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Resumo Os Conceitos Fundamentais da Pesquisa Sócio-Espacial

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Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO PARÁ 
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E EDUCAÇÃO 
CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM GEOGRAFIA 
 
LEONARDO PANTOJA CORRÊA 
 
 
 
 
 
 
 
 
Resumo do texto: SOUZA, Marcelo Lopes de. Os conceitos fundamentais da pesquisa 
sócio-espacial. Rio de Janeiro: Bertrand, 2013. Cap. 1-6. 
 
 
 
 
 
BELÉM - PARÁ 
2018 
Leonardo Pantoja Corrêa 
 
 
 
 
 
 
Resumo do texto: SOUZA, Marcelo Lopes de. Os conceitos fundamentais da pesquisa 
sócio-espacial. Rio de Janeiro: Bertrand, 2013. Cap. 1-6. 
 
 
 
 
 
 
Trabalho apresentado à disciplina 
Geografia Humana da Universidade do 
Estado do Pará, como nota parcial da 
primeira avaliação da disciplina do curso 
de Licenciatura Plena em Geografia. 
 
 
 
 
 
BELÉM 
2018 
RESUMO 
 
No presente livro, Conceitos fundamentais da pesquisa sócio-espacial, de Marcelo Lopes de 
Souza - que é professor do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de 
Janeiro, fundou e coordena um grupo de pesquisas cujo foco principal são os vínculos entre 
relações sociais e espaço, particularmente, a espacialidade na mudança social, chamado Núcleo 
de Pesquisas Sobre Desenvolvimento Sócio-Espacial (NuPeD) -, são apresentados e discutidos 
alguns conceitos importantes para além da Geografia, a pesquisa sócio-espacial, que embora 
conceitos básicos, não são isentos de controvérsias. 
Na obra, o autor inicia falando um pouco sobre a definição de espaço geográfico, que em uma 
primeira aproximação, corresponde à superfície terrestre – o que seria muito insuficiente – e 
prosseguindo para se alcançar uma magnitude satisfatória ao conceito, muitos geógrafos, 
inspirados no filósofo neomarxista Henri Lefebvre, passaram a entender o espaço social como 
o conceito central de seu arsenal. Escolha essa que Souza irá fazer ressalvas. 
Assim como o espaço geográfico corresponde, em primeira aproximação, à superfície terrestre, 
o espaço social corresponde à superfície terrestre apropriada, transformada e produzida pela 
sociedade. Souza afirma que essa incompletude do espaço geográfico em primeira aproximação 
tem a ver com certas peculiaridades do espaço social. 
A recusa por parte dos geógrafos “humanos” na classificação da disciplina como eclética entre 
ciências humanas e da natureza é um fator apontado por Marcelo Lopes, pois emerge questões 
da existência de uma geografia pura e simplesmente social ou geografias. O autor se questiona 
se essa ciência é epistemologicamente bipolarizada, haja vista que tanto o polo do conhecimento 
da natureza quanto o polo da sociedade possuem especificidades metodológicas, teóricas e 
conceituais legítimas. 
Souza então endossa uma integração dessas geografias, pois, na medida em que os geógrafos 
“físicos” admitam que a própria natureza só adquire pleno sentido à luz das dinâmicas sociais, 
sendo menos laboratorial e desumanizada, enquanto na medida em que os geógrafos “humanos” 
reconheçam que os conceitos, raciocínios e resultados empíricos da pesquisa ambiental podem 
ser úteis, articulando os conhecimentos, poderá ingressar numa geografia na linhagem 
reclusiana, em um ciclo virtuoso. 
Fazendo essas ponderações, é possível valorizar tanto os conceitos de espaço social quanto 
espaço geográfico, compreendendo como duas camadas ou níveis de conceitos primordiais à 
pesquisa sócio-espacial, sendo o conceito de espaço geográfico, mais amplo e o de espaço social 
mais especifico e central. 
Seguindo ainda no primeiro capítulo, o autor fala um pouco sobre os conceitos de organização 
espacial e produção do espaço, entendidos como conceitos derivados do espaço social. De 
início, Souza comenta sobre a produção de geógrafos que de modo ingênuo acabam reduzindo 
