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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS, AMBIENTAIS E BIOLÓGICAS CURSO DE TECNOLOGIA EM GESTÃO DE COOPERATIVAS JOSEANE DE SOUZA PEREIRA DA PAZ CULTURA DA SEGURANÇA DO TRABALHO EM COOPERATIVAS: UM ESTUDO DE CASO NA COOPATAN Cruz das Almas 2017 JOSEANE DE SOUZA PEREIRA DA PAZ CULTURA DA SEGURANÇA DO TRABALHO EM COOPERATIVAS:UM ESTUDO DE CASO NA COOPATAN Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de graduação em Tecnologia em Gestão de Cooperativas, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, como requisito para obtenção do título de Tecnólogo em Gestão de Cooperativas. Orientadora: Profa. Drª Alessandra B. Azevedo Cruz das Almas 2017 LISTA DE QUADROS Quadro 1- Fatores de análise da maturidade da segurança do trabalho .............14 Quadro 2- Estágios de maturidade da cultura da segurança de trabalho ............14 Quadro 3- Fator Informação ................................................................................17 Quadro 4- Fator Aprendizagem ...........................................................................19 Quadro 5- Fator Comunicação .............................................................................21 Quadro 6- Fator Comprometimento .....................................................................23 Quadro 7- Fator Envolvimento .............................................................................24 LISTA DE SIGLAS ACI- Aliança Cooperativista Internacional AEPS- Anuário Estatístico do Ministério da Previdência Social CAT- Comunicação de Acidentes do Trabalho CFR- Casa Familiar Rural CIPA- Comissão Interna de Prevenção de Acidentes CLT- Consolidação das Leis do Trabalho EES- Empreendimentos Econômicos Solidários EPC- Equipamento de Proteção Coletiva EPI- Equipamento de Proteção Individual INSS- Instituto Nacional do Seguro Social OCB- Organização das Cooperativas Brasileiras OCES- Organização das Cooperativas Estaduais OIT- Organização Internacional do Trabalho OSCIP- Organização da Sociedade Civil de Interesse Público PCMSO- Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional PPRA- Programa de Prevenção de Riscos Ambientais SAT- Seguro de Acidentes do Trabalho SST- Saúde e Segurança do Trabalho UFBA- Universidade Federal da Bahia UFRB- Universidade do Recôncavo da Bahia SUMÁRIO Introdução..............................................................................................1 Capitulo I ...............................................................................................3 Segurança do Trabalho no Mundo e no Brasil ........................................3 Capitulo II ..............................................................................................6 O Cooperativismo no Brasil e no Mundo ................................................6 Capitulo IV ............................................................................................10 Cultura da Segurança do Trabalho ..........................................................10 A COOPATAN .......................................................................................15 Histórico ...................................................................................................15 Resultados da pesquisa ..........................................................................16 Informação ................................................................................................17 Aprendizagem ...........................................................................................19 Comunicação .............................................................................................21 Comprometimento ....................................................................................23 Envolvimento ............................................................................................24 Considerações finais ................................................................................25 Referências ...............................................................................................27 Apêndice....................................................................................................30 CULTURA DA SEGURANÇA DO TRABALHO EM COOPERATIVAS: UM ESTUDO DE CASO NA COOPATAN Joseane de Souza Pereira da Paz1 Drª. Alessandra B. Azevedo2 RESUMO Este artigo discorre sobre a relevância da temática da segurança do trabalhador em empreendimento cooperativos, visto que essa é uma questão de grande relevância no mundo do trabalho, porém ainda pouco discutida, principalmente no que diz respeito ao cooperativismo. Para tanto foi realizada uma pesquisa na COOPATAN (Cooperativa de Produtores Rurais de Tancredo Neves) para investigar de que maneira a cooperativa vem tratando a temática da segurança do trabalhador, buscando avaliar o enraizamento da cultura da segurança no trabalho. Para o desenvolvimento da pesquisa foi realizado levantamento bibliográfico, aplicação de questionários e realização de entrevistas com os trabalhadores e direção da cooperativa. Foram entrevistados 11 trabalhadores no período de janeiro a abril de 2016, buscou-se compreender questões importantes como a prevenção e tratamento de doenças e acidentes, para analisar a importância de um ambiente saudável e seguro para o trabalhador, objetivando verificar o grau de maturidade da cultura da segurança do trabalhador, e como ocorre o gerenciamento de risco para segurança do trabalhador. Após analisar os aspectos concomitantes da cultura, levou a constatação de que a cultura da saúde e segurança nessa cooperativa é fraca, portanto encontra-se num estágio de maturidade patológico, em que ainda carecem adotar medidas mais eficientes para melhorar e/ou garantir um ambiente mais seguro para os trabalhadores. Palavras Chaves: Cultura da Segurança do Trabalho; Cooperativismo, Coopatan, Acidentes de Trabalho 1 Graduanda do curso Tecnologia em Gestão de Cooperativas, pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, Cruz das Almas, 2016. 2 Orientadora Drª Alessandra B. Azevedo, doutora em Política Científica e Tecnológica pela Universidade Estadual de Campinas (2007). 1 Introdução Os acidentes de trabalho causam um grande impacto tanto para o trabalhador e empreendimento como também para o país, que perdeu em média R$ 23.787,87 milhões só no ano de 2014(Revista CIPA, 2016) com os acidentes de trabalho e auxílio-doença, entre trabalhadores da zona urbana e rural do país, com carteira assinada que são notificados e identificados nas estatísticas oficiais de trabalho, ainda no ano de 2014 foi registrado no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) cerca de 704,1 mil acidentes de trabalho em todo o Brasil3. Esses dados se referem ao mundo das empresas tradicionais. Não existem estatísticas que abarquem a realidade das cooperativas e associações. A preocupação com a saúde do trabalhador deveria ser uma pauta sempre presente nas cooperativas e associações, visto que a ideologia é fundamentada no bem estar das pessoas e não apenas o capital, visando às necessidades do grupo, buscando prosperidade conjunta e não individual, em que a maior preocupação é com o bem estar do homem e não apenas o lucro. Um fato que desperta curiosidade é que, em empreendimento autogestionário, as decisões nos são tomadas de forma coletiva, privilegiando as contribuições do grupo ao invés de ficarem concentradas em um indivíduo, por isso é que o tema precisa ser investigado, e o fato de não existir estatísticas oficiais sobre índices de acidentes de trabalho nesse tipo de empreendimento nos remete a algumas indagações: Será que os coletivos não vêem a temática como importante?será que nas cooperativas ninguém se acidenta ou desenvolve doenças ocupacionais? Porque a saúde e segurança do trabalhador fica para segundo plano nas cooperativas porque as instituições de apoio, sindicatos e ministério do trabalho não estão atentos ao tema nas cooperativas? Nesse sentido essa pesquisa busca investigar se estão sendo adotadas medidas concernentes com a filosofia do cooperativismo, qual a forma que a cooperativa lida com questões importantes como as doenças laborais e prevenção de acidentes de trabalho, buscando mensurar a maturidade da segurança do trabalho. 