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O NOVO CPC E OS DIREITOS FUNDAMENTAIS PROCESSUAIS. UMA 
VISÃO GERAL, COM DESTAQUE PARA O DIREITO AO CONTRADITÓRIO. 
 
Klaus Cohen Koplin1 
 
Resumo: O presente estudo visa a analisar de que maneira os direitos fundamentais processuais 
consagrados na Constituição Federal de 1988 foram recepcionados no novo Código de Processo 
Civil. Para tanto, parte-se da comparação entre o CPC atual e o novo, no que tange às relações 
entre processo e Constituição. Em seguida, examina-se o direito fundamental ao processo justo e 
seus corolários, procurando-se apreender, de forma crítica, suas linhas mestras delineadas no novo 
CPC. Finalmente, analisa-se com maior vagar o direito fundamental ao contraditório e os deveres 
de cooperação dele decorrentes, procurando-se identificar seus contornos essenciais e sua 
recepção no novo Código. O que se percebe que é a nova legislação preocupa-se em desenvolver, 
ao menos em certa medida, os direitos fundamentais processais, apresentando virtudes, 
potencialidades e deficiências a serem exploradas pela doutrina e pela jurisprudência. 
 
Palavras-chave: Constituição e processo. CPC/1973. Novo CPC. Direitos fundamentais 
processuais. Contraditório. 
 
Índice: Resumo. 1. Introdução. 2. Relação entre Constituição e processo no CPC/1973 e no novo 
CPC. 3. O direito fundamental ao processo justo e sua consagração no novo CPC. 3.1. O direito 
fundamental ao processo justo e os direitos fundamentais dele decorrentes. 3.2. Os direitos 
fundamentais processuais em geral no novo CPC. 3.2.1. Introdução. 3.2.2. Princípios da demanda 
e do impulso processual de ofício. 3.2.3. Direito fundamental de acesso à justiça e à tutela 
jurisdicional adequada, efetiva e tempestiva. 3.2.4. Direito fundamental à probidade processual. 
3.2.5. Direito fundamental à isonomia; princípios relativos à interpretação e aplicação do 
ordenamento jurídico. 3.2.6. Direitos fundamentais à publicidade e à motivação das decisões 
judiciais. 3.2.7. Outros direitos fundamentais processuais tratados no novo CPC. 4. O direito 
fundamental ao contraditório no novo CPC. 4.1. Evolução do princípio do contraditório. 4.2. 
Conteúdo do direito fundamental ao contraditório e seu desenvolvimento no novo CPC. 4.2.1. 
Direito à informação. 4.2.2. Direito à manifestação. 4.2.3. Direito à influência. 4.3. Os deveres de 
cooperação entre o juiz e as partes e sua concretização no novo CPC. 4.3.1. Dever de prevenção. 
4.3.2. Dever de esclarecimento. 4.3.3. Dever de consulta. 4.3.4. Dever de auxílio. Pesquisa 
bibliográfica. 
 
1 Bacharel e Doutor em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Professor de 
direito processual civil na Faculdade de Direito da UFRGS, no Centro Universitário Ritter dos Reis 
(UniRitter) e na Faculdade Dom Bosco de Porto Alegre. Membro do Instituto Brasileiro de Direito 
Processual (IBDP). Advogado. E-mail: klaus@koplin.com.br. 
 
1. Introdução 
 
O novo Código de Processo Civil (NCPC, aprovado no Senado Federal no final 
de 2014 e atualmente à espera da sanção presidencial) propõe uma mudança radical na 
forma de relacionamento entre a Constituição Federal e o direito infraconstitucional, 
quando comparado ao Código de Processo Civil vigente (CPC/1973). Nesse sentido, o 
novo texto consagra e detalha diversos direitos fundamentais processuais assegurados de 
forma expressa ou implícita na Constituição Federal de 1988, especialmente o direito 
fundamental ao contraditório. 
O objetivo deste ensaio é investigar de que forma se dá essa relação no novo CPC, 
como forma de colaborar com a interpretação de seus dispositivos. Propõe-se a adoção 
de viés crítico, destacando avanços e retrocessos em relação ao Anteprojeto elaborado 
por Comissão de Juristas apresentado ao Senado e as várias versões de seu texto 
produzidas ao longo do processo legislativo.2 
Para tanto, serão aproveitados estudos doutrinários elaborados na vigência da lei 
atual, bem como trabalhos relativos ao novo CPC em suas diversas fase de tramitação. 
Primeiramente, tratar-se-á das relações entre Constituição e processo, procurando-
se examinar a maneira segundo a qual elas estão (ou não estão) presente no CPC atual e 
a forma como se concretizam no novo CPC. 
Em seguida, discorrer-se-á a respeito do direito fundamental ao devido processo 
legal como verdadeiro sobreprincípio processual consagrado na Constituição. Assim 
também serão explicitados os principais direitos fundamentais processuais dele 
decorrentes, formando verdadeiro “modelo constitucional de processo”. Na sequência, 
procurar-se-á definir brevemente tais direitos fundamentais e identificar de que forma o 
novo CPC os concretizou. 
 
2 Para maior clareza, adota-se a seguinte nomenclatura a respeito das várias versões no novo CPC: 
“Anteprojeto” (texto original apresentado em 8.6.2010 ao Senado Federal, redigido por Comissão de 
Juristas presidida pelo Min. Luiz Fux); “PLS nº 166/2010” ou “Projeto aprovado no Senado” (texto 
aprovado no Senado Federal em 15.12.2010); “PL nº 8.046/2010”, também chamado neste trabalho de 
“versão aprovada na Câmara” ou “Substitutivo da Câmara de Deputados” (texto aprovado na Câmara de 
Deputados – Casa revisora – no dia 26.3.2014); “novo CPC” ou “NCPC”, também denominado “versão 
final” (texto definitivo aprovado no Senado Federal – Casa de origem do projeto de lei – nos dias 16 e 
17.12.2014 e divulgado no seu site [http://www.senado.gov.br] no dia 24.2.2015). Para uma visão 
panorâmica sobre o processo legislativo do novo CPC, cf. THEODORO JR., Humberto et al. Novo CPC 
– Fundamentos e Sistematização. Rio de Janeiro: Forense, 2015, introdução. Obra em formato eletrônico 
(e-book, VitalBook file), com acesso em 9.3.2015.Quando da elaboração da versão final deste texto, o texto 
do novo CPC ainda estava à espera da sanção presidencial. 
 
Após, abordar-se-á, de forma especial e pormenorizada, o direito fundamental ao 
contraditório, procurando-se destacar seus elementos essenciais, assim como os deveres 
de colaboração dele decorrentes. Nessa oportunidade, procurar-se-á determinar de que 
forma o direito em questão foi recebido e desenvolvido pelo novo Código. 
 
2. Relação entre Constituição e processo no CPC/1973 e no novo CPC. 
 
O Código de Processo Civil de 1973 em sua feição original e o novo Código de 
Processo Civil representam duas concepções bastante diferentes a respeito das relações 
entre Constituição e processo civil. 
O CPC atual concebe o processo como um instrumento eminentemente técnico3, 
posto a serviço dos litigantes. Não traduz nenhum diálogo específico com a Constituição 
e com seus preceitos (especialmente com os direitos fundamentais nela consagrados), 
como se Código e Constituição constituíssem duas realidades independentes e não 
relacionados entre si. 
Nesse sentido, o art. 1º do CPC/1973 proclama, de modo significativo, que “a 
jurisdição civil, contenciosa e voluntária, é exercida pelos juízes, em todo o território 
nacional, conforme as disposições que este Código estabelece”. Além disso, conforme a 
concepção consagrada no art. 126 do Código vigente, “no julgamento da lide”, caberá ao 
juiz “aplicar as normas legais”. 
No plano valorativo, o CPC/1973 consagra o ideário vigente no Liberalismo, 
supervalorizando a ideologia da certeza do direito em detrimento da efetividade da 
jurisdição. Mostra-se, ainda, excessivamente individualista, desprezando por completo os 
interesses transindividuais típicos de uma sociedade massificada já presente, no Brasil, 
no começo dos anos de 1970. 
Não chega a impressionar esse panorama, pois, como bem percebeu Carlos 
Alberto Alvaro de Oliveira, “o Código Buzaid nasceu no âmbito de uma ditadura militar, 
de um sistema político que tinha pretensões de estabelecer, na esteira do ensinamento de 
Hobbes, a calculabilidadedas ações, finalidade também de interesse do capitalismo 
selvagem que então se instalou no Brasil, em que a previsibilidade contribui em larga 
medida para diminuir os riscos econômicos”.4 
 
3 Assim consta expressamente da Exposição de Motivos do CPC/1973, da autoria do Min. Alfredo Buzaid. 
Sobre a vertente científico-cultural que inspirou o atual CPC, ver MITIDIERO, Daniel. O Processualismo 
e a formação do Código Buzaid in Revista de Processo nº 183 (2010): 165/194. 
4 ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto. Processo civil brasileiro e Codificação in WAMBIER, Luiz 
Rodrigues; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (org.). Doutrinas essenciais: Processo civil. São Paulo: RT, 
vol. 1, 2011, pp. 1254/1264, esp. p. 1257. 
Como se sabe, as reformas processuais realizadas após 1994 (as “minirreformas”) 
tentaram adaptar o texto do Código de 1973 à nova ordem jurídica inaugurada pela 
Constituição Federal de 1988, especialmente aos princípios e regras instituidores de 
direitos fundamentais por ela previstos.5 Chegou-se a ver, nesse processo, o nascimento 
de um novo direito processual e mesmo de um novo Código, construído sobre os 
escombros do “Código Buzaid” original, o “Código Reformado”6. A verdade é que as 
alterações legislativas (às vezes imbuídas de caráter mais pragmático do que científico, 
como a mais recente reformulação da execução civil implementada pelas Leis nº 
11.232/2005 e 11.382/2006) acabaram por desfigurar o sistema original do Código, 
tornando-o difícil de compreender e de aplicar. Basta ver que o Livro I continua aludido 
ao “Processo de Conhecimento”, mesmo tendo englobado normas sobre execução de 
sentença. Contudo, tais normas são incompletas, devendo ser integradas por preceitos 
constantes do Livro II, dedicado ao “Processo de Execução” (CPC/1973, art. 475-R). 
Além disso, sendo o Código um texto legislativo marcado por uma identidade 
ideológica e científica7, observa-se que a possibilidade de atualização de suas normas por 
via interpretativa, ainda que possível e até necessária, não é ilimitada, mormente quando 
o texto (mesmo reformado) apenas ocasionalmente lança mão de técnicas legislativas 
abertas, como a das cláusulas gerais. De fato, o CPC/1973 estruturou-se como “um 
sistema fechado com previsões normativas rígidas, poucas cláusulas gerais, e inclusive 
preocupado em definir determinados institutos jurídicos”8. Em contrapartida, o Código 
Reformado lançou mão de outras técnicas, como a da cláusula geral.9 
Apesar desse ímpeto legislativo, jurisprudencial e doutrinário de renovação do 
direito processual civil brasileiro, parece que o ciclo do CPC/1973 realmente chegou ao 
fim, uma vez que restou irremediavelmente afetada a “coesão entre as normas 
processuais” do CPC vigente, “comprometendo a sua forma sistemática”, como 
reconheceu a Comissão de Juristas na Exposição de Motivos do Anteprojeto apresentado 
 
