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resenha crítica documentario holocausto brasileiro

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Resenha crítica sobre o documentário “Holocausto brasileiro”.
O documentário “Holocausto brasileiro”, retrata a cruel e desumana política de saúde mental do país entre os períodos de 1930 a 1980, vivenciados no antigo hospital colônia, situado em Barbacena-MG. Este local era praticamente o “depósito” para onde iriam pessoas consideradas loucas ou com algum desvio de conduta moral e até mesmo andarilhos que viviam pelas ruas, pessoas nas quais eram praticamente esquecidas ou tratadas de maneira pouco séria. 
O local era um hospício sem a menor condição de tratamento e salubridade para os seus pacientes, tendo em vista, que era considerado mais que um espaço de reclusão, mas um depósito de indivíduos que eram considerados fora de um padrão ou uma linha de normalidade e que para isso, era necessário exclui-los ou escondê-los do convívio natural com outras pessoas. 
Infelizmente, percebemos durante o documentário que o hospital Colônia não demonstrava o interesse em melhorar a condição de seus pacientes, mas somente afastá-los do convívio em sociedade, pois eram considerados “pessoas difíceis” de lidar e que em certos casos, somente estavam ali porque eram considerados indigentes ou que viviam sozinhos pelas ruas e não tinham lar e nem ocupação. 
Além dos pacientes que vinham transferidos de hospitais, muitos destes pacientes eram frutos do recolhimento feito pela polícia de pessoas que viviam em situação de rua, considerada pela expressão de “vadiagem”. Mais que uma tentativa de política de saúde mental, o enclausuramento dos “alienados” mostrava-se uma espécie de higienização social, onde pessoas consideradas fora dos padrões ou em situação de rua seriam afastadas do convívio social, como forma de esconder os problemas sociais e as falhas do estado em relação aos indivíduos.
Existem fatos que são aterrorizantes e são destacados no documentário, como, por exemplo, o desconhecimento da medicação que devia ser utilizada pelos funcionários para com os pacientes. Muitas vezes, a única diferenciação que sabiam era que havia um comprimido azul e outro de cor rosa, onde se o paciente estivesse gritando e batendo, os comprimidos eram ministrados juntos, caso este estivesse cantando ou importunando os funcionários, o dar rosa era dado, que dizer, sem o mínimo critério científico plausível, ferindo totalmente qualquer ideia de direitos humanos. 
Segundo Michel Foucault, esta estrutura hospitalocêntrica postulada pela psiquiatria levaria a uma separação entre aquele que tem o poder e aquele que não tem, onde o doente mental eram alguém sem direitos, nem mesmo do seu próprio corpo, pois os médicos e enfermeiros dotados de um possível saber, legitimam através deste mesmo saber, o controle desta estrutura de forma eficiente e invisível perante a sociedade. Inclusive este controle sobre os corpos se aplicava ao tratamento de choque para os indivíduos que eram agitados e não se comportavam.
Não podemos deixar de destacar, que dentro do que foi demonstrado no documentário, não parecia haver interesse algum numa possibilidade de melhoria na condição dos indivíduos internados, muito embora a ideia central da internação seria de uma possível cura, mas muitos eram esquecidos pela família e viviam em situação de total abandono. 
Observamos no documentário, que parece ter havido alguma espécie de interesse econômico que alimentava esta lógica vivenciada pelo Hospital-Colônia de Barbacena, onde hospitais garantiam verbas por estarem transferindo pacientes indiscriminadamente para o sanatório a ponto de chegarem muitos em trens e ônibus quase todos os dias da semana e também, o lucro com a venda de corpos de pacientes considerados indigentes ou abandonados pela família, para universidades federais. 
Sobre este último aspecto destacado, percebemos o poder soberano destacado pelo pensador Michel Foucault, onde em analogia ao poder exercido pelo rei em relação aos súditos	, destaca o poder de decidir sobre a vida ou a morte de qualquer pessoa a bel prazer, no caso a estrutura criada dentro do hospital legitimava a morte de indivíduos que eram considerados como um nada. 
Assim, infelizmente, percebemos no documentário, que o lucro do hospital não estava somente ligado a transferência dos indivíduos, mas também a sua morte. Uma total afronta aos direitos humanos durante quase 50 anos, o Hospital-Colônia de Barbacena seria uma espécie de retrato da falha da sociedade e do estado na resolução do tratamento de indivíduos relacionados a saúde mental. Fatos como esses nos fazem pensar como a atitude destacada perdurou por tanto tempo sem a menor atenção das autoridades. 
Cerca de 60 mil pessoas foram mortas durante esse período que o Hospital-Colônia esteve funcionando, mais do que as atrocidades realizadas dentro do hospital, podemos destacar o distanciamento de vários familiares em relação aos seus filhos e parentes próximos que por imposição, foram separados do convívio durante anos de internação no mesmo. A política de internação se mostrava, cada vez mais, como uma “vedação de olhos” para o estado que não enxergava suas falhas e problemas sociais, ou que simplesmente não desejava que se enxergasse tais mazelas sociais como a fome e o abandono dos mais necessitados em situação de rua.
Outra falha do Estado que foi demonstrada no documentário foi a utilização dos internos para realização de serviços braçais e mecânicos na cidade de Barbacena e em algumas residências de autoridades sem o menor pagamento, que dentro deste aspecto, pode até ser considerado como trabalho em regime de escravidão. No caso, um total descaso e uma política de saúde mental totalmente deturpada para o fim que era proposta. Dentro deste âmbito, nos é marcante a prevalência de pessoas negras no hospital, que eram quase 90% do público da instituição, que nos alerta para uma política de clausura do negro que muitas vezes, viva em situação de rua e era ligado diretamente à criminalidade.
Contudo, graças ao papel da imprensa e dos veículos de informação, tais atrocidades cometidas pelo Hospital-Colônia foram amplamente divulgadas e que ao mesmo tempo, mostraram a realidade que não queríamos enxergar, a de que nossos internos em hospitais de saúde mental estavam esquecidos e desvalidos de qualquer tipo de valor social. A partir da década de 80, isso começa a ser mudado, ao mesmo tempo, que passávamos pelo processo de abertura política do nosso país. 
Podemos destacar que, com a situação publicamente mostrada do hospital, começou-se a despertar uma sensibilidade das autoridades e defensores de uma ideia anti-manicomial, principalmente com a visita de Basaglia, importante pesquisador da saúde mental., para o combate a esse modelo de internamento, que no caso, mais pioraria o estado do sujeito do que desenvolver um processo de melhoria de sua condição. 
As políticas de humanização se afastando de um modelo biomédico de poder, garantiam, agora, a participação de outros profissionais da área da saúde, como psicólogos, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, e que contribuiriam dentro do aspecto da saúde mental, desenvolvendo um novo olhar sobre o sujeito, buscando sua singularidades e potencialidades e não as escondendo a ponto de excluí-las. Com a desativação do hospital e a criação dos chamados CAPS(Centro de atenção Psicossocial) a política de saúde mental no país começa a ganhar um novo rumo, mas nunca deixando de lutar contra esse modelo que biomédico que privilegia mais a doença do que o sujeito.

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