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UNIVERSIDADE LUTERANA DO BRASIL CAMPUS SANTA MARIA CURSO DE ADMINISTRAÇÃO A POSTURA ÉTICA NAS RELAÇÕES DE ASSÉDIO MORAL EM AMBIENTES DE TRABALHO Andriéli Marques da Silva, Clizonton Noble Moreira, Jênifer Bianchin Bortoloto, Marco Antonio Somavilla Orientador: Prof. Gilfredo Castagna Santa Maria/RS 2019 2 ANDRIÉLI MARQUES DA SILVA, CLIZONTON NOBLE MOREIRA, JÊNIFER BIANCHIN BORTOLOTO, MARCO ANTONIO SOMAVILLA A POSTURA ÉTICA NAS RELAÇÕES DE ASSÉDIO MORAL EM AMBIENTES DE TRABALHO Trabalho apresentado na disciplina de Ética e Responsabilidade Profissional como requisito parcial à aprovação. Orientador: Prof. Gilfredo Castagna Santa Maria/RS 2019 3 A POSTURA ÉTICA NAS RELAÇÕES DE ASSÉDIO MORAL EM AMBIENTES DE TRABALHO.1 Andriéli Marques da Silva2 Clizonton Noble Moreira3 Jênifer Bianchin Bortoloto4 Marco Antonio Somavilla5 RESUMO A presente pesquisa tem como objetivo analisar a postura ética das organizações em relação aos casos de assédio moral na região sul do país. Com base nos processos judiciais públicos presentes no Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, relatar a incidência de gênero e as esferas do ambiente trabalhista em questão. Como estratégia os dados coletados serão utilizados para estabelecer possíveis meios de combater e esclarecer recentes casos do primeiro semestre de 2019. Utilizando do código de ética empresarial como uma medida eficaz no resguardo da entidade, visando a compreensão para todos os níveis hierárquicos de uma organização. Palavras-chave: Ética; Assédio Moral; Organização; Ambiente Trabalhista. ABSTRACT The present research aims to analyze the ethical stance of the organizations in relation to the cases of moral harassment in the southern region of the country. Based on the public judicial processes in the Regional Labor Court of the 4th Region, report the incidence of gender and the spheres of the labor environment in question. As a strategy, the data collected will be used to establish possible ways to combat and clarify recent cases of the first half of 2019. Using codes of ethics and the concept of ethics to aid and fully understand these concepts, aiming at understanding at all hierarchical levels of an organization. Keywords: Ethic; Moral Harassment; Organization; Labor Environment. 1 Trabalho de campo apresentado no primeiro semestre de 2019, ao curso de Administração da Universidade Luterana do Brasil - Campus Santa Maria/RS, referente a postura ética das empresas em relação aos conflitos de assédio moral na região sul do Brasil. 2 Acadêmica do Curso de Administração da Universidade Luterana do Brasil - Campus Santa Maria. E-mail:andrielimarques@rede.ulbra.br 3 Acadêmica do Curso de Administração da Universidade Luterana do Brasil - Campus Santa Maria. E-mail:adm.tomnoble@rede.ulbra.br 4 Acadêmica do Curso de Administração da Universidade Luterana do Brasil - Campus Santa Maria. E-mail: jenifer.bortoloto@rede.ulbra.br 5 Acadêmica do Curso de Administração da Universidade Luterana do Brasil - Campus Santa Maria. E-mail:somavillamarco@rede.ulbra.br mailto:andrielimarques@rede.ulbra.br mailto:adm.tomnoble@rede.ulbra.br mailto:jenifer.bortoloto@rede.ulbra.br mailto:somavillamarco@rede.ulbra.br 4 1. INTRODUÇÃO O presente estudo objetiva revelar o conceito, as espécies e os elementos caracterizadores do assédio moral6 no contexto da organização laboral7. O tema possui grande relevância pelos fatores, fenômenos que se encontra na realidade do mundo do trabalho. Ao longo da história o processo de trabalho passou por diferentes enfoques. Das relações sob os regimes de escravidão e servidão àquelas sob o escudo do trabalho remunerado, o processo de trabalho transpôs diferentes graus de proteção à saúde dos trabalhadores. Seja compulsório ou como efeito das características da atividade desempenhada, o cotidiano laboral está impregnado de diversos fatores estressantes. Também denominado violência moral no trabalho, o Assédio Moral é uma prática milenar, só começou a ser visibilizada recentemente, à medida que a emergência das noções de direitos humanos e cidadania permitiram perceber sua recorrência no mundo do trabalho. O assédio moral é definido como uma modalidade de agressão psicológica, independente do meio utilizado (textos, postagens nas redes sociais, e- mails, gestos e atitudes). No ambiente de trabalho, essa agressão, de caráter continuado, expõe o indivíduo a situações humilhantes e, por isso, constrangedoras do ponto de vista social. Partindo da conceituação dos tópicos pertinentes ao assunto, será apresentado o levantamento dos casos recorrentes de assédio moral ocorridos dentro de empresas no estado do Rio Grande do Sul. Utilizando-se dos dados coletados no Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, realizou-se uma pesquisa para análise e desenvolvimento dos principais fatores que conduzem a prática do assédio. Destacando a importância do papel da empresa no combate desta prática, enfatiza- se o dever de cumprimento do código de ética empresarial como uma medida eficaz no resguardo da entidade, com o intuito de se evitar constrangimentos, ações judiciais, condenações, repercussões negativas e desvalorização da sua imagem. 6 Conforme informa Vólia Bonfim Cassar, o assédio moral pode ser também denominado de “bossing, mobbing, bullying, harcèlement, manipulação perversa, terrorismo psicológico, epsicoterrosimo. ” (CASSAR, Vólia Bonfim. Direito do Trabalho. 7 ed. Niterói: Impetus, 2012, p. 913) 7 O termo laboral está ligado a aspectos da vertente econômica, jurídica e social do trabalho. 5 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Ética Ética pode ser entendida como estudo ou pensamento, científico ou filosófico, ou até mesmo teológico sobre a conduta humana, comportamento ou costumes. Logo, a ética pode ser entendida como a essência da consciência humana, seus mitos, seus princípios e seus valores (VALLS,1994, p.7) Sendo assim, conforme Aristóteles (2001, p.17), toda reflexão e toda ação humana visam um bem qualquer, e que o bem é aquilo a que as coisas tendem. Porém, observa-se que destas ações resultam atividades e outros em produtos distintos das atividades, e tais fins ultrapassam as qualidades dessas atividades. Spinoza (2016, p.45), afirma que o homem se convenceu que as ocorrências da vida humana eram todas em função dele próprio, sendo que a aparência mais importante em qualquer coisa é aquela que lhe é mais útil, e considerar como superiores aquelas que lhes afetava mais favoravelmente. Em função disso, fez-se necessário construir conceitos de forma a explicar a natureza das coisas, tais como as de bem ou mal, beleza ou feiura, etc. Levando em conta os aspectos naturais da formação do homem, Vázquez (2006, p.30) propõe que é possível perceber a proximidade entre ética e as ciências sociais, como antropologia e a sociologia. Ciências, estas, que os objetos de estudo são comportamento do homem como ser social, suas estruturas, formas de organização e relação com outros indivíduos. Nesse sentido, o fator mais importante é o aspecto psíquico desses indivíduos, pois tais relações, instituições ou organizações sociais não podem existir sem os indivíduos. 2.2 Ética e Moral Segundo Vázquez (2006, p.21), tendo a moral como objeto de estudo da ética, um dos fatores que diferenciam ética de moral é o caráter generalista da primeira. A ética não orienta o indivíduo a agir em situação concreta, como faz a moral. A ética, na verdade, estuda, por meio das práticas-morais dos indivíduos, o que é moralmente valioso para a sociedade. 6 O autor indica que: A ética depara com uma experiência histórico-socialno terreno da moral, ou seja, com uma série de práticas morais já em vigor e, partindo delas, procura determinar a essência moral, sua origem, as condições objetivas e subjetivas do ato moral, as fontes da avaliação moral, a natureza e a função dos juízos morais, os critérios de justificação destes juízos e o princípio que rege a mudança e a sucessão de diferentes sistemas morais (p.22). As noções fundamentais de moral, segundo Mattos (2008, p.21) dividem-se em noções impostas pelo adulto e noções nascidas da colaboração das próprias crianças em seu desenvolvimento. O respeito unilateral que está na origem da consciência do dever consiste em uma fusão de medo e amor, desejo, vontade e punição. Sendo assim, faz-se necessário uma reflexão sobre a formação do caráter do sujeito como indivíduo, suas práticas e valores, e as relações com os outros indivíduos no meio ao qual está inserido. Dessa maneira, em ambos conceitos de ética e moral, trata-se de normas e concepções. A diferença entre as duas está na subjetividade e pluralidade, enquanto a ética trata da concepção real que o indivíduo, orientada por normas e princípios que estabeleceu como diretriz ao longo de sua vida, a moral trata da concepção de uma massa, são normas passadas por gerações que reagem a conduta dessa sociedade ao longo do tempo e em diferentes eras (CLAVO, 2007, p.120). 