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HEMOSTASIA E COAGULAÇÃO SANGUÍNEA SBCM III – Hematologia 2020.2 HEMOSTASIA • A hemostasia é uma série complexa de fenômenos biológicos que ocorre em imediata resposta à lesão de um vaso sanguíneo com o objetivo de manter o equilíbrio da fluidez sanguínea, detendo a hemorragia e controlando a trombose. • Composta por 03 etapas: hemostasia primária, coagulação (hemostasia secundária) e fibrinólise EQUILÍBRIO HEMOSTÁTICO Presença, em um tecido ou vaso, de mecanismos procoagulantes, que evitam a ocorrência de hemorragia, e de mecanismos anticoagulantes, que evitam a ocorrência de trombose, os quais estão em equilíbrio. Isso permite uma fluidez contínua do sangue, que determina a hemostasia. Diante de um desequilíbrio, temos um mecanismo se sobrepondo sobre o outros, determinando um fenômeno hemorrágico ou trombótico. LESÃO TECIDUAL Todas as vezes que tivermos uma lesão ou agressão tecidual, ou um extravasamento do sangue, vai ocorrer uma desorganização do equilíbrio hemostático, com exposição de colágeno e uma série de outras reações que vão ativar a hemostasia, com o objetivo de conter a hemorragia. VISÃO GERAL DA COAGULAÇÃO • Inicia-se cerca de 20s após a lesão do vaso sanguíneo • O dano às células endoteliais expõe o colágeno, que atrai as plaquetas em circulação • Forma-se um tampão branco/plaquetário no local da lesão - hemostasia primária • Fatores de coagulação presentes no plasma levam à formação de fios de fibrina (coágulo propriamente dito) - hemostasia secundária HEMOSTASIA PRIMÁRIA Espasmo Vascular: O vaso tem papel crucial na hemostasia, logo, esta pode ser inadequada diante de uma doença do próprio vaso ou do uso de algum medicamento especifico. Ocorrida a lesão, inicia-se o processo da hemostasia primária com a vasoconstrição, que é determinada pelos reflexos nervosos e pelas substâncias liberadas pelo tecido lesado • Reflexos nervosos o Espasmos miogênicos locais - através destes espasmos ocorre a inibição de algumas substâncias (vasodilatadoras) e a ativação de outras (vasoconstritoras) • Substâncias liberadas pelos tecidos lesados o Tromboxano A2 - produto da ativação da cascata do ácido araquidônico, favorece a vasoconstrição e a agregação plaquetária. Plaquetas: • Características: o São pequenos discos redondos o Tem origem na medula óssea através dos megacariócitos ▪ 01 megariócito dá origem a 1 mil - 5 mil plaquetas o A divisão dos megacariócitos é estimulada pelo hormônio Trombopoetina o As plaquetas não possuem núcleo e não podem se reproduzir ▪ São fragmentos do citoplasma dos mecariócitos o Contagem normal: 150 a 400 mil o 1/3 das plaquetas fica retido no baço normal • Adesão e a agregação plaquetária - glicoproteínas responsáveis: o GPIa: adesão ao colágeno o GPIb: ligação ao fator de Von Willebrand, consequentemente ao endotélio vascular o GPIIb/IIIa: ligação plaqueta-plaqueta ▪ É o local de ação dos novos medicamentos Antiagregantes Plaquetários (ex: Clopidogrel) • Em pacientes infartados, faz-se dupla agregação plaquetária com AAS + Clopidogrel: o AAS inibe a ação do Tromboxano, reduzindo a vasoconstrição e agregação plaquetária de forma geral, e o Clopidogrel inibe a GP IIb/IIIa, reduzindo a agregação plaqueta- plaqueta. • Funções das plaquetas: o Adesão: plaqueta-parede vascular o Agregação: plaqueta-plaqueta o Atividade secretória: liberação de grânulos - estabilização dos agregados e feedback positivo para plaquetas o Atividade pró-coagulante: ativação da cascata de coagulação pela exposição de fosfolípides o Produção do Fator de Crescimento PDGF: estimula a multiplicação de células musculares lisas dos vasos, acelerando a cicatrização Mecanismos da Hemostasia Primária: • Ocorrida uma lesão, temos o extravasamento sanguíneo, seguido do início da vasoconstrição e inibição da vasodilatação, que é dada pelas prostaciclinas e prostaglandinas (A). • Inicia-se em seguida a adesão de plaquetas ao tecido (B), as quais