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Literatura Cearense 3 Resumido

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POEMAS PARA LIBERDADE: ROMANTISMO PARTE Ⅱ
1. POESIAS EM CLARO-ESCURO 
Percorreremos as poesias do Romantismo cearense desde os sombrios poemas satânicos e byronianos até o alumiar dos versos abolicionistas de nossa geração condoreira.
2. O BYRON DA CANALHA 
George Gordon Byron, mais conhecido como lord Byron, foi um poeta britânico e uma das figuras mais influentes do Romantismo mundial. Entre os seus trabalhos mais conhecidos estão os extensos poemas narrativos “Don Juan” e “A peregrinação de Childe Harold”. A poesia de lord Byron repercutiu também no Brasil, e influenciou alguns dos nossos principais poetas românticos, como Castro Alves, Álvares de Azevedo, Bernardo Guimarães, Sousândrade, entre outros que escreviam versos marcados pelo pessimismo, pela melancolia e pela fuga da realidade. 
Os estudiosos e críticos da literatura cearense nos dão notícia, cá pelos setentriões cearenses, de poetas influenciados por Byron. O historiador barão de Studart (Guilherme Studart) registra que Joaquim de Sousa, o poeta pioneiro do Romantismo no Ceará, entregou-se à vida de tipógrafo nas tipografias O Cearense e Pedro II. Ali, como nos atesta o barão, “explodia, atraindo as gerais atenções, seu talento de poeta. Chamavam-no de o Byron da Canalha”. (STUDART, p. 20), epíteto, bem ao estilo do espírito moleque cearense, confirmado posteriormente por Dolor Barreira.
Também Barreira comenta que pela década de 1870 “expandiu-se entre nós o estro de um poeta de envergadura” e que “a sua poesia ressentiu-se da influência da escola byroniana, cujo espírito envenenou a Álvares de Azevedo e a muitos dos outros talentos poéticos da chamada Terceira Fase do Romantismo no Brasil.” (1986, p. 104). Estava o crítico a comentar sobre o poeta Joaquim Francisco de Sousa, que ficaria conhecido na eternidade das páginas literárias simplesmente como Joaquim de Sousa. 
Joaquim nasceu em Fortaleza, provavelmente no ano de 1855, e estudou no Colégio Ateneu Cearense. Talento privilegiado, mas lutando contra a adversidade, entregou-se à vida de tipógrafo. Ali, começou a divulgar seus primeiros versos e a revelar seu talento para a poesia. Mas foi nos jornais Zéfiro e A Revolução que atraiu abundante e brilhantemente a admiração pública com seus poemas. Infelizmente, os escritos publicados nos dois jornais estiveram colecionados em mão de José Lino de Paula Barros, que lhes deu destino ignorado. De acordo com Sânzio de Azevedo, o poeta faleceu no Rio de Janeiro, em 6 de setembro de 1876, onde já vivia em estado de penúria. O barão de Studart informa que Joaquim, cansado da vida boêmia que levava em Fortaleza, e sedento de um meio mais movimentado, pensou um dia em ir à capital do Império. 
É consenso entre os estudiosos a qualidade estética dos poemas de Joaquim de Sousa, ainda que alguns aleguem certos defeitos de composição. Para Mário Linhares, “precocemente o gênio poético lhe madrugou. Não seguia escolas; seus versos não eram lapidados com arte; cantava espontaneamente.”
Barão de Studart conta que “encontrado o cadáver do poeta suicida, acharam-se-lhe no bolso uma moeda de vintém, um retrato e essa bela gema poética que se intitula ‘À minha irmã’ e que foi seu canto de cisne.” Entretanto, Azevedo nos revela que em O Baturité, do dia 12 de outubro de 1876, é transcrita uma carta de Rodolpiano Padilha a Henrique D’Ávila, na qual informa o jornalista que se acharam no bolso de Joaquim de Sousa ‘um relógio, um vintém, uma carteira de notas, diversos papéis e um retrato’. Não há alusão explicita ao poema” (AZEVEDO, 1982, p.127-128). Mistérios à parte, “À minha irmã”, a seguir, é considerado por Azevedo um dos melhores poemas do autor e de todo o Romantismo cearense e ainda complementa: “é composto em versos brancos, como se o poeta, como Varela ao escrever o ‘Cântico do Calvário’, houvesse abandonado a rima para poder derramar de um jato a tristeza toda que o atormentava, e que constituiu a matéria-prima de toda a sua poesia”. 
