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Resumo ciência política

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NOÇÃO CIÊNCIA POLÍTICA
A ciência política é o ramo do saber que se ocupa da organização e governação das coletividades politicamente organizadas. Diz respeito à forma como as sociedades se organizam para satisfazer as suas necessidades coletivas, desde a defesa e segurança atá aos serviços coletivos básicos. É uma disciplina que envolve matérias como o modo de seleção e designação dos governantes, a organização dos órgãos de governo, a sua relação com os governados, os partidos políticos e os grupos de interesse, as eleições e os referendos, as formas e os níveis de organização política territorial, etc. 
CIÊNCIA POLÍTICA E DISCIPLINAS PRÓXIMAS
a) Ciência política e doutrinas políticas 
A ciência política ocupa-se em analisar e compreender como se organizam e funcionam as sociedades políticas tal como existem; as doutrinas políticas ocupam-se com o modo como se devem organizar e funcionar as sociedades políticas, em função dos mais variados critérios. O mesmo vale para as ideologias políticas, que são a expressão das doutrinas políticas na ação política. Por isso, nem as doutrinas políticas nem as ideologias políticas são objeto enquanto tais da ciência política. 
b) Ciência política e sociologia política 
A ciência política compreende a sociologia política, que por sua vez é um ramo da sociologia, que tem por objeto o estudo dos comportamentos de indivíduos e grupos na esfera política. Ao passo que a ciência política se ocupa dos sistemas eleitorais enquanto formas de organização do sufrágio e das suas consequências sobre o sistema de partidos e a forma de governo, a sociologia eleitoral, ocupa-se em estudar os comportamentos dos eleitores sob o ponto de vista dos fatores que determinam as suas opções eleitorais. 
c) Ciência política e direito constitucional 
Tanto a ciência política como o direito constitucional têm por objeto a organização política. O direito constitucional é uma disciplina jurídica, e como tal, tem por objeto as normas constitucionais, ocupando-se dos poderes, dos direitos e deveres de cada órgão nas suas relações com os outros, do seu funcionamento; é o estatuto jurídico do político. 
A ciência política tem por objeto os factos políticos (incluindo as normas constitucionais), incide sobre o funcionamento real do político, independentemente da sua conformidade com as normas.
O OBJETO DA CIÊNCIA POLÍTICA
As diferentes perspetivas 
Esquematicamente podem distinguir-se três perspetivas teóricas principais quanto ao objeto da ciência política: a perspetiva do Estado; a perspetiva do poder político; a perspetiva do sistema política. 
· A ciência política como ciência do Estado 
À luz desta perspetiva, a ciência política tem por objeto o estudo da organização e funcionamento do Estado, enquanto forma caraterística de organização política das sociedades modernas. A verdade é que o Estado continua a ocupar um lugar importante na ciência política. De entre os problemas que ela aborda contam-se tradicionalmente as matérias dos elementos do Estado e das funções do Estado. 
I - Os elementos do Estado 
a) O território: constitui a delimitação física do poder do Estado, constante das suas fronteiras com outros Estados. É o território que delimita o espaço de eficácia da soberania do Estado e das suas leis. Pode haver povos ou nações sem território, mas não pode haver Estado sem território, pois este é pordefinição uma entidade territorial. 
Além do território terrestre, existe o espaço aéreo suprajacente aquele, e no caso dos Estados ribeirinhos do mar, o território marítimo adjacente, o mar territorial, onde o Estado exerce poderes de soberania exclusivos (a largura é atualmente 12 milhas). 
b) A população: é o substrato pessoal do Estado é a respetiva população, o conjunto dos seus nacionais. O Estado nacional moderno baseia-se justamente numa coletividade nacional, identificada por traços de pertença comuns. Daí a importância da noção de nacionalidade ou cidadania nacional, que estabelece a relação jurídica entre as pessoas e um determinado Estado, distinguindo-a dos estrangeiros, que não gozam de um certo conjunto de direitos, que são reservados para os nacionais. Existem fundamentalmente dois critérios de nacionalidade: o ius soli (são nacionais de determinado Estado as pessoas que nascem no seu território, independentemente da nacionalidade dos progenitores) e o ius sanguinis (são nacionais de um determinado Estado os filhos dos seus nacionais, independentemente de terem ou não nascido no seu território). Em Portugal prevaleceu o ius sanguinis. O conjunto dos cidadãos de um Estado constitui o respetivo povo, o qual no moderno Estado representativo é o titular da soberania (princípio da soberania popular).
c) A soberania: consiste essencialmente na capacidade de um povo de definir autonomamente o modo de se governar e de regular a vida coletiva, dotando-se para isso dos órgãos de poder político ("órgãos de soberania") e de leis adequadas. Tal consiste na autodeterminação e no autogoverno. Além disso, a soberania implica o exercício do poder político sobre o território e sobre os seus residentes. 
II - As funções do Estado 
Até ao advento da era constitucional e desde Aristóteles, distinguiam-se essencialmente três funções: a função legislativa, a função política e administrativa externa e interna, e a função judicial. Foi com base nesta tríade que no século XVIII Locke e Montesquieu desenvolveram a teoria da separação de poderes, repartindo as três funções por três órgãos separados, respetivamente a assembleia legislativa (o parlamento), o poder executivo (chefe do Estado e governo) e os tribunais. 
No entanto, com Sieyès, autonomizou-se uma quarta função, a função constituinte, traduzida na função de aprovação originária e posterior revisão da Lei fundamental. As referidas três funções passaram a ser funções constituídas, porque baseadas na Constituição.
A ciência política como ciência do poder político 
Nesta perspetiva a ciência política tem por objeto o estudo dos modos de acesso, exercício e controlo do poder político. É a perspetiva dominante na ciência política contemporânea. O Estado não constitui a única forma de organização do poder político, uma vez que este é inerente a todas a formas de organização social, desde as comunidades primitivas até às recentes entidades supranacionais, passando pelo moderno Estado nacional. 
I - Poder e autoridade 
O poder pode ser definido, como a capacidade de um indivíduo, grupo, ou instituição impor a sua vontade a outrem ou pelo menos condicionar a sua atividade. Impõe à coletividade geral ou a uma parte dela um determinado comportamento, incluindo o poder de coerção, mediante o uso ou a ameaça de uso da força. Todo o poder procura suscitar aceitação ou o consentimento por parte dos que lhe estão submetidos. Nesse caso o poder torna-se autoridade, aceite como poder legítimo. Poder sem legitimidade é violência e opressão. Foi Max Weber que pela primeira vez procedeu à classificação das diferentes formas de legitimidade do poder, tendo distinguido três formas típicas 
- Legitimidade tradicional: baseada em costumes e normas tradicionais de sucessão do poder, nomeadamente pela sucessão hereditária e na distinção de nascimento entre senhores e súbditos; 
- Legitimidade carismática: baseada na capacidade e carisma dos governantes para atraírem a adesão dos subordinados, assente em dotes de liderança e de comunicação dos governantes; 
- Legitimidade legal-racional: típica de legitimidade do poder nas sociedades políticas modernas, sendo baseada em instrumentos jurídicos gerais e abstratos (constituições e leis): o poder deriva da lei. 
