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w w w. u n i s u l . b r
capa.pdf 1 25/11/15 13:53
UnisulVirtual
Palhoça, 2016
Universidade do Sul de Santa Catarina
Instrumental 
técnico-operativo 
do Serviço Social
Créditos
Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul
Reitor
Sebastião Salésio Herdt
Vice-Reitor
Mauri Luiz Heerdt
Pró-Reitor de Ensino, de Pesquisa e de Extensão
Mauri Luiz Heerdt
Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional
Luciano Rodrigues Marcelino
Pró-Reitor de Operações e Serviços Acadêmicos
Valter Alves Schmitz Neto
Diretor do Campus Universitário de Tubarão
Heitor Wensing Júnior
Diretor do Campus Universitário da Grande Florianópolis
Hércules Nunes de Araújo
Diretor do Campus Universitário UnisulVirtual
Fabiano Ceretta
Campus Universitário UnisulVirtual
Diretor
Fabiano Ceretta
Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Ciências Sociais, Direito, Negócios e Serviços
Amanda Pizzolo (coordenadora)
Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Educação, Humanidades e Artes
Felipe Felisbino (coordenador)
Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Produção, Construção e Agroindústria
Anelise Leal Vieira Cubas (coordenadora)
Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Saúde e Bem-estar Social
Aureo dos Santos (coordenador)
Gerente de Operações e Serviços Acadêmicos 
Moacir Heerdt
Gerente de Ensino, Pesquisa e Extensão
Roberto Iunskovski
Gerente de Desenho, Desenvolvimento e Produção de Recursos Didáticos 
Márcia Loch
Gerente de Prospecção Mercadológica 
Eliza Bianchini Dallanhol
Livro didático
UnisulVirtual
Palhoça, 2016
Designer instrucional
Marina Melhado Gomes da Silva
Instrumental 
técnico-operativo 
do Serviço Social
Ivana Marcomim
Walery Luci da Silva Maciel
Livro Didático
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul
Copyright © 
UnisulVirtual 2016
Professoras Conteudistas
Ivana Marcomim
Walery Luci da Silva Maciel
Designer instrucional
Marina Melhado Gomes da Silva
Projeto gráfico e capa
Equipe UnisulVirtual
Diagramadora
Noemia Mesquita
Revisor(a)
Diane Dal Mago
ISBN
978-85-7817-965-6
e-ISBN
978-85-7817-966-3
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por 
qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.
M27
Marcomim, Ivana
Instrumental técnico-operativo do serviço social: livro didático / 
Ivana Marcomim, Walery Luci da Silva Maciel; design instrucional Marina 
Melhado Gomes da Silva . – Palhoça: UnisulVirtual, 2016.
88 p. : il. ; 28 cm.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7817-965-6
e-ISBN 978-85-7817-966-3
1. Serviço social. I. Maciel, Walery Luci da Silva. II. Silva, Marina 
Melhado Gomes da. III. Título.
CDD (21. ed.) 361
Sumário
Introdução | 7
Capítulo 1
Prática social e profissional: o processo de 
trabalho do assistente social e o referencial 
contemporâneo | 9
Capítulo 2
Instrumentalidade e estratégias em Serviço Social: o 
cotidiano profissional frente às múltiplas expressões 
da questão social | 35
Capítulo 3
Metodologia e instrumental técnico-operativo da 
prática profissional | 55
Considerações Finais | 85
Sobre as professoras conteudistas | 87
Introdução
Caro(a) estudante,
Este livro que estamos iniciando tem como objeto de estudo e pesquisa o 
instrumental técnico-operativo do Serviço Social.
 A complexidade das diversas manifestações da questão social com as quais 
trabalhamos constituem um desafio permanente, tanto para seu entendimento 
quanto para a busca de soluções. Sabemos que a compreensão do tema só é 
possível por meio do cruzamento de diferentes olhares, perspectivas, saberes; 
o que envolve a pesquisa, estudo e ação multidisciplinar. Dentro dessa mesma 
perspectiva, estaremos abordando com você o instrumental técnico-operativo, 
entendendo que estamos tratando de instrumentos, técnicas e documentos que, 
utilizados pelo Serviço Social, mas não sendo exclusivos, para sua aplicação 
necessitam de uma rigorosa revisão teórica e metodológica, de forma que 
resultem pertinentes à intervenção que corrobore com uma práxis fundamentada 
no Código de Ética e no projeto ético-político da categoria. 
Iniciamos o primeiro capítulo abordando a contemporaneidade do Serviço Social e 
os desafios de atuar nesta área frente às novas manifestações da questão social.
Avançamos nosso estudo no segundo capítulo fazendo uma breve reflexão em 
torno da instrumentalidade e das estratégias em Serviço Social, abordando 
também a questão social no cotidiano profissional. 
Concluiremos nosso estudo, no capítulo três, quando estaremos discutindo 
de forma detalhada os instrumentos, técnicas e documentos com os quais 
trabalhamos cotidianamente e que nos diferenciam e identificam como uma 
profissão de caráter interventivo dentro das ciências sociais. 
Deixamos como sugestão que você estude com empenho, considerando a 
extrema relevância do assunto para sua formação profissional. Para tanto, leia 
o texto com atenção, reflita, questione, critique, vamos construir juntos(as) mais 
esta etapa em direção à consecução de seu projeto profissional. 
Bons estudos!
Professoras Ivana e Walery. 
9
Neste capítulo, você será convidado a fazer inúmeras reflexões acerca da 
configuração da prática profissional do assistente social na contemporaneidade, 
considerando a caracterização dessa prática a partir do processo de trabalho que 
lhe é específico. 
Falaremos de como os diferentes espaços sócio-ocupacionais e as dimensões da 
prática profissional imprimem a ela uma identidade política e, ao mesmo tempo, 
mediadora.
Muito embora se forme e desenvolva a partir dos diferentes momentos sócio-
históricos e conjunturais que lhe imprimem identidade e caracterizam a evolução 
de seus domínios teórico, metodológicos, ético, políticos e técnico operativos, 
há, no contexto capitalista, uma complexa dinâmica que exige dos profissionais 
a capacidade crítica e propositiva no sentido da implantação do projeto ético 
político profissional. Nesse sentido, muitos são os desafios, mas grandes já 
somam as conquistas. 
Consideramos que, a partir dessa leitura e suas proposições de trabalho 
complementares, você se aproxime da compreensão sócio-histórica sobre o 
trabalho, a questão social e o trabalho profissional em Serviço Social. 
Capítulo 1
Prática social e profissional: 
o processo de trabalho do 
assistente social e o referencial 
contemporâneo 
Ivana Marcomim
10
Capítulo 1 
Seção 1
A prática social e profissional
A compreensão acerca das práticas profissionais do Serviço Social na atualidade 
requer um olhar crítico, inovador, consciente dos desafios contemporâneos 
e dos avanços teóricos, metodológicos, técnico-operativos e ético-políticos 
da profissão, que impõem ao fazer profissional uma configuração crítica e 
mobilizadora de potenciais individuais e coletivos.
A exemplo de todas as profissões, o agir profissional não é dissociado da 
dimensão sócio-histórica da sociedade em que nos colocamos, o que exige uma 
clareza a respeito do processo técnico-profissional, pois esse não representa o 
agir pelo agir, mas circunscreve-se como uma prática com especificidades que 
lhes são próprias, muito embora seja coletivo e inter ou multiprofissional.
Nessa lógica, podemos dizer que temos os referenciais críticos e teóricos que 
norteiam nossa prática, além do Código de Ética Profissional (1993), o qual tem 
o papel de delinear a natureza da profissão no contexto do mundo do trabalho 
e sua posição ético-política diante desse contexto. Ainda podemos reconhecer 
os diferentes espaços sócio-ocupacionais nos quais as práticas dos assistentes 
sociais se desenvolvem, e que, por sua vez, configuram-se a partir do manejo do 
instrumental técnico do Serviço Social.
Nesse processo, corremos o risco de recair em uma simplificação que indica 
quais instrumentos e técnicas devem ser aplicados para quais ações, seus 
objetivos ou finalidades e suas devidas processualidades.
