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Aula 1 - Anestesiologia 28/08/2020 ´´ Talvez não exista nenhum avanço no conhecimento da medicina que tenha aliviado mais o sofrimento humano que a descoberta da anestesia``. Introdução à Anestesiologia ● Anestesia = ausência de sensibilidade ↳ Anestesia pode ser geral onde seu corpo inteiro está sem sensibilidade ou pode ser local, onde apenas uma parte do corpo fica sem essa sensibilidade. ● Analgesia = ausência de dor ● Anestesia geral x anestesia local Ex: Fiz um corte na minha mão, se injetar anestésico apenas no corte estou fazendo uma anestesia local. Agora se bloqueio o plexo braquial, vou bloquear meu braço inteiro, então estou fazendo uma anestesia local. A geral é quando você fica inconsciente e seu corpo todo fica sem sensibilidade. ● Dor x Nocicepção ↳ A dor é um estímulo que só ocorre quando o indivíduo está consciente. O conceito de dor envolve que o indivíduo tenha o aspecto emocional envolvido. Se não tem esse aspecto emocional envolvido isso é chamado de nocicepção. ↳ Nocicepção é o cérebro recebendo e interpretando os estímulos dolorosos como sendo estímulos nocivos (que não fazem mal). Objetivos da Anestesia ● Prevenir a percepção e a resposta à dor ● Promover imobilidade ● Relaxamento da musculatura esquelética ↳ Especialmente quando requerido Ex: O cirurgião vai fazer um procedimento em coluna. É necessário fazer uma anestesia para que relaxe a musculatura, pois o cirurgião necessita afastar os músculos para chegar até a coluna. ● Principal Atingir os objetivos acima sem trazer prejuízos à vida e à segurança do animal. ● Um único fármaco não é capaz de promover todas as características ideais de uma anestesia ↳ Um fármaco quando utilizado sozinho para anestesiar, pode promover diversos problemas ao paciente, pois para alcançar os objetivos de uma boa anestesia é necessário utilizar uma dose muito alta desse fármaco, então por isso utilizamos a chamada Anestesia balanceada. ● Anestesia balanceada - É quando utilizamos vários fármacos em doses baixas. Isso reduz os efeitos adversos deles e dá mais segurança para o paciente. ● Mais abrangente hoje em dia : ● Bloqueio da resposta autonômica ● Analgesia pós-operatório ● Prevenção da hipersensibilidade à dor Planejamento Anestésico (planejar a anestesia antes de começar o procedimento) ● Considerar cada paciente de forma individual ● Analisar os riscos ● Considerar o procedimento cirúrgico ● Quais anestésicos disponíveis ● Verificar quais equipamentos de monitoração tenho disponível Como escolher a sua técnica anestésica ? ● Equipamentos disponíveis TIVA x Inalatória ↳ anestesia total intravenosa ● Avaliar a habilidade e experiência do cirurgião e do anestesista Ex: O anestesista que está começando e não tem muita experiência deve sempre começar com o básico e ir incrementando, e quando tiver muito bem embasado, avançar para procedimentos mais complexos. Não vou fazer o mesmo protocolo anestésico para um cirurgião que eu sei que tem dificuldade e que demora três horas em uma castração, e para o cirurgião que realiza o mesmo procedimento em 15 minutos. ● Analisar as instalações para o período pós-operatório Ex: Verificar se meu paciente vai ficar internado no pós-operatório ou se tenho que mandar ele para casa, assim que ele voltar da anestesia. Se tenho estrutura para manter ele aquecido, com uma infusão contínua ou não ● Avaliar o temperamento do animal Ex: Não vou fazer o mesmo protocolo para um animal calmo e para um animal agitado (que quer me matar) ● Avaliar a espécie e a raça ● A idade ● Estado de saúde do animal ● Duração do procedimento Erros e Negligência ● Médicos Veterinários ● Sempre lembrar que trabalhamos com vidas. ● Responsabilidade por seus próprios conhecimentos e habilidades. É SOMENTE MINHA ● Respeito ao Código de Ética profissional ● Princípios fundamentais: ● Exercer a profissão com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade ● No exercício profissional, usar procedimentos humanitários preservando o bem-estar animal evitando sofrimento e dor. ● Erro ou negligência ● Nunca errar e pensar que causei a morte de apenas um animal ! ● Prejuízo à vida do animal ou morte ● É normal acontecer alguma coisa com o animal e os proprietários entrarem com processos jurídicos. Avaliação