II - Teorias do poder político 
a) A teoria pluralista: é a perspetiva prevalecente na teoria política contemporânea em relação às sociedades democráticas - assenta nos seguintes pressupostos: 
(1) Não existe um poder dominante, ou pelo menos duradouramente dominante, estando o poder disperso por uma multiplicidade de grupos sociais e políticos, nenhum dos quais se pode tornar totalmente dominante; 
(2) a políticaé fundamentalmente o resultado da competição entre vários grupos de interesse envolvidos na apropriação dos recursos e dos serviços do Estado; 
(3) o poder político está fragmentado e nenhum dos vários grupos em competição é suficientemente forte para se impor definitivamente aos outros. 
b) A teoria da elite do poder: o modelo da elite do poder ou da elite dominante pretende pôr em relevo que, o poder político esta concentrado num grupo social particularmente estreito, dotado de uma maior ou menor coesão interna, partilhando origens sociais, condição económica e educação comuns. 
c) A teoria da classe dominante: este modelo é fundamentalmente marxista, sendo as classes definidas em função sobretudo da relação com os meios de produção (propriedade da terra, do capital). Nuna formação social concreta, existem várias classes que por sua vez se subdividem em frações de classes. Deste modo, o poder político está ligado não a uma, mas a várias classes dominantes; não a uma classe no seu conjunto, mas a uma ou várias frações de classes. Contudo, uma das classes ou frações politicamente dominantes detém a hegemonia dentro do ‘’bloco de poder’’. III. A limitação do poder político 
Deve-se essencialmente a Locke, Montesquieu e Tocqueville a construção moderna de uma teoria da limitação do poder, cujos elementos confluem na conceção geral do governo representativo e do Estado de direito. Os seus principais elementos são: 
- O governo representativo e a submissão periódica dos titulares do poder a eleições; 
- A repartição dos poderes por diferentes órgãos do poder, separados e autónomos entre si, em especial, a independência dos tribunais. 
- A consagração constitucional de um núcleo de direitos fundamentais dos cidadãos, que constituem limite a ação do Estado; 
- A instituição de um conjunto de meios de tutela das posições dos particulares contra o Estado, designadamente o controlo judicial dos atos do poder e a reparação dos danos causados pela ação do Estado.
ORIGEM E TRANSFORMAÇÕES DO ESTADO MODERNO
Da Idade média ao Estado absoluto (século XV-XVIII) 
Dois fatores contribuíram decisivamente para a formação do moderno Estado nacional na Europa ao longo da chamada Era Moderna (séculos XVI-XVIII): 
- A unificação e centralização do poder dos monarcas, em prejuízo do poder dos senhores feudais e da autonomia dos municípios e das corporações profissionais urbanas; houve uma progressiva eliminação das fronteiras internas, bem como a concentração de todos os poderes e do poder militar nas mãos do rei; 
- A emancipação dos reis em relação a suserania do papa e do Império, tendo como consequência a afirmação da autonomia e independência dos Estados nacionais face a qualquer poder exterior; foram o ponto de viragem nessa transformação, ao emancipar os Estados protestantes do Norte em relação ao Império e ao papado, ao criar novos Estados na Europa e ao fragmentar o Império num grande número de Estados alemães relativamente autónomos. 
Deste movimento, resultou o Estado absoluto do sec. XVIII, soberano tanto na ordem interna, face à multiplicidade dos antigos poderes senhoriais e municipais, como na ordem externa, face ao antigo poder suserano do Papa ou face ao Império. O Estado absoluto (sec. XVII-XVIII) é um Estado centralizado, dotado de um aparelho administrativo de âmbito nacional, em que o rei concentra todos os poderes. A monarquia absoluta é caraterizada pela progressiva extinção das antigas cortes medievais e da autonomia municipal. O Estado absoluto é também um Estado intervencionista na esfera económica. É também um Estado que cuida da instrução pública das elites, seculariza e reforma as universidades e fomenta as artes ("despotismo esclarecido"). 
A revolução liberal e o Estado liberal (fins do século XVIII-XIX) 
A revolução liberal traduziu-se no fim do Estado absoluto, contrapondo-lhe a edução das funções do Estado, a limitação do poder pelos direitos dos cidadãos e pelo “governo representativo”, a submissão do Governo e da Administração à lei emanada da assembleia representativa, a separação dos poderes, a limitação das atribuições do Estado às tarefas de defesa, de segurança e polícia. A constituição passou a ser a lei suprema do Estado (Estado constitucional). 
O Estado constitucional liberal que emerge das revoluções liberais é caracterizada pela: 
- A soberania nacional como fundamento do poder político, suprimindo a teoria da origem divina ou endógena do poder dos reis; 
- A limitação das atribuições e da atividade do Estado, baseado na separação entre o Estado e a sociedade e no abstencionismo na esfera económica, social e cultural;
 - A separação dos poderes, entre o poder legislativo, o poder executivo e o poder judicial; 
- A garantia da liberdade e da propriedade dos cidadãos, bem como a sua igualdade perante a lei, como fundamentos dos direitos do homem e do cidadão (Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, em França); 
- O fim dos privilégios de nascimento, substituídos pela igualdade de direitos, e a substituição da noção de súbdito pela de cidadão; 
- A regulação do poder político pela Constituição e a limitação do poder executivo pela lei como fundamentos do novo Estado de direito, em contraposição com o Estado acima do Direito, que era o Estado absoluto, imune à lei. 
Os elementos do Estado Liberal são os seguintes: 
- A Constituição como elemento ordenador da organização e funcionamento dos órgãos do poder; 
- A separação dos poderes, com reserva do poder legislativo para o parlamento, da função executiva para o rei e da função judicial para os tribunais; 
- O princípio da legalidade da administração (supremacia da lei e prevalência da lei); 
- A garantia dos direitos dos cidadãos, sobretudo em matéria de liberdades pessoais e de propriedade; 
- Reserva da função judicial para os tribunais e independência dos tribunais; 
- A separação entre a esfera do Estado e a da sociedade, com limitação da atividade do Estado e o respeito da mais ampla esfera de ação aos particulares; 
- A liberdade de profissão e de comércio e indústria, com supressão dos monopólios profissionais e económicos do Antigo regime e afirmação plena da liberdade económica individual, sem ingerência do Estado (capitalismo laissez faire).
As transformações do Estado liberal (séculos XIX-XX) 
a) Do liberalismo económico ao Estado intervencionista e ao Estado regulador 
No século XX, depois da I Guerra Mundial (1914-18) e da II Guerra Mundial (1939-45), deu-se o aumento das atribuições do Estado em todas as esferas: na construção das infraestruturas económicas, na regulação da economia e na própria produção económica, na segurança social, na saúde, na educação e na cultura. Esse aumento das tarefas do Estado reflete-se num crescente aumento das despesas do Estado ("lei de Wagner"). O Estado transformou-se num garante do desempenho económico do país, no fornecedor de serviços públicos básicos de prestações à coletividade. O primitivo Estado liberal abstencionista tornou-se num “Estado intervencionista”, quer como "Estado económico" quer como "Estado social". Este modelo do Estado intervencionista tem estado em recuo, sob o efeito de um movimento neoliberal, apostado em diminuir as tarefas do Estado, desde logo no campo económico e das prestações sociais. Daí os fenómenos da privatização das empresas públicas, da liberalização de atividades anteriormente sujeitas a regime de exclusivo e da delegação de serviços públicos a entidades privadas. O Estado torna-se essencialmente um Estado regulador da vida económica e um Estado financiador dos serviços públicos prestados por entidades privadas. 
b) O crescimento do governo e a da complexidade da organização administrativa 
O crescimento da atividade do Estado foi acompanhado pelo aumento da dimensão dos governos e da administração, bem como pela sua crescente diferenciação e especialização funcional. No século XIX os governos eram exíguos e a administração também era reduzida. Hoje os governos têm dezenas de membros e a administração pública emprega uma grandeparte da população ativa de todos os países. Além disso, deram-se fenómenos de descentralização e de desconcentração administrativa, que tornaram muito mais complexa a administração pública. 
c) Da contraposição Estado-indivíduo à tríade Estado-grupos-indivíduos 
O Estado liberal assentava no individualismo; tinha uma hostilidade congénita contra as associações e grupos organizados, nos quais via o perigo da restauração das corporações e instituições do "Antigo Regime", que eram fonte de privilégio e que constrangiam a liberdade individual. O paradigma liberal representava assim uma contraposição entre o Estado e o indivíduo. Na separação Estado-sociedade, a sociedade não era mais do que o conjunto inorgânico dos indivíduos, independentes de grupos organizados, associações, etc. Todavia, ao longo destes dois séculos continuou a densificar-se uma rede cada vez mais complexa de grupos sociais organizados, desde os sindicatos e associações patronais, até às modernas associações de defesa do ambiente e de outros interesses difusos. Ora, uma parte desses grupos de interesse funcionam hoje como estruturas de intermediação política entre os seus membros e o Estado, quando não compartilham mesmo de tarefas de formulação e implementação política, através dos mais variados mecanismos de concertação social ou do exercício delegado de funções públicas. 
d) Do governo simplesmente representativo à democracia representativa 
O Estado liberal oitocentista assentava na ideia do governo representativo, pela qual a lei era produto da assembleia representativa, composta por deputados eleitos, e o executivo respondia politicamente perante a mesma. Mas no início o parlamento era pouco representativo, devido as limitações do sufrágio eleitoral, quer por motivos económicos ("sufrágio censitário", que reservava o voto para as classes possidentes), quer por motivos de instrução (excluindo os iletrados, que eram obviamente também os trabalhadores e os pobres em geral), quer pela exclusão das mulheres (sufrágio exclusivamente masculino). O Estado oitocentista era tudo menos democrático. 