3 Dados do Anuário Estatístico da Previdência Social, 2014 2 A pesquisa foi desenvolvida em duas etapas. Na primeira etapa foi realizada uma visita técnica no dia 26/01/2016, para conhecer o processo industrial e aplicação de um roteiro de entrevistas com a presidente da cooperativa, buscando averiguar o interesse da cooperativa em participar da pesquisa. A partir da entrevista com a presidente optou-se por fazer um recorte na pesquisa na área de produção, visto que foi identificado como o local de maior risco para os trabalhadores. Na segunda etapa que aconteceu dia 09/04/2016, foram realizadas 02 visitas e entrevistados 11 trabalhadores da fábrica, o que representa 35% do total de todos os trabalhadores da cooperativa. Vale ressaltar que essa pesquisa faz parte de um projeto maior sobre Cultura da Segurança que busca desenvolver e testar ferramentas que mensurem a maturidade da Cultura da Segurança do trabalho. A pesquisa é coordenada através de uma parceria da UFBA e UFRB. Desta forma o questionário aplicado é o mesmo que vem sendo aplicado em outras cooperativas. O questionário aplicado possui questões fechadas de múltipla escolha, dividido em cinco fatores essenciais para mensurar a maturidade da cultura da saúde e segurança do trabalho, são elas: Informação; Aprendizagem; Comunicação; Comprometimento e Envolvimento. Esses fatores são considerados na literatura como imprescindíveis para se considerar que um empreendimento tenha uma cultura de segurança estabelecida. A partir da análise se realizou a classificação que é dividido em quatro estágios, Patológico, Reativo, Burocrático, Proativo e Sustentável. O resultado obtido com a pesquisa, aqui apresentado leva em consideração as informações obtidas por meio de entrevista e questionário, observação não participante e bases secundarias, com a finalidade de contrapor o conhecimento teórico sobre a temática com a experiência vivida pela cooperativa. O artigo está dividido em duas partes, a primeira discorre sobre elementos teóricos considerados relevantes sobre a temática e em um segundo momento são apresentados os resultados da pesquisa, juntamente ao histórico do empreendimento. 3 Breve Histórico da Segurança do Trabalho no Mundo e no Brasil A Saúde e Segurança do Trabalho pode ser definida como uma série de medidas técnicas, administrativas, médicas e sobretudo educacionais e comportamentais, empregadas a fim de prevenir acidentes e eliminar condições e procedimentos inseguros no ambiente de trabalho. A segurança do trabalho destaca também a importância dos meios de prevenção estabelecidos para proteger a integridade e a capacidade de trabalho do colaborador. (TRINDADE, 2001) O trabalho sempre fez parte da vida do homem, que historicamente, esteve em constante exposição a riscos, mas a partir da revolução industrial, com a invenção das máquinas a vapor, esses riscos aumentaram de maneira expressiva, pois devido ao surgimento dessas máquinas como forma substituição ao trabalho artesanal, a produtividade no trabalho foi multiplicada, dando início à produção em larga escala, por meio do uso das novas tecnologias, como resultado desses avanços houve um grande número de acidentes de trabalho, doenças laborais, além de muitos trabalhadores mortos ou mutilados. (FERREIRA, PEIXOTO, 2012) Ferreira e Peixoto (2012) afirmam que tais fatos ocorreram devido as más condições de trabalho, levando em consideração, que essas fábricas eram instaladas em locais improvisados, com péssimas condições de trabalho e exploração dos trabalhadores, incluindo mulheres e crianças em jornadas, que chegavam até 16 horas diárias. Só a partir dessa situação lastimável, é que se originaram as primeiras leis relacionadas à preservação e proteção à saúde e integridade física dos trabalhadores. Durante a Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra em meados do século XVIII, houve um aumento notável do número de agravos relacionados ao trabalho. Isso decorreu do uso crescente de máquinas, do acúmulo de operários em locais confinados, das longas jornadas laborais, da utilização de crianças nas atividades industriais, das péssimas condições de salubridade nos ambientes fabris, entre outras razões. Embora o assalariamento tenha existido desde o mundo antigo, sua transformação em principal forma de inserção no processo produtivo somente ocorreu com a industrialização. (CHAGAS, SALIM, SERVO 2011, p. 22). A partir da percepção sobre a necessidade de mudanças dessa situação, foram firmadas mobilizações no âmbito político, objetivando a criação de medidas legais que pudessem garantir melhores condições de trabalho, dessa forma foi criada na Inglaterra, no ano de 1802 a primeira Lei de proteção ao trabalhador, Lei de Saúde e Moral de Aprendizes, que Jo Realce Jo Realce Jo Realce 4 estabelecia uma jornada de trabalho reduzida para doze horas diárias, proibição do trabalho noturno e estabelecimento obrigatório de medidas de melhoramento no ambiente de trabalho, essa foi considerada a primeira grande conquista da classe trabalhadora em termos de segurança do trabalho. (TRINDADE, 2001) EUGÊNIO 2013, apud SANTOS (2013), enfatiza que a partir da década de 80 começaram algumas discussões nos ambientes acadêmicos e instituições de saúde, sindicatos que lutavam pela classe até chegar às empresas, e diversas ferramentas foram desenvolvidas buscando diminuir os acidentes e promover melhores condições de trabalho para o trabalhador. Um grande avanço, com relação às mudanças no tratamento da saúde e segurança do trabalhador foi a criação da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 1919, instituído pelo tratado de Versalhes após o fim da Primeira Grande Guerra. A OIT (Organização Internacional do Trabalho) atualmente é uma grande referência internacional sobre o assunto, sendo responsável pela formulação e aplicação das normas internacionais do trabalho. (SANTOS; AZEVEDO, 2013) O Brasil adere à OIT em 1960, com o intuito de estudar as causas das doenças e acidentes do trabalho, a fim de identificar soluções que pudessem alterar os altos índices, em estado de emergência. Algumas leis e decretos que tentaram atender às necessidades dos trabalhadores e outras demandas dos empregadores foram criadas, mas o fato é que o país só veio a ter realmente uma lei que amparou o trabalhador no governo de Getúlio Vargas em 1944, com o decreto 7.036, que discorria sobre a relação empregado/empregador, formas de remuneração do empregado (salário), caracterização de acidentes e doenças laborais, benefícios e indenizações, e que entre suas determinações instituiu no artigo 82 as Comissões Internas de Prevenção de Acidentes – CIPAs. (SOUZA, AZEVEDO, 2013) A criação da CLT pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e sancionada pelo presidente Getúlio Vargas, durante o período do Estado Novo, foi de fundamental importância nesse cenário, pois esta foi responsável pela unificação de toda legislação trabalhista já existente no Brasil, além de inserir, definitivamente todos os direitos trabalhistas na legislação brasileira, com objetivo de regulamentar as relações individuais e coletivas do trabalho, nela previstas. (CHAGAS; SALIM e SERVO 2011).Jo Realce 5 Boa parte da legislação original foi modificada posteriormente, inclusive pela Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB), de 10 de outubro de 1988. Porém, muitos dos seus princípios e instituições continuam em vigor, tais como os conceitos de empregador e empregado, as características do vínculo empregatício e do contrato de trabalho, a Justiça do Trabalho e o Ministério Público do Trabalho, a unicidade e a contribuição sindical obrigatória, entre outros. A fiscalização do trabalho, então formalmente instituída, só passou a ter ação realmente efetiva vários anos depois (CHAGAS; SALIM e SERVO 2011). No discorrer do histórico sobre SST no Brasil e no mundo, percebem-se grandes avanços para o trabalhador, mas ainda há muito que ser feito, pois os índices de acidentes ainda são preocupantes, além de se reconhecer, em dias atuais a existência de pessoas submetidas a condições precárias de trabalho. A Organização Internacional do Trabalho - OIT estima que 2,34 milhões de pessoas morrem a cada ano em acidentes de trabalho e doenças causadas em decorrência da atividade exercida, o que causa um grande impacto tanto para o trabalhador e empreendimento como também para o país, que perde em média R$ 70 bilhões só com encargos previdenciários decorrente dos acidentes entre trabalhadores com carteira assinada que são notificados e identificados nas estatísticas oficiais de trabalho. (FUNDACENTRO, 2013) De acordo com o Anuário Estatístico do Ministério da Previdência e Assistência Social (AEPS), durante o ano de 2014, foram registrados cerca de 704,1 mil acidentes do trabalho. Comparado ao ano anterior, o número de acidentes de trabalho teve uma queda de 2,97%. O total de acidentes registrados com Comunicação de Acidentes do Trabalho (CAT)4 diminuiu em 0,82% de 2013 para 2014. Do total de acidentes registrados com CAT, os acidentes típicos5 representaram 76,55%; os de trajeto6 20,67% e as doenças do trabalho7 2,79%. Ressaltando que esses dados levam em conta apenas os trabalhadores 4 CAT: Comunicação de Acidentes do Trabalho é um documento emitido para reconhecer tanto um acidente de trabalho ou de trajeto bem como uma doença ocupacional. 5 Acidentes típicos (NR-35); são os acidentes decorrentes da característica da atividade profissional desempenhada pelo acidentado. Dados do Anuário Estatístico da Previdência Social, 2014. 