2.3 Moral e Valores Segundo Kant (2013, p.29), pessoa é o indivíduo no qual os atos são passíveis de responsabilidade. Seu caráter moral, portanto, evidencia um ser racional subordinado às leis morais, e que não está subordinada a nenhuma outra lei além das quais dá a si mesma. Há determinadas propriedades morais constitutivas que, quando não as possuímos, tampouco pode haver algum dever de delas tomarmos posse. Elas são o sentimento moral, a consciência moral, o amor ao próximo e o respeito por si mesmo (autoestima), em relação às quais não há uma obrigação em possuí-las, pois elas, enquanto condições subjetivas, servem como fundamento da receptividade para o conceito de dever e não, enquanto condições objetivas, como fundamento da moralidade. Em seu todo, elas são disposições do ânimo estéticas, precedentes, porém naturais (predisposto), para ser afetado pelo conceito de dever; ter tais disposições não pode ser considerado como dever, mas antes todo ser humano as possui e em virtude delas pode ser obrigado. A consciência das mesmas não é de origem 7 empírica; antes, pode apenas se seguir da consciência de uma lei moral, como efeito da mesma sobre o ânimo. (KANT, 2013, p.176). Ao indivíduo não é facultado inventar ou modificar princípios e normas de acordo com um quesito pessoal. Defronta-se com o normativo já estabelecido e aceito pelo meio social, sem a possibilidade de criar novas regras das quais poderia orientar a sua conduta recusando as normas estabelecidas, nem tampouco modificar os presentes (VÁZQUEZ, 2006, p.68). 2.4 A Conduta Do Administrador Ético Espera-se dos gestores a capacidade de atribuir sentido, compreender e gerir sistemas contraditórios e de diferentes e incertos, constituídos por muitos elementos que se relacionam entre si: expectativas, sentimentos, narrativas, identidades, demandas, valores, interesses e práticas. Todas essas circunstâncias exigem dos administradores mais do que conhecimentos técnico, exigem ações éticas (BORGES, MEDEIROS e CASADO, 2011). Se a Liderança corresponde à parte visível de um iceberg, como agente transformador, a Estratégia é a superfície – a ação que concretiza resultados. Essas duas dimensões são relativamente fáceis de serem identificadas em suas exteriorizações, daí as armadilhas das interpretações equivocadas, que induzem a frustrações e fracassos. O grave problema é que se desconsidera, comumente, a cultura corporativa, face oculta do iceberg, correspondente aos fundamentos, às verdades comuns, que sustentam a integração das lideranças e a formulação de estratégias consensuais. A Ética está na essência da cultura corporativa e a Educação é o fator determinante de sua formação e de garantia de excelência. A educação e a cultura éticas tornam a sociedade ética. Esse princípio não vem sendo observado na prática das organizações. Valorizam- se exteriorizações, o marketing da ética, a aparência do ser. Daí os modismos dos códigos de ética e de suas inconsequências. São imprescindíveis a conscientização, a gestão e a estratégia, não o código. (MATOS, 2008, p.3). Para Clavo (2007, p.21), fazer honestamente o próprio trabalho é uma das exigências fundamentais do homem em qualquer cultura. No ambiente no qual a empresa está inserida, no campo da concorrência acirrada, pouco se pratica a visão ética. Há uma verdadeira batalha pelo domínio da mente do consumidor, e para muitos, esse embate não deve ser travado segundo a ética. Contudo, não é possível separar negócios e valores, pois a ética pertence a própria realidade, já que se trata de uma extensão de toda a atividade humana. 