O contrato está nucleado na solidariedade social (função social do contrato e boa-fé objetiva).
CONCEITO DE CONTRATO
Para Tartuci o contrato é um ato jurídico bilateral, dependente de pelo menos duas declarações de vontade, cujo objetivo é a criação, a alteração ou até mesmo a extinção de direitos e deveres. Os contratos são, em suma, todos os tipos de convenções ou estipulações que possam ser criadas pelo acordo de vontades e por outros fatores acessórios.
Para Pablo Stolze e Rodolfo Pampolha contrato é um negócio jurídico por meio do qual as partes declarantes, limitadas pelos princí​pios da função social e da boa-fé objetiva, autodisciplinam os efeitos patrimoniais que pretendem atingir, segundo a autonomia das suas próprias vontades.
Para Carlos Roberto Gonçalves: O contrato é uma espécie de negócio jurídico que depende, para a sua formação, da participação de pelo menos duas partes. É, portanto, negócio jurídico bilateral ou plurilateral. Com efeito, distinguem-se, na teoria dos negócios jurídicos, os unilaterais, que se aperfeiçoam pela manifestação de vontade de apenas uma das partes, e os bilaterais, que resultam de uma composição de interesses. Os últimos, ou seja, os negócios bilaterais, que decorrem de mútuo consenso, constituem os contratos.
DICA - Contrato: acordo de vontades destinado a adquirir, resguardar, transferir, modificar ou extinguir direitos. (ARTME -> adquirir, resguardar, transferir, modificar e extinguir.) 
Natureza jurídica
A partir do conceito compreende-se que o contrato é um negócio jurídico. (art.104, Código Civil);
PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO CONTRATUAL
PABLO STOLZE e RODOLFO PAMPOLHA “Por princípio, entendam-se os ditames superiores, fundantes e simultaneamente informadores do conjunto de regras do Direito Positivo. Pairam, pois, por sobre toda a legislação, dando-lhe significado legitimador e validade jurídica.”
Lembrar da dicotomia: a) norma-regra; b) norma princípio
1 - AUTONOMIA DA VONTADE OU DO CONSENSUALISMO
Liberdade de contratar;
Liberdade de com quem contratar;
Liberdade de estabelecimento do conteúdo do contrato.
2 - OBRIGATORIEDADE
Pacta sunt servanda- os pactos devem ser cumpridos;
Segundo ORLANDO GOMES, “o princípio da força obrigatória consubstancia-se na regra de que o contrato é lei entre as partes. Celebrado que seja, com a observância de todos os pressupostos e requisitos necessários à sua validade, deve ser executado pelas partes como se suas cláusulas fossem preceitos legais imperativos”. E arremata o ilustre civilista baiano: “Essa força obrigatória, atribuída pela lei aos contratos, é a pedra angular da segurança do comércio jurídico”. 
MITIGAÇÃO: Princípio da Obrigatoriedade x Teoria da Onerosidade Excessiva
3 - RELATIVIDADE
Segundo Tartuci, os contratos só geram efeitos entre as próprias partes contratantes, razão por que se pode afirmar que a sua oponibilidade não é absoluta ou erga omnes, mas, tão somente, relativa.
EXCEÇÕES: a) estipulação em favor de terceiro: art.436 e ss, CC; b) promessa de fato de terceiro (art.439 e ss); c) consumidor por equiparação (arts.17 e 29 do CDC); d) função social do contrato
5 - BOA-FÉ (ETICIDADE)
Para Carlos Roberto Gonçalves “O princípio da boa-fé exige que as partes se comportem de forma correta não só durante as tratativas, como também durante a formação e o cumprimento do contrato. Guarda relação com o princípio de direito segundo o qual ninguém pode beneficiar-se da própria torpeza.
Preceitua o art. 422 do Código Civil: “Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé”
Boa-Fé
Função de Otimização do comportamento contratual (Deveres anexos)
Função de limite ao exercício de direitos subjetivos
Interpretação e integração do contrato
Exemplos de deveres anexos:
Dever de respeito;
Dever de informação;
Dever de agir conforme a confiança depositada;
Dever de lealdade e probidade
Dever de colaboração
Dever de segurança- exemplo: Súmula 479 – responsabilidade das instituições financeiras
Acepção objetiva (confiança): é a boa-fé de comportamento. É norma princípio. É o princípio a que se referem os arts. 422 e 113, ambos do CC.
