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w w w. u n i s u l . b r capa.pdf 1 25/11/15 13:53 UnisulVirtual Palhoça, 2016 Universidade do Sul de Santa Catarina Instrumental técnico-operativo do Serviço Social Créditos Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul Reitor Sebastião Salésio Herdt Vice-Reitor Mauri Luiz Heerdt Pró-Reitor de Ensino, de Pesquisa e de Extensão Mauri Luiz Heerdt Pró-Reitor de Desenvolvimento Institucional Luciano Rodrigues Marcelino Pró-Reitor de Operações e Serviços Acadêmicos Valter Alves Schmitz Neto Diretor do Campus Universitário de Tubarão Heitor Wensing Júnior Diretor do Campus Universitário da Grande Florianópolis Hércules Nunes de Araújo Diretor do Campus Universitário UnisulVirtual Fabiano Ceretta Campus Universitário UnisulVirtual Diretor Fabiano Ceretta Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Ciências Sociais, Direito, Negócios e Serviços Amanda Pizzolo (coordenadora) Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Educação, Humanidades e Artes Felipe Felisbino (coordenador) Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Produção, Construção e Agroindústria Anelise Leal Vieira Cubas (coordenadora) Unidade de Articulação Acadêmica (UnA) – Saúde e Bem-estar Social Aureo dos Santos (coordenador) Gerente de Operações e Serviços Acadêmicos Moacir Heerdt Gerente de Ensino, Pesquisa e Extensão Roberto Iunskovski Gerente de Desenho, Desenvolvimento e Produção de Recursos Didáticos Márcia Loch Gerente de Prospecção Mercadológica Eliza Bianchini Dallanhol Livro didático UnisulVirtual Palhoça, 2016 Designer instrucional Marina Melhado Gomes da Silva Instrumental técnico-operativo do Serviço Social Ivana Marcomim Walery Luci da Silva Maciel Livro Didático Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul Copyright © UnisulVirtual 2016 Professoras Conteudistas Ivana Marcomim Walery Luci da Silva Maciel Designer instrucional Marina Melhado Gomes da Silva Projeto gráfico e capa Equipe UnisulVirtual Diagramadora Noemia Mesquita Revisor(a) Diane Dal Mago ISBN 978-85-7817-965-6 e-ISBN 978-85-7817-966-3 Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição. M27 Marcomim, Ivana Instrumental técnico-operativo do serviço social: livro didático / Ivana Marcomim, Walery Luci da Silva Maciel; design instrucional Marina Melhado Gomes da Silva . – Palhoça: UnisulVirtual, 2016. 88 p. : il. ; 28 cm. Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7817-965-6 e-ISBN 978-85-7817-966-3 1. Serviço social. I. Maciel, Walery Luci da Silva. II. Silva, Marina Melhado Gomes da. III. Título. CDD (21. ed.) 361 Sumário Introdução | 7 Capítulo 1 Prática social e profissional: o processo de trabalho do assistente social e o referencial contemporâneo | 9 Capítulo 2 Instrumentalidade e estratégias em Serviço Social: o cotidiano profissional frente às múltiplas expressões da questão social | 35 Capítulo 3 Metodologia e instrumental técnico-operativo da prática profissional | 55 Considerações Finais | 85 Sobre as professoras conteudistas | 87 Introdução Caro(a) estudante, Este livro que estamos iniciando tem como objeto de estudo e pesquisa o instrumental técnico-operativo do Serviço Social. A complexidade das diversas manifestações da questão social com as quais trabalhamos constituem um desafio permanente, tanto para seu entendimento quanto para a busca de soluções. Sabemos que a compreensão do tema só é possível por meio do cruzamento de diferentes olhares, perspectivas, saberes; o que envolve a pesquisa, estudo e ação multidisciplinar. Dentro dessa mesma perspectiva, estaremos abordando com você o instrumental técnico-operativo, entendendo que estamos tratando de instrumentos, técnicas e documentos que, utilizados pelo Serviço Social, mas não sendo exclusivos, para sua aplicação necessitam de uma rigorosa revisão teórica e metodológica, de forma que resultem pertinentes à intervenção que corrobore com uma práxis fundamentada no Código de Ética e no projeto ético-político da categoria. Iniciamos o primeiro capítulo abordando a contemporaneidade do Serviço Social e os desafios de atuar nesta área frente às novas manifestações da questão social. Avançamos nosso estudo no segundo capítulo fazendo uma breve reflexão em torno da instrumentalidade e das estratégias em Serviço Social, abordando também a questão social no cotidiano profissional. Concluiremos nosso estudo, no capítulo três, quando estaremos discutindo de forma detalhada os instrumentos, técnicas e documentos com os quais trabalhamos cotidianamente e que nos diferenciam e identificam como uma profissão de caráter interventivo dentro das ciências sociais. Deixamos como sugestão que você estude com empenho, considerando a extrema relevância do assunto para sua formação profissional. Para tanto, leia o texto com atenção, reflita, questione, critique, vamos construir juntos(as) mais esta etapa em direção à consecução de seu projeto profissional. Bons estudos! Professoras Ivana e Walery. 9 Neste capítulo, você será convidado a fazer inúmeras reflexões acerca da configuração da prática profissional do assistente social na contemporaneidade, considerando a caracterização dessa prática a partir do processo de trabalho que lhe é específico. Falaremos de como os diferentes espaços sócio-ocupacionais e as dimensões da prática profissional imprimem a ela uma identidade política e, ao mesmo tempo, mediadora. Muito embora se forme e desenvolva a partir dos diferentes momentos sócio- históricos e conjunturais que lhe imprimem identidade e caracterizam a evolução de seus domínios teórico, metodológicos, ético, políticos e técnico operativos, há, no contexto capitalista, uma complexa dinâmica que exige dos profissionais a capacidade crítica e propositiva no sentido da implantação do projeto ético político profissional. Nesse sentido, muitos são os desafios, mas grandes já somam as conquistas. Consideramos que, a partir dessa leitura e suas proposições de trabalho complementares, você se aproxime da compreensão sócio-histórica sobre o trabalho, a questão social e o trabalho profissional em Serviço Social. Capítulo 1 Prática social e profissional: o processo de trabalho do assistente social e o referencial contemporâneo Ivana Marcomim 10 Capítulo 1 Seção 1 A prática social e profissional A compreensão acerca das práticas profissionais do Serviço Social na atualidade requer um olhar crítico, inovador, consciente dos desafios contemporâneos e dos avanços teóricos, metodológicos, técnico-operativos e ético-políticos da profissão, que impõem ao fazer profissional uma configuração crítica e mobilizadora de potenciais individuais e coletivos. A exemplo de todas as profissões, o agir profissional não é dissociado da dimensão sócio-histórica da sociedade em que nos colocamos, o que exige uma clareza a respeito do processo técnico-profissional, pois esse não representa o agir pelo agir, mas circunscreve-se como uma prática com especificidades que lhes são próprias, muito embora seja coletivo e inter ou multiprofissional. Nessa lógica, podemos dizer que temos os referenciais críticos e teóricos que norteiam nossa prática, além do Código de Ética Profissional (1993), o qual tem o papel de delinear a natureza da profissão no contexto do mundo do trabalho e sua posição ético-política diante desse contexto. Ainda podemos reconhecer os diferentes espaços sócio-ocupacionais nos quais as práticas dos assistentes sociais se desenvolvem, e que, por sua vez, configuram-se a partir do manejo do instrumental técnico do Serviço Social. Nesse processo, corremos o risco de recair em uma simplificação que indica quais instrumentos e técnicas devem ser aplicados para quais ações, seus objetivos ou finalidades e suas devidas processualidades. Todavia, ao fazermos tal leitura excluímos a subjetividade dos sujeitos (profissionais e população), dos instrumentais (considerando a apropriação feita dele e seu fim),e o contexto do processo de trabalho ao qual a intervenção se vincula. Essa pode ser, por exemplo, mobilizadora de lutas coletivas em busca da consolidação de direitos, ou ainda envolver o emprego de critérios seletivos para verificar a ordem de prioridade de beneficiários de determinado programa social. Como podemos observar, muito embora o tema desse livro nos leve a uma primeira visão de objetividade e utilidade concreta de instrumentos e técnicas, o fazer profissional requer um olhar crítico, com viés processual, inclusive para a escolha e emprego desses instrumentais. Façamos um exercício simples: Pense em qualquer profissão que, para você, tenha instrumentos e técnicas claros, pontuais e evidentes quanto ao seu uso. Provavelmente você já partiu não do instrumental em si, mas do problema a ser “resolvido” com o uso desse instrumental. 