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MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda PROF.: Me. Benício Lacerda Porto Velho, 2015 NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 2 PREFÁCIO Este material tem como objetivo apresentar subsídios complementares aos profissionais, construtores e estudantes de engenharia civil. Este material não substitui a consulta às diversas normas citadas, nem as referências bibliográficas disponíveis no mercado, mesmo que não adaptadas à atual norma. São apresentadas informações básicas de diversos materiais de construção civil aplicados na engenharia. Para a elaboração do texto de cada capítulo foi consultada diversas fontes da literatura técnica nacional e internacional bem como, em meios eletrônicos de artigos ou texto publicados em nível técnico. Algumas tabelas importantes relativas às características físicas e mecânicas de materiais são citadas a partir de suas normas específicas. Também são apresentados exercícios de dosagem e controle tecnológico de concreto, determinação de umidade de areia e também da madeira, distribuição granulométrica, classificação de agregados, etc. Toda sugestão para o aprimoramento deste material é bem-vinda, pois considera-se que o texto ainda é bastante restrito em termos de informações gerais. Prezado leitor, não deixe de apresentar falhas, nem mesmo em consultar outros materiais referentes ao assunto de materiais de construção civil. Porto Velho, julho de 2015. Prof. Me. e Engenheiro Civil Benício de Morais Lacerda (beniciolacerda@unescnet.br) mailto:beniciolacerda@unescnet.br NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 3 Sumário CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO AOS MATERIAIS DE COSNTRUÇÃO CIVIL .............................................................. 7 1.1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................................... 7 1.2 ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS .............................................................................................................................. 7 1.2.1 Elementos Escritos de um Projeto de Engenharia ......................................................................................... 7 1.2.2 Como Especificar Materiais ............................................................................................................................ 8 1.2.3 Tipos de Normas ............................................................................................................................................. 8 1.3 PROPRIEDADES GERAIS DOS CORPOS ............................................................................................................. 8 1.3.1 Principais Propriedades dos Corpos ..................................................................................................................... 9 1.3.2 Propriedades dos Corpos Sólidos ......................................................................................................................... 9 1.3.3 Esforços Mecânicos ............................................................................................................................................ 10 1.3.4 Peso específico, Massa e Densidade ................................................................................................................. 10 CAPÍTULO 2 – AGLOMERANTES .............................................................................................................................. 12 2.1. INTRODUÇÃO AOS AGLOMERANTES .............................................................................................................. 12 2.2 ASFALTOS ............................................................................................................................................................ 12 2.3 CAL ........................................................................................................................................................................ 13 2.3.1 Reações Químicas .............................................................................................................................................. 13 2.3.2 Classificação da cal ............................................................................................................................................ 14 2.3.3 Propriedades da cal ............................................................................................................................................ 14 2.4 GESSO .................................................................................................................................................................. 14 2.4.1 Propriedades do gesso ................................................................................................................................. 16 2.4.2 Aplicações do gesso ..................................................................................................................................... 17 CAPÍTULO 3 – CIMENTO PORTLAND ....................................................................................................................... 18 3.1 O QUE É CIMENTO PORTLAND .......................................................................................................................... 18 3.2 CONSTITUINTES DO CIMENTO PORTLAND ...................................................................................................... 18 3.3 PROPRIEDADES FÍSICAS DO CIMENTO PORTLAND ....................................................................................... 19 3.4 CLASSIFICAÇÃO .................................................................................................................................................. 21 3.5 FABRICAÇÃO DO CIMENTO PORTLAND ........................................................................................................... 23 3.6 PRINCIPAIS TIPOS DE CIMENTOS COMERCIAIS ............................................................................................. 26 3.6.1 CP-II-F-32 ........................................................................................................................................................... 26 3.6.2 CP-II-Z-32 ..................................................................................................................................................... 27 3.6.3 CP-IV-32 ....................................................................................................................................................... 27 3.6.4 CP-V-ARI ...................................................................................................................................................... 27 3.6.5 CP-V-ARI-RS ................................................................................................................................................ 28 3.7 ARMAZENAMENTO DO CIMENTO ...................................................................................................................... 28 3.8 DICAS PRÁTICAS DE UTILIZAÇÃO ..................................................................................................................... 29 3.8.1 Recebimento do cimento .............................................................................................................................. 29 3.8.2 Prazo de validade ......................................................................................................................................... 29 3.8.3 Utilização ......................................................................................................................................................29 3.8.4 Tempo de pega ............................................................................................................................................. 29 CAPÍTULO 4 – AGREGADOS ..................................................................................................................................... 31 4.1 DEFINIÇÃO ............................................................................................................................................................ 31 4.2 CLASSIFICAÇÃO .................................................................................................................................................. 31 4.2.1 Origem .......................................................................................................................................................... 31 4.2.2 Tipos de Agregados ...................................................................................................................................... 31 4.2.3 Peso específico ............................................................................................................................................. 31 4.3 PRODUTOS ........................................................................................................................................................... 32 4.3.1 Industrializados ............................................................................................................................................. 32 4.3.2 Agregados naturais ....................................................................................................................................... 