A partir de meados do século XIX, inicia-se a luta pelo alargamento do sufrágio, que mais tarde se transforma na luta pelo sufrágio universal (uma pessoa, um voto). 
O resultado desta evolução foi a edificação da democracia representativa, baseada no sufrágio universal e no pluralismo partidário. Ainda assim, este movimento verificou-se apenas na Europa Ocidental, EUA e Canadá. Muitos Países não passaram por revoluções liberais ou caíram depois em regimes autoritários de vários matizes. Nesses casos a transição democrática ocorreu mais tarde através da passagem direta do autoritarismo para a democracia. 
e) Do Estado monoclassista ao Estado pluriclassista 
O Estado liberal oitocentista era um Estado monoclassista, que expressava o poder da aristocracia fundiária e da burguesia industrial e comercial. As demais classes sociais não compartilhavam do poder, não tinham direito de voto, não estavam representados no parlamento, nem muito menos no governo e nas demais instâncias do poder. Os trabalhadores não gozavam de qualquer proteção e tampouco existia um sistema público de proteção social. Era o típico Estado burguês, denunciado e combatido pelo movimento operário e socialista. Progressivamente, deram-se transformações no sentido da integração de novas camadas e classes sociais no sistema político. Isso deveu-se à generalização da instrução, à ampliação do sufrágio, ao fenómeno da urbanização populacional, à entrada em cena dos partidos socialistas e social-democratas, ao reforço dos sindicatos, ao nascimento do direito do trabalho e da segurança social, ao aparecimento do campesinato como protagonista político, à ampliação da base social do recrutamento do pessoal da administração pública e das magistraturas, e por último à democratização do acesso ao ensino superior. 
f) O aprofundamento do Estado de direito 
O Estado de direito liberal era em grande parte desprovido de garantias eficazes contra os abusos do poder, visto que não havia controlo judicial da constitucionalidade das leis e dos atos do Estado e a administração preservava prerrogativas especiais, imunes à proteção judicial dos cidadãos (privilégio da execução prévia – os tribunais podem dar ordens à Administração). Foi-se ampliando a vinculação constitucional dos titulares do poder, sobretudo pela expansão dos direitos fundamentais dos cidadãos, mas também a vinculação legal da administração pública. No século XX generalizou-se o controlo judicial da constitucionalidade das leis, ampliaram-se os mecanismos e os instrumentos da justiça administrativa, garantindo melhor os direitos dos particulares. 
g) A secularização do Estado numa sociedade de pluralismo religioso 
O Estado liberal oitocentista baseava-se na velha conceção da origem divina do poder, mas não abandonou a conexão com a igreja dominante. Em diversos países continuou a haver uma religião oficial, com discriminação entre as diferentes igrejas e limitações à liberdade e à igualdade religiosa. Com o tempo, juntamente com a secularização da sociedade e das relações sociais, foi-se afirmando o princípio da separação entre o Estado e a religião, resultando na laicização do Estado no reconhecimento da liberdade religiosa, sobretudo nos Países religiosamente plurais. 
h) A descentralização político-administrativa do Estado 
Um dos desenvolvimentos caraterísticos destes dois séculos foi justamente o movimento descentralizador. Ele passou sobretudo pela ampliação e reforço da autonomia municipal, bem como pela criação de novas instâncias territoriais intraestaduais, mas também supramunicipais. Em vários Países assistiu-se também a formas de descentralização político-administrativa por meio de regiões de tipo especial, dotadas de poderes legislativos e de governo próprio, sem implicarem uma conversão federal do Estado unitário. 
i) A globalização e a integração transnacional dos Estados 
Hoje, tal como os indivíduos surgem integrados em grupos, também os Estados estão inseridos numa densa rede de organizações internacionais, umas de âmbito mundial (ONU), outras de âmbito regional (Conselho da Europa), para os mais variados fins (defesa, cooperação económica, etc.). Algumas dessas organizações dispõem de poderes que se impõem diretamente na esfera interna dos Estados membros, sem passar pela intermediação dos seus órgãos nacionais próprios (União Europeia). A par desses movimentos de integração supranacional, progrediu o movimento de "globalização económica", que se traduziu na abolição de fronteiras aos movimentos de capitais, do comércio, das comunicações. Tudo isso contribui para reduzir o papel das fronteiras territoriais do Estados e, portanto, reduzir o antigo poder soberano dos Estados dentro delas. Atualmente, há cada vez mais problemas que transbordam as fronteiras nacionais e que não têm solução nacional, mas somente no plano internacional. Assim, tanto pela via da descentralização territorial interna, quer por via da integração supranacional e da globalização, o velho Estado nacional soberano do absolutismo e do período liberal está em vias de crescente desgaste. Multiplicam-se aos casos de “governo em vários níveis”, que traduzem uma “separação vertical de poderes”, baseada na subsidiariedade dos níveis superiores do poder.
OS AGENTES POLÍTICOS
OS CIDADÃOS 
Do súbdito ao cidadão 
Os primeiros protagonistas da vida política são os cidadãos, os membros da nação ou da república, que no conjunto são os titulares da soberania. Cidadãos são as pessoas que tem o direito de participar na vida política, gozando dos direitos de cidadania, a começar pelo direito de voto. Antes, só havia súbditos submetidos ao poder, não titulares nem comparticipantes dele. A qualidade de cidadão traduzia-se desde logo num conjunto de direitos de intervenção na constituição dos órgãos do poder, expresso sobretudo no direito de sufrágio para eleição dos representantes ao parlamento e noutros direitos adjacentes. Os direitos de liberdade eram"direitos negativos", e os direitos de participação política eram "direitos ativos", nomeadamente através do voto. Todavia, no primitivo Estado liberal, nem todas as pessoas eram cidadãs, apesar do conceito universal de cidadania e da ideia de soberania popular. A ideia liberal reservava os direitos de cidadão ativo às pessoas economicamente independentes e esclarecidas, no pressuposto de que não podia participar na cidadania quem fosse profissionalmente ou pessoalmente dependente (trabalhadores assalariados e com as mulheres) ou quem não pudesse participar efetivamente da discussão pública, por ser iletrado. Tudo isto reduzia o número de titulares do direito de voto a uma pequena proporção da população, e ainda mais reduzido era o número de elegíveis. 
Os Direitos de cidadania nas democracias modernas (direito de voto de candidatura a cargos públicos, participação em referendos, iniciativa legislativa popular e de referendo, direito de petição, Acão popular, participação em partidos políticos, liberdade de expressão e manifestação, direito de reunião e manifestação) 
Cidadania e nacionalidade 
Existem dois grandes critérios da nacionalidade, o ius sanguinis (são nacionais de um Estado os filhos de nacionais, mesmo que tenham nascido fora do território nacional) e ius soli (são nacionais de um Estado os que nascem no seu território, mesmo que os progenitores não sejam nacionais desse Estado). As sociedades são cada vez mais caraterizadas pela existência de consideráveis contingentes de estrangeiros, mercê dos fenómenos de migração e de globalização. É cada vez mais frequente o reconhecimento de direitos políticos a estrangeiros, pelo que deixou de haver nexo obrigatório entre nacionalidade e cidadania. Assim, no âmbito da União Europeia, a chamada "cidadania europeia" implica não somente a liberdade de circulação e de residência em qualquer parte do território da União, mas também o direito de voto e de candidatura eleitoral dos nacionais de países da UE residentes noutros Estados-membros, tanto nas eleições locais como nas eleições para o Parlamento Europeu.
