Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/331299569 Introdução ao estudo dos Microfungos Guia simples para a iniciação à identificação Book · February 2019 CITATIONS 0 READS 1,085 2 authors: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: The sustainable use of seaweeds and their extracts View project Adding value to marine invasive seaweeds of the Iberian northwest View project João Trovão University of Coimbra 32 PUBLICATIONS 119 CITATIONS SEE PROFILE Leonel Pereira University of Coimbra 159 PUBLICATIONS 1,926 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Leonel Pereira on 23 February 2019. The user has requested enhancement of the downloaded file. https://www.researchgate.net/publication/331299569_Introducao_ao_estudo_dos_Microfungos_Guia_simples_para_a_iniciacao_a_identificacao?enrichId=rgreq-81fb0d1dafaa4fef98466239b359e91c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMTI5OTU2OTtBUzo3Mjk0MzcwNDU4MDkxNTZAMTU1MDkyMjc1MjU4NQ%3D%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/publication/331299569_Introducao_ao_estudo_dos_Microfungos_Guia_simples_para_a_iniciacao_a_identificacao?enrichId=rgreq-81fb0d1dafaa4fef98466239b359e91c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMTI5OTU2OTtBUzo3Mjk0MzcwNDU4MDkxNTZAMTU1MDkyMjc1MjU4NQ%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/The-sustainable-use-of-seaweeds-and-their-extracts?enrichId=rgreq-81fb0d1dafaa4fef98466239b359e91c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMTI5OTU2OTtBUzo3Mjk0MzcwNDU4MDkxNTZAMTU1MDkyMjc1MjU4NQ%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Adding-value-to-marine-invasive-seaweeds-of-the-Iberian-northwest?enrichId=rgreq-81fb0d1dafaa4fef98466239b359e91c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMTI5OTU2OTtBUzo3Mjk0MzcwNDU4MDkxNTZAMTU1MDkyMjc1MjU4NQ%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-81fb0d1dafaa4fef98466239b359e91c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMTI5OTU2OTtBUzo3Mjk0MzcwNDU4MDkxNTZAMTU1MDkyMjc1MjU4NQ%3D%3D&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Joao_Trovao?enrichId=rgreq-81fb0d1dafaa4fef98466239b359e91c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMTI5OTU2OTtBUzo3Mjk0MzcwNDU4MDkxNTZAMTU1MDkyMjc1MjU4NQ%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Joao_Trovao?enrichId=rgreq-81fb0d1dafaa4fef98466239b359e91c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMTI5OTU2OTtBUzo3Mjk0MzcwNDU4MDkxNTZAMTU1MDkyMjc1MjU4NQ%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/University_of_Coimbra?enrichId=rgreq-81fb0d1dafaa4fef98466239b359e91c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMTI5OTU2OTtBUzo3Mjk0MzcwNDU4MDkxNTZAMTU1MDkyMjc1MjU4NQ%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Joao_Trovao?enrichId=rgreq-81fb0d1dafaa4fef98466239b359e91c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMTI5OTU2OTtBUzo3Mjk0MzcwNDU4MDkxNTZAMTU1MDkyMjc1MjU4NQ%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Leonel_Pereira?enrichId=rgreq-81fb0d1dafaa4fef98466239b359e91c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMTI5OTU2OTtBUzo3Mjk0MzcwNDU4MDkxNTZAMTU1MDkyMjc1MjU4NQ%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Leonel_Pereira?enrichId=rgreq-81fb0d1dafaa4fef98466239b359e91c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMTI5OTU2OTtBUzo3Mjk0MzcwNDU4MDkxNTZAMTU1MDkyMjc1MjU4NQ%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/University_of_Coimbra?enrichId=rgreq-81fb0d1dafaa4fef98466239b359e91c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMTI5OTU2OTtBUzo3Mjk0MzcwNDU4MDkxNTZAMTU1MDkyMjc1MjU4NQ%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Leonel_Pereira?enrichId=rgreq-81fb0d1dafaa4fef98466239b359e91c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMTI5OTU2OTtBUzo3Mjk0MzcwNDU4MDkxNTZAMTU1MDkyMjc1MjU4NQ%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Leonel_Pereira?enrichId=rgreq-81fb0d1dafaa4fef98466239b359e91c-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzMzMTI5OTU2OTtBUzo3Mjk0MzcwNDU4MDkxNTZAMTU1MDkyMjc1MjU4NQ%3D%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 1 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DOS MICROFUNGOS: Guia simples para a iniciação à identificação. João Trovão e Leonel Pereira Guia elaborado para utilização nas aulas práticas de Algas e Fungos da licenciatura em Biologia da Universidade de Coimbra. João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 2 Índice O que são microfungos?.................................................................................3 Qual a importância dos microfungos?.........…………………..….................5 Metodologias no estudo de microfungos……………………………………7 Meios de cultura e obtenção de culturas……………………………..7 Propagação e preservação de culturas……………………………....11 Observação de culturas na lupa e preparação de amostras para microscopia……………………………………………………………….14 Organização estrutural de microfungos.…………………………………..22 Textura, morfologia e topologia de culturas….……………………..22 Micromorfologia básica de microfungos…………………………...26 Estratégias de reprodução em microfungos………………………...27 Conceitos básicos de identificação molecular de microfungos……………31 Conceitos de espécie e classificações………………………..……………34 O conceito de espécie em Micologia……..………………………...34 Classificação de microfungos……...……..………………………...37 Chaves simples de identificação……………………………..……………40 Glossário……………………………………………………..……………84 Bibliografia…………………………………………………..……………86 Agradecimentos.……………………………………………..…………..102 João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 3 O que são Microfungos? São fungos microscópicos, o grupo de seres vivos que, durante muito tempo, foram considerados como vegetais e, somente a partir de 1969, passaram a ser classificados num reino à parte, o reino Fungi (Witthaker, 1969). Os fungos apresentam um conjunto de características próprias que permitem a sua diferenciação das plantas: não possuem clorofila, não tem celulose nas suas paredes celulares (excepto nalguns fungos aquáticos) e não armazenam amido como substância de reserva. A presença de substâncias quitinosas na parede da maior parte das espécies fúngicas e a sua capacidade de depositar glicogénio assemelham-os às células animais. São seres vivos eucarióticos, com um só núcleo, como as leveduras, ou multinucleados, como os bolores. O seu citoplasma contém mitocôndrias e retículo endoplasmático rugoso, são heterotróficos e alimentam-se de matéria orgânica morta - fungos saprófitos, ou de matéria orgânica viva - fungos parasitas. Os componentes principais da parede celular são as hexoses e as hexoaminas, que formam mananas, ducanas e galactanas. Alguns fungos têm paredes celulares ricas em quitina (N-acetil glicosamina), outros possuem complexos polissacarídeos e proteínas, com predominância de cisteína. Os microfungos apresentam uma variabilidade enzimática muito grande e, por isso, conseguem habitar nos mais variados substratos. São aeróbios na sua grande maioria, mas conhecem-se alguns fungos João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 4 anaeróbicos estritos e facultativos. Podem ser uni oumulticelulares e reproduzem-se sexuada ou assexuadamente, podendo apresentar ciclos parassexuados. De entre os géneros mais frequentes podemos destacar, Aspergillus, Fusarium, Penicillium, Alternaria e Cladosporium. Nalgumas ocasiões esses microrganismos podem ser a causa de infecções em plantas, em humanos e animais, na maioria das vezes como