5 Neste trabalho, consideram-se como princípios as normas prescritivas de um estado ideal de coisas a ser 
alcançado no futuro, segundo as possibilidades fáticas e jurídicas presentes. De outra parte, entende-se por 
regras as normas que prescrevem uma conduta. Sobre o assunto, cf. a monografia de ÁVILA, Humberto. 
Teoria dos princípios. São Paulo: Malheiros, 15. ed., 2014, pp. 102/105. 
6 MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Código de Processo Civil comentado artigo por 
artigo. São Paulo: RT, 5. ed., 2013, nota prévia à 1ª edição, p. 13. 
7 ASCENSÃO, José de Oliveira. Introdução à ciência do direito. Rio de Janeiro: Renovar, 3. ed., 2005, 
pp. 342/343. 
8 ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto. Processo civil brasileiro e Codificação in WAMBIER, Luiz 
Rodrigues; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim (org.). Doutrinas essenciais: Processo civil. São Paulo: RT, 
vol. 1, 2011, pp. 1254/126, esp. p. 1256. 
9 Sobre o tema, ver DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil. Salvador: JusPODIVM, vol. 
1, 12. ed., 2010, pp. 33/36. 
ao Senado Federal em 2010.10 Ao que tudo indica, fazia-se urgente, de fato, uma 
recodificação, assim como ocorreu no começo dos anos 2000 com o direito privado, ao 
ser publicado o novo Código Civil. 
De outra parte, o novo CPC nasceu imbuído da elevada missão de reconhecer (o 
que é óbvio) e concretizar, de modo pormenorizado, os direitos fundamentais processuais 
consagrados na Constituição Cidadã de 1988. 
A Exposição de Motivos do Anteprojeto de novo CPC não deixa dúvidas a 
respeito das intenções do novo Código. Conforme se lê nesse texto, deixou-se “de ver o 
processo como teoria descomprometida de sua natureza fundamental de método de 
resolução de conflitos, por meio do qual se realizam valores constitucionais” (o destaque 
consta do original). Ademais, proclama-se que “a coerência substancial há de ser vista 
como objetivo fundamental, todavia, e mantida em termos absolutos, no que tange à 
Constituição Federal da República. Afinal, é na lei ordinária e em outras normas de 
escalão inferior que se explicita a promessa de realização dos valores encampados pelos 
princípios constitucionais”. Explicita-se, mais adiante, que um dos objetivos norteadores 
do trabalho da Comissão foi o de “estabelecer expressa e implicitamente verdadeira 
sintonia fina com a Constituição Federal”. Procurou-se, ademais, “deixar expressa a 
adequação das novas regras à Constituição Federal da República, com um sistema mais 
coeso, mais ágil e mais capaz de gerar um processo civil mais célere e mais justo”.11 
Pelo que se vê, ao menos no plano das intenções, o novo CPC propõe-se a 
estabelecer um diálogo real e efetivo com a norma constitucional, algo que o CPC/1973 
não conseguiu realizar. Se o texto que foi produzido até agora (e já se vão cinco anos, 
apenas de processo legislativo) conseguiu ou não realizar tais objetivos é outro problema. 
Talvez o avanço pudesse ter sido maior. Como ponderam Luiz Guilherme Marinoni e 
Daniel Mitidiero, “se é para pensar em nova codificação para o processo civil, é 
imprescindível que o Código apreça marcado pela nossa cultura – que é a cultura do 
Estado Constitucional”.12 É possível que a interpretação e a aplicação do texto futura 
possam extrair dele outras potencialidades, o que só o tempo dirá. 
 
10 BRASIL. CONGRESSO NACIONAL. SENADO FEDERAL. COMISSÃO DE JURISTAS 
RESPONSÁVEL PELA ELABORAÇÃO DE ANTEPROJETO DE CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. 
Código de Processo Civil: Anteprojeto. Brasília: Senado Federal, 2010. As páginas da Exposição de 
Motivos não se encontram numeradas. 
11 Todas as citações referem-se à edição mencionada na nota de rodapé anterior. 
12 MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. O projeto do CPC: crítica e propostas. São Paulo: 
RT, 2010, p. 60. O juízo desses autores, ao menos em relação ao Anteprojeto, era bastante negativo, tanto 
em termos de forma quanto de conteúdo, como se pode perceber das pp. 56/61 e 64/69. 
Cumpre, nas seções seguintes, examinar de que maneira o novo CPC propõe esse 
diálogo com os direitos fundamentais processuais consagrados na Constituição Federal 
de 1988. 
 
3. O direito fundamental ao processo justo e sua consagração no novo 
CPC. 
 
Cumpre, nesta seção, analisar de que forma se dá a concretização do direito 
fundamental ao processo justo no novo CPC. Antes tudo, convém precisar o que se 
entende por processo justo. 
 
3.1. O direito fundamental ao processo justo e os direitos fundamentais 
dele decorrentes. 
 
Segundo estabelece a Constituição Federal vigente, em seu art. 5º, inciso LIV, 
“ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. Longe 
de resumir-se ao mero cumprimento das regras legais infraconstitucionais a respeito do 
processo, o direito ao devido processo legal deve ser entendido “como direito 
fundamental a um processo justo”,“como direito a um processo legal e informado por 
direitos fundamentais, realizado em clima de boa-fé e lealdade de todos aqueles que dele 
participam, adequado ao direito material e às exigências do caso concreto, e enfim, 
voltado para a obtenção de uma proteção judicial efetiva”.13 Em suma, trata-se do direito 
fundamental a um processo informado por direitos fundamentais. 
O direito ao processo justo desdobra-se, portanto, em vários outros direitos 
fundamentais consagrados no texto constitucional, abrangendo, fundamentalmente, os 
seguintes (na esfera do processo civil): direito à tutela jurisdicional adequada, efetiva e 
tempestiva (CF, art. 5º, XXXV); direito ao contraditório, à ampla defesa e à prova (CF, 
art. 5º, LV), assim como à proibição da prova ilícita (CF, art. 5º, LVI); direito à isonomia 
(CF, art. 5º, caput e inciso I); direito ao juiz natural e imparcial e ao promotor natural 
(CF, art. 5º, XXXVII e LIII); direito à publicidade e à motivação das decisões judiciais 
(CF, art. 5º, LX e art. 93, IX e X); direito à segurança jurídica no processo (especialmente 
ao respeito à coisa julgada, CF, art. 5º, XXXVI); direito à assistência por advogado (CF, 
 
13 MATTOS, Sérgio Luís Wetzel de. Devido processo legal e proteção de direitos. Porto Alegre: Livraria 
do Advogado, 2008, p. 201. 
art. 133) e à assistência jurídica integral e gratuita (CF, art. 5º, LXXIV e art. 134); direito 
à duração razoável do processo (CF, art. 5º, LXXVIII).14 
O direito fundamental ao processo justo atua, por conseguinte, como síntese 
desses direitos, como verdadeiro “sobreprincípio”, pois fundamenta o surgimento de 
outros. Não se trata, contudo, de algo supérfluo, pois, no dizer de Humberto Ávila, o 
devido processo legal, enquanto sobreprincípio jurídico-constitucional, exerce função 
rearticuladora relativamente aos princípios e regras já previstos pelo sistema.15 Ademais, 
não se pode perder de vista que o devido processo legal, desempenhando função 
integrativa (como os demais princípios), permite a criação de novos elementos essenciais 
à configuração do estado ideal de protetividade de direitos que ele encerra.16 Atua, assim, 
como fonte de direitos fundamentais processuais não expressos (CF, art. 5º, par. 2º), como 
o direito fundamental ao duplo grau de jurisdição, o direito fundamental à colaboração 
no processo e o princípio da adequação ou adaptabilidade legal e judicial do 
procedimento. 
Por tudo isso, pode-se dizer que o conjunto desses direitos fundamentais, 
sintetizados na expressão “processo justo”, encerra as diretrizes mínimas e fundamentais 
da própria atuação do Poder Judiciário. Por isso mesmo, o direito ao devido processo 
legal e os direitos dele decorrentes formam o que já se chamou, com acerto, de “modelo 
constitucional do processo civil”.17 
 
3.2. Os direitos fundamentais processuais em geral no novo CPC. 
 
 Neste tópico, pretende-se examinar em que medida o novo CPC se ajustou a esse 
modelo constitucional do processo civil representado pelo direito fundamental ao devido 
processo legal. 
 