Pré-anestésica e Preparo do Paciente Objetivo da aula ● Mostrar os índices de mortalidade mais recentemente publicados ● Mostrar a importância da avaliação pré-anestésica ● Estimular o raciocínio acerca dos exames complementares a serem solicitados ● Apresentar como deve ser conduzida uma avaliação pré-anestésica Introdução ● O planejamento anestésico e a avaliação pré-anestésica tem como principal objetivo, diminuir os riscos para o animal. ● Mortalidade perioperatória ● Teve uma melhora significativa nas últimas décadas ● Mas em comparação com os seres humanos a nossa taxa ainda é alta ● Para tentar aumentar a segurança para os pacientes, existem várias associações e melhorias que vêm sendo feitas: ● Association of Veterinary Anaesthesia (AVA) - Ela vez um Checklists pré-operatório e a introdução de fichas de Avaliação pré-anestésica. Determinando o Risco Anestésico ❖ Não existe procedimento anestésico sem risco ● Por que a anestesia tem riscos ? ● Por que ela vai causar estresse substancial em diversos sistemas orgânicos. Ela causa um estresse para o corpo e é um dos motivos que causa a redução da imunidade. ● Se houver alguma alteração pré-existente em algum órgão, isso vai aumentar os riscos para o paciente. ● American Society of Anaesthesiologists (ASA) ● Eles criaram uma estratificação dos pacientes: ASA I, ASA II, ASA III, ASA IV, ASA V, ASA E ● Ela tem uma boa correlação com mortalidade ● Quanto maior a classificação ASA, maior o risco de morte do paciente ● Essa classificação é baseada em descritores bem simples ● Não pode ser um método único para determinar risco para o paciente, isso é apenas uma classificação ● ASA E - É o paciente que é emergência, ele precisa de cirurgia urgente. Limitações da Classificação ASA ● Essa tabela foi feita para seres humanos ● Tem variabilidade interobservadores, ou seja, é um parâmetro subjetivo. ● Tem relação direta com mortalidade (quanto maior o ASA maior a mortalidade). Mas não tem relação direta com complicações durante a anestesia. ● Existem os riscos que são inerentes ao procedimento cirúrgico Ex: Uma paciente ASA II que vai realizar uma cirurgia de coluna toracolombar, tem um risco muito baixo. Mas se vou fazer uma outra cirurgia nesse mesmo paciente em coluna cervical, os riscos são muito maiores. ● Onde alocar de acordo com o ´´signalment`` Avaliação Pré-Anestésica Histórico do paciente ● Histórico médico ● Perguntar se o paciente recebe medicação atualmente ou recebeu recentemente (porque pode ocorrer antagonismo, alteração na biotransformação de um fármaco em função de outro) ● Estado vacinal (mas para saber se o paciente pode ter alguma alteração decorrente de uma doença infecciosa, que seria tratada com vacina) ● Doenças prévias ● Histórico cirúrgico e anestésico (perguntar se houve alguma complicação no pós-cirúrgico ou se houve reação à algum fármaco, e se sim, qual fármaco) ● Vermifugação ● Preparação para o procedimento anestésico ● Perguntar se o animal está de jejum ( é de extrema importância que o animal esteja de jejum, por que alguns fármacos causam vômito e no momento da cirurgia há risco de regurgitação, isso pode ser perigoso, pois o animal não tem o reflexo de deglutição e isso pode causar complicações) ● É necessário que o tutor assine o Termo de consentimento ● AspectosGerais ● Atitude do animal (se ele deve alterações ultimamente, se ele se tornou mais agressivo, isso pode ser indicativo de alguma coisa, como por exemplo, esse animal pode estar com dor) ● Atividade (se ele é um animal mais ativo ou pouco ativo ou se houve mudança nos últimos meses) ● Apetite (para saber se o animal se alimenta bem ou se ele parou de comer) ● Se houve ganho ou perda de peso recente (pode indicar uma patologia) ● Ingestão água (se ele bebe muita ou pouca água) ● Tegumento ● Perguntar se o animal tem prurido ● Perda de pelo ● Feridas ● Infecção ● Sistema Cardiovascular ● Perguntar se o animal apresenta atividade normal ou não ● Se ele tem tolerância ao exercício ● Tosse ● Síncope ● Sistema Respiratório ● Perguntar se o animal tem tosse ● Espirros ● Dispneia ● Sistema Nervoso Central (SNC) ● Estado mental ● Histórico de crises epilépticas ● Trato Gastrintestinal ● Pergunta se há histórico de Vômito (por que se o vômito for constante pode causar distúrbios eletrolíticos, de