8 2.5 RESPONSABILIDADE SOCIAL O administrador, segundo Chiavenato (2003, p.14) não é apenas um agente de condução, mas também de mudança e de transformação das empresas, conduzindo-as a novos caminhos, processos, objetivos, estratégias, tecnologias e a níveis superiores como organização, mas sim um agente educador e orientador, modificando o comportamento e atitude das pessoas. O administrador, a partir do seu estilo, modifica a cultura organizacional das empresas, deixa marcas em seus colaboradores, e desse modo, impacta também no comportamento dos consumidores, fornecedores, concorrentes e de demais organizações humanas. Embora a RSE esteja cada vez mais atual nos dias de hoje, este é um tema que tem vindo a ser abordado e estudado desde a década de 50 do século passado. Desde então, a RSE tem sido alvo de intenso e controverso debate que levou à construção do seu conceito relacionado com a grande evolução do próprio conceito de empresa e com a aplicação da ética no contexto organizacional (JESUS, SARMENTO e DUARTE, 2017). Para Gil (200, p.37), sendo o lucro a essência do capitalismo, há quem admita que os objetivos de uma empresa consistam apenas e exclusivamente em minimizá- lo para si e seus acionistas. Com isso, as empresas devem assumir valores éticos, respeitar seus colaboradores, proteger o meio ambiente e comprometer-se com a sociedade. 2.6 Cultura Organizacional Mais Ética Desafios organizacionais, segundo (GIL, 2001, p.38), decorrem de problemas internos das organizações. Tais ocorrências podem ser em boa parte, subprodutos das forças ambientais. Não obstante, as empresas costumam apresentar melhores condições para enfrentar tais desafios do que os determinados pelo ambiente. Desse modo, entende-se que administradores competentes têm a capacidade de percepção de problemas dessa ordem e são capazes de lidar adequadamente com essas questões antes que se tornem maiores. Se os colaboradores devem ser o primeiro dos públicos a serem tratados no âmbito da responsabilidade social interna, são eles também o grande foco de atenção da cultura organizacional (CO). A cultura organizacional partilha, no entanto, “dores” de crescimento semelhantes à da RSE. A relação da cultura, conceito de raiz antropológica, com as organizações ganhou relevo nos anos 9 80 do século passado, com a sua disseminação pelos meios académicos e empresariais e, consequentemente, a fazer eco da sua importância na opinião pública (Gomes, 2000). O contexto que favoreceu o alastrar do conceito tem a ver com a falência dos modelos de gestão ocidentais e a oponente supremacia de desempenho das empresas orientais, designadamente das japonesas (Gomes, 2000). Ora, Rebelo (2006) aponta a “fórmula japonesa” de Evans (1983) como raiz dessa alta competitividade. É dessa forma que a mise en scène se deu para o conceito de cultura organizacionalser entendido por muitos como uma solução de sucesso.Há a necessidade, assim, de realizar pesquisas voltadas para a cultura organizacional como condição para que sejam propostas mudanças do ponto de vista ético. Sem essas transformações no ambiente macro – aquele dos princípios, valores e modelos administrativos – torna-se inócuo exasperar-se no planejamento e na execução de programas de relações públicas, com seus inúmeros instrumentos de comunicação dirigida, visando a “participação” dos funcionários. (CURVELLO, 2002) No entendimento de Gil (2001, p.44), existe a expectativa de que as organizações passem a adotar comportamentos mais éticos com seus fornecedores, concorrentes, consumidores. Muitas empresas vêm criando códigos de ética alinhando procedimentos a serem seguidos por seus colaboradores, porém, ocorre que frequentemente, tais códigos são elaborados de forma genérica e superficial. Além disso, incide que em muitas empresas esses códigos destinam-se apenas aos empregados. 2.7 Ética nas Relações Negociais De acordo com Nash (1993), os executivos têm basicamente dois tipos de preocupação no que se refere a ética. A primeira diz respeito ao efeito de adotar-se padrões morais elevados sobre os resultados financeiros da corporação. Nesse contexto ser ético tem necessariamente um custo associado. A segunda preocupação está ligada ao temor de que a adoção de padrões não-éticos pelos empregados venha a se constituir em um passivo financeiro caso tais padrões cheguem a público. A autora define a ética dos negócios como " ... o estudo da forma pela qual normas morais pessoais se aplicam às atividades e aos objetivos da empresa comercial." (Nash,1993, p.6). Não