3.2.1. Introdução. 
 
 
14 MATTOS, Sérgio Luís Wetzel de. Devido processo legal e proteção de direitos. Porto Alegre: Livraria 
do Advogado, 2008, pp. 204/252; SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, 
Daniel. Curso de direito constitucional. São Paulo: RT, 3. ed., 2014, pp. 703/770. 
15 ÁVILA, Humberto. O que é devido processo legal? in Revista de Processo nº 163 (2008): 50/59, esp. 
p. 58. 
16 ÁVILA, Humberto. O que é devido processo legal? in Revista de Processo nº 163 (2008): 50/59, esp. 
p. 57. 
17 BUENO, Cássio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil. São Paulo: Saraiva, vol. 
1, 2. ed., 2008, p. 92. 
De saída, chama a atenção o fato de o novo CPC iniciar com a formulação das 
“normas Fundamentais do Processo Civil” (Capítulo I do Título único do Livro I da Parte 
Geral), verdadeira declaração de direitos fundamentais processuais. Uma rápida leitura 
dos 12 artigos que formam esse Capítulo revela o intento do legislador de explicitar 
alguns dos princípios e regras constitucionais e infraconstitucionais (tradicionais) a 
respeito do processo civil. Nada disso deve causar surpresa, pois, entre os objetivos do 
novo CPC, está o de “estabelecer expressa e implicitamente verdadeira sintonia fina com 
a Constituição Federal”, conforme consta expressamente da exposição de motivos do 
Anteprojeto.18 
É de assinalar que essa técnica legislativa não se mostra supérflua, pois confere 
maior destaque aos direitos fundamentais do cidadão em juízo e, ao especificá-los, com 
maior detalhamento, contribui para o processo de concretização dos princípios 
constitucionais. De fato, é importante que haja legislação infraconstitucional para 
especificar e concretizar os princípios (necessariamente genéricos e indeterminados) e as 
regras (às vezes incompletas) constitucionais a respeito do processo civil. Não que a 
inexistência de norma infraconstitucional inviabilize a concretização direta do princípio, 
no caso concreto, pelo juiz, pois a Constituição Federal assegura a autoaplicabilidade de 
normas definidoras de direitos fundamentais (art. 5º, § 1º). O que ocorre é que, no Estado 
Constitucional, o respeito à segurança jurídica e à igualdade exigem, a princípio, que essa 
especificação seja definida em termos gerais, pelo legislador.19 
De outra parte, apesar de a existência de tais normas fundamentais constituir 
verdadeira inovação em relação ao CPC/1973, não se trata de uma ideia original do 
legislador brasileiro. De fato, assim procederam várias outras nações que recentemente 
codificaram ou recodificaram seu direito processual civil, como é o caso paradigmático 
de Portugal.20 
Por tudo isso, revela-se altamente significativo inicial uma codificação processual 
civil com a afirmação dos direitos fundamentais das partes em juízo. 
 
18 BRASIL. CONGRESSO NACIONAL. SENADO FEDERAL. COMISSÃO DE JURISTAS 
RESPONSÁVEL PELA ELABORAÇÃO DE ANTEPROJETO DE CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. 
Código de Processo Civil: Anteprojeto. Brasília: Senado Federal, 2010. 
19 Nessa linha, ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios. São Paulo: Malheiros, 15. ed., 2014, pp. 
140/141; ——. Segurança jurídica. São Paulo: Malheiros, 2. ed., 2012, pp. 164/165 e 316/318. 
20 Em Portugal, o CPC anterior (Decreto-Lei nº 44.129, de 28.12.1961, com alterações posteriores) 
inaugurava o Capítulo I do Título I do Livro I com algumas poucas “disposições gerais”, proibindo a 
autodefesa (art. 1º), assegurando o direito de acesso aos tribunais (art. 2º), assim como a indispensabilidade 
do pedido e da defesa (art. 3º) e da igualdade das partes (art. 3º-A). O CPC português atual (Lei nº 41, de 
26.6.2013, já em vigor), além de manter os princípios fundamentais da legislação anterior (arts. 1º ao 4º), 
acrescenta outras disposições fundamentais, disciplinando os papeis das partes e do juiz (art., 5º); 
instituindo e regulando o dever de gestão processual (art. 6º); explicitando o princípio da cooperação 
processual (art. 7º) e os correlatos deveres de boa-fé processual (art. 8º) e de recíproca correção (art. 9º). 
 
3.2.2. Princípios da demanda e do impulso processual de ofício. 
 
Conforme estabelece o art. 2º do novo CPC, “o processo começa por iniciativa 
da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei.” De 
início, percebe-se ter sido aí consagrado o princípio da demanda (também conhecido 
como princípio dispositivo em sentido material), o qual, mesmo não estando 
expressamente previsto na Constituição Federal, decorre claramente do direito à 
liberdade, amparado no caput do seu art. 5º. Segundo esse princípio, compete às partes 
(mormente ao autor) o rompendo a inércia da jurisdição,assim como a delimitação do 
objeto litigioso; o juiz, por seu turno, fica restrito aos limites do pedido traçado pelo 
autor.21 
De igual modo, o novo CPC, afastando-se da tradição liberal, repelo o senhorio 
absoluto das partes a respeito do ritmo de desenvolvimento do procedimento (princípio 
dispositivo em sentido formal)22, albergando o princípio do impulso processual oficial, 
como também já fizera o CPC atual. 
 
3.2.3. Direito fundamental de acesso à justiça e à tutela jurisdicional 
adequada, efetiva e tempestiva. 
 
O art. 3º do NCPC reproduz de forma praticamente idêntica o disposto no art. 5º, 
XXXV, da Constituição Federal: “não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça 
ou lesão a direito.” Trata-se do direito fundamental de acesso à justiça e de seu corolário, 
o direito a uma tutela jurisdicional efetiva, adequada e tempestiva. 
Em primeiro nível, estabelece o art. 5º, XXXV, da Constituição o dever dos 
poderes estatais (e não apenas do legislador) de removerem obstáculos ao acesso das 
pessoas à justiça. É conhecida a lição de Mauro Cappelletti e Bryant Garth a respeito das 
“ondas” de acesso à justiça e aos distinto mecanismos de remoção de obstáculos que elas 
estabelecem.23 No que interesse ao presente trabalho, cumpre restringir a análise apenas 
à primeira e a segunda “ondas” de acesso à justiça. Quanto à primeira, vê-se que o 
 
21 ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto; MITIDIERO, Daniel. Curso de processo civil. São Paulo: 
Atlas, vol. 1, 2. ed., 2012, pp. 67/68. 
22 ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto; MITIDIERO, Daniel. Curso de processo civil. São Paulo: 
Atlas, vol. 1, 2. ed., 2012, pp. 65/67. 
23 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Trad. de Ellen Gracie Northfleet. Porto 
Alegre: Sérgio Fabris, 2002, passim. 
obstáculo financeiro24 ao acesso à justiça é amenizado por meio da assistência judiciária 
gratuita, tema tratado nos arts. 98-102 do NCPC. 
Quanto à segunda onda, relativa aos interesses e direitos transindividuais25, 
observa-se que o novo CPC não pretendeu conferir uma disciplina geral para o processo 
coletivo (o que deveria ser deixado, na visão do novo Código, para legislação especial). 
Antes, limitou-se a disciplinar alguns mecanismos de coletivização de demandas, visando 
à racionalização da prestação jurisdicional e à concretização de outros direitos 
fundamentais, como os direitos à isonomia, à tutela jurisdicional adequada, efetiva e 
tempestiva e à duração razoável do processo. É o que se percebe, por exemplo, da leitura 
do art. 333 do novo Código (o qual não encontra correspondência no Anteprojeto e no 
PLS nº 166/2010, tendo surgido a partir de proposta de Kazuo Watanabe)26, que 
possibilita ao juiz a conversão da demanda individual em coletiva, a requerimento do 
Ministério Público ou da Defensoria Pública. Ademais, os arts. 976-987 do NCPC 
regulam o incidente de resolução de demandas repetitivas. Cássio Scarpinella Bueno 
considera esse mecanismo (proposto já no Anteprojeto e aperfeiçoado nas versões 
posteriores) a mais profunda inovação proposta pela nova legislação. Segundo refere o 
autor, “o instituto quer viabilizar uma verdadeira concentração de processos que versem 
sobre uma mesma questão jurídica no âmbito dos tribunais e permitir que a decisão a 
ser proferida vincule todos os demais casos que estejam sob a competência do tribunal 
julgador”.27 
Em um segundo nível, percebe-se que o art. 5º, XXXV, da CF outorga a todos o 
direito fundamental a uma tutela jurisdicional adequada, efetiva e tempestiva. De fato, de 
nada adiantaria a promessa constitucional de acesso à justiça se não fosse assegurado às 
pessoas a possibilidade de obterem da justiça exatamente aquilo que vieram buscar. A 
tutela jurisdicional deve ser entendida como a proteção outorgada apelo poder judiciário 
à esfera jurídica das pessoas. Como revela a doutrina mais atual, a Constituição Federal 
prevê uma tutela adequada, isto é, ajustada às necessidades do direito material 
apresentado no caso concreto, incluindo a necessidade de prevenir a violação do direito; 
efetiva, pois deve tutelar especificamente esse direito, produzindo efeitos práticos no 
 
24 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Trad. de Ellen Gracie Northfleet. Porto 
Alegre: Sérgio Fabris, 2002, pp. 31 e ss. 
25 CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à justiça. Trad. de Ellen Gracie Northfleet. Porto 
Alegre: Sérgio Fabris, 2002, pp. 49 e ss. 
26 BUENO, Cássio Scarpinella. Projetos de novo Código de Processo Civil comparados e anotados. São 
Paulo: Saraiva, 2014, p. 178. 
27 BUENO, Cássio Scarpinella. Projetos de novo Código de Processo Civil comparados e anotados. São 
Paulo: Saraiva, 2014, p. 467. 
mundo dos fatos; tempestiva, porque deve ser prestada em tempo útil ao titular do 
direito.28 
É bastante claro o compromisso e do empenho do novo CPC em instrumentalizar 
a prestação de uma tutela jurisdicional adequada, efetiva e tempestiva. Uma das mais 
importantes manifestações desse direito fundamental constitui o regramento relativo à 
antecipação de tutela de urgência e da evidência (arts. 294-311 do NCPC, 
correspondentes aos arts. 295-312 do PL nº 8.046/2010, arts. 269-286 do PLS nº 166/2010 
e aos arts. 277-296 do Anteprojeto), que se propõe a rearticular, sob a rubrica “Da tutela 
provisória”, as tutelas sumárias hoje disciplinadas no art. 273 e no Livro III do 
CPC/1973.29 
Por outro lado, ressalta-se a previsão, nos parágrafos do art. 3º do NCPC, da 
possibilidade de utilização da arbitragem, da mediação e de outros métodos consensuais 
de resolução de conflitos como alternativas à resolução judicial. De resto, cabe recordar 
que a instituição da arbitragem, segundo jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, 
não ofende o direito fundamental à tutela jurisdicional.30 
O art. 4º do novo Código trata do direito fundamental à duração razoável do 
processo (também referido como esse nomen iuris em seu art. 139, II) nos seguintes 
termos: “as partes têm direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, 
incluída a atividade satisfativa.” O tema em questão é retomado com pormenores no art. 
12 do NCPC, o qual, a partir de técnica casuística, impõe de forma rigorosa e com 
exceções expressamente previstas o respeito à ordem cronológica de conclusão dos autos 
para realização de julgamentos.31 
 