6 Acidente de Trajeto: é o acidente ocorrido no deslocamento residência / trabalho / residência, e que provoque lesão corporal ou perturbação funcional que cause a perda ou redução (permanente ou temporária) da capacidade para o trabalho ou, em último caso, a morte 7 Doença Ocupacional: é aquela produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social. Jo Realce 6 com vínculo empregatício formal, regido pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e segurados do Seguro de Acidentes do Trabalho8 (SAT), sem contar com os trabalhadores autônomos e cooperados, que não constam nas estatísticas oficiais. (AEPS, 2014) O Cooperativismo no Brasil e no Mundo Segundo Veiga e Fonseca (2001) cooperativismo é um movimento econômico e social entre pessoas, de forma voluntaria, em que a cooperação baseia-se na participação dos associados com objetivo de atingir o bem comum. É o sistema que propicia o desenvolvimento integral do indivíduo por meio do coletivo. Já para Sales (2010) o cooperativismo é uma forma de somar capacidade dentro de um mundo de concorrência. É uma forma de preservar a força econômica e de vida dos indivíduos de um mesmo padrão e tipo, com objetivos comuns e com as mesmas dificuldades. A cooperativa quase sempre surge em momentos de dificuldades e da consciência de fragilidade do homem dentro do mundo em que atua. As cooperativas tiveram origem na revolução industrial, ocorrida na Inglaterra no século XVIII, período em que a mão-de-obra perdeu o poder de troca, o que gerou grandes dificuldades socioeconômicas para a população. Esse fato provocou reações defensivas por parte dos trabalhadores em resposta a longa jornada de trabalho, e baixos salários e os altos preços dos bens necessários, bem como as condições desumanas as quais eram submetidos. (BAHIA COOPERATIVO, 2011) O surgimento da Revolução Industrial, na Inglaterra, trouxe muitas transformações para a sociedade, principalmente para a classe trabalhadora, transformações estas que repercutiram de forma negativa no que diz respeito ao bem-estar físico e psicológico do trabalhador, sendo o mesmo obrigado a executar longas jornadas de trabalho em ambientes sem segurança, tendo que manusear máquinas tecnologicamente avançadas, com as quais não estavam habituados, gerando assim graves acidentes de trabalho como: mutilação, intoxicação, desgaste físico, etc., o que ocorria principalmente com as mulheres que ocupavam o mercado de trabalho em grande número por serem consideradas mão-de-obra barata (TRINDADE, 2001). Diante da crise emergida no século XVIII, na Inglaterra, surgiram, entre a classe operária, lideranças que criaram associações de caráter assistencial. No entanto, a experiência não teve resultado positivo. (BAHIA COOPERATIVO, 2011) 8 SAT: Seguro de Acidente de Trabalho é uma contribuição paga pelas empresas, para ajudar a cobrir as despesas da previdência social com benefícios decorrentes de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais, esse valor é de 1%, 2% ou 3%, que varia de acordo as atividades preponderantes e correspondentes ao grau de risco 7 (...) iniciada em 1760 por trabalhadores empregados nos Estaleiros de Woolwich e Chatham, na Inglaterra, eles fundaram moinhos de cereais em base cooperativa para não ter de pagar os altos preços cobrados pelos moleiros que dispunham de um monopólio local. No mesmo ano, o moinho de Woolwich foi incendiado e os padeiros foram acusados de sinistro. Essa cooperativa só foi registrada para a história devido ao acidente (VEIGA e FONSECA, 2001, p. 19). Mesmo diante deste cenário de precarização da época, havia por parte de alguns empresários a preocupação com a Saúde e Segurança do Trabalho - SST, a exemplo de Robert Owen (um dos precursores do cooperativismo), que decidiu reduzir a carga laboral dos trabalhadores, bem como coibir a exploração, do trabalho infantil em suas empresas (SINGER, 2010 apud CRUZ, 2014). No Brasil, embora, a cultura da cooperação pudesse ser observada desde a época da colonização portuguesa, o movimento só teve início, de fato no ano de 1889, com a criação da primeira cooperativa de consumo de que se tem registro, em Ouro Preto (MG), denominada Sociedade Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto. Depois, se expandiu para Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, Rio Grande do Sul, além de se espalhar em Minas Gerais. (OCB, 2015) Apesar da expansão do cooperativismo no Brasil, ainda havia pouco conhecimento sobre a doutrina, o que se configurou como um obstáculo para o desenvolvimento do movimento cooperativo em todas as regiões do país. Gonçalves, Meyer, Vieira (2015) reforçam que em decorrência disso, foi criada em 2 de dezembro de 1969 a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) com a tarefa de representar e defender os interesses do cooperativismo no Brasil, esta entidade é considerada uma das representantes e defensora dos interesses do cooperativismo nacional. Outro marco importante foi a Lei 5.764/71, que regulamentou e disciplinou a criação de cooperativas, porém restringiu a autonomia dos associados, isso afetou a criação, funcionamento e fiscalização do empreendimento cooperativo, circunstancia que foi superada pela Constituição de 1988, a qual proibiua interferência do Estado nas associações, dando assim, início à autogestão do cooperativismo. (OCB, 2015) Após a criação da OCB, o cooperativismo brasileiro ganhou o reconhecimento internacional em 1995, com a eleição de Roberto Rodrigues, ex-presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras, o primeiro não europeu a presidir a (ACI) 8 Aliança Cooperativista Internacional (GONÇALVES, MEYER, VIEIRA, 2015). Esse fato teve grande relevância, pois contribuiu de maneira significativa para o desenvolvimento das cooperativas brasileiras. Segundo a OCB (2013) no Brasil existem cooperativas em 13 ramos da economia9, totalizando 6.827 cooperativas, 11.563.427 associados e 337.793 empregados, todas representadas pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) nacionalmente e pelas Organizações Estaduais (Oces) nas unidades da federação. Entre os anos 2009 e 2013, a secretaria nacional da economia solidária, vinculada ao Ministério do Trabalho realizou dois mapeamentos. No mapeamento de 2013, foram identificados 19.708 empreendimentos (cooperativas e associações e grupos informais) organizados e distribuídos entre 2.713 municípios brasileiros, a maior parte deles se 9 Os 13 principais ramos do cooperativismo são: 1-AGROPECUÁRIO: composto pelas cooperativas de produtores rurais ou agropastoris e de pesca, cujos meios de produção pertençam ao cooperado. É um dos ramos com maior número de cooperativas e cooperados no Brasil. 2-CONSUMO: composto pelas cooperativas dedicadas à compra em comum de artigos de consumo para seus cooperados. 3-CRÉDITO: composto pelas cooperativas destinadas a promover a poupança e financiar necessidades ou empreendimentos dos seus cooperados. 4-EDUCACIONAL: composto por cooperativas de professores, que se organizam como profissionais autônomos para prestarem serviços educacionais, por cooperativas de alunos de escola agrícola que, além de contribuírem para o sustento da própria escola, às vezes produzem excedentes para o mercado, mas tem como objetivo principal a formação cooperativista dos seus membros, por cooperativas de pais de alunos, que têm por objetivo propiciar melhor educação aos filhos, administrando uma escola e contratando professores, e por cooperativas de atividades afins. 5-ESPECIAL: composto pelas constituídas por pessoas que precisam ser tuteladas ou que se encontra em situação de desvantagem nos termos da Lei 9.867, de 10 de novembro de 1999. 6-HABITACIONAL: composto pelas cooperativas destinadas à construção, manutenção e administração de conjuntos habitacionais para seu quadro social. 7-INFRA-ESTRUTURA: antes denominado "Energia/Telecomunicação e Serviços", composto pelas cooperativas cuja finalidade é atender direta e prioritariamente o próprio quadro social com serviços de infra-estrutura. 8-MINERAL: composto pelas cooperativas com a finalidade de pesquisar, extrair, lavrar, industrializar, comercializar, importar e exportar produtos minerais. 9-PRODUÇÃO: composto pelas cooperativas dedicadas à produção de um ou mais tipos de bens e produtos, quando detenham os meios de produção. Para os empregados, cuja empresa entra em falência, a cooperativa de produção geralmente é a única alternativa para manter os postos de trabalho. 10-SAÚDE: composto pelas cooperativas que se dedicam à preservação e promoção da saúde humana. É um dos ramos que mais rapidamente cresceram nos últimos anos, incluindo médicos, dentistas, psicólogos e profissionais de outras atividades afins. 11-TRABALHO: composto pelas cooperativas que se dedicam à organização e administração dos interesses inerentes à atividade profissional dos trabalhadores associados para prestação de serviços não identificados com outros ramos já reconhecidos. 12-TRANSPORTE: criado pela AGO da OCB no dia 30 de abril de 2002, é composto pelas cooperativas que atuam no transporte de cargas e passageiros. 