11 Instrumental técnico-operativo do Serviço Social Para algumas profissões isso é possível e seria o ideal. Agora pense nas demandas que se apresentam no cotidiano das práticas profissionais em Serviço Social e tente identificar alguns instrumentos e técnicas para o uso no atendimento dessa demanda. Há mais opções? Há clareza do processo interventivo: compreender/ diagnosticar/ refletir/analisar junto aos sujeitos sobre as demandas e suas formas de enfrentamento e superação individual e coletiva; e encontrar possíveis respostas mediadas pelas políticas de direitos e seus desdobramentos? Podemos pensar que há certa complexidade na escolha, no uso, na atribuição e na processualidade dada ao emprego do instrumental? Desse modo, precisamos compreender as dimensões de atendimento individual e coletivo, o uso de entrevistas, cadernos de campo e outros, como instrumentais e técnicas permeados de um significado maior que seu uso isolado e pontual. O campo sobre o qual se desenvolve a prática dos assistentes sociais é território de complexas relações de poder, de históricas evoluções coletivas; é espaço da consolidação das relações societárias, o que inclui seus organismos representativos, como famílias, organizações, o Estado, além de segmentos sociais, políticos, entre outros. Há que se refletir, primeiramente, sobre a prática social como prática de contextos profissionais, políticos, segmentários e, eminentemente, sócio- históricos, ou seja, sobre práticas sociais como retratos das relações entre agentes individuais e coletivos, públicos e privados, no tempo presente e no espaço onde se desenvolvem. Portanto, não são estáticos e exigem um olhar dinâmico para que possamos nos inserir no âmbito da prática profissional com nossas competências e domínios privativos, conforme expressa o Código de Ética Profissional (1993). Mota (2014) reflete sobre as dimensões políticas da prática dos assistentes sociais. A autora indica que: O leque dos fenômenos-objeto trabalhados e pesquisados no âmbito do Serviço Social se amplia, requerendo novas problematizações e aportes de conhecimento que se refletem nas práticas profissionais, no ensino e nos campos de estágios curriculares. (MOTA, 2014, p. 695-696). 12 Capítulo 1 Nessa lógica, a autora (ibidem) situa que mesmo os espaços com saúde, assistência social e previdência social são permeados e sofrem os reveses da dinâmica societária que perpassam a atualização de suas demandas, das modalidades de intervenção e conteúdo dos trabalhos profissionais, entre outros aspectos. Assim, podemos observar complexidades e abrangências novas, próprias do processo de incorporação de novas dinâmicas ao contexto do trabalho social e da espera de intervenção dos assistentes sociais, tais como: as novas implicações do SUAS; as implicações na Previdência Social das relações demandadas do contexto das questões urbanas e rurais; a expansão da áreas sociojurídicas com os novos postos de trabalho criados; o processo de mobilidade e moradia popular, grande desafio atual, efeito do cenário contemporâneo; as questões de natureza socioambiental amplamente apropriadas devida ou indevidamente pelas grandes empresas, sob a égide da educação ambiental; além das políticas de acesso à inserção, que Moller (apud MOTA, 2014, p. 698) afirma obedecerem à lógica da discriminação positiva e definirem públicos e estratégias para suprir o que as políticas universais não conseguem realizar. As mudanças ocorridas na relação entre a profissão e os movimentos sociais, sindicatos de cunho mais tradicional e o que hoje vem sendo posto diante do que se denomina “novos movimentos sociais”, o envolvimento e a inserção política da categoria em novas requisições de lutas por direitos ainda não assegurados, entre outros, desafiam a consolidação de projetos de transformação social de modo sustentável. Os destaques dados por Mota (2014) reforçam o entendimento de que a expansão do mercado de trabalho e a ampliação das demandas feitas à profissão revelam o espraiamento das manifestações da questão social (dando ênfase à criação de práticas e mecanismos institucionais dirigidos pela atuação do Estado e política de classes), mas também revela as inegáveis exigências técnico- administrativas e políticas. “Boa parte dessas demandas exige o desenvolvimento de estudos e pesquisas, sendo seus resultados subsidiem e instrumentalizem o exercício profissional”. (IAMAMOTO apud MOTA, 2014, p. 699). Como se observa, a prática social hoje posta às profissões desse campo requer das práticas profissionais uma capacidade de garantir avanços teórico-políticos, técnico-operativos e metodológicos que incidam sobre a complexa dinâmica do cenário atual e consolide movimentos (pontuais ou progressivos) que resinifiquem a condição dos sujeitos da prática profissional, uma vez que essa não se faz para alguém, mas com alguém. Nesse ambiente, o exercício da sempre relativa autonomia profissional (IAMAMOTO et al apud MOTA, 2014) exige um esforço contínuo e inesgotável, evidenciador dos limites e das possibilidades da intervenção profissional. 13 Instrumental técnico-operativo do Serviço Social Com isso, queremos refletir que não se pode pensar em modelos prontos, acabados, aplicáveis e partir de outras referências não críticas dos instrumentais da profissão, pois esses mesmos instrumentais se fazem e se renovam no porvir da dinâmica cotidiana e complexa da realidade social onde se processa a prática profissional. Somente problematizando as expressões cotidianas e imediatas da realidade e que se constituem em demandas às instituições e ao Serviço Social pode o profissional exercitar uma relativa autonomia intelectual que oriente suas propostas de intervenção com base nas condições objetivas existentes. (MOTA, 2014, p. 700). Talvez alguns possam julgar que esse é um desafio inglório, que seria mais prática a reprodução de instrumentais ou processos técnico-operativos replicáveis por décadas, dando-lhe certo domínio permanente e inquestionável sobre a dinâmica interventiva. Vamos pensar de modo diferenciado: se cotidiano é história construída no dia a dia, sem nem mesmo ser percebida desse modo, quanta riqueza há na capacidade técnica em desvendar essa realidade, antever as demandas por ela e consolidar respostas antecipadas aos possíveis e críticos problemas os quais advêm, historicamente, de um modelo excludente, fundado na divisão de classes e exploração deste processo? (IAMAMOTO, 2007). “É a busca das relações entre o imediato e o mediato que pode permitir ao profissional identificar nexos, relações e mediações que viabilizam tratar os atos e situações singulares em relação à totalidade social” (GUERRA apud MOTA, 2014, p. 701). Falamos, portanto, de domínio intelectual ou competência reflexiva, domínio sobre a realidade, pois ausência dessa competência, na visão de Mota (ibidem), incide sobre impossibilidade de utilização da teoria social crítica, que pode sustentar a compreensão dos fenômenos singulares e contemporâneos. A prática profissional dos assistentes sociais se fazsobre a relação de domínio teórico critico que norteia a capacidade investigativa e, portanto, diagnóstica da realidade social, e suas formulações individuais e coletivas de respostas efetivas as demandas compreendidas no bojo de sua complexidade e na gênese das intencionalidades que as formulam e conduzem. Vamos a um exemplo bastante simplista: Podemos pensar em mediar demandas de saúde, como por exemplo, um caso recorrente de problema pulmonar que se apresenta em uma Unidade Básica de Saúde, se sua origem advém de uma habitação imprópria ao convívio humano? Podemos mediar a condição de habitação se esse sujeito se coloca à margem do processo inclusivo de trabalho e desenvolvimento por meio da educação e da educação para o trabalho? 