oportunistas. Como os esporos dos fungos se encontram no ar, é inevitável que se depositem na superfície de tudo o que lhe está exposto. Os fungos crescem onde existe matéria orgânica disponível, viva ou morta, geralmente apreciando calor e humidade. Água, solo, troncos, folhas, frutos, sementes, excrementos, insectos, alimentos frescos e processados, têxteis e outros produtos fabricados pelo homem, constituem excelentes substratos para o seu desenvolvimento. As leveduras constituem um grupo de microrganismos unicelulares, que se reproduzem assexuadamente por gemulação ou por cissiparidade e promovem a fermentação alcoólica. São largamente encontradas na natureza: são comuns no solo, nas superfícies de órgãos dos vegetais, principalmente em flores e frutos, no trato intestinal de animais, em líquidos açucarados, e numa grande série de outros locais. As colónias aveludadas ou pulverulentas, vulgarmente conhecidas por “bolores”, são formadas por fungos de organização multicelular (fungos filamentosos). Os fungos filamentosos apresentam crescimento apical, reprodução por esporos e estruturas sexuais distintivas das suas células vegetativas. Podem ser parasitas, simbiontes, sendo na sua grande maioria, saprófitos. João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 5 Qual é a importância dos microfungos? A maior parte dos fungos, assim como as bactérias, desempenham um papel de grande importância nos ecossistemas. Estes organismos, na procura de alimento, decompõem a folhagem e as plantas mortas que revestem o solo das florestas, e decompõem os restos de outros organismos. Nesse processo produzem dióxido de carbono, libertando-o para a atmosfera, e diversas substâncias minerias, que dissolvidas no solo pela chuva e humidade, constituem o alimento para outros fungos e plantas. Os fungos degradam, assim, material que de outra forma iria acumular-se em quantidades incalculáveis na natureza. São portanto laboriosos responsáveis pela reciclagem de nutrientes, desempenhando um papel essencial na decomposição da matéria orgânica e no ciclo de nutrientes nos ecossistemas e assegurando assim muitos mecanismos essenciais a vida. Os fungos micorrízicos, associados ao sistema radicular de algumas plantas, contribuem para uma mais eficaz absorção de água. Alguns destes fungos são no entanto venenosos (por exemplo Amanita phalloides) mas não devem contudo ser destruídos, devido a sua enorme utilidade nas zonas arborizadas. Em contraste, muitos têm um valor elevado e são extensamente apreciados pelos seus odores e sabores, como é o caso das diferentes espécies de trufas. Desde a década de 1940, os fungos foram aplicados com vista à produção de antibióticos e em muitas outras indústrias. Adicionalmente, são muitas vezes utilizados como pesticidas biológicos, no controlo de pragas e João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 6 doenças e na descontaminação de locais contaminados por compostos químicos. Além de indispensáveis na natureza, os fungos são também úteis para o homem, nomeadamente no seu papel na síntese de antibióticos, isto claro sem falar das leveduras, fungos indispensáveis à produção do pão do vinho e da cerveja. Figura 1- Leveduras da cerveja (Saccharomyces cerevisiae). João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 7 Metodologias no estudo de microfungos Meios de cultura e obtenção de colónias Os fungos são normalmente isolados por plaqueamento de uma amostra previamente recolhida (por exemplo a partir de solo, líquidos, superfícies e do ar) numa placa de petri com meio de cultura próprio para o seu crescimento. O plaqueamento pode ser realizado, por exemplo, por diluição da amostra em água ou em solução salina de baixa concentração e posterior espalhamento na placa de meio de cultura. De uma forma geral, a preparação de meios de cultura pode ser realizada pelo recurso à adição dos seus constituintes em água destilada ou pela solubilização de meios comerciais liofilizados na mesma, seguido de esterilização em autoclave (durante cerca de 15 minutos, pressão de 1 ATM, temperatura de 121ºC). Após ligeiro arrefecimento do meio, sem que ocorra a sua total solidificação (devido ao agár), poderá ser adicionado um antibiótico para evitar o crescimento de bactérias indesejadas (exemplos: estreptomicina, cloranfenicol ou penicilina) e vertido cuidadosamente para placas de petri. Este procedimento deve ser realizado dentro de uma câmara de fluxo, previamente esterilizada (com alcóol e pelo menos 15 minutos em luz ultravioleta) e em condições de assépia, isto é, impedindo ao máximo que ocorram contaminações de origem externa. Após arrefecimento total do meio nas placas de petri, recomenda-se um período de resguardo de cerca de 5 dias, com vista à confirmação da não João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 8 existência de qualquer tipo de contaminação. Findo este período, as placas de meio podem ser utilizadas para inoculação ou propagação de colónias. Os meios podem ser vulgarmente classificados como sendo “ricos”, “genéricos” e “pobres” consoante as suas concentrações de nutrientes. Por norma, são utilizados meios ricos e genéricos para a obtenção do máximo número de colónias, no entanto, a utilização simultânea de meios pobres pode conduzir ao isolamento de culturas “adaptadas” a condições de sobrevivência que requerem poucos nutrientes. A utilização de meios pobres é realizada também muitas vezes para induzir a formação de estruturas sexuais em culturas que não esporulam facilmente. Este estímulo baseia-se no princípio de que a concentração das fontes de carbono e azoto, e a temperatura de cultivo influenciam o tipo de reprodução (assexual vs. sexual). Figura 2- Câmera de fluxo (esquerda) e caixas de meio a secar (direita). João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 9 Dado que vários microfungos são parasíticos ou endofíticos (vivem no interior) de espécies de plantas, uma alternativa ao cultivo em meios pobres para induzir a esporulação pode ser o seu cultivo em meio de cultura ao qual na sua superfície foram colocadas partes da planta que parasitam (por exemplo, agulhas de pinheiro). Esta técnica permite um crescimento “in situ” em laboratório, e consequentemente a visualização das estruturas reprodutoras. Estas modificações com vista a que se formem estruturas reproductivas de sobrevivência, que não seriam necessárias num meio “rico” em nutrientes, são muitas vezes essenciais para a correcta identificação das diferentes colónias. Para além da disponibilidade de nutrientes, outros factores externos que afectam o crescimento dos microfungos devem ser tidos em conta, nomeadamente o pH, a temperatura,a humidade e a luz. No momento de isolamento de culturas, há que ter também em conta a esporulação agressiva de algumas espécies, o que se traduz numa predominância destas face a espécies com menores níveis de esporulação, e até mesmo de espécies que apresentem crescimento mais lento. Esta problemática no isolamento pode no entanto ser ultrapassada por sucessivas diluições da amostra inicial e posterior plaqueamento, com vista à exposição das espécies menos abundantes. Os fungos podem ainda ser cultivados em culturas líquidas (sem adição de agár), tendo este tipo de cultivo normalmente como finalidade a produção de elevadas quantidades de biomassa (bio-reactor), enzimas e antibióticos. João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 10 Meios de cultura "Pobres" Meios de