13-TURISMO E LAZER: criado pela AGO da OCB no dia 28 de abril/2000 é composto pelas cooperativas que prestam serviços turísticos, artísticos, de entretenimento, de esportes e de hotelaria, ou que atendem direta e prioritariamente o seu quadro social nessas áreas. Fonte: OCEPAR, 2011. 9 encontra na região Nordeste, responsável por 40,8% do total. O somatório total de todos esses Empreendimentos Econômicos Solidários (EES) compreende 1.423.631 pessoas associadas e 361.478 trabalhadores formais. (OCB, 2013). As duas estatísticas não podem ser somadas para chegarmos a um universo, visto que muitas das cooperativas vinculadas a OCB não se consideram da economia solidária, principalmente as de grande porte e algumas cooperativas da economia solidária também são associadas a OCB. Apesar de existir essa separação ideológica, os princípios do cooperativismo estão presentes nos empreendimentos. Em ambos os movimentos o modo de organização do trabalho do cooperativismo é a autogestão, modelo que prima pela participação ativa dos trabalhadores em todas as etapas da gestão além de dar o real poder de decisão aos trabalhadores, que também são os donos do capital. Assim sendo, teoricamente o interesse por condições saudáveis de trabalho e o cuidado a prevenção a acidentes, e doenças ocupacionais deveria estar presente na agenda diária das cooperativas. Contudo, o que as pesquisas apontam é que nem sempre o cooperativismo e a autogestão, são garantia de bem-estar dos trabalhadores. Lima (2007) e Georges (2009) trazem análises de que o trabalho de empreendimentos entendidos como autogestionários são usados, algumas vezes, pelo capital como estratégia para diminuição de custos da força de trabalho, uma vez que os trabalhadores autogeridos não contam com as mesmas garantias trabalhistas dos trabalhadores contratados. (DIMOV e NOBREGA, 2014). Outro aspecto percebido, é que devido às diversas dificuldades financeiras e de gestão na maioria das cooperativas a saúde e segurança do trabalhador é deixada para segundo plano, isso pode afetar de maneira negativa o empreendimento. Chiavenato (2002) acentua que o comportamento organizacional depende do ambiente geral ou macro ambiente constituído de todos os fatores econômicos, tecnológicos, sociais, políticos, culturais, demográficos, etc., como por variáveis do ambiente de tarefa ou microambiente que diz respeito ao ambiente imediato e especifico a cada organização, o tipo de negócio da organização e a principal componente que faz a organização - as pessoas. (CHIAVENATO, 2002 apud ROCHA, 2013). Rocha (2013) enfatiza que o homem enquanto ser permanentemente insatisfeito alia-se às organizações como meio de verem saciadas as suas necessidades e para darem um 10 sentido útil a sua existência, ou seja, a satisfação das suas necessidades e a contribuição para o alcance dos objetivos das organizações. Dessa forma torna-se indispensável que os empreendimentos estejam sempre atentos a aspectos tão relevantes que influenciam no comportamento de todos os componentes da organização, o que pode gerar conflitos frente aos objetivos do empreendimento, quando estas necessidades não estão satisfeitas. Não basta fazer parte de um empreendimento que tem os princípios de democracia, valorização do ser humano e a cooperação. É preciso que seus trabalhadores interiorizem a necessidade e a importância de cuidar do seu bem estar e da coletividade, ou seja, é preciso desenvolver uma cultura da Saúde e segurança do trabalho. Cultura da Segurança do Trabalho Um empreendimento com um número acima de 20 empregados trabalhando em regime celetista é obrigado por lei instalar uma CIPA. A Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA tem como objetivo a prevenção de acidentes e doenças decorrentes do trabalho, de modo a tornar compatível permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a promoção da saúde do trabalhador. (CIPA ONLINE,2016) É na CIPA, onde são desenvolvidas todas as estratégias para a implantação das ferramentas10 de prevenção, controle de acidentes e formação do trabalhador sobre a temática da segurança do trabalho. Contudo, estudos demonstram que não basta que haja uma CIPA instalada para que a Saúde e segurança do trabalhador esteja preservada, é 10 MRA- Mapa de Riscos Ambientais (NR-05): é uma representação gráfica de um conjunto de fatores presentes nos locais de trabalho. É feito sobre a planta baixa da empresa, podendo ser completo ou setorial. Ele é composto de círculos com cores diferentes, de acordo com o tipo de riscos existentes em cada setor de trabalho. PPRA- Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (NR-09): usa o mapa de risco como base para sua elaboração, e tem como objetivo garantir a preservação da saúde e integridade física dos cooperados e trabalhadores, visando a preservação da saúde e da integridade dos trabalhadores, por meio de antecipação, reconhecimento, avaliação e consequente controle da ocorrência de riscos ambientais existentes ou que venham existir no ambiente de trabalho, tendo em consideração a proteção do meio ambiente e dos recursos naturais. PCMSO - Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (NR-07): é feito anualmente e é realizado pelo médico do trabalho. Tem como objetivo a promoção, prevenção e preservação da saúde do conjunto dos cooperados e trabalhadores, estabelecendo parâmetros mínimos e diretrizes gerais, os quais serão necessariamente observados na sua execução. Neste programa de prevenção são tratados assuntos como exames de acompanhamento de saúde dos trabalhadores, que são informados através do Atestado de Saúde Ocupacional “ASO”, o qual é fornecido pelo empregador anualmente aos trabalhadores. Está previsto na NR-7 da Portaria n.º 3.214/78 – M T E (Ministério Trabalho e Emprego), servindo-lhe de base legal para a sua elaboração e/ou atualização. EPI- Equipamento de Proteção Individual (NR-06): é todo equipamento usado de maneira individual, cujo objetivo é proteger a saúde e integridade física do trabalhador, de possíveis riscos, biológicos, químicos, físicos ou mecânicos que possa existir no ambiente de trabalho. EPC- Equipamento de Proteção Coletiva (NR-06): são equipamentos destinados à proteção coletiva dos trabalhadores. Fonte: Santos; Azevedo, 2013. 11 preciso à criação de normas e costumes que culminem no enraizamento da cultura de SST, numa organização. Conforme Gonçalves Filho (2011) o conceito de cultura de segurança surgiu em 1988, no primeiro relatório técnico realizado pelo International Nuclear Safety Advisory Group - INSAG, com uma abordagem de fatores organizacionais na análise do acidente, onde se apresenta o resultado da análise das origens do acidente da usina nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, (Agência Internacional de Energia Atômica - AIEA, 1991). Nos anos seguintes o tema foi alvo de muitos estudos sobre o tema. Turner e outros (1989 apud PIDGEON, 1991), após o relatório do INSAG sobre o acidente de Chernobyl, apresentaram uma primeira definição de cultura de segurança a salientar aspectos verdadeiramente culturais. Para estes autores, a cultura de segurança, à semelhança da cultura organizacional, corresponde a um sistema de significados partilhados por um determinado grupo sobre segurança e que pode ser definido como "o conjunto específico de normas, crenças, funções, atitudes e práticas dentro de uma organização, com o objetivo de minimizar a exposição dos empregados, clientes, fornecedores e do público em geral das condições consideradas perigosas ou que causem doenças." (TURNER et al., 1989 apud PIDGEON, 1991, p. 7 apud GONÇALVES FILHO, 2011, p. 70) GONÇALVES FILHO (2011), destaca que embora esta definição, bem como a do INSAG, sejam as mais referidas e utilizadas, outros conceitos foram propostos, mas não houve consenso sobre o tema entre os pesquisadores. Instituições que atuam na área de segurança também apresentaram seu conceito e considerações sobre cultura de segurança. A definição de cultura de segurança dada pela Health and Safety Commission (HSC) da Advisory Committee on the Safety of Nuclear Installations (ACSNI) é uma das mais citadas na literatura e consideradas por muitos pesquisadores (REASON, 1997; WEICK; SUTCLIFFE, 2001 apud GONÇALVES FILHO, 2011) como a mais competente. Cultura de Segurança, de acordo com a definição da HSC (Health and Safety Commission): A cultura de segurança de uma organização é o produto dos valores, atitudes, percepção, competências e padrão de comportamento de indivíduos e grupos que determinam o comprometimento, o estilo e a proficiência do gerenciamento da segurança do trabalho da organização. Organizações com culturas de segurança positivas são caracterizadas pela comunicação fundada na confiança mútua, pela percepção compartilhada da importância da 12 segurança e pela confiança na eficácia das medidas preventivas. (REASON, 1997, p.194 apud GONÇALVES FILHO, 2011, p. 73). Destaca-se dessa definição a importância da comunicação para uma cultura de segurança positiva, além da confiança dos empregados nas medidas preventivas adotadas. É importante salientar da definição acima, que o sucesso do gerenciamento da segurança do trabalho é determinado pelas percepções, valores, competência e padrão de comportamento dos indivíduos e grupos da organização.