De acordo ainda com o barão de Studart, os trabalhos literários de Joaquim de Sousa dariam um grosso volume, mas tal tesouro ele próprio o conduziu para o Rio de Janeiro. Porém, não se soube o paradeiro das cobiçadas peças poéticas. “Ouvi contar depois – diria o barão – que por iniciativa de Paula Lima, as poesias de Joaquim de Sousa haviam sido colecionadas e iam sair a lume, mas a notícia nunca se realizou... ou nunca se realizará, por infelicidade das letras cearenses e do renome do autor. ”
3. BARBOSA DE FREITAS: ARTÉRIA POÉTICA DE FORTALEZA
Juarez Leitão nos conta que, mesmo depois da morte de Barbosa de Freitas, alguns dos seus versos ainda se faziam presentes na memória da cidade, na mente coletiva, e vinham ao socorro dos populares em ocasiões as mais cotidianas. Se faltava luz de repente, algum espírito mais gracioso exclamava: “Sombras da noite eterna, horríveis sombras”. Quando a mãe ou a namorada flagravam o aventureiro a flertar com a porta da rua e lhe passavam o ralho indagando se ia sair, este podia responder: “Sim, eu quero viver! Amo os prazeres!” Juarez relata ainda o evento jocoso que se deu no sepultamento do senador Paulo Sarasate (1968): já na altura da hora do cansaço, um poeta inspirou-se e exclamou com as forças do pulmão: “É cedo ainda, oh, pálidos coveiros!”. Um dos coveiros, sem entender o teor da elocução, respondeu exaltado: “Pálido é a mãe! Vocês ricos, além da maçada que dão, ainda vêm insultar a gente?” (LEITÃO, 2000, p. 64-65). Fato ou não, o certo é que as palavras dos poetas, felizmente, têm mesmo o dom de ganhar os céus. O poeta Antônio Barbosa de Freitas, ou simplesmente Barbosa de Freitas, morreu cedo, no auge de seus vinte e três anos. Talvez não tenha tido tempo suficiente de desenvolver o seu estro, de aprimorar seus recursos métricos, mas o legado que deixou foi o suficiente para assegurar-lhe uma posição de destaque na galeria da literatura cearense e afixar seu nome numa das principais artérias da cidade de Fortaleza. 
No entanto, mais comum nos versos desse poeta triste e amargurado, era a ressonância do peso existencial, do amor impossível, a sombra da morte sempre a rondar, a atmosfera lúgubre do byronismo.
Para Studart, a maior parte das produções poéticas de Barbosa de Freitas, inclusive a belíssima “Lenda do sol”, foram colecionadas no ano de 1892, em um volume intitulado Poesias, de 191 páginas. Salienta ainda, nosso historiador, que a impressão desse volume foi feita com a finalidade de erigir-se um pequeno mausoléu à memória do autor, no cemitério São João Batista, onde jaz sepultado. Barão de Studart registra ainda que o poeta também se revelou como dramaturgo, pois deixou inédito o drama em três atos intitulado Joaquim de Sousa, escrito em Maranguape e cujo manuscrito datava de 25 de outubro de 1877. Tinha Barbosa de Freitas 17 anos quando o compôs.