cultura "Genéricos" Meios de cultura "Ricos" Water agar (WA) Malt-extract agar (MEA) Potato-Dextrose agar (PDA) Potato Carrot agar (PCA) Malt-Yeast agar (MYA) Martin’s Peptone Dextrose agar (MPDA) Synthetic Nutrient Poor agar (SNA) Malt agar (MA) Sabouraud Dextrose agar (SDA) Cornmeal agar (CMA) Sabouraud Maltose agar (SMA) Oatmeal agar (OA) Czapek Yeast Extract agar (CZYA) Czapek-Dox agar (CDA) Yeast Extract (MCM) V8 Juice agar (V8) Tabela 1- Exemplos de meios de cultura de utilização mais comum (Adaptado de Shrestha et al., 2006). Tabela 2- Composição dos meios de cultura mais comuns (Adaptado de Shrestha et al. 2006). Componente (g/l) WA PCA SNA MEA MYA MA CMA OA CDA V8 PDA MPDA SDA SMA CZYA MCM Dextrose - - - 20 4 - - - - - 20 10 40 - - 20 Malt Agar - - - 20 10 20 - - - - - - - - - - Maltose - - - - - - - - - - - - - 40 - - Sucrose - - 0,2 - - - - - 30 - - - - - 30 - Batata - 20 - - - - - - - - 200 - - - - - Milho - - - - - - 50 - - - - - - - - - Aveia em flocos - - - - - - - 30 - - - - - - - - Cenoura - 20 - - - - - - - - - - - - - - Peptona - - - 1 - - - - - - - 5 10 10 - 2 Yeast-extract - - - - 4 - - - - - - - - - - 2 NaNO3 - - - - - - - - 3 - - - - - 3 - MgSO4·7H2O - - 0,5 - - - - - 0,5 - - 0,5 - - 0,5 0,5 KCl - - - - - - - - 0,5 - - - - - 0,5 - FeSO4·7H2O - - - - - - - - 0,001 - - - - - 0,001 - KH2PO4 - - 1 - - - - - - - - 1 - - - 0,46 K2HPO4 - - - - - - - - 1 - - - - - 1 1 KNO3 - - 1 - - - - - - - - - - - - - Glucose - - 0,2 - - - - - - - - - - - - - V8-Juice - - - - - - - - - 200 - - - - - - Agár 20 20 12 20 15 20 15 20 10 20 20 20 15 15 20 20 João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 11 Propagação e preservação de culturas Após a obtenção das diferentes culturas por plaqueamento, estas podem ser mantidas em culturas puras por propagação (vulgo “repicagem”). A repicagem consiste na inoculação de uma pequena parte do fungo em estudo em caixas de petri com meio fresco. Para a repicagem são necessários bisturis ou ansa de inoculação, bico de Bunsen e parafilm, e esta deve ser realizada em condições de assépsia e dentro de uma câmara de fluxo. Para realizar uma propagação, deve-se inicialmente colocar o bisturi ou a ansa de inoculação (não sendo descartável) à chama do bico de Bunsen, até que esta fique incandescente. Em seguida, e após o arrefecimento da mesma (para não destruir as estruturas reprodutoras por acção do calor), deve-se cortar um quadrado de cerca de 1cm por 1 cm (no caso da utilização do bisturi; no caso de utilização de ansa, uma passagem sobre a zona esporulante será suficiente) da colónia que se pretende propagar, e colocá-lo numa nova caixa de petri com a face contendo a colónia virada de encontro ao agar da nova caixa de meio. Por fim deve-se proceder à selagem das caixas com parafilm. Caso necessite de repetir este procedimento, deve colocar de novo o bisturi ou a ansa de inoculação à chama do bico de Bunsen, até que esta fique incandescente de forma a esterilizar o instrumento de inoculação. Antes de proceder a uma nova repicagem, deve-se assegurar que o bisturi ou a ansa de inoculação arrefeçam de forma a não provocar a morte da colónia pelo contacto com o instrumento quente. João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 12 a ) b ) c) d ) e ) Figura 3- a) repicagem com ansa de inoculação; b) esterilização de bisturi; c) repicagem com bisturi; d) repicagem em novo meio de cultura; e) novo repicado após propagação; João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 13 A conservação de culturas pode ser realizada de acordo com vários procedimentos consoante o tempo de conservação que se pretende. Para conservar uma cultura durante vários meses, pode recorrer-se à sua refrigeração a 4ºC, enquanto que para uma conservação para maiores periodos de tempo (por exemplo em herbário) deve realizar-se com recurso a outros procedimentos como por exemplo, a liofilização ou a utilização de azoto líquido (para informação relativa a outras técnicas de conservação ver Humber 1997). A conservação de culturas a 4 ºC pode ser realizada de duas maneiras. A primeira consiste na simples refrigeração de colónias com cerca de 5 a 7 dias directamente a 4 ºC, e a segunda, consiste na repicagem para a superfície de um tubo de meio sólido, com adição de óleo mineral até cobertura de toda a superfície da colónia e posterior refrigeração a 4ºC. Para reutilizar uma cultura conservada com recurso a este método, simplesmente deve-se proceder à repicagem da colónia para uma caixa de meio de cultura nova e incubar durante 5 a 7 dias a cerca de 25 ºC. Caso a colónia demostre perda de vitalidade, deve-se repicar sucessivamente até que esta a recupere. João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 14 Observação de culturas na lupa e preparação de amostras para microscopia. Numa primeira análise, os fungos devem ser observados sob uma lupa binocular. Algumas características distintivas são visíveis usando ampliações pequenas (5 a 10x). Um exame macroscópico pode ser realizado quando uma colónia atinge o seu estado maturo. Nesta análise deve dar-se especial atenção a características tais como a zonagem, textura, cor, pigmentação no meio e a topografia da colónia. Figura 4- Observação de colónias de Fusarium roseum à lupa. João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 15 Para uma avaliação das características microscópicas da cultura, é necessário a sua preparação para microscopia. O primeiro passo para a preparação de lâminas para microscopia trata-se (caso seja pretendido) da sua fixação e coloração com corantes. A escolha do corante deve reflectir não só o tipo de estrutura que se pretende visualizar, mas também o tipo de organismo. Sendo assim de uma forma geral, podemos recorrer aos seguintes reagentes e corantes: ✓ Lactofenol/Lactofenol azul: O corante azul irá manchar a quitina das paredes celulares fúngicas, permitindo-lhes destacarem-se. Pelo seu lado o lactofenol fixará o organismo. Para a montagem de preparações, uma gota de corante deve ser colocada numa lâmina de vidro,juntamente com uma pequena amostra do organismo. Após a adição de lamela, a preparação pode ser vista ao microscópio. Para conservar as preparações a longo termo, deverá proceder-se ao isolamento de todas as extremidades da lamela com verniz e deixar secar. Este corante é amplamente utilizado em micologia. Figura 5- Preparação com corante Lactofenol azul. João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 16 ✓ Solução salina: A montagem de uma amostra em solução salina poderá ser utilizada para a observação de leveduras ou de elementos fúngicos, tais como hifas, pseudo-hifas e nalguns casos conídios. Para a realização desta técnica é necessário a colocação de uma gota da solução numa lâmina de vidro, juntamente com uma pequena amostra do organismo. Após a adição de lamela a preparação pode ser vista ao microscópio. ✓ Solução de hidróxido de potássio: Esta técnica deve ser utilizada quando se analisam microfungos associados a pele, pêlos ou unhas de origem animal. O hidróxido de potássio dissolve os restos celulares e permite que se verifiquem apenas os elementos fúngicos. Para a realização desta técnica é necessário que se pressione gentilmente uma porção do material de análise numa lâmina, seguido da adição de uma gota de solução de a 10%. Em seguida deve-se adicionar uma lamela, passar a lâmina brevemente 2 a 3 vezes pela chama e deixar repousar cerca de 15 a 20 minutos. Após este procedimento