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Etica_ILUSÕES PERDIDAS_Wisnick

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ILUSÕES PERDIDAS 
 
O texto orientou palestra de maio de 91 sobre o tema “ética”. 
O autor escolheu o romance “Ilusões Perdidas” de H. de Balzac, escrito na primeira metade 
do século XIX para tratar da ética na comunicação. 
No romance, a oposição central é entre literatura e jornalismo. 
O romance pode ser interpretado como um “melodrama romântico”. 
A industrialização e a comercialização da literatura dificultam o acesso do personagem 
central do livro - um idealista - ao mundo da literatura. Hoje o jovem não tem 
idealismo: só vê o mercado, onde pode realizar-se profissionalmente. 
O século XIX é fase de “Acumulação primitiva da Indústria Cultural”. 
A imprensa, para Balzac, concentra o mal do mundo: tudo é mercantilizado, deixa de existir 
valor universal, não há ética. Tudo tem seu preço. 
No romance, Balzac analisa o “destino problemático da cultura diante da indústria da 
cultura”. 
O poder do jornalismo ocorre em função de dois aspectos: 1. intimidação pela “derrisão”. 2. 
tomar como verdade tudo o que é provável. Assim, o jornal faz e desfaz contextos. É 
um gênero ficcional não confessado. 
Em “Ilusões Perdidas”, o jornalismo é tema da literatura, invertendo a lógica que até então 
apresentava sempre a literatura como tema do jornalismo. 
Balzac considera o jornalismo como prática que está longe do real. É um “jogo de 
representações”. Para ele, a imprensa, mundo da mentira, avança sobre a verdade 
da literatura. A publicidade é mais um item da mentira. 
Os significados possíveis para “ilusões perdidas”: 1. desilusões individuais. 2. destruição 
pelo capitalismo, do humanismo revolucionário das primeiras concepções burguesas 
da sociedade e da cultura. 3. desilusão com o socialismo. 
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“O jornal produz a ilusão que ele mesmo vai se encarregar de destruir e repor”. O jornalismo, 
para Balzac, “denuncia a ilusão que recusa no seu nascimento, e se vê condenado 
a produzi-la e reproduzi-la ao infinito”. 
O personagem central do romance, Lucien de Rubempre, conhece dois caminhos em Paris: 
as ilusões do cenáculo e a realidade do jornalismo. 
O jornalismo oferece poder e sucesso imediatos. 
Para o artista, a ilusão da arte permite entrar na desilusão do mundo burguês. Para o 
jornalista, a desilusão leva à reprodução das ilusões do mundo burguês. 
O texto jornalístico tende a ser ficcional em função dos procedimentos de recorte e 
montagem 
O jornalismo reconduz ao mito. 
Para o jornalismo, a “pessoa pública” é ficção, mero suporte imaginário. Questão ética é 
limite para a ficção. 
A Folha de S. Paulo é, no contexto brasileiro, um caso exemplar de “jornalismo como 
negócio”: orienta-se pela concorrência, inovação técnica, legitimação universal pelo 
mercado, avaliação da cultura como território das ilusões perdidas. 
A Folha de S. Paulo e o ex-presidente Collor viveram uma história de oposição e 
identificação. 
Ética não envolve apenas a imprensa e o leitor, mas uma relação entre Estado, imprensa e 
sociedade. 
 
WISNIK, José Miguel. “Ilusões perdidas”. Em: NOVAES, Adauto. Ética. São Paulo: Cia. das 
Letras, 1993.

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