o espaço à sua materialidade, e cita três exemplos de organização espacial para mostrar que não 
é bem assim. São eles, o território da bancada de uma mesa dividida por duas pessoas na qual 
uma irá conscientemente ou não tomar maior espaço e se organizar de modo a exercer maior 
poder sobre a mesa, outro referente ao território das prostitutas, e por fim das civilizações pré-
colombianas, nos exemplos, foram tomados como auxilio a ideia de território, o mesmo poderia 
ser feito com o lugar. 
Após exemplificações, o livro chega a ideia de organização espacial, cuja sempre está 
modificando de acordo com diferentes ordens sócio-espaciais, estruturas e relações, não se 
restringindo aos objetos criados ou transformados pela sociedade, mas também levar em 
consideração o papel de feições da “natureza primeira”. 
Quanto à produção do espaço, trata-se de uma expressão muito decorrente em função da obra 
de Lefebvre do livro “A produção do Espaço”, na qual discute a importância de se produzir o 
espaço para acumulação de capital, muitos outros geógrafos utilizam a expressão e por conta 
disso há diversas maneiras de se interpretá-la. Uma delas é a que o próprio Lefebvre faz, ao 
colocar a produção numa esfera estritamente econômica, mas também se pode ver a produção 
como simbolismo nas relações de poder, válido lembrar que uma produção nem sempre requer 
criação, pode ser muitas vezes, essencialmente, repetição, reprodução. No livro, a produção do 
espaço se refere tanto à (re)produção quanto à criação. 
No capítulo segundo, sobre a paisagem, Marcelo Lopes de Souza comentando que nenhum dos 
conceitos discutidos no presente livro é isento de controvérsias, e toma como exemplo o livro 
“Ecologia de Paisagens”, muito utilizado por geógrafos físicos, onde o conceito de paisagem é 
tão abrangente que se torna sinônimo de espaço geográfico, e isso é encarado como problema 
pois no âmbito da pesquisa sócio-espacial, o conceito de paisagem na geografia é entendido 
como o apreendido pela visão do observador. Então, é fundamental perceber o ponto de 
intersecção no meio desse debate das contribuições, que seria o conteúdo fortemente visual e 
representacional, cujo o autor julga necessário ir além dessa premissa e complementá-la. 
A ideia de paisagem remete inicialmente às artes, principalmente pinturas, evidenciando que a 
ciência não basta a si mesma, devendo fecundar-se por outras formas de saber, senso comum, 
artes e filosofia. Assumir que paisagem é uma forma, uma aparência tem sugerido contradições. 
Pesquisadores neomarxistas têm ressaltado o problema da contradição entre aparência e 
essência. E isso tem sido feito tanto por estudiosos identificados com a Nova Geografia 
Cultural, na qual resumindo a contribuição de vários autores, John Wylie registra que 
“paisagem atua no sentido de neutralizar, estabilizar e tornar aparente universais relações 
sociais e econômicas que são contingentes”. 
Nas últimas décadas, vários geógrafos principalmente ingleses, investiram na discussão do 
conceito de paisagem e os usos sociais e interesses ideológicos que se expressam por meio de 
sua representação pelos pintores. No Brasil, Luciana Martins mostrou como as representações 
da paisagem são caminhos para se acessar uma mentalidade e refletir sobre certos preconceitos 
e projetos. Uma das virtudes da ideia de paisagem é revelar o problema das relações e da 
integração entre natureza e sociedade. 
A paisagem, para pesquisa sócio-espacial, admite ser compreendida como um sistema de 
significado, apresentando “invisibilização” como estratégias de agentes e práticas que podem 
ser de dois grandes tipos, uma por meio da representação seletiva, e outra mediante uma 
formatação da paisagem. 
Souza atenta para o conceito de paisagem que merece ser mais bem valorizado, porque parece 
que suas limitações são mais evidenciadas que suas potencialidades. E chama atenção para uma 
outra potencialidade, os aspectos fortemente subjetivos, a percepção de que tudo que forma o 