Ex: art. 113  traz a boa-fé objetiva. 
Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.
Acepção subjetiva (psicológica): é a boa-fé de conhecimento. É norma regra. 
ÉTICA X MORAL
Tríplice função da boa-fé objetiva
1 - Função interpretativa: 113, CC
 - - Recurso Especial nº 857.299/SC: ex-empregado e plano de saúde corporativo;
2 - Função integrativa
A afirmação da possibilidade da responsabilidade civil pré e pós-contratual
Pré: I- TJ/RS RECURSO CÍVEL- 72000531376- jec: viagem até o RJ para adquirir um carro- informações falsas / II- CICA/ III- RESP. 1051065/AM- Anuncio em busca parceria- revendedora autorizada
Durante: I- zeca e schin/ II- Súmula 308 do STJ- 
PÓS: I- súmula 548 do STJ- retirar o nome dos serviços de proteção ao crédito em 5 dias/ II- manter peças no mercado;
ÉTICA X MORAL
b) Violação positiva de contrato:
-R.ESP.988.595/SP- passageira e visto. Descumprimento dos deveres anexos à BOA-FÉ 
- Exemplo das placas de outdoor- instaladas em locais não propícios 
3 - Função limitadora/restritiva/de controle- ART.187, CC: aquele que contraria a boa-fé objetiva também comete ato ilícito 
R.ESP. 272.739/MG
Exceções: Prestação alimentar e alienação fiduciária
Jurisprudência
Direito do consumidor. Recurso especial. Ação de indenização por danos morais e materiais. Viagem ao exterior. Passageira boliviana que adquiriu bilhete aéreo com destino à França e teve seu ingresso negado naquele país por não possuir visto consular. Fornecedor que não prestou informação adequada sobre a necessidade de obtenção do visto. Vício do serviço configurado.
[....]- Para além de constituir direito básico do consumidor, a correta prestação de informações revela-se, ainda, consectário da lealdade inerente à boa-fé objetiva e constitui o ponto de partida a partir do qual é possível determinar a perfeita coincidência entre o serviço oferecido e o efetivamente prestado.
- Na hipótese, em que as consumidoras adquiriram passagens aéreas internacionais com o intuito de juntas conhecer a França, era necessário que a companhia aérea se manifestasse de forma escorreita acerca das medidas
que deveriam ser tomadas pelas passageiras para viabilizar o sucesso da viagem, o que envolve desde as advertências quanto ao horário de comparecimento no balcão de "check-in" até mesmo o alerta em relaçãoà
necessidade de obtenção do visto. - Verificada a negligência da recorrida em fornecer as informações necessárias para as recorrentes, impõe-se o reconhecimento de vício de serviço e se mostra devida a fixação de compensação pelos danos morais sofridos.
Recurso especial provido para condenar a recorrida a pagar às recorrentes R$ 20.000,00 (vinte mil reais) a título de compensação por danos morais. Ônus sucumbenciais redistribuídos. RECURSO ESPECIAL Nº 988.595 -SP 
ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA. Busca e apreensão. Falta da última prestação. Adimplemento substancial. O cumprimento do contrato de financiamento, com a falta apenas da última prestação, não autoriza o credor a lançar mão da ação de busca e apreensão, em lugar da cobrança da parcela faltante. O adimplemento substancial do contrato pelo devedor não autoriza ao credor a propositura de ação para a extinção do contrato, salvo se demonstrada a perda do interesse na continuidade da execução, que não é o caso. Na espécie, ainda houve a consignação judicial do valor da última parcela. Não atende à exigência da boa-fé objetiva a atitude do credor que desconhece esses fatos e promove a busca e apreensão, com pedido liminar de reintegração de posse. Recurso não conhecido.