14 Capítulo 1 Dessa forma, podemos falar que o que fará a diferença entre a forma de conduzir uma mesma intervenção entre dois sujeitos profissionais será incontestavelmente sua posição ético-política e os domínios dessa posição derivados, noção de que falamos em direitos a serem assegurados, de intersetorialidade entre políticas, de potencialização dos sujeitos ou dos sujeitos, pois a demanda individual pode traduzir uma demanda de direitos coletiva e, nesse processo, o emprego do instrumental técnico-operativo adquire sua singularidade. Nesse viés, apropriamo-nos das reflexões de Mota (2014, p. 701-702), que defende a necessidade de exercitar a capacidade de análise da prática e experiência profissional cotidiana, por meio da identificação de: a. iniciativas que evidenciem posturas anticapitalistas; b. processos de democratização de decisões; c. conquistas e possibilidades do exercício de direitos; d. mediações pedagógicas, éticas e formativas que contribuam para a formação de consciência crítica da população usuária. Há, portanto, na natureza da prática profissional em Serviço Social, a necessidade de um olhar constante e crítico sobre a dinâmica na qual se processa o exercício profissional. Os laudos, pareceres, entrevistas, reuniões, entre outros elementos operativos da prática profissional, não são empregados sem que se tenha a clareza de: • quais contextos e demandas requerem tal instrumental, pois cada uma dessas expressam diferentes exigências e direcionamentos diferenciados das práticas profissionais; • a intencionalidade de uso, ou seja, para que o instrumental será utilizado, considerando ser ele um meio para que se atinja a objetivos maiores. Isto é o mesmo que dizer que fazer entrevistas e registrá-las em um programa computadorizado ou mesmo em fichários não é o fim da prática profissional. Muito pelo contrário; ela é o meio pelo qual as demandas serão mediadas e poderão ser consideradas no âmbito das políticas de direitos em acessos coletivos ou em lutas coletivas para direitos ainda não assegurados, além, obviamente, de serem elementos da mediação dos processos de trabalho individual e coletivo; 15 Instrumental técnico-operativo do Serviço Social • a efetividade e continuidade do processo desenvolvido, uma vez que não falamos, necessária ou exclusivamente, de resoluções pontuais, mas de processos que requerem a ação continuada das mediações profissionais face aos movimentos coletivos críticos ou potencializadores dos sujeitos que se deseja deflagrar, sob risco de que tenhamos uma lógica bastante conhecida pelos profissionais: a reincidência de famílias e suas demandas aos mesmos serviços, com os mesmos vícios de neoliberalismo. Desse modo, estamos falando de uma prática profissional que não se faz “per si”, ou seja, ela é fruto de todo processo evolutivo das transformações societárias e das reflexões críticas da profissão e, portanto, a aprendizagem do fazer profissional não pode ser dissociada de um projeto de profissional que dirige, inclusive, o uso do instrumental técnico-operativo dessa profissão. Não se pode negar que há dependência dos projetos políticos de Estado em vigor no cotidiano da prática profissional por parte dos profissionais que atuam em diferentes espaços sócio-ocupacionais e se veem desafiados. E um desses desafios é não limitar o rico processo de trabalho profissional no campo social, com o viés da transformação social e consolidação de direitos para o tarefismo ou o emprego de instrumentais para efeitos burocráticos que em nada representam a capacidade e intencionalidade desta profissão. Para Netto (apud BARBOZA e FREIRE, 2006), não se pode duvidar que esse período histórico foi marcado por transformações societárias aceleradas, que afetam diretamente o conjunto da vida social e incidem sobre as profissões, exigindo que se determinem mediações que conectem as profissões às transformações. Citamos Iamamoto (2005), muito embora aqui reduzindo sua ampla, detalhada e complexa reflexão acerca das demandas profissionais das relações entre o Estado e a sociedade: [...] se a assistência fosse tratada de forma ‘satisfatória’ pelo Estado, por meio de uma gestão racional e eficiente de verbas, poder-se-ia dar conta medianamente da administração da miséria. O ardil está posto: um conjunto de medidas burocrático- administrativas não é capaz de conduzir, por si só, à realização da cidadania e apenas as políticas sociais não são suficientes para efetiva-la. (IAMAMOTO, 2005, p. 163). 16 Capítulo 1 Muito embora dessa época para as políticas públicas atuais tenham acontecido expressivas inovações, não se pode prescindir de destacar a atualidade dessa lógica. Já em 1997, Iamamoto reflete sobre os desafios de se considerar a prática profissional sobre o viés do fatalismo e messianismo utópico. No primeiro caso, a autora (ibidem) reflete que se naturaliza a vida social, em que a ordem do capital é tida como natural e perene, mesmo diante das desigualdades. Nesse caso, a profissão se enreda nessa complexa relação, não lhe cabendo mais do que o aperfeiçoamento burocrático de tarefas atribuídas pela ordem vigente. Já no segundo caso se privilegiam as intenções, os propósitos das pessoas no campo individual, não sendo capazes de se traduzir em lutas coletivas; “[...] ambos prisioneiros de uma análise da prática social que não dá conta da historicidade do ser social gestado na sociedade capitalista”. (IAMAMOTO, 1997, 116). Nessa lógica, é relevante abrirmos um parêntese para compreender que a dinâmica sobre a qual o instrumental técnico operativo do Serviço Social se processa é a mesma que forma o ser social, ou seja, é também a dinâmica de construção das identidades sociais individuais e coletivas onde atuamos e, portanto, temos expressiva capacidade de influência sobre ela. Sobre as ideias de Marx, Iamamoto (1997, p. 116) reflete que: O fundamento da prática social é, pois, o trabalho social; atividade criadora, produtiva por excelência, condição da existência do homem e das formas de sociedade, mediatizando o intercâmbio entre o homem e a natureza, através do qual o homem realiza seus próprios fins. Todavia, não podemos esquecer que tratamos do chão de trabalho sobre bases capitalistas, ou seja, a prática social se revela por meio de mediações que relacionam forma e essência, gestadas na própria sociedade. Disso se deriva “a exigência metodológica de apreender a formação econômica-social desta natureza capitalista em sua totalidade concreta com reprodução da realidade aprendida com suas múltiplas influências e determinações, como unidade na diversidade”. (MARX apud IAMAMOTO, 1997, p. 117). Nesse contexto reflexivo, a autora destaca a relação entre prática com a teoria. Citando Vazques (IAMAMOTO, 1997, p. 118), afirma que “se pode dizer que a teoria assim concebida se torna necessária como crítica teórica das teorias que justificam a transformação do mundo e como teoria das possibilidades de ação”. 17 Instrumental técnico-operativo do Serviço Social Esse olhar implica cuidados para que não se desenvolva uma profissão de natureza utilitarista, capaz de responder às demandas da sociedade em cada tempo,mas considerando a ordem vigente e não ensejando para a transformação social desejada em nosso projeto profissional. Por isso, teoria e método, instrumental e elementos operativos devem consolidar-se como uma construção imbuída da visão crítica e propositiva da profissão em seu tempo, mas ciente de seu compromisso com o empoderamento, com os princípios da liberdade, da democracia, da valorização da natureza humana em suas múltiplas e diversas formas de construir e viver em sociedade, com a supremacia do direito à dignidade de cada ser humano que a componha. Como construir e utilizar instrumentais profissionais capazes de reproduzir, no contexto complexo e processual da prática profissional, a potencialização de sujeitos, grupos, comunidades e sociedades em face de uma construção societária desejada e pretendida por todos, qualificando os assistentes sociais em suas formações para responder à realidade do mercado com o qual, como categoria assalariada, irá se relacionar? Incluo aqui os desafios de mercado e das políticas de Estado e diferentes fontes empregadoras dessa profissão que é dada, forjada e dirigida, em sua essência, à transformação social. Há, portanto, um destaque a ser feito na lógica destacada por Iamamoto e que manterá atual a natureza desta profissão: O que está em questão não é a subordinação utilitária da qualificação profissional às oscilações do mercado, mas uma sintonia necessária entre a formação e as demandas sociais objetivas apresentadas à profissão, salvaguardando aliança entre a análise histórica do Estado e da sociedade contemporâneas – o que permite decifrar as demandas profissionais e as tendências de mercado profissional – e a construção teórico-prática de respostas profissionais críticas em face desse mercado. Respostas solidamente elaboradas no campo teórico e das estratégias técnico-politicas, capazes de reconhecer e atender àquelas demandantes para transcendê-las, reencontrando e recriando o Serviço Social no tempo histórico. (IAMAMOTO, 1997, p. 192). Como se observa, falamos de uma prática profissional que se constrói no cotidiano da formação da própria história da humanidade. Façamos um breve exercício e você verá o quanto essa compreensão se expressa nas mudanças societárias. Inserimos nossa contribuição e redirecionamento à própria profissão neste movimento histórico. Observe uma simples lógica: 18 Capítulo 1 A caridade/filantropia e a proteção aos pobres/igreja, seguindo-se da atenção aos assalariados/preservação das conquistas de mercado/ Estado/igreja, evolui para a formalização ao processo