a preparação pode ser vista ao microscópio. ✓ Coloração de Gram: Apesar desta técnica ser de mais comum aplicação em bactérias, ela pode no entanto, ser aplicada em leveduras para a visualização de pseudo-hifas e cápsulas. ✓ Tinta da Índia: Este procedimento é utilizado para detectar cápsulas em leveduras. As preparações são realizadas pela colocação de uma gota da solução numa lâmina de vidro, juntamente com uma pequena amostra do organismo. Em seguida deve-se adicionar uma lamela e deixar repousar João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 17 cerca de 10 a 15 minutos. Após este procedimento a preparação pode ser vista ao microscópio. ✓ Coloração de Grocott: Este procedimento serve para a detecção de fungos pela coloração dos seus hidratos de carbono, tornando as paredes celulares negras ou castanhas. É uma técnica útil para identificar algumas leveduras causadoras de pneumonias, corando tanto células vivas como células mortas. ✓ Coloração pelo ácido periódico de Schiff: É utilizado para a detecção de microfungos numa amostra complexa, uma vez que tinge as paredes celulares (células vivas apenas) de magenta. Para uma avaliação microscópica da cultura, podemos recorrer a quatro formas de montagem de preparações microscópicas. São elas: ✓ Método “Tease-Mount”: Este método pode ser utilizado imediatamente após a maturação dos fungos a analisar. O método consiste em, cuidadosamente, colocar uma pequena área da colónia com a ajuda de anças estéreis numa lâmina. A remoção deve realizar-se a partir de uma zona intermédia da colónia, evitando as extremidades e o centro. Após a colocação do material na lâmina, este pode ser gentilmente espalhado pela mesma evitando, dentro do possível, a destruição da morfologia e orientação típicas das estruturas reprodutoras. Após a adição de lamela a preparação pode ser vista ao microscópio. Para conservar as preparações a longo termo, deverá proceder- João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 18 se ao isolamento de todas as extremidades da lamela com verniz e deixar secar. Figura 6- Método "Tease-Mount" ✓ Método do celofane ou fita-cola: Este método pode ser utilizado após a maturação das colónias fúngicas e consiste na utilização de um pedaço de fita cola ou de celofane transparente. Inicialmente, deve cortar uma pequena porção do adesivo e, segurando-o entre os dedos com o lado aderente virado para a colónia, pressionar contra o topo da mesma. Ao retirar o adesivo da placa de meio, as estruturas esporolantes vão estar presas à fita adesiva que pode ser colada numa lâmina. Para colocar a fita cola, deve-se esticar a fita nas zonas laterais e colocá-la firmemente na lâmina. Com esta técnica não é necessário a adição de uma lamela nesta técnica. Esta metodologia não pode ser usada permanentemente, podendo no entanto cuidadosamente ser João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 19 removida a fita cola e consequentemente colocar uma lamela e isolar as extremidades com verniz e deixar secar. ✓ Método do “Coverslip sandwich”: Este método é realizado pela colocação do fungo em crescimento em meio de cultura intercalado entre duas lamelas. As lâminas são de seguida inseridas diretamente na superfície do agár numa posição de 45º. Após a maturação da colónia, as lamelas são removidas e colocadas em lâminas que podem ser visualizadas ao microscópio e seladas com verniz. ✓ Método do “Slide culture” ou das câmaras húmidas de Ridell: Esta técnica é utilizada para a observação de fungos providos de micélios frágeis ou para a descrição da forma e disposição de estruturas reprodutoras. É a técnica mais aconselhada para a análise de culturas, uma vez que permite a análise directa a) b ) c) Figura 7- a) preparação da fita-cola para contacto; b) contacto entre a superfície adesiva e a colónia; c) montagem em lámina; João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 20 após o crescimento sobre uma lâmina de microscopia. Para a realização desta técnica é necessário cultivar os espécimes directamente sobre uma lâmina, no interior de uma câmara húmida. A simulação de uma câmara húmida pode ser realizada pela colocação de papel de filtro estéril no interior de uma caixa de petri sem meio de cultura. O papel de filtro deve ser humedecido com água destilada de forma a evitar a secagem do bloco de agar inoculado. Após a preparação da câmara, um bloco do meio de cultura de cerca de 1 cm por 1 cm deve ser cortado com a ajuda de um bisturi estéril. O bloco de agar deve ser em seguida colocado sobre uma lâmina estéril e este conjunto colocado dentro da placa de petri com o papel de filtro humedecido. Para a inoculação, pequenas porções da colónia fúngica devem ser inoculadas no cubo de agar montado na lâmina. As inoculações devem ser realizadas a meio do bloco, uma por cada lado. Por fim, deve ser colocada uma lamela na superfície do bloco e a caixa de petri deve ser fechada para evitar contaminações. Após 7 a 10 dias de cultura numa estufa a 25 ºC as lamelas podem ser removidas gentilmente e passadas para novas lâminas, fixadas com lactofenol ou com resina apropriada e, de seguida, observadas ao microscópio. João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 21 a) c) d) e) f) b) Figura 8- a) Preparação da câmara humida; b) câmara húmida com preparação; c) bloco de agár em lâmina; d) agár inoculado; e) bloco com lamela;f) preparação após 7 dias de incubação em câmara húmida; João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 22 Organização estrutural de microfungos Textura, morfologia e topologia de culturas Quando é necessário realizar a descrição de uma colónia ou realizar a sua avaliação com vista à sua identificação, três grandes características macroscópicas devem ser analisadas. Estas características são: a textura, morfologia e topologia das colónias. Em adição, caso as colónias libertem pigmento para o meio alterando a sua cor e este deve também ser avaliado. Em termos de textura de colónias, de uma forma geral, podemos ter 6 grandes tipos. São eles: ✓ “Cottony/Woolly” (aparência de lã de ovelha) ✓ “Velvety/Suede-like” (aparência de veludo) ✓ “Powdery” (aparência polvorosa ou em pó) ✓ “Granular/Sugary” (aparência granular ou arenosa) ✓ “Glabrous/Waxy” (aparência glabra ou brilhante) ✓ “Creamy” (aparência cremosa) João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 23 Figura 9- Exemplos de tipos de textura de colónias: a) “Cottony/Woolly” b) “Velvety/Suede-like” c) “Creamy” d) “Powdery” e) “Glabrous/Waxy”; a) b) c) d) e) João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 24 Em termos de morfologia de colónias, podemos de uma forma geral, ter 3 grandes tipos. São eles: ✓ Rugosas (descreve colónias que são enrugadas, dobradas e estriadas). ✓ Verrucosas (descreve colónias que são elevadas, enrugadas ou enroladas e com aspecto de verrugem). ✓ Umbiculadas (descreve colónias que se elevam num ponto leve, ou com elevação no meio, ou que apresentam forma de botões/ amontoados). Em termos de topologia das colónias, podemos analisar três propriedades, forma, elevação e margem: - Forma: ✓ Circular ✓ Irregular ✓ Filamentosa ✓ Rizóide ✓ Punctiforme ✓ Em fuso João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 25 - Elevação: ✓ Plana ✓ Elevada ✓ Convexa ✓ Pulvinada ✓ Umbiculada ✓ Crateriforme - Margem: ✓ Inteira ✓ Ondular ✓ Lobada ✓ Irregular ✓ Filamentosa ✓ Enrolada/encaracolada João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 26 