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GESTÃO DE CUSTOS, RISCOS E PERDAS Isis Boostel Gerenciamento de riscos Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir gerenciamento de risco. Descrever os processos de gerenciamento de riscos. Explicar a importância do gerenciamento de riscos na logística. Introdução O risco pode ser traduzido como a incerteza de um resultado e pode ter reflexos positivos (oportunidades) ou negativos (ameaças). Os riscos podem ocorrer internamente, ou seja, dentro da estrutura de uma empresa, ou externamente — nesse caso, podem fugir ao controle dos gestores. O gerenciamento de riscos na logística tem como objetivo identificar possíveis falhas e adotar medidas adequadas para eliminar ou minimizar esses riscos. Neste capitulo, você vai estudar os principais riscos na logística, bem como os passos necessários e a importância de gerenciá-los. Conceitos fundamentais Toda empresa deve estar atenta aos riscos internos e externos que podem comprometer a sua operação. Os riscos internos são aqueles que ocorrem mediante erros nos processos e defi ciência no gerenciamento em diversas áreas da empresa. Já os riscos externos são aqueles que não são controlados pela organização. Por exemplo, um desastre natural, como um terremoto, pode danifi car todo o estoque de uma empresa; um atentado terrorista pode comprometer toda a cadeia de suprimentos. Felizmente, esses fenômenos naturais e atentados não são comuns no Brasil; porém, temos outros fatores externos que comprometem os elos da cadeia de suprimentos. Por exemplo, a greve dos caminhoneiros, ocorrida em 2018, provocou desabastecimento em praticamente todos os setores da economia nacional. O agronegócio brasileiro é um dos setores que mais sofre com fatores ex- ternos. O impacto maior é sentido pelo pequeno produtor. Podemos citar como exemplo a falta de recursos financeiros para investir em sistemas de irrigação, não tendo, assim, uma estratégia definida para suprir a ausência de chuvas. O ano de 2018 foi motivo de felicidade para os agricultores do serrado do Piauí. O resultado foi a maior safra da história, com uma colheita de 3,5 toneladas por hectare, graças a um regime de chuvas ideal. Os produtores criaram a expectativa de uma safra semelhante em 2019, porém, a falta de chuvas em dezembro de 2018 já comprometia em 30% os resultados no início de 2019. A gestão de riscos deve ser baseada na probabilidade de ocorrência de um evento e no impacto que esse evento vai causar caso ocorra. Qualquer percepção de risco deve servir de alerta para que a empresa tome as devidas providências e ofereça restrições ao serviço de armazenamento e distribuição de um produto. Essa precaução logicamente incide sobre o custo de um produto. Podemos observar na Figura 1 que, quanto maior o grau de risco do produto, maiores serão os custos de transporte e armazenagem. Figura 1. Efeitos gerais dos riscos de um produto sobre os custos logísticos. Fonte: Ballou (2006, p. 82). Gerenciamento de riscos2 Segundo Ballou (2006), há também o risco de ruptura da cadeia de suprimen- tos, e algumas medidas devem ser adotadas para prevenir ou amenizar o impacto. Seguro contra riscos — existem vários tipos de seguro no mercado, desde seguro contra furtos de mercadorias até seguros para perdas financeiras. Deve-se ficar atento à cobertura do seguro contratado. Desenvolvimento de novos fornecedores — segundo Ballou (2006, p. 114), “[...] manter múltiplas fontes de suprimentos ou planejar o acesso a fornecedores alternativos são medidas que tendem a garantir o fluxo de produtos/mercadorias durante situações de ruptura dos canais normais. A dependência de uma única fonte de suprimentos é o maior dos riscos”. Alternativas de transporte — o Brasil é um país deficiente quando o assunto é infraestrutura de transportes. O transporte de produtos pode ser impactado por diversos motivos, desde a queda de pontes e encostas, impossibilitando que produtos cheguem no destino por modais rodoviários ou ferroviários, até manifestações e reivindicações, como a greve dos caminhoneiros de 2018, que causou desabastecimento principalmente no varejo e no atacado. Modificar a demanda — podemos definir demanda como o desejo que o consumidor tem de adquirir um determinado produto. Lançamentos de novos produtos, por exemplo, podem tornar um produto obsoleto, per- dendo valor perante os clientes. Ballou (2006, p. 114) afirma o seguinte: Mudar a demanda é uma maneira indireta de enfrentar crises no suprimento. Trata-se do reconhecimento de que, quando não há meio de disponibilizar um produto, os clientes devem ser incentivados, por várias formas, a escolher uma mercadoria alternativa. Dessa maneira será possível manter as vendas no seu nível habitual até a normalização do desempenho da cadeia de suprimentos. Resposta rápida à alteração da demanda — se a demanda mudar, a empresa tem de estar preparada para dar uma resposta imediata. No caso de queda na demanda, realizar promoções e liquidações pode ser uma alternativa. Já no caso de aumento repentino na demanda, a empresa tem de estar preparada para suprir as necessidades de mercado. Estoque de emergência — é a quantidade estipulada de produto que a empresa deve ter em caso de problemas no reabastecimento dos pro- dutos. Essa quantidade deve ser dimensionada de forma que a empresa tenha condições de ofertar o produto aos clientes até a normalização na cadeia de suprimentos. Não existe uma fórmula ideal para se calcular esse estoque, também chamado de estoque de segurança, afinal, são inúmeras as variáveis que podem comprometer o reabastecimento. 