mundo exterior num determinado momento da percepção humana. 
Prosseguindo no texto, o autor dedica o capitulo terceiro para falar um pouco sobre o substrato 
espacial material, que na realidadeé pouco usual, mas o próprio autor gosta de trabalhar essa e 
outras expressões para concorrer e complementar os trabalhos do espaço geográfico na sua 
materialidade, comentando um pouco sobre sítio ou ambiente construído. 
O ambiente construído seria a materialidade socialmente produzida a partir da transformação 
das matérias primas em ruas, pontes, edifícios. Seria como os trabalhos de Élisée Reclus, de 
apropriação da natureza e transformação da natureza primeira em natureza segunda, mas 
atualmente faz-se pertinente referir-se o ambiente construído ao espaço social material. O 
substrato espacial material compreende, em teoria, ambas as facetas da natureza primeira e da 
natureza segunda. Contudo, na pesquisa sócio-espacial interessa a materialidade da natureza 
segunda, fazendo alusão ao espaço social material. 
A transformação da matéria bruta em matéria prima não se restringe à produção de bens móveis, 
e essa transformação não é algo que possa ser entendido como mediado apenas pelo trabalho, 
jamais poderia deixar de ser um processo igualmente político e cultural. 
Um outro conceito associado ao substrato espacial material é o de posição, ou seja, a localidade 
dos espaços. Enquanto o sitio nos remete a uma concepção absoluta do espaço, a posição nos 
remete ao espaço relativo. Ambos conceitos perderam prestigio e quase foram esquecidos, mas 
o autor ressalta que vale a pena considerá-los. 
No que se refere ao espaço social material, é salientada a tensão no livro diante de um espaço 
herdado e um espaço projetado. Fazendo valer os temas das refuncionalizações e 
reestruturações espaciais, cuja primeira significa atribuir novas funções a formas espaciais e 
objetos geográficos preexistentes, enquanto o segundo significa uma alteração significativa, 
modificando a estrutura. Processos esses que têm ocorrido o tempo todo em diferentes escalas, 
não se limitando a intervenção do Estado ou capital privado, atentando também para os esforços 
de outros agentes como moradores de periferia e de ocupações sem-teto. 
O espaço material condicionará as relações sociais, as atividades e os processos posteriores, 
chegará a hora em que o “novo” passará a ser “velho”, o substrato condiciona as relações em si 
mesmo, por bloquear, facilitar, dificultar, mas também condiciona por ser portador de símbolos 
e mensagens, inscritos formal ou informalmente. E visto isso, Souza comenta um pouco sobre 
o urbanismo intelectual, no qual uma grande falha acontece ao reestruturar ou refuncionalizar 
o espaço de modo que atenda a maioria da população, pois se interpreta de modo errado ao 
atribuir ações exclusivas ao Estado, que não costuma promover a liberdade e igualdade efetiva 
de oportunidades. 
O quarto capítulo do livro aborda os conceitos de território, territorialização e 
desterritorialização. Iniciando pelo conceito de território, que vem sendo nas últimas décadas 
submetido a diversas tentativas de redefinição, e que ainda permanece utilizado de maneira 
ampla, chegando a ser para muita gente quase sinônimo de espaço geográfico. 
Muitos geógrafos e cientistas políticos acabam por generalizar o território, não sendo um mero 
descuido, mas sim um vício de natureza ideológica que e reproduzem. Souza toma seus 
trabalhos anteriores para mostrar que território “é fundamentalmente, um espaço definido e 
delimitado por e a partir de relações de poder”, algo que o autor comenta que deve ser entendido 
dessa forma apenas numa primeira aproximação. 
E para melhorar o entendimento do que seja território, Marcelo Lopes de Souza faz ponderações 
sobre o conceito de poder, utilizando como exemplos as teorias de Hannah Arendt que refletiu 
sobre a natureza do poder e Michel Foucault que focalizou, preferencialmente, exemplos de 