de incentivo ao desenvolvimento econômico capitalista industrial; ao que se segue a incorporação transcontinental e interamericana de incentivos ao desenvolvimento do mercado e proteção do Estado em recusa à entrada do comunismo. Nessa lógica, há a reprodução do Estado de atenção social e, a partir dele, a revisão por parte da categoria quanto aos modelos reproduzidos pela profissão e os movimentos de intenção de ruptura por meio de encontros e processos de construção de uma identidade profissional brasileira, com seu posicionamento teórico-metodológico, ético-político e técnico operativo. O posicionamento a favor das lutas de classe em face da construção de uma sociedade igualitária, democrática e inclusiva evolui para a consolidação de um Projeto Ético Político e de um Código de Ética profissional, que posicionam a profissão e seus domínios na direção da dignidade humana e da transformação social, consolidando direitos por meio das políticas públicas. Não se pode negar que o trabalho social, campo da ação interdisciplinar e espaço onde a comunicação entre os saberes e os domínios se consolidam e integram, ou apenas se complementam, é o campo da prática profissional que se traduz em evolução histórica a partir dos domínios teórico-críticos do conjunto de esforços analisados, investigados, criticados em sua essência para consolidação de processos mais próprios a uma dimensão de exercício profissional eficaz, eficiente e efetivo ao seu tempo, aos seus sujeitos, à coletividade e às demandas que se refazem no agir cotidiano. Portanto, ao pensar a prática profissional não se pode deixar de compreender que o conjunto de domínios utilizados de natureza teórica, metodológica, ética, politica, técnica e instrumental são resultados desse processo histórico e por sua natureza devem ser devidamente dominados, empregados, considerando a subjetividade que dirige seu emprego no contexto da prática profissional. Há que se analisá-los constantemente sobre o prisma da crítica construtiva e inovadora, considerando o que Iamamoto destaca (2005) sobre a capacidade de antever as demandas que se apresentam e construir as respostas efetivas em âmbito de políticas públicas e privadas de direitos a serem assegurados e evoluídos, dada a dimensão de evolução da própria natureza humana cujas demandas estão muito além dos processos de inclusão e enfrentamento de riscos e vulnerabilidades sociais. Tais demandas transcendem a gênese dos sujeitos que se desejam autores de suas próprias histórias de vida, podendo ou não ser concernentes com o modelo capitalista em vigor. 19 Instrumental técnico-operativo do Serviço Social Citamos o exemplo das experiências de Economia Solidária, de Permacultura, entre outras, que constroem um novo lócus de convívio social coletivo, o qual, embora intrínseco ao modelo capitalista, não depende dele. Esse será objeto de seus estudos, mas se entende que o emprego da prática profissional se apresenta para além das fronteiras da consolidação dos direitos sociais, embora essa centralidade no tempo atual deva ser correspondida, pois ainda é o mecanismo de acesso a direitos para a maior parte dos demandantes das práticas profissionais. Portanto, a prática profissional hoje pretendida e defendida se sustenta em um arcabouço de domínios que traduzem os objetivos profissionais, considerando os diferentes espaços sócio-ocupacionais onde essa prática se insere, e onde o emprego do instrumental técnico operativo ou técnico profissional é essencial para que se concretize toda e qualquer intervenção. Muito embora o profissional os domine e empregue seu uso, esses instrumentais podem e devem se traduzir em meios pelos quais comunicações se consolidam, reflexões se produzam, criticas se estabeleçam, construções individuais e coletivas se mobilizem; ou seja, esses são elementos pelos quais a relação entre profissional e sujeitos se estabelece numa direção que deve ser concernente ao campo da consolidação dos direitos desejados ou a serem inexoravelmente assegurados. Falamos, então, que o instrumental que sustenta a prática profissional é, em essência, um elo pelo qual as relações podem se estabelecer, reconstruir e (re) direcionar em face da transformação social pretendida. Perceba, então, a importância de você compreender, dominar e bem mediar o emprego do instrumental técnico operativo profissional, pois, em última instância, ele consolida o seu fazer cotidiano como assistente social. Seção 2 O processo de trabalho do assistente social e o referencial contemporâneo Nesta seção, você será estimulado a compreender como se processa o trabalho no Serviço Social, considerando a capacidade processual dessa profissão de atualizar-se e interpretar a realidade a partir dos parâmetros das classes populares e do movimento na construção histórica dos direitos humanos e sociais, considerando as tendências teóricas contemporâneas que norteiam essa compreensão. 20 Capítulo 1 A discussão acerca do processo de trabalho do assistente social requer grande cuidado para que se formule uma leitura simplista ou deveras complexa para situar como se processa a questão da prática profissional. A prática profissional não se desloca em um mundo à parte do contexto societário; antes disso, ela mesma é parte integrante e intrigante das reflexões produzidas na atualidade sobreo trabalho e suas formas de realização. Inicialmente, faz-se necessário compreender que o próprio termo processo de trabalho se torna objeto de reflexão, dada a natureza interpretativa que lhe damos. Há quem consolide uma reflexão profunda segundo a qual não falamos de processo de trabalho, mas de processos, e de que não há como consolidar processos hegemônicos ou igualitários para contextos de uma sociedade capitalista tão complexa com múltiplas expressões da questão social que se configuram em transformações constantes em função das mudanças de cenário de mundo globalizado. Há elementos estruturantes do fazer profissional que hoje são objeto de estudo e reflexão por parte das ciências sociais. Antunes (2008), por sua vez, nos instiga a refletir sobre uma sociedade cuja centralidade dada ao mundo do trabalho se vê ameaçada pelo contexto global de crise. Fala-se de uma nova fase do capital na qual embora se processe em moldes de diferentes naturezas, há grande apropriação do trabalho intelectual das capacidades cognitivas, procurando envolver intensamente a subjetividade operária. Falamos de processos absorvidos por máquinas e pela tecnologia, mas também do que a tecnologia não supre e exige o trabalho humano. Portanto, ao invés de da substituição do trabalho pela ciência, ou ainda da substituição da produção de valores pela esfera comunicacional, da substituição da produção pela informação, o que se pode presenciar no mundo contemporâneo é uma maior inter-relação, uma maior interpenetração entre as atividades produtivas e as improdutivas, entre as atividades fabris e de serviços, entre atividades laborativas e as atividades de concepção , que se expandem no contexto da reestruturação produtiva do capital. O que remete ao desenvolvimento de uma concepção ampliada para se estender sua forma de ser no trabalho no capitalismo contemporâneo, e não à sua negação. (ANTUNES, 2008, p. 178). Nesse contexto, Antunes (2008) fala sobre as metamorfoses do mundo do trabalho e suas implicações sobre diferentes elementos, como a crise do movimento operário e sindical, a desregulamentação, flexibilização, terceirização, o desmonte de direitos trabalhistas, entre outros aspectos que imprimem uma nova lógica a ser ainda compreendida no contexto das relações produtivas no capitalismo. 