começam a secretar substâncias, entre as quais está o Tromboxano (C), que vai estimular a agregação dessas plaquetas, determinando o tampão plaquetário (D), sobre o qual vai ocorrer a deposição de fibrina (E). o A plaqueta ativada e agregada sofre uma alteração de forma. • No endotélio íntegro temos a ação de substâncias vasodilatadoras: prostaglandinas, prostaciclinas e óxido nítrico. • Ocorrida uma injúria, temos um processo hemorrágico e a liberação de Tromboxano e outras substâncias vasoconstritoras que vão determinar o início da hemostasia primária. • Para que a plaqueta se adira ao endotélio, é necessária a ação do Fator de Von Willebrand: o fator vai se ligar a glicoproteína Ib9 presente na membrana das plaquetas circulantes, e essa ligação vai permitir a adesão plaquetária o O que ativa o Fator de Von Willebrand é a própria lesão. • A ativação do Fator de Von Willebrand, a ligação à glicoproteína Ib9 e a liberação do Tromboxano tornam ativas as plaquetas. • As plaquetas ativadas se ligam umas às outras: uma plaqueta ativada se liga à glicoproteína IIb/IIIa presente na membrana de outra plaqueta, determinando a agregação plaquetária. • Pelo próprio processo de adesão e agregação plaquetária, ocorre a liberação de substâncias fosfolipídes, as quais estimulam a formação do coágulo. • Nesta imagem, temos representado o Fator de Von Willebrand • Características: o É vinculado à célula endotelial o É clivado pela enzima ADAMTS 13, também presente na membrana das células ▪ É conhecida também como Enzima Metaloproteinase ▪ Defeitos nesta enzima vão impedir a clivagem do Fator de Von Willebrand, logo, após a ativação desta não há inativação, então a agregação plaquetária não cessa. HEMOSTASIA SECUNDÁRIA Mecanismos da Hemostasia Secundária: a coagulação ocorre em etapas, as quais levam a formação do ativador da protrombina - o objetivo das vias de coagulação é sempre ativar o fator II (Protrombina) em Trombina, a qual vai ativar o fibrinogênio em fibrina, permitindo a formação do coágulo propriamente dito. • Via Extrínseca: tem início com o trauma tecidual, pelo qual vai haver liberação de Tromboplastina (Fator III, composto por fosfolipídios e lipoproteínas), que é ativada pela exposição ao colágeno. A Tromboplastina ativada vai ativar o Fator VII na presença de Cálcio circulante. O Fator VII ativado vai ativar o Fator X. O Fator X ativado, vai se unir aos fosfolipídios teciduais e vai ativar o Fator V. Os Fatores X e V ativados, vão formar o Ativador da Protrombina, que vai ativar a Protrombina (Fator II) em Trombina, e esta, por sua vez, vai ativar o Fibrinogênio (Fator I) em Fibrina Resumindo a Via Extrínseca... trauma, expõe colágeno => ativa Tromboplastina, interage com o Cálcio => ativa Fator VII => ativa Fator X, interage com fosfolipídios teciduais => ativa Fator V => Fatores X + V = Ativador da Protombina => ativa Protrombina => Trombina => ativa o Fibrinogênio => Fibrina. • Via Intrínseca: com o trauma, ocorre a liberação de substâncias que vão ativar o Fator XII e também as plaquetas, pelas quais há liberação de fosfolipídios. O Fator XII ativado vai interagir com o Cininogênio e ativar o Fator XI, que por sua vez vai ativar o Fator IX. O Fator IX ativado vai ativar o Fator VIII e se unir a este, formando o Complexo Tenase que vai ativar o Fator X. O Fator X, juntamente aos fosfolipídios teciduais, ativa o Fator V e se une a ele, formando o Ativador da Protrombina, que vai ativar a Protrombina em Trombina, e esta o Fibrinogênio em Fibrina, permitindo a formação do coágulo o Além da ativação do IX pelo XI, o Complexo Tenase também é ativado pelo Fator III (tissular) + VII da via Extrínseca, e pelos próprios fosfolipídios plaquetários - isso garante a ativação do Fator X e, logo, a formação do Ativador de Protrombina. Cascata da Coagulação:nada mais é do que a ilustração dos mecanismos intrínsecos e extrínsecos Fatores da Coagulação: • Íons Cálcio: o O Cálcio é muito importante para a