poder opressor. É importante as reflexões de Arendt sobre poder, pois a mesma irá dizer que 
“poder em estado puro”, pautado em uma ampla aceitação da legitimidade de uma demanda ou 
ação é algo perfeitamente compatível com a autonomia de coletividades e indivíduos. 
Após essas ponderações, o autor volta suas atenções à conjunção dos conceitos de espaço e 
poder, na qual há que se buscar o componente de consentimento no exercício do poder e por 
seguinte, controle sobre um espaço. Fazendo uma análise de quem domina, governa ou 
influencia quem nesse espaço e de que modo. 
Por outro lado, é reconhecido, na obra, que não é apenas o território que só pode ser concebido 
com a ajuda da ideia de poder, também o poder só se exerce com referência a um território e 
muito frequentemente por meio dele. Sempre há um grupo social em conexão com um espaço, 
e em muitos casos, seu uso intenso envolve instrumentalização e alteração do território. As 
razões pelas quais se deseja territorializar um espaço, de algum modo, estão conectadas ao 
substrato material e também aos próprios significados atribuídos às formas espaciais, tendo 
relação com recursos, valor estratégico, ou até afetividade e identidade de um grupo social. 
O perfil do conceito de território é a dimensão política das relações sociais de poder, sem 
negligenciar a materialidade do espaço. O que o autor chama atenção e para quanto a 
coisificação – algo que os autores clássicos rotineiramente faziam, num recorte político-
espacial específico definido pelo Estado - do território ao confundi-lo com o substrato material, 
explicando logo em seguida que o substrato serve como um suporte e referencial material para 
que as práticas espaciais mudem. 
Para os geógrafos de formação, o aparelho do Estado tem sido o locus de referência discursiva 
quando se trata de território, reduzindo a sua manifestação como condição do poder estatal e 
coisificando. e Souza detalha que para “descoisificar” não é necessário negligenciar a 
materialidade do espaço, quer apenas refinar o conceito e conferir-lhe mais rigor. 
Seguindo no mesmo capítulo, do ponto de vista conceitual, o autor sugere que, a questão central 
no que se refere ao território são os processos de territorialização e desterritorialização, os quais, 
em primeiro lugar, envolvem um processo do exercício de relações de poder e a projeção das 
mesmas no espaço. Temos como exemplo os processos de “gentrificação” e “revitalização” do 
espaço. E na obra são detalhados como essas disputas se dão bem como seus agentes. Essas 
práticas territorializantes originam territórios dissidentes, cujos Souza os denomina de 
“territorialidade cíclica” ou entendidos por Robert Sack como “territórios móveis”. Todas essas 
denominações sugerem flexibilidade ao território e que permitem ser classificados de acordo 
com a variável que se deseja ressaltar. 
E para fechar o capítulo, Marcelo Lopes de Souza discute um pouco sobre a reestruturação 
espacial, que nem sequer precisa ter relação com o substrato material, e ele cita como exemplo 
a reforma de Clístenes que “preparou o terreno para o florescimento da democracia ateniense”, 
condicionando uma profunda transformação nas relações sociais, malhas territoriais e teve 
como coadjuvante, a refuncionalização. 
Adiante, o livro dedica o capítulo quinto para discutir lugar e suas múltiplas facetas. Há diversas 
acepções, lugar pode ser qualquer área determinada ou não em um espaço. Ou seja, lugar é mais 
que território e tanto quanto espaço, pois é uma referência espacial concreta e superficial. Ulrich 
Oslender, dialogando com um trabalho de John Agnew, sintetiza três aspectos ou significados 
da discussão em torno da ideia de lugar na geografia, os quais seriam a localização, o local e o 
sentido do lugar. 
Em meio a existência de várias acepções de lugar, há um sentido que vem se afirmando cada 
vez mais específico, o lugar como um espaço percebido e vivido, dotado de significados. No 