(GONÇALVES FILHO, 2011) Os acidentes de trabalho, quando acontecem sugerem atenção aos métodos adotados na gestão de riscos do processo, ou até mesmo mudanças práticas. Essas mudanças interferem de maneira positiva para um bom desempenho econômico e social no empreendimento, visto que a partir do momento que se estabelece um conjunto de atitudes, normas e práticas em uma organização, os resultados tendem a ser muito satisfatórios, pois contribuem para uma reflexão e mudanças no comportamento entre trabalhadores e todos que constituem as relações trabalhistas. Esse conjunto fomenta a cultura da SST, que traz segurança e conforto tanto para o empreendimento como também para todo o público em geral, que possa ter algum contato com esse ambiente; A necessidade de implantação de uma cultura da segurança implica na garantia da integridade física e moral dos trabalhadores, as ações que constituem uma cultura de SST, devem ser enraizadas e sempre, com práticas contínuas, priorizando o desenvolvimento de um ambiente de trabalho seguro e saudável. As empresas que submetem seus empregados a condições de trabalho inadequadas perdem em termos de qualidade, produtividade, competitividade e imagem perante a sociedade. Empregados em más condições de trabalho não contribuem para a melhoria de processos e produtos, reduzem sua disposição para o trabalho e não mostram comprometimento com a empresa por não se sentirem parte do processo. (SELL, 2002 apud HONÓRIO E PONTES, 2008). Para Spector (2005), a satisfação no trabalho é uma variável de atitude que representa como uma pessoa se sente em relação ao seu trabalho de forma geral e em seus vários aspectos, isto é, a satisfação no trabalho é o quanto as pessoas gostam do que fazem e tem sido um fator causador de importantes realizações por parte dos funcionários como um melhor desempenho no trabalho e do melhoramento da saúde e melhor expectativa de vida. (SPECTOR, 2005, apud ROCHA, 2013). 13 Uma cultura bem estabelecida é de fundamental importância em um empreendimento, pois é num contexto em que existe cultura de segurança que as atitudes e o comportamento dos indivíduos relativos à segurança se desenvolvem e persistem (MEARNS; WHITAKER; FLIN, 2003 apud GONÇALVES FILHO, 2011). Somente através da maturidade da cultura da segurança haverá uma maior segurança para o trabalhador, visto que os procedimentos, posturas e cumprimento das normasnão serão mais uma obrigação, mas fará parte do seu dia a dia, já estarão interiorizadas. O desenvolvimento de uma cultura de segurança depende do comportamento e da participação dos indivíduos, de seu nível de escolaridade e capacitação profissional, dos investimentos em segurança, equipamentos e manutenção destes. Mais do que simplesmente processos técnicos e repetitivos, a criação da cultura de segurança depende da continuidade e da periodicidade de ações educativas nas escolas, no ensino técnico e também no ensino superior a fim de garantir o aprendizado. (CEMBRANEL, 2011) Considerando esses aspectos, é muito importante se estabelecer um conjunto de ações, valores e padrões comportamentais, que culminem em um ambiente saudável e seguro para o trabalhador, configurado como cultura de segurança, pois, quanto mais estabelecida e eficiente o gerenciamento de riscos para o trabalhador, maior o grau de maturidade da cultura em uma organização, o que resulta na confiança mútua, pela percepção compartilhada da importância da segurança e pela confiança na eficácia das medidas preventivas. A partir da compilação e análise das propostas existentes, Gonçalves Filho (2011) adaptou os modelos desenvolvidos por Hudson(2001) e Westrum (1993). O modelo proposto por Anastácio (2010, p 213) “descreve na sua estrutura como cada um dos cinco fatores é tratado em cada um dos cinco estágios de maturidade (Patológico, Reativo, Burocrático, Proativo e Sustentável)”. Foram analisados por ele 25 estudos sobre indicativos da maturidade da cultura de segurança e os mais citados compuseram a metodologia proposta pelo Anastácio. Os fatores são descritos conforme apresenta o quadro 01: Quadro01 – Fatores para análise da maturidade da cultura da Segurança do trabalho. Fator Definição 14 Informação REASON, 1997 enfatiza que a informação é a confiança dos indivíduos na organização para relatar os erros, os acidentes e os incidentes ocorridos. Aspecto essencial para construir uma cultura informada. REASSON,1997 apud GONÇALVES(2010) Aprendizagem Organizacional É a forma como a organização trata as informações, como é feita a análise dos acidentes e dos incidentes, se são propostas ações de melhoria e se são implementadas e se os empregados são informados sobre estas ações, e se há busca contínua de melhorar os processos visando à segurança do trabalho (AIEA, 2002b; REASON, 1997). Envolvimento É a participação dos empregados nas questões de segurança, como na análise dos acidentes e incidentes que lhe diz respeito, na identificação e análise dos riscos do ambiente de trabalho, nas propostas de ações para melhoria da segurança do trabalho e sua implementação, na elaboração e revisão dos procedimentos relacionados com sua atividade, no planejamento das suas atividades, e a participação em comitês de segurança, encontros de segurança, etc. (CHOUDHRY; FANG; MOHAMED, 2007; GORDON; KIRWAN; PERRIN, 2007). Comunicação É a forma, a conveniência e a oportunidade que é feita à comunicação sobre os temas relativos à segurança do trabalho, e se há um canal aberto de comunicação entre os empregados e superiores hierárquicos. Inclui também se comunicação chega aos empregados, se é compreendida por eles e se a organização monitora a efetividade da comunicação (COOPER, 1998; GLENDON; STANTON, 2000; OLIVE; O’CONNOR; MANNAN, 2006; MEARNS; WHITAKER; FLIN, 2003; WESTRUM, 2004). Comprometimento O verdadeiro comprometimento significa mais que políticas escritas e mencionar a importância da segurança do trabalho nos discursos, precisa haver coerência entre as palavras e a realidade (DEJOY et al., 2004; FLIN et al., 2000; AIEA, 2002b; OLIVE, O’CONNOR; MANNAN, 2006). Fonte: Gonçalves Filho 2011, p.89 A partir da análise dos fatores acima elencados, é feita uma classificação do estágio de maturidade da organização baseado em quatro estágios: Patológico, Reativo, Burocrático, Proativo. Desta maneira, Gonçalves Filho (2011), identifica qual o grau de maturidade da cultura de Segurança, conforme quadro 02. Quadro 02: Estágio de Maturidade da Cultura da Segurança do Trabalho Estágio Patológico: neste estágio não há ações na área de segurança do trabalho na organização. O máximo que procura fazer é atender à legislação. Estágio Reativo: neste estágio as ações da organização da área de saúde e segurança no trabalho são realizadas somente depois de acidentes no trabalho terem acontecido. Ações não são sistemáticas, busca dar respostas aos acidentes do trabalho, procurando remediar a situação. Estágio Burocrático: neste estágio a organização tem sistema para gerenciar riscos nos locais de trabalho, mas ainda não tem a visão sistêmica da saúde, segurança e meio ambiente. Ações estão mais voltadas para quantificar os riscos. Estágio Proativo: é o desenvolvimento do estágio de transição para o estágio da cultura construtiva. O líder da organização, com base nos valores da organização, conduz as melhorias contínuas para a saúde, segurança e meio ambiente. Procura se antecipar aos problemas antes que eles aconteçam. Estagio Sustentável: Existe um sistema integrado de saúde, segurança e meio ambiente, no qual a organização se baseia e se orienta para realizar seus negócios. 15 A organização tem as informações necessárias para gerir o sistema de segurança do trabalho, está constantemente tentando melhorar e encontrar as melhores formas de controlar os riscos. Fonte: Gonçalves Filho 2011, p.84 Embora o estudo sugira cinco estágios de maturidade, para análise da pesquisa realizada na COOPATAN, serão utilizados apenas quatro (Proativo, Burocrático, Reativo e Patológico), para mensurar a maturidade da cultura, visto que o estágio Sustentável é o último a ser alcançado. Nesse estágio a organização tem as informações necessárias para gerir o sistema de segurança do trabalho, está constantemente tentando melhorar e encontrar as melhores formas de controlar os riscos. (Gonçalves Filho, 2011). Portanto não se aplica a realidade da cooperativa. A COOPATAN Histórico A COOPATAN (Cooperativa dos Produtores Rurais de Presidente Tancredo Neves) está localizada no KM 315, distrito de Moenda em Presidente Tancredo Neves - BA, às margens da BR 101. Atualmente a cooperativa possui 324 cooperados e 39 trabalhadores celetistas, sendo responsável pela segunda maior fonte de emprego e renda do município, com um faturamento anual estimado em aproximadamente 12 milhões. O primeiro ensaio da COOPATAN, ainda como uma pequena associação, aconteceu no ano de 1997, posteriormente esta transformou-se em uma cooperativa, no ano de 2000, através de uma parceria com a Fundação Odebrecht, que financiou a construção e maquinário da fábrica de farinha, com a finalidade de garantir a valorização no mercado da cultura local. (COOPATAN, 2016) As principais atividades desenvolvidas inicialmente pela Cooperativa eram o beneficiamento das raízes de aipim in natura (massa de aipim, tapioca granulada e massa de puba carimã), e mandioca, (fabricação da farinha). Algum tempo depois a cooperativa expandiu-se e passou a cultivar e comercializar bananas e abacaxi. Atualmente esses produtos são comercializados principalmente para a rede Walmart (Bompreço), representando o faturamento de aproximadamente 70% da cooperativa, os outros 30% é comercializado para Agrovip (Comércio de hortifruti de Feira de Santana) e para clientes aleatórios. 