(STJ - REsp: 272739 MG 2000/0082405-4, Relator: Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, Data de Julgamento: 01/03/2001, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: --> DJ 02/04/2001 p. 299 JBCC vol. 200 p. 126 RSTJ vol. 150 p. 398)’
Jurisprudência 2
DIREITO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. RESCISÃO CONTRATUAL. REINTEGRAÇÃO NA POSSE. INDENIZAÇÃO. CUMPRIMENTO PARCIAL DO CONTRATO. INADIMPLEMENTO. RELEVÂNCIA. TEORIA DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL. INAPLICABILIDADE NA ESPÉCIE. RECURSO NÃO PROVIDO. 1. O uso do instituto da substancial performance não pode ser estimulado a ponto de inverter a ordem lógico-jurídica que assenta o integral e regular cumprimento do contrato como meio esperado de extinção das obrigações. 2. Ressalvada a hipótese de evidente relevância do descumprimento contratual, o julgamento sobre a aplicação da chamada "Teoria do Adimplemento Substancial" não se prende ao exclusivo exame do critério quantitativo, devendo ser considerados outros elementos que envolvem a contratação, em exame qualitativo que, ademais, não pode descurar dos interesses do credor, sob pena de afetar o equilíbrio contratual e inviabilizar a manutenção do negócio. 3. A aplicação da Teoria do Adimplemento Substancial exigiria, para a hipótese, o preenchimento dos seguintes requisitos: a) a existência de expectativas legítimas geradas pelo comportamento das partes; b) o pagamento faltante há de ser ínfimo em se considerando o total do negócio; c) deve ser possível a conservação da eficácia do negócio sem prejuízo ao direito do credor de pleitear a quantia devida pelos meios ordinários (critérios adotados no REsp 76.362/MT, QUARTA TURMA, j. Em 11/12/1995, DJ 01/04/1996, p. 9917). 4. No caso concreto, é incontroverso que a devedora inadimpliu com parcela relevante da contratação, o que inviabiliza a aplicação da referida doutrina, independentemente da análise dos demais elementos contratuais. 5. Recurso especial não provido. (REsp 1581505/SC, Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado em 18/08/2016, DJe 28/09/2016)
Jurisprudência 3
FUNÇÃO INTEGRADORA DA BOA-FÉ OBJETIVA (subprincípios)
Enunciado 26 do CJF/STJ: “ A cláusula geral contida no art.422, CC impõe ao juiz interpretar e, quando necessário, suprir e corrigir o contrato segundo a boa-fé, entendida como a exigência de comportamento leal entre os contratantes”
INSTITUTOS QUE AUXILIAM NESSA TAREFA:
Supressio
surrectio;
Venire contra factum proprium
Tu quoque
a) SUPRESSIO E SURRECTIO
São considerados dois lados da mesma moeda;
Ambos podem ser retirados do art.330 do Código Civil;
SUPRESSIO: “significa a supressão, por renúncia tácita, de um direito ou de uma posição jurídica, pelo seu não exercício com o passar dos tempos.”. Exemplo: pagamento reiterado feito em local diverso do combinado em contrato;
SURRECTIO: “direito que não existia juridicamente, mas que decorre da efetividade social de acordo com os costumes”
RESUMO: ENQUANTO A SUPRESSIO CONSTITUI A PERDA DE UM DIREITO OU DE UMA POSIÇÃO JURÍDICA PELO SEU NÃO EXERCÍCIO NO TEMPO; A SURRECTIO É O SURGIMENTO DE UM DIREITO DIANTE DE PRÁTICAS, USOS E COSTUMES”
DIREITO CIVIL. CONDOMÍNIO. ÁREA COMUM. UTILIZAÇÃO. EXCLUSIVIDADE. USO PROLONGADO. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA. SURRECTIO. SUPRESSIO. EXPECTATIVA DOS PROPRIETÁRIOS. I - A boa-fé, como cláusula aberta do ordenamento jurídico, permite o diálogo entre o texto legal e a realidade dos fatos. Assim sendo, as relações condominiais, como quaisquer outras relações jurídicas, devem pautar-se pelos postulados da boa-fé, de forma que a questão formal não pode ser sobrepor a uma situação fática consolidada. II - Os réus, proprietários de três unidades condominiais, fazem uso exclusivo de área comum há quase vinte anos sem que tenha havido impugnação por parte do autor. Constata-se, ainda, a ausência de prova de ofensa à estética do ambiente, à estrutura ou à segurança do prédio, nem mesmo perturbação aos transeuntes ou qualquer prejuízo que implique em dificuldade de acesso ao público. III - Trata-se de situação consolidada a ser mantida de acordo com os postulados do princípio da boa-fé objetiva, que pela aplicação das figuras da suppressio e da surrectio, faz surgir posição juridicamente defensável ante o não-exercício de direito por certo prazo, pois contrário à confiança que a contraparte legitimamente criou. IV - A aplicação do princípio da boa-fé permite que haja diálogo entre o texto normativo e os fatos, resultando na criação de norma que impede que a realidade seja desconsiderada. Desse modo, consolidada situação fática, a convenção de condomínio esmorece, prevalecendo a realidade como vontade da ordem jurídica em sua essência V - Negou-se provimento ao recurso.