Todavia, ao fazermos tal leitura excluímos a subjetividade dos sujeitos 
(profissionais e população), dos instrumentais (considerando a apropriação feita 
dele e seu fim),e o contexto do processo de trabalho ao qual a intervenção se 
vincula. Essa pode ser, por exemplo, mobilizadora de lutas coletivas em busca da 
consolidação de direitos, ou ainda envolver o emprego de critérios seletivos para 
verificar a ordem de prioridade de beneficiários de determinado programa social. 
Como podemos observar, muito embora o tema desse livro nos leve a uma 
primeira visão de objetividade e utilidade concreta de instrumentos e técnicas, o 
fazer profissional requer um olhar crítico, com viés processual, inclusive para a 
escolha e emprego desses instrumentais. 
Façamos um exercício simples:
Pense em qualquer profissão que, para você, tenha instrumentos e 
técnicas claros, pontuais e evidentes quanto ao seu uso. Provavelmente 
você já partiu não do instrumental em si, mas do problema a ser “resolvido” 
com o uso desse instrumental. 
11
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social 
Para algumas profissões isso é possível e seria o ideal. 
Agora pense nas demandas que se apresentam no cotidiano das práticas 
profissionais em Serviço Social e tente identificar alguns instrumentos e técnicas 
para o uso no atendimento dessa demanda. 
Há mais opções? Há clareza do processo interventivo: compreender/
diagnosticar/ refletir/analisar junto aos sujeitos sobre as demandas 
e suas formas de enfrentamento e superação individual e coletiva; e 
encontrar possíveis respostas mediadas pelas políticas de direitos e 
seus desdobramentos? Podemos pensar que há certa complexidade na 
escolha, no uso, na atribuição e na processualidade dada ao emprego 
do instrumental?
Desse modo, precisamos compreender as dimensões de atendimento individual e 
coletivo, o uso de entrevistas, cadernos de campo e outros, como instrumentais e 
técnicas permeados de um significado maior que seu uso isolado e pontual. 
O campo sobre o qual se desenvolve a prática dos assistentes sociais é 
território de complexas relações de poder, de históricas evoluções coletivas; é 
espaço da consolidação das relações societárias, o que inclui seus organismos 
representativos, como famílias, organizações, o Estado, além de segmentos 
sociais, políticos, entre outros. 
Há que se refletir, primeiramente, sobre a prática social como prática de 
contextos profissionais, políticos, segmentários e, eminentemente, sócio-
históricos, ou seja, sobre práticas sociais como retratos das relações entre 
agentes individuais e coletivos, públicos e privados, no tempo presente e no 
espaço onde se desenvolvem. Portanto, não são estáticos e exigem um olhar 
dinâmico para que possamos nos inserir no âmbito da prática profissional com 
nossas competências e domínios privativos, conforme expressa o Código de 
Ética Profissional (1993).
Mota (2014) reflete sobre as dimensões políticas da prática dos assistentes 
sociais. A autora indica que:
O leque dos fenômenos-objeto trabalhados e pesquisados 
no âmbito do Serviço Social se amplia, requerendo novas 
problematizações e aportes de conhecimento que se refletem 
nas práticas profissionais, no ensino e nos campos de estágios 
curriculares. (MOTA, 2014, p. 695-696).
12
Capítulo 1 
Nessa lógica, a autora (ibidem) situa que mesmo os espaços com saúde, 
assistência social e previdência social são permeados e sofrem os reveses 
da dinâmica societária que perpassam a atualização de suas demandas, das 
modalidades de intervenção e conteúdo dos trabalhos profissionais, entre 
outros aspectos. Assim, podemos observar complexidades e abrangências 
novas, próprias do processo de incorporação de novas dinâmicas ao contexto 
do trabalho social e da espera de intervenção dos assistentes sociais, tais 
como: as novas implicações do SUAS; as implicações na Previdência Social 
das relações demandadas do contexto das questões urbanas e rurais; a 
expansão da áreas sociojurídicas com os novos postos de trabalho criados; 
o processo de mobilidade e moradia popular, grande desafio atual, efeito do 
cenário contemporâneo; as questões de natureza socioambiental amplamente 
apropriadas devida ou indevidamente pelas grandes empresas, sob a égide da 
educação ambiental; além das políticas de acesso à inserção, que Moller (apud 
MOTA, 2014, p. 698) afirma obedecerem à lógica da discriminação positiva e 
definirem públicos e estratégias para suprir o que as políticas universais não 
conseguem realizar. 
As mudanças ocorridas na relação entre a profissão e os movimentos sociais, 
sindicatos de cunho mais tradicional e o que hoje vem sendo posto diante do que 
se denomina “novos movimentos sociais”, o envolvimento e a inserção política 
da categoria em novas requisições de lutas por direitos ainda não assegurados, 
entre outros, desafiam a consolidação de projetos de transformação social de 
modo sustentável. 
Os destaques dados por Mota (2014) reforçam o entendimento de que a 
expansão do mercado de trabalho e a ampliação das demandas feitas à profissão 
revelam o espraiamento das manifestações da questão social (dando ênfase à 
criação de práticas e mecanismos institucionais dirigidos pela atuação do Estado 
e política de classes), mas também revela as inegáveis exigências técnico-
administrativas e políticas. “Boa parte dessas demandas exige o desenvolvimento 
de estudos e pesquisas, sendo seus resultados subsidiem e instrumentalizem o 
exercício profissional”. (IAMAMOTO apud MOTA, 2014, p. 699).
Como se observa, a prática social hoje posta às profissões desse campo requer 
das práticas profissionais uma capacidade de garantir avanços teórico-políticos, 
técnico-operativos e metodológicos que incidam sobre a complexa dinâmica do 
cenário atual e consolide movimentos (pontuais ou progressivos) que resinifiquem 
a condição dos sujeitos da prática profissional, uma vez que essa não se faz 
para alguém, mas com alguém.
Nesse ambiente, o exercício da sempre relativa autonomia profissional 
(IAMAMOTO et al apud MOTA, 2014) exige um esforço contínuo e inesgotável, 
evidenciador dos limites e das possibilidades da intervenção profissional. 
13
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social 
Com isso, queremos refletir que não se pode pensar em modelos prontos, acabados, 
aplicáveis e partir de outras referências não críticas dos instrumentais da profissão, 
pois esses mesmos instrumentais se fazem e se renovam no porvir da dinâmica 
cotidiana e complexa da realidade social onde se processa a prática profissional. 
Somente problematizando as expressões cotidianas e imediatas da 
realidade e que se constituem em demandas às instituições e ao 
Serviço Social pode o profissional exercitar uma relativa autonomia 
intelectual que oriente suas propostas de intervenção com base 
nas condições objetivas existentes. (MOTA, 2014, p. 700).
Talvez alguns possam julgar que esse é um desafio inglório, que seria mais prática 
a reprodução de instrumentais ou processos técnico-operativos replicáveis 
por décadas, dando-lhe certo domínio permanente e inquestionável sobre a 
dinâmica interventiva. Vamos pensar de modo diferenciado: se cotidiano é 
história construída no dia a dia, sem nem mesmo ser percebida desse modo, 
quanta riqueza há na capacidade técnica em desvendar essa realidade, antever 
as demandas por ela e consolidar respostas antecipadas aos possíveis e críticos 
problemas os quais advêm, historicamente, de um modelo excludente, fundado 
na divisão de classes e exploração deste processo? (IAMAMOTO, 2007). “É a 
busca das relações entre o imediato e o mediato que pode permitir ao profissional 
identificar nexos, relações e mediações que viabilizam tratar os atos e situações 
singulares em relação à totalidade social” (GUERRA apud MOTA, 2014, p. 701). 
Falamos, portanto, de domínio intelectual ou competência reflexiva, domínio 
sobre a realidade, pois ausência dessa competência, na visão de Mota (ibidem), 
incide sobre impossibilidade de utilização da teoria social crítica, que pode 
sustentar a compreensão dos fenômenos singulares e contemporâneos. 
A prática profissional dos assistentes sociais se fazsobre a relação de domínio 
teórico critico que norteia a capacidade investigativa e, portanto, diagnóstica da 
realidade social, e suas formulações individuais e coletivas de respostas efetivas 
as demandas compreendidas no bojo de sua complexidade e na gênese das 
intencionalidades que as formulam e conduzem. 