OS GRUPOS DE INTERESSES 
Noção e características 
No início do Estado liberal eram proibidas todas as associações, mas hoje, estas organizações sociais designam-se genericamente por "grupos de interesse". São organizações votadas à defesa de interesses coletivos, apostados em exercer uma influência ou pressão sobre os poderes públicos, a fim de obterem destes decisões favoráveis aos seus interesses. Por isso se designam também muitas vezes por "grupos de pressão". A definição de grupos de interesse requer fundamentalmente a reunião de três elementos: 
a) A existência de um grupo organizado: nas sociedades modernas os indivíduos não podem influir eficazmente sobre as estruturas do poder, se não estiverem organizados. 
Contudo, por vezes, desencadeiam-se manifestações esporádicas e efémeras, resultando daí ações poderosas e violentas, que se dissipam uma vez desaparecida a causa desencadeante. Outras vezes, constituem-se verdadeiras organizações bem estruturadas e especializadas na articulação de interesses, com cariz voluntário e duradouro — estas são as caraterísticas dos grupos de interesse. 
b) Defesa de interesses: nesse conceito cabem tanto os grupos de defesa de interesses materiais, como aqueles que lutam por ideias, no sentido de que, se uns se ocupam de causas materiais, outros privilegiam causas morais. 
c) O exercício de uma influência ou pressão: aqui distinguem-se os ‘’grupos de interesses’’ e ‘’grupos de pressão’’, na base de que os primeiros não procuram exercer uma influência sobre a estrutura política. Sendo assim, todos os grupos de pressão seriam grupos de interesse, mas o contrário não se verifica. Contudo, todos os grupos de interesse são virtualmente grupos de pressão, pois a sua primeira função é representar o grupo e os seus interesses perante os poderes públicos ou perante outros grupos. Importa frisar a distinção entre grupos de interesse e partidos políticos. Os os grupos de interesses visam a representação e defesa de interesses setoriais, sendo organizações especializadas, e agem do exterior, quer diretamente, quer através dos partidos, sobre o governo, defendendo os seus interesses de grupo sem pretenderem tomar a responsabilidade do poder. Os partidos políticos têm em geral um escopo genérico, defendendo posições sobre todas as questões políticas e sociais, sendo, portanto, organizações "transversais", multifuncionais ou genéricas, toda a ação dos partidos é tendente ao controle, à conquista ou conservação do poder, ao passo que os grupos de interesse têm uma finalidade diferente. 
Tipologia dos grupos de interesse 
Os grupos de interesse visam a prossecução de interesses privativos dos seus membros; mas também existem grupos que prosseguem interesses que transcendem os seus membros. Tendo em conta a relação entre os interesses prosseguidos e os membros do grupo, podemos distinguir entre os grupos de interesse particulares (organizações sindicais e patronais) e os grupos de interesse público (grupos ecologistas e patrimonialistas). As ONGs são em geral organizações altruístas. Quanto à sua coesão interna, há que distinguir por um lado, os pequenos grupos coesos, que congregam praticamente todos possíveis interessados e que por isso tem um grande poder de reivindicação e de mobilização dos seus membros, e por outro lado, os grandes grupos de interesse, mais ou menos dispersos e difusos, que tem de enfrentar o fenómeno do free rider, isto é, dos membros do grupo que aproveitam "a boleia" da atividade do mesmo mas que não aderem à organização do grupo, não financiam a sua atividade nem participam nas suas atividades e apesar disso beneficiam das vantagens resultantes da sua ação. 
Funções dos grupos de interesse 
- Reunião e articulação dos numerosos interesses individuais dos seus membros num único interesse coletivo; 
- Representação externa do interesse coletivo do grupo, perante outros grupos e perante os poderes públicos; 
- Funcionar como grupo de pressão na prossecução dos interesses coletivos do grupo perante o poder político e outros grupos; 
- Participação, em representação da coletividade dos membros, nos organismos oficiais correspondentes, bem como nos organismos de "concertação social" porventura existentes; entre eles ocupa lugar de relevo os conselhos económico-sociais de âmbito nacional e os múltiplos conselhos consultivos em matéria económica, social, cultural, educativa, etc. existentes junto dos departamentos governamentais e outras instituições públicas.
Lobbying 
Uma das funções primordiais dos grupos de interesse consiste na representação e defesa dos respetivos interesses junto dos decisores políticos mediante sensibilização para os respetivos interesses, fornecimento de informações, apresentação de posições e de reivindicações, etc. Essa atividade, que pode ser exercida diretamente ou por meio de agentes profissionais, tem o nome de lobbying.
OS PARTIDOS POLÍTICOS 
Interesses e ideologias 
Numa comunidade politicamente organizada os cidadãos tendem a posicionar-se e a agrupar-se politicamente de acordo com dois grandes vetores: os seus interesses individuais ou de grupo e as suas conceções políticas, doutrinárias ou morais. Os mais importantes interesses individuais ou de grupo são os de caráter económico. 
Desde a Revolução Francesa, a clivagem política mais importante é entre a esquerda e a direita. Nas atuais comunidades políticas complexas essa dicotomia direita-esquerda é substituída por um leque plural e contínuo, desde a extrema-direita à extrema-esquerda, passando pela direita moderada (centro-direita) e pela esquerda moderada (centro-esquerda). 
Todavia, a distinção direita-esquerda pode ser esbatida ou mesmo cancelada no caso dos partidos regionalistas ou independentistas, que tendem a unir todos os partidários da autonomia ou da independência contra o Estado central, independentemente das suas posições no leque direita-esquerda. 
Definição 
Os partidos políticos são organizaçõesduradouras de pessoas politicamente motivadas, na base de interesses, convicções e objetivos comuns, com o escopo de participar nos processos eleitorais e outros processos políticos e de intervir nos órgãos de poder político, sobretudo no parlamento e no governo. Na base do conceito está a ideia de "tomar partido", que evoluiu. Primeiro para designar correntes de opinião e os seus adeptos e em seguida para designar as organizações em que elas vieram mais tarde a cristalizar-se. 
São os seguintes os traços da definição de partido político. 
- organizações formais de tipo associativo; o que distingue os partidos das organizações informais; 
- organizações dotadas de permanência e vocação de continuidade temporal, por aí se distinguindo dos movimentos efémeros ou conjunturais;
- organizações que mantêm uma referência direta com o poder político, na medida em que lutam pela conquista do poder governamental; e isto distingue os partidos políticos dos grupos de interesse; 
- embora possam privilegiar determinados interesses sociais, tendem a apelar a círculos mais amplos de cidadãos; 
- reclamam-se de um certo conjunto de doutrinas ou valores sobre a organização política, social, económica e cultural, etc. (liberalismo, socialismo, conservadorismo, tradicionalismo, etc.). Um partido político exige a conjunção de quatro requisitos: 
a) Uma organização duradoura, capaz de sobreviver politicamente aos seus dirigentes; 
b) Uma organização complexa, incluindo estruturas de nível local, o que implica a manutenção de relações entre as cúpulas e as unidades de base; 
c) A vontade deliberada dos dirigentes da organização de tomar e exercer o poder, e não apenas de o influenciar; 
d) A preocupação de conquistar um apoio popular, especialmente, mas não só, por via eleitoral. 