3Gerenciamento de riscos Processos de gerenciamento de riscos O primeiro passo para a gestão de riscos é a elaboração do sistema de ge- renciamento de riscos. Nesse momento, é defi nida qual metodologia será utilizada para o planejamento e quais membros da equipe serão responsáveis pelas ações de monitoramento e atendimento a emergências. O segundo passo é identificar os riscos e determinar o impacto de cada um deles na cadeia logística, bem como as medidas emergenciais que serão tomadas para eliminar ou amenizar os riscos. A seguir, veja quais são os principais riscos na logística. Risco econômico: trata-se de um risco externo, que o gestor terá pouca influência para controlar. Podemos citar aqui variações cambiais, cria- ção de impostos, mudanças nas taxas de juros e falência de clientes e fornecedores. Risco político: também é um risco externo que abrange mudança de governo, ruptura nos acordos comerciais, embargos de importação e exportação ou, até mesmo, guerras e conflitos. Riscos geográficos: são riscos externos causados em função da loca- lidade de uma empresa. Os desastres naturais são exemplos de riscos geográficos. Risco de planejamento: este é um risco interno e, nesse caso, a empresa tem a oportunidade de minimizá-lo por meio de análises de comporta- mento de mercado e negociação de contratos. Risco da concorrência: até mesmo uma empresa que domina o mercado deve se manter atenta às mudanças de tendências. O sucesso muitas vezes gera uma acomodação; portanto, a empresa deve continuar ino- vando e buscando a melhoria contínua tanto nos processos quanto na qualidade de seus produtos. Risco ambiental: nos últimos anos, os consumidores têm exigido que os produtos adquiridos tenham origem em empresas sustentáveis e ambientalmente corretas. A análise qualitativa é o próximo passo e consiste em determinar a proba- bilidade de ocorrência do risco e o impacto na cadeia. Já a análise quantitativa é baseada em valores monetários e serve de análise para a tomada de decisões e os investimentos, buscando controlar os riscos. Após as análises quantitativas e qualitativas e a definição da probabilidade e do impacto, é hora de planejar as estratégias que serão adotadas caso o Gerenciamento de riscos4 risco se torne real.Por fim, deve-se monitorar os riscos constantemente para determinar o momento certo de agir, aquele em que o limite de risco aceitável for extrapolado. A Figura 2 ilustra os processos necessários para gerenciar os riscos. A comunicação e a consulta são essenciais durante todas as etapas, para que os responsáveis pela implementação do processo de gestão de riscos e as demais áreas tenham ciência dos motivos das decisões tomadas. Estabelecer o contexto consiste em determinar se o risco é interno ou externo. Figura 2. Processo de gestão de riscos. Fonte: ABNT (2009, documento on-line). Importância do gerenciamento de riscos na logística A prevenção contra os riscos na logística pode signifi car redução de prejuízos e garantia da sobrevivência da empresa em momentos de turbulência. O gestor logístico deve se embasar em dados e informações sobre o mercado para defi nir a melhor estratégia para reduzir os impactos causados pela ruptura da cadeia de suprimentos, por exemplo. 5Gerenciamento de riscos Definir a estratégia de estoque é uma tarefa árdua, que pode ser facilitada quando o gestor se mantém informado sobre as condições econômicas e de mercado. Reduzir o estoque diminui o risco de o produto se tornar obsoleto e reduz as perdas por depreciação e queda na demanda. Porém, em caso de ruptura na cadeia de suprimentos, a empresa vai perder vendas ou não con- seguirá cumprir contratos. É importante frisar que alguns riscos podem proporcionar oportunidades para a empresa aumentar a sua lucratividade. Podemos citar como exemplo o risco de de- sabastecimento de produtos alimentícios: com a diminuição da oferta, os preços dos produtos se elevam. Isso mostra a importância do bom gerenciamento de riscos, que possibilitará a identificação dessas oportunidades. Gerenciar o estoque corretamente é um desafio para a logística porque as características do produto impactam a maneira correta de armazenamento e influenciam na quantidade a ser estocada. Quando um produto apresenta um alto risco, naturalmente