Figura 22- Hifas septadas (à esquerda) e hifas não septadas ou cenocíticas (à direita). Micromorfologia básica de microfungos As hifas que compõem o corpo de um fungo podem ser de dois tipos, vegetativas (hifas que absorvem o alimento e que normalmente se econtram na superfície do ágar) ou aéreas (hifas que podem suster estruturas reprodutoras e que se estendem acima da superfície do agár). As hifas aéreas podem servir de apoio a estruturas reprodutoras diferenciadas e são normalmente as responsáveis por características como a cor e a textura, quando se visualiza a parte frontal da colónia. As hifas vegetativas são responsáveis pelas características verificadas na parte reversa. Ambas ajudam na identificação e distinção das diferentes espécies. As hifas podem ainda ser asseptadas (sem paredes laterais) ou septadas/cenocíticas (contendo paredes laterais). João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 27 Estratégias de reprodução em microfungos As frutificações ou estruturas reprodutoras dos fungos realizam as funções de preservação e disseminação da espécie através da formação de células especiais chamadas de esporos. Esses esporos podem ser hialinos, pigmentados, simples, septados, apresentando várias formas que, muitas vezes, caracterizam géneros e espécies de fungos. A reprodução de fungos pode ser assexuada ou sexuada. A reprodução assexuada ocorre por fissão binária (mitose), com divisão nuclear e citoplasmática. Este fenómeno também é conhecido como conidiogénese ou formação de conídios. Os conídios são formados a partir da célula-mãe separando-se por formação do septo e posterior crescimento. A reprodução sexual ocorre através da união de dois núcleos num único zigoto. Os esporos, de acordo com a sua origem, podem ser assexuados ou sexuados e tanto um como outro tipo podem estar no interior de determinadas estruturas: - Esporos de origem assexuada: ✓ Ectósporos: esporos que se formam na extremidade de hifas especiais (conidióforos). Esses esporos são denominados conídios e são encontrados nos géneros Aspergillus, Penicillium, etc. ✓ Endósporos: esporos produzidos no interior de estruturas denominadas esporângios, que se desenvolvem na extremidade de esporangióforos. Nesse caso os esporos são denominados esporangiósporos. João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 28 - Esporos de origem sexuada: ✓ Ectósporos: esporos produzidos na extremidade de basídios, denominam-se basidiósporos. ✓ Endósporos: esporos produzidos no interior de células denominadas ascos, encerrados dentro de ascocarpos. Nesse caso os esporos são denominados ascósporos. A forma como ocorre a formação dos conídios é muitas vezes uma característica distintiva entre muitas espécies de fungos. Os conídios apesar de resultarem do processo mitótico, podem formar-se de várias formas. Assim encontramos: ✓ Blastoconídios: são produzidos por divisão binária. ✓ Poroconídios: são formados quando a célula filha é libertada por um poro no topo da célula original. ✓ Fiáloconídios: são estruturas que são formadas a partir de um fiálide, que se trata de uma estrutura em forma de vassoura no terminal de um conidióforo. ✓ Aneloconídios: são formados a partir de um anel em forma de vaso. ✓ Macroconídios/Microconídios: são formados quando um elemento inteiro da hifa se converte num conídio multicelular. A formação de microconídeos ocorre da mesma forma, no entanto, as hifas são asseptadas. João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 29 ✓ Clamidoconídios: são conídios de sobrevivência que têm paredes grossas e se formam durante condições ambientais extremas. A sua germinação levará à produção de mais conídios quando as condições estiverem mais favoráveis. ✓ Artroconídios: são estruturas que resultam da fragmentação das hifas nos pontos de septação e que se separam dentro da cadeia de hifas original antes de se dispersarem independentemente. Pelo seu lado, os esporangiósporos são formados em fungos asseptados e são considerados distintos dos conídios, que apenas se formam em fungos septados. Estes esporos formam-se dentro de uma estrutura especializada chamada esporângio, que é suportado por uma base (columela)organizada numa haste (esporangióforo). João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 30 a ) b ) c) d ) e) f) Figura 10- Tipos de conídios: a) blastoconídios; b) poroconídios; c) fialoconídios; d) clamidoconídios; e) artroconídios; f) aneloconídios; João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 31 Conceitos básicos de identificação molecular de microfungos A morfologia tem sido desde sempre a base de quase todos os estudos taxonómicos de fungos. A maioria das espécies foram descritas porque a sua morfologia era distintiva de outros taxa. No entanto, as limitações da morfologia para a taxonomia foram reconhecidas logo no início, e como tal, os micologistas tentaram incorporar outras informações complementares com vista a atingirem-se consensos na identificação e distinção de espécies. As extensas variações no tamanho, forma e na capacidade de cultivo das várias espécies de fungos, traduziram-se também em grandes desafios no estudo da sua diversidade. Em adição, devido à longa história de descrição e caracterização de espécies, os critérios utilizados por diferentes taxonomistas são díspares, tornando difícil uma comparação, por vezes, até dentro do mesmo grupo de fungos. As ferramentas moleculares foram utilizados pela primeira vez em micologia na década de 1970, o que marcou o início de uma nova era na taxonomia destes organismos e que sofreu um crescimento explosivo nas últimas décadas. As sequências de DNA são agora usadas de uma forma rotineira em taxonomia e filogenia de fungos. Sendo assim, a identificação de fungos hoje em dia é realizada muitas vezes de uma forma bi-fásica, isto é, onde métodos de identificação morfológica clássicos são aliados a métodos de identificação molecular modernos, num processo complementar com duas etapas. João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 32 Em 2012, o International Fungal Barcoding Consortium, recomendou formalmente a região ITS como barcoding oficial para a distinção de espécies fúngicas. Primers universais estão disponíveis para a amplificação das regiões ITS por reacção de PCR, que podem posteriormente ser sequenciadas e comparadas com as mais de 100000 sequências depositadas nos bancos de dados internacionais, fornecendo por isso, uma referência fidedigna para a identificação molecular de espécies de fungos. As regiões ITS são biologicamente importantes no processamento dos RNAs ribossomais, uma vez que formam estruturas secundárias específicas, imprescindíveis para o correcto reconhecimento de locais de clivagem e para a ligação de proteínas e RNAs nucleolares durante a maturação dos ribossomas. Pela sua importância são zonas altamente conservadas nas quais, no entanto, é biologicamente admissível a alteração do seu tamanho e das suas sequências, desde que esta variação não altere a formação de estruturas secúndarias e o consequente processamento do rRNA. Os espaçadores ITS1, ITS2 e o rDNA 5.8S são regiões óptimas para estudos de diversidade, devido ao seu grande número de cópias no genoma e serem consequentemente regiões de fácil amplificação, pelo facto de não estarem sujeitas a transferência horizontal e devido ao elevado grau de polimorfismo apresentado entre espécies distintas. A região ITS demonstra assim uma grande variação inter-específica, uma