caso desse conceito, lugar, o poder não é a dimensão em foco, mas sim a dimensão simbólica-
cultural, envolvendo questões de identidade, intersubjetividade. Essa situação de construção deimagens e sentidos dos lugares enquanto espaços vividos e percebidos que Tuan chamou de 
“topofilia”. 
O autor constrói uma ideia interessante no texto de que o lugar está para a dimensão simbólica 
assim como o território está para a dimensão do poder, e explica que isso não significa que o 
poder não se pode levar em conta na análise de lugar. E cita um exemplo no qual tanto região 
como bairro podem ser estudados privilegiando o exercício do poder, mas também valorizados 
enquanto lugares pelas políticas públicas. 
O conceito de lugar foi fortemente influenciado pela corrente chamada de Geografia 
Humanística, de inspiração fenomenológica que depois transcendeu os limites de uma única 
vertente de pensamento geográfico. 
Lugares merecem entendimento de imagens espaciais em si mesmas, dotado de significação, 
os lugares só existem pela e na topofilia. Sem os sentimentos e as imagens que se produzem e 
reproduzem na comunicação e discursos, não há lugar, e sim substrato material. É logico pensar 
que quase todos lugares pensados pelo homem quase sempre são lugares e se conectam a um 
sentido, o que não impede a existência de recortes ou divisões espaciais estabelecidas de acordo 
com critérios “objetivos”. Oslender referiu-se a um “senso global de lugar” que consiste em 
desconfiar a ideia de lugar por conta do temor do caráter conservador de legitimação de 
discursos ideológicos nostálgicos e reacionários, ao qual Doreen Massey também aborda. 
O livro então caminha para uma construção de que é preciso ir além das análises de Tuan, 
sofisticar mais o conceito de lugar, mas sem excluir as perspectivas de senso comum, pois na 
prática os lugares são mais ou menos fortes quase sempre territórios. Se associando com as 
identidades sócio-espaciais em que a finalidade é defender as identidades e um modo de vida. 
Seguindo, o autor introduz termos elaborados por analogia aos termos de territorialização e 
desterritorialização que são “lugarização”, “deslugarização”, “relugarização” e “lugaridade”. 
Lugarizar significa atribuir sentido; relugarizar passa pela atribuição de novos significados aos 
espaços, há também relugarizações que são nítidas deslugarizações, que desrespeitam a 
dignidade das pessoas e implicam em desqualificar a vida e as memórias de quem construiu e 
habita um lugar. O capitalismo contemporâneo cada vez mais impessoaliza e massifica, gerando 
reações psicológicas como a necessidade de familiarizar-se a certos espaços. 
Há fortes razões para se creditar escala ao lugar, sendo plausível considerar a existência de 
“níveis de lugaridade”, sendo, contudo, tais níveis não são de uma hierarquia pré-fabricada, 
pois para uma pessoa a região é um referencial identidário forte, mas o país é um referencial 
identidário fraco. Além disso, os níveis variam de acordo com a posição do vivenciador, o 
passar do tempo faz com que o lugar seja visto de modos diferentes. Então, Souza cita exemplos 
literários como “Menino do Engenho” de José Lins do Rego, “Vidas Secas” de Graciliano 
Ramos e “Os Sertões” de Euclides da Cunha, fazendo uma comparativa de narrativas e 
perspectivas das mesmas sobre o processo de familiarizar-se com o lugar. 
Dando continuidade, no sexto capítulo, Marcelo Lopes de Souza dedica suas atenções para falar 
sobre os conceitos de região, bairro e setor geográfico. O conceito de região é um dos mais 
tradicionais na geografia, submetido a inúmeras críticas nas décadas de 1970 e 1980, a começar 
por Yves Lacoste que levantou o propósito da região como “conceito-obstáculo”. 
Mas é preciso se fazer uma ressalva pois as críticas de Lacoste miravam uma determinada 
interpretação, a região lablacheana, representada e influenciada pelas obras de La Blache. A 