Vamos a um exemplo bastante simplista: 
Podemos pensar em mediar demandas de saúde, como por exemplo, 
um caso recorrente de problema pulmonar que se apresenta em uma 
Unidade Básica de Saúde, se sua origem advém de uma habitação 
imprópria ao convívio humano? Podemos mediar a condição de habitação 
se esse sujeito se coloca à margem do processo inclusivo de trabalho e 
desenvolvimento por meio da educação e da educação para o trabalho? 
14
Capítulo 1 
Dessa forma, podemos falar que o que fará a diferença entre a forma de conduzir 
uma mesma intervenção entre dois sujeitos profissionais será incontestavelmente 
sua posição ético-política e os domínios dessa posição derivados, noção de que 
falamos em direitos a serem assegurados, de intersetorialidade entre políticas, 
de potencialização dos sujeitos ou dos sujeitos, pois a demanda individual pode 
traduzir uma demanda de direitos coletiva e, nesse processo, o emprego do 
instrumental técnico-operativo adquire sua singularidade.
Nesse viés, apropriamo-nos das reflexões de Mota (2014, p. 701-702), que 
defende a necessidade de exercitar a capacidade de análise da prática e 
experiência profissional cotidiana, por meio da identificação de: 
a. iniciativas que evidenciem posturas anticapitalistas; 
b. processos de democratização de decisões; 
c. conquistas e possibilidades do exercício de direitos; 
d. mediações pedagógicas, éticas e formativas que contribuam 
para a formação de consciência crítica da população usuária.
Há, portanto, na natureza da prática profissional em Serviço Social, a 
necessidade de um olhar constante e crítico sobre a dinâmica na qual se 
processa o exercício profissional. Os laudos, pareceres, entrevistas, reuniões, 
entre outros elementos operativos da prática profissional, não são empregados 
sem que se tenha a clareza de:
 • quais contextos e demandas requerem tal instrumental, pois cada 
uma dessas expressam diferentes exigências e direcionamentos 
diferenciados das práticas profissionais;
 • a intencionalidade de uso, ou seja, para que o instrumental será 
utilizado, considerando ser ele um meio para que se atinja a 
objetivos maiores. Isto é o mesmo que dizer que fazer entrevistas 
e registrá-las em um programa computadorizado ou mesmo em 
fichários não é o fim da prática profissional. Muito pelo contrário; 
ela é o meio pelo qual as demandas serão mediadas e poderão 
ser consideradas no âmbito das políticas de direitos em acessos 
coletivos ou em lutas coletivas para direitos ainda não assegurados, 
além, obviamente, de serem elementos da mediação dos processos 
de trabalho individual e coletivo; 
15
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social 
 • a efetividade e continuidade do processo desenvolvido, uma vez 
que não falamos, necessária ou exclusivamente, de resoluções 
pontuais, mas de processos que requerem a ação continuada das 
mediações profissionais face aos movimentos coletivos críticos ou 
potencializadores dos sujeitos que se deseja deflagrar, sob risco de 
que tenhamos uma lógica bastante conhecida pelos profissionais: 
a reincidência de famílias e suas demandas aos mesmos serviços, 
com os mesmos vícios de neoliberalismo.
Desse modo, estamos falando de uma prática profissional que não se faz “per 
si”, ou seja, ela é fruto de todo processo evolutivo das transformações societárias 
e das reflexões críticas da profissão e, portanto, a aprendizagem do fazer 
profissional não pode ser dissociada de um projeto de profissional que dirige, 
inclusive, o uso do instrumental técnico-operativo dessa profissão. 
Não se pode negar que há dependência dos projetos políticos de Estado 
em vigor no cotidiano da prática profissional por parte dos profissionais que 
atuam em diferentes espaços sócio-ocupacionais e se veem desafiados. E um 
desses desafios é não limitar o rico processo de trabalho profissional no campo 
social, com o viés da transformação social e consolidação de direitos para o 
tarefismo ou o emprego de instrumentais para efeitos burocráticos que em nada 
representam a capacidade e intencionalidade desta profissão. 
Para Netto (apud BARBOZA e FREIRE, 2006), não se pode duvidar que esse 
período histórico foi marcado por transformações societárias aceleradas, que 
afetam diretamente o conjunto da vida social e incidem sobre as profissões, 
exigindo que se determinem mediações que conectem as profissões às 
transformações. 
Citamos Iamamoto (2005), muito embora aqui reduzindo sua ampla, detalhada 
e complexa reflexão acerca das demandas profissionais das relações entre o 
Estado e a sociedade:
[...] se a assistência fosse tratada de forma ‘satisfatória’ pelo 
Estado, por meio de uma gestão racional e eficiente de verbas, 
poder-se-ia dar conta medianamente da administração da 
miséria. O ardil está posto: um conjunto de medidas burocrático-
administrativas não é capaz de conduzir, por si só, à realização 
da cidadania e apenas as políticas sociais não são suficientes 
para efetiva-la. (IAMAMOTO, 2005, p. 163).
16
Capítulo 1 
Muito embora dessa época para as políticas públicas atuais tenham acontecido 
expressivas inovações, não se pode prescindir de destacar a atualidade dessa lógica. 
Já em 1997, Iamamoto reflete sobre os desafios de se considerar a prática 
profissional sobre o viés do fatalismo e messianismo utópico.
No primeiro caso, a autora (ibidem) reflete que se naturaliza a vida social, em 
que a ordem do capital é tida como natural e perene, mesmo diante das 
desigualdades. Nesse caso, a profissão se enreda nessa complexa relação, não 
lhe cabendo mais do que o aperfeiçoamento burocrático de tarefas atribuídas 
pela ordem vigente. Já no segundo caso se privilegiam as intenções, os 
propósitos das pessoas no campo individual, não sendo capazes de se traduzir 
em lutas coletivas; “[...] ambos prisioneiros de uma análise da prática social que 
não dá conta da historicidade do ser social gestado na sociedade capitalista”. 
(IAMAMOTO, 1997, 116).
Nessa lógica, é relevante abrirmos um parêntese para compreender que a 
dinâmica sobre a qual o instrumental técnico operativo do Serviço Social se 
processa é a mesma que forma o ser social, ou seja, é também a dinâmica 
de construção das identidades sociais individuais e coletivas onde atuamos e, 
portanto, temos expressiva capacidade de influência sobre ela. 
Sobre as ideias de Marx, Iamamoto (1997, p. 116) reflete que:
O fundamento da prática social é, pois, o trabalho social; 
atividade criadora, produtiva por excelência, condição da 
existência do homem e das formas de sociedade, mediatizando 
o intercâmbio entre o homem e a natureza, através do qual o 
homem realiza seus próprios fins. 
Todavia, não podemos esquecer que tratamos do chão de trabalho sobre bases 
capitalistas, ou seja, a prática social se revela por meio de mediações que 
relacionam forma e essência, gestadas na própria sociedade. Disso se deriva 
“a exigência metodológica de apreender a formação econômica-social desta 
natureza capitalista em sua totalidade concreta com reprodução da realidade 
aprendida com suas múltiplas influências e determinações, como unidade na 
diversidade”. (MARX apud IAMAMOTO, 1997, p. 117).
Nesse contexto reflexivo, a autora destaca a relação entre prática com a teoria. 
Citando Vazques (IAMAMOTO, 1997, p. 118), afirma que “se pode dizer que a 
teoria assim concebida se torna necessária como crítica teórica das teorias que 
justificam a transformação do mundo e como teoria das possibilidades de ação”. 
17
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social 
Esse olhar implica cuidados para que não se desenvolva uma profissão de 
natureza utilitarista, capaz de responder às demandas da sociedade em cada 
tempo,mas considerando a ordem vigente e não ensejando para a transformação 
social desejada em nosso projeto profissional. Por isso, teoria e método, 
instrumental e elementos operativos devem consolidar-se como uma construção 
imbuída da visão crítica e propositiva da profissão em seu tempo, mas ciente de 
seu compromisso com o empoderamento, com os princípios da liberdade, da 
democracia, da valorização da natureza humana em suas múltiplas e diversas 
formas de construir e viver em sociedade, com a supremacia do direito à 
dignidade de cada ser humano que a componha. 
Como construir e utilizar instrumentais profissionais capazes de reproduzir, no 
contexto complexo e processual da prática profissional, a potencialização 
de sujeitos, grupos, comunidades e sociedades em face de uma construção 
societária desejada e pretendida por todos, qualificando os assistentes sociais 
em suas formações para responder à realidade do mercado com o qual, como 
categoria assalariada, irá se relacionar? Incluo aqui os desafios de mercado e das 
políticas de Estado e diferentes fontes empregadoras dessa profissão que é dada, 
forjada e dirigida, em sua essência, à transformação social.