(TJ-DF 07220310820178070001 DF 0722031-08.2017.8.07.0001, Relator: JOSÉ DIVINO, Data de Julgamento: 11/10/2018, 6ª Turma Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE : 31/10/2018 . Pág.: Sem Página Cadastrada.)
Jurisprudência
RECURSO ESPECIAL. PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE COMBUSTÍVEIS. OBRIGAÇÃO DO POSTO DE GASOLINA DE ADQUIRIR QUANTIDADES MÍNIMAS MENSAIS DOS PRODUTOS. REITERADO DESCUMPRIMENTO TOLERADO PELA PROMITENTE VENDEDORA. CLÁUSULA PENAL DESCABIDA.
1. Como de sabença, a supressio inibe o exercício de um direito, até então reconhecido, pelo seu não exercício. Por outro lado, e em direção oposta à supressio, mas com ela intimamente ligada, tem-se a teoria da surrectio, cujo desdobramento é a aquisição de um direito pelo decurso do tempo, pela expectativa legitimamente despertada por ação ou comportamento.
2. Sob essa ótica, o longo transcurso de tempo (quase seis anos), sem a cobrança da obrigação de compra de quantidades mínimas mensais de combustível, suprimiu, de um lado, a faculdade jurídica da distribuidora (promitente vendedora) de exigir a prestação e, de outro, criou uma situação de vantagem para o posto varejista (promissário comprador), cujo inadimplemento não poderá implicar a incidência da cláusula penal compensatória contratada.
3. Recurso especial não provido.
(REsp 1338432/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 24/10/2017, DJe 29/11/2017)
Jurisprudência
CIVIL. CONTRATOS. DÍVIDAS DE VALOR. CORREÇÃO MONETÁRIA.OBRIGATORIEDADE. RECOMPOSIÇÃO DO PODER AQUISITIVO DA MOEDA. RENÚNCIAAO DIREITO. POSSIBILIDADE. COBRANÇA RETROATIVA APÓS A RESCISÃO DOCONTRATO. NÃO-CABIMENTO. PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA. TEORIA DOSATOS PRÓPRIOS. SUPRESSIO. 1. Trata-se de situação na qual, mais do que simples renúncia do direito à correção monetária, a recorrente abdicou do reajuste para evitar a majoração da parcela mensal paga pela recorrida, assegurando, como isso, a manutenção do contrato. Portanto, não se cuidou propriamente de liberalidade da recorrente, mas de uma medida que teve como contrapartida a preservação do vínculo contratual por06 anos. Diantedesse panorama, o princípio da boa-fé objetiva torna inviável a pretensão da recorrente, de exigir retroativamente valores a título de correção monetária, que vinha regularmente dispensado, frustrando uma expectativa legítima, construída e mantida ao longo de toda a relação contratual. Dada a natureza disponível desse direito, sua supressão pode perfeitamente ser aceita a qualquer tempo pelo titular. 4. O princípio da boa-fé objetiva exercer três funções: (i) instrumento hermenêutico; (ii) fonte de direitos e deveres jurídicos; e (iii) limite ao exercício de direitos subjetivos. [...]5. A supressio indica a possibilidade de redução do conteúdo obrigacional pela inércia qualificada de uma das partes, ao longo da execução do contrato, em exercer direito ou faculdade, criando para a outra a legítima expectativa de ter havido a renúncia àquela prerrogativa. 6. Recurso especial a que se nega provimento.