16 A fábrica de farinha da COOPATAN conta com 11 trabalhadores não cooperados, contratados sob o regime celetista. A produção mensal tem sofrido grandes variações, devido à disponibilidade de matéria prima e funcionamento da fábrica. No mês de março/2016, a produção foi de 63.980 Kg, já no mês de abril, a produção caiu para 29.220 Kg de farinha. Contudo o principal produto da fábrica ainda é a farinha que representa a maior escalade produção. Os demais produtos derivados da mandioca, oferecidos pela cooperativa, variam muito conforme a demanda, pois trata-se de produtos com menor resistência. As instalações de produção passaram recentemente por uma modernização passando de um processo manual para 70% mecanizado. Além da casa de farinha, existe na COOPATAN uma Unidade de Pré Beneficiamento de Frutas, oriunda de uma parceria com o Banco Nacional do Desenvolvimento- BNDES. Esta unidade permite aos cooperados armazenarem os produtos de maneira adequada, evitando assim, problemas no momento da comercialização. A cooperativa também possui uma escola agrícola, a Casa Familiar Rural de Presidente Tancredo Neves (CFR), que fica situada no mesmo local onde em que está localizada a fábrica de farinha, a CFR é qualificada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP), é formada por uma Associação de Pais e Produtores Rurais, regida por Estatuto Social e Regimento Escolar. Resultados da Pesquisa A metodologia da pesquisa na COOPATAN seguiu o modelo desenvolvido por Gonçalves Filho (2011) e buscou identificar aspectos dentro dos fatores elencados (Informação, Aprendizagem Organizacional, Envolvimento, Comunicação E Comprometimento) para auxiliar na análise de qual estágio (Patológico, Reativo, Burocrático, Proativo e Sustentável) de maturidade da cultura de segurança a cooperativa se encontra. Vale ressaltar, que em um fator a cooperativa pode estar no estágio patológico, mas em outro fator se encontrar no estágio Proativo. Segundo Gonçalves Filho (2011), esse aspecto ocorre porque a cultura da Segurança não se desenvolve de maneira homogênea em toda organização A partir das respostas dos questionários, observação do local e entrevistas, feita com os trabalhadores, além do questionário e com a direção da COOPATAN para avaliar o nível de maturidade será utilizado os seguintes indicadores: 17 Predominância dos valores D e E (patológico) Predominância dos valores C (Reativo) Predominância dos valores B (Burocrático) Predominância dos valores A (Proativo) A compreensão dos aspectos analisados na pesquisa para mensurar a maturidade da cultura estão descritas abaixo: 1. Informação Essa categoria indica a propensão dos empregados em informar os incidentes e as anormalidades observadas no trabalho, considerando que os trabalhadores conhecem muito bem o ambiente de trabalho e podem avaliar com melhor precisão riscos eminentes ou futuros para a saúde e segurança dos mesmos. Nesse aspecto as perguntas buscavam analisar as seguintes questões relacionadas aos meios de se comunicar entre trabalhadores e direção, como: Quadro 3. Fator Informação desagregado Aspecto 01: Informação A B C D E Os trabalhadores possuem algum meio para relatarem possíveis problemas em suas atividades? 06 01 02 01 01 Os trabalhadores se sentem à vontade para relatar dificuldades no trabalho e risco de acidentes aos dirigentes do empreendimento? 09 01 00 00 00 Os trabalhadores são informados sobre a quantidade de pessoas que se acidentam ou adoecem por causa do trabalho que desenvolvem? 05 00 02 00 02 A Organização possui mecanismos de contabilização de acidentes e doenças provenientes da atividade laboral? 01 02 02 02 02 A Organização possui outros índices de desempenho da segurança no ambiente de trabalho, além dos índices de acidentes ocorridos? 06 01 03 00 01 As ferramentas da SST são desenvolvidas de maneira participativas? 00 01 05 04 01 RESPOSTAS DOS COOPERADOS 27 06 14 07 07 Fonte: Elaboração própria a partir da tabulação dos dados. Os dados mostram que no aspecto informação a cooperativa apresenta características proativas e reativas. Essas respostas refletem o estágio atual, onde os trabalhadores tem a liberdade de relatar possíveis problemas para a diretoria devido ao tamanho da cooperativa, mas não possui um meio formal para registrarem as ocorrências. A diretora de RH da COOPATAN relata que: Os trabalhadores têm liberdade, pois estamos sempre abertos a ouvi-los, inclusive sempre falamos nas reuniões para que sempre falem das necessidades para contribuir no bom andamento do trabalho, na segurança deles, estamos sempre abertos a sugestões, acatamos e verificamos a procedência das informações para analisarmos junto à qualidade e o líder do setor que está 18 sendo reclamado para buscar sempre melhorar. (DIREÇÃO, COOPATAN, 2016) Em comunhão com a resposta dada pela diretoria, um dos trabalhadores, o líder deles diz; Todos têm liberdade em chegar até a diretoria, sim, mas na maioria das vezes eu sou uma ponte entre eles, pois como o líder eles relatam possíveis problemas para mim e eu passo para a diretoria, porem em minha ausência todos tem liberdade de passar todos os problemas à direção. (TRABALHADOR 1, COOPATAN, 2016). A cooperativa não conta com um mecanismo para contabilização de acidentes, nem qualquer meio que meça índices de desempenho na segurança do local de trabalho, quantos aos acidentes que ocorrem, ou qualquer motivo que cause afastamento dos funcionários, não há um meio formal para que essa informação chegue a todos, porém as informações são transmitidas de maneira informal entre todos, pois o baixo número de trabalhadores facilita a troca de informação entre todos, como ressalta um dos trabalhadores; Todos nós ficamos sabendo quando acontece alguma coisa, não costuma acontecer acidentes com frequência, mas quando alguém tem algum problema de saúde, ou algum motivo que precisa ser afastado, todos sabem. (TRABALHADOR 2, COOPATAN, 2016). A diretoria diz: Sempre comunicamos aos trabalhadores, sobre o afastamento de alguém, até para evitar que aconteça com os demais, por exemplo, recentemente tivemos dois trabalhadores afastados, porque pegaram ZIKA, e todos foram informados, o motivo do afastamento. (DIREÇÃO, COOPATAN, 2016). O estágio mostra-se proativo devido a confiança que os funcionário demonstraram em se comunicarem com a diretoria, porém de maneira geral nesse fator a COOPATAN está inserida no estágio patológico e reativo, pois ainda carece da implantação de meios de informação mais eficientes para facilitar que a informação chegue sempre no momento correto, para pessoa certa e da maneira correta. Também não existe na cooperativa um índice de desempenho da segurança do trabalho, e reativo porque os únicos índices de acidente na cooperativa são os de acidentes graves ocorridos, muito embora os relatos não apontem ocorrências ou acidentes frequentes na cooperativa, pelo contrário, a firmação por parte dos funcionários é de que nunca ocorreu um acidente grave. 2. Aprendizagem Para Gonçalves Filho (2011), aprendizagem significa coletar, monitorar e analisar informações importantes para aumentar o conhecimento sobre como o trabalho e a 19 segurança estão funcionando, através desse fator é possível ter uma percepção real sobre o local de trabalho. Na categoria aprendizagem, a pesquisa buscou investigar os seguintes aspectos no empreendimento: Quadro 4. Fator Aprendizagem desagregado Aspecto 02: Aprendizagem A B C D E O Empreendimento está atento a possíveis problemas na execução das atividades e riscos para a saúde dos associados /colaboradores? 11 00 00 00 00 O Empreendimento faz investimentos (cursos, palestras) para promover a saúde e segurança dos associados /colaboradores? 00 02 00 01 08 São realizados treinamentos e ou auditorias com intuito de prevenir as doenças ocupacionais? 00 01 03 00 06 Causas de acidentes são informadas a todos os associados? 05 00 03 00 02 Você é capaz de identificar um local ou maquinário que oferece risco de acidentes ou doenças no seu ambiente de trabalho? 