Há, portanto, um destaque a ser feito na lógica destacada por Iamamoto e que 
manterá atual a natureza desta profissão:
O que está em questão não é a subordinação utilitária da 
qualificação profissional às oscilações do mercado, mas 
uma sintonia necessária entre a formação e as demandas 
sociais objetivas apresentadas à profissão, salvaguardando 
aliança entre a análise histórica do Estado e da sociedade 
contemporâneas – o que permite decifrar as demandas 
profissionais e as tendências de mercado profissional – e a 
construção teórico-prática de respostas profissionais críticas 
em face desse mercado. Respostas solidamente elaboradas no 
campo teórico e das estratégias técnico-politicas, capazes de 
reconhecer e atender àquelas demandantes para transcendê-las, 
reencontrando e recriando o Serviço Social no tempo histórico. 
(IAMAMOTO, 1997, p. 192).
Como se observa, falamos de uma prática profissional que se constrói no 
cotidiano da formação da própria história da humanidade. 
Façamos um breve exercício e você verá o quanto essa compreensão 
se expressa nas mudanças societárias. Inserimos nossa contribuição e 
redirecionamento à própria profissão neste movimento histórico. Observe uma 
simples lógica: 
18
Capítulo 1 
A caridade/filantropia e a proteção aos pobres/igreja, seguindo-se da 
atenção aos assalariados/preservação das conquistas de mercado/
Estado/igreja, evolui para a formalização ao processo de incentivo ao 
desenvolvimento econômico capitalista industrial; ao que se segue 
a incorporação transcontinental e interamericana de incentivos ao 
desenvolvimento do mercado e proteção do Estado em recusa à entrada 
do comunismo. Nessa lógica, há a reprodução do Estado de atenção 
social e, a partir dele, a revisão por parte da categoria quanto aos modelos 
reproduzidos pela profissão e os movimentos de intenção de ruptura 
por meio de encontros e processos de construção de uma identidade 
profissional brasileira, com seu posicionamento teórico-metodológico, 
ético-político e técnico operativo. O posicionamento a favor das lutas de 
classe em face da construção de uma sociedade igualitária, democrática 
e inclusiva evolui para a consolidação de um Projeto Ético Político e de um 
Código de Ética profissional, que posicionam a profissão e seus domínios 
na direção da dignidade humana e da transformação social, consolidando 
direitos por meio das políticas públicas. 
Não se pode negar que o trabalho social, campo da ação interdisciplinar e 
espaço onde a comunicação entre os saberes e os domínios se consolidam e 
integram, ou apenas se complementam, é o campo da prática profissional que se 
traduz em evolução histórica a partir dos domínios teórico-críticos do conjunto de 
esforços analisados, investigados, criticados em sua essência para consolidação 
de processos mais próprios a uma dimensão de exercício profissional eficaz, 
eficiente e efetivo ao seu tempo, aos seus sujeitos, à coletividade e às demandas 
que se refazem no agir cotidiano. 
Portanto, ao pensar a prática profissional não se pode deixar de compreender 
que o conjunto de domínios utilizados de natureza teórica, metodológica, ética, 
politica, técnica e instrumental são resultados desse processo histórico e por 
sua natureza devem ser devidamente dominados, empregados, considerando a 
subjetividade que dirige seu emprego no contexto da prática profissional. Há que 
se analisá-los constantemente sobre o prisma da crítica construtiva e inovadora, 
considerando o que Iamamoto destaca (2005) sobre a capacidade de antever as 
demandas que se apresentam e construir as respostas efetivas em âmbito de 
políticas públicas e privadas de direitos a serem assegurados e evoluídos, dada a 
dimensão de evolução da própria natureza humana cujas demandas estão muito 
além dos processos de inclusão e enfrentamento de riscos e vulnerabilidades 
sociais. Tais demandas transcendem a gênese dos sujeitos que se desejam 
autores de suas próprias histórias de vida, podendo ou não ser concernentes 
com o modelo capitalista em vigor. 
19
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social 
Citamos o exemplo das experiências de Economia Solidária, de Permacultura, 
entre outras, que constroem um novo lócus de convívio social coletivo, o 
qual, embora intrínseco ao modelo capitalista, não depende dele. Esse será 
objeto de seus estudos, mas se entende que o emprego da prática profissional 
se apresenta para além das fronteiras da consolidação dos direitos sociais, 
embora essa centralidade no tempo atual deva ser correspondida, pois ainda 
é o mecanismo de acesso a direitos para a maior parte dos demandantes das 
práticas profissionais. 
Portanto, a prática profissional hoje pretendida e defendida se sustenta em um 
arcabouço de domínios que traduzem os objetivos profissionais, considerando 
os diferentes espaços sócio-ocupacionais onde essa prática se insere, e onde 
o emprego do instrumental técnico operativo ou técnico profissional é essencial 
para que se concretize toda e qualquer intervenção.
Muito embora o profissional os domine e empregue seu uso, esses instrumentais 
podem e devem se traduzir em meios pelos quais comunicações se consolidam, 
reflexões se produzam, criticas se estabeleçam, construções individuais e 
coletivas se mobilizem; ou seja, esses são elementos pelos quais a relação entre 
profissional e sujeitos se estabelece numa direção que deve ser concernente 
ao campo da consolidação dos direitos desejados ou a serem inexoravelmente 
assegurados. 
Falamos, então, que o instrumental que sustenta a prática profissional é, em 
essência, um elo pelo qual as relações podem se estabelecer, reconstruir e (re)
direcionar em face da transformação social pretendida. 
Perceba, então, a importância de você compreender, dominar e bem mediar o 
emprego do instrumental técnico operativo profissional, pois, em última instância, 
ele consolida o seu fazer cotidiano como assistente social. 
Seção 2
O processo de trabalho do assistente social e o 
referencial contemporâneo
Nesta seção, você será estimulado a compreender como se processa o trabalho 
no Serviço Social, considerando a capacidade processual dessa profissão 
de atualizar-se e interpretar a realidade a partir dos parâmetros das classes 
populares e do movimento na construção histórica dos direitos humanos e 
sociais, considerando as tendências teóricas contemporâneas que norteiam essa 
compreensão. 
20
Capítulo 1 
A discussão acerca do processo de trabalho do assistente social requer grande 
cuidado para que se formule uma leitura simplista ou deveras complexa para 
situar como se processa a questão da prática profissional. 
A prática profissional não se desloca em um mundo à parte do contexto 
societário; antes disso, ela mesma é parte integrante e intrigante das reflexões 
produzidas na atualidade sobreo trabalho e suas formas de realização. 
Inicialmente, faz-se necessário compreender que o próprio termo processo 
de trabalho se torna objeto de reflexão, dada a natureza interpretativa que lhe 
damos. Há quem consolide uma reflexão profunda segundo a qual não falamos 
de processo de trabalho, mas de processos, e de que não há como consolidar 
processos hegemônicos ou igualitários para contextos de uma sociedade 
capitalista tão complexa com múltiplas expressões da questão social que se 
configuram em transformações constantes em função das mudanças de cenário 
de mundo globalizado. 
Há elementos estruturantes do fazer profissional que hoje são objeto de estudo e 
reflexão por parte das ciências sociais. Antunes (2008), por sua vez, nos instiga 
a refletir sobre uma sociedade cuja centralidade dada ao mundo do trabalho se 
vê ameaçada pelo contexto global de crise. Fala-se de uma nova fase do capital 
na qual embora se processe em moldes de diferentes naturezas, há grande 
apropriação do trabalho intelectual das capacidades cognitivas, procurando 
envolver intensamente a subjetividade operária. Falamos de processos 
absorvidos por máquinas e pela tecnologia, mas também do que a tecnologia não 
supre e exige o trabalho humano. 
Portanto, ao invés de da substituição do trabalho pela ciência, 
ou ainda da substituição da produção de valores pela esfera 
comunicacional, da substituição da produção pela informação, o 
que se pode presenciar no mundo contemporâneo é uma maior 
inter-relação, uma maior interpenetração entre as atividades 
produtivas e as improdutivas, entre as atividades fabris e 
de serviços, entre atividades laborativas e as atividades de 
concepção , que se expandem no contexto da reestruturação 
produtiva do capital. O que remete ao desenvolvimento de uma 
concepção ampliada para se estender sua forma de ser no 
trabalho no capitalismo contemporâneo, e não à sua negação. 