coagulação. Em todas as situações em que falta de Cálcio (hipocalcemia), podem ocorrer quadros hemorrágicos - na ausência do Cálcio, o sangue não coagula. ▪ É importante avaliar medicamentos em uso e sinais de hipocalcemia, pois as vezes a causa do sangramento é a falta de Cálcio. o Os íons cálcio não agem somente nas duas primeiras etapas da via intrínseca, participa de todas nas demais fases o O citrato desioniza o Cálcio, e o oxalato precipita, isso evita a coagulação ▪ Citrato: conservante das hemácias • Transfusão maciça de hemácias para pacientes politraumatizados: com a transfusão há um aumento da concentração de citrato no sangue, consequentemente há desionização do Cálcio, então não vai ter coagulação. Se não há coagulação, o paciente não para de sangrar. • Protrombina: o Proteína instável o Formada continuamente no fígado ▪ A não produção por 24h leva a uma diminuição importante de Protrombina no sangue, podendo culminar em sangramentos o A síntese requer vitamina K - portanto, falta de vitamina K reduz a produção ▪ Fatores dependentes de vitamina K: II, VII, IX, X, Proteína C e Proteína S - maioria da via extrínseca • Fibrinogênio: o Proteína de alto peso molecular o Produzida no fígado ▪ O Fator VIII e o Fator de Von Willebrand são os únicos que são produzidos em maioria pelo endotélio, ou seja, pelo próprio vaso, o restante dos fatores são todos sintetizados pelo fígado. o Extravasa pouco para o espaço intersticial pelos poros capilares o Sob ação da trombina vai formar a fibrina, que em seguida se polimeriza formando o retículo do coágulo Modelo Celular da Hemostasia: consiste nos mesmos mecanismos da cascata de coagulação, mas é dividido em Iniciação, Amplificação e Propagação, ao invés de em Vias Extrínseca e Intrínseca • Esse modelo nos permite visualizar a ação da Trombina (IIa) ativando e retroalimento a ativação dos Fatores VIII, V e XI. • Também deixa clara a ativação do Fator IX pelos fatores III + VII, lembrando que o Fator IX interage com o Fator VIII formando o Complexo Tenase. • Fica evidente a ação plaquetária, com a liberação dos fosfolipídios, na ativação dos Fatores IX com o VIII. Obs: em termos de prova, tanto faz descrever a cascata da coagulação ou esse modelo celular. FIBRINÓLISE Consiste na lise do coágulo - depois que o fibrinogênio é ativado formando a rede de fibrina e o sangramento é controlado, o tecido lesado precisa ser restaurado e o coágulo precisa ser desfeito. O principal agente desta etapa é o Plasminogênio. • No momento da agressão tecidual, inicia a liberação lenta de um fator denominado Fator Ativador do Plasminogênio, o qual gradualmente vai ativando o plasminogênio circulante em plasmina. A plasmina vai promover a digestão/o controle do coágulo. • A plasmina atua reduzindo o coágulo a fragmentos, que chamamos de Produtos da Degradação da Fibrina (PDF), os quais serão fagocitados pelo Sistema Reticuloendotelial (macrófagos teciduais) o O D-dímero é um PDF, sua dosagem vai nos dizer se há formação ou digestão aumentada de coágulos Defeitos na Fibrinólise: • Excesso de fibrinólise: sangramento - digestão aumentada do coágulo • Redução de fibrinólise: trombose - aumento da formação de coágulos Mecanismos da Fibrinólise: • A liberação de t-PA já no início da lesão e a ativação do plasminogênio em plasmina são muito importantes, a inexistência desses mecanismos faria com que não parássemos de trombosar • A existência e a eficácia do sistema fibrinolítico são essenciais para a limitação da extensão do trombo em formação durante a coagulação, o que permite o fluxo sanguíneo no tecido/local da lesão Resumindo o Sistema Fibrinolítico... • Depende da ativação do plasminogênio em plasmina e permite a fibrinólise • A ativação do plasminogênio se dá principalmente pela ação do Ativador de Plasminogênio Tecidual (t-PA), e mais raramente pelo Ativador de Plasminogênio do tipo Uroquinase (u-PA) • A fibrinólise consiste na degradação da fibrina pela plasmina. ANTICOAGULANTES