A origem dos partidos políticos 
O aparecimento dos partidos políticos está ligado ao nascimento do sistema de governo liberal-representativo subsequente às revoluções liberais e à consequente possibilidade de expressão política de diversos interesses sociais e diferentes perspetivas ideológicas através das eleições para o parlamento. Surgem como resposta à necessidade de dar expressão aos interesses das várias classes e camadas sociais e diferentes posições ideológicas com elas conexas. Duverger distinguiu dois processos típicos de formação dos partidos políticos, dando lugar, portanto a dois tipos de partidos: 
a) Partidos de origem eleitoral e parlamentar: a origem dos partidos aparece ligada ao desenvolvimento do governo representativo e das prerrogativas parlamentares. No parlamento os deputados que compartilhem opiniões semelhantes vão reunir-se em grupos parlamentares, a fim de fazerem vingar coordenadamente os seus pontos de vista no debate e nas votações parlamentares. A progressiva extensão do sufrágio provocou a formação de comités eleitorais, que irão permitir o necessário enquadramento e mobilização eleitoral das novas camadas sociais chegadas à arena política. É da coordenação dos grupos parlamentares e dos comités eleitorais que surgem os primeiros partidos políticos modernos. 
b) Partidos de origem exterior à vida parlamentar: têm origem em contextos alheios ao parlamento promovidos por grupos de interesse ou por iniciativa de movimentos ideológicos desejosos de intervir na esfera política, mas sem acesso ou com escasso acesso ao parlamento. 
A estrutura do poder dentro dos partidos 
Robert Michel procurou provar que a necessidade de profissionalização dos papéis políticos dentro dos partidos leva a uma tendência necessária para um poder oligárquico na organização dos partidos políticos. Procurou mostrar a ilusão das teses socialistas de democracia, baseadas na igualdade e na participação coletiva, mostrando que ela é impossível nas grandes organizações, mesmo dentro do próprio partido socialista. O crescimento da organização partidária e a necessidade de especialização de certas funções levam necessariamente à criação de uma ‘’elite operária’’ dentro dos partidos. 
Surge a tendência burocrática, ligada à necessidade de exigir um enorme aparelho administrativo, hierarquizado e fortemente articulado, necessário para manter em andamento essa enorme organização. Michaels pretendeu a sua «lei de bronze da oligarquia» como uma autêntica lei social, necessária e inevitável, de todas as organizações sociais, sobretudo organizações de massas. Ele ignora as tendências contrárias à lei da obligarquia e esquece que tal tendência varia conforme os tipos de partidos seja como for, modernamente têm surgido várias ideias no sentido de tornar os partidos mais transparentes e menos burocráticos. 
Tipologia dos partidos políticos 
a) Partidos de notáveis (ou de quadros): este modelo é tipicamente originário dos partidos liberais e conservadores burgueses do século XIX, em geral de origem parlamentar, caraterizados pelo pequeno número de filiados, pela condição social destes, pela relativa falta de organização e pela natureza pouco formal desta, pela deficiente institucionalização do funcionamento partidário, pela seu caráter relativamente pouco centralizado, pela ausência de dirigentes políticos profissionais, pela falta de rigidez ideológica, pela função quase exclusivamente eleitoral do partido. 
Entretanto hoje, mesmo os partidos dessa origem perderam algumas dessas caraterísticas, adquirindo certas das caraterísticas dos partidos de massas. 
b) Partidos de massas: os partidos de massas assentam na filiação e na mobilização de grande número de pessoas, sendo caraterizados pela forte organização, pela existência de dirigentes e funcionários profissionais, por não estarem virados exclusivamente para a função eleitoral e parlamentar, pela forte estruturação ideológica. 
c) Partidos abrangentes: caraterizam-se pela estrutura social interclassista dos seus membros, pela fluidez ideológica e pelo pluralismo ou miscelânea doutrinária, pela função essencialmente eleitoral. São o produto por um lado da ampliação social dos antigos partidos de quadros e por outro lado da diversificarão social dos primitivos partidos socialistas e social-democratas. 
d) Os partidos autonomistas ou independentistas: têm uma base territorial determinada e agregam pessoas de diferente convicção ideológica, unidas mais pela vontade de conquistar a autonomia/independência da sua comunidade territorial do que em defender uma agenda ideológica específica.
Sistemas de partidos 
Designa-se por sistema de partidos o complexo determinado pelo número de partidos existente num sistema político, pela sua dimensão relativa e pelo tipo de relações que se estabelecem entre eles e o Estado. 
O critério base utilizado geralmente é o do número de partidos existentes. A tipologia tradicional é aquela que assenta numa tríade: monopartidarismo, bipartidarismo, pluripartidarismo. Introduziu-se a noção de subtipos, de acordo com a natureza ideológica dos partidos, ou com o tipo de relações entre eles. 
- Assim, dentro dos sistemas monopartidários distinguiu três subtipos: totalitários, autoritários e pragmáticos; 
- Dentro dos sistemas de partido hegemónico distinguiu dois subtipos: ideológicos e pragmáticos; 
- Finalmente, dentro dos sistemas pluripartidários distinguiu três subsistemas: centrípeto, atomizado e centrífugo. 
A esta tipologia numérica, acrescentou-se uma tipologia baseada fundamentalmente na existência ou não da competição partidária, dando lugar a uma tipologia dicotómica: sistemas competitivos e sistemas não competitivos.
As insuficiências daquela tipologia 
Um problema levantado pela tipologia numérica dos partidos políticos e o da dimensão relativa dos partidos políticos. Assim, por exemplo, diz-se que um sistema é de partido dominante quando, num sistema pluripartidário, um dos partidos se destaca; e diz-se que um sistema é bipartidário quando, num sistema pluripartidário, existem dois grandes partidos, de dimensão eleitoral aproximada e que, em conjunto, somem mais de 80% dos votos. Há que ter também em conta a diferente natureza e funções dos partidos políticos em sistemaspartidários dotados do mesmo número de partidos, mas que podem ser essencialmente diferentes. O sistema partidário não pode ser isolado do sistema político em que opera. O sistema de partidos é um importante elemento caraterizado do sistema político, mas o sistema político é igualmente um importante elemento diferenciador do sistema de partidos. Importa ter ainda em conta a duração e o grau de sedimentação e estabilidade do sistema partidário. Há os sistemas partidários consolidados e estabilizados há muito tempo, e os sistemas partidários recentes ou em formação, ainda não consolidados. Todas estas observações mostram como o critério numérico é só por si insuficiente para servir de critério a uma tipologia de sistemas partidários, e pode mesmo conduzir a resultados com pouca ou nenhuma ligação com a realidade. 
Os fundamentos da multiplicidade de sistemas partidários 
Apesar da insuficiência de um critério simplesmente numérico, o que é certo é que o número de partidos é uma variável de grande importância para a caraterização dos sistemas partidários e, do próprio sistema político. Importa, pois, analisar os fundamentos da multiplicidade de sistemas partidários no que respeita ao número de partidos. O primeiro fator é certamente a própria estrutura social e o seu reflexo no sistema político. Assim, numa sociedade dividida no fundamental em dois campos sociais, esse será um que joga a favor da formação de um sistema bipartidário. Numa sociedade mais complexa, de maior diversidade social, haverá aí um fator favorável a um sistema multipartidário. Naturalmente a alteração da estrutura social determina a transformação no sistema de partidos. Um segundo conjunto de aspetos integra os fatores étnicos, religiosos e linguísticos ou nacionais. As divisões desta natureza podem constituir fatores autónomos de formação partidária. Um terceiro conjunto de fatores na determinação dos sistemas partidários está ligado às guerras de libertação nacional e aos movimentos revolucionários vitoriosos. As guerras de independência conduziram muitas vezes à formação de sistemas monopartidários com origem no movimento de libertação, e que, permitiram "consumir" e anular as clivagens sociais ou de outra natureza. O sistema assim nascido tende a permanecer depois de conquistada a independência, agora na base de uma mobilização nacional para o desenvolvimento. 
Do mesmo modo, as revoluções podem tender igualmente para constituir sistemas monopartidários. As revoluções, conduzidas na base de uma mobilização contra uma classe ou elite dominante, uma vez vitoriosas, tendem a manter, durante um prazo mais ou menos longo, aquilo que na teoria das revoluções se chama "ditadura revolucionária". 
Sistemas de partidos e sistemas eleitorais: As "leis de Duverger" 
Segundo Duverger, haveria uma ligação direta entre o sistema eleitoral e o sistema partidário (fora os casos de monopartidarismo institucionalizado). O sistema eleitoral determinaria o sistema partidário. Assim: 
- O sistema eleitoral de representação proporcional conduziria a um sistema multipartidário; 
- O sistema eleitoral maioritário com duas voltas, conduz a um sistema multipartidário "temperado" por alianças e pela formação de dois blocos eleitorais de partidos; 
- O sistema eleitoral maioritário simples, conduziria a um sistema bipartidário. 