(ANTUNES, 2008, p. 178).
Nesse contexto, Antunes (2008) fala sobre as metamorfoses do mundo do trabalho 
e suas implicações sobre diferentes elementos, como a crise do movimento 
operário e sindical, a desregulamentação, flexibilização, terceirização, o desmonte 
de direitos trabalhistas, entre outros aspectos que imprimem uma nova lógica a ser 
ainda compreendida no contexto das relações produtivas no capitalismo. 
21
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social 
O cenário contemporâneo se apresenta com inúmeras reflexões a serem feitas no 
âmbito das ciências de modo geral, e no campo das ciências sociais não é diferente. 
Essa lógica atinge a dinâmica do processo de trabalho profissional em Serviço 
Social, na medida em que nos inserimos no contexto das classes que vivem do 
trabalho e fazem a dinâmica do trabalho acontecer não somente para si, mas 
para o contexto coletivo em suas influências técnico-operativas vinculadas às 
políticas de direitos vigentes. 
Desse modo, há conceitos que permeiam a prática profissional e dirigem o 
processo de trabalho os quais não podem ser negligenciados. Mesmo diante 
de cenários complexos, a prática profissional se desenvolve a partir de uma 
processualidade, o que pode ser criticado ou problematizado. No entanto, 
há de fato uma lógica norteadora do agir profissional que caracteriza a sua 
especificidade e a cientificidade necessárias a sua qualificação. 
Passando por um olhar genérico sobre as reflexões de Baptista (1995), podemos 
considerar que, se tratamos como objeto da prática profissional as múltiplas 
expressões da questão social, não se pode prescindir uma lógica compreensiva 
desses fenômenos, de uma capacidade mediadora ou resolutiva das demandas 
que se apresentem nesse processo; tão pouco se pode desconsiderar uma 
processualidade que monitore ou avalie se, de fato, há resultados obtidos com 
os processos teórico-metodológicos e técnico operativos empregados. Qualquer 
profissão ou ciência tem por natureza questionar-se como mecanismo de 
evolução e desenvolvimento. 
Nesse contexto, conceitos como comunicação, conscientização, ação e 
sujeitos são expressões refletidas por grandes teóricos da profissão, a exemplo 
de Faleiros (1997). Nesse sentido, inclui-se um conceito importante – a práxis 
profissional, partindo-se da ideia de que a discussão das questões metodológicas 
não pode ser feita isolada da complexidade social, das relações de poder e dos 
atores profissionais na instituição. Essa capacidade de fazer a prática profissional 
refletindo sobre ela e, preferencialmente, recriando-a a partir do processo 
reflexivo, reconstrói o fazer a partir do olhar crítico. 
Muito embora não se possa falar de formas, modelos, ou métodos fechados, apesar 
de muitos o desejarem, falamos em processos de trabalho pelos quais há demandas 
identificadas no contexto das múltiplas expressões da questão social, especialmente 
envolvendo o olhar do sujeito para sua própria realidade e para sua ação consciente 
e crítica diante dela (ao que chamamos por muito tempo objeto da prática). 
Há, portanto, sujeitos a serem compreendidos em suas singularidades e 
particularidades sócio-históricas e culturais. Esses sujeitos podem apresentar 
objetivos a serem construídos em face das demandas evidenciadas ou direitos a 
serem a assegurados em face dos direitos violados em sua realidade. 
22
Capítulo 1 
Por outro lado, há uma lógica de planejamento do processo interventivo que, a 
depender de contextos institucionais diferenciados (Estado, mercado, sociedade 
civil organizada), pode adquirir dinâmicas organizativas próprias, por vezes até 
mesmo burocratizadas, mas que não podem se eximir de consolidar respostas 
e mecanismos de medicação, controle e análise de resultados das demandas 
apresentadas, apesar de seus processos burocratizados e que podem se 
processar de diferentes formas institucionais. 
Pode-se dizer que há um desafio comum a qualquer espaço sócio-ocupacional 
pelo qual se processa a intervenção, é a análise de impacto social, uma vez que 
há dimensões materiais e imateriais do processo de trabalho as quais só podem 
ser observadas em longo prazo. 
De modo geral, podemos considerar a existência de instrumentais técnico 
operativos profissionais capazes de contribuir ou dirigir a construção 
de diagnósticos sociais; outros capazes de consolidar processos de 
planejamento individuais ou coletivos, para os sujeitos da prática. Da 
mesma forma, instrumentais norteiam o processo de monitoramento 
do processo desenvolvido, preferencialmente trazendo o sujeito para o 
centro do processo de análise, de consideração de resultados e para 
consolidação de novos movimentos individuais e coletivos, em face dos 
objetivos a serem atingidos. 
Esse processo não se consolida sem uma dimensão essencial ao processo 
de trabalho profissional, que é a dimensão política. Todavia, essa dimensão é 
intrinsicamente ligada ao contexto societário contemporâneo, onde o processo 
de trabalho se desenvolve. 
Como citado por Yabek (2014), lidamos com um tempo caracterizado por 
mudanças aceleradas que se configuram em diferentes dimensões da vida social, 
repercutindo em uma nova sociabilidade e uma nova política, processo esse a ser 
refletido e conduzido de modo consistente e crítico. 
Nesse sentido, são reflexões que vêm sendo construídas tendo 
como referência a análise do contexto resultante da complexa e 
multifacetada crise do capital com seu mundo de mercado, sua 
ênfase no neoliberalismo (...) e seus processos de privatização 
multiplicadores dos mecanismos a favor do capital , suas 
perspectivas de monetarização de políticas sociais residuais 
que evidenciam a orgânica relação entre as mudanças em 
andamento na esfera da economia política e as políticas sociais 
contemporâneas, que se tornam cada vez menos universais e 
mais focalizadoras. Âmbito privilegiado do exercício profissional 
e lugar onde a profissão participa de processos de resistência 
e constrói alianças estratégicas na direção de outro projeto 
societário. (YASBEK, 2014, p. 678).
23
Instrumentaltécnico-operativo do Serviço Social 
Como citamos a partir do olhar de Antunes (2008), as condições estruturais sobre 
as quais se coloca o mundo do trabalho cria um cenário de crises e desafios sobre 
o qual vão se redefinir as bases entre proteção social e as intervenções do Estado 
no âmbito das políticas sociais e nos espaços onde se verifica sua atuação. 
Nesse viés, não se pretende apontar um cenário de crises, mas de 
transformações que devem ser percebidas, pois indicam novas configurações do 
processo de trabalho profissional, uma vez que “também o Serviço Social tem 
na prestação dos serviços sociais seu campo de intervenção privilegiado e nas 
instituições sociais públicas e privadas seu espaço ocupacional” (RAICHELIS 
apud YASBEK, 2014, p. 679).
Esse contexto de transformações imprime uma lógica ao processo de trabalho 
que exige, por parte do profissional, a compreensão de algumas questões que 
Yasbek (2014) destaca:
 • As novas expressões da questão social manifestas no cotidiano 
profissional. Para citar apenas alguns exemplos dados pela autora: 
mudanças vêm ocorrendo nas periferias das cidades, a circulação 
e distribuição das riquezas também estão impactadas, a economia 
informal, o crescimento da violência, das drogas e seu poder 
instituído ilegalmente, os programas sociais multiplicados pelas 
periferias, entre outros aspectos. A exclusão social envolve bens 
materiais, culturais, de identidade e interação sociocomunitária.
 • O estabelecimento de uma compreensão crítica sobre as 
reconfigurações dos sistemas de proteção social e política social, 
onde se focalizam políticas contra a pobreza, muitas vezes focadas a 
segmentos, o que contradiz o olhar da Política Nacional de Assistência 
Social, a qual determina a atenção pela centralidade na família e seu 
conjunto de demandas articuladas a uma rede de políticas de direitos.
 • A necessidade de a profissão construir mediações políticas e 
ideológicas, o que deve perpassar o contexto das organizações 
onde se processam as práticas, isto porque sabemos que “questão 
social é luta, é disputa pela riqueza socialmente construída”. 
(YASBEK, 2014, p. 686).