Há controvérsias entre os autores quanto à naturalidade e data de nascimento de Barbosa de Freitas. É quase consenso que tenha nascido na cidade de Jardim, Ceará. Alguns dizem ter sido no sítio Lameirão, mas também há quem aponte o sítio Cotovelo. Em algumas citações aparece a data 22 de janeiro de 1860, mas a mais confiável, com base no livro de batismo, parece ser 21 de março desse mesmo. Era filho natural de Maria Barbosa com o rábula Antônio Nogueira de Carvalho – que morreu apunhalado. Indesejado, logo cedo foi rejeitado, sendo criado pelos avós. Teve dois protetores: primeiramente, o juiz municipal de Jardim, dr. Antônio Augusto de Araújo Lima, tutor e mestre-escola, que teria percebido a vocação poética do jovem e o recomendou ao juiz de direito de Jardim e Milagres, dr. Américo Militão de Freitas Guimarães. Este praticamente o adotou e emprestou-lhe o nome de sua família1. Posteriormente, conduziu-o a Fortaleza, onde o poeta experimentou o prazer provisório da boêmia e a glória efêmera das letras, pois morreria muito jovem, de tuberculose, na Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza, no dia 24 de janeiro de 1883. 
Barbosa era um exímio improvisador. Muitos dos seus versos foram feitos em bordéisou mesas de bar, às vezes escritos em papel de embrulho, outras vezes registrados por colegas. Conforme nos revela o pesquisador e musicólogo Edigar de Alencar, no seu livro A modinha cearense, “o Barão de Studart informa ter certa vez presenciado o poeta escrever trechos do poema ‘Don Juan Cacique’, no armazém de João Cordeiro, que o apadrinhava, tendo como mesa uma barrica de bacalhau.”
4. CONDOREIRISMO: OS POETAS DA ABOLIÇÃO 
O nome da corrente, Condoreirismo ou Condorismo, expressão que se associa à imagem do condor, tomada como símbolo da liberdade e da altivez da América, representa a poesia de poetas conscientes do contexto histórico que vivenciavam e preocupados com a problemática social. Identificando-se com o condor, ave de voo alto e solitário, com capacidade de enxergar a grande distância, os poetas ditos “condoreiros” sentiam-se também dotados dessa capacidade. Percebiam-se vocacionados pelo poder superior, como poetas-gênios, para orientar os homens nas sendas da justiça e da liberdade.
As décadas de 1860 e 1870 representam para a poesia brasileira um período de transição. Ao mesmo tempo em que muitas das características da primeira geração (nacionalismo, indianismo e religiosidade) e da segunda geração (pessimismo, satanismo, atração pela morte) são mantidos, novidades de forma e de conteúdo dão origem à terceira geração da poesia romântica, mais voltada para os problemas sociais e com uma nova forma de tratar o tema amoroso.
 (…) os condoreiros desenvolveram uma poesia social, comprometida com a campanha abolicionista e republicana. Em geral, são poemas de tom grandiloquente, próximos da oratória, cuja finalidade é convencer o leitor-ouvinte e conquistá-lo para a causa defendida.
Chamado de “o poeta dos escravos”, Castro Alves (1847-1871) é considerado a principal expressão condoreira da poesia brasileira. Além da poesia social, Castro Alves cultivou ainda a poesia lírica (embora o tom épico, por exemplo, em “Navio Negreiro”) e o teatro. No Ceará, nós também tivemos poetas que se destacaram não só com poemas representando essa geração romântica, como também atuando diretamente na luta pelo movimento abolicionista. Importante destacar que a abolição da escravatura do estado se deu em 25 de março de 1884, 4 anos antes da assinatura da Lei Áurea.
O escritor Antônio Sales, no seu livro Retratos e lembranças (1938), afirma que Juvenal Galeno, além de poeta popular, “foi também talvez o primeiro poeta abolicionista do Brasil”. Como nos esclarece Azevedo, o poeta das Espumas flutuantes (1870) – primeiro livro publicado por Castro Alves – começou a escrever versos sobre os escravos em 1863, e é pouco provável que o Galeno conhecesse algum deles em 1864, quando, supostamente, escreveu “A escrava”, que figura nas Lendas e canções populares, de 1865. 
Outros poetas, posteriormente, também se preocuparam com o tema em voga, mesmo sendo eles pertencentes à geração “mal do século”. O byroniano Barbosa de Freitas escreveu, por exemplo, em 1881, uma “Homenagem à Sociedade Cearense Libertadora”.