São estas as três leis sociológicas que determinam as relações entre o sistema eleitoral e o sistema partidário. 
- O sistema proporcional possibilita que todo e qualquer partido tenha possibilidade de fazer eleger deputados, portanto, à formação e permanência de vários partidos; 
- O sistema maioritário de duas voltas obriga a fazer alianças para a segunda volta, conduzindo, portanto, à formação de blocos ou coligações entre os partidos concorrentes na 1ª volta; 
- O sistema maioritário simples obriga à concentração de votos desde o início no partido com hipóteses de vencer, pois a dispersão de votos pode dar a vitória ao adversário. 
Finalmente, é fácil demonstrar que a alteração do sistema eleitoral conduz normalmente a alterações do sistema partidário no sentido indicado. 
Contudo, as teses de Duverger têm sido alvo de várias críticas que lhe têm reduzido grandemente o alcance. Em primeiro lugar, há situações que fogem às leis definidas por Duverger. Em segundo lugar, há casos em que, historicamente, foi o sistema partidário que determinou o sistema eleitoral e não o contrário.
Os partidos políticos em Portugal 
Na 1a fase da monarquia constitucional (1834-1851) a vida política organizava-se em torno da oposição entre cartistas (conservadores) e setembristas (progressistas). Os primeiros eram os partidários da Carta Constitucional de 1826 e os segundos eram os seguidores da Revolução de Setembro de 1836, que interrompeu a vigência da Carta e veio dar origem à Constituição de 1838. 
Na Regeneração (a partir de 1851) sobreveio o rotativismo entre regeneradores e históricos/progressistas, sendo os primeiros até certo ponto os herdeiros do cartismo e os segundos os herdeiros dos setembristas; mais tarde surgem as dissidências nesses dois partidos; e dá-se também o aparecimento do partido socialista e do partido republicano, anunciando a fragmentação do bipartidarismo liberal cartista na sua fase terminal. Na I República (1910-1926), o vitorioso PRP sofre logo duas dissidências em 1911: Partido evolucionista e Partido unionista, permanecendo, porém, o partido dominante sob designação popular de Partido Democrático. Depois da I Guerra Mundial dão-se outras dissidências: Partido Republicano Liberal, a Esquerda Democrática, entre vários; nasce em 1921 do Partido Comunista Português, que também não se chegou a enraizar nessa altura; no movimento operário predominava o anarco-sindicalismo, por definição hostil aos partidos e à participação na vida política. O Estado Novo (1926-1974) carateriza-se pela criação do partido único (a União Nacional), depois da ilegalização e desaparecimento dos partidos republicanos. À margem do sistema afirma-se na clandestinidade do PCP e a exígua "Causa monárquica", sem expressão política própria. Ocasionalmente, surgem os movimentos oposicionistas organizados ("oposição democrática") para intervenção nas fictícias eleições do regime, desde o MUD (Movimento de Unidade Democrática), logo após a II Guerra Mundial, até ao MDP CDE nascido já na fase “marcelista” do regime, nas eleições de 1969. No final do regime dá-se o renascimento tardio do PS, igualmente ilegal. Depois de 1974 ocorreu a ativação pública dos partidos clandestinos preexistentes (PCP, PS) e o aparecimento dos novos, PPD/PSD, CDS e outros. O sistema partidário manteve-se durante muito tempo como um modelo “4+1”, com quatro partidos permanentes de dimensão desigual, dois à esquerda e dois à direita, e uma pequena representação da extrema-esquerda. Como partidos dominantes, o PSD e o PS tÊm alternado no Governo, tendo repartido entre si as vitórias eleitorais, sozinhos ou em coligação. Isso tem levado a uma relativa instabilidade governativa, que Duverger associava aos sistemas pluripartidários e ao sistema eleitoral proporcional.
FORMAS DE EXPRESSÃO POLÍTICA
O voto e a participação 
As três formas típicas de intervenção política institucionalizada são as eleições, os referendos e outras formas de decisão popular e a participação direta nas instituições ou nas decisões dos órgãos representativos. 
Numa democracia representativa, a principal forma de expressão e intervenção política são as eleições para as assembleias representativas, a começar pelos parlamentos. A democracia representativa é antes de mais uma democracia eleitoral, através de eleições livres e periódicas por sufrágio universal, secreto, igual e direto. 
Há possibilidade de intervenção de cidadãos, partidos ou grupos de interesse nas decisões dos órgãos representativos ou executivos mediante a sua participação em mecanismos institucionalizados de consulta popular ou mediante a sua participação em órgãos de consulta ou de codecisão. 
Sistemas eleitorais das assembleias representativasDesigna-se por sistema eleitoral o modo como os votos dos eleitores são transformados em deputados nas assembleias representativas. Portanto, têm-se aqui em conta somente as eleições parlamentares - que são as eleições principais, pelo menos nas democracias parlamentares - sem considerar as "eleições de segundo grau", como são as eleições presidenciais, as eleições locais e as eleições europeias. As variáveis principais de um sistema eleitoral são o número de deputados das assembleias; repartição desse número pelos círculos eleitorais; existência ou não de níveis diversos de círculos eleitorais; tipo de candidaturas; fórmula ou método eleitoral, conforme seja maioritário ou proporcional; existência ou não de "cláusulas-barreira"; modo de votação dos eleitores. 
O sufrágio 
No início, o sistema de governo representativo baseava-se no sufrágio restrito, ou seja, limitações censitárias (riqueza) e capacitárias (habilitações literárias), limitações com base no sexo. Só no século XX é que se atingiu o sufrágio universal, ou seja, o reconhecimento do direito de voto a todos os adultos, excetuadas algumas incapacidades (por exemplo, alienação mental), fazendo assim coincidir a capacidade eleitoral tendencialmente com a capacidade civil. 
Existem vários tipos de sufrágio. O sufrágio direto onde os eleitores escolhem diretamente os membros dos órgãos eletivos, como é norma nos regimes democráticos; o sufrágio indireto onde os eleitores escolhem somente os delegados ou o "colégio eleitoral" que hão de escolher os governantes, como sucede ainda hoje na eleição do presidente dos Estados Unidos; o sufrágio individual onde os cidadãos, individualmente, que elegem diretamente os órgãos eletivos, como sucede nos regimes democráticos, com base na cidadania individual; o sufrágio orgânico onde estes são escolhidos por organismos sociais ou políticos. Foi este o sistema dominante nos regimes corporativistas dos anos trinta e quarenta do século passado. 
Os tipos básicos de sistema eleitoral 
Existem dois tipos básicos de sistema eleitoral. Os sistemas eleitorais maioritários, em que a eleição dos deputados, normalmente efetuada em círculos uninominais (elegem só 1 deputado), faz-se de acordo com a regra da maioria simples de votos, sendo eleito o candidato que tiver mais votos. E os sistemas eleitorais proporcionais, em que a eleição dos deputados, sempre efetuada em círculos plurinominais (elegem mais do que 1 candidato), implica uma repartição dos eleitos entre as listas concorrentes, de acordo com a proporção de votos de cada uma no conjunto dos votos do correspondente círculo eleitoral. E existem sistemas mistos, que conjugam ou misturam, de diversa maneira, ambos os sistemas básicos. 
I - Sistemas maioritários 
Nestes sistemas, os deputados são eleitos em princípio em círculos uninominais, havendo tantos círculos eleitorais quantos os deputados a eleger. 
Nos sistemas eleitorais de maioria relativa, em cada círculo eleitoral é eleito o candidato que tiver mais votos, por mais pequena que seja a percentagem na votação total. 
Nos sistemas eleitorais de maioria absoluta, exige-se que o vencedor tenha mais de metade do total dos votos. Este sistema apresenta vários métodos distintos, sendo mais conhecidos o método da segunda volta onde exige uma segunda volta, caso na primeira nenhum candidato tenha obtido maioria absoluta dos votos, podendo a segunda volta ser reservada aos dois candidatos mais votados na primeira volta, ou ser alargada aos que tenham superado uma certa percentagem mínima na 1ª volta. E o método do voto alternativo, em que a maioria absoluta se obtém com uma única votação, na qual o eleitor, perante uma lista com todos os candidatos, deve escolher o candidato que prefere e indicar as alternativas, por ordem de preferência, para o caso de a sua primeira opção não sair vencedor.