Ao contextualizar esses desafios que envolvem o processo de trabalho profissional, 
a autora nos alerta para o fato de que a prática profissional é polarizada pelos 
interesses de classes, em uma relação que é historicamente contraditória, pois ao 
mesmo tempo que permite ao exercício profissional a reprodução e a continuidade 
da sociedade de classes, também permite sua transformação.
24
Capítulo 1 
Nesse âmbito, há uma nítida dimensão política da prática profissional, na medida 
em que o processo de trabalho desenvolvido pode colocar-se em uma ou 
outra posição desse processo contraditório. Isso representa tratar das disputas 
políticas no espaço das políticas sociais, mediações centrais no exercício da 
profissão (YASBEK, 2014).
Desse modo, o processo de trabalho consolida-se por sua dimensão teórica, 
metodológica, técnico-operativa e ético política, considerando as contradições 
manifestas nos espaços públicos e privados onde tal trabalho se consolida. 
Isso requer que os profissionais sejam capazes de compreender as tendências 
contemporâneas do processo, mas se apropriem das críticas as quais recriam a 
dinâmica interventiva, na medida em que a dimensão política, por exemplo, exigir 
novos contornos ao exercício profissional. 
Naturalmente, não se pode evidenciar um processo de trabalho metódico, em 
seu sentido mais restritivo, pois a sociedade não pode ser entendida de modo 
hegemônico, embora globalizado, com dimensões interventivas que considerem 
particularidades e singularidades não presentes em outras realidades de trabalho. 
Essas reflexões colocam o processo de trabalho e a dinâmica interventiva diante 
do realismo do mundo do trabalho, onde a profissão se processa pela existência 
de um contexto ou de uma política de direitos normativa (em esfera pública ou 
privada), de um contexto institucional que adquire características específicas 
e pela natureza e perfil do sujeito profissional, que se apropria do saber 
historicamente construído e o transforma em processos interventivos, com maior 
ou menor condição de mediação de demandas priorizadas. 
Não se pode ignorar o que destaca Faleiros (2014, p. 709): “a prestação de 
serviços sociais está assim, condicionada pela legislação, pelo orçamento e pela 
gestão dos serviços num processo de trabalho dependente de uma subordinação 
gerencial, e por relações trabalhistas de um contrato salarial (...)”.
Por outro lado, 
Os sujeitos demandantes de serviços sociais são confrontados 
com um cotidiano de relações de exclusão e ao mesmo tempo 
de aceitação ou rejeição de suas exclusões e os profissionais 
têm o desafio de contribuir para mudanças de trajetórias no 
processo de empoderamento dos sujeitos em relações de direito, 
de acesso ao estado de direito e a condições de sobrevivência. 
(FALEIROS, 2014, p. 710). 
25
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social 
No olhar crítico de Faleiros (2014), não se pode recair sobre um olhar simplista 
de configuração da pratica profissional. Estamos falando de consciências, 
relações socais, ideologias e sujeitos que se colocam em processo de convívio e 
compreensão das várias manifestações e expressões dessas relações sociais. 
O Serviço Social, nas diversas expressões da desigualdade com 
que trabalha, depara-se com a consciência que as pessoas têm 
dessa desigualdade e, ao mesmo tempo, de seus direitos nessa 
sociedade desigual. As lutas pelos direitos, pelo poder do bloco 
dominado, é um processo de hegemonia e de contra hegemonia 
na perspectiva gramsciana. A construção de um projeto de 
sociedade é um processo multidimensional, que envolve 
relações políticas e organizativas e a relação de identificação 
entre intelectual, profissional, em geral com maior poder de 
conhecimento e mesmo de salário, com público demandante 
pobre, excluído. (FALEIROS, 2014, p. 713).
Já o olhar de Simionatto (2009) reflete a busca pela construção de uma 
nova hegemonia que possa parecer mais equânime no pensar libertário e 
potencializador que tendemos a ter como assistentes socais, envolvendo 
transformações não somente nas esferas político-econômica, mas nas dimensões 
culturais, intelectuais e morais. Sob essa perspectiva, essas relações contra-
hegemônicas se traduzem igualmente na articulação do cotidiano com o contexto 
das violências, do descaso, das insatisfações, entre outros aspectos de mesma 
natureza e manifestos no processo cotidiano do trabalho profissional. 
Faleiros (2014) revela que, mesmo os processos de atenção e provisão de 
serviços sociais sendo disponibilizados de modo desigual e em velocidades 
diferentes entre as classes, há a necessidade de crítica ao processo fragmentado 
de atenção aos direitos. Nesse âmbito, há a necessidade de pesquisa crítica, 
sistematizações de reivindicações e mudança na cultura da população, para 
entender a realidade concreta de forma crítica, transformando-a em realidade 
pensada e compartilhada. Isso, para o autor, exige uma análise dialética de forças, 
visando a implementar a “proteção social da vida”. (FALEIROS, 2014, p. 714-715).
Na complexidade desse contexto de relações sociais, o processo de trabalho 
se desenvolve na luta por um projeto ético político voltado à defesa de direitos 
sociais, que para Faleiros (2014, p. 715) deve se voltar a um “de pactos políticos 
revolucionários da ordem dominante, no sentido da igualdade e equidade”. 
26
Capítulo 1 
A prática profissional é um enfrentamento enquanto relação 
complexa de contraditória de poder, recursos, valores, linguagem, 
dispositivos, estratégias, operações, visões de mundo, situações 
sociais de desigualdade, sofrimento, exclusão. Enfrentamento 
relacional de determinações econômicas, políticas, sociais, 
culturais, entre outras, com dinâmica histórica e política da 
contestação e da expressão de si e da própria sociedade. 
(FALEIROS, 2014,p. 717).
Neste contexto, há que se reconhecer que o processo de trabalho profissional 
deve ser capaz, ao problematizar tais questões, de consolidar maneiras de 
assegurar os direitos humanos nas formas de direitos sociais, políticos, culturais, 
econômicos concretos, o que Faleiros (2014) alerta como dilema ético do 
exercício profissional.
Como se observa, o trabalho profissional requer uma apropriação das reflexões 
críticas e propositivas que se fazem rotineiramente no processo de trabalho 
profissional; não como forma de destituição do valor dessa prática, mas, ao 
contrário, como capacidade instalada na profissão de olhar-se, de olhar a 
realidade, os sujeitos de sua prática, suas demandas e expressões da questão 
social. É preciso considerar, assim, os aportes políticos, institucionais, teóricos, 
metodológicos, operativos e éticos, ao mesmo tempo da dimensão da profissão, 
da coletividade e das políticas de direitos (sejam públicas ou privadas) instituídas.
Sob o risco de o exercício profissional reduzir-se à reprodução das relações 
de poder e perpetuação do ciclo de exclusão, vulnerabilidade e alienação dos 
sujeitos, o processo de trabalho profissional requer que se atente, no cotidiano 
das práticas institucionais, para os caminhos que se pretende projetar com o 
sujeito, sua família e a coletividade. 
Desse modo, não falamos em aplicações pontuais de um instrumental 
técnico operativo profissional, mas de processos de trabalho em que esses 
instrumentais estão imbuídos de intencionalidades, de razão e de caminhos 
futuros sendo construídos. 
Esta dinâmica traz a aprendizagem do próprio assistente social 
numa comunicação fecunda com o público e no exercício político 
da profissão, o exercício esse que supõe a abertura fundamental 
a crítica da estrutura (...) que supõe sujeitos em ação no confronto 
ou mediação de ideias e representação de sociedade, de seu 
grupo, de si mesmo e da profissão. (FALEIROS, 2014, p. 721).
Na atualidade, pode-se dizer que os processos profissionais, de modo geral, 
exigem suas próprias reflexões, fundadas em pesquisas científicas ou no 
contexto das relações produtivas e de trabalho. 
27
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social 
No entanto, não existem mais dinâmicas profissionais sem que se olhe em um 
movimento contínuo para dentro e para fora do fazer profissional, considerando a 
complexidade da vida contemporânea e suas descobertas.
Não se pode falar em processo de trabalho sem bases teóricas, metodológicas, 
ético políticas e técnico-operativas que delineiem tal prática. 