21 Instrumental técnico-operativo do Serviço Social O cenário contemporâneo se apresenta com inúmeras reflexões a serem feitas no âmbito das ciências de modo geral, e no campo das ciências sociais não é diferente. Essa lógica atinge a dinâmica do processo de trabalho profissional em Serviço Social, na medida em que nos inserimos no contexto das classes que vivem do trabalho e fazem a dinâmica do trabalho acontecer não somente para si, mas para o contexto coletivo em suas influências técnico-operativas vinculadas às políticas de direitos vigentes. Desse modo, há conceitos que permeiam a prática profissional e dirigem o processo de trabalho os quais não podem ser negligenciados. Mesmo diante de cenários complexos, a prática profissional se desenvolve a partir de uma processualidade, o que pode ser criticado ou problematizado. No entanto, há de fato uma lógica norteadora do agir profissional que caracteriza a sua especificidade e a cientificidade necessárias a sua qualificação. Passando por um olhar genérico sobre as reflexões de Baptista (1995), podemos considerar que, se tratamos como objeto da prática profissional as múltiplas expressões da questão social, não se pode prescindir uma lógica compreensiva desses fenômenos, de uma capacidade mediadora ou resolutiva das demandas que se apresentem nesse processo; tão pouco se pode desconsiderar uma processualidade que monitore ou avalie se, de fato, há resultados obtidos com os processos teórico-metodológicos e técnico operativos empregados. Qualquer profissão ou ciência tem por natureza questionar-se como mecanismo de evolução e desenvolvimento. Nesse contexto, conceitos como comunicação, conscientização, ação e sujeitos são expressões refletidas por grandes teóricos da profissão, a exemplo de Faleiros (1997). Nesse sentido, inclui-se um conceito importante – a práxis profissional, partindo-se da ideia de que a discussão das questões metodológicas não pode ser feita isolada da complexidade social, das relações de poder e dos atores profissionais na instituição. Essa capacidade de fazer a prática profissional refletindo sobre ela e, preferencialmente, recriando-a a partir do processo reflexivo, reconstrói o fazer a partir do olhar crítico. Muito embora não se possa falar de formas, modelos, ou métodos fechados, apesar de muitos o desejarem, falamos em processos de trabalho pelos quais há demandas identificadas no contexto das múltiplas expressões da questão social, especialmente envolvendo o olhar do sujeito para sua própria realidade e para sua ação consciente e crítica diante dela (ao que chamamos por muito tempo objeto da prática). Há, portanto, sujeitos a serem compreendidos em suas singularidades e particularidades sócio-históricas e culturais. Esses sujeitos podem apresentar objetivos a serem construídos em face das demandas evidenciadas ou direitos a serem a assegurados em face dos direitos violados em sua realidade. 22 Capítulo 1 Por outro lado, há uma lógica de planejamento do processo interventivo que, a depender de contextos institucionais diferenciados (Estado, mercado, sociedade civil organizada), pode adquirir dinâmicas organizativas próprias, por vezes até mesmo burocratizadas, mas que não podem se eximir de consolidar respostas e mecanismos de medicação, controle e análise de resultados das demandas apresentadas, apesar de seus processos burocratizados e que podem se processar de diferentes formas institucionais. Pode-se dizer que há um desafio comum a qualquer espaço sócio-ocupacional pelo qual se processa a intervenção, é a análise de impacto social, uma vez que há dimensões materiais e imateriais do processo de trabalho as quais só podem ser observadas em longo prazo. De modo geral, podemos considerar a existência de instrumentais técnico operativos profissionais capazes de contribuir ou dirigir a construção de diagnósticos sociais; outros capazes de consolidar processos de planejamento individuais ou coletivos, para os sujeitos da prática. Da mesma forma, instrumentais norteiam o processo de monitoramento do processo desenvolvido, preferencialmente trazendo o sujeito para o centro do processo de análise, de consideração de resultados e para consolidação de novos movimentos individuais e coletivos, em face dos objetivos a serem atingidos. Esse processo não se consolida sem uma dimensão essencial ao processo de trabalho profissional, que é a dimensão política. Todavia, essa dimensão é intrinsicamente ligada ao contexto societário contemporâneo, onde o processo de trabalho se desenvolve. Como citado por Yabek (2014), lidamos com um tempo caracterizado por mudanças aceleradas que se configuram em diferentes dimensões da vida social, repercutindo em uma nova sociabilidade e uma nova política, processo esse a ser refletido e conduzido de modo consistente e crítico. Nesse sentido, são reflexões que vêm sendo construídas tendo como referência a análise do contexto resultante da complexa e multifacetada crise do capital com seu mundo de mercado, sua ênfase no neoliberalismo (...) e seus processos de privatização multiplicadores dos mecanismos a favor do capital , suas perspectivas de monetarização de políticas sociais residuais que evidenciam a orgânica relação entre as mudanças em andamento na esfera da economia política e as políticas sociais contemporâneas, que se tornam cada vez menos universais e mais focalizadoras. Âmbito privilegiado do exercício profissional e lugar onde a profissão participa de processos de resistência e constrói alianças estratégicas na direção de outro projeto societário. (YASBEK, 2014, p. 678). 23 Instrumentaltécnico-operativo do Serviço Social Como citamos a partir do olhar de Antunes (2008), as condições estruturais sobre as quais se coloca o mundo do trabalho cria um cenário de crises e desafios sobre o qual vão se redefinir as bases entre proteção social e as intervenções do Estado no âmbito das políticas sociais e nos espaços onde se verifica sua atuação. Nesse viés, não se pretende apontar um cenário de crises, mas de transformações que devem ser percebidas, pois indicam novas configurações do processo de trabalho profissional, uma vez que “também o Serviço Social tem na prestação dos serviços sociais seu campo de intervenção privilegiado e nas instituições sociais públicas e privadas seu espaço ocupacional” (RAICHELIS apud YASBEK, 2014, p. 679). Esse contexto de transformações imprime uma lógica ao processo de trabalho que exige, por parte do profissional, a compreensão de algumas questões que Yasbek (2014) destaca: • As novas expressões da questão social manifestas no cotidiano profissional. Para citar apenas alguns exemplos dados pela autora: mudanças vêm ocorrendo nas periferias das cidades, a circulação e distribuição das riquezas também estão impactadas, a economia informal, o crescimento da violência, das drogas e seu poder instituído ilegalmente, os programas sociais multiplicados pelas periferias, entre outros aspectos. A exclusão social envolve bens materiais, culturais, de identidade e interação sociocomunitária. • O estabelecimento de uma compreensão crítica sobre as reconfigurações dos sistemas de proteção social e política social, onde se focalizam políticas contra a pobreza, muitas vezes focadas a segmentos, o que contradiz o olhar da Política Nacional de Assistência Social, a qual determina a atenção pela centralidade na família e seu conjunto de demandas articuladas a uma rede de políticas de direitos. • A necessidade de a profissão construir mediações políticas e ideológicas, o que deve perpassar o contexto das organizações onde se processam as práticas, isto porque sabemos que “questão social é luta, é disputa pela riqueza socialmente construída”. (YASBEK, 2014, p. 686). Ao contextualizar esses desafios que envolvem o processo de trabalho profissional, a autora nos alerta para o fato de que a prática profissional é polarizada pelos interesses de classes, em uma relação que é historicamente contraditória, pois ao mesmo tempo que permite ao exercício profissional a reprodução e a continuidade da sociedade de classes, também permite sua transformação. 24 Capítulo 1 Nesse âmbito, há uma nítida dimensão política da prática profissional, na medida em que o processo de trabalho desenvolvido pode colocar-se em uma ou outra posição desse processo contraditório. Isso representa tratar das disputas políticas no espaço das políticas sociais, mediações centrais no exercício da profissão (YASBEK, 2014). Desse modo, o processo de trabalho consolida-se por sua dimensão teórica, metodológica, técnico-operativa e ético política, considerando as contradições manifestas nos espaços públicos e privados onde tal trabalho se consolida. Isso requer que os profissionais sejam capazes de compreender as tendências contemporâneas do processo, mas se apropriem das críticas as quais recriam a dinâmica interventiva, na medida em que a dimensão política, por exemplo, exigir novos contornos ao exercício profissional. Naturalmente, não se pode evidenciar um processo de trabalho metódico, em seu sentido mais restritivo, pois a sociedade não pode ser entendida de modo hegemônico, embora globalizado, com dimensões interventivas que considerem particularidades e singularidades não presentes em outras realidades de trabalho. Essas reflexões colocam o processo de trabalho e a dinâmica interventiva diante do realismo do mundo do trabalho, onde a profissão se processa pela existência de um contexto ou de uma política de direitos normativa (em esfera pública ou privada), de um contexto institucional que adquire características específicas e pela natureza e perfil do sujeito profissional, que se apropria do saber historicamente construído e o transforma em processos interventivos, com maior ou menor condição de mediação de demandas priorizadas. Não se pode ignorar o que destaca Faleiros (2014, p. 709): “a prestação de serviços sociais está assim, condicionada pela legislação, pelo orçamento e pela gestão dos serviços num processo de trabalho dependente de uma subordinação gerencial, e por relações trabalhistas de um contrato salarial (...)”