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UNID 4 - RISCOS

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GESTÃO DE 
CUSTOS, RISCOS E 
PERDAS
Isis Boostel
Gerenciamento de riscos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
  Definir gerenciamento de risco.
  Descrever os processos de gerenciamento de riscos.
  Explicar a importância do gerenciamento de riscos na logística.
Introdução
O risco pode ser traduzido como a incerteza de um resultado e pode ter 
reflexos positivos (oportunidades) ou negativos (ameaças). Os riscos podem 
ocorrer internamente, ou seja, dentro da estrutura de uma empresa, ou 
externamente — nesse caso, podem fugir ao controle dos gestores. O 
gerenciamento de riscos na logística tem como objetivo identificar possíveis 
falhas e adotar medidas adequadas para eliminar ou minimizar esses riscos. 
Neste capitulo, você vai estudar os principais riscos na logística, bem 
como os passos necessários e a importância de gerenciá-los. 
Conceitos fundamentais
Toda empresa deve estar atenta aos riscos internos e externos que podem 
comprometer a sua operação. Os riscos internos são aqueles que ocorrem 
mediante erros nos processos e defi ciência no gerenciamento em diversas 
áreas da empresa. Já os riscos externos são aqueles que não são controlados 
pela organização. Por exemplo, um desastre natural, como um terremoto, 
pode danifi car todo o estoque de uma empresa; um atentado terrorista pode 
comprometer toda a cadeia de suprimentos.
Felizmente, esses fenômenos naturais e atentados não são comuns no 
Brasil; porém, temos outros fatores externos que comprometem os elos da 
cadeia de suprimentos. Por exemplo, a greve dos caminhoneiros, ocorrida 
em 2018, provocou desabastecimento em praticamente todos os setores da 
economia nacional.
O agronegócio brasileiro é um dos setores que mais sofre com fatores ex-
ternos. O impacto maior é sentido pelo pequeno produtor. Podemos citar como 
exemplo a falta de recursos financeiros para investir em sistemas de irrigação, 
não tendo, assim, uma estratégia definida para suprir a ausência de chuvas.
O ano de 2018 foi motivo de felicidade para os agricultores do serrado do Piauí. O 
resultado foi a maior safra da história, com uma colheita de 3,5 toneladas por hectare, 
graças a um regime de chuvas ideal. Os produtores criaram a expectativa de uma safra 
semelhante em 2019, porém, a falta de chuvas em dezembro de 2018 já comprometia 
em 30% os resultados no início de 2019.
A gestão de riscos deve ser baseada na probabilidade de ocorrência de 
um evento e no impacto que esse evento vai causar caso ocorra. Qualquer 
percepção de risco deve servir de alerta para que a empresa tome as devidas 
providências e ofereça restrições ao serviço de armazenamento e distribuição 
de um produto. Essa precaução logicamente incide sobre o custo de um produto. 
Podemos observar na Figura 1 que, quanto maior o grau de risco do produto, 
maiores serão os custos de transporte e armazenagem. 
Figura 1. Efeitos gerais dos riscos de um produto sobre os custos logísticos.
Fonte: Ballou (2006, p. 82).
Gerenciamento de riscos2
Segundo Ballou (2006), há também o risco de ruptura da cadeia de suprimen-
tos, e algumas medidas devem ser adotadas para prevenir ou amenizar o impacto.
  Seguro contra riscos — existem vários tipos de seguro no mercado, 
desde seguro contra furtos de mercadorias até seguros para perdas 
financeiras. Deve-se ficar atento à cobertura do seguro contratado.
  Desenvolvimento de novos fornecedores — segundo Ballou (2006, p. 
114), “[...] manter múltiplas fontes de suprimentos ou planejar o acesso a 
fornecedores alternativos são medidas que tendem a garantir o fluxo de 
produtos/mercadorias durante situações de ruptura dos canais normais. 
A dependência de uma única fonte de suprimentos é o maior dos riscos”.
  Alternativas de transporte — o Brasil é um país deficiente quando 
o assunto é infraestrutura de transportes. O transporte de produtos 
pode ser impactado por diversos motivos, desde a queda de pontes e 
encostas, impossibilitando que produtos cheguem no destino por modais 
rodoviários ou ferroviários, até manifestações e reivindicações, como 
a greve dos caminhoneiros de 2018, que causou desabastecimento 
principalmente no varejo e no atacado. 
  Modificar a demanda — podemos definir demanda como o desejo que 
o consumidor tem de adquirir um determinado produto. Lançamentos de 
novos produtos, por exemplo, podem tornar um produto obsoleto, per-
dendo valor perante os clientes. Ballou (2006, p. 114) afirma o seguinte: 
Mudar a demanda é uma maneira indireta de enfrentar crises no suprimento. 
Trata-se do reconhecimento de que, quando não há meio de disponibilizar um 
produto, os clientes devem ser incentivados, por várias formas, a escolher uma 
mercadoria alternativa. Dessa maneira será possível manter as vendas no seu 
nível habitual até a normalização do desempenho da cadeia de suprimentos.
