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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 8ª VARA CRIMINAL DA COMARCA DE RECIFE/PE Autos nº 0005589-24.2020.8.17.0001 JOÃO PEDRO PERES BARBOSA, brasileiro, solteiro, ambulante, inscrito no CPF nº 705.876.074.83 e RG n º 9.777.254, residente na Rua Dr. Adelino, nº 475, Afogados – Recife/PE, assistido juridicamente por sua procuradora infra-assinada, devidamente constituída, vem, perante Vossa Excelência, requerer o que se segue LIBERDADE PROVISÓRIA Com fulcro nos arts. 5º, LXVI da CFRB/88 e art. 310, III, do Código de Processo Penal. DOS FATOS 1. DA ALEGAÇÃO DE TRÁFICO DE ENTORPECENTES O acusado encontra-se preso desde o dia 22 de julho de 2020, em razão de “flagrante”, sob a alegação de ter infringido o disposto no art. 33 da Lei 11.343/06. Referida prisão em flagrante aconteceu em razão de que supostamente naquela data, em via pública, o denunciado, sem a devida autorização e em desacordo com a legislação, guardava e trazia consigo 37, 00g da droga conhecida popularmente como maconha, supostamente destinada à comercialização. Em seguida, conduzido até sua residência, foi franqueado pelo próprio acusado a entrada dos policiais até o seu quarto onde nada foi encontrado. O denunciado, ao ser interrogado pelos policiais confirmou a propriedade daquela substância e informou naquele momento que é USUÁRIO. 2. DO ESTADO DE DEPENDÊNCIA QUÍMICA DO ACUSADO Primeiramente é importante destacar que o acusado é USUÁRIO, - sendo que a própria quantidade da substância apreendida, conforme laudo preliminar de constatação é de 37,00g. Ademais, não existe prova que o acusado comercializava substâncias entorpecentes, apenas, pode-se concluir por tudo que se verificou no escorço probatório de que o acusado é na realidade usuário. Não se vislumbra nos autos, qualquer tipo de finalidade de tráfico de droga. Portanto, pela lógica processual, provas e elementos que indicam insegurança à atitude do réu em relação à mercancia, pequena quantidade encontrada com a mesmo, lucidez no interrogatório do réu, que em momento algum assumiu a autoria deste tipo de crime, e pela sua vida pregressa, ou seja, não existem registros e muito menos notícia de que o acusado seja traficante de tóxicos. O magistrado Guilherme de Souza Nucci adverte: O disposto no Art. 28, parágrafo 2.° da lei 11.343/2006, não difere, na essência, da previsão feita no antigo Art.37 da Lei 6.368/76. Para distinguir o crime de tráfico ilícito de entorpecente do simples porte para uso nunca foi tarefa fácil e continuará a ser árdua atribuição do magistrado. Ilustrando, a conduta trazer consigo consta tanto do Art.33 quanto do art.28 desta lei. Se a redação de cada tipo penal fosse devidamente aprimorada seria desnecessária a previsão feita no Art. 28 parágrafo 2.°. Enquanto isso não ocorre, é fundamental que se verifique, para a correta tipificação da conduta, os elementos pertinentes à natureza da droga, sua quantidade, avaliando local, condições gerais condições gerais, circunstâncias envolvendo a ação e a prisão, bem como a conduta e os antecedentes do agente.” Há que salientar que a quantidade de drogas encontrada em poder do acusado é mínima em vista da possibilidade de caracterizar o mesmo por tráfico de drogas. Sabe-se que a quantidade de droga não deve ser analisada, pois, o que caracteriza o crime de tráfico é a DESTINAÇÃO DO TÓXICO para a venda, fato que não se comprova nos autos, pelo que a descaracterização desse crime é medida de justiça e sapiência. Para a cominação da infração penal, deve ser adotado critérios valorativos que para efeitos didáticos juntamos abaixo: Para a distinção entre o traficante e o usuário, o Art. 37da Lei 6.368/76 prevê a tipificação do infrator após a adoção de vários critérios valorativos – dentre eles a quantidade da substância entorpecente apreendida e a maneira como ela está acondicionada – não havendo, no entanto, hierarquia de valores”(Ap.1.0024.04.195574-1, rel. Paulo Cézar Dias, 22.03.2005 DJ 04.05.2005). 