36 4.4 QUALIDADE DOS AGREGADOS ......................................................................................................................... 38 NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 4 4.4.1 Resistência à compressão ............................................................................................................................ 38 4.4.2 Resistência à tração ..................................................................................................................................... 38 4.4.3 Resistência à abrasão .................................................................................................................................. 38 4.4.4 Resistência ao choque .................................................................................................................................. 39 4.4.5 Forma dos grãos ........................................................................................................................................... 39 4.4.6 Friabilidade ................................................................................................................................................... 40 4.5 PROPRIEDADES FÍSICAS .................................................................................................................................... 41 4.5.1 Massa específica absoluta ............................................................................................................................ 41 4.5.2 Massa específica aparente ........................................................................................................................... 42 4.5.3 Porosidade .................................................................................................................................................... 42 4.5.4 Compacidade ................................................................................................................................................ 43 4.5.5 Índice de vazios ............................................................................................................................................ 43 4.5.6 Superfície específica ..................................................................................................................................... 43 4.5.7 Teor de umidade ........................................................................................................................................... 44 4.5.8 Inchamento ................................................................................................................................................... 44 4.5.9 Coesão .......................................................................................................................................................... 45 4.5.10 Fragibilidade ............................................................................................................................................... 45 4.5.11 Maleabilidade .............................................................................................................................................. 45 4.5.12 Tenacidade ................................................................................................................................................. 45 4.6 AGREGADOS PARA CONSTRUÇÃO CIVIL ......................................................................................................... 46 4.6.1 Introdução ..................................................................................................................................................... 46 4.6.2 Resistências Mecânicas do Agregado para o Concreto ............................................................................... 47 4.6.3 Forma dos grãos ........................................................................................................................................... 48 4.6.4 Reatividade Potencial ................................................................................................................................... 48 4.6.5 Mistura Ideal de um Concreto ....................................................................................................................... 49 4.6.6 Compacidade, Porosidade, Índice de Vazios ............................................................................................... 50 4.6.7 Distribuição Granulométrica .......................................................................................................................... 50 4.6.8 Módulo de Finura .......................................................................................................................................... 52 4.6.9 Classificação dos Agregados pela Porcentagem Retida Acumulada ........................................................... 55 CAPÍTULO 5 – APLICAÇÃO DE ADITIVOS NO CONCRETO .................................................................................... 59 5.1 DEFINIÇÕES DE ADITIVOS ................................................................................................................................. 59 5.2 CLASSIFICAÇÕES DOS ADITIVOS QUÍMICOS .................................................................................................. 60 5.2.1 Características de aditivos plastificante e superplastificantes ...................................................................... 61 5.2.2 Características de aditivos modificadores de pega ...................................................................................... 62 5.2.3 Características de aditivos incorporadores de ar .......................................................................................... 64 5.2.4 Cuidados especiais na utilização de aditivos químicos ................................................................................ 65 5.3 CÁLCULO DA DOSAGEM DO ADITIVO ............................................................................................................... 66 5.3.1 Modo de adição dos aditivos ........................................................................................................................67 5.4 CUSTOS NA PRODUÇÃO DE CONCRETO COM E SEM ADITIVOS ................................................................. 68 5.5 TRABALHABILIDADE DO CONCRETO – ENSAIO DE ABATIMENTO ................................................................ 70 5.5.1 Ensaio de Controle de Aceitação .................................................................................................................. 71 5.6 ADITIVOS MINERAIS ............................................................................................................................................ 71 5.6.1 Fíler Calcário ................................................................................................................................................. 72 5.6.2 Cinza Volante ................................................................................................................................................ 72 5.6.3 Sílica Ativa .................................................................................................................................................... 72 5.7 INFLUÊNCIA DE FATORES CLIMÁTICOS NO CONCRETO ............................................................................... 73 5.7.1 Concretagem em Tempo Quente ................................................................................................................. 74 5.7.2 Concretagem em Tempo Frio ....................................................................................................................... 76 CAPÍTULO 6 – ESTUDO DE DOSAGEM .................................................................................................................... 79 6.1 HISTÓRICO ........................................................................................................................................................... 79 NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 5 6.2 DEFINIÇÕES DO CONCRETO ............................................................................................................................. 82 6.3 DOSAGEM DO CONCRETO ................................................................................................................................. 82 6.3.1 Resistência de Dosagem .............................................................................................................................. 82 6.3.2 Notação Adotada para Traços ...................................................................................................................... 83 6.3.3 Processos de Dosagem ................................................................................................................................ 85 6.3.4 Dosagem Empírica ....................................................................................................................................... 85 6.3.5 Dosagem Experimental ................................................................................................................................. 94 6.4 CONCRETO AUTO ADENSÁVEL ....................................................................................................................... 