vez que beneficia de uma rápida taxa de evolução (para saber mais sobre identificação de fungos por biologia molecular ver Xu, 2016). João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 33 Figura 23-Organização das regiões ITS. João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 34 Conceitos de espécie e classificações O conceito de espécie em Micologia A maioria dos conceitos discutidos até aqui dependem da capacidade de identificar cada organismo e consequentemente atribuir-lhe com confiança um nome para uma espécie. No entanto, o que é uma espécie? O debate ocorre há muitos anos, mas não existe ainda uma definição universal de espécie. Assim em micologia os conceitos mais aplicados para a definição de espécie são: ✓ Conceito morfológico de espécie: Define as diferentes espécies baseado em semelhanças e diferenças em termos de caracteres morfológicos. As problemáticas deste tipo de classificação em micologia estão relacionadas com o facto de poucos caracteres possam defenir limites claros entre espécies distintas. Os casos de evolução convergente em que espécies distintas apresentam morfologias idênticas são também uma problemática. ✓ Conceito biológico de espécie: Define uma espécie como sendo um conjunto de populações que se pode cruzar entre si e que se encontra isolada reprodutivamente de outras distintas. As problemáticas deste tipo de classificação em micologia prendem-se com o identificar barreiras reprodutivas e com os casos de organismos homotálicos (com ambos os sexos num só organismo). João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 35 ✓ Conceito ecológico e fisiológico de espécie: Define espécies distintas baseando-se nas suas características ecológicas e fisiológicas, por exemplo, com o hospedeiro que parasitam. As problemáticas deste tipo de classificação em micologia prendem-se com organismos que não possuem um substracto ou um hospedeiro obrigatório. ✓ Conceito evolutivo e filogenético de espécie: Define espécies distintas baseado nas suas características moleculares, à luz da sua linhagem evolutiva. Este conceito considera uma espécie como sendo um grupo monofilético (que originam apenas de um ancestral comum) de organismos que compartilham semelhanças moleculares e que derivam de um ancestral comum. Desta forma, este conceito acaba por não criar nenhuma exclusão ou possuir nenhuma limitação óbvia. ✓ Conceito consolidado de espécie: É uma extensão do conceito evolutivo e filogénetico de espécies, no qual se tenta obter um consenso na delimitação de espécies por comparação de dados da biologia molecular, ecologia, fisiologia e morfologia. Em micologia, mais alguns conceitos sobre espécies são importantes. Nomeadamente: ✓ Complexo de espécies: Espécies que são extremamente semelhantes ao ponto de não ser possível colocar um limite claro que as separe. João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 36 ✓ Espécies cripticas: Quando duas ou mais espécies estão “mascaradas” no nome de apenas uma. ✓ Espécies irmãs: Quando duas espécies cripticas são também o ancestral relativo mais próximo uma da outra. ✓ Bando de espécies: Quando duas espécies distintas mas evolutivamente próximas, partilham o mesmo habitat. João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação.Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 37 Classificação de microfungos Os microfungos são organismos heterotróficos pertencentes ao Domínio Eukarya e ao Reino Fungi. Apesar de os sistemas de classificação variarem muito ao longo dos tempos e consoante os autores, é geralmente consensual considerar que de uma forma clássica: Ascomycota são fungos tipicamente micelianos com septos, cuja reprodução assexuada origina conídios imóveis e a reprodução sexuada forma ascocarpos (corpos frutíferos), que produzem ascos com 8 ascósporos; dentro do filo Ascomycota estão incluídos os chamados “Fungos Imperfeitos” (Deuteromycetes) cuja principal diferença para os restantes Ascomycota prende-se com o desconhecimento da existência de reprodução sexuada. As Leveduras fazem parte do filo Ascomycota e pertencem predominantemente à classe Saccharomycetes, grupo de microrganismos unicelulares, que se reproduze assexuadamente por brotamento ou por cissiparidade e que promovem a fermentação alcoólica. Zygomycota são fungos terrestres, usualmente saprófitos. Algumas das suas espécies constituem associações com o sistema radicular de algumas plantas (micorrizas), em que o estado vegetativo é tipicamente miceliano, sem septos. As suas paredes celulares possuem quitina e citosanas, a reprodução assexuada origina esporos imóveis no interior de esporângios e a reprodução sexuada resulta da fusão de progametângios (hifas férteis), que originam um zigósporo. Basidiomycota (ver guia prático “Macrofungos”) são fungos tipicamente micelianos, com septos, cuja reprodução assexuada origina João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 38 conidiósporos imóveis e a reprodução sexuada inicia-se com a fusão de hifas de um micélio primário, do qual resulta um micélio secundário, a que se segue a formação de um basidiocarpo (corpo frutífero habitualmente denominado “cogumelo”), que produz basídios com 4 basidiósporos. Para além destes filos existem outros não considerados neste guia prático: os Glomeromycota (todos os representantes deste filo se reproduzem-se assexuadamente formando glomerósporos. Caracterizam-se por formar associação com raízes da maioria das famílias de plantas); e os Chytridiomycota (filo constituído predominantemente por fungos aquáticos). Recentemente, a classificação de 2007 do Reino Fungi é o resultado de um esforço colaborativo em larga escala envolvendo muitos taxonomistas, e resulta da combinação de características morfológicas e moleculares. A classificação aceita um reino, um sub-reino, sete filos, dez sub-filos, 35 classes, 12 sub-classes e 129 ordens. Nesta classificação dois dos filos, Ascomycota e Basidiomycota encontram-se contidos num só ramo representando o subclasse Dikarya, o grupo mais rico em espécies e famílias, incluindo todos os cogumelos, a maioria dos fungos fitopatogénicos e as leveduras, refletindo a importância da presença de hifas dicarióticas. Esta classificação contém assim os filos: ✓ Chytridiomycota ✓ Neocallimastigomycota ✓ Blastocladiomycota ✓ Microsporidia João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 39 ✓ Glomeromycota ✓ Basidiomycota ✓ Ascomycota Outra característica distintiva face as classificações mais tradicionais é a extinção da classificação dos Zygomycota clássicos, que passam a estar divididos por outros grupos para os quais ainda existem estudos a decorrer. São eles: ✓ Entomophthoromycotina ✓ Kickxellomycotina ✓ Mucoromycotina ✓ Entorrhizomycotina ✓ Zoopagomycotina Para efeitos de identificação com base nas chaves a seguir apresentadas, ambas as classificações são representadas. https://en.wikipedia.org/wiki/Zoopagomycotina João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 40 Chaves simples de identificação 1. Eumycota (verdadeiros fungos): 1.1 Hifas cenocíticas…………....”Zygomycota”/Mucoromycotina (Chave I) 1.2 Hifas septadas..........................................................................................2 2. Dikarya (fungos superiores): 2.1Esporos produzidos em basídios (basidiósporos)……………. ……………............................................Basidiomycota (Guia Macrofungos) 2.2 Esporos produzidos em ascos (ascósporos)…………............Ascomycota 3. Ascomycota: 3.1 Fungos unicelulares………………..