3.2.4. Direito fundamental à probidade processual. 
 
 
28 O texto adota, no essencial, as ideias expostas em ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto; 
MITIDIERO, Daniel. Curso de processo civil. São Paulo: Atlas, vol. 1, 2. ed., 2012, p. 29. 
29 Não é este o lugar adequado para tratar do assunto. Para uma análise mais detalhada e crítica do 
Anteprojeto e do Projeto aprovado na Câmara (PL nº 8.046/2010), cf. MARINONI, Luiz Guilherme; 
MITIDIERO, Daniel. O projeto do CPC: crítica e propostas. São Paulo: RT, 2010, pp. 106/110; BUENO, 
Cássio Scarpinella. Projetos de novo Código de Processo Civil comparados e anotados. São Paulo: 
Saraiva, 2014, pp. 156/167. Para compreender melhor as técnicas sumárias consagradas no NCPC 
(antecipação de tutela de urgência e da evidência), considera-se indispensável examinar o ensaio recente 
de MITIDIERO, Daniel. Antecipação da tutela. São Paulo: RT, 2. ed., 2014, pp. 49/67 e 131/139 e as 
ideias de DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandre de. Curso de direito 
processual civil. Salvador: JusPODIVM, vol. 2, 9. ed., 2014, pp. 459/484. 
30 Agravo Regimental na Sentença Estrangeira nº 5.206, Pleno do STF, Rel. Min. SEPÚLVEDA 
PERTENCE, julgado em 12/12/2001, DJ 30/04/2004, p. 29. 
31 Sobre os problemas práticos que o art. 12 do NCPC pode ocasionar, ver GAJARDONI, Fernando da 
Fonseca. Pontos e contrapontos sobre o projeto doNovo CPC in Revista dos Tribunais nº 950 (2014): 
17/37, pp.21/23. 
O art. 5º novo CPC positiva, lançando mão da técnica legislativa da cláusula geral, 
o dever geral de probidade aos participantes do processo: “aquele que de qualquer forma 
participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé”. O tema é detalhado 
nos arts. 79-81 do Código, com explicitação do dever de reparar danos atribuído ao 
litigante de má-fé, detalhamento das hipóteses de litigância de má-fé e cominação de 
penalidades a ele imponíveis. Trata-se de manifestação da mesma exigência de boa-fé 
objetiva presente no direito privado, agora manifestada no campo do no processo civil. 
Como argumenta Fredie Didier Jr., a cláusula geral em questão pode manifestar-se como 
princípio (como ocorre no artigo 5º do NCPC) ou como regra (conforme se vê dos arts. 
79-81 do NCPC).32 Enquanto princípio, a boa-fé implica uma série de vedações aos 
sujeitos processuais (mormente às partes), entre as quais se incluem proibição de criar 
dolosamente posições processuais; a proibição de venire contra factum proprium e a 
proibição de abuso de direitos processuais.33 Conforme sustenta o estudioso baiano, é o 
próprio princípio do devido processo legal (aqui entendido como direito fundamental ao 
processo justo) que fundamenta a instituição de deveres de probidade processual.34 
A boa-fé objetiva processual também impõe também deveres de cooperação entre 
os sujeitos processuais, tema também relacionado ao contraditório. Nessa linha, o art. 6º 
NCPC institui um dever geral de colaboração entre os sujeitos do processo, incluindo as 
partes em suas relações recíprocas: “todos os sujeitos do processo devem cooperar entre 
si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.” De fato, o 
novo CPC preocupou-se, desde o Anteprojeto original, em reforçar o princípio da 
cooperação e deveres correlatos, como se verá, de forma crítica, na parte final deste 
trabalho. 
 
3.2.5. Direito fundamental à isonomia; princípios relativos à 
interpretação e aplicação do ordenamento jurídico. 
 
O art. 7º do NCPC, por sua vez, disciplina o direito fundamental à isonomia, 
instituindo-o como dever do órgão judicial: “é assegurada às partes paridade de 
tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de 
 
32 DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil. Salvador: JusPODIVM, vol. 1, 12. ed., 2010, 
pp. 60/61. 
33 DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil. Salvador: JusPODIVM, vol. 1, 12. ed., 2010, p. 
64; THEODORO JR., Humberto et al. Novo CPC – Fundamentos e Sistematização. Rio de Janeiro: 
Forense, 2015, cap. 4. Obra em formato eletrônico (e-book, VitalBook file), com acesso em 9.3.2015. 
34 DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil. Salvador: JusPODIVM, vol. 1, 12. ed., 2010, 
pp. 66/67. 
defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz 
zelar pelo efetivo contraditório.”35 O tema reaparece, mais adiante, no inciso I do art. 
139. Trata-se da chamada “paridade de armas”, elemento essencial do direito fundamental 
ao contraditório, que também aparece referido nesse artigo e nos arts. 9º e 10 do NCPC, 
adiante examinados.36 Apesar disso e das críticas de certos setores da doutrina, o novo 
CPC manteve a maior parte das prerrogativas processuais atualmente conferidas à 
fazenda pública, à Defensoria Pública e ao Ministério Público (cf. arts. 85, par. 3º, 5º e 
7º; 183; 186; 1.021, par. 5º; 1.026, par. 3º; 1.059 do NCPC).37 
O art. 8º do novo CPC estabelece que: “ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz 
atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a 
dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a 
legalidade, a publicidade e a eficiência”. Como se percebe, esse dispositivo do Código 
não concretiza nenhum direito fundamental processual específico, mas consagra norma 
de interpretação e de aplicação de todo o direito por parte do órgão judicial. Comparando 
a redação atual desse artigo com os dispositivos correspondentes do Anteprojeto e do 
Projeto aprovado no Senado (art. 6º, de idêntica redação em ambos), observa-se, além da 
inclusão de alguns princípios (como o da proporcionalidade) e da exclusão de alguns 
outros (como a moralidade e a impessoalidade), a substituição da expressão “ao aplicar 
a lei” por “ao aplicar o ordenamento jurídico”, que se afigura mais correta e mais 
completa, compreendendo outras fontes além da legislação infraconstitucional 
(Constituição Federal, tratados internacionais, súmulas, precedentes, costumes). 
No que tange ao papel da Constituição Federal como critério interpretativo de todo 
ordenamento jurídico (incluindo as normas processuais), a verdade é que os vários textos 
produzidos durante o processo legislativo oscilaram entre diferentes concepções teóricas. 
Com efeito, o Anteprojeto de novo CPC (da mesma forma que o PLS nº 166/2010, 
aprovado no Senado), estatuíam, em seu art. 1º: “o processo civil será ordenado, 
disciplinado e interpretado conforme os valores e os princípios fundamentais 
estabelecidos na Constituição da República Federativa do Brasil, observando-se as 
disposições deste Código”. Já o art. 1º do PL nº 8.046/2010 estabelecia apenas que “o 
processo civil será ordenado e disciplinado conforme as normas deste Código”. Como 
 
35 Percebe-se que o texto final desse artigo, estabelecida pelo Senado, é superior à versão aprovada na 
Câmara (PL nº 8.046/2010), que se mostrava mais genérica: “é assegurada às partes paridade de 
tratamento no curso do processo, competindo ao juiz velar pelo efetivo contraditório.” 
36 Sobre o direito fundamental à isonomia, cf. MATTOS, Sérgio Luís Wetzel de. Devido processo legal e 
proteção de direitos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008, pp. 209/212. 
37 Note-se que o art. 183 do NCPC reduz o prazo para contestação da fazenda pública (atualmente 
computado em quádruplo) e determina a contagem em dobro de todos os prazos estabelecidos em seu favor, 
salvo regra especial. 
anota Cássio Scarpinella Bueno, “o art. 1º do Projeto da Câmara é verdadeiro 
retrocesso, porque dá a falsa impressão de que ‘as normas desta Código’ são bastantes 
para ordenar e disciplinar o processo civil”, o que não é verdadeiro, “porque o contraste 
entre de qualquer lei com a Constituição é tarefa insuprimível no ordenamento jurídico 
nacional da atualidade”.38 Felizmente, a versão final aprovada no Senado restaurou a 
redação original do art. 1º do Anteprojeto de novo CPC. 
Além disso, o Anteprojeto (em seu art. 108) e o Projeto aprovado no Senado (PLS 
nº 166/2010, art. 119), de forma eloquente, mandavam o juiz, no julgamento da lide, 
“aplicar os princípios constitucionais e as normas legais” (não apenas as normas legais, 
como propõe o art. 126 do CPC/1973).39 Nenhuma dessas disposições foi conservada, 
infelizmente, no Projeto aprovado na Câmara (PL nº 8.046/2010) e na versão final 
encaminhada à sanção presidencial. De fato, o art. 140 do NCPC (correspondente aos 
artigos 108 e 119 das versões anteriores citadas), proclama apenas que “o juiz não se 
exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscuridade do ordenamento jurídico”, 
deixando de fazer referência ao suprimento de lacunas e aos princípios constitucionais. 
 