113 6.4.1 Características do CAA ............................................................................................................................... 114 6.4.2 Proporções de Mistura dos Materiais ......................................................................................................... 115 6.5 MÉTODO DE DOSAGEM DO CAA ..................................................................................................................... 117 6.5.1 Caracterização do CAA no Estado Fresco ................................................................................................. 119 CAPÍTULO 7 – PREPARO, TRANSPORTE, LANÇAMENTO, ADENSAMENTO E CURA ....................................... 122 7.1 PREPARO DO CONCRETO ................................................................................................................................ 122 7.1.1 Preparo Manual .......................................................................................................................................... 122 7.1.2 Preparo Mecânico ....................................................................................................................................... 122 7.1.3 Tempo de Preparo ...................................................................................................................................... 123 7.1.4 Ordem de Colocação dos Materiais na Betoneira ...................................................................................... 123 7.2 TRANSPORTE DO CONCRETO ......................................................................................................................... 123 7.2.1 Transporte Horizontal ................................................................................................................................. 124 7.2.2 Transporte Inclinado ................................................................................................................................... 125 7.2.3 Transporte Vertical ...................................................................................................................................... 125 7.2.4 Bombas ....................................................................................................................................................... 126 7.2.5 Critérios de Aceitação do Concreto Transportado ...................................................................................... 127 7.3 LANÇAMENTO DO CONCRETO ........................................................................................................................ 129 7.3.1 Altura de Queda de Lançamento do Concreto ........................................................................................... 130 7.3.2 Lançamento de Concreto Submerso .......................................................................................................... 130 7.3.3 Juntas de Dilatação, de Encontro, de Construção e Serrada ..................................................................... 133 7.3.4 Juntas Frias ................................................................................................................................................ 136 7.4 ADENSAMENTO DO CONCRETO ..................................................................................................................... 138 7.4.1 Vantagens do Adensamento do Concreto .................................................................................................. 139 7.4.2 Tipos de Vibradores .................................................................................................................................... 142 7.5 CURA DO CONCRETO ....................................................................................................................................... 148 7.5.1 Irrigação ou Aspersão de Água .................................................................................................................. 148 7.5.2 Alagamento ................................................................................................................................................. 149 7.5.3 Cobertura com tecido ou mantas geotêxtil ................................................................................................. 150 7.5.4 Cura química ............................................................................................................................................... 150 CAPÍTULO 8 – METAIS UTILIZADOS COMO MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL............................................ 152 8.1 DEFINIÇÃO DE METAL .......................................................................................................................................152 8.2 OBTENÇÃO DOS METAIS .................................................................................................................................. 152 8.3 PRINCIPAIS MINÉRIOS ...................................................................................................................................... 154 8.4 LIGAS ................................................................................................................................................................... 157 8.5 PROPRIEDADES DOS METAIS ......................................................................................................................... 159 8.5.1 Deformação Elástica ................................................................................................................................... 159 8.5.2 Tenacidade ................................................................................................................................................. 160 8.5.3 Resiliência ................................................................................................................................................... 161 8.5.4 Ensaios de Dureza Brinell ........................................................................................................................... 162 8.6 FATORES DE PROJETO/SEGURANÇA ............................................................................................................ 162 8.7 ESTUDO DO ALUMÍNIO ..................................................................................................................................... 164 8.7.1 Propriedades do Alumínio ........................................................................................................................... 165 NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 6 8.7.2 Processos Industriais do Alumínio .............................................................................................................. 168 8.8 ESTUDO DO AÇO ............................................................................................................................................... 174 8.8.1 Vantagens do uso do Aço ........................................................................................................................... 174 8.8.2 Aços Para Concreto Armado e Protendido ................................................................................................. 176 CAPÍTULO 9 – USO DA MADEIRA NA CONSTRUÇÃO CIVIL................................................................................. 186 9.1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................... 186 9.1.1 Vantagens da Madeira na Construção Civil ................................................................................................ 187 9.1.2 Desvantagens da Madeira na Construção Civil .......................................................................................... 188 9.2 FISIOLOGIA DA ÁRVORE E FORMAÇÃO DE MADEIRA .................................................................................. 188 9.2.1 Anatomia da Madeira .................................................................................................................................. 189 9.3 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DA MADEIRA ..................................................................................................... 190 9.3.1 Umidade da Madeira ................................................................................................................................... 190 9.3.2 Densidade ................................................................................................................................................... 193 9.4 VARIAÇÃO DIMENSIONAL DA MADEIRA ......................................................................................................... 194 9.4.1 Determinação das Porcentagens de Retração e de Inchamento ............................................................... 194 9.4.2 Determinação da Variação Volumétrica ..................................................................................................... 195 9.5 BENEFICIAMENTO DAS MADEIRAS ................................................................................................................. 196 9.5.1 Secagem ..................................................................................................................................................... 