……….Saccharomycetes (Chave II) 3.2 Fungos multicelulares filamentosos……………….……………………4 4. Ascomycota multicelulares: 4.1 Com conídios, sem ascósporos................” fungi imperfecti” (Chave III *) 4.2 Com ascósporos….............................................Ascomycetes (Chave IV) *- Nota: A chave III, contém géneros considerados como verdadeiros fungos imperfeitos, mas também géneros que de uma forma clássica foram considerados como sendo imperfeitos. No entanto, alguns destes fungos foram reclassificados quer após a abolição do antigo artigo 59 do código de nomenculatura (permissão para dois nomes distintos em fungos pleomórficos), quer pela descrição do seu estado sexuado ou quer por novas análises moleculares. Fornece-se assim informação relativa apenas aos estados anamorfos das mesmas. As espécies que se englobam neste último caso são: Botrytis, Aspergillus, Penicillium, Trichoderma e Fusarium. João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 41 Chave I- ”Zygomycota” Mucoromycotina. 1. Esporângióforos: 1.1 Agrupamento apical de esporangíolos......................…..Syncephalastrum 1.2 De outro tipo.....,......................................................................................2 2. Esporângióforos: 2.1 Com columela…….…………………………………………………….3 2.2 De outro tipo ………………………..………………….....…Mortierella 3. Esporângióforos: 3.1 Esporangióforos isolados, sem estolhos e rizóides……………..…Mucor 3.2 Esporangióforos em feixes……………...................................................5 4. Esporângióforos: 4.1 Esporangióforos grandes e fotossensíveis..............................Phycomyces 4.2 Com estolhos e rizóide…………………..………......................Rhizopus João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 42 Mortierella Figura 11- a) e b) Exemplos de colónias de Mortierella sp.; c) e d) exemplos esporangióforos de Mortierella sp.; a) b) c) d) João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 43 As espécies de Mortierella encontram-se inseridas numa das maiores ordens fúngicas basais, com quase 100 espécies descritas. Como muitas linhagens basais, são caracterizadas por caracteres macro e micro morfológicos simples e reduzidos. As colónias geralmente apresentam crescimento típico zonado e em forma de rosácea, com o micélio coenocítico jovem tornando-se septado irregularmente em culturas mais velhas. Muitas apresentam um odor típico semelhante ao do alho. A reprodução ocorre através de esporângios ou esporangiolos, através da formação de zigósforos e nalguns casos, porclamidósporos. Do ponto de vista ecológico, as espécies de Mortierella são normalmente isoladas de solos, tecido de plantas mortas ou doentes, artrópodes e dejetos de animais. Recentemente, muitas espécies de Mortierella foram destacadas como organismos interessantes para aplicações biotecnológicas, pois apresentam potencial como produtores de ácidos gordos insaturados ou capacidade para converter compostos orgânicos. Adicionalmente, várias espécies de Mortierella também demonstram capacidade para serem aplicadas como agentes degradantes naturais de pesticidas, o que sugere que poderiam ser uma boa solução para a biorremediação de locais contaminados com pesticidas organoclorados. João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 44 Mucor Figura 12- a) e b) Exemplos de colónias de Mucor sp.; c) exemplo de um esporangiofóro de Mucor sp. d) exemplo de esporos e columela de Mucor sp.; a) b) c) d) João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 45 As espécies de Mucor encontram-se inseridas numa das ordens fúngicas mais estudadas dos fungos filogeneticamente inicialmente divergentes. As colónias deste género são tipicamente brancas ou beges e crescem a um ritmo rápido, tornando-se cinza ou acastanhadas devido ao desenvolvimento de esporos. Os seus esporos podem ser simples ou ramificados e são normalmente formados em esporângios suportados por columela com diversas formas. Do ponto de vista ecológico, as espécies de Mucor são normalmente isoladas de solos, tecidos de plantas, vegetais em decomposição, sistemas digestivos de animais, como contaminante em alimentos processados e em vários tipos de queijo. Algumas espécies de Mucor têm uma importância económica considerável. A espécie M. circinelloides é uma potencial fonte de carotenos e lípidos uma vez que os acumulam em grandes quantidades no seu micélio. Em adição crescem com relativa facilidade e produzem muita biomassa em biorreatores. Os lípidos desta espécie ganharam uma atenção especial porque podem facilmente ser convertidos em biodiesel, surgindo como alternativa aos óleos de origem vegetal como matéria-prima para a produção deste tipo de combustível. Pelo lado negativo, algumas espécies são responsáveis pelo grupo de infecções conhecidas como “Zigomicoses” que causam infecções nas mucosas, cerebrais, peritonites, infecções renais, gástricas e pulmonares. João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 46 Rhizopus Figura 13- a) e b) Exemplos de esporângioforos de Rhizopus sp.; c) exemplos de estolhos de Rhizopus sp.; d) exemplos de rizóides de Rhizopus sp.; a) b) c) d) João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 47 O género Rhizopus engloba um conjunto de espécies saprófitas ou que parasitam de forma especializada algumas espécies de animais. As espécies de Rhizopus crescem através da expansão de hifas filamentosas e ramificadas coenocíticas e a reprodução ocorre pela formação de esporos sexuais e assexuais. Na reprodução assexuada, os esporangiosporos são produzidos dentro de esporângios suportados por uma grande columela. Os esporangióforos surgem entre estruturas semelhantes a pequenas raízes, os rizóides. Na reprodução sexual, um zigósporo de cor escurecida é produzido no ponto em que dois micélios compatíveis se fundem. Do ponto de vista ecológico, as espécies de Rhizopus são isoladas de uma grande variedade de substratos orgânicos tais como frutas, vegetais, alimentos processados, couro, pão e plantas. A espécie mais importante de Rhizopus (R. stolonifer), é uma das espécies de fungo mais amplamente distribuídas mundialmente tratando-se de um contaminante comum de alimentos. Esta espécie é reconhecida pelo seu aparecimento no pão, sendo conhecida vulgarmente como o bolor negro do mesmo. Algumas espécies são também fitopatogénicas e podem causar complicações do ponto de vista médico. Por outro lado, algumas espécies são utilizadas para a produção de bebidas alcóolicas e na produção comercial de ácido fumárico e cortisona. João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 48 Chave II- Ascomycota, Saccharomycetes. 1. 1.1 Fungo unicelular com micélio gemulante.................................................2 1.2 Esporos (bastonetes) resultam da fragmentação de hifas….....Geotrichum 2. 2.1 Multiplicação por cissiparidade……..................