  Resposta rápida à alteração da demanda — se a demanda mudar, a 
empresa tem de estar preparada para dar uma resposta imediata. No 
caso de queda na demanda, realizar promoções e liquidações pode 
ser uma alternativa. Já no caso de aumento repentino na demanda, a 
empresa tem de estar preparada para suprir as necessidades de mercado. 
  Estoque de emergência — é a quantidade estipulada de produto que 
a empresa deve ter em caso de problemas no reabastecimento dos pro-
dutos. Essa quantidade deve ser dimensionada de forma que a empresa 
tenha condições de ofertar o produto aos clientes até a normalização na 
cadeia de suprimentos. Não existe uma fórmula ideal para se calcular 
esse estoque, também chamado de estoque de segurança, afinal, são 
inúmeras as variáveis que podem comprometer o reabastecimento. 
3Gerenciamento de riscos
Processos de gerenciamento de riscos
O primeiro passo para a gestão de riscos é a elaboração do sistema de ge-
renciamento de riscos. Nesse momento, é defi nida qual metodologia será 
utilizada para o planejamento e quais membros da equipe serão responsáveis 
pelas ações de monitoramento e atendimento a emergências.
O segundo passo é identificar os riscos e determinar o impacto de cada 
um deles na cadeia logística, bem como as medidas emergenciais que serão 
tomadas para eliminar ou amenizar os riscos. A seguir, veja quais são os 
principais riscos na logística.
  Risco econômico: trata-se de um risco externo, que o gestor terá pouca 
influência para controlar. Podemos citar aqui variações cambiais, cria-
ção de impostos, mudanças nas taxas de juros e falência de clientes e 
fornecedores.
  Risco político: também é um risco externo que abrange mudança de 
governo, ruptura nos acordos comerciais, embargos de importação e 
exportação ou, até mesmo, guerras e conflitos.
  Riscos geográficos: são riscos externos causados em função da loca-
lidade de uma empresa. Os desastres naturais são exemplos de riscos 
geográficos.
  Risco de planejamento: este é um risco interno e, nesse caso, a empresa 
tem a oportunidade de minimizá-lo por meio de análises de comporta-
mento de mercado e negociação de contratos.
  Risco da concorrência: até mesmo uma empresa que domina o mercado 
deve se manter atenta às mudanças de tendências. O sucesso muitas 
vezes gera uma acomodação; portanto, a empresa deve continuar ino-
vando e buscando a melhoria contínua tanto nos processos quanto na 
qualidade de seus produtos.
  Risco ambiental: nos últimos anos, os consumidores têm exigido que 
os produtos adquiridos tenham origem em empresas sustentáveis e 
ambientalmente corretas. 
A análise qualitativa é o próximo passo e consiste em determinar a proba-
bilidade de ocorrência do risco e o impacto na cadeia. Já a análise quantitativa 
é baseada em valores monetários e serve de análise para a tomada de decisões 
e os investimentos, buscando controlar os riscos.
Após as análises quantitativas e qualitativas e a definição da probabilidade 
e do impacto, é hora de planejar as estratégias que serão adotadas caso o 
Gerenciamento de riscos4
risco se torne real.Por fim, deve-se monitorar os riscos constantemente 
para determinar o momento certo de agir, aquele em que o limite de risco 
aceitável for extrapolado.
A Figura 2 ilustra os processos necessários para gerenciar os riscos. A 
comunicação e a consulta são essenciais durante todas as etapas, para que os 
responsáveis pela implementação do processo de gestão de riscos e as demais 
áreas tenham ciência dos motivos das decisões tomadas. Estabelecer o contexto 
consiste em determinar se o risco é interno ou externo.
Figura 2. Processo de gestão de riscos.
Fonte: ABNT (2009, documento on-line).
Importância do gerenciamento de riscos 
na logística
A prevenção contra os riscos na logística pode signifi car redução de prejuízos 
e garantia da sobrevivência da empresa em momentos de turbulência. O gestor 
logístico deve se embasar em dados e informações sobre o mercado para defi nir 
a melhor estratégia para reduzir os impactos causados pela ruptura da cadeia 
de suprimentos, por exemplo. 
5Gerenciamento de riscos
Definir a estratégia de estoque é uma tarefa árdua, que pode ser facilitada 
quando o gestor se mantém informado sobre as condições econômicas e de 
mercado. Reduzir o estoque diminui o risco de o produto se tornar obsoleto 
e reduz as perdas por depreciação e queda na demanda. Porém, em caso de 
ruptura na cadeia de suprimentos, a empresa vai perder vendas ou não con-
seguirá cumprir contratos. 
É importante frisar que alguns riscos podem proporcionar oportunidades para a 
empresa aumentar a sua lucratividade. Podemos citar como exemplo o risco de de-
sabastecimento de produtos alimentícios: com a diminuição da oferta, os preços dos 
produtos se elevam. Isso mostra a importância do bom gerenciamento de riscos, que 
possibilitará a identificação dessas oportunidades.