(STJ - REsp: 1202514 RS 2010/0123990-7, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 21/06/2011, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 30/06/2011)
Jurisprudência
b) Tu quoque
HÁ UMA VIOLAÇÃO PERPETRADA PELO REQUERENTE;
B) E, NO CASO, BUSCA-SE VANTAGEM ADVINDA DESSA SITUAÇÃO;
Exemplo: SÚMULA 385 do STJ- “Da anotação irregular em cadastro de proteção ao crédito, não cabe indenização por dano moral, quando preexistente legítima inscrição, ressalvado o direito ao cancelamento.”
-
C) Venire contra factum proprium
Conceito: De acordo com esse instituto, determinada pessoa não pode exercer um direito próprio contrariando um comportamento anterior, devendo ser mantida a confiança e o dever de lealdade decorrente da boa-fé objetiva, depositada quando da formação do contrato.
Exemplo 1: empresa de cartão de crédito que aceitava pagamentos atrasados e passou a alegar rescisão contratual por inadimplemento diante da existência de cláusula contratual.
REQUISITOS DO VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM
Venire contra factum proprium
Factum Proprium
A legítima confiança do terceiro
O comportamento contraditório
Dano, ou potencial dano
PROMESSA DE COMPRA E VENDA. CONSENTIMENTO DA MULHER. ATOS POSTERIORES. "VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM". BOA-FE. PREPARO. FERIAS. 1. TENDO A PARTE PROTOCOLADO SEU RECURSO E, DEPOIS DISSO, RECOLHIDO A IMPORTANCIA RELATIVA AO PREPARO, TUDO NO PERIODO DE FERIAS FORENSES, NÃO SE PODE DIZER QUE DESCUMPRIU O DISPOSTO NO ARTIGO 511 DO CPC. VOTOS VENCIDOS. 2. A MULHER QUE DEIXA DE ASSINAR O CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA JUNTAMENTE COM O MARIDO, MAS DEPOIS DISSO, EM JUÍZO, EXPRESSAMENTE ADMITE A EXISTENCIA E VALIDADE DO CONTRATO, FUNDAMENTO PARA A DENUNCIAÇÃO DE OUTRA LIDE, E NADA IMPUGNA CONTRA A EXECUÇÃO DO CONTRATO DURANTE MAIS DE 17 ANOS, TEMPO EM QUE OS PROMISSARIOS COMPRADORES EXERCERAM PACIFICAMENTE A POSSE SOBRE O IMOVEL, NÃO PODE DEPOIS SE OPOR AO PEDIDO DE FORNECIMENTO DE ESCRITURA DEFINITIVA. DOUTRINA DOS ATOS PROPRIOS. ART. 132 DO CC. 3. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO
(STJ - REsp: 95539 SP 1996/0030416-5, Relator: Ministro RUY ROSADO DE AGUIAR, Data de Julgamento: 03/09/1996, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJ 14.10.1996 p. 39015 LEXSTJ vol. 91 p. 267 RSTJ vol. 93 p. 314,DJ 14.10.1996 p. 39015 LEXSTJ vol. 91 p. 267 RSTJ vol. 93 p. 314)
Jurisprudência
Não é possível à Seguradora a rescisão unilateral do contrato de seguro de vida em grupo, ao fundamento de desequilíbrio atuarial, na hipótese em que o vínculo contratual restou sucessivamente renovado por longo lapso temporal e que a nova proposta implica condições prejudiciais aos Segurados, pois a longa duração do contrato gerou uma legítima expectativa de que o contrato não seria cancelado, tampouco reajustado excessivamente de forma atípica, aplicando-se, portanto, a vedação ao venire contra factum proprium, princípio pautado na boa-fé, segundo o qual a ninguém é lícito fazer valer um direito em contradição com sua anterior conduta, quando essa conduta interpretada objetivamente segundo a lei, os bons costumes ou a boa-fé, justifica a conclusão de que não se fará valer o direito, ou quando o exercício posterior choque contra a lei, os bons costumes ou a boa-fé. (REsp 880.605/RN, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Rel. p/ Acórdão Ministro MASSAMI UYEDA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 13/06/2012, DJe 17/09/2012)
Jurisprudência 2
D) Duty to mitigate the loss ou mitigação do prejuízo pelo próprio credor
Conceito: “a parte que invoca a quebra do contrato, deve tomar medidas razoáveis, levando em consideração as circunstâncias para limitar a perda.”