se trata, portanto, de um tipo especial de ética, mas sim da utilização das normas morais pessoais no contexto dos negócios acompanhado do estudo de como o ambiente empresarial afeta certos valores pessoais dos agentes envolvidos. (Nash, 1993). Assim sendo, se observa que a negociação é a forma de se conseguir o desejável através de um acordo, ou seja, é uma troca onde às partes determinam o 10 mínimo e o máximo aceitáveis, desde que se considere a importância de se “conduzi- la de maneira ética, isto é, de forma honesta, sem, contudo, considerar se devemos ou não esconder informações, ou falar meias verdades e fazer uso de táticas ambíguas”. (ANDRADE, et al. 2007:40), e ainda esclarecem que: Há muita discussão quanto até que ponto se está agindo de maneira ética ou não em uma tomada de decisão e negociação. Por exemplo, quando alguém pergunta até que limite se pode chegar em uma tomada de decisão e negociação, e não se diz a ele o verdadeiro limite, para ter maior espaço de barganha, até que ponto esse comportamento pode ser considerado ético e quando ele passa a ser antiético? Evidentemente, isso depende muito dos valores das pessoas envolvidas na tomada de decisão e negociação e do ambiente no qual elas estão inseridas. Diferentemente dos procedimentos do passado em que o negociador visava atender às próprias necessidades, sem se preocupar com o outro lado envolvido na negociação, modernamente é fundamental. Satisfazer a ambos os lados e suprir as suas necessidades básicas. A mentalidade, em geral, era de se levar vantagem e de não se preocupar em atender às reivindicações do outro lado. Com o tempo, foi-se percebendo que uma negociação desse tipo, caracterizada pelos principais autores da área como negociação ganha-perde (no sentido de que, para um lado ganhar, o outro terá necessariamente que perder), teria poucas condições de se manter a médio prazo, bem como, com certeza, não levaria a novas negociações, pois a parte prejudicada evitaria qualquer tipo de contato com a outra parte envolvida, para não ser novamente lesada. Além disso, seria uma negociação que não contribuiria para criar nem manter um relacionamento futuro entre as partes; ao contrário, poderia até contribuir para afetar negativamente ou destruir um relacionamento existente. (MARTINELLI, 1997, p.22). Dentro de limites razoáveis, é possível conseguir tudo o que se deseja, se se estiver ciente das opções, testar suposições, correr riscos calculados e basear-se em informações sólidas, acreditando que se tem poder; desta forma, transmite-se autoconfiança, aos demais. A negociação utiliza esta forma positiva de poder, exercendo autoconfiança, defendendo interesses e realizando acordos satisfatórios para todas as partes, e não o poder negativo de prejudicar, massacrar, iludir, humilhar o oponente. (MARTINELLI, 1997, p.66). 11 2.8 Código de Ética O código de ética pode ser entendido como uma semelhança dos métodos de comportamento que se espera que sejam observados no decorrer da profissão. Ele visa o bem-estar da sociedade, de forma a garantir a sinceridade dos membros tanto de fora quanto de dentro da instituição. O código de ética profissional tem como objetivos ajudar a encorajar o sentido de justiça e decência nos membros do grupo da organização. O objetivo do código de ética para o contador é habilitar esse profissional a adotar uma atitude pessoal, consoante com os princípios éticos conhecidos e aceitos pela sociedade. Para o exercício da profissão de contador, não basta à preparação técnica, ele deve defender os princípios e valores éticos aplicáveis a sua profissão, de modo a produzir uma imagem verdadeira do que ela se constitui para as novas gerações de profissionais. (LISBOA, p. 61, 2006) A construção de um sujeito ético para atuação humana e profissional envolve um processo de construção gradativo. Essa construção começa em um estágio em que não se tem consciência da importância das normas para o convívio. Então, passa por um processo de aprendizagem e desenvolvimento no qual o s indivíduos compreendem a necessidade e a adequação das normas para a constituição de um grupo social. Finalmente, o último estágio é alcançado e nele se compreende que as pessoas agem por determinadas regras, princípios e valores e refletem sobre a permanência ou a necessidade de modificá-las para manutenção e aperfeiçoamento da sociedade. (MATTOS, 2008, p.33). Os códigos de ética profissional envolvem um trabalho de elaboração intelectual, de reflexão sobre a moral, pois é necessário conhecer as regras de convivência de uma sociedade e as particularidades da atuação de um grupo profissional em uma sociedade. (MATTOS, 2008, p.39). 