Gerenciar o estoque corretamente é um desafio para a logística porque as 
características do produto impactam a maneira correta de armazenamento e 
influenciam na quantidade a ser estocada. Quando um produto apresenta um 
alto risco, naturalmente serão impostas restrições quanto à distribuição desses 
produtos, tornando o custo logístico mais elevado. Ballou (2006) classifica os 
riscos dos produtos da seguinte forma:
  perecibilidade;
  inflamabilidade; 
  valor;
  tendência a explodir;
  facilidade em ser roubado.
As grandes empresas de varejo, buscando minimizar os riscos causados 
por produtos encalhados em seus estoques, passaram a realizar compras 
por consignação. Assim, as vendas em consignação vêm ganhando espaço 
nos últimos anos. Esse tipo de venda se dá da seguinte forma: o fornecedor 
deixa os produtos em um determinado local para ser exposto e comercia-
lizado; se o produto for vendido, o vendedor receberá um valor estipulado 
em contrato. Caso o produto não seja comercializado, o fornecedor recebe 
o produto de volta. Esse tipo de venda, na verdade, transfere os riscos para 
o fornecedor. 
Gerenciamento de riscos6
Há ainda um movimento similar às vendas consignadas em ascensão 
no mercado, porém, de uma forma imposta. É o que acontece com grandes 
redes de varejistas, por exemplo, que exigem a disponibilidade de produtos 
ao fornecedor e só vão, de fato, pagar pelo produto após a comercialização 
para o cliente final.
Existem muitas maneiras de acontecerem eventos não desejados na logís-
tica e na cadeia de suprimentos, incluindo falhas nas estruturas físicas, que 
ocasionam acidentes no transporte, desabamento de edifícios e entrada de 
produtos contaminados nas cadeias de abastecimento de produtos alimentícios, 
por exemplo.
Segundo Grant (2013), existem possíveis impulsionadores de risco na 
logística e na cadeia de suprimento:
  cadeias de suprimento mais enxutas, com número reduzido de forne-
cedores — manter poucos fornecedores pode representar um risco, 
afinal, qualquer ruptura na cadeia de suprimento pode causar enor-
mes danos e interromper o processo de produção e venda de novos 
produtos;
  redução dos ciclos de tempo de trânsito e de pedidos de compra na 
cadeia de suprimentos e utilização de práticas just in time (no momento 
certo); esse sistema tende a diminuir consideravelmente os níveis de 
estoque e, caso haja qualquer problema no reabastecimento, a produção 
será comprometida;
  globalização do abastecimento e fornecimento e maior número de elos 
de transporte;
  produção e distribuição centralizadas em um único local;
  tendência crescente à subcontratação.
Segundo Grant (2013, p. 335):
Uma vez determinados os riscos e as probabilidades de riscos de sua logística 
e cadeia de suprimentos e a resiliência a esses riscos, uma empresa pode 
tratar de derivar várias estratégias de atenuação de riscos e continuidade dos 
negó cios. Tais estratégias incluem:
• Diversificação por abastecimento mú ltiplo de suprimentos e produto;
• Ter sistemas paralelos na empresa e subcontratados;
• Acumular estoque pulmão — A quantidade de saída de produtos geral-
mente oscila durante o ano. Estoque pulmão é um estoque produzido ou 
comprado excedente à quantidade de saída no período de menor venda 
para ser usado quando a demanda aumenta;
7Gerenciamento de riscos
• Fabricar produtos além do necessário em períodos em que a demanda é 
menor do que a capacidade, formando estoques pulmão que serão con-
sumidos posteriormente;
• Ter redundância mantendo capacidade extra;
• Contratar seguro contra perda advinda da quebra da cadeia de suprimentos.
Decidir pela contratação de um seguro também é um desafio para o ges-
tor. Muitas empresas optam por não investir em contratação de seguros de 
edificação, estoque, máquinas e equipamentos, por acreditarem que os altos 
custos com seguro são, na verdade, uma despesa. Em outros casos, devido aos 
ramos de atividade em que atuam, algumas empresas encontram dificuldades 
para contratar uma apólice de seguros.
De acordo com Grant (2013, p. 333):
Uma perda esperada é frequentemente expressa em termos como custos em 
dólares, libras ou euros ou a perda em anos de vida ou produtividade esperada, 
e é necessária para qualquer aná lise de custo –benefí cio ou risco–benefí cio. 
Uma aná lise de benefí cio introduz uma dimensã o é tica no risco: um lucro 
(ou prejuízo) é considerado uma “recompensa” (ou “custo”) pela aceitaç ã o 
do risco em negó cios.
Em 2016, um incêndio destruiu uma fábrica de colchões e estofados em São Paulo. 
Segundo o proprietário, o local não tinha seguro, e seu prejuízo total poderia chegar 
a 20 milhões de reais. Veja a reportagem completa acessando o link a seguir.
https://goo.gl/ZWouUz
ABNT. ISO 31000: gestão de riscos — princípios e diretrizes. 2009. Disponível em: https://
gestravp.files.wordpress.com/2013/06/iso31000-gestc3a3o-de-riscos.pdf. Acesso em: 
21 mar. 2019.
BALLOU, R. H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos: logística empresarial. 5. ed. 
Porto Alegre: Bookman, 2006.
GRANT, D. B. Gestão de logística e cadeia de suprimentos. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.
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