Sobre este contexto atual, Simionatto (2009, p. 102) destaca que: 
O Serviço Social defronta-se, portanto, com duas grandes 
tendências teóricas: uma vinculada ao fortalecimento do 
neoconservadorismo inspirado nas tendências pós- modernas, 
que compreende a ação profissional como um campo de 
fragmentos, restrita às demandas do mercado de trabalho, cuja 
apreensão requer a mobilização de um corpo de conhecimentos e 
técnicas que não permite extrapolar a aparência dos fenômenos 
sociais; e outra relacionada à tradição marxista, que compreende 
o exercício profissional a partir de uma perspectiva de totalidade, 
de caráter histórico-ontológico, remetendo o particular ao 
universal e incluindo as determinações objetivas e subjetivas 
dos processos sociais. O fortalecimento de uma ou outra dessas 
perspectivas depende, entre outros fatores, da qualificação 
teórico-metodológica e prático-operativa dos profissionais e 
de suas opções ético-políticas, no sentido de compreender o 
significado e as implicações dessas propostas para o futuro da 
profissão diante dos complexos desafios postos pelo século XXI.
Portanto, o cenário no qual se processam as direções da prática profissional 
que requerem um posicionamento crítico, como citado acima, configura-se, 
eminentemente, na consolidação das políticas de direitos, destacando-se 
as políticas públicas de assistência social, saúde, educação, meio ambiente, 
sem desconsiderar as dimensões dos espaços institucionais privados e de 
organizações da sociedade civil, no âmbito da geração do empreendedorismo 
autônomo, entre outros. Notadamente, há especificidades político organizativas 
nestas diferentes esferas, mas que requerem o domínio das dimensões já citadas 
(teórico, metodológicas, ético, politicas, técnico-operativas). 
Pode-se afirmar que estamos diante de um processo de apropriação de bases 
teóricas, com a construção de um perfil do contexto inter e transdisciplinar, 
que aponta para bases reflexivas e busca a construção de novos paradigmas 
construídos e em desenvolvimento por autores contemporâneos citados por 
Panceri e Merigo (2014), sejam eles: Anthony Giddens, Hannah Arendt, Pierre 
Bourdieu, Michel Foucault, Juergen Habermas, Edgard Morin, Boaventura Souza 
Santos, Eric Hobsbawm, E.P. Thompson e tantos outros.
28
Capítulo 1 
Para Yasbek (2014), apesar da apropriação desses referenciais, é cada vez mais 
evidente que diferentes projetos sociopolíticos societários e também projetos da 
profissão se expressem no cotidiano do processo de trabalho profissional, os 
quais muitas vezes se configuram como relações de poder. 
É quando nos referimos às relações de poder, não podemos 
excluir as relações dos profissionais com a população. É o 
poder das triagens das elegibilidades, das governabilidades, das 
concessões dos laudos, das visitas controladoras, das definições 
de quem fica e quem não fica, de quem pode participar de 
programa, etc. (YASBEK, 2014, p. 687).
Note o poder de crítica feito pela autora (2014, p. 687-688): “Você exerce em 
seu processo de trabalho profissional uma dinâmica de poder que lhe representa 
diante do projeto ético político da profissão. Neste âmbito, fica evidente a 
dimensão cultural e política do exercício desta profissão”.
Nesse viés, devemos ter presente, no processo de trabalho profissional, a 
construção de parâmetros de negociação de interesses e direitos dos usuários 
que devem trazer a marca do debate ampliado e da deliberação pública da 
cidadania, da democracia, da justiça social, da liberdade, da igualdade e da 
transformação social desejada pelos sujeitos cônscios de seu projeto de vida e 
de sociedade. (YASBEK, 2014).
No contexto da prática profissional e do invariável desafio à inovação do 
processo de trabalho, há uma riqueza de transformação de saberes, fazeres e 
seres que se constroem na relação complexa histórica dos tempos atuais, mas, 
no olhar dos assistentes sociais, voltam-se à transformação da realidade em 
direção à construção da sociedade desejada. Nossa história revela o quanto isso 
é possível e, ao mesmo tempo, quanto domínio é exigido dos profissionais para 
se obter avanços em seus processos de trabalho, destacando o instrumental 
técnico operativo como indispensável à realização cotidiana do trabalho social.
29
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social 
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Capítulo 1 
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http://www.scielo.br/pdf/sssoc/n120/05.pdf
35
Neste capítulo, estaremos abordando a questão social como realidade onde 
acontece a ação prática do Serviço Social, as estratégias e a instrumentalidade 
necessárias e presentes ao cotidiano profissional. Ao finalizar este estudo, o (a) 
estudante estará apto para analisar a realidade, compreendendo suas atribuições 
profissionais a partir do desenvolvimento de competências éticas, teóricas e 
metodológicas. 
Capítulo 2
Instrumentalidade e estratégias 
em Serviço Social: o cotidiano 
profissional frente às múltiplas 
expressões da questão social
Walery Luci da Silva Maciel
Seção 1
A questão social
Construção
Chico Buarque de Holanda
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
36
Capítulo 2 
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
37
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado
Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague.
Fonte: Nova Editora Musical Ltda., 1971.
38
Capítulo 2 
O texto acima, de forma rimada e sonora, esboça a realidade da vida humana 
no modelo de sociedade na qual vivemos, onde cada um de nós ocupa e 
desempenha um papel, “tijolo com tijolo num desenho lógico”. O entendimento 
dessa lógica, como ela se constrói, como acontece, leva-nos ao entendimento da 
questão social, matéria-prima de nossa vida e ação profissional.
Ao longo da história da formação do Serviço Social como profissão, vemos 
que a questão social é concebida de diferentes formas, tendo como referencial 
o conteúdo epistemológico que em cada período embasou a sua teorização 
e, consequentemente, sua prática. Não cabe, nesta altura de nosso estudo, 
uma abordagem aprofundada desse tema; porém, para fins de entendimento 
de alguns conteúdos que precisamos abordar quando do estudo da 
instrumentalidade e do instrumental técnico-operativo, faremos uma rápida 
inserção no assunto. Nossa abordagem compreenderá o estudo a partir de 
diferentes referenciais teóricos, buscando, assim, construir o conhecimento do 
tema de forma abrangente e plural, “é preciso revalorizar a diversidade de visões, 
a tolerância, sem confundi-la com ecletismo, considerando-se a diversidade e a 
pluralidade num processo interativo, conflituoso” (FALEIROS, 2011, p. 87). 
A questão social emerge na Europa nos meados do século XIX como resultado 
da nova configuração da sociedade a partir da Revolução Industrial, mais 
precisamente das lutas dos operários e das repressões então sofridas. Surge 
como resultado do embate entre a manutenção da propriedade privada por parte 
da burguesia e o direito ao trabalho defendido pelos operários. 
Partindo da teoria social crítica, Santos (2004), Iamamoto (2010) e Montaño 
(2012) entendem a questão social como fenômeno próprio do modo de produção 
capitalista, parte constitutiva das relações capital-trabalho, a partir do processo 
produtivo e das contradições que ele encerra, constituindo-se como uma 
expressão ampliada da exploração do trabalho, das desigualdades e lutas 
sociais que delas decorrem. A questão social se expressa nas desigualdades 
econômicas políticas e culturais das classes sociais, sendo permeada pelas 
discrepâncias nas relações de gênero, etnias e formações regionais.
Para Iamamoto (2003), a produção da questão social na contemporaneidade se 
desenha a partir de quatro aspectos centrais: 
 • Primeiramente, destaca-se a lógica financeira do regime de 
acumulação, que gera maior concentração de renda e aumento da 
pobreza, ampliando as desigualdades distribuídas territorialmente, 
aumentando a distância entre as rendas do trabalho e do capital, 
como também a distância entre o rendimento dos trabalhadores 
qualificados e dos não qualificados. 
 
39
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
Favorece, ainda, a especulação financeira em detrimento da 
produção, gerando um aumento dos níveis de desemprego, o 
recrudescimento dos investimentos nas políticas sociais e, 
consequentemente, o agravamento da questão social.
 • Num segundo aspecto, a autora destaca a especialização e a 
acumulação flexível, caracterizadas por movimentos que alteram 
radicalmente os processos e as formas de gestão do trabalho, 
alterando as regras do mercado, os direitos sociais e trabalhistas e 
os padrões de consumo. A redução dos custos do capital obriga o 
trabalhador a se tornar polivalente, além de gerar o enxugamento 
do quadro de pessoal e favorecer, assim, as terceirizações. A 
introdução de novas tecnologias, como a robótica, a microeletrônica 
e a informática, altera as formas e relações de trabalho. “Reduz-
se, assim, a demanda de trabalho vivo ante o trabalho passado, 
incorporado nos meios de produção com elevação da composição 
técnica e de valor do capital” (IAMAMOTO, 2003, p. 69). 