196 9.5.2 Preservação da Madeira ............................................................................................................................. 197 9.5.3 Madeira Transformada ................................................................................................................................ 197 9.6 PRODUTOS DE MADERIA NA CONSTRUÇÃO CIVIL ....................................................................................... 200 9.6.1 Madeira Roliça ............................................................................................................................................ 200 9.6.2 Madeira Serrada ......................................................................................................................................... 201 CAPÍTULO 10 – MATERIAIS CERÂMICOS .............................................................................................................. 203 10.1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................... 203 10.2 TIPOS DE ARGILA ............................................................................................................................................ 203 10.3 PROPRIEDADES DA ARGILA .......................................................................................................................... 203 10.4 TIJOLO MACIÇO DE BARRO COZIDO ............................................................................................................ 204 10.8 BLOCOS CERÂMICOS ..................................................................................................................................... 205 10.8.1 Dimensões Usuais dos Blocos Cerâmicos ............................................................................................... 206 10.8.2 Propriedades Mecânicas .......................................................................................................................... 207 10.8.3 Amarração dos Blocos Cerâmicos Para Paredes ..................................................................................... 208 10.8.4 Tipos de Paredes ...................................................................................................................................... 210 10.8.5 Planejamento e Execução de Alvenaria ................................................................................................... 212 10.8.6 Cuidados Durante a Execução de Alvenaria ............................................................................................ 213 10.9 TELHAS CERÂMICAS ....................................................................................................................................... 215 10.9.1 Tipos de Telhas ........................................................................................................................................ 215 10.9.2 Controle de qualidade das telhas cerâmicas ............................................................................................ 218 10.10 REVESTIMENTOS CERÂMICOS .................................................................................................................... 228 10.10.1 Vantagens do uso de revestimentoscerâmicos ..................................................................................... 228 10.10.2 Propriedades dos revestimentos cerâmicos ........................................................................................... 229 Referências ................................................................................................................................................................ 232 NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 7 CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO AOS MATERIAIS DE COSNTRUÇÃO CIVIL 1.1 INTRODUÇÃO A primeira vista parece desnecessário estudantes de engenharia saberem da importância da disciplina Materiais de Construção. Porém, não adianta saber apenas calcular uma viga; é preciso saber também dosar o concreto de modo a obter a resistência prevista, e depois saber controlar sua preparação durante a obra toda. Quando se procede ao cálculo da viga, a Resistência dos Materiais, a Mecânica, a Estática e disciplinas correlatas apresentam fórmulas que permitem conhecer as tensões internas e as forças externas que ela irá suportar. Mas é o conhecimento dos Materiais de Construção que possibilitará ao projetista escolher aquele que poderá resistir a essas tensões. A escolha dos materiais empregados depende da solidez, da durabilidade, do custo e do acabamento da obra. Uma parede pode ser feita com diferentes materiais, mas a cada um corresponderão diferentes qualidades e diferentes aparências. É função do Engenheiro ou Arquiteto escolher o que melhor atenda às condições exigidas e que ao mesmo tempo apresente uma aparência agradável e durável. Assim, as qualidades dos materiais podem ser estabelecidas pela observação continuada, pela experiência adquirida ou por ensaios laboratoriais, cuja difusão desses conhecimentos é traduzida na disciplina Materiais de Construção. 1.2 ESPECIFICAÇÕES TÉCNICAS 1.2.1 Elementos Escritos de um Projeto de Engenharia Um projeto de Engenharia é composto de plantas, desenhos e cálculos. Porém, deve estar presente uma parte de redação, sob a forma de memorial descritivo e especificação técnica. O memorial descritivo é a descrição e indicação dos materiais a serem empregados e dos locais da construção. As especificações técnicas indicam detalhadamente as propriedades mínimas que os materiais devem apresentar e a técnica que será empregada na construção. Especificações e memoriais descritivos costuma ser divididos em duas partes: especificações para os materiais e especificações para a execução. É na disciplina Materiais de Construção que são designadas as qualidades, os defeitos e as possibilidade de aplicação na obra de cada material. Uma vez conhecidas, cabe ao projetista escolher aqueles que mais correspondam aos seus planos, estabelecendo, ao mesmo tempo, os padrões mínimos de qualidade. NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 8 1.2.2 Como Especificar Materiais a. Ao especificar os materiais, é necessário que se use da maior exatidão possível, definindo todos os elementos que possam variar de procedência. b. Procurar citar os dados técnicos do material desejado. c. Nomear o material, mas também a classificação, o tipo, a dimensão desejada e, eventualmente, a marca. Exemplo: concreto – Cimento Portland CPII, areia média e britas 1 e 2. d. Rever os catálogos dos materiais que estão sendo especificados, para estar atualizado quanto a pormenores de diferenciação. e. Organizar um guia para especificações, a fim de não esquecer detalhes, como rodapés, armações, eletrodutos, tubulações de água fria, etc. Todas as especificações aplicações em uma obra devem seguir Normas. 1.2.3 Tipos de Normas a. Normas – dão as diretrizes para cálculos e métodos de execução de obras e serviços, assim como as condições mínimas de segurança; b. Especificações – estabelecem as prescrições para os materiais; c. Métodos de Ensaio – estabelecem os processos para a formação e o exame de amostras; d. Padronizações – estabelecem as dimensões para os materiais ou produtos; e. Terminologias – regularizam a nomenclatura técnica; f. Simbologia – aplicada em convenções de desenho; g. Classificações – ordenar e dividir conjuntos de elementos. No Brasil aplica-se a NBR (Norma Brasileira) em todos os tipos citados anteriormente. 1.3 PROPRIEDADES GERAIS DOS CORPOS Antes de iniciar o estudo da disciplina, é necessário recordar algumas das principais propriedades dos corpos. Propriedades de um corpo refere-se à qualidade exterior que o caracterizam e distinguem. NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 9 As propriedades variam de material para material. Para o construtor, é básico o conhecimento das propriedades de cada material, para poder deduzir o seu comportamento na prática. 1.3.1 Principais Propriedades dos Corpos a. Extensão – é a propriedade que possuem os corpos de ocupar um lugar no espaço. b. Impenetrabilidade – é a propriedade de que dois corpos não ocupem o mesmo lugar no espaço. c. Inércia – é a propriedade que impede os corpos de modificarem, por si mesmos, seu estado inicial de repouso ou movimento. d. Atração – é a propriedade de a matéria atrair a matéria, de acordo com a lei de atração das massas. e. Porosidade – é a propriedade que a matéria apresenta de não ser contínua, havendo espaço entre as massas. (Concreto, madeira, etc.) f. Divisibilidade – é a propriedade que os corpos têm de se dividirem em fragmentos cada vez menores. g. Indestrutibilidade – é a propriedade que a matéria tem de ser indestrutível. 