3. DA LIBERDADE PROVISÓRIA. A concessão da liberdade provisória com ou sem a aplicação de outras medidas cautelares diversas da prisão faz-se necessária no presente caso, visto não haver provas suficientes que comprove a possível prática de traficância, haja vista não ter sido encontrado com o conduzido nada mais que uma pequena quantidade da droga, restando ausentes os demais artefatos típicos da atividade de tráfico de droga e atentando-se para o fato do conduzido já possuir histórico como usuário, tendo inclusive procurado tratamento no CAPS. 3.1. DA AUSÊNCIA DOS REQUISITOS PARA A DECRETAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA – (ART.312 CPP) De fato, o acusado já responde outro processo perante a 6ª Vara Criminal da Capital, devido a uma prisão anterior que se deu nos mesmos moldes da atual; devido ao seu vício, foi flagrado com uma pequena quantidade da droga popularmente conhecida como maconha. Entretanto, não é reincidente em nenhum crime. O fato de estar respondendo a outro processo por si só não caracteriza a reincidência, pois, como se sabe, “a reincidência pressupõe uma sentença condenatória transitada em julgado por prática de crime. Há reincidência somente quando o novo crime é cometido após a sentença condenatória de que não cabe mais recurso.” (JESUS, Damásio de. Direito Penal – Parte Geral. 34. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. v. 1. p. 611). O acusado nunca se esquivou de sua responsabilidade, visto que comparecia de forma certa mensalmente ao juízo da 6ª Vara Criminal da Capital, para justificar suas atividades e atualizar suas informações, de forma que não há provas de que o preso possa fugir do distrito da culpa ou que irá prejudicar a busca da verdade real. Assim, não subsistindo o periculum libertatis, sendo possível, no presente caso, a concessão da liberdade provisória com ou sem aplicação de medida cautelar diversa da prisão (art. 319, CPP). O acusado não é prejudicial à ordem econômica, visto que esta condição é totalmente inaplicável no presente caso, tendo em vista a natureza do delito, motivo que não enseja qualquer requisito para decretação da custódia provisória do acusado. Tampouco é prejudicial à conveniência da instrução criminal, pois esta somente justifica a decretação da prisão cautelar quando houver indícios que o autor do fato, em liberdade, prejudicará a instrução probatória - ameaçando testemunhas, subornando peritos, entre outros casos. Assim, com a devida venia, não se apresenta como medida justa o encarceramento através de prisão provisória “extrema” do acusado que sempre pautou na honestidade e no trabalho. Outrossim, o acusado possui trabalho lícito, qual seja a venda de frutas e verduras no mercado municipal de seu bairro, e com isso contribui com a renda e sustento de sua família, pois seus pais não possuem trabalho de carteira assinada. Bem como possui residência fixa, inclusive mora no mesmo endereço há mais de 18 anos, não colocando em risco a aplicação da lei penal, pois sempre poderá ser encontrado no mesmo endereço, qual seja Rua Dr. Adelino, nº 475, Afogados, Recife/PE, CEP: 50820-590. Importante salientar que o acusado faz isso de medicamentos controlados e precisa de atenção médica, e, estando solto, não prejudicará à manutenção da ordem pública, pois não demonstra periculosidade, nem há demonstração de desassossego social. Por último, porém não menos importante, a prisão cautelar reveste-se de caráter de excepcionalidade, pois somente deve ser decretada quando ficarem demonstrados o fumus commissi delicti e o periculum libertatis, o que não ocorreu no presente caso. É necessário frisar que em face da atual situação social de pandemia e quarentena na qual estamos vivendo, não seria recomendável a manutenção da prisão do acusado, uma vez que os estabelecimentos prisionais já gozam de super lotação, bem como não possuem capacidade assistencial para tamanha quantidade de detentos, não se fazendo conveniente a inserção de mais um preso provisório nesse sistema. Sendo assim e por todo o exposto, requer seja concedida a liberdade provisória,com fulcro no art. 310, III, do CPP, com ou sem a adoção de demais medidas cautelares diversas da prisão que se fizerem necessárias. Termos em que, ouvido o Ilustre Representante do Ministério Público, expeça-se o competente alvará de soltura em favor do acusado. Requer, também, seja determinado por esse D. Juízo, encaminhamento do acusado para o devido tratamento médico da dependência química, conforme parágrafo único do art. 45 da Lei 11.343/2006. Nestes termos, pede deferimento. Recife, 11 de agosto de 2020. VANESSA CAVALCANTI MELO DE LIMA Advogada OAB/PE 50.869
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