INTRAVASCULARES São fatores fisiológicos que determinam um fluxo sanguíneo adequado, não permitindo que o sangue coagule - o fluxo sanguíneo faz a diluição e a dispersão dos fatores coagulantes, impedindo a coagulação. Fatores Endoteliais Superficiais: • Textura lisa do endotélio vascular • Glicocálice das células endoteliais repele os fatores de coagulação e as plaquetas • Trombomodulina, proteína C e proteína S: regulam a ativação da cascata de coagulação o Trombomodulina: é estimulada pela formação da fibrina e vai atuar ativando a proteína C o Proteína C (APC): inativa os fatores Va e VIIIa o Proteína S: amplifica a ação da proteína C ▪ Deficiência da proteína S: trombose - proteína C menos potente Inibidores dos Fatores de Coagulação: • TFPI: Inibidores do Fator Tissular - inibe a ativação do fator VII para o X • Antitrombina (AT): inibe todos os outros fatores da coagulação • Heparina Fisiológica: produzida pelos mastócitos no tecido e basófilos no sangue, vai evitar a coagulação intravascular junto com a AT-III o A concentração fisiológica é baixa INIBIÇÃO DO SISTEMA FIBRINOLÍTICO O sistema fibrinolítico também precisa ser inibido para que haja um equilíbrio entre os mecanismos, de forma que se possibilita a formação do coágulo para interromper o sangramento, sem que haja trombose. • Inibidores específicos dos ativadores de plasminogênio (PAI-1): atuam sobre os ativadores de plasminogênio, inibindo-os. Trata-se do mecanismo inibitório mais prevalente. • A2-antiplasmina: atuam inibindo a plasmina AVALIAÇÃO LABORATORIAL DA HEMOSTASIA Os problemas da hemostasia são muito parecidos clinicamente, visto que teremos basicamente a trombose ou o sangramento. O que vai determinar onde está ocorrendo o defeito, é a anamnese e os detalhes da fisiologia, que são avaliados laboratorialmente. • Hemostasia Primária: hemograma completo e função plaquetária • Hemostasia Secundária: testes de triagem de coagulação Hemograma Completo: avaliação quantitativa das plaquetas • Contagem de plaquetas: 150 mil - 400 mil • Avaliação de plaquetas em microscópio Testes de função plaquetária: avaliação qualitativa das plaquetas • Teste de agregação plaquetária: o Investigação: ▪ Anormalidades qualitativas das plaquetas, principalmente nas desordens congênitas/genéticas ▪ Pacientes com manifestações clínicas hemorrágicas ou trombóticas ▪ Acompanhamento de indivíduos em uso de anti-agregantes plaquetários o Método de Born: agregômetro de plaquetas - avalia a resposta à adição de agentes agregantes como ADP, adrenalina, colágeno e ristocetina ▪ Doença de Von Willebrand e Doença de Bernard Soulier: agregação frente a ristocetina é anormal ▪ Trombastenia de Glazmann: agregação diminuída com todos os agregantes, exceto com a ristocetina • Tempo de sangramento: o Restrito à investigação de disfunções plaquetárias o Sensibilidade e especificidade controversas o Mal preditor para hemorragias em cirurgias ▪ O teste de agregação plaquetária é melhor para o pré-cirúrgico) o Tipos: localização e valor de referência ▪ Duke: lóbulo da orelha, VR = 1-3 min ▪ Ivy: antebraço, VR = 2-7 min o TS Prolongado: pode indicar ▪ Defeitos quantitativos e qualitativos das plaquetas ▪ Defeitos na interação plaqueta-endotélio ▪ Doenças vasculares Testes de Triagem de Coagulação: avaliam a via extrínseca, a via intrínseca e/ou a conversão de fibrinogênio em fibrina/via comum • Tempo de Protrombina (TAP ou TP): avalia a via extrínseca - tempo que o Fator VII demora para ativar o Fator II o VR: 12s • Tempo de Tromboplastina Parcial Ativada (TTPA): avalia a via intrínseca- tempo que o fator XII demora para ativar o Fator IX, e este para ativar o X com o VIII o VR: 35s • Tempo de Trombina (TT): avalia a via comum - tempo de ativação da protrombina em trombina o VR: 5s Testes para Diagnósticos: • Dosagem de Fatores (I - XIII) • Dimensionamento da Fibrinólise o Dosagem do D-dímero o Pesquisa de PDF
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