. Por outro lado, Os sujeitos demandantes de serviços sociais são confrontados com um cotidiano de relações de exclusão e ao mesmo tempo de aceitação ou rejeição de suas exclusões e os profissionais têm o desafio de contribuir para mudanças de trajetórias no processo de empoderamento dos sujeitos em relações de direito, de acesso ao estado de direito e a condições de sobrevivência. (FALEIROS, 2014, p. 710). 25 Instrumental técnico-operativo do Serviço Social No olhar crítico de Faleiros (2014), não se pode recair sobre um olhar simplista de configuração da pratica profissional. Estamos falando de consciências, relações socais, ideologias e sujeitos que se colocam em processo de convívio e compreensão das várias manifestações e expressões dessas relações sociais. O Serviço Social, nas diversas expressões da desigualdade com que trabalha, depara-se com a consciência que as pessoas têm dessa desigualdade e, ao mesmo tempo, de seus direitos nessa sociedade desigual. As lutas pelos direitos, pelo poder do bloco dominado, é um processo de hegemonia e de contra hegemonia na perspectiva gramsciana. A construção de um projeto de sociedade é um processo multidimensional, que envolve relações políticas e organizativas e a relação de identificação entre intelectual, profissional, em geral com maior poder de conhecimento e mesmo de salário, com público demandante pobre, excluído. (FALEIROS, 2014, p. 713). Já o olhar de Simionatto (2009) reflete a busca pela construção de uma nova hegemonia que possa parecer mais equânime no pensar libertário e potencializador que tendemos a ter como assistentes socais, envolvendo transformações não somente nas esferas político-econômica, mas nas dimensões culturais, intelectuais e morais. Sob essa perspectiva, essas relações contra- hegemônicas se traduzem igualmente na articulação do cotidiano com o contexto das violências, do descaso, das insatisfações, entre outros aspectos de mesma natureza e manifestos no processo cotidiano do trabalho profissional. Faleiros (2014) revela que, mesmo os processos de atenção e provisão de serviços sociais sendo disponibilizados de modo desigual e em velocidades diferentes entre as classes, há a necessidade de crítica ao processo fragmentado de atenção aos direitos. Nesse âmbito, há a necessidade de pesquisa crítica, sistematizações de reivindicações e mudança na cultura da população, para entender a realidade concreta de forma crítica, transformando-a em realidade pensada e compartilhada. Isso, para o autor, exige uma análise dialética de forças, visando a implementar a “proteção social da vida”. (FALEIROS, 2014, p. 714-715). Na complexidade desse contexto de relações sociais, o processo de trabalho se desenvolve na luta por um projeto ético político voltado à defesa de direitos sociais, que para Faleiros (2014, p. 715) deve se voltar a um “de pactos políticos revolucionários da ordem dominante, no sentido da igualdade e equidade”. 26 Capítulo 1 A prática profissional é um enfrentamento enquanto relação complexa de contraditória de poder, recursos, valores, linguagem, dispositivos, estratégias, operações, visões de mundo, situações sociais de desigualdade, sofrimento, exclusão. Enfrentamento relacional de determinações econômicas, políticas, sociais, culturais, entre outras, com dinâmica histórica e política da contestação e da expressão de si e da própria sociedade. (FALEIROS, 2014,p. 717). Neste contexto, há que se reconhecer que o processo de trabalho profissional deve ser capaz, ao problematizar tais questões, de consolidar maneiras de assegurar os direitos humanos nas formas de direitos sociais, políticos, culturais, econômicos concretos, o que Faleiros (2014) alerta como dilema ético do exercício profissional. Como se observa, o trabalho profissional requer uma apropriação das reflexões críticas e propositivas que se fazem rotineiramente no processo de trabalho profissional; não como forma de destituição do valor dessa prática, mas, ao contrário, como capacidade instalada na profissão de olhar-se, de olhar a realidade, os sujeitos de sua prática, suas demandas e expressões da questão social. É preciso considerar, assim, os aportes políticos, institucionais, teóricos, metodológicos, operativos e éticos, ao mesmo tempo da dimensão da profissão, da coletividade e das políticas de direitos (sejam públicas ou privadas) instituídas. Sob o risco de o exercício profissional reduzir-se à reprodução das relações de poder e perpetuação do ciclo de exclusão, vulnerabilidade e alienação dos sujeitos, o processo de trabalho profissional requer que se atente, no cotidiano das práticas institucionais, para os caminhos que se pretende projetar com o sujeito, sua família e a coletividade. Desse modo, não falamos em aplicações pontuais de um instrumental técnico operativo profissional, mas de processos de trabalho em que esses instrumentais estão imbuídos de intencionalidades, de razão e de caminhos futuros sendo construídos. Esta dinâmica traz a aprendizagem do próprio assistente social numa comunicação fecunda com o público e no exercício político da profissão, o exercício esse que supõe a abertura fundamental a crítica da estrutura (...) que supõe sujeitos em ação no confronto ou mediação de ideias e representação de sociedade, de seu grupo, de si mesmo e da profissão. (FALEIROS, 2014, p. 721). Na atualidade, pode-se dizer que os processos profissionais, de modo geral, exigem suas próprias reflexões, fundadas em pesquisas científicas ou no contexto das relações produtivas e de trabalho. 27 Instrumental técnico-operativo do Serviço Social No entanto, não existem mais dinâmicas profissionais sem que se olhe em um movimento contínuo para dentro e para fora do fazer profissional, considerando a complexidade da vida contemporânea e suas descobertas. Não se pode falar em processo de trabalho sem bases teóricas, metodológicas, ético políticas e técnico-operativas que delineiem tal prática. Sobre este contexto atual, Simionatto (2009, p. 102) destaca que: O Serviço Social defronta-se, portanto, com duas grandes tendências teóricas: uma vinculada ao fortalecimento do neoconservadorismo inspirado nas tendências pós- modernas, que compreende a ação profissional como um campo de fragmentos, restrita às demandas do mercado de trabalho, cuja apreensão requer a mobilização de um corpo de conhecimentos e técnicas que não permite extrapolar a aparência dos fenômenos sociais; e outra relacionada à tradição marxista, que compreende o exercício profissional a partir de uma perspectiva de totalidade, de caráter histórico-ontológico, remetendo o particular ao universal e incluindo as determinações objetivas e subjetivas dos processos sociais. O fortalecimento de uma ou outra dessas perspectivas depende, entre outros fatores, da qualificação teórico-metodológica e prático-operativa dos profissionais e de suas opções ético-políticas, no sentido de compreender o significado e as implicações dessas propostas para o futuro da profissão diante dos complexos desafios postos pelo século XXI. Portanto, o cenário no qual se processam as direções da prática profissional que requerem um posicionamento crítico, como citado acima, configura-se, eminentemente, na consolidação das políticas de direitos, destacando-se as políticas públicas de assistência social, saúde, educação, meio ambiente, sem desconsiderar as dimensões dos espaços institucionais privados e de organizações da sociedade civil, no âmbito da geração do empreendedorismo autônomo, entre outros. Notadamente, há especificidades político organizativas nestas diferentes esferas, mas que requerem o domínio das dimensões já citadas (teórico, metodológicas, ético, politicas, técnico-operativas). Pode-se afirmar que estamos diante de um processo de apropriação de bases teóricas, com a construção de um perfil do contexto inter e transdisciplinar, que aponta para bases reflexivas e busca a construção de novos paradigmas construídos e em desenvolvimento por autores contemporâneos citados por Panceri e Merigo (2014), sejam eles: Anthony Giddens, Hannah Arendt, Pierre Bourdieu, Michel Foucault, Juergen Habermas, Edgard Morin, Boaventura Souza Santos, Eric Hobsbawm, E.P. Thompson e tantos outros. 