DIREITO CIVIL. CONTRATOS. BOA-FÉ OBJETIVA. STANDARD ÉTICO-JURÍDICO.OBSERVÂNCIA PELAS PARTES CONTRATANTES. DEVERES ANEXOS. DUTY TOMITIGATE THE LOSS. DEVER DE MITIGAR O PRÓPRIO PREJUÍZO. INÉRCIA DOCREDOR. AGRAVAMENTO DO DANO. INADIMPLEMENTO CONTRATUAL. RECURSOIMPROVIDO. 1. Boa-fé objetiva. Standard ético-jurídico. Observância pelos contratantes em todas as fases. Condutas pautadas pela probidade, cooperação e lealdade. 2. Relações obrigacionais. Atuação das partes. Preservação dos direitos dos contratantes na consecução dos fins. Impossibilidade de violação aos preceitos éticos insertos no ordenamento jurídico. 3. Preceito decorrente da boa-fé objetiva. Duty to mitigate theloss: o dever de mitigar o próprio prejuízo. Os contratantes devem tomar as medidas necessárias e possíveis para que o dano não seja agravado. A parte a que a perda aproveita não pode permanecer deliberadamente inerte diante do dano. Agravamento do prejuízo, em razão da inércia do credor. Infringência aos deveres de cooperação e lealdade.6. Recurso improvido.
(STJ - REsp: 758518 PR 2005/0096775-4, Relator: Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), Data de Julgamento: 17/06/2010, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: REPDJe 01/07/2010)
Jurisprudência
7 - FUNÇÃO SOCIAL (sociabilidade)
Art. 421 do Código Civil: “A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato”.
Para Carlos Roberto Gonçalves, “A concepção social do contrato apresenta-se, modernamente, como um dos pilares da teoria contratual. Por identidade dialética guarda intimidade com o princípio da “função social da propriedade” previsto na Constituição Federal. Tem por escopo promover a realização de uma justiça comutativa, aplainando as desigualdades substanciais entre os contraentes.
Aspecto Individual x Aspecto Público
“Cláusulas gerais são normas orientadoras sob forma de diretrizes, dirigidas precipuamente ao juiz, vinculando-o, ao mesmo tempo em que lhe dão liberdade para decidir”. - Carlos Roberto Gonçalves
Parágrafo Único do art. 2.035 do Código Civil: “Nenhuma convenção prevalecerá se contrariar preceitos de ordem pública, tais como os estabelecidos por este Código para assegurar a função social da propriedade e dos contratos”
Ex. Súmula 302, STJ- LIMITAÇÃO DA TEMPORADA NO LEITO 
CASO “ZECA PAGODINHO”: 
“[...]assim, resta evidente que a requerida, ao aliciar o cantor ainda na vigência do contrato e veicular a campanha publicitária com referência direta à campanha produzida anteriormente pela autora, causou-lhe prejuízos, porque, por óbvio, foram inutilizados todos os materiais já produzidos pela requerente com tal campanha e perdidos eventuais espaços publicitários já adquiridos e não utilizados. O art. 421 do Código Civil prevê o princípio da função social do contrato ao prescrever que ‘A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato’. Ora, tal princípio não observado pela requerida ao aliciar o cantor contratado pela requerente e ao se comprometer a pagar eventual indenização que Zeca Pagodinho viesse a ser condenado. Ademais, a cooptação exercida pela ré constituiu patente ato de concorrência desleal, vedada pelo direito pátrio, o que impõe a sua responsabilidade pelos danos causados à autora”.(Apelação n. 9112793-79.2007.8.26.000 TJ/SP- 2013)
ANÁLISE DE QUESTÕES
1 - Os contratos
a) são, em regra, formais, dependendo da forma escrita para produziremefeitos. 
b) são regidos, em regra, pelo princípio da relatividade. 
c) produzem, em regra, efeitos erga omnes.