potássio e cloreto) ● Regurgitação ( mesma coisa do vômito) ● Coloração e consistência das fezes ● Geniturinário ● Estado reprodutivo (se é castrado ou não, principalmente para fêmeas) ● Ingestão de água e micção ● Identificação ● Qual a espécie ● Qual é a raça ● Idade (assim como os geriátricos, os neonatos também estão no grupo de maior risco) ● Peso ● Mortalidade nas diferentes espécies ? Tem diferença entre as espécies ● Cães - mortalidade de 0,18 % ● Gatos - mortalidade de 0,26 % ● Coelhos - mortalidade de 1,48 % ● Cães saudáveis (ASA I e II) - mortalidade de 0,5 % Cães doentes (ASA III, IV e V) - mortalidade de 1,33 % ● Gatos saudáveis (ASA I e II) - mortalidade de 0,11 % Gatos doentes (ASA III, IV e V) - mortalidade de 1,40 % ● Coelhos saudáveis (ASA I e II) - mortalidade de 0,73 % Coelhos doentes (ASA II, IV e V) - mortalidade de 7,37 % ● Cavalos (estudo com 41.824 cirurgias) Cirurgias que não eram de cólica - mortalidade de 0,9 % Cirurgias que eram de cólicas - mortalidade de 11,7 % No geral a mortalidade de cirurgias em cavalos é de 2,1 % Aula 1- Anestesiologia 04/09/2020 Diferenças entre Raças ● Cães braquicefálicos ● São normalmente classificados como ASA II e para alguns podem ser classificados como ASA III ● Por conta da severidade das alterações relacionadas às complicações ● Síndrome braquicefálica ● Anormalidades anatômicas congênitas das vias aéreas superiores ● Narinas estenóticas ● Palato mole alongado ● Ventrículos laríngeos evertidos ● Colapso de traqueia ● Traqueia hipoplásica Idade ● Extremos de idade ● Pacientes muito jovens abaixo de 8-12 semanas - Eles tem hipoglicemia muito fácil - Hipotermia - Depressão respiratória - Hipotensão - São mais sensíveis aos anestésicos * Se você vai anestesiar um animal muito novo, o cuidado deve ser redobrado porque além dele não ter o fígado e rins funcionando normalmente (às vezes) como um animal adulto, ele ainda tem propensão a ter mais problemas. Tem que tomar muito cuidado. ● Pacientes geriátricos (cães > 7 anos, gatos >12 anos) - Eles têm predisposição a complicações perianestésicas Condição corporal ● Obesidade ● Normalmente obesidade está relacionada a Função orgânica alterada, então é importante realizar uma pesquisa mais aprofundada ● São pacientes que comumente tem Hipertensão, devido a obesidade ● Eles podem ter Hipoventilação durante a anestesia - por que a anestesia relaxa a musculatura intercostal que causa a hipoventilação e ainda tem a questão do peso por cima que faz uma pressão ainda maior sobre o tórax e o diafragma ● Hipoxemia ● Cuidar ao realizar o cálculo de doses - Por que a dose é feita pensando em um animal com uma composição corporal e de gordura normal, então se você faz a mesma dose em um animal obeso, geralmente você está dando uma sobredose . Então geralmente você retira um pouco do peso do animal para fazer o cálculo de dose para esse animal obeso. É sempre melhor fazer um pouco menos do que errar na dose para mais. ● Caquexia ● A maioria tem hipoproteinemia - isso pode ser um problema por que a maioria dos fármacos têm alta taxa de ligação às proteínas plasmáticas e se não tem proteína suficiente para o fármaco se ligar, vai ficar mais fármaco livre e ele irá fazer efeito. Exame Clínico ● Pode avaliar turgor cutâneo para ver a hidratação ● Estado corporal - Obesidade: verificar se essa obesidade não está relacionada a alguma endocrinopatia - Caquexia Exames Complementares ● Hemograma e bioquímica sérica - exames complementares ↳ Ele não pode ser tomado como única forma de diagnóstico ● Estudo com 772 cães e gatos ( Davies & Kawaguchi, 2014) ● 95% - ao menos um resultado fora dos valores de referência ● 0,9 % - tinham doenças previamente diagnosticada ● Investigação adicional - tempo e dinheiro ● Estreita margem de valores de referência ● E em pacientes idosos ? Em idosos é necessário fazer exames complementares antes da anestesia ● Estudo com 101 cães geriátricos (acima de 7 anos) , (Joubert, 2007) ● 30 novos diagnósticos a partir de exames como Hemograma, bioquímica sérica e urinálise ● E em pesquisas adicionais eles chegaram a diagnósticos de neoplasias, doença renal crônica e hiperadrenocorticismo ● Em 15 cães dos 101 a anestesia teve que ser adiada ou cancelada devido ao novo diagnóstico que foi dado ● Quando usar rotineiramente ? ● Há uma enorme controvérsia. Tem médicos veterinários que pedem exame para tudo sem ter necessidade. ● Sempre pedir exames complementares para pacientes idosos ● E em cirurgia não eletivas ● Podemos adaptar o perfil pré-anestésico com base no procedimento cirúrgico ? Sim ● O procedimento cirúrgico pode definir o que devemos avaliar ● Em Cirurgias de órgãos específicos pode ocorrer alterações de sua função no perioperatório, por isso é importante realizar os exames. ● Em cirurgias e alto risco, também é importante realizar os exames, devido a alta incidência de complicações ● Tempo de cirurgia afeta o prognóstico - Existem procedimentos cirúrgicos que são complexos e quanto mais se demora, maior o risco para o paciente. Nessas situações também é legal fazer os exames para verificar o estado geral do paciente. ● Em situações onde devemos fazer avaliações em série para avaliar a resposta à cirurgia. Exame Pré-Anestésico Ex: Cirúrgia na maxila - Vou fazer uma maxilectomia, a região da cirurgia é bastante irrigada e sangra muito fácil. ● Então o que devo avaliar nesse paciente antes da cirurgia ? ➔ Devemos fazer um hemograma ➔ Fazer o teste de coagulação ( mais importante) - normalmente avaliamos o TP e o TTPA ➔ Tromboelastografia- é interessante realizar esse exame pois ele consegue detectar de acordo com o tempo de formação e o perfil de formação do coágulo, se há deficiência de fibrinogênio e/ou a causa do problema, assim se houver hemorragia você sabe como contê-la e tratá-la ➔ Teste de compatibilidade sanguínea - caso seja necessário realizar transfusão sanguínea ➔ Faz a reserva da bolsa de sangue Preparo do paciente para o procedimento anestésico Jejum ● Cães e gatos ● Jejum alimentar de no mínimo 6 horas - para a maioria dos procedimentos, mas se for uma cirurgia no trato gastrointestinal o jejum é mais prolongado ● O animal pode ingerir água normalmente até ele sair de casa - na maioria dos procedimentos ● Cães e gatos com menos de 8 semanas de idade e com peso abaixo de 2kg ● O jejum alimentar deve ser de 1-2 horas porque eles têm maior risco de ter hipoglicemia ● Água normal até a hora de ir para o hospital/clínica ● Qualquer procedimento que leve mais que 15 minutos nesses animais é necessário fazerfluidoterapia com glicose. ❖ O ideal é você fazer uma avaliação seriada de glicose antes, para avaliar a glicemia e depois fazer a fluido com glicose e vai monitorando o animal, isso seria o ideal. ● Equinos ● Para cavalo o jejum acima de 4 horas causa: ● Aumento da acidez ● Aumenta a viscosidade do conteúdo gástrico ● E caso o animal tenha uma regurgitação e aspire esse conteúdo que vai estar mais ácido e mais viscoso, com isso os problemas decorrentes da aspiração se tornam mais perigosos ● O jejum prolongado causa estresse ↳ O estresse causa redução da motilidade e com isso ocorrer formação de úlceras ● Benefícios do jejum para cavalos ● Presença de menos material no TGI ● Jejum de 8-12 horas para a maioria dos anestésicos ● Ruminantes ● São mais suscetível a complicações associadas ao decúbito e à anestesia ● Timpanismo ● Regurgitação ● Pneumonia por aspiração ● Bezerros/ ovinos/ caprinos ● Jejum alimentar de 12-14 horas ● Jejum hídrico de 8-12 horas ● Por que em bovinos o jejum deve ser maior ? Por eles serem animais poligástricos, o alimento que o animal ingere demora mais para ser digerido. Então por esse motivo o jejum desses animais deve ser maior, isso evita que o animal regurgite e aspire o conteúdo estomacal e morra. ● Bovinos Adultos ● Jejum alimentar de 18-24 horas ● Jejum hídrico de 12-18 horas Estabilização do Paciente ● Quando o animal tem distúrbios fisiológicos que colocam a vida dele em risco, nós devemos se possível fazer a correção prévia. Por que se possível ? Às vezes o'que vai salvar a vida dele é a cirurgia ● Se for algo que não tem urgência cirúrgica, você pode fazer a estabilização do paciente primeiro e depois entrar com ele em cirurgia ● Condições que devem ser corrigidas antes da cirurgia Conclusão ● Sempre fazer uma avaliação pré-anestésica minuciosa=sucesso no planejamento anestésico. ● Sempre avaliar o histórico + o exame clínico + os exames complementares ● Sempre usar o checklists e termos de compromisso para o tutor assinar.
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