3.2.6. Direitos fundamentais à publicidade e à motivação das decisões 
judiciais. 
 
Ademais, o art. 11 do novo CPC retoma os direitos fundamentais à publicidade e 
à fundamentação das decisões judiciais, nos termos seguintes: “todos os julgamentos dos 
órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena 
de nulidade”. Conforme o par. único, “nos casos de segredo de justiça, pode ser 
autorizada somente a presença daspartes, de seus advogados, de defensores públicos ou 
do Ministério Público”. Tais direitos mostram-se inerente ao Estado Constitucional e ao 
direito fundamental ao processo justo.40 
A publicidade dos atos processuais, como lembra Sérgio Mattos, “é inseparável 
do próprio regime democrático, exigindo transparência no exercício da função 
jurisdicional e permitindo o controle externo e interno sobre a boa administração da 
 
38 BUENO, Cássio Scarpinella. Projetos de novo Código de Processo Civil comparados e anotados. São 
Paulo: Saraiva, 2014, p. 41. 
39 Mesmo assim, a regra anterior ainda continha flagrante impropriedade técnica, pois a Constituição não 
contém apenas princípios, mas também regras. Com razão, portanto, MARINONI, Luiz Guilherme; 
MITIDIERO, Daniel. O projeto do CPC: crítica e propostas. São Paulo: RT, 2010, p. 60. 
40 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito 
constitucional. São Paulo: RT, 3. ed., 2014, p. 751; SÉRGIO LUÍS WETZEL DE MATTOS, Devido 
processo legal e proteção de direitos, Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008, p. 230. 
justiça”.41 O novo CPC disciplina, neste dispositivo, a chamada publicidade externa, 
relativa à possibilidade de acesso aos atos processuais ao público em geral, somente 
restringível em casos excepcionais, diante de outros direitos fundamentais também dignos 
de proteção, como é o caso do direito à intimidade. O tema da publicidade é retomado no 
art. 189 do Código, que especifica os casos de segredo de justiça, aperfeiçoando o 
regramento atualmente em vigor. 
A motivação, por seu turno, constitui verdadeiro banco de prova do direito ao 
contraditório e exige a justificação da decisão judicial perante as partes e perante a 
sociedade em geral.42 Isso porque o estágio atual de desenvolvimento das sociedades 
ocidentais “não mais tolera o exercício arbitrário da jurisdição nem admite a possibilidade 
de ser o processo jugado por critérios arbitrários e irracionais”, como recordam Alvaro 
de Oliveira e Mitidiero.43 A motivação se desdobra em duas funções essenciais: a 
justificação das decisões judiciais perante as partes, no caso concreto, e a organização de 
um discurso jurídico adequado à orientação das decisões em casos futuros, ou seja, aos 
precedentes. Trata-se dos chamados "dois discursos” desempenhados pela decisão 
judicial.44 
O artigo 11 do novo CPC cuida apenas do discurso da justificação, que é 
pormenorizado no art. 489 do Código. Com efeito, além de reafirmar para o órgão judicial 
o dever de fundamentar a decisão, esse artigo contém importantes inovações. O par. 1º 
estabelece casos em que se não se considera fundamentada a decisão, o que vem a reforçar 
enormemente o ônus argumentativo do magistrado. O par. 2º impõe ao órgão judicial, no 
caso de colisão de normas, o dever de “justificar o objeto e os critérios gerais da 
ponderação efetuada, enunciando as razões que autorizam a interferência na norma 
afastada e as premissas fáticas que fundamentam a conclusão”.45 Dessa forma, percebe-
 
41 SÉRGIO LUÍS WETZEL DE MATTOS, Devido processo legal e proteção de direitos, Porto Alegre: 
Livraria do Advogado, 2008, p. 229. 
42 MATTOS, Sérgio Luís Wetzel de. Devido processo legal e proteção de direitos. Porto Alegre: Livraria 
do Advogado, 2008, p. 231; SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, 
Daniel. Curso de direito constitucional. São Paulo: RT, 3. ed., 2014, p. 753. 
43 ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto; MITIDIERO, Daniel. Curso de processo civil. São Paulo: 
Atlas, vol. 1, 2. ed., 2012, p. 47. 
44 Cf, a respeito, MITIDIERO, Daniel. Fundamentação e precedente: dois discursos a partir da decisão 
judicial in MITIDIERO, Daniel; AMARAL, Guilherme Rizzo; FEIJÓ, Maria Angélica Echer Ferreira 
(org.). Processo civil: estudos em homenagem ao Professor Doutor Carlos Alberto Alvaro de Oliveira. São 
Paulo: Atlas, 2012, pp. 85/99. 
45 Lenio Streck chegou a defender o veto desse dispositivo, pois, além da ponderação de princípios, 
permitiria ele a ponderação de regras (e ainda por critérios meramente subjetivos), abrindo margem ao que 
parece a esse autor inaceitável arbítrio judicial (Senso incomum. Ponderação de normas no novo CPC? 
É o caos. Presidente Dilma, por favor, veta!, disponível em: http://www.conjur.com.br/2015-jan-
08/senso-incomum-ponderacao-normas-cpc-caos-dilma-favor-veta, acesso em 9.3.2015). Sobre a 
possibilidade excepcional de superação de regras e os requisitos para que isso ocorra, ver ÁVILA, 
Humberto. Teoria dos princípios. São Paulo: Malheiros, 15. ed., 2014, pp. 141 e ss. 
se que o 489 do NCPC constitui notável aperfeiçoamento do art. 476 do PLS nº 166/2010 
(que era menos específico quanto ao que não se considerava fundamentação e não previa 
orientações para a resolução de colisão de normas) e do art. 471 do Anteprojeto (que se 
limitava a reproduzir os termos do art. 458 do CPC/1973). 
O tema dos precedentes, por seu turno, é tratado fundamentalmente nos arts. 926-
927 do novo CPC, mais adiante analisados. 
 
3.2.7. Outros direitos fundamentais processuais tratados no novo CPC. 
 
Não foram incluídos nesse catálogo inicial vários direitos fundamentais 
processuais consagrados no texto constitucional, antes referidos. Não se pode dizer, 
contudo, que estejam completamente ausentes do novo CPC, já que foram concretizados 
de forma implícita e pontual ao longo de seu texto. 
Assim, o direito à prova, corolário da ampla defesa e do contraditório46, vem 
previsto apenas no art. 366 do NCPC. Não há norma expressa regulamentando, no 
processo civil, o direito fundamental à proibição de provas ilícitas.47 Apesar disso, o caput 
do art. 379 do NCPC assegura o direito da parte de não produzir prova contra si mesma. 
Do mesmo modo, percebe-se, a partir da leitura de uma variedade de dispositivos 
do novo Código, ter sido concretizado o direito fundamental ao juiz natural e 
imparcial.48 Nessa linha, o art. 42 determina que “as causas cíveis serão processadas e 
decididas pelo juiz nos limites de sua competência”; já as hipóteses de impedimento e 
suspeição são tratadas nos arts. 144 e 145 do NCPC. 
Falta, outrossim, uma referência geral, no novo CPC, ao direito fundamental à 
segurança jurídica no processo. Conforme ensinam Luiz Guilherme Marinoni e Daniel 
Mitidiero, apesar de não ter sido previsto explicitamente em termos processuais, é 
evidente e inegável a consagração desse o direito também no âmbito do processo civil, 
pois trata-se de posição jurídica inerente ao processo justo. Ademais, segundo esses 
 
46 MATTOS, Sérgio Luís Wetzel de. Devido processo legal e proteção de direitos. Porto Alegre: Livraria 
do Advogado, 2008, p. 213. 
47 O tema da proibição da prova ilícita é desenvolvido em MATTOS, Sérgio Luís Wetzel de. Devido 
processo legal e proteção de direitos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2008, pp. 223/227, com amplas 
referências doutrinárias e jurisprudenciais. 
48 Conforme sintetizam Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero, “Juiz natural é juiz imparcial, 
competente e aleatório. É o juiz a que é constitucionalmente atribuído o dever de prestar tutela jurisdiciona 
e conduzir o processo de forma justa” (SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; 
MITIDIERO, Daniel. Curso de direito constitucional. São Paulo: RT, 3. ed., 2014, p. 731, destaque 
constante do original). Acrescente-se eu a jurisprudência mais recente do STF vem reafirmando ainda a 
existência do princípio do promotor natural (op. cit., pp. 733 e 734). O art.4º-A, IV da Lei Complementar 
nº 80/1994 (acrescentado pela LC nº 132/2009), instituiu, ainda, o direito ao defensor público natural. 
mesmos autores, “o direito à segurança jurídica no processo constitui direito à certeza, 
à estabilidade,à confiabilidade e à efetividade das situações jurídicas processuais”, 
exigindo respeito, ademais, à preclusão, à coisa julgada, e ao precedente judicial.49 
Os institutos da preclusão e da coisa julgada (assim como a ação rescisória) 
foram reconhecidas e disciplinadas pelo novo CPC de forma esparsa e fora do catálogo 
de direitos fundamentais processuais, como se pode constatar de seus arts. 502-508 e 966-
975. Não é este o lugar para o exame dos pormenores relativos à disciplina de tais 
institutos jurídicos.50 
Uma das mais expressivas inovações propostas pelo novo CPC consiste na 
disciplina do precedente judicial. Com efeito, conforme ensina Daniel Mitidiero, “a 
segurança jurídica, a igualdade e necessidade de coerência da ordem jurídica impõem 
respeito aos precedentes judiciais, não sendo tarefa do legislador infraconstitucional 
propriamente impor esse respeito (que já seria estabelecido pela própria Constituição 
ao consagrar o direito fundamental ao processo justo), mas, antes, disciplinar técnicas 
processuais adequadas para a efetivação do precedente em juízo” (destaque constante 
do original).51 
Não é possível, nos limites estreitos deste ensaio, esmiuçar o tema.52 Basta, por 
ora, referir que a versão aprovada na Câmara, bem ou mal, propunha uma verdadeira 
teoria dos precedentes, condensando-a no Capítulo XV do Título I do Livro I da Parte 
Especial, dedicado ao “precedente judicial”. Nesse título, os arts. 520-522 disciplinavam 
 