(…) nos afirma Azevedo que foi por volta de 1883 que despontaram entre nós três poetas predominantemente abolicionistas: Antônio Bezerra, Antônio Martins e Justiniano de Serpa. Juntos, publicaram a coletânea de poemas intitulada Três liras, dividida em três partes, respectivamente intituladas “Lampejos”, “Harpejos” e “Cintilações”. Essa obra fincou a presença do Condoreirismo na literatura feita no Ceará, e os três passaram a ser conhecidos como “poetas da abolição”.
Dolor Barreira observa que “a década de 1880 foi, inquestionavelmente, fértil em publicações literárias isoladas, sinal incontrastável do crescente interesse que as letras despertavam, no Ceará”. Ressalta, ainda, que foi no decorrer dessa década, “de 1881 a 1884, que se processou, no estado, a empolgante campanha cívica e social da Abolição, que agitou vulcanicamente a nossa sociedade, das suas mais baixas às suas mais altas camadas, e que teve, como não podia deixar de ter, os seus bardos e realmente ‘os teve em quantidade infinita: toda gente fez versos naquele tempo’ – diz-nos Antônio Sales.”
Entretanto, é ele, Antônio Sales, o autor do romance Aves de arribação, quem primeiro nos afiança, com autoridade, que “os três poetas oficiais do glorioso movimento foram Antônio Bezerra, Justiniano de Serpa e Antônio Martins”, como já foi dito antes.
5. REAÇÃO ANTIRROMÂNTICA: A ACADEMIA FRANCESA 
A década de 1870, no Ceará, foi impulsionada por um movimento intelectual extraordinariamente pulsante. Para alguns estudiosos, esse movimento foi acima de tudo filosófico, movido sobretudo pelo pensamento e obra de Auguste Comte. Tristão de Ataíde, citado por Dolor Barreira, afirma que o movimento intelectual que agitou o Ceará nos primeiros anos daquela década não foi apenas filosófico, mas acentuadamente literário.
O ambiente cultural criado no período viu nascer uma associação literária e científica que a tradição registra como a primeira agremiação literária do Ceará, e que ficou conhecida como Academia Francesa, fundada em 1873 e extinta em 1875. Seus criadores eram homens que já se destacavam na cena intelectual: Tomás Pompeu, Rocha Lima, Capistrano de Abreu, João Lopes, Xilderico de Faria (também poeta). Mais tarde se uniriam ao grupo Araripe Júnior (ficcionista), França Leite, Antônio José de Melo, Antônio Felino Barroso (pai de Gustavo Barroso) e Amaro Cavalcante. 
Sânzio de Azevedo assegura que a Academia Francesa representou a primeira reação contrária ao Romantismo no Ceará, embora não tenha nem de leve modificado a poesia ou a prosa que se produzia nestas plagas. No entanto, tem o mérito de renovar e atualizar o campo do conhecimento, sendo a difusora das ideias filosóficas francesas pela primeira vez em nosso estado e uma das precursoras no país. Por essa época, estavam em voga as doutrinas cientificistas, o evolucionismo de Spencer e Darwin, o positivismo de Auguste Comte, a Crítica de Taine, que apresentou a famosa tríade “raça, meio, momento” como condicionante do comportamento humano e, por extensão, da composição artística da personagem de ficção.
De encontro ao pensamento mais subjetivo e intuitivo do Romantismo, alguns jovens intelectuais se reúnem para discutir novas ideologias e novos modos de expressão. A questão da maçonaria versus o clero já abalava o país, em favor do livre pensamento. A Academia Francesa estava ligada às ideias da maçonaria – assim como à Escola Popular, que ministrava aulas gratuitas a operários –, tanto é que Tomás Pompeu, Xilderico de Faria, João Câmara, que consideravam a maçonaria o “refúgio do espírito novo”, fundaram, ainda em 1873, o jornal Fraternidade – data que, para Azevedo, marca a fundação da Academia Francesa –, que não era um veículo próprio da agremiação, mas que lhes servia como canal. Talvez por isso, como nos conta Azevedo, a Academia Francesa manteve violenta polêmica com o jornal Tribuna Católica, através das páginas do Fraternidade.

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