serão impostas restrições quanto à distribuição desses produtos, tornando o custo logístico mais elevado. Ballou (2006) classifica os riscos dos produtos da seguinte forma: perecibilidade; inflamabilidade; valor; tendência a explodir; facilidade em ser roubado. As grandes empresas de varejo, buscando minimizar os riscos causados por produtos encalhados em seus estoques, passaram a realizar compras por consignação. Assim, as vendas em consignação vêm ganhando espaço nos últimos anos. Esse tipo de venda se dá da seguinte forma: o fornecedor deixa os produtos em um determinado local para ser exposto e comercia- lizado; se o produto for vendido, o vendedor receberá um valor estipulado em contrato. Caso o produto não seja comercializado, o fornecedor recebe o produto de volta. Esse tipo de venda, na verdade, transfere os riscos para o fornecedor. Gerenciamento de riscos6 Há ainda um movimento similar às vendas consignadas em ascensão no mercado, porém, de uma forma imposta. É o que acontece com grandes redes de varejistas, por exemplo, que exigem a disponibilidade de produtos ao fornecedor e só vão, de fato, pagar pelo produto após a comercialização para o cliente final. Existem muitas maneiras de acontecerem eventos não desejados na logís- tica e na cadeia de suprimentos, incluindo falhas nas estruturas físicas, que ocasionam acidentes no transporte, desabamento de edifícios e entrada de produtos contaminados nas cadeias de abastecimento de produtos alimentícios, por exemplo. Segundo Grant (2013), existem possíveis impulsionadores de risco na logística e na cadeia de suprimento: cadeias de suprimento mais enxutas, com número reduzido de forne- cedores — manter poucos fornecedores pode representar um risco, afinal, qualquer ruptura na cadeia de suprimento pode causar enor- mes danos e interromper o processo de produção e venda de novos produtos; redução dos ciclos de tempo de trânsito e de pedidos de compra na cadeia de suprimentos e utilização de práticas just in time (no momento certo); esse sistema tende a diminuir consideravelmente os níveis de estoque e, caso haja qualquer problema no reabastecimento, a produção será comprometida; globalização do abastecimento e fornecimento e maior número de elos de transporte; produção e distribuição centralizadas em um único local; tendência crescente à subcontratação. Segundo Grant (2013, p. 335): Uma vez determinados os riscos e as probabilidades de riscos de sua logística e cadeia de suprimentos e a resiliência a esses riscos, uma empresa pode tratar de derivar várias estratégias de atenuação de riscos e continuidade dos negó cios. Tais estratégias incluem: • Diversificação por abastecimento mú ltiplo de suprimentos e produto; • Ter sistemas paralelos na empresa e subcontratados; • Acumular estoque pulmão — A quantidade de saída de produtos geral- mente oscila durante o ano. Estoque pulmão é um estoque produzido ou comprado excedente à quantidade de saída no período de menor venda para ser usado quando a demanda aumenta; 7Gerenciamento de riscos • Fabricar produtos além do necessário em períodos em que a demanda é menor do que a capacidade, formando estoques pulmão que serão con- sumidos posteriormente; • Ter redundância mantendo capacidade extra; • Contratar seguro contra perda advinda da quebra da cadeia de suprimentos. Decidir pela contratação de um seguro também é um desafio para o ges- tor. Muitas empresas optam por não investir em contratação de seguros de edificação, estoque, máquinas e equipamentos, por acreditarem que os altos custos com seguro são, na verdade, uma despesa. Em outros casos, devido aos ramos de atividade em que atuam, algumas empresas encontram dificuldades para contratar uma apólice de seguros. De acordo com Grant (2013, p. 333): Uma perda esperada é frequentemente expressa em termos como custos em dólares, libras ou euros ou a perda em anos de vida ou produtividade esperada, e é necessária para qualquer aná lise de custo –benefí cio ou risco–benefí cio. Uma aná lise de benefí cio introduz uma dimensã o é tica no risco: um lucro (ou prejuízo) é considerado uma “recompensa” (ou “custo”) pela aceitaç ã o do risco em negó cios. Em 2016, um incêndio destruiu uma fábrica de colchões e estofados em São Paulo. Segundo o proprietário, o local não tinha seguro, e seu prejuízo total poderia chegar a 20 milhões de reais. Veja a reportagem completa acessando o link a seguir. https://goo.gl/ZWouUz ABNT. ISO 31000: gestão de riscos — princípios e diretrizes. 2009. Disponível em: https:// gestravp.files.wordpress.com/2013/06/iso31000-gestc3a3o-de-riscos.pdf. Acesso em: 21 mar. 2019. BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos: logística empresarial. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2006. GRANT, D. B. Gestão de logística e cadeia de suprimentos. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. Gerenciamento de riscos8
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