1.3.2 Propriedades dos Corpos Sólidos a. Dureza – é a resistência que os corpos opõem ao serem riscados. b. Tenacidade – é a resistência que opõem ao choque ou percussão. Exemplo, o vidro apresenta grande dureza, mas pequena tenacidade; os termos não são sinônimos. c. Maleabilidade ou Plasticidade – é a propriedade que têm os corpos de se retraírem até formarem lâminas, sem, no entanto, se romperem. d. Ductilidade – é a capacidade que têm os corpos de se reduzirem a fios sem se romperem. Exemplo, a argila apresenta boa plasticidade e pequena ductilidade. e. Durabilidade – é a capacidade que os corpos apresentam de permanecerem inalterados com o tempo. f. Desgaste – é a perda de qualidades ou de dimensões com o uso contínuo. Exemplo, os pisos cerâmicos são classificado pela sigla PEI (Porcelain Enamel Institute) é a sigla do instituto que regulamentos as normas para classificação NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 10 quanto ao desgaste que varia de uma escala de 0 à 5 relacionado ao volume de tráfego. g. Elasticidade – é a tendência que os corpos retornarem à forma primitiva após a aplicação de um esforço. Exemplo, diagrama tensão-deformação do Aço CA. 1.3.3 Esforços Mecânicos Os esforços mecânicos estão apresentados na Figura 1.1: - Esforços de compressão; - Esforços de tração; - Esforços de torção; - Esforços de flexão; - Esforços de cisalhamento. Figura 1.1 – Esforços mecânicos 1.3.4 Peso específico, Massa e Densidade Massa: é a quantidade de matéria e é constante para o mesmo corpo, esteja onde estiver. Peso: é a força com que a massa é atraída para o centro da Terra; varia de local para local. Peso específico: é a relação entre V P p o peso de um corpo e seu volume e, portanto, não é constante. e) Compressão d) Tração c) Torção b) Flexão a) Cisalhamento NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 11 Massa específica:é a relação entre V M m sua massa e seu volume. É constante para o mesmo corpo e pode ser expressa, por exemplo, kgf/dm³. NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 12 CAPÍTULO 2 – AGLOMERANTES 2.1. INTRODUÇÃO AOS AGLOMERANTES Neste capítulo serão tratados alguns dos principais materiais utilizados como aglomerantes nas obras de construção civil. Serão tratados materiais como asfalto, cal, gesso e aglomerantes especiais. 2.2 ASFALTOS Asfalto é uma matéria hidrocarbonada (constituição química de hidrogênio e carbono), de cor preta, presente em petróleo cru. Sendo óleos solventes removidos do petróleo cru, por evaporação ou destilação. Existem depósitos naturais de asfalto, alguns isentos de materiais estranhos, e outros misturados com substâncias minerais e orgânicas. Os depósitos naturais onde o asfalto se encontra impregnado em rochas porosas são conhecidos como rochas betuminosas. O asfalto é de importância na engenharia por se tratar de um poderoso ligante, rapidamente adesivo, altamente impermeável e de longa durabilidade. São classificados em: a. Cimentos asfálticos: São materiais termoplásticos, ariando a consistência de firme a duro, em temperaturas normais, e que devem ser aquecidos até atingir a condição de fluidos para aplicação. b. Asfaltos líquidos: Apresenta fase semi-sólida dissolvida em óleos de grau de volatilidade variada de acordo com a velocidade de cura – lenta, média e rápida. c. Emulsões asfálticas: São misturas homogêneas de cimentos asfálticos e água com uma pequena quantidade de agente emulsificador usado no processo de fabricação. O processo de fabricação de asfalto está apresentado na Figura 1.2. Figura 1.2 – Destilação do petróleo NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 13 2.3 CAL É um aglomerante simples, resultante da calcinação de rochas calcárias. A calcinação da rocha calcária pura resulta na produção de óxido de cálcio puro, material de grande importância industrial, uma vez que apresenta melhor preço que os produtos impuros utilizados em construção. 2.3.1 Reações Químicas A calcinação do calcário natural, o carbonato de cálcio, submetido à ação do calor em temperatura de 900º C, decompõe-se em óxidos de cálcio e anidridos carbônicos, representados por: 23 COCaOcalorCaCO O produto dessa calcinação apresenta estrutura porosa e é chamada de cal viva. A cal viva, dependendo do processo de fabricação apresenta grãos de vários tamanhos. São comuns grandes dimensões – com 10, 15 ou 20 cm, em média e assim, são chamadas de pedras de cal viva (Figura 1.3). Figura 1.3 – Pedras de cal viva A cal viva não é o aglomerante utilizado em construção. O óxido CaO, deve ser hidratado, transformando-se em hidróxido Ca(OH)2, que é o constituinte básico do aglomerante cal. A operação de hidratação recebe o nome de extinção, e o hidróxido resultante denomina-se cal extinta. A reação química da extinção da cal viva é: 22 OHCaOHCaO A cal extinta é utilizada em mistura com água e areia, em proporções aproprias, na elaboração de argamassas. Estas apresentam consistência mais ou menos plástica e endurecem pela recombinação do hidróxido com o gás carbônico CO2 presente na atmosfera, reconstituindo o carbonato original CaCO3. A reação de carbonatação que ocorre na temperatura ambiente é: NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 14 OHCaCOCOOHCa 2322 2.3.2 Classificação da cal A cal é classificada segundo dois critérios: o da composição química e do rendimento em pasta. Quanto à composição química há duas variedades: a cal cálcica e a cal magnesiana. A cal cálcica apresenta 75% de CaO e a cal magensiana apresenta no mínimo 20 % de MgO, devendo sempre a soma de CaO + MgO ser superior a 95%. Os outros 5% são componentes argilosos tais como SiO2, Al2O3 e Fe2O3. Quanto ao rendimento em pasta que é o valor do volume de pasta de cal obtido com uma tonelada de cal viva, há duas variedades: cal gorda e cal magra. Porque? Pois, do ponto de vista econômico é necessário saber o rendimento em pasta, porque o produto comprado é a cal viva e o produto utilizado é a pasta de cal. Se o rendimento em pasta for maior que 1,82 a cal será denominada gorda, e, se for inferior a esse valor, magra. Esse valor decorre da proporção de 1,82 m³ de pasta para uma tonelada de cal viva. 2.3.3 Propriedades da cal As propriedades da cal são: a. Plasticidade: termo utilizado para conceituar a menor ou maior facilidade na aplicação das argamassas como revestimento. A cal é denominada plástica quando se espalha facilmente, resultando em uma superfície lisa sob o rasto da colher do pedreiro. Se a argamassa agarrar à colher, o que conduz à produção de trincas diz que ela é não plástica. b. Retração: devido à carbonatação do hidróxido há perdas de volume, razão pela qual a argamassa se retrai e aparecem trincas nos revestimentos. Para transpor a retração deve ser realizado o traço ou proporções adequadas. c. Endurecimento: o endurecimento depende do ar atmosférico, uma vez que é necessária a absorção de CO2. Esse processo por ser lento evidencia o uso de argamassas de cal e areia para revestimentos, aplicados em camadas, geralmente com um intervalo de 10 dias entre uma e outra operação. 2.4 GESSO Pertence a uma família de aglomerantes simples, constituídos basicamente de sulfatos mais ou menos hidratados e anidros de cálcio. São obtidos pela calcinação da gipsita natural (Figura 2.1), acompanhado de certa proporção de impurezas tais como: NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 15 sílica, alumina, óxido de ferro, carbonatos de cálcio e magnésio. O total desses impurezas varia de uma proporção muito pequena até um limite máximo de 6%. Figura 2.1 – Gipsita natural No processo de calcinação da gipsita e dentro do limite de temperaturas e pressões produz os seguintes sulfatos: - entre 100º e 180ºC: semi-hidratados SO4Ca e 1/2H2O; - entre 100ºC e 300ºC: sulfato-anidro solúvel – SO4Ca e derivado dos semi-hidratados; - temperaturas superiores a 300ºC: sulfato-anidro insolúvel. Os semi-hidratos e os sulfato-anidro solúveis colocados em presença da água produz uma fina malha cristalizada (Figura 2.2) que dá coesão ao conjunto. Tal fenômeno, conhecido pelo nome de pega do gesso, é acompanhada pela elevação de temperatura, pois, a hidratação (presença de água) gera uma reação exotérmica. Figura 2.2 – Malha cristalizada NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 16 Observe que a malha cristalizada apresenta um grande volume de vazios e assim, reflete no produto final, sendo o gesso uma estrutura porosa. O sulfato-anidro insolúvel é inerte, não participa de uma reidratação rápida e participa como material de enchimento, como a areia na argamassa. No mercado brasileiro o gesso é encontrado em sacos de 50 a 60 kg com os nomes de gesso, estuque ou gesso-molde. Na construção civil o gesso é classificado conforme a sua qualidade e que se baseia na proporção de sulfato semi-hidratado, na finura e nos tempos de início e fim de pega. A Tabela 1 apresenta os valores dos produtos do mercado americano. Tabela 1 – Valores para Gessos nos mercados americanos Gessos para construções Fibra de madeira Puro C/ areia CaSO4 ·1/2H2O > 66% > 66% > 66% Fibra de madeira 1% - - Areia - - 1,9 kg Início de pega 1,5 h 2 h 1,5 hFim de pega 16 h 32 h 8 h Resistência à compressão 8,5 MPa 5,2 MPa 2,8 MPa 2.4.1 Propriedades do gesso No mercado o gesso é encontrado em pó branco de elevada finura, cuja densidade aparente varia de 0,7 a 1,0, diminuindo com o grau de finura. O gesso apresenta as seguintes propriedades: a. Pega: processo de hidratação com formação de finos cristais de sulfato hidratado que leva ao seu endurecimento. Após o início de pega, o gesso, tal como outros materiais aglomerantes continua a endurecer e ganhar resistência. A velocidade do endurecimento depende de: - temperatura e tempo de calcinação; - finura; - quantidade de água; - presença de impurezas ou aditivos. b. Resistência mecânica: depois de endurecidas, as pastas de gesso atinge entre 0,7 e 3,5 MPa de resistência à tração e entre 5 e 15 MPa de resistência à