2.9 MARKETING SOCIAL E A ÉTICA Wilmer e Basi (2007) e Lee e Kotler (2011) entendem marketing social como o uso de princípios e técnicas de marketing para influenciar um grupo de clientes a aceitar ou rejeitar voluntariamente determinado comportamento em benefício da sociedade. 12 O marketing como finalidade básica busca atender as necessidades e desejos dos mercados-alvos, porém a crescente preocupação com a inclusão de práticas de ações sociais e ambientais faz com que o marketing seja mais do que desenvolver produtos e estabelecer preços atraentes, introduzindo assim um novo conceito que amplia a filosofia de marketing, ou seja, o marketing social que por sua vez propõe que as empresas desenvolvam condições sociais e éticas em suas práticas de marketing (KOTLER, 1998; MORAIS et al, 2006). Segundo Pringle e Thompson (2000), o marketing social é direcionado para promover mudanças de valores e comportamentos de indivíduos ou grupos, não enfatizando questões sobre necessidades e desejos de consumidores, nem tampouco produtos, mercados e empresas com fins lucrativos. Para estes autores, as ações sociais das empresas não utilizam, na maioria das vezes, estratégias de marketing social, mas a promoção social por meio de estratégias de marketing tradicional. 2.10 Organização e Retorno social De acordo com CHIAVENATO (1999, p.121), Responsabilidade Social é o grau de obrigações que uma organização assume atravésde ações que protejam e melhorem o bem-estar da sociedade à medida que procura atingir seus próprios interesses. Cabe salientar que, a organização além de preocupar-se com seus lucros se sente no direito de ressarcir de alguma forma a sociedade, portanto passam a adotar ações que beneficiem a sociedade, e que quando alcançada atinge seu grau de eficiência e eficácia. Segundo Olak e Nascimento (2008), as organizações sem fins lucrativos vêm desempenhando funções cada vez mais amplas e relevantes na sociedade moderna. O crescimento desse setor torna-se mais perceptível e pode ser explicado pela deficiência do setor público, gerando uma crise que reduz a destinação de recursos para diversas áreas sociais, pela conscientização da população quanto a esta deficiência e crise, fazendo com que o trabalho voluntário evolua-se, e pela conscientização do setor privado com a responsabilidade social, fazendo com que muitas empresas desse setor destinem recursos para as organizações sem fins lucrativos, em forma de doação e execução de projetos sociais (PAULA, BRASIL e MARIO). 13 O valor social é criado quando a combinação entre recursos, insumos, processos ou políticas estratégicas possibilitam a geração de melhorias na vida dos indivíduos e da sociedade. E quando se trata de organizações sem fins lucrativos, o valor social é a missão e a razão de sua existência. Mas esta mensuração do valor social criado na gestão dos recursos eficientes é a maior dificuldade dessas entidades, pois sua missão ou a razão de sua existência está ligada e totalmente dependente do valor humano intrínseco. E desta forma, existem alguns fatores que não podem ser mensurados em valores monetários e que têm total relevância no benefício social gerado. (PAULA, BRASIL E MARIO). 2.11 Assédio Segundo o Novo Aurélio O dicionário da língua portuguesa, assédio é insistência, inoportuna, inconveniente, persistente e duradoura em relação a alguém, perseguindo, abordando ou cercando esse indivíduo. 