06 04 00 01 00 As ferramentas da SST são desenvolvidas de maneira participativas? 00 01 05 04 01 RESPOSTAS DOS COOPERADOS 22 08 11 06 17 Fonte: Elaboraçãoprópria a partir da tabulação dos dados. A pesquisa indica que a apesar de o empreendimento estar atento a possíveis problemas na execução das atividades e riscos para a saúde dos colaboradores, há questões importantes que merecem maior atenção, como ressalta os trabalhadores sobre a falta de investimentos em cursos e palestras para promover a saúde e segurança dos trabalhadores bem como a realização de treinamentos e/ou auditorias com intuito de prevenir as doenças ocupacionais. Os dados apontam para uma maturidade patológica no aspecto aprendizagem, esse fato é claramente perceptível, pela divergência de informações entre diretoria e trabalhadores, como enfatiza as respostas dadas; Aqui não faz investimento em palestras e cursos, só aconteceu uma vez que veio um bombeiro e deu uma palestra sobre acidentes de trabalho e primeiros socorros, mas não acontece com frequência e já tem tempo que aconteceu. (TRABALHADOR 3, COOPATAN, 2016). Em contraposição ao que é dito pelo trabalhador, a diretoria enfatiza sobre realização de palestras e auditorias na cooperativa; A cooperativa tem implantado PPRA e o PCMSO, que é atualizado anualmente, e feito acompanhamento médico dos trabalhadores por uma clínica da cidade de Santo Antônio de Jesus, temos também o acompanhamento de um técnico de segurança do trabalho, que também é bombeiro civil, ele vem até a cooperativa para fazer acompanhamento, verificando áreas de risco, iluminação, postura e todos os aspectos possíveis 20 de ocasionar possíveis acidentes agora ou futuramente. (DIREÇÃO, COOPATAN, 2016). E completa dizendo; A cooperativa realiza palestras, cursos e treinamentos frequentes, para informar aos trabalhadores aspectos importantes, como o uso correto dos EPI’S, higienização das mãos, manipulação correta dos equipamentos. (DIREÇÃO, COOPATAN, 2016). Outro fato que também chama atenção é a divergência de informação entre direção e trabalhadores, quanto a elaboração participativa das ferramentas de SST, enquanto a diretoria afirma que todos participam da elaboração e atualização das ferramentas, os trabalhadores não têm conhecimento da existência dessas ferramentas. Apesar da Cooperativa ter implantado o PPRA e o PCMSO, os trabalhadores não têm conhecimento sobre a existência das ferramentas e nem o que significa cada uma delas, declarando não terem participado da elaboração nem da atualização dos mesmos. Após a análise desse fator é possível identificar uma forte predominância do valor A na questão que trata sobre a importância dada a possíveis problemas na execução das atividades e riscos para a saúde dos associados /colaboradores, o que indica um estágio proativo. Contudo, quando questionado sobre os investimentos, treinamentos e auditorias os valor das opções D e E, indicam que a cooperativa está no estágio patológico porque a cooperativa não faz nenhum investimento em treinamentos e não tem auditorias. Vale ressaltar, que o tipo de auditoria que acontece na COOPATAN, citada pela diretora é uma visita diária para verificar alguma anormalidade e sanar possíveis riscos. Caso ocorra algum, é feita uma análise e correção do problema. Porém a Cooperativa não dispõe de uma equipe específica para cuidar dos assuntos relacionados a saúde e segurança dos trabalhadores, portanto essa auditoria é realizada por uma funcionária. Nesse fator, as informações mostram que o estágio Patológico é adequado para realidade da cooperativa, porque ainda deixa muito a desejar em questões importantes que implicam na prevenção de riscos para o trabalhador. Embora não haja relatos de acidentes, fica evidente que a cooperativa não faz melhorias em segurança no trabalho, 08 dos 11 entrevistados afirmam não ser feito nenhum investimento por parte da cooperativa nesse sentido, não são realizadas oficinas, palestras, cursos ou qualquer ação para informar e formar os trabalhadores sobre possíveis riscos de acidentes, limitando-se apenas ao uso de EPI’s, por ser uma obrigatoriedade, maioria dos trabalhadores, 06 deles, afirmam também que as auditorias, apenas observam o uso do EPI, pelos trabalhadores. 21 3. Comunicação Nessa categoria de análise, levaram em consideração as questões seguintes: Quadro 5. Fator Comunicação desagregado Aspecto 03: Comunicação A B C D E O Empreendimento divulga notícias e informações sobre saúde e segurança no trabalho? 07 00 04 00 00 Há no empreendimento algum veículo de comunicação (digital ou impressa) que sejam divulgadas informações sobre o tema? 09 00 01 00 00 As informações sobre SST divulgadas limitam-se apenas as determinações legais (uso do EPI, CIPA)? 11 00 00 00 00 Notícias sobre SST, são divulgadas apenas quando ocorrem acidentes graves? 09 02 00 00 00 A comunicação sobre SST chega com facilidade a todos os trabalhadores? 11 00 00 00 00 RESPOSTAS DOS COOPERADOS 47 02 05 00 00 Fonte: Elaboração própria a partir da tabulação dos dados. A análise feita a partir da pesquisa de campo nos remete a uma maturidade em estágio proativo, quanto à comunicação na COOPATAN, esse alto grau se deve a facilidade de comunicar entre todos os trabalhadores, embora não tenha um veículo de comunicação digital, mas sempre há informativos impresso no mural da cooperativa para que todos acessem. Este espaço é utilizado para divulgar informações sobre acidentes, principalmente de grandes proporções, com a finalidade de impactar os trabalhadores e dessa forma causar maior conscientização sobre a importância de prevenção dos acidentes. Enfatizando essa informação, a direção ressalta; Sempre divulgamos as informações, principalmente sobre acidentes para todos os trabalhadores, como forma de incentivá-los a usar os EPI’S de maneira correta e frequente, e também sempre estar atentos aos cuidados essenciais para evitar possíveis problemas no seu local de trabalho. (DIREÇÃO, COOPATAN, 2016) Um trabalhador diz; Nunca tivemos casos de acidentes grave aqui, os maquinários são considerados seguro, pois são encapsulados, e todos recebem treinamentos para manusear corretamente, inclusive quando está em funcionamento, outras pessoas são proibidas de ficar na fábrica de farinha, só os funcionários podem permanecer no local. (TRABALHADOR 4, COOPATAN, 2016). O fator comunicação apresenta uma predominância do valor A, indicando um estágio Proativo, no qual mostra resultados satisfatórios quanto ao tratamento dado a saúde dos 22 trabalhadores por parte da Cooperativa, pois a ausência de acidentes é um ponto forte e positivo que mostra uma preocupação da cooperativa com os trabalhadores. 4. Comprometimento Uma boa cultura de segurança não se desenvolverá sem o comprometimento da gerência, por isso, é particularmente importante que o corpo gerencial demonstre comprometimento. Gonçalves Filho (2011) ressalta que o comprometimento é evidenciado pela proporção de recursos (tempo, dinheiro, pessoas) e suportes alocados para a gestão da segurança do trabalho, pelos status da segurança do trabalho em relação à produção, pela existência de um Sistema de Gestão da Segurança do Trabalho, em que constam a visão e objetivos da organização, definição de responsabilidades, a política de treinamento e qualificação, procedimentos, recompensas, sanções e auditorias. O verdadeiro comprometimento significa mais que políticas escritas e mencionar a importância da segurança do trabalho nos discursos, precisa haver coerência entre as palavras e a realidade (DEJOY et al., 2004; FLIN et al., 2000; AIEA, 2002b; OLIVE, O’CONNOR; MANNAN, 2006, apud GONÇALVES FILHO, 2011). Para obtenção de resultados nessa categoria, o questionário explorou questões relativas às ações e investimentos feitos, a fim de investigar o quão o empreendimento está comprometido com relação à saúde e segurança dos trabalhadores; Quadro 6. Fator Comprometimento desagregado Aspecto04: Comprometimento A B C D E O Empreendimento realiza ações para promover a saúde e segurança dos associados /colaboradores? 02 00 02 00 07 Existe um comprometimento dos membros da gestão no que diz respeito à prevenção de doenças e acidentes? 02 01 00 00 08 Você se preocupa com aspectos de segurança no desenvolvimento da sua atividade laboral? 11 00 00 00 00 Existe entre seus colegas uma preocupação no cumprimento das regras para a prevenção de acidentes? 08 02 00 00 00 As atividades sobre SST são previamente planejadas, independente de riscos ou ocorrência de acidentes? 