49 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito 
constitucional. São Paulo: RT, 3. ed., 2014, p. 759. 
50 De qualquer sorte, deve-se atentar para a eliminação, na versão final do novo CPC aprovada no Senado, 
do protesto antipreclusivo instituído pela Câmara de Deputados (comparar o art. 1.009 do NCPC com o 
art. 1.022, par. 2º do PL nº 8.046/2010). Isso porque, segundo o relator da Comissão Temporária constituída 
durante a fase final de tramitação no Senado, Senador Vital do Rêgo, o substitutivo da Câmara, “ao criar 
um protesto, com rígida preclusão, estar a restabelecer a lógica do ‘agravo retido’, embora com outro nome, 
indo de encontro à filosofia simplificadora do PLS em matéria recursal” (BRASIL. CONGRESSO 
NACIONAL. SENADO FEDERAL. COMISSÃO TEMPORÁRIA DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. 
Parecer nº 956, de 2014, da Comissão Temporária do Código de Processo Civil, sobre o Substitutivo 
da Câmara dos Deputados (SCD) ao Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 166, de 2010, que estabelece 
o Código de Processo Civil. Brasília: Senado Federal, 2014, p. 192. Disponível em: 
http://www.senado.gov.br, acesso em 9.3.2015). 
51 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito 
constitucional. São Paulo: RT, 3. ed., 2014, p. 762. Para uma fundamentação mais profunda do respeito 
aos precedentes como exigência do Estado Constitucional, cf. MITIDIERO, Daniel. Cortes superiores e 
cortes supremas: do controle à interpretação, da jurisprudência ao precedente. São Paulo: RT, 2013, 
pp. 26/29; MITIDIERO, Daniel. A tutela dos direitos como fim do processo no Estado Constitucional 
in Revista de Processo nº 229 (2014): 51/74, esp. pp. 65/73. 
52 Sobre os precedentes no direito brasileiro, consultar, entre outras obras: MARINONI, Luiz Guilherme. 
Precedentes obrigatórios. São Paulo: RT, 3. ed., 2013; MITIDIERO, Daniel. Fundamentação e 
precedente: dois discursos a partir da decisão judicial in MITIDIERO, Daniel; AMARAL, Guilherme 
Rizzo; FEIJÓ, Maria Angélica Echer Ferreira (org.). Processo civil: estudos em homenagem ao Professor 
Doutor Carlos Alberto Alvaro de Oliveira. São Paulo: Atlas, 2012, pp. 85/99; DIDIER JR., Fredie; 
BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandre de. Curso de direito processual civil. Salvador: 
JusPODIVM, vol. 2, 9. ed., 2014, pp. 381/417. 
alguns elementos mínimos para que se pudesse operar com precedentes (consoante a 
sistematização de autores anglo-americanos), tais como: a especificação dos princípios 
norteadores da técnica do precedente (art. 521, caput); a definição da eficácia horizontal 
e vertical dos precedentes e sua obrigatoriedade em ambos os planos (arts. 520 e 521, 
caput e incisos); a observância da força vinculante dos precedentes do Plenário do STF 
mesmo em controle difuso de constitucionalidade (art. 521, IV, “a”) e da Corte Especial 
do STJ em matéria infraconstitucional (art. 521, IV, “b”); a identificação da ratio 
decidendi e sua diferenciação em relação ao obiter dictum (art. 521, par 3º e 4º); o 
regramento das técnicas de distinção (distinguishing, art. 521, par. 5º), superação e 
revogação do precedente (overruling e overturning, art. 521, par. par. 6º a 11). 
A versão final do novo CPC aprovada no Senado suprimiu o Capítulo XV do 
Título I do Livro I da Parte Especial, mantendo apenas algumas disposições que 
constavam do trecho eliminado. Assim, o art. 520 da versão aprovada na Câmara 
transformou-se no art. 926, caput, do NCPC, com ligeira modificação de redação: “Os 
tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente. § 
1º Na forma estabelecida e segundo os pressupostos fixados no regimento interno, os 
tribunais editarão enunciados de súmula correspondentes a sua jurisprudência 
dominante. § 2º Ao editar enunciados de súmula, os tribunais devem ater-se às 
circunstâncias fáticas dos precedentes que motivaram sua criação.” 
A maior parte das disposições propostas no art. 521 da versão aprovada na Câmara 
foi eliminada, tendo algumas delas migrado para o art. 927 da versão final aprovada no 
Senado, com importantes omissões. Assim, não há mais especificação dos princípios 
norteadores do precedente (NCPC, art. 927, caput); não se exige mais respeito aos 
precedentes emanados do Plenário do STF e da Corte Especial do STJ nas matérias de 
suas respectivas competências, havendo menção apenas à observância de “enunciados de 
súmula vinculante”, de “acórdãos em incidente de assunção de competência ou de 
resolução de demandas repetitivas e em julgamento de recursos extraordinário e especial 
repetitivos” e de “enunciados das súmulas do Supremo Tribunal Federal em matéria 
constitucional e do Superior Tribunal de Justiça em matéria infraconstitucional” (NCPC, 
art. 527, incisos II, III e IV); não existem mais as normas para identificação da ratio 
decidendi e do obiter dictum ou para aplicação das técnicas de distinção, superação e 
cancelamento dos precedentes. Em verdade, apenas os par. 1º, 8º, 10, 11 e 2º do art. 521 
da versão aprovada na Câmara foram conservados, transformando-se, com mudanças de 
redação, nos par. 1º a 5º do art. 927 do NCPC, que ficaram assim redigidos: “§ 1º Os 
juízes e os tribunais observarão o disposto no art. 10 e no art. 489, § 1º, quando decidirem 
com fundamento neste artigo. § 2º A alteração de tese jurídica adotada em enunciado de 
súmula ou em julgamento de casos repetitivos poderá ser precedida de audiências 
públicas e da participação de pessoas, órgãos ou entidades que possam contribuir para 
a rediscussão da tese. § 3º Na hipótese de alteração de jurisprudência dominante do 
Supremo Tribunal Federal e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento 
de casos repetitivos, pode haver modulação dos efeitos da alteração no interesse social 
e no da segurança jurídica. § 4º A modificação de enunciado de súmula, de 
jurisprudência pacificada ou de tese adotada em julgamento de casos repetitivos 
observará a necessidade de fundamentação adequada e específica, considerando os 
princípios da segurança jurídica, da proteção da confiança e da isonomia. § 5º Os 
tribunais darão publicidade a seus precedentes, organizando-os por questão jurídica 
decidida e divulgando-os, preferencialmente, na rede mundial de computadores.” 
Por outro lado, os incisos do art. 489, § 1º, do NCPC (mantendo a redação do PL 
nº 8.046/2010),ao tratarem da fundamentação da decisão judicial, limitam-se a fazer 
referência aos motivos determinantes do precedente, à distinção e a superação de 
entendimento jurisprudencial. Não parecem fazer sentido sem as delimitações conceituais 
(boas ou más, reitera-se) de todas essas categorias realizadas no art. 521 da versão 
aprovada na Câmara. 
No Parecer da Comissão Especial do Senado, relatado pelo Sem. Vital do Rêgo, a 
única justificativa existente para isso é a necessidade de restabelecer o texto do PLS nº 
166/2010 com “ajustes de mera redação necessários a garantir a coerência ao 
sistema”.53 Ou seja, não há justificativa alguma; a alteração se legitima por si mesma e, 
como visto, não se limita a meros ajustes redacionais. 
Por conseguinte, percebe-se que versão final do Senado representa um claro 
retrocesso. A meu sentir, acabou-se por desfigurar por completo o sistema do precedente 
ao ponto de torná-lo ininteligível e, consequentemente, de difícil operacionalização 
prática. Além disso, o novo CPC parece ter-se afeiçoado mais à ideia de jurisprudência 
do que à de precedente54 (que acabou mencionado apenas de maneira episódica no texto 
final), comprometendo justamente sua coerência sistemática, já que a nova lei parecia 
caminhar em outra direção. Penso que somente um trabalho árduo de interpretação e 
mesmo construção por parte da doutrina poderia realmente salvar esse instituto. 
 
53 BRASIL. CONGRESSO NACIONAL. SENADO FEDERAL. COMISSÃO TEMPORÁRIA DO 
CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. Parecer nº 956, de 2014, da Comissão Temporária do Código de 
Processo Civil, sobre o Substitutivo da Câmara dos Deputados (SCD) ao Projeto de Lei do Senado 
(PLS) nº 166, de 2010, que estabelece o Código de Processo Civil. Brasília: Senado Federal, 2014, p. 
119. Disponível em: http://www.senado.gov.br, acesso em 9.3.2015. 
54 MITIDIERO, Daniel. Cortes superiores e Cortes supremas. São Paulo: RT, 2013, pp. 32 e 50. 
De outra parte, o direito à assistência judiciária gratuita, corolário dos direitos 
fundamentais de acesso à justiça e à assistência jurídica integral e gratuita, é tratada nos 
arts. 98-102 do NCPC. 
Constitui densificação do direito fundamental à representação por advogado, 
consagrado no art. 133 da CF, o disposto no art. 103 do NCPC: “A parte será 
representada em juízo por advogado regularmente inscrito na Ordem dos Advogados do 
Brasil.” 
De outra parte, debate a doutrina a respeito da existência de um direito 
fundamental ao duplo grau de jurisdição.55 O novo CPC não toma posição a respeito 
disso. A verdade é que, ao disciplinar um sistema dos recursos cíveis, como se vê do 
Título II do Livro III da Partes Especial (arts. 994-1.044), o novo CPC reconhece, ao 
menos de forma implícita, a existência de um direito genérico ao recurso. Ao mesmo, o 
novo Código também extinguiu vários dos recursos atualmente existentes (como o agravo 
retido e os embargos infringentes, cf. o elenco do art. 994 do NCPC) e limitou o alcance 
de outros (como o agravo de instrumento, cabível apenas nas hipóteses taxativas 
elencadas no art. 1.015 do NCPC), o que mostra que o direito em questão não é mesmo 
absoluto e deve realmente ser compatibilizado com os demais direitos fundamentais 
processuais, sobretudo o da duração razoável do processo. 
Quanto ao princípio da adaptabilidade judicial do procedimento (cuja 
existência no direito brasileiro é reconhecida por expressivo setor doutrinário)56, pode-se 
dizer que ele percorreu um caminho tortuoso no processo de elaboração do novo CPC. O 
Anteprojeto, redigido por comissão de juristas liderada pelo Min. Luiz Fux, previa, em 
seu art. 151, par. 1º, o seguinte: “quando o procedimento ou os atos a serem realizados 
 