28 Capítulo 1 Para Yasbek (2014), apesar da apropriação desses referenciais, é cada vez mais evidente que diferentes projetos sociopolíticos societários e também projetos da profissão se expressem no cotidiano do processo de trabalho profissional, os quais muitas vezes se configuram como relações de poder. É quando nos referimos às relações de poder, não podemos excluir as relações dos profissionais com a população. É o poder das triagens das elegibilidades, das governabilidades, das concessões dos laudos, das visitas controladoras, das definições de quem fica e quem não fica, de quem pode participar de programa, etc. (YASBEK, 2014, p. 687). Note o poder de crítica feito pela autora (2014, p. 687-688): “Você exerce em seu processo de trabalho profissional uma dinâmica de poder que lhe representa diante do projeto ético político da profissão. Neste âmbito, fica evidente a dimensão cultural e política do exercício desta profissão”. Nesse viés, devemos ter presente, no processo de trabalho profissional, a construção de parâmetros de negociação de interesses e direitos dos usuários que devem trazer a marca do debate ampliado e da deliberação pública da cidadania, da democracia, da justiça social, da liberdade, da igualdade e da transformação social desejada pelos sujeitos cônscios de seu projeto de vida e de sociedade. (YASBEK, 2014). No contexto da prática profissional e do invariável desafio à inovação do processo de trabalho, há uma riqueza de transformação de saberes, fazeres e seres que se constroem na relação complexa histórica dos tempos atuais, mas, no olhar dos assistentes sociais, voltam-se à transformação da realidade em direção à construção da sociedade desejada. Nossa história revela o quanto isso é possível e, ao mesmo tempo, quanto domínio é exigido dos profissionais para se obter avanços em seus processos de trabalho, destacando o instrumental técnico operativo como indispensável à realização cotidiana do trabalho social. 29 Instrumental técnico-operativo do Serviço Social Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO EM SERVIÇO SOCIAL. Cadernos ABESS. Ensino em Serviço Social: Pluralismo e Formação Profissional. São Paulo: Cortez, 1995. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENSINO EM SERVIÇO SOCIAL. Cadernos ABESS. Formação profissional: trajetórias e desafios. São Paulo: Cortez, 1997 (Edição especial). ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 13ª ed. São Paulo: Cortez, 2008. BARBOZA, Douglas Ribeiro; FREIRE, Silene de Moraes. O Serviço Social crítico no atual contexto de redemocratização da América Latina. Rev. Katálysis, v. 9, n. 2, p. 227-236, 2006. 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Fundamentos históricos e teórico-metodológicos do Serviço Social. In: Serviço Social: direitos sociais e competências profissionais. Brasília: CFESS/ABEPSS, 2009. YAZBEK, Carmelita. O significado sócio-histórico da profissão. In: Curso: Serviço Social: Direitos Sociais e Competências Profissionais, módulo I. Brasília: CFESS / ABEPSS / CEAD-UNB, 2009. YAZBEK, Carmelita. A dimensão política do trabalho do assistente social. Serviço Social e Sociedade. São Paulo, n. 120, p. 677-693, out./dez. 2014. Disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/sssoc/n120/05.pdf>. Acesso em: 17 nov. 2015. http://www.scielo.br/pdf/sssoc/n120/05.pdf 35 Neste capítulo, estaremos abordando a questão social como realidade onde acontece a ação prática do Serviço Social, as estratégias e a instrumentalidade necessárias e presentes ao cotidiano profissional. Ao finalizar este estudo, o (a) estudante estará apto para analisar a realidade, compreendendo suas atribuições profissionais a partir do desenvolvimento de competências éticas, teóricas e metodológicas. Capítulo 2 Instrumentalidade e estratégias em Serviço Social: o cotidiano profissional frente às múltiplas expressões da questão social Walery Luci da Silva Maciel Seção 1 A questão social Construção Chico Buarque de Holanda Amou daquela vez como se fosse a última Beijou sua mulher como se fosse a última E cada filho seu como se fosse o único E atravessou a rua com seu passo tímido 36 Capítulo 2 Subiu a construção como se fosse máquina Ergueu no patamar quatro paredes sólidas Tijolo com tijolo num desenho mágico Seus olhos embotados de cimento e lágrima Sentou pra descansar como se fosse sábado Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago Dançou e gargalhou como se ouvisse música E tropeçou no céu como se fosse um bêbado E flutuou no ar como se fosse um pássaro E se acabou no chão feito um pacote flácido Agonizou no meio do passeio público Morreu na contramão atrapalhando o tráfego Amou daquela vez como se fosse o último Beijou sua mulher como se fosse a única E cada filho seu como se fosse o pródigo E atravessou a rua com seu passo bêbado Subiu a construção como se fosse sólido Ergueu no patamar quatro paredes mágicas Tijolo com tijolo num desenho lógico Seus olhos embotados de cimento e tráfego Sentou pra descansar como se fosse um príncipe Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo Bebeu e soluçou como se fosse máquina Dançou e gargalhou como se fosse o próximo E tropeçou no céu como se ouvisse música 37 Instrumental técnico-operativo do Serviço Social E flutuou no ar como se fosse sábado E se acabou no chão feito um pacote tímido Agonizou no meio do passeio náufrago Morreu na contramão atrapalhando o público Amou daquela vez como se fosse máquina Beijou sua mulher como se fosse lógico Ergueu no patamar quatro paredes flácidas Sentou pra descansar como se fosse um pássaro E flutuou no ar como se fosse um príncipe E se acabou no chão feito um pacote bêbado Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir Por me deixar respirar, por me deixar existir Deus lhe pague Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair Deus lhe pague Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir Deus lhe pague. Fonte: Nova Editora Musical Ltda., 1971. 38 Capítulo 2 O texto acima, de forma rimada e sonora, esboça a realidade da vida humana no modelo de sociedade na qual vivemos, onde cada um de nós ocupa e desempenha um papel, “tijolo com tijolo num desenho lógico”. O entendimento dessa lógica, como ela se constrói, como acontece, leva-nos ao entendimento da questão social, matéria-prima de nossa vida e ação profissional. Ao longo da história da formação do Serviço Social como profissão, vemos que a questão social é concebida de diferentes formas, tendo como referencial o conteúdo epistemológico que em cada período embasou a sua teorização e, consequentemente, sua prática. Não cabe, nesta altura de nosso estudo, uma abordagem aprofundada desse tema; porém, para fins de entendimento de alguns conteúdos que precisamos abordar quando do estudo da instrumentalidade e do instrumental técnico-operativo, faremos uma rápida inserção no assunto. Nossa abordagem compreenderá o estudo a partir de diferentes referenciais teóricos, buscando, assim, construir o conhecimento do tema de forma abrangente e plural, “é preciso revalorizar a diversidade de visões, a tolerância, sem confundi-la com ecletismo, considerando-se a diversidade e a pluralidade num processo interativo, conflituoso” (FALEIROS, 2011, p. 87). A questão social emerge na Europa nos meados do século XIX como resultado da nova configuração da sociedade a partir da Revolução Industrial, mais precisamente das lutas dos operários e das repressões então sofridas. Surge como resultado do embate entre a manutenção da propriedade privada por parte da burguesia e o direito ao trabalho defendido pelos operários. Partindo da teoria social crítica, Santos (2004), Iamamoto (2010) e Montaño (2012) entendem a questão social como fenômeno próprio do modo de produção capitalista, parte constitutiva das relações capital-trabalho, a partir do processo produtivo e das contradições que ele encerra, constituindo-se como uma expressão ampliada da exploração do trabalho, das desigualdades e lutas sociais que delas decorrem. A questão social se expressa nas desigualdades econômicas políticas e culturais das classes sociais, sendo permeada pelas discrepâncias nas relações de gênero, etnias e formações regionais. Para Iamamoto (2003), a produção da questão social na contemporaneidade se desenha a partir de quatro aspectos centrais: • Primeiramente, destaca-se a lógica financeira do regime de acumulação, que gera maior concentração de renda e aumento da pobreza, ampliando as desigualdades distribuídas territorialmente, aumentando a distância entre as rendas do trabalho e do capital, como também a distância entre o rendimento dos trabalhadores qualificados e dos não qualificados. 