II – Sistemas proporcionais 
Os sistemas eleitorais proporcionais, que pressupõem sempre círculos plurinominais, apresentam vários métodos eleitorais. 
1º - Método do quociente: consiste em obter o quociente da divisão entre o número de votos entrados e o número deputados a eleger em cada círculo eleitoral, compreendendo várias modalidades: 
a) Quociente de Hare (ou quociente natural): primeiro, o número total de votos efetivos (soma dos votos de todas as listas) é dividido pelo número de deputados a eleger no círculo, obtendo-se assim o quociente eleitoral; depois, divide-se o número de votos de cada lista por esse quociente, cabendo a cada lista um número de deputados igual ao resultado dessa divisão (= número de vezes que o quociente eleitoral cabe no número de votos de cada lista); se, depois de feitas as referidas divisões ainda houver deputados por atribuir, então recorre-se a um mecanismo subsidiário, que pode variar de sistema para sistema. 
b) Quociente de Hagenbach-Bischoff: o quociente eleitoral obtém-se pela divisão do número total de votos pelo número de deputados a eleger, acrescentado de 1. 
c) Quociente de Droop: é igual ao anterior, mas em que se acrescenta 1 ao resultado da divisão. 
2º - Método do divisor (ou da média mais alta): consiste em dividir o número de votos de cada partido por divisores crescentes e depois ordenar os resultados de todos essas divisões pela ordem de grandeza. Também reveste diversas modalidades, as mais conhecidas das quais são: 
a) Método de Hondt: os eleitores votam numa das listas de candidatos propostas; o número de votos obtido por cada lista é dividido sucessivamente por 1, 2, 3, etc. (teoricamente até ao número equivalente ao número de deputados a eleger no círculo); ordenam-se depois os resultados obtidos de todas as divisões, respeitantes a todos os candidatos, numa única série decrescente, com tantos resultados quantos os deputados a eleger; a cada lista cabem tantos deputados eleitos quantas as vezes que essa série incluir resultados pertencentes as divisões correspondentes a essa lista. 
b) Método de Sainte Lague: é igual ao método de Hondt, só que o número de votos de cada lista é dividido sucessivamente por um divisor ímpar (1, 3, 5, 7, etc.). 
c) Sistema do voto único transferível (STV, single transferable vote): vigente na Irlanda: os boletins de voto incluem a lista completa de todos os candidatos dos vários partidos, cabendo ao eleitor escolher os candidatos em que vota, assinalando-os de acordo com a sua ordem de preferência (1a, 2a, etc.), até ao número dos deputados que cabem ao círculo; calcula-se o quociente eleitoral, de acordo com um dos métodos de quociente acima referidos; somam-se as primeiras preferências de cada candidato; o candidato que na primeira preferência tiver atingido o quociente eleitoral considera-se eleito.
III - Sistemas eleitorais mistos 
Os sistemas eleitorais mistos podem revestir várias versões. Por exemplo: 
- Sistema maioritário em círculos plurinominais com representação de minorias, por meio de lista incompleta, de acordo com o qual a lista vencedora não elege todos os deputados do círculo, cabendo uma parte preestabelecida à segunda lista mais votada; 
- Coexistência territorial de círculos maioritários uninominais com círculos eleitorais proporcionais; 
- Conjugação de círculos eleitorais maioritários uninominais com um círculo nacional proporcional sobreposto. 
IV - Sistemas proporcionais personalizados 
O eleitor tem meios de influir na escolha pessoal dos deputados a eleger, diferentemente do que ocorre nos sistemas proporcionais com voto de lista fechada e bloqueada, em que o eleitor escolhe uma lista partidária. São de referir três em especial: 
- O sistema de voto único transferível, em que o eleitor escolhe individualmente os candidatos de entre os propostos nas diversas listas, ordenando-os de acordo com a sua preferência; 
- O sistema de lista fechada mas não bloqueada (Bélgica, Holanda), em que o eleitor pode marcar a sua preferência por um ou mais dos candidatos propostos na lista pela qual vota, podendo por isso decidir quem vai ser eleito em concreto, ou de lista aberta (Brasil, Grécia), em que o eleitor podevotar diretamente num dos candidatos das listas dos partidos, sendo eleitos os que tiverem mais votos dentro da lista de cada partido; 
- O sistema alemão: o apuramento do número de deputados eleitos por cada partido se faz proporcionalmente, num único círculo nacional, em que uma parte dos candidatos são apresentados em círculos uninominais em que é dividido o território eleitoral; os eleitores têm dois votos, um "voto de lista" e um voto no círculo uninominal; os candidatos ganhadores nesses círculos uninominais (por maioria relativa)integram necessariamente a quota dos deputados apurada a nível nacional para o respetivo partido. Posteriormente vão-se buscar os candidatos das listas plurinominais para completar o conjunto dos deputados que cabem a cada partido; 
V – Sistemas proporcionais corrigidos 
Os sistemas proporcionais tendem a formar parlamentos sem maioria absoluta, com a inerente dificuldade em formar governos maioritários por meio de coligações eleitorais. 
Por isso alguns países optam por “majorar” a representação parlamentar do partido que ganhe as eleições, atribuindo-lhe um suplemento de mandatos, como é o caso da Grécia e recentemente da Itália, de modo a facilitar maiorias eleitorais monopartidárias. 
VI - Cláusula barreira 
Consiste na fixação legal de uma percentagem mínima de votos a obter pelos partidos para conseguirem representação parlamentar nos sistemas proporcionais. A cláusula barreira são típicas dos sistemas proporcionais e visam impedir ou reduzir a fragmentação parlamentar e/ou impedir ou dificultar o acesso ao parlamento de pequenos partidos extremistas ou radicais. Em Portugal está proibida pela Constituição. 
VII – Coligações eleitorais 
Em alguns sistemas eleitorais são admitidas coligações de partidos para efeitos eleitorais. Há duas espécies de coligações eleitorais: coligações com lista única comum, sendo depois os deputados eleitos pela coligação repartidos pelos partidos coligados de acordo com a ordem da lista, e coligações com listas separadas, sendo depois os votos de todas somados para efeito de atribuição de deputados, os quais são depois conferidos aos partidos coligados de acordo com os votos de cada um. 
As coligações eleitorais podem ter três fundamentos: 
- Primeiro, permitem que partidos pequenos tenham chances de eleger deputados, especialmente nos sistemas eleitorais dotados de cláusula-barreira, o que permite ampliar o âmbito partidário da representação parlamentar. 
- Segundo, permitem “majorar” o número de deputados obtidos pelos partidos coligados, beneficiando da concentração dos respetivos votos. 
- Terceiro, permitem facilitar a obtenção de maiorias absolutas no Parlamento.
Lógica e consequências dos sistemas eleitorais 
Há dois índices que importa ter em conta para avaliar um sistema eleitoral quanto aos seus resultados: 
a) O "índice de representatividade", que mede a taxa de eleitores cujo voto serviu para eleger algum deputado e dos votos perdidos, que não serviram para eleger ninguém; é naturalmente maior nos sistemas proporcionais do que nos sistemas maioritários; 
b) O "índice de proporcionalidade", que mede o desvio entre a percentagem de votos de um partido concorrente e a percentagem de deputados que ele obtém. O índice é tanto maior quanto menor for o desvio (desproporcionalidade). 
A lógica do sistema maioritário é a de proporcionar escolhas claras e normalmente uma alternativa entre dois partidos. As suas consequências tendenciais são as seguintes: fraca representatividade e baixa proporcionalidade; círculos eleitorais pequenos e candidaturas uninominais; alta personalização da escolha eleitoral e dos deputados, dada a candidatura uninominal e a disputa pessoal; dificulta o aparecimento de novos partidos, dada a dificuldade em obter a eleição de um deputado; fomenta a concentração partidária num pequeno número de partidos, e em última instancia, uma bipolarização partidária ou de coligações partidárias; favorece as maiorias parlamentares absolutas e os governos maioritários. 