região lablacheana seria como uma identidade geográfica que corresponde a harmoniosa 
relação entre o homem e seu meio natural, com bases naturais dotadas de densidade histórica e 
cultural, por conta disso as regiões seriam “divisões naturais” com nomes empregados 
cotidianamente e reconhecíveis por qualquer camponês. 
Entre a concepção clássica da região de La Blache e a crítica de Lacoste, há muitos debates 
teóricos, entre eles, nos Estados Unidos, Richard Hartshorne que bebeu sobretudo em fontes 
alemãs, em especial Alfred Hertner, buscou fundamentar a geografia nas diferenciações entre 
áreas, seu escopo das preocupações metodológicas vai além de uma análise regional. Para 
Hartshorne, as diferenciações de área feitas são construções mentais que se justificam pela 
necessidade analítica do homem em face da realidade. 
O economista François Perroux propôs um tratamento parcial e bastante abstrato do espaço 
social, sob a forma de espaço econômico, defendeu a superação, pelos economistas, da ideia 
“banal” de espaço das concepções abstratas de espaço da matemática e da física. Para Perroux, 
o espaço econômico não se confundia com o que ele chamou de “espaço geoeconômico”, pois 
o espaço econômico não possui fronteiras. Para o economista, o espaço econômico pode ser 
tratado por três pontos de vista complementares, do espaço como área relativa à execução de 
um plano, como estrutura com características próprias, e como um campo de forças. 
Das reflexões de Perroux derivam as ideias referentes a três tipos de região, a “região 
homogênea”, a “região funcional”, a “região-programa”. Percebe-se então, a despreocupação 
da região com o quadro natural ou histórico, mas sim a realidade em si mesma, totalizante e 
dotada de identidade própria. 
A crítica de Lacoste consiste num repúdio a ideia de unidades onde se superporiam e formariam 
unidades objetivas e harmônicas, além denunciar o projeto ideológico por trás dos estudos de 
La Blache, e ainda argumentou contra o artificialismo que pressuporia uma harmonia e perfeitas 
convergências em diversos fatores do “gênero de vida”. O verdadeiro estudo científico não 
consistiria em descrever as regiões nem as analisar isoladamente, por isso o conceito de região 
por ele foi reputado. 
Na mesma época que Lacoste, o geógrafo francês, Armand Frémont, se aproximou do espirito 
humanista afirmando que a identidade regional deve ser algo a considerar, derivado de uma 
vivência. Para Frémont, a região se vincularia a sentimentos “topofílicos”. 
Enquanto Lacoste buscou desconstruir a ideia de região, Frémont buscou reconstruir, ou pelo 
menos renovar. Na década de 1980, os geógrafos de vários países, influenciados pela virada 
crítica, buscaram resolver o problema da região, entre eles a Ann Markusen, que para acabar 
com o fetichismo da região caiu na desvalorização do espaço e da própria ideia de região, 
fixando o adjetivo regional. Porém a discussão chegou num impasse, já não era mais tão fácil 
identificar umas pouco correntes e interpretações que se opunham e concorriam, sugerindo um 
caminho claramente delineado. 
Atualmente, região não é mais para os geógrafos um “carro-chefe” conceitual, mas continua 
importante e desafiador. Feito todo esse apanhado histórico de conceituações, as atenções no 
livro focam no que refere à escala da região, pois é muito comum encontrar referência de região 
na escala intraurbana. Interessante que nos textos acadêmicos, e discursos políticos, tratam a 
região como uma entidade maior que uma cidade e menor que um país, se referindo a um espaço 
intermediário entre o local e o nacional ou global. A noção de região está sujeita a uma grande 
variabilidade histórico-geográfico-cultural. 
Os processos de formação de identidades sócio-espaciais em escala regional não dependem de 
vivência direta ou cotidiana da região, a “experiência regional” pode se dar mediada por um 
compartilhamento que se sabe ou presume com base numa extrapolação plausível, nos contatos 