55 MATTOS, Sérgio Luís Wetzel de. Devido processo legal e proteção de direitos. Porto Alegre: Livraria 
do Advogado, 2008, pp. 204/252 (reconhecendo a existência do princípio); SARLET, Ingo Wolfgang; 
MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito constitucional. São Paulo: RT, 3. 
ed., 2014, pp. 703/770 (negando sua consagração no direito brasileiro). 
56 Sobre esse princípio, conferir LACERDA, Galeno. O Código como sistema de legal de adequação do 
processo, in FABRÍCIO, Adroaldo Furtado (org.). Meios de impugnação ao julgado civil: estudos em 
homenagem a José Carlos Barbosa Moreira, Rio de Janeiro: Forense, 2007, pp. 251/258; ALVARO DE 
OLIVEIRA, Carlos Alberto; MITIDIERO, Daniel. Curso de processo civil. São Paulo: Atlas, vol. 1, 2. 
ed., 2012, pp.74/78; DIDIER JR., Fredie. Sobre dois importantes, e esquecidos, princípios do processo: 
adequação e adaptabilidade do procedimento in Revista Gênesis de Direito Processual Civil nº 21 
(2001): 530/541; MATTOS, Sérgio Luís Wetzel de. Devido processo legal e proteção de direitos. Porto 
Alegre: Livraria do Advogado, 2008, p. 200; GAJARDONI, Fernando da Fonseca. Flexibilização 
procedimental. São Paulo: Atlas, 2008, passim, esp. pp. 133/139; COHEN KOPLIN, Klaus. Origen y 
fundamentación iusfilosófica del “principio de la adaptabilidad del procedimiento judicial” in 
MITIDIERO, Daniel; AMARAL, Guilherme Rizzo; FEIJÓ, Maria Angélica Echer Ferreira (org.). Processo 
civil: estudos em homenagem ao Professor Doutor Carlos Alberto Alvaro de Oliveira. São Paulo: Atlas, 
2012, pp. 262/272; OLIVEIRA, Guilherme Pires de. Adaptabilidade judicial. São Paulo: Saraiva, 2013, 
pp. 111/128. Para a manifestação da adequação no processo do consumidor, cf. REICHELT, Luis Alberto. 
Tutela jurisdicional do consumidor, adequação do processo e acesso à justiça in Revista de Direito do 
Consumidor nº 84 (2012): 173/196. 
se revelarem inadequados às peculiaridades da causa, deverá o juiz, ouvidas as partes e 
observados o contraditório e a ampla defesa, promover o necessário ajuste”. Na mesma 
linha, o art. 107, V, do Anteprojeto impunha ao juiz a tarefa de “adequar as fases e os 
atos processuais às especificações do conflito, de modo a conferir maior efetividade à 
tutela do bem jurídico, respeitando sempre o contraditório e a ampla defesa”. 
O texto do par. 1º do art. 151 do Anteprojeto simplesmente foi eliminado do 
Projeto aprovado no Senado. No entanto, o PL nº 8.046/2010, no caput do art. 191, 
instituiu, de forma bem mais restrita do que previa o Anteprojeto e em substituição àquela 
norma, a possibilidade de as próprias partes estabelecerem modificações no esquema 
procedimental, nos seguintes termos: “versando a causa sobre direitos que admitam 
autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no 
procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus 
ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo”. Esse 
artigo positivava, ainda, em seus par. 1º-4º, um embrião de gerenciamento de processos 
judiciais (case management)57 no Brasil, permitindo ao juiz e às partes, de comum acordo, 
fixarem calendário para prática de atos processuais (a dita calendarização), à semelhança 
do que já ocorre há tempos em certos sistemas estrangeiros.58 Como se percebe, o 
dispositivo em questão misturava dois temas diversos (adaptabilidade do procedimento e 
gerenciamento de processos), o que não parece adequado. 
O texto final aprovado no Senado, felizmente, desdobrou a matéria, remetendo a 
adaptabilidade para o art. 190, assim redigido: “Versando o processo sobre direitos que 
admitam autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular mudanças no 
procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa e convencionar sobre os seus 
ônus, poderes, faculdades e deveres processuais, antes ou durante o processo. Parágrafo 
único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções previstas 
neste artigo, recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção 
abusiva em contratode adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta 
situação de vulnerabilidade.” A calendarização ficou relegada ao art. 191 do NCPC, em 
termos idênticos aos da versão aprovada na Câmara. 
Já o inciso VI do art. 139 do NCPC, na redação final aprovada no Senado (idêntico 
ao art. 139, VI do substitutivo aprovado na Câmara e correspondente ao inciso V do art. 
 
57 Sobre o tema, cf., entre outras obras, SILVA, Paulo Eduardo Alves da. Gerenciamento de processos 
judiciais. São Paulo: Saraiva, 2010; CAHALI, Cláudia Elisabete Schwerz. O gerenciamento de processos 
judiciais. Brasília: Gazeta Jurídica, 2013. 
58 Fundamentalmente, Inglaterra e País de Gales, França, Portugal e Estados Unidos (cf. bibliografia 
mencionada na nota anterior). 
118 do PLS nº 166/2010), permite ao juiz apenas “dilatar os prazos processuais e alterar 
a ordem de produção dos meios de prova, adequando-os às necessidades do conflito de 
modo a conferir maior efetividade à tutela do direito”, sendo que, conforme o par. único 
desse artigo, tal dilatação de prazo “somente pode ser determinada antes de encerrado o 
prazo regular”. 
Pelo que se percebe, o Anteprojeto de novo CPC era bastante ousado quando à 
consagração da adaptabilidade, concedendo poderes amplos de adequação procedimental 
ao magistrado (mas não ilimitados e em observância aos demais direitos fundamentais 
processuais, especialmente o do contraditório e o da ampla defesa), na linha seguida pelo 
direito português mais recente.59 O PLS nº 166/2010 e o PL nº 8.046/2010 foram bem 
mais comedidos, permitindo flexibilização de normas processuais somente em caso de 
direitos disponíveis e, fora disso (ao menos à primeira vista) apenas para dilatar prazos 
processuais.60 
De qualquer sorte, conforme já sustentei em ensaio específico sobre o tema, 
parece-me que a adaptabilidade judicial de normas processuais, enquanto projeção da 
equidade, constitui aspecto ineliminável da experiência jurídica e deve ser considerada 
presente, ainda que de forma implícita, na nova legislação.61 
 
4. O direito fundamental ao contraditório no novo CPC. 
 
Tratar-se-á nesta seção, com maior vagar, do direito fundamental ao contraditório, 
cerne do direito fundamental ao processo justo. 
 
4.1. Evolução do princípio do contraditório. 
 
Como se sabe, o contraditório tem sido reconhecido desde o direito romano como 
um dos principais princípios estruturantes do processo. Tradicionalmente, antes da 
Segunda Guerra Mundial, o contraditório era concebido como mera “bilateralidade da 
 
59 Cf. art. 547º do novo CPC português: “O juiz deve adotar a tramitação processual adequada às 
especificidades da causa e adaptar o conteúdo e a forma dos atos processuais ao fim que visam atingir, 
assegurando um processo equitativo.” 
60 Especificamente sobre a consagração da adaptabilidade do procedimento no projeto do novo CPC e os 
motivos por trás de sua mitigação, ver GAJARDONI, Fernando da Fonseca. Procedimentos, déficit 
procedimental e flexibilização procedimental no novo CPC. Revista de informação legislativa 190 
(2011): 163/177, esp. pp. 171/177. 
61 COHEN KOPLIN, Klaus. Origen y fundamentación iusfilosófica del “principio de la adaptabilidad 
del procedimiento judicial” in MITIDIERO, Daniel; AMARAL, Guilherme Rizzo; FEIJÓ, Maria 
Angélica Echer Ferreira (org.). Processo civil: estudos em homenagem ao Professor Doutor Carlos Alberto 
Alvaro de Oliveira. São Paulo: Atlas, 2012, pp. 262/272, esp. pp. 269/271. 
audiência” ou da “instância”, esgotando-se na ciência bilateral dos atos e termos do 
processo e na possibilidade de contraditá-los (binômio “informação-reação”).62 Essa 
visão claramente traduz uma perspectiva individualista do processo, pois o contraditório 
era pensado apenas no âmbito apenas das partes e como uma simples formalidade legal 
(contraditório “fraco”). Trata-se de viés próprio do Estado Liberal (Estado Legislativo).63 
Nessa linha, o próprio dever de motivação não guardava relação necessária com o que foi 
manifestado, reduzindo-se à mera coerência interna da decisão.64 
 Após a Segunda Guerra mundial, observa-se uma clara tendência de redefinição 
do conteúdo do princípio do contraditório. Nesse contexto, o contraditório deve ser 
concebido como direito de influência (contraditório “forte”), do qual decorrem vários 
deveres de cooperação entre o órgão judicial e as partes. Como é notório, tal noção traduz 
visão mais social e publicista do processo. Mostra, também que a participação dos 
cidadãos não se esgota na chamada democracia representativa, mas implica também a 
consagração de espaços de concretização de elementos próprios da democracia 
participativa ou deliberativa. Como é claro, essa noção de contraditório forte implica 
ainda a redefinição do próprio dever de motivação, que passa a significar atenção aos 
argumentos manifestados, exigindo também a coerência externa da decisão (coerência 
com os fatos, provas e demais questões de fato e de direito manifestadas pelas partes).65 
Verifica-se que o contraditório mereceu atenção de inúmeras legislações surgidas 
no Pós-Guerra. É o caso da Constituições alemã (art. 103, I), que o define não apenas 
como princípio objetivo, estruturante da ordem jurídica, mas como verdadeiro direito 
fundamental dos litigantes. Vários tratados internacionais definidores de direitos 
humanos consagraram esse direito, podendo-se apontar a Convenção Europeia de 
Direitos Humanos (art. 6º), Pacto de São José da Costa Rica (art. 8º) e o Pacto 
internacional sobre direitos civis e políticos (art. 14). Vários códigos processuais mais 
atuais preocuparam-se em reafirmar e disciplinar o dever de debate do juiz para com as 
 