A - Em regra são INFORMAIS.
B - CORRETA. É relativo, pois podem atingir terceiros (em que pese não seja a regra). Ex: Contratos com pessoa a declarar.
C - EM REGRA PRODUZEM EFEITOS ENTRE AS PARTES (PACTA SUNT SERVANDA).
2 - Os contratos atípicos
a) são anuláveis, mesmo se os que os pretendam celebrar sejam capazes e o objeto seja lícito e possível, se a forma não estiver prescrita em lei.
b) são nulos de pleno direito, mesmo que os pretendam celebrar sejam capazes e o objeto seja lícito e possível, porque a forma não é prescrita em lei.
c) são válidos, desde que os agentes que os pretendam celebrar sejam capazes, o objeto seja lícito e possível e a forma não seja defesa em lei.
d) só têm validade se os que pretendam celebrar sejam capazes, o objeto seja lícito e possível e tenha havido prévia homologação judicial.
e) só têm validade se os que pretendam celebrar sejam capazes, o objeto seja lícito e possível e tenha havido prévia aprovação pelo Ministério Público.
Alternativa C
Os contratos podem ser classificados em típicos e atípicos:
Típicos (ou nomidados): são os contratos que têm denominação prevista na Lei, são tipificados pela Lei (ex.: compra e venda, locação,comodato, etc.).
Atípicos (ou inominados): são os contratos criados pelas partes, dentro do princípio da liberdade contratual e que não correspondem anenhum tipo previsto na Lei; não têm tipificação (ex.: cessão de clientela, factoring, etc.).
O art. 425 CC permite às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas no Código Civil, conforme comentário acima.
3 - Sobre os contratos em geral, assinale a assertiva INCORRETA. 
a) A função social do contrato, prevista no art. 421 do Código Civil, constitui cláusula geral que impõe a revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, implicando a tutela externa do crédito.
b) A função social do contrato eliminou o alcance do princípio da autonomia contratual, quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana.
c) Na interpretação da cláusula geral de boa-fé, deve-se levar em conta o sistema do Código Civil e as conexões sistemáticas com outros estatutos normativos e fatores metajurídicos.
Em relação ao erro da letra "b", há um Enunciado do CJF – Conselho da Justiça Federal que aduz o seguinte:
 
Enunciado 23 - Art. 421: a função social do contrato, prevista no art. 421 do novo Código Civil, não elimina o princípio da autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio quando presentes interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana.
Portanto, alternativa ERRADA.
4 - A respeito dos contratos, é correto afirmar que
a) as partes devem observar, durante sua execução, o princípio da boa-fé objetiva, assim entendida a ausência de dolo de prejudicar o outro contratante.
b) o Código Civil atual aboliu o princípio pacta sunt servanda.
c) não podem ter como objeto a herança de pessoa viva.
d) operam efeitos erga omnes, como corolário do princípio da relatividade.
a) ERRADA. Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.
b) ERRADA, pois este princípio não foi abolido, mas sim, relativizado.
c) CORRETA. Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.
d) ERRADA. O contrato tem efeito inter partes (não erga omnes) de acordo com o princípio da relatividade. Desta forma, o contrato vincula somente as partes que nele intervêm.
5 - Sobre os contratos é correto afirmar: 
a) Contrato é a convenção estabelecida entre duas ou mais pessoas para constituir, regular, anular ou extinguir, entre elas, uma relação jurídico-patrimonial.
b) Para sua validade o contrato exige: acordo de vontades, agente capaz, objeto ilícito, dentre outros.
c) Os contratos atenderão sempre à forma prescrita em lei.
d) Os contratos se submetem aos princípios da boa-fé, da probidade e da supremacia da ordem pública, dentre outros.
a) ERRADA - contrato depende da participação de pelo menos 2 partes com a finalidade de adquirir, resguardar, transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos.
b) ERRADA -  o objeto tem que ser lícito.
c) ERRADA - predomina no direito brasileiro a forma livre do negócio jurídico, ou seja, qualquer meio de manifestação da vontade, não imposto obrigatoriamente pela lei (art. 107, CC).
d) CORRETA

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