2.11.1 Assédio Moral O tema assédio moral no trabalho, segundo Garcia e Tolfo, (2011), vem se tornando alvo de estudos para os profissionais que pesquisam o comportamento humano nas organizações. É cada vez mais notória a preocupação desses profissionais com as cicatrizes oriundas das ações que vão ao encontro do sistema capitalista e da competitividade organizacional. O ambiente de trabalho tem se configurado, em muitos casos, violento e insalubre, gerando diversas consequências para indivíduos, organizações e sociedades. Como definição, a Cartilha do Assédio Moral e Sexual, contida no Plano de Ação do Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça do Senado Federal (2011), afirma que o assédio moral consiste na repetição deliberada de gestos, palavras (orais ou escritas) e/ou comportamentos de natureza psicológica, os quais expõem o(a) servidor(a), o(a) empregado(a) ou o(a) estagiário(a) (ou grupo de servidores(as) e empregados(as) a situações humilhantes e constrangedoras, capazes de lhes causar ofensa à personalidade, à dignidade ou à integridade psíquica ou física, com o objetivo de excluí-los(as) das suas funções ou de deteriorar o ambiente de trabalho. A 14 habitualidade da conduta e a intencionalidade (o fim discriminatório) são indispensáveis para a caracterização do assédio moral. Para Filho (2013), na relação de trabalho subordinado, porém, este “cerco” recebe tons mais dramáticos, por força da própria hipossuficiência de um dos seus sujeitos, em que a possibilidade de perda do posto de trabalho que lhe dá a subsistência faz com que o empregado acaba se submetendo aos mais terríveis caprichos e desvarios, não somente de seu empregador, mas até mesmo de seus próprios colegas de trabalho. 2.11.2 Assédio Sexual Com base dada do dicionário jurídico brasileiro se caracteriza como assédio sexual uma conduta ilícita consistente em importunar alguém para obter, mediantes intimidação fundada em relação de autoridade, aquiescência forçada a satisfação de necessidade sexual. Constrangendo alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual. Para Higa (2016), o sucinto escorço da justaposição das mulheres no mercado de trabalho demonstra que elas não foram e talvez ainda não sejam totalmente bem- vindas no ambiente laboral, pois a independência econômica alcançada pelo exercício de atividade produtiva desmonta o estado de sujeição aos homens e faz com que elas invadam um setor outrora exclusivo e compitam por posições de maior destaque. A assimilação dessa premissa sociológica faz com que se aquilate a possibilidade da configuração de ambientes de trabalho hostis, ofensivos e vexatórios, nos quais a ojeriza à companhia feminina é externada por diferentes manifestações que desdenham os propalados ideais de igualdade. A vítima de assédio, segundo Miller (2018), acaba suportando não só a pressão da jornada de trabalho, mas também o constrangimento e o medo de delatar o crime, o que acarreta repercussões físicas e psíquicas à pessoa do assediado. Essa conduta o deixa com sérios problemas, podendo vir a entrar em estado de depressão, insônia, falta de apetite, interferindo, assim, significantemente no desenvolver do trabalho. 15 2.12 Base Legal O Brasil ainda não possui legislação federal específica que trate a conduta de assédio moral no ambiente de trabalho como crime. A ausência de leis sobre o tema deve-se ao elevado grau de subjetividade, assim como, tratar-se de uma violência de ordem psicológica. Segundo o TRT4, nos casos judiciais, o assédio moral somente poderá ser caracterizado se, além das impressões do assediado, forem apresentadas provas materiais e testemunhas da conduta lesiva. Contudo, no artigo 1º da Constituição Brasileira de 1988, um dos fundamentos prescritos é a garantia do direito à dignidade da pessoa humana, dessa forma, as relações de trabalho devem ser conduzidas com total respeito ao indivíduo. Já o artigo 186 do Código Civil Brasileiro, prescreve “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”, reforçando a responsabilidade não somente do agressor, mas também qualquer envolvido ou presente no caso. 16 REFERÊNCIAS: ARISTÓTELES, ÉTICA A NICÔMACO. Editora Martin Claret LTDA, São Paulo (2001). ACQUAVIVA, Marcus Cláudio. Dicionário Jurídico Brasileiro Acquaviva. 13. ed.atual. São Paulo: Editora Jurídica Brasileira, 2006. BORGES, Jacquelaine. F; OLIVEIRA, Cintia. R. de; CASADO, Tania. In: CADERNOS EBAPE.BR, v. 9, Edição Especial, artigo 5, Rio de Janeiro, Jul. 2011. CARRETO CLAVO, Luis. ARISTÓTELES PARA EXECUTIVOS: Como a filosofia ajuda na gestão empresarial. Editora Globo, São Paulo 2008. CHIAVENATO, Idalberto. Administração nos novos tempos – 2ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999. 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