39 Instrumental técnico-operativo do Serviço Social Favorece, ainda, a especulação financeira em detrimento da produção, gerando um aumento dos níveis de desemprego, o recrudescimento dos investimentos nas políticas sociais e, consequentemente, o agravamento da questão social. • Num segundo aspecto, a autora destaca a especialização e a acumulação flexível, caracterizadas por movimentos que alteram radicalmente os processos e as formas de gestão do trabalho, alterando as regras do mercado, os direitos sociais e trabalhistas e os padrões de consumo. A redução dos custos do capital obriga o trabalhador a se tornar polivalente, além de gerar o enxugamento do quadro de pessoal e favorecer, assim, as terceirizações. A introdução de novas tecnologias, como a robótica, a microeletrônica e a informática, altera as formas e relações de trabalho. “Reduz- se, assim, a demanda de trabalho vivo ante o trabalho passado, incorporado nos meios de produção com elevação da composição técnica e de valor do capital” (IAMAMOTO, 2003, p. 69). • A diminuição do papel do estado na questão social constitui o terceiro aspecto para o entendimento do fenômeno na atualidade. A relação Estado/sociedade civil sofre mudanças radicais a partir da óticaneoliberal, passando o Estado a intervir a serviço de interesses privados, reduzindo sua atuação na questão social, por meio de restrições dos gastos públicos e da privatização da coisa pública. Passa a predominar um Estado submetido aos interesses econômicos e políticos dominantes no cenário nacional e internacional, em detrimento do atendimento e atenção às causas e afeitos do agravamento da questão social. • Como último aspecto, Iamamoto (2003) destaca as alterações nas formas de sociabilidade, quando o mercado passa a dominar a sociedade, tornando-se regulador da vida social, invadindo todas as suas esferas. A partir de uma lógica pragmática e produtivista, passa-se a viver sob a égide da competitividade, da eficácia e eficiência, que, adotadas como critérios, passam a referenciar e determinar a vida em sociedade. Segundo a autora, forja-se uma mentalidade utilitária que reforça o individualismo, naturaliza a sociedade e a degradação das condições de vida da grande maioria. Essa visão atinge as formas culturais, as subjetividades e as identidades coletivas, destruindo projetos e utopias. 40 Capítulo 2 Para a autora, o enfrentamento da questão social e de suas manifestações se dá pela priorização das necessidades da classe trabalhadora, vistas de forma coletiva, bem como pela responsabilização do Estado por meio da afirmação das políticas sociais de caráter universal, voltadas aos interesses das grandes maiorias, “condensando um processo histórico de lutas pela democratização da economia, da política, da cultura na construção da esfera pública” (IAMAMOTO, 2010, p. 162). Robert Castel (2013) analisa a questão social a partir do contexto europeu, mais precisamente da França, tendo como referência teórica de análise a visão de Durkheim, em que a sociedade é entendida a partir de um conjunto de relações de interdependência. Afirma o autor que a questão social desenha-se nas condições de vida de milhares de pessoas que, diante das atualizações das competências econômicas e sociais, veem-se à margem da vida social, por conta da precarização das relações de trabalho e da fragilização dos sistemas de proteção que acolhem os indivíduos ao longo de sua existência. Para o autor, o “social” acontece nas relações não mercantis, sendo o hiato entre a organização política e o sistema econômico, e tendo como centro a ideia da sociedade salarial, em que a maioria dos sujeitos sociais tem sua inserção social relacionada ao lugar que ocupa no salariado, o que envolve sua renda, seu status, sua proteção e sua identidade. A sociedade salarial não é uma sociedade de igualdades, abrigando diversos conflitos; no entanto, cada sujeito dispõe de um mínimo de garantia e direitos, assegurados pelo Estado Social. Com a retirada do Estado, o corporativismo ameaça os interesses gerais, e o vínculo social pode se decompor. Para o autor, a questão social se agrava com a precarização do trabalho e com a interinidade, que alimenta o desemprego. Dessa forma, os indivíduos, vivendo o dia a dia, veem fragilizados seus vínculos, a noção de pertencimento e a coesão social. Segundo Castel (2013), o enfrentamento da questão social se dá mediante o fortalecimento das relações de trabalho, sua garantia e a proteção do Estado. Para Didier Lapeyronnie (2003), o ponto de partida para o debate acerca da questão social vem do pressuposto que os problemas elencados como questões de integração social não são consequências naturais de uma evolução da sociedade, mas configuram como uma solução construída social e simbolicamente, fazendo com que as classes populares sejam excluídas por mecanismos sociais e anuladas por mecanismos políticos e simbólicos. Dessa forma, o entendimento da questão social na atualidade demonstra que o indivíduo não está mais submetido às normas e à racionalização da produção, mas sim a imagens e signos que lhe são impostos pelo consumo e por sua participação na vida social. Para o autor, os indivíduos não se identificam mais pelo trabalho e pela posição social, pois sua identificação está no tipo e nível de consumo. 41 Instrumental técnico-operativo do Serviço Social O sentimento de pertencimento a uma determinada situação social, foi, portanto, substituído pela busca de mobilidade em torno de acesso ao consumo. Segundo o autor, nesse cenário em que o consumo está acima da produção e determina a posição do indivíduo na sociedade, o discurso da luta de classes e de integração foi substituído pela ideia da dualização e da exclusão. De um lado, posicionam-se as classes médias definidas pelo status, capacidade de consumo e de participação na vida urbana; de outro, as classes populares, identificadas pelos níveis de violência, miséria e patologias: os excluídos. Se antes a classe operária tinha uma identidade, dada por sua participação na produção, e nela podia se apoiar e reivindicar de forma coletiva, agora, dissociada da produção e identificada pelo consumo, luta pelo reconhecimento, por sua dignidade. Dessa forma, numa ordem em que as categorias objetivas dos dominantes definem a nova questão social, colocando em oposição a integração à exclusão e o universal ao particular, resta ao excluído a luta por sua dignidade e reconhecimento ao direito de viver a sua vida, sem a imposição de modelos definidos pelo consumo. Isso constitui a nova questão social. Para o autor, seu enfrentamento se dá por meio de três questões consideradas cruciais: • fazer aparecer, por trás da lógica objetiva de integração-exclusão, a veracidade das relações de classes e das relações de poder; • fazer do direito de cada um viver sua vida o objetivo de toda política; • colocar no centro da ação a reivindicação pela democracia. A relação da questão social com a prática e ação do Serviço Social reside no fato de que a formação profissional no Brasil tem nessa sua sustentação de fundação sócio-histórica. Assim, a questão social torna-se um elemento central e constitutivo da relação entre o Serviço Social e realidade social. O processo de trabalho do Serviço Social é determinado pelas configurações estruturais e conjunturais da questão social e pelas formas históricas de seu enfrentamento, permeadas pela ação dos trabalhadores, do capital e do Estado, através das políticas e lutas sociais. (ABEPSS, 1996, p. 5). 42 Capítulo 2 De acordo com Iamamoto (2010), a identificação da questão social como elemento transversal à formação e ao exercício profissional no Serviço Social decorre da necessidade de situar a profissão no contexto histórico da sociedade, e mais especificamente da história da sociedade brasileira como uma forma de romper com o dualismo e a defasagem entre a teoria e a prática, e de qualificar a ação profissional no enfrentamento cotidiano da questão social. Segundo a autora (2010, p. 163): O Serviço Social, tem na questão social a base de sua fundação enquanto especialização do trabalho. Os assistentes sociais, por meio da prestação de serviços sócio-assistenciais – indissociáveis de uma dimensão educativa (ou político- ideológica) – realizados nas instituições públicas ou organizações privadas, interferem nas relações socais cotidianas, no atendimento às variadas expressões da questão social, tais como experimentadas pelos indivíduos sociais no trabalho, na família, na luta pela moradia e pela terra, na saúde, na assistência social pública, entre outras dimensões. Por outro lado, afirma a autora que a distinção atribuída à questão social exige o aprofundamento e a apropriação da matriz teórica da tradição plural marxista, relacionando-a com as demais correntes do pensamento contemporâneo e aprofundando seu debate. Essa aproximação permite entender a sociedade civil que explica o Estado, sendo que nas relações sociais podem ser compreendidas as formas políticas, religiosas, artísticas, entre outras. A partir dessa visão, a questão social tem prioridade sobre a política social na formação acadêmico-profissional
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