compressão. NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 17 c. Aderência: as argamassas de gesso aderem muito bem ao tijolo, pedra e ferro. A aderência ferro-gesso apresenta instabilidade, uma vez que ocorre a corrosão do metal, devido as moléculas de H20 presente. d. Isolamento: Apresentam excelentes propriedades de isolamento térmico, acústico e impermeabilidade ao ar. Sua condutibilidade é cerca de 1/3 do tijolo e igual a 0,40 cal/h·cm·0C. Lembrando que 1 cal é igual a 4,1868J que é quantidade de energia necessária para elevar a temperatura de 1 quilograma (equivalente a 1 litro) de água de 14,5 °C para 15,5 °C 2.4.2 Aplicações do gesso O gesso é aplicado na construção civil como revestimento e decorações interiores (Figura 2.3). Figura 2.3 – Aplicações do gesso na construção civil a) Forro b) Parede É utilizada também como pasta obtida pelo amassamento do gesso com água e misturado com areia, sob a forma de argamassa. O revestimento de gesso em pasta ou em argamassa pode ser realizado em duas a três camadas, cujo alisamento final da superfície revestida com colher ou desempenadeira permite obter superfícies lisas e de ótimo acabamento. http://pt.wikipedia.org/wiki/Grau_Celsius http://pt.wikipedia.org/wiki/Grau_Celsius NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 18 CAPÍTULO 3 – CIMENTO PORTLAND 3.1 O QUE É CIMENTO PORTLAND É o produto obtido pela pulverização de clinker constituído de silicatos hidráulicos de cálcio e uma proporção de sulfato de cálcio natural além de adições de certas substâncias que modificam suas propriedades. Clinker (Figura 3.1) é um material resultante da calcinação (1450º C) da mistura do calcário (75 a 80%), da argila (20 a 25%) e de componentes químicos como o silício, alumínio e o ferro. Figura 3.1 – Pedras de clinker 3.2 CONSTITUINTES DO CIMENTO PORTLAND Os constituintes fundamentais do Cimento Portland são a cal (CaO), a sílica (SiO2), a alumina (Al2O3), o óxido de ferro (Fe2O3), uma proporção de magnésia (MgO) e uma pequena porcentagem de anidrido sulfúrico (SO3). A mistura das matérias-primas relacionadas anteriormente e em proporção certa é submetida à ação do calor no forno produtor de cimento até resultar na formação do clinker. Durante essa etapa, ocorrem combinações químicas que levam a produção dos seguintes compostos: - silicato tricálcico (3CaO · SiO2) → 18 a 66 % no cimento; - silicato bicálcico (2CaO · SiO2) → 11 a 53 % no cimento; - aluminato tricálcico (3CaO · Al2O3) → 5 a 20 % no cimento; - ferro aluminato tetracálcico (4CaO · Al2O3 · Fe2O3) → 4 a 14 % no cimento. As proporções do cimento são relacionadas diretamente com as proporções dos silicatos e aluminatos. A importância do conhecimento das proporções dos compostos constituintes do cimento reside na correlação existente entre os compostos e as propriedades finais do cimento e, consequentemente do concreto. NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 19 O silicato tricálcico (3CaO · SiO2) é o responsável pela resistência, em todas as idades, na aplicação como argamassas e concreto. O silicato bicálcico (2CaO · SiO2) adquire maior importância no processo de endurecimento em idades mais avançadas a um ano ou mais. Uma vez que, o concreto, por exemplo, continua aumentando de resistência após a sua cura. O aluminato tricálcico (3CaO · Al2O3) contribui para a resistência, especialmente no primeiro dia e, consequentemente, é o grande responsável pela liberação do calor de hidratação. Além disso, o aluminato tricálcico é o responsável pela rapidez de pega. 3.3 PROPRIEDADES FÍSICAS DO CIMENTO PORTLAND As propriedades físicas do cimento Portland levam em consideração: produtos em sua condição natural, em pós, da mistura do cimento e água e proporções convenientes da pasta e, finalmente, a mistura da pasta com agregado (argamassas). As propriedades relacionam o comportamento de seu uso em uma construção e também a qualidade do cimento utilizado. As propriedades são: a. Massa específica: É usualmente considerada 3,15 g/cm³. Usa-se esse valor para o cálculo do consumo do produto nas misturas feitas sob volumes específicos. b. Finura: A finura é uma relação de tamanho dos grãos do produto. É definida pelo tamanho máximo do grão, por meio da pesagem em uma proporção especificada em norma (NBR 5732 e NBR 5733) retida na operação de peneiramento em malha (nº 200) de abertura definida. A finura é o fator que governa a velocidade da reação de hidratação. O aumento da finura melhora a resistência da primeira idade, aumenta a impermeabilidade, a trabalhabilidade, a coesão e diminui a exsudação e outros tipos de segregação. c. Exsudação: É o fenômeno que consiste na separação espontânea da água de mistura, que aflora naturalmente devido a diferença de densidades entre o cimento e a água. d. Coesão: É responsável pela estabilidade mecânica no início de pega e é medida pelo valor da resistência do cisalhamento. e. Trabalhabilidade: Estado que oferece maior ou menor facilidade na operações de manuseio com as argamassas e concretos frescos. f. Tempo de pega: Compreende a evolução das propriedades mecânicas da pasta de cimento no início do processo de endurecimento, resultante de um processo químico de hidratação (Figura 3.2). Em resumo, trata-se do momento em que a pasta torna imprópria a um trabalho, logicamente, este NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 20 conceito se estende aos concretos e argamassa, nos quais a pasta de cimento apresenta a função de aglutinar os agregados. Figura 3.2 – Hidratação do cimento No processo de hidratação, os grãos de cimento que inicialmente se encontram soltos se aglutinam uns aos outros, até a formação de um esqueleto sólido ou cristais (Figura 3.3) que dá estabilidade da estrutura geral. A continuidade de hidratação conduz ao endurecimento responsável pela aquisição permanente de qualidades mecânicas. Figura 3.3 – Microscopia de formação de cristais da hidratação do cimento A caracterização da pega é feita em dois momentos: início do processo de endurecimento e final do endurecimento. Por meio da aplicação do aparelho de Vicat (Figura 3.4), o tempo de pega é medido pela resistência à penetração de uma agulha na pasta de cimento. Cristais NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 21 Figura 3.4 – Aparelho de Vicat para determinação do tempo de pega do cimento g. Resistência: A resistência dos cimentos é determinada pela ruptura à compressão de corpos-de-prova de dimensões padronizadas. O traço, a consistência e o tipo de agregadoempregado também possuem especificações definidas. No Brasil as dimensões dos corpos-de-prova apresentam proporção de 2:1, ou seja, é um cilindro metálico com 10 cm de altura e 5 cm de diâmetro, geralmente aplicado nos ensaios à compressão de argamassa. Para concreto, utilizam-se cilindros metálicos de 30 cm de altura e 15 cm de diâmetro. h. Exsudação: Trata-se de um fenômeno de segregação que ocorre nas pastas de cimentos (Figura 3.5). Os grãos de cimento, sendo mais pesado que a água, são forçados por gravidade a uma sedimentação. Essa tendência de movimentação dos grãos para baixo resulta em um afloramento do excesso de água. Pelo fato de ocorrer antes do início de pega, a água acumulada na superfície da argamassa ou do concreto se perde por evaporação o que, influencia diretamente na sua resistência e durabilidade. A finura do cimento contribui para que esse fenômeno não ocorra, uma vez que diminui os espaços intersticiais dos grãos ou intergranulares e assim, aumenta a resistência do percurso ascendente da água. Figura 3.5 – Fenômeno de exsudação da pasta de cimento 3.4 CLASSIFICAÇÃO Os primeiros cimentos eram fabricados conforme especificações do consumidor que as encomendavam das fábricas. Hoje, o cimento é fabricado segundo especificações técnicas definidas por normas. A Tabela 2 apresenta as principais características dos cimentos normalizados brasileiros. NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL I MCCI – Prof. MSc. Benício Lacerda 22 Tabela 2 – Classificação e principais características do Cimento Portland C.P. Comum C.P. de Alta Resistência Inicial C.P. de Alto Forno C.P. Pozolânico C.P. de Moderada Resistência a Sulfatos C.P. de Alta Resistência a Sulfatos 250 320 400 250 320 250 320 250 320 MgO máx. (%) 6,5 6,5 6,5 6,5 - - 6 6 6,5 6,5 6,5 Finura Resídulo na peneira 0,075 (%) 15 15 15 06 10 10 12 12 15 15 15 cm²/g 2.400 2.600 2.600 3.000 2.6 00 2.800 2.500 2.900 2.60 0 2.600 2.600 Tempo mínimo de pega, Vicat (h) 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 Resistências mínimas argamassa normalizada (MPa) 1 dia - - - 11 - - - - - - - 3 dias 8 10 14 22 8 10 7 10 8 10 - 7 dias 15 20 24 31 15 20 15 18 15 20 10 28dias 25 32 40 - 25 32 25 32 25 32 20 90 dias - - - - 32 40 32 40 - - - NORMA BRASILEIRA NBR-5732 NBR-5733 NBR-5735 NBR-5736 NBR-5737 NBR-5737 Tipos Propriedades NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL I MCCI – Prof. MSc. Benício Lacerda 23 3.5 FABRICAÇÃO DO CIMENTO PORTLAND É fabricado de acordo com as especificações da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas. O cimento depende, principalmente, para sua fabricação, dos seguintes materiais: calcário, argila, minério de ferro e gesso. Durante o processo de fabricação, os materiais são analisados por diversas vezes, de forma a alcançar a composição química desejada. A fabricação do cimento