 • A diminuição do papel do estado na questão social constitui o 
terceiro aspecto para o entendimento do fenômeno na atualidade. 
A relação Estado/sociedade civil sofre mudanças radicais a partir 
da óticaneoliberal, passando o Estado a intervir a serviço de 
interesses privados, reduzindo sua atuação na questão social, 
por meio de restrições dos gastos públicos e da privatização da 
coisa pública. Passa a predominar um Estado submetido aos 
interesses econômicos e políticos dominantes no cenário nacional e 
internacional, em detrimento do atendimento e atenção às causas e 
afeitos do agravamento da questão social. 
 • Como último aspecto, Iamamoto (2003) destaca as alterações nas 
formas de sociabilidade, quando o mercado passa a dominar a 
sociedade, tornando-se regulador da vida social, invadindo todas 
as suas esferas. A partir de uma lógica pragmática e produtivista, 
passa-se a viver sob a égide da competitividade, da eficácia e 
eficiência, que, adotadas como critérios, passam a referenciar 
e determinar a vida em sociedade. Segundo a autora, forja-se 
uma mentalidade utilitária que reforça o individualismo, naturaliza 
a sociedade e a degradação das condições de vida da grande 
maioria. Essa visão atinge as formas culturais, as subjetividades e as 
identidades coletivas, destruindo projetos e utopias. 
40
Capítulo 2 
Para a autora, o enfrentamento da questão social e de suas manifestações se 
dá pela priorização das necessidades da classe trabalhadora, vistas de forma 
coletiva, bem como pela responsabilização do Estado por meio da afirmação das 
políticas sociais de caráter universal, voltadas aos interesses das grandes maiorias, 
“condensando um processo histórico de lutas pela democratização da economia, 
da política, da cultura na construção da esfera pública” (IAMAMOTO, 2010, p. 162). 
Robert Castel (2013) analisa a questão social a partir do contexto europeu, mais 
precisamente da França, tendo como referência teórica de análise a visão de 
Durkheim, em que a sociedade é entendida a partir de um conjunto de relações 
de interdependência. Afirma o autor que a questão social desenha-se nas 
condições de vida de milhares de pessoas que, diante das atualizações das 
competências econômicas e sociais, veem-se à margem da vida social, por 
conta da precarização das relações de trabalho e da fragilização dos sistemas de 
proteção que acolhem os indivíduos ao longo de sua existência. 
Para o autor, o “social” acontece nas relações não mercantis, sendo o hiato entre 
a organização política e o sistema econômico, e tendo como centro a ideia da 
sociedade salarial, em que a maioria dos sujeitos sociais tem sua inserção social 
relacionada ao lugar que ocupa no salariado, o que envolve sua renda, seu status, 
sua proteção e sua identidade. A sociedade salarial não é uma sociedade de 
igualdades, abrigando diversos conflitos; no entanto, cada sujeito dispõe de um 
mínimo de garantia e direitos, assegurados pelo Estado Social. Com a retirada 
do Estado, o corporativismo ameaça os interesses gerais, e o vínculo social 
pode se decompor. Para o autor, a questão social se agrava com a precarização 
do trabalho e com a interinidade, que alimenta o desemprego. Dessa forma, os 
indivíduos, vivendo o dia a dia, veem fragilizados seus vínculos, a noção de 
pertencimento e a coesão social. Segundo Castel (2013), o enfrentamento da 
questão social se dá mediante o fortalecimento das relações de trabalho, sua 
garantia e a proteção do Estado. 
Para Didier Lapeyronnie (2003), o ponto de partida para o debate acerca 
da questão social vem do pressuposto que os problemas elencados como 
questões de integração social não são consequências naturais de uma 
evolução da sociedade, mas configuram como uma solução construída social 
e simbolicamente, fazendo com que as classes populares sejam excluídas por 
mecanismos sociais e anuladas por mecanismos políticos e simbólicos. Dessa 
forma, o entendimento da questão social na atualidade demonstra que o indivíduo 
não está mais submetido às normas e à racionalização da produção, mas sim a 
imagens e signos que lhe são impostos pelo consumo e por sua participação na 
vida social. Para o autor, os indivíduos não se identificam mais pelo trabalho e pela 
posição social, pois sua identificação está no tipo e nível de consumo. 
41
Instrumental técnico-operativo do Serviço Social
O sentimento de pertencimento a uma determinada situação social, foi, portanto, 
substituído pela busca de mobilidade em torno de acesso ao consumo. 
Segundo o autor, nesse cenário em que o consumo está acima da produção e 
determina a posição do indivíduo na sociedade, o discurso da luta de classes e 
de integração foi substituído pela ideia da dualização e da exclusão. De um lado, 
posicionam-se as classes médias definidas pelo status, capacidade de consumo 
e de participação na vida urbana; de outro, as classes populares, identificadas 
pelos níveis de violência, miséria e patologias: os excluídos. 
Se antes a classe operária tinha uma identidade, dada por sua participação 
na produção, e nela podia se apoiar e reivindicar de forma coletiva, agora, 
dissociada da produção e identificada pelo consumo, luta pelo reconhecimento, 
por sua dignidade. Dessa forma, numa ordem em que as categorias objetivas dos 
dominantes definem a nova questão social, colocando em oposição a integração 
à exclusão e o universal ao particular, resta ao excluído a luta por sua dignidade 
e reconhecimento ao direito de viver a sua vida, sem a imposição de modelos 
definidos pelo consumo. Isso constitui a nova questão social. 
Para o autor, seu enfrentamento se dá por meio de três questões consideradas 
cruciais: 
 • fazer aparecer, por trás da lógica objetiva de integração-exclusão, a 
veracidade das relações de classes e das relações de poder; 
 • fazer do direito de cada um viver sua vida o objetivo de toda política; 
 • colocar no centro da ação a reivindicação pela democracia. 
A relação da questão social com a prática e ação do Serviço Social reside no 
fato de que a formação profissional no Brasil tem nessa sua sustentação de 
fundação sócio-histórica. Assim, a questão social torna-se um elemento central e 
constitutivo da relação entre o Serviço Social e realidade social. 
O processo de trabalho do Serviço Social é determinado pelas 
configurações estruturais e conjunturais da questão social e 
pelas formas históricas de seu enfrentamento, permeadas pela 
ação dos trabalhadores, do capital e do Estado, através das 
políticas e lutas sociais. (ABEPSS, 1996, p. 5).
42
Capítulo 2 
De acordo com Iamamoto (2010), a identificação da questão social como 
elemento transversal à formação e ao exercício profissional no Serviço Social 
decorre da necessidade de situar a profissão no contexto histórico da sociedade, 
e mais especificamente da história da sociedade brasileira como uma forma de 
romper com o dualismo e a defasagem entre a teoria e a prática, e de qualificar 
a ação profissional no enfrentamento cotidiano da questão social. Segundo a 
autora (2010, p. 163):
O Serviço Social, tem na questão social a base de sua 
fundação enquanto especialização do trabalho. Os assistentes 
sociais, por meio da prestação de serviços sócio-assistenciais 
– indissociáveis de uma dimensão educativa (ou político-
ideológica) – realizados nas instituições públicas ou organizações 
privadas, interferem nas relações socais cotidianas, no 
atendimento às variadas expressões da questão social, tais como 
experimentadas pelos indivíduos sociais no trabalho, na família, 
na luta pela moradia e pela terra, na saúde, na assistência social 
pública, entre outras dimensões. 
Por outro lado, afirma a autora que a distinção atribuída à questão social exige 
o aprofundamento e a apropriação da matriz teórica da tradição plural marxista, 
relacionando-a com as demais correntes do pensamento contemporâneo e 
aprofundando seu debate. Essa aproximação permite entender a sociedade civil 
que explica o Estado, sendo que nas relações sociais podem ser compreendidas as 
formas políticas, religiosas, artísticas, entre outras. A partir dessa visão, a questão 
social tem prioridade sobre a política social na formação acadêmico-profissional

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