esporádicos com outros moradores. Mesmo presumindo fazer sentido reservar para o conceito 
de região uma escala intermediária, a fim de que a palavra seja empregada com sentidos 
diferentes e comprometera utilidade conceitual. Como observou Gilberto Freyre em um de seus 
textos, “região pode ser politicamente menos do que uma nação. Mas virtualmente e 
culturalmente é quase sempre mais que uma nação”. Por isso não se lida com uma “escala 
intermediária” entre o local e o nacional, mas com um agregado de dezenas de países. 
Passando agora à escala intraurbana, tratando de bairros e num nível mais amplo, os setores 
geográficos. De um ponto de vista teórico-quantitativo, o assunto é simples, pois regiões e 
bairros seriam subespaços distinguidos seguindo critérios convenientes. Tendo bairros 
funcionais, bairro-programa e bairro homogêneo. 
A ideia de bairro sugere à de região, a conveniência de uma integração inteligente de diferentes 
espaços, uma tarefa que exige análise e reconstrução. Começando pela distinção entre os 
conteúdos. O conteúdo composicional que se refere às características objetivas da composição 
de classe e morfologia espacial. O conteúdo interacional que analisa as relações estabelecidas 
entre os indivíduos e os grupos e determinando algum tipo de centralidade de forças. E o 
conteúdo simbólico, que diz respeito à imagem de um dado subespaço intraurbano como um 
espaço vivido e percebido. 
A cidade contemporânea foi se atomizando e se modificando, deixando de ser um mosaico de 
bairros e passando a ser um espaço com centralidade própria. O bairro tradicional, em meio a 
essa cidade massificada, pode manter-se como um conteúdo composicional distintivo e também 
com um conteúdo simbólico, mas o conteúdo interacional sofreu abalos. Assim como regiões, 
os bairros podem sofrer intervenções em suas imagens e limitações, criando e recriando 
identidades. Os próprios moradores atuam como agentes flexibilizadores ou de alteração. 
É possível falar numa objetividade quando se refere ao conteúdo composicional, na medida em 
que a percepção de classes e grupos possa ser objetiva. Contudo, existem aspectos muito 
diretamente subjetivos no plano estritamente individual, que o conteúdo simbólico partilha e 
mais indiretamente o interacional contempla. 
Como foi ressaltado pelo próprio autor em trabalhos passados, durante décadas a pesquisa 
esteve prejudicada por uma dicotomia em que um “bairro sem conflitos” passou a se opor a um 
“conflito sem bairros”. Dois parcialismos analíticos que precisam ser superados. É justamente 
nesse nível escalar em que os processos e fenômenos podem ser adequadamente captados, a 
exemplo disso tem-se a segregação residencial. 
Mais amplo que o bairro é o setor geográfico e menor que ele, a vizinhança, na qual Souza 
dedica a explicar um pouco sobre sua correspondência. E chegando ao setor geográfico, 
Marcelo Lopes de Souza afirma que ele pode ser entendido como um conjunto de bairros com 
características próprias e “personalidade” definida. Seu tratamento clássico pode ser encontrado 
em Chombart de Lauwe, no qual o setor geográfico apresentava dimensões reduzidas, com cada 
setor correspondendo a uma demografia não maior que dez mil habitantes, fica evidente que 
este está propondo parâmetros analíticos e conceituais a partir de uma realidade europeia. 
Atualmente, o setor geográfico terá a ver com uma magnitude em que os deslocamentos a pé 
ou bicicleta exijam muito esforço e preparo, caracterizado por recortes intraurbanos e integrar 
parte de um conjunto grande, ainda que menor que a cidade. Souza cita exemplos brasileiros, 
como a Zona Oeste do Rio de Janeiro e as outras zonas Oeste, Norte, Leste e Sul de São Paulo. 
Em síntese, o autor nos mostra que setor geográfico é um lugar partilhando com o bairro pelo 
menos um conteúdo composicional e simbólico expressivo, e interacional limitado.

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