envolve as seguintes operações: a) Dosagem, secagem e homogeneização das matérias-primas. O calcário é a matéria-prima básica, contribui de 85 a 95% na fabricação do cimento, é constituído basicamente de carbonato de cálcio (CaCO3) e, dependendo de sua origem geológica, pode conter várias impurezas como magnésio, silício, alumínio e ferro. A rocha calcária é extraída de jazidas (Figura 3.6) com auxílio de explosivos. Os grandes blocos de pedra fragmentados obtidos através da explosão, são submetidos ao processo Figura 3.6 – Extração de CaCO3 da Jazida a) Jazida de CaCO3 de britagem, sendo reduzidos ao tamanho de grão menor ou igual a 25 mm. Para melhorar a qualidade do clínquer, o calcário recebe algumas correções complementares de: Filito (argila): este material colabora com o alumínio Al2O3; Quartzito (material arenoso): este colabora com SiO2; Minério de Ferro: este colabora com Fe2O3 b) Britador NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 24 Este conjunto de materiais é enviado para moagem no moinho vertical de rolos (Figura 3.7), em proporções pré-determinadas, onde se processa o início da mistura íntima, secagem e a homogeneização necessária, formando-se a farinha crua. Figura 3.7 – Moinho Vertical de Rolos b) Clinquerização. A farinha crua moída é calcinada até fusão incipiente, a uma temperatura de 1450ºC em um forno rotativo (Figura 3.8), onde então obtém-se o clínquer. Figura 3.8 - Matérias primas e forno rotativo para obtenção do clínquer a) Calcário (Pedra) – CaCO3 b) Filito (Argila) – Al2O3 c) Quartzito (Saibro) – SiO2 d) Magnetita (Minério de ferro) – Fe2O3 e) Forno rotativo c) Adições finais e moagem NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 25 Para a obtenção do cimento Portland, faz-se a moagem Figura 3.9 do clínquer com diversas adições, como o gesso (até 5%), calcário, pozolana e escória, onde assegura-se ao produto a finura e homogeneidade convenientes, de acordo com as normas da ABNT. O processo de moagem do clínquer e de suas adições é um fator importante, pois irá influenciar em algumas características, como a hidratação e as resistências inicial e final do cimento. Figura 3.9 – Moagem do clínquer no Moinho de bolas Gesso A gipsita, sulfato de cálcio di-hidratado, é comumente chamada de gesso. É adicionada na moagem final do cimento, com a finalidade de regular o tempo de pega, permitindo com que o cimento permaneça trabalhável por pelo menos uma hora, conforme ABNT. Sem a adição de gipsita, o cimento tem início de pega em aproximadamente quinze minutos, o que tornaria difícil a sua utilização em concretos. Fíler Calcário A adição de calcário finamente moído é efetuada para diminuir a porcentagem de vazios, melhorar a trabalhabilidade, o acabamento e pode até elevar a resistência inicial do cimento. Pozolana A pozolana é a cinza resultante da combustão do carvão mineral utilizado em usinas termoelétricas. Também há possibilidade de se produzir pozolana artificial queimando-se argilas ricas em alumínio a temperaturas próximas de 700ºC. A adição de pozolana propicia ao cimento maior resistência a meios agressivos como esgotos, água do mar, solos sulfurosos e a agregados reativos. Diminui também o calor de hidratação, NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 26 permeabilidade, segregação de agregados e proporciona maior trabalhabilidade e estabilidade de volume, tornando o cimento pozolânico adequado a aplicações que exijam baixo calor de hidratação, como concretagens de grandes volumes. Escória de Alto-Forno A escória de alto-forno, é sub-produto da produção de ferro em alto-forno, obtida sob forma granulada por resfriamento brusco. 3.6 PRINCIPAIS TIPOS DE CIMENTOS COMERCIAIS Os principais tipos de cimentos comerciais são aqui citados com indicação do teor de adição de composto e aplicação prática. Antes de citar os tipos de cimentos usuais é necessário reconhecer o significado de suas siglas (Figura 3.10): Figura 3.10 – Significado da sigla presente no cimento A resistência à compressão é uma das características mais importantes do cimento e é determinada em ensaio normal descrito na NBR 7215:1996. O ensaio é realizado em corpo-de-prova cilíndrico de 5 cm× 10 cm, feito com argamassa de traço 1: 3: 0,48, com areia padronizada e submetida à ruptura em idades pré-definidas. As classes de resistência do cimento são 25 MPa, 32 MPa e 40 MPa. Os cimentos de alta resistência inicial, CP V-ARI, têm resistência mínima aos 07 dias de 34 MPa. 3.6.1 CP-II-F-32 Cimento Portland composto com fíler, com teor de adição entre 6 e 10%. Tem diversas possibilidades de aplicação, por isto é um dos cimentos mais utilizados no Brasil. NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 27 Suas propriedades atendem desde estruturas em concreto armado até argamassas de assentamento e revestimento, concreto massa e concreto para pavimentos. Recomenda-se não utilizar na necessidade de desforma rápida, sem cura térmica, concreto protendido pré-tensionado e meios fortemente agressivos. 3.6.2 CP-II-Z-32 Cimento Portland composto com pozolana, pode conter de 6 a 14% desta adição, além de até 10% de fíler. Suas propriedades atendem desde as estruturas em concreto armado, argamassas de assentamento, revestimento, concreto massa e concreto para pavimento. A pozolana colabora para a redução do calor de hidratação e aumento da resistência a meios agressivos. Recomenda-se não utilizar na necessidade de desforma rápida sem cura térmica e concreto protendido pré-tensionado. 3.6.3 CP-IV-32 O cimento Portland CP - IV tem baixo calor de hidratação, o que o torna bastante recomendável na concretagem de grandes volumes e sob temperaturas elevadas. Além disto, apresenta alto teor de pozolana, entre 15 e 50%, proporciona estabilidade no uso com agregados reativos e em ambientes de ataque ácido, em especial de ataque por sulfatos. Em conseqüência do seu baixo ganho de resistência nas primeiras idades, não é recomendado para uso em argamassa armada, concreto de desforma rápida sem cura térmica e concreto protendido pré-tensionado. Em contra partida, é altamente eficiente em argamassas de assentamento e revestimento, em concreto magro, concreto armado, concreto para pavimentos e solo-cimento. 3.6.4 CP-V-ARI O cimento Portland de alta resistência inicial (ARI) tem alta reatividade em baixas idades, em função do grau de moagem a que é submetido. O clínquer é o mesmo utilizado para a fabricação de um cimento convencional, mas permanece no moinho por um tempo mais prolongado, tornando-o mais fino, com maior superfície específica. O cimento continua ganhando resistência até os 28 dias, atingindo valores mais elevados que os demais, proporcionando maior rendimento ao concreto. É largamente utilizado em produção industrial de artefatos, onde se exige desforma rápida, concreto protendido pré e pós-tensionado, pisos industriais e argamassa armada. Devido ao alto calor de hidratação, não é indicado para concreto massa. Contém adição de até 5% de fíler calcário. A ausência de pozolana não o torna indicado para concreto com agregados reativos. NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 28 3.6.5 CP-V-ARI-RS O cimento Portland de alta resistência inicial resistente a sulfatos tem alta reatividade em baixas idades em função do grau de moagem a que é submetido. O clínquer é o mesmo utilizado para a fabricação de um cimento convencional, mas permanece no moinho por um tempo mais prolongado, tornando-o mais fino, com maior superfície específica. O cimento continua ganhando resistência até os 28 dias, atingindo valores mais elevados que os demais, proporcionando maior rendimento ao concreto. É largamente utilizado em produção industrial de artefatos, concreto protendido pré e pós-tensionado, pisos industriais, argamassa armada e concreto dosado em central. Sua resistência a sulfatos é devida à adição de cinza pozolânica e é comprovada por ensaios laboratoriais, tornando-o indicado para a produção de estruturas em ambientes agressivos. Também pode ser utilizado com alguns agregados reativos. 3.7 ARMAZENAMENTO DO CIMENTO O cimento exige algum cuidado no seu armazenamento dentro do canteiro de obras, pois, o produto não pode sofrer hidratação. Os sacos de papel que servem para embalar o cimento, não garantem a impermeabilização necessária. Por essa razão, o cimento não deve ser armazenado por muito tempo, uma vez que, ocorrendo hidratação, seja pela umidade do local em que se encontra ou até mesmo, devido a um acidente com água, o cimento irá se petrificar com o tempo em razão das reações química resultante da hidratação. Os barracões de armazenamentos devem ser cobertos e fechados lateralmente (Figura 3.11) e o produto deve ser estocado em cima de um soalho acima do nível do solo. Para armazenamento por curto espaço de tempo, é permitido cobrir as pilhas de sacos com lona com no máximo 10 sacos por pilha, sendo ela colocada sobre estrados de madeira. Figura 3.11 – Armazenamento do cimento NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 29 3.8 DICAS PRÁTICAS DE UTILIZAÇÃO É necessário que o engenheiro executor da obra esteja atento quanto ao recebimento do cimento adquirido, prazo de validade, utilização e tempo de pega, além do seu armazenamento. 