62 ALVARO DE OLIVEIRA, Carlos Alberto. A garantia do contraditório in Do formalismo no processo 
civil, São Paulo: Saraiva, 2. ed., 2003, pp. 227/243, esp. p. 238. 
63 No sentido do texto, CABRAL, Antônio Do Passo. Contraditório in TORRES, Ricardo Lobo; 
KATAOKA, Eduardo Takemi; GALDINO, Flávio (org.). Dicionário de princípios jurídicos. Rio de 
Janeiro: Elsevier, 2011, pp. 193/201, esp. pp. 193/197. 
64 SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito 
constitucional. São Paulo: RT, 3. ed., 2014, p. 735. 
65 Cf. CABRAL, Antônio Do Passo. Contraditório in TORRES, Ricardo Lobo; KATAOKA, Eduardo 
Takemi; GALDINO, Flávio (org.). Dicionário de princípios jurídicos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011, pp. 
193/201, esp. pp. 197/201; SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. 
Curso de direito constitucional. São Paulo: RT, 3. ed., 2014, pp. 735/736. Adotando perspectiva distinta, 
com arrimo, ao que parece, na doutrina espanhola, Darci Guimarães Ribeiro diferencia o direito ao 
contraditório do direito à ampla defesa, entendendo que o primeiro é adotado no processo civil e o segundo, 
no processo penal (A dimensão constitucional do contraditório e seus reflexos no projeto do novo CPC 
in Revista de Processo nº 232 (2014): 13/35, esp. pp. 28/29). 
partes, destacando-se, como se sabe, o Code de Procédure Civile francês (art. 16), a 
Zivilprozeßordnung alemã (redação reformada do seu § 139), o codice di procedura civile 
italiano (art. 183, n. 3) e o novo CPC português (art. 3º, n. 3, e art. art. 7º). 
Segundo essa tendência mundial de revalorização do contraditório, a Constituição 
Federal de 1988 inovou em relação às anteriores, ao estender o princípio em questão ao 
processo civil (os textos constitucionais anteriores o restringiam ao processo penal) e ao 
processo administrativo, ao lado da ampla defesa e do direito à prova (CF, art. 5º, LV).66 
O novo CPC alberga essa versão forte do direito ao contraditório em vários 
dispositivos. No Capítulo dedicado às normas fundamentais, encontram-seos artigos 7º 
(“é assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e 
faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de 
sanções processuais, competindo ao juiz zelar pelo efetivo contraditório”), 9º (“não se 
proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente ouvida”) e 10 ( 
“o juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento a 
respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que 
se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício”). A numeração dos artigos é 
mesma que já adotava o Anteprojeto apresentado ao Senado; os respectivos textos tiveram 
sua redação aperfeiçoada na versão aprovada na Câmara e na versão final adotada pelo 
Senado. 
Ao longo do texto, há várias referências pontuais ao contraditório, podendo-se 
apontar, de forma exemplificativa, os seguintes artigos do NCPC: 64, § 2º; 135; 329, III; 
364, § 2º; 369; 372; 373, § 1º; 487, par. único; 493, par. único; 503, § 1º, II; 933, caput e 
parágrafos; 948; 962, § 2º; 989, III; 1.021, § 2º; 1.023, § 2º.67 
 
4.2. Conteúdo do direito fundamental ao contraditório e seu 
desenvolvimento no novo CPC. 
 
Com arrimo, entre outras fontes, na jurisprudência do Tribunal Constitucional 
Federal alemão (Bundesverfassungsgericht), a doutrina brasileira tem identificado três 
 
66 CABRAL, Antônio Do Passo. Contraditório in TORRES, Ricardo Lobo; KATAOKA, Eduardo Takemi; 
GALDINO, Flávio (org.). Dicionário de princípios jurídicos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011, pp. 193/201, 
esp. p. 194. 
67 Lista compilada a partir das meritórias pesquisas de José Rogério Cruz e Tucci (Garantia constitucional 
do contraditório no projeto do CPC: análise e proposta. Revista Magister de Direito Civil e Processual 
Civil 38 (2010): 5/33, esp. pp. 9/18) e Darci Guimarães Ribeiro (A dimensão constitucional do 
contraditório e seus reflexos no projeto do novo CPC in Revista de Processo nº 232 (2014): 13/35, esp. 
pp. 24-34) sobre as versões anteriores do NCPC. 
momentos fundamentais nas quais se desdobra o direito ao contraditório. De um lado, 
destacam-se os direitos à informação e à manifestação, como expressão do binômio 
informação-reação, correspondente à visão tradicional a respeito do contraditório. Por 
outro lado, assume relevo o direito à influência sobre o convencimento judicial, 
correspondente à compreensão contemporânea a respeito do contraditório.68 O novo CPC, 
inspirado por uma visão mais democrática a respeito do processo do que o CPC atual e 
decidido a concretizar de forma pormenorizada os princípios constitucionais do processo, 
mostrou-se permeável a todas essas dimensões, como se passa a demonstrar. 
 
4.2.1. Direito à informação. 
 
A primeira dimensão do direito fundamental ao contraditório consiste no direito à 
informação (Recht auf Orientierung, Recht auf Benachrichtigung).69 Corresponde, assim, 
primeiramente ao chamamento ao juízo da parte contrária (in ius vocatio), condição 
básica para o exercício do contraditório. O CPC/1973, ao mesmo tempo em que proclama 
ser necessário, para a validade do processo, a citação inicial do réu, também permite o 
julgamento de improcedência liminar de ações repetitivas (art. 285-A) e o indeferimento 
liminar da petição inicial (art. 295). O NCPC unificou todas essas regras em seu art. 239, 
caput, dispondo que “para a validade do processo é indispensável a citação do réu ou 
do executado, ressalvadas as hipóteses de indeferimento da petição inicial ou de 
improcedência liminar do pedido.” 
No que tange ao novo incidente de desconsideração, há disposição expressa 
ordenando a citação do sócio ou da pessoa jurídica para se manifestar (“Instaurado o 
incidente [de desconsideração da personalidade jurídica], o sócio ou a pessoa jurídica 
será citado para manifestar-se e requerer as provas cabíveis no prazo de 15 (quinze) 
dias”). Da forma semelhante, o art. 989, III, do NCPC torna necessária a citação do 
beneficiário da decisão impugnada, no caso da reclamação (“Ao despachar a reclamação, 
 
68 CABRAL, Antônio do Passo. Contraditório in TORRES, Ricardo Lobo; KATAOKA, Eduardo Takemi; 
GALDINO, Flávio (org.). Dicionário de princípios jurídicos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011, pp. 193/201, 
passim; COHEN KOPLIN, Klaus. O princípio do contraditório na experiência alemã. Revista Atitude 
12 (2012): 31/38, esp. pp. 34/37, disponível em: http://www.faculdadedombosco.edu.br, acesso em 
9.3.2015. Por seu turno, Darci Guimarães Ribeiro prefere enquadrar as 3 dimensões citadas como “fases” 
do contraditório (A dimensão constitucional do contraditório e seus reflexos no projeto do novo CPC 
in Revista de Processo nº 232 (2014): 13/35, esp. p. 21). 
69 WALDNER, Wolfram. Der Anspruch auf rechtliches Gehör. Köln: Otto Schmidt, 2. Aufl., 2000, p. 
12; CABRAL, Antônio Do Passo. Contraditório in TORRES, Ricardo Lobo; KATAOKA, Eduardo 
Takemi; GALDINO, Flávio (org.). Dicionário de princípios jurídicos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2011, pp. 
193/201, esp. p. 195. 
o relator: (...) III – determinará a citação do beneficiário da decisão impugnada, que 
terá prazo de 15 (quinze) dias para apresentar a sua contestação”). 
Além disso, o contraditório abrange ainda o direito à informação sobre a atuação 
da parte contrária (dizer e contradizer) e do órgão judicial, de modo a permitir a adequada 
reação do titular desse direito fundamental processual. O art. 272, par. 2º, do NCPC, 
concretizando esse aspecto do direito fundamental em questão e aprofundando o 
estabelecido atualmente, assim dispõe: “sob pena de nulidade, é indispensável que da 
publicação constem os nomes das partes, de seus advogados, com o respectivo número 
da inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil, ou, se assim requerido, da sociedade 
de advogados”. Em seguida, nos par. 3º e 4º, esse artigo impõe maior rigor formal, 
proibindo o uso de abreviaturas e impondo o emprego, no caso dos advogados, da grafia 
do nome constante da procuração. 
No que concerne aos memoriais (razões finais escritas) o novo CPC assegura às 
partes e ao Ministério Público a oportunidade de sua apresentação com vista prévia dos 
autos (art. 364, § 2º: “Quando a causa apresentar questões complexas de fato ou de 
direito, o debate oral poderá ser substituído por razões finais escritas, que serão 
apresentadas pelo autor e pelo réu, bem como pelo Ministério Público, se for o caso de 
sua intervenção, em prazos sucessivos de 15 (quinze) dias, assegurada vista dos autos”). 
No que tange aos recursos, sabe-se que o CPC/1973 não previu expressamente a 
intimação da parte contrária em caso de interposição de agravo interno e de embargos 
declaratórios (CPC/1973, arts. 557, § 1º, e 537), o que poderia implicar graves violações 
ao direito ao contraditório. Suprindo essas lacunas, o NCPC prevê expressamente a 
intimação do recorrido em tais casos (art. 1.021, § 2º:“O agravo [interno] será dirigido 
ao relator, que intimará o agravado para manifestar-se sobre o recurso no prazo de 15 
(quinze) dias, ao final do qual, não havendo retratação, o relator levá-lo-á a julgamento 
pelo órgão colegiado, com inclusão em pauta”; art. 1.023, § 2º: “O juiz intimará o 
embargado para, querendo, manifestar-se, no prazo de 5 (cinco) dias, sobre os embargos 
opostos, caso seu eventual acolhimento implique a modificação da decisão embargada”. 
 
4.2.2. Direito à manifestação. 
 
A segunda dimensão do direito fundamental ao contraditório compreende o direito 
à manifestação (Recht auf Äußerung).70 Consiste, portanto, na possibilidade (não na 
 
70 WALDNER, Wolfram. Der Anspruch auf rechtliches Gehör. Köln: Otto Schmidt, 2. Aufl., 2000, p. 
24; CABRAL, Antônio Do Passo. Contraditório in TORRES,

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