A lógica do sistema proporcional é obter um espelho político aproximado do eleitorado na assembleia representativa, de modo que o parlamento seja o mais representativo possível. As suas consequências são tendencialmente as seguintes: alta taxa de representatividade e de proporcionalidade do sistema; círculos plurinominais relativamente grandes; escassa personalização das escolhas eleitorais e débil relação entre os deputados e os eleitores; não dificulta o aparecimento de novos partidos; dificulta as maiorias parlamentares artificiais e os governos de maioria. 
REFERENDO
Noção 
O referendo é o mecanismo pelo qual os cidadãos são chamados a pronunciar-se diretamente, mediante votação, sobre determinada questão.
A palavra referendo designa a situação em que os mandatários de uma determinada entidade aprovam certo acordo ou documento com outras entidades ou seus representantes, sob reserva de o referirem à apreciação e confirmação dessa mesma entidade. Não era então uma votação popular direta, mas sim a confirmação de uma decisão que tinha sido tomada sob reserva de referendo. 
Sentido moderno do referendo: uma votação popular, que tanto pode ter por objeto a confirmação de uma decisão de um órgão competente como incidir diretamente sobre a aprovação de uma lei ou outra questão política concreta, ainda não votada noutro órgão.
Referendo e democracia representativa 
O referendo traduz-se num desvio aos princípios da democracia representativa, pois nesta é aos órgãos representativos que cumpre tomar aprovar as leis e tomar as decisões políticas, não diretamente ao povo representado. O referendo quer dizer que os representados se substituem aos representantes, retirando-lhes a representação. 
Na conceptologia corrente o referendo é um dos instrumentos da democracia semidireta, sendo a democracia direta aquela em que a decisões políticas são tomadas diretamente em assembleias dos cidadãos. A iniciativa legislativa popular consiste na faculdade de um determinado número de cidadãos poder apresentar à assembleia legislativa propostas de lei, que devem ser apreciadas e votadas por ela nos mesmos termos de uma iniciativa dos deputados ou do governo. A iniciativa popular do referendo consiste na faculdade de um determinado número de cidadãos poder fazer convocar um referendo, por exemplo, para efeitos de revogação de uma lei acabada de aprovar ou para efeitos de aprovação de uma lei nova ou outra decisão política. A revogação de mandatos consiste na faculdade reconhecida aos cidadãos eleitores de, por iniciativa de um certo número deles ou por iniciativa oficial, serem chamados a decidir a cessação do mandato de um certo titular eletivo antes do termo desse mandato. 
História do referendo 
A história moderna do referendo começa na Suíça, no século XVII, quando os delegados à assembleia helvética aprovavam as decisões sob reserva de confirmação dos respetivos cantões. As primeiras constituições dos primeiros Estados americanos independentes, antes da sua federação nos Estados Unidos, foram em geral ratificadas por referendo. Na França foi também ratificada por referendo a Constituição de 1800. E Napoleão fez aprovar em plebiscito a sua nomeação como cônsul. 
A primeira ratificação de uma lei ordinária verificou-se no Cantão de St. Gallen, na Suíça, em 1831. A figura do referendo só se expandiu verdadeiramente no século XX, sobretudo depois da II Guerra Mundial. 
Tipologia dos referendos 
a) Referendo popular e referendo orgânico 
Referendo popular: estava previsto originariamente na nossa Constituição para a instituição concreta das regiões administrativas, a qual dependia da aprovação das assembleias municipais da área respetiva e não de uma votação dos próprios cidadãos. 
Referendo orgânico: o referendo começou por ser a submissão da decisão tomada por um certo órgão a ratificação ou confirmação de outro órgão, e não a uma votação popular. 
b) Referendo decisório, referendo vinculativo e referendo consultivo 
São referendos decisórios os que decidem eles mesmosa questão submetida a votação popular, sem necessidade de intervenção subsequente de qualquer órgão do poder político. 
São referendos vinculativos aqueles que não decidem eles mesmos definitivamente a questão submetida a votação popular, mas que vinculam os órgãos competentes do poder político a exercer a sua competência em termos conformes ao veredicto popular. 
São referendos consultivos os que não dispõem de vinculatividade jurídica, e que por isso só têm eficácia política, de acordo com o peso da votação popular num sentido ou noutro. 
c) Referendos obrigatórios e referendos facultativos 
Referendos obrigatórios: quando tem de ser realizados ou convocados para certo efeito, por determinação da Constituição ou da lei, não podendo a questão envolvida ser resolvida de outro modo. 
Referendo facultativos: se a sua convocação decorre de uma opção dos órgãos do poder político, não dependendo a resolução da questão de uma decisão referendária, antes podendo a questão ser decidida pelos órgãos do poder político sem recurso ao referendo. 
d) Referendo constitucional e referendo ordinário 
Referendo constitucional é o que versa sobre a aprovação ou ratificação de uma constituição ou de uma revisão constitucional. Referendo ordinário é o que versa sobre leis ou decisões políticas infraconstitucionais.
Iniciativa do referendo 
O referendo pode ser de iniciativa: 
- Popular, quando pertence diretamente por um certo número de cidadãos eleitores; 
- Oficial, quando cabe a um órgão do poder político, ou a vários conjugadamente (presidente da República, parlamento, governo). Neste segundo caso, a iniciativa pode ser do próprio órgão competente para convocar o referendo ou pode pertencer a outro órgão (por exemplo, entre nós a convocação do referendo compete ao PR, mas sempre sob proposta da AR ou do Governo, conforme os casos); também pode pertencer a um certo número de cidadãos (iniciativa popular do referendo), mas dirigida à AR, não diretamente ao PR. 
Matérias referendáveis 
Nem todos os assuntos podem ser suscetíveis de referendo. Os sistemas são dois: 
- Só se admite o referendo sobre certas matérias explicitamente enunciadas; 
- Admite-se o referendo em geral, com exclusão de certas matérias, previstas no art. 115.º/4 CRP (por exemplo, matérias tributárias e constitucionais não podem ser referendadas). No primeiro caso o referendo é exceção; no segundo, é a regra. A maior ou menor amplitude das matérias referendáveis revela a atitude prevalecente quanto às virtudes do referendo. Entre nós, o referendo é possível sobre todas as matérias salvo as indicadas na Constituição. 
Modo de decisão 
Os modos de decisão referendária são tipicamente sistemas de decisão binária: sim ou não a uma certa solução (o único aceite em Portugal) e sistemas de decisão alternativa: opção entre duas soluções diferentes para o mesmo problema. Só aparentemente parece a mesma coisa. Quanto aos requisitos de aprovação ou de eficácia vinculativa ou decisória existem dois mecanismos típicos. Exigência de quorum de participação de votantes; e exigência de maioria qualificada para a aprovação ou eficácia vinculativa ou decisória.
Democracia participativa 
A “democracia participativa” consiste na participação dos cidadãos ou de organizações sociais nos procedimentos e na tomada de decisões dos órgãos do poder público. 
Os instrumentos típicos da democracia participativa são a discussão pública de projetos de leis, de planos urbanísticos e outras intervenções coletivas em procedimentos da Administração; os órgãos consultivos do governo e da Administração; o caso especial dos conselhos económicos e sociais; a participação de representantes das organizações sociais nos órgãos de direção de serviços públicos; o desempenho de tarefas públicas pelos próprios interessados: o fenómeno da "administração autónoma"; a intervenção dos cidadãos na elaboração dos orçamentos locais, mediante a decisão sobre a aplicação de uma verba orçamental (‘’orçamento participativo’’). 
Os mecanismos da democracia participativa tanto podem ter lugar a nível nacional como a nível regional ou local. A nível local são conhecidos os casos do "orçamento participativo", oriundos do Brasil, e a constituição de "conselhos municipais", compostos por representantes das organizações locais, com o fim de intervirem, pela opinião e pela discussão pública nos assuntos da administração local

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