08 02 00 00 00 RESPOSTAS DOS COOPERADOS 31 05 02 00 15 Fonte: Elaboração própria a partir da tabulação dos dados. Nesse fator, a Cooperativa apresenta um elevado número de respostas A, indicando um estágio proativo. O indicativo de proatividade nesse fator se dá por três vertentes: a preocupação do trabalhador com aspectos de segurança no desenvolvimento da atividade 23 laboral, a preocupação no cumprimento das regras para a prevenção de acidentes, bem como o planejamento prévio das atividades sobre SST, independente dos riscos ou ocorrência de acidentes por parte da maioria dos trabalhadores. Contudo, nos outros aspectos abordados há um envolvimento menor, tanto por parte dos trabalhadores como dos gestores, isso fica perceptível nas respostas dadas pelos trabalhadores, 07 dos 11 entrevistados responderam que o empreendimento não realiza nenhuma ação com a finalidade de promover a saúde dos trabalhadores. Os trabalhadores também não identificam comprometimento dos membros da gestão no que diz respeito à prevenção de doenças e acidentes, 08 dos 11 trabalhadores que responderam ao questionário, disseram que falta mais comprometimento dos gestores. Os gestores daqui tem a preocupação com nossa segurança, mas falta mais comprometimento, com investimentos em cursos e treinamentos, que a Cooperativa não faz. (TRABALHADOR 5, COOPATAN, 2016). Embora haja uma predominância de valores que indicam um estágio Proativo, a cooperativa está no estágio Patológico, também nesse aspecto, isso porque a COOPATAN não faz investimentos em ações para melhoria das questões de SST, não realiza treinamentos frequentes e não tem uma equipe para cuidar das questões relacionadas à saúde e segurança dos trabalhadores. Aqui é bom, em comparação a outros lugares que alguns de nós já trabalhou, nunca nos acidentamos, mas queríamos ter maior conhecimento e aprender mais sobre como nos prevenir sobre possíveis riscos de acidentes. (TRABALHADOR 6, COOPATAN, 2016). 5. Envolvimento (dos trabalhadores) Esse fator se refere à envoltura dos trabalhadores em todos os aspectos relacionados ao seu ambiente de trabalho, como acidentes, ou qualquer premissa que lhe diz respeito. Nesse sentido envolve todas as questões relativas ao seu trabalho, de maneira participativa, como a investigação, análise e identificação de possíveis riscos no ambiente, bem como elaboração de ferramentas e mecanismos para prevenção e resolução de possíveis problemas advindos da atividade executada. As questões que compõe esse fator buscou investigar o quanto os trabalhadores da cooperativa se envolvem em questões relacionadas a SST, e a importância dada pelos trabalhadores; Quadro 7. Fator Envolvimento desagregado 24 Aspecto 05: Envolvimento dos trabalhadores (associados) A B C D E Os trabalhadores participam das atividades que envolvem questões sobre saúde e segurança no ambiente de trabalho? 07 03 00 00 00 Em sua opinião a questão da saúde e segurança no ambiente do trabalho é importante para o Empreendimento? 07 00 03 00 00 Em sua opinião os seus colegas veem a questão da saúde segurança no trabalho, como importante? 01 03 06 00 00 Os seus colegas acham a temática da SST importante e adotam medidas de segurança? 03 02 03 00 01 Em sua opinião os trabalhadores (associados e colaboradores), adotam medidas de segurança por obrigatoriedade? 06 03 00 00 00 Você acredita que investir em medidas de segurança no ambiente de trabalho é importante para a qualidade de vida do trabalhador? 09 00 00 00 00 RESPOSTAS DOS COOPERADOS 33 11 12 00 01 Fonte: Elaboração própria a partir da tabulação dos dados. A maturidade da cultura explicitada nos dados, verte sobre questões importantes, como a participação assídua dos trabalhadores nas atividades que envolvem questões sobre saúde e segurança no ambiente de trabalho, o olhar dos trabalhadores frente à importância dada à questão da saúde e segurança no ambiente do trabalho para o empreendimento. A direção afirma que: A auditoria para segurança no trabalho e PPRA, acontece anualmente. Paralelo a isso todos os dias na cooperativa é feita auditorias em todos os setores, por uma funcionária, verificando o uso correto do EPI, caso algum trabalhador não esteja usando, este é notificado, com advertência, quando a cobrança deixa de ser feita, alguns trabalhadores deixam de usar o EPI. (DIREÇÃO, COOPATAN, 2016). Apesar dos dados mostrarem uma maturidade em estágio Proativo nesse aspecto, a afirmação da direção acima, mostra de maneira contraditória, um baixo grau de maturidade na importância do uso de EPI, o que é fundamental para a prevenção de doenças e de acidentes. Quando existe uma maturidade elevada a prevenção torna-se um hábito para os trabalhadores, e não uma obrigatoriedade. Essa proatividade inicial nos resultados se deve ao fato da grande maioria dos trabalhadores demonstrarem interesse em questões sobre SST, bem como têm interesse em participar de todas as ações a respeito da saúde e segurança em seu local de trabalho. Contudo o fato dos trabalhadores verem os aspectos da SST como pouco relevantes e adotarem medidas preventivas por obrigatoriedade nos faz inferir um nível de maturidade reativo. 25 Considerações Finais Os relatos históricos da literatura a cerca da SST, mostram-se benéficos para o trabalhador, que muitas vezes foi submetido a condições precárias de trabalho. A criação de leis e medidas protetivas que asseguram os direitos trabalhistas é sem dúvidas um grande marco na vida e bem estar do trabalhador. Embora avanços importantes tenham ocorrido, há muito que ser feito, pois ainda em dias atuais os índices de acidentes provenientes da atividade trabalhista são muito altos, o que gera prejuízos tanto para o trabalhador como para o empreendimento. O movimento cooperativista emergido em meados do século XVIII, na Inglaterra, em resposta as condições precárias de trabalho advindas da revolução industrial, trouxe um grande alento para os trabalhadores da época, buscando uma forma mais justa e saudável para o trabalhador. Contudo, ainda hoje percebe-se que muitas vezes a preocupação com a segurança no trabalhado está muito aquém quanto aos princípios da doutrina cooperativista. As cooperativas em sua maioria enfrentam muitas dificuldades financeiras, o que muitas vezes se justifica o fato da saúde e segurança do trabalhador ser deixada de lado. Essas considerações se tornam preocupantes à medida que os cuidados com a vida e segurança dos trabalhadores/sócios ficam estagnados, dando espaço aos interesses econômicos, uma vez que medidas preventivas só são tomadas para competirem com empreendimentos de tradicionais. As cooperativas enquanto sociedade de natureza autônoma, ou seja, o cooperado é dono e usuário, não é fiscalizada por um sindicato de trabalhadores. Além disso, também se resguarda da obrigatoriedade prevista em lei de ter uma CIPA estabelecida no empreendimento caso o número de funcionários seja inferior ao exigido por lei, essa é uma brecha que põe a COOPATAN em uma posição de conforto, quanto aos cuidados com a saúde e segurança do trabalhador. A pesquisa na COOPATAN traz uma breve noção de como é tratada a temática nosempreendimentos solidários, pois as análises feitas através da aplicação de questionário, observação do ambiente e entrevista com a direção e os trabalhadores demonstram diferentes estágios dentro dos fatores analisados. 26 O relato da direção quanto a dificuldade em manter os trabalhadores sempre ativos nos cuidados mais simples, como o uso de EPI, nos remete para uma fraca maturidade da cultura da saúde e segurança do trabalho. Muito embora a maioria das categorias de análise ilustrem por meio dos dados uma forte maturidade, de modo que foi levado em consideração a visão da pesquisadora, a partir da observação do local analisado. Portanto, conclui-se que a COOPATAN ainda está em um estágio Patológico, em que não há ações eficientes que culminem em melhorias para a saúde e segurança do trabalhador, independente da ocorrência e gravidade de acidentes. O fato de não ter ocorrência de acidentes põe a cooperativa em um estado de conforto, deixando de lado medidas importantes que devem ser implantadas para garantir maior segurança e bem estar no ambiente de trabalho. Apesar de impasses na implantação de um conjunto de ações por parte da Cooperativa para garantir um ambiente saudável para os trabalhadores, existe um diálogo que demonstra interesse em inserir ferramentas e medidas que contribuam para preservação da saúde e bem estar dos trabalhadores e também ampliar e aperfeiçoar as medidas existentes, para que os trabalhadores passem a interiorizar um comportamento prevencionista em seu dia a dia, para que hábitos como o uso dos EPI’s e EPC’s, se tornem algo comum na rotina de trabalho e não uma obrigação, que exija punições para o cumprimento efetivo. 27 REFERÊNCIAS Acidentes de trabalho no Brasil em 2014: comparação entre dados selecionados da Pesquisa Nacional de Saúde do IBGE (PNS) e do Anuário Estatístico da Previdência Social (AEPS) do Ministério da Previdência Social. Disponível em: http://www.fundacentro.gov.br. Acesso em: 08/07/2016. Anuário Estatístico da Previdência Social Brasília, AEPS 2014, v.23 p.1-890 250 A Criação Da CLT. 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A Organização possui outros índices de desempenho da segurança no ambiente de trabalho, além dos índices de acidentes ocorridos?
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