3.8.1 Recebimento do cimento No recebimento do cimento na obra, antes da descarga do caminhão, devem ser observados os seguintes itens: nota fiscal: local de entrega, empresa, quantidade, tipo de cimento, data; se a carga está devidamente protegida; condições dos sacos: se não estão rasgados e/ou molhados; condições do cimento: se não está empedrado ou apresenta sinais de que entrou em contato com a umidade. Caso ocorra alguma irregularidade, deve-se registrar no verso do conhecimento de frete, solicitar ao motorista que assine a mesma e comunicar a empresa fornecedora para que as providências sejam tomadas. 3.8.2 Prazo de validade Observar o prazo de validade do cimento. Segundo as normas brasileiras, o cimento armazenado a granel ou contêiner por mais de seis meses, ou armazenados em sacos por mais de três meses, deve ser reensaiado. 3.8.3 Utilização O cimento não poderá sofrer contaminação, mesmo que seja com os agregados e outro material que venha a ser utilizado para obtenção do concreto e da argamassa. Se o cimento ensacado entrar em contato com a umidade, este se hidratará e perderá resistência, o que comprometerá o seu uso. 3.8.4 Tempo de pega O tempo de início de pega é determinado de acordo com as normas ABNT NBR 5732:1991, NBR 5733:1991 E NBR 5736:1991 e deve ser no mínimo, de uma hora. Este dado permite avaliar o tempo em que se iniciam as reações que provocam o endurecimento do concreto, devido ao cimento empregado. Na fase de pega, o concreto não deve ser perturbado por operações de transporte, colocação nas formas e adensamento. O fim de pega é o momento em que se conclui a solidificação do concreto ou da pasta de cimento e se inicia o endurecimento passando a adquirir resistência da mistura. NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 30 Entre o início e o final da pega o concreto ou argamassa não deverá sofrer choque ou vibração para não impedir a cristalização da pasta, caso os compostos cristalinos de hidratação sejam interrompidos, ocorrerá perda de qualidade do concreto ou argamassa. NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 31 CAPÍTULO 4 – AGREGADOS 4.1 DEFINIÇÃO Segundo Albuquerque (2005) “Agregado é o material particulado, incoesivo, de atividade química praticamente nula,constituído de misturas de partículas cobrindo extensa gama de tamanhos”. Pela ABNT NBR 7211:2009, os agregados devem ser compostos por grãos de minerais duros, compactos, duráveis e limpos e não devem conter substâncias de natureza e em quantidade que possa afetar a hidratação e o endurecimento do cimento, a proteção da armadura contra a corrosão, a durabilidade ou, quando for requerido, o aspecto visual externo do concreto. 4.2 CLASSIFICAÇÃO A classificação dos agregados ocorre de acordo com a sua origem, dimensões e peso específico aparente. 4.2.1 Origem Quanto à origem, os agregados podem ser naturais ou Industrializados. Naturais: São os agregados encontrados em forma de partícula na natureza tais como a areia e o cascalho. Industrializado: São os que apresentam composição particulada por processos industriais, ou seja, passou por um processo de transformação, no caso podem ser: rocha, escória e argila. 4.2.2 Tipos de Agregados Para aplicação no concreto os agregados podem ser miúdos, que são as areias e, graúdo, os cascalhos e britas. 4.2.3 Peso específico São classificados em leves, médios e pesados. A sua classificação depende da densidade do material. A Tabela 3 apresenta a densidade média de alguns materiais em g/cm³. Tabela 3 – Classificação de alguns agregados segundo a sua densidade, valores em g/cm³ Leves Médios Pesados Vermiculita 0,3 Calcários 1,4 Barita 2,9 Argila expandida 0,8 Arenito 1,45 Hematita 3,2 Escória granulada 1,0 Cascalho 1,6 Magnetita 3,3 Granito 1,5 Areia 1,5 Basalto 1,5 Escória 1,7 NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 32 4.3 PRODUTOS Os produtos oriundos dos agregados podem ser industrializados e naturais. 4.3.1 Industrializados Pedra britada: Agregado graúdo obtido a partir de rochas compactas que ocorrem em depósitos geológicos. O produto final enquadra-se em diversas categorias (Figura 4.1), conforme, a fragmentação controlada da rocha maciça. A classificação do tipo da brita é de acordo com seu diâmetro e possui especificações na NBR 7211. É classificada de 0 (zero) a 5 em ordem crescente. Figura 4.1 – Categorias de britas As suas classificações devem obedecer as seguintes nomenclatura e diâmetros (Tabela 4). Tabela 4 – Categorias de britas normativas e comerciais conforme o seu tamanho nominal Pedra Britada Numerada NBR 7211:2009/7225:1993 Comercial Tamanho Nominal Malha da peneira (mm) Número Mínima Máxima Mínima Máxima Brita 0 4,8 9,5 Brita 1 4,8 12,5 9,5 19 Brita 2 12,5 25 19 38 Brita 3 25 50 38 50 Brita 4 50 76 50 76 Brita 5 76 100 Algumas aplicações NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 33 Brita 0: Essa brita é usada na produção de vigas, lajes pré- moldadas, vigotas, tubos, blocos de concretos para fundação, paralelepípedos de concreto moldados, produção de chapisco, manilhas, blocos intertravados para calçamento e acabamentos em geral. Brita 1: Muito utilizada em todos os processos da construção civil, pois é a mais aplicada na produção de concreto para pilares, vigas e lajes. Brita 2: É utilizada quando há a necessidade de produção de um concreto mais resistente, normalmente em construções de maior porte, com a necessidade de suportar um elevado peso. Brita 3: Essa brita não é utilizada em construções normais mas, em obras de base, como aterramento, nivelamento ferroviário, pavimentação, calçamento de ruas e na instalação de drenos. Pó de pedra: Trata-se de uma material mais fino que o pedrisco. Apresenta diâmetro médio máximo de 4,8 mm. O pó de pedra (Figura 4.2) é utilizada em argamassa de cimento e na massa do concreto. Figura 4.2 – Pó de pedra utilizado na massa do concreto NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 34 Fíler: Agregado de graduação entre 0,005/0,075 mm produzido a partir do calcário dolomítico. O fíler é utilizado nos seguintes serviços: -na preparação de concretos, para preencher vazios; -na adição a cimentos; -na preparação da argamassa betuminosa; -como espessante de asfaltos fluidos. Rachão: É um material retido na peneira de 75 mm. A NBR 9935 define rachão como “pedra de mão”, de dimensões entre 76 e 250 mm. Geralmente esse agregado é utilizado em muros de contenção (Figura 4.3) de barrancos e encostas, além de drenos grandes. Figura 4.3 – Pedra de mão utilizada em muro de contenção Restolho: Material granular, de grãos em geral friáveis (que se parte com facilidade). Pode conter uma parcela de solo. Esse agregado pode ser aplicado em aterros. Argila expandida: A argila é um material muito fino, constituído de grãos lamelares de dimensões inferiores a dois micrômetros, formada, em proporções muito variáveis (Figura 4.4), de silicato de alumínio e óxidos de silício, ferro, magnésio e outros elementos. Figura 4.4 – Tipos de argila expandida NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 35 O principal uso que se faz da argila expandida é como agregado leve para concreto, seja concreto de enchimento, seja concreto estrutural (Figura 4.5) ou pré-moldado – com resistência de até fck∼30 MPa. O concreto de argila expandida, além da baixa densidade de 1,0 a 1,8, apresenta muito baixa condutividade térmica – cerca de 1/15 da do concreto de britas de granito. Blocos e painéis pré-moldados usando argila expandida prestam-se bem a ser usados como isolantes térmicos ou acústicos, no que são auxiliados pela baixa densidade do material, que pode variar de 6 a 15 kN/m3, contra 26 do concreto de brita de granito ou de basalto. Figura 4.5 – Aplicação do concreto leve com argila expandida na laje a) Concreto leve com argila expandida b) Vista de corte do concreto leve com argila expandida Escória de alto-forno: é um resíduo resultante da produção de ferro gusa em alto- forno (Figura 4.6), constituído basicamente de compostos oxigenados de ferro, silício e alumínio. Figura 4.6 – Operação de um alto forno para produção de escória NOTAS DE AULA – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO CIVIL MCCI – Prof. Me. Benício Lacerda 36 A escória simplesmente resfriada ao ar (Figura 4.7a), ao sair do alto forno (escória bruta), uma vez britada, pode produzir um agregado graúdo. Normalmente, após receber um jato de vapor, a escória é resfriada com jatos de água fria, produzindo-se, então, a escória expandida, de que resulta um agregado da ordem de 12,5/32mm. Quando é imediatamente resfriada em água fria, resulta a escória granulada, que permite obter um agregado miúdo de graduação 0/4,8mm, aproximadamente. A escória granulada (Figura 4.7b) é usada na fabricação do cimento Portland de alto- forno. Usa-se a escória expandida como agregado graúdo e miúdo no preparo de concreto leve em peças isolantes térmicas e acústicas, e também em concreto estrutural, com resistência a 28 dias da ordem de 8-20 MPa e densidade da ordem de 1,4. Figura 4.7 – Produto final após o resfriamento da escória a) Escória de alto forno resfriada b) Escória de alto forno granulada 4.3.2 Agregados naturais Areia: É um sedimento formado por grãos de diâmetros entre 0,06 e 2,0 mm. É um material de construção e denominado de agregado miúdo. A areia pode originar-se de rios, de brita (obtida no processo de classificação nas pedreiras, ou seja, é o pó que sai
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