….Schizosaccharomyces 2.2 Multiplicação por brotação................................................Saccharomyces João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 49 As leveduras são normalmente fungos unicelulares com algumas espécies capazes de desenvolver características semelhantes aos organismos multicelulares. Estas características podem sobre a forma de conexões entre células em divisão ou pela formação de pseudo-hifas ou hifas falsas. As leveduras são muito comuns no ambiente, e estão muitas vezes associadas a locais ricos em açúcares. Podem no entanto também ser encontradas associadas ao solo, em águas profundas ou na flora intestinal de mamíferos e invertebrados. Algumas podem ainda ser encontras na flora natural cutânea e das mucosas, tais como Candida albicans, Rhodotorula sp. e Trichosporon cutaneum. As leveduras podem reproduzir-se por ciclos sexuais e assexuais, sendo que o modo mais comum de crescimento ocorre por brotação. As propriedades fisiológicas naturais das leveduras levaram a sua utilização pelo homem de uma forma clássica ou aplicada em biotecnologia. A fermentação de açúcares é a mais antiga e maior aplicação destas Figura 14- Saccharomyces cerevisiae. João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 50 características fisiológicas. Muitas espécies de leveduras são utilizadas para a confecção de muitos alimentos e bebidas, tais como a produção de fermento para a produção de pão, a fermentação do vinho e da cerveja. Adicionalmente, algumas espécies de leveduras apresentam capacidade para serem utilizadas na indústria biotecnológica, sendo aplicadas em bioremediação para a degradação de efluentes, hidrocarbonetos, ácidos gordos, óleos e materiais explosivos (TNT- trinitrotolueno). Por outro lado, as leveduras incluem alguns dos organismos modelo mais amplamente utilizados para a investigação científica em genética e biologia celular e molecular (por exemplo Candida albicans e Cryptococcus neoformans). Do ponto de vista clínico, várias espécies de leveduras são patogénicas oportunistas, causando micoses em pacientes imunocomprometidos (Cryptococcus) e infecções orais e vaginais, vulgarmente conhecidas como candidíases (Candida sp.), onde as espécies comuns das mucosas se tornam patogénicas pelo crescimento de pseudo-hifas.Figura 15- Representação de Geotrichum (a esquerda) e Schizosaccharomyces (a direita). João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 51 Por fim, dado a sua atracção por açúcares, podem também crescer em alimentos ricos em fontes de carbono facilmente metabolizadas, levando a sua deterioração (fenómeno conhecido como Food Spoilage). Figura 16- Pseudo-hifas de Candida albicans. João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 52 Chave III- Ascomycota, “fungi imperfecti”. 1. 1.1 Conídios constituídos por 1 ou 2 células...................................................2 1.2 Conídios com 2 ou mais células…………………………..….................7 2. 2.1 Conídios em cadeias de 2 ou mais células……………………..………...3 2.2Conídios em pedúnculos e em cachos; conidióforos com brilho....Botrytis 3. 3.1 Conídios acrópetos, com forma variável, ovóides, em forma de limão ou alongados, na maioria com uma célula, mas podendo haver 2 ou 3 células…………..…………………...……...………..…….…Cladosporium 3.2 Conídios basipetos, com os mais jovens na base da cadeia...………………..…………….……..………….....……….…….4 3.3 Blastoconídios unicelulares, não hialinos…………….....Aureobasidium 4. 4.1 Conidióforos com origem em células basais especializadas e terminando em vesículas..………………………….……………………......Aspergillus 4.2 De outro tipo……………..…..…………...……………………….........5 João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 53 5. 5.1 Conídios globosos, geralmente verdes.………………..….....Penicillium 5.2 Conídioforos divididos irregularmente….........................…Trichoderma 6. 6.1 Conídios com um único septo, pelo menos 2 células...............................7 6.2 Conídios com mais de 3 células…………………………………..……..8 7. 7.1 Conídios hialinos e colónia cor-de-rosa…………………...Trichotecium 7.2 Conídios pigmentados e meio com pigmento avermelhado.....Epicoccum 8. 8.1 Conídios fragmospóricos, hialinos em forma de ”banana”…....Fusarium 8.2 Talo diferente....…………………………………..…………..Alternaria João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 54 Botrytis Figura 17- a) e b) Exemplos de colónias de Botrytis sp.; c) e d) exemplos de conídios em cachos de Botrytis sp.; a) b) c) d) João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 55 O género Botrytis engloba um conjunto de espécies de fungos anamórficos normalmente saprófitas ou parasitas de plantas. Sendo parasitas, são impactantes patógenos de muitas culturas agronomicamente importantes tais como a videira, o tomate e as plantas ornamentais A sua forma teleomórfica é conhecida por Botryotinia. As espécies de Botrytis crescem através da produção de conidióforos robustos, de cor escura e ramificados que possuem aglomerados de conídios mais pálidos em posição apical. Os seus conídios são dispersados pela chuva e pelo vento. Algumas espécies podem também formar esclerócios de sobrevivência. Do ponto de vista ecológico, as espécies de Botrytis são isoladas de uma grande variedade de hospedeiros (plantas) quer de interior quer de exterior. A espécie mais conhecida é o Botrytis cinerea e trata-se de um fungo necrotrófico fitopatogénico que afeta muitas espécies de plantas, com especial incidência em vinhas e no morangueiro. Na viticultura e na horticultura, é comumente conhecido como podridão cinzenta. Não é patogénico para humanos, podendo no entanto causar alergias repiratórias em indivíduos predispostos a tal. Devido as perdas que causa do ponto de vista agrícola, existem várias opções para o seu controlo, que englobam a calendarização da aplicação de fertilizantes, o aumento do espaçamento entre plantas, a remoção de partes lesadas, a aplicação de tratamentos químicos e de tratamentos biológicos utilizando para isso os fungos Trichoderma harzianium e Gumocladium Roseum. João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 56 Cladosporium Figura 18- a) e b) Exemplos de colónias de Cladosporium sp.; c) e d) exemplos de conídios de Cladosporium sp.; a) b) c) d) João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 57 O género Cladosporium engloba mais de 750 espécies, representando um dos maiores grupos de fungos dematiáceos (de cor negra) conhecidos. O género é caracterizado pela presença de complexos de melanina em níveis elevados nas suas paredes celulares. As suas espécies encontram-se amplamente distribuídas mundialmente e incluem os fungos mais comuns em ambientes internos e externos. Os esporos de Cladosporium são facilmente dispersos pelo vento e geralmente são extremamente abundantes no ar podendo consequentemente crescer em superfícies mesmo quando pouca humidade está presente. Muitas espécies são muitas vezes altamente extremotolerantes, crescendo facilmente em meios contendo até 20% de NaCl. Por esta razão, são comuns em ambientes hipersalinos e extremos, onde muitos outros organismos não conseguem crescer. Os seus esporos são também muito frágeis, o que faz com que seja bastante difícil a preparação de amostras para microscopia de forma a manter a morfologia original das estruturas. As espécies de Cladosporium raramente são patogénicas para humanos, mas foram relatadas como casualmente causando infecções cutâneas e respiratórias. Os esporos são alergénicos que em grandes quantidades podem afetar severamente indivíduos asmáticos e pessoas com doenças respiratórias. As espécies de Cladosporium não produzem micotoxinas importantes, mas produzem vários compostos orgânicos voláteis. João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 58 Aureobasidium Figura 19- a) b) Exemplos de colónias de Aureobasidium sp.; c) exemplo de cadeias de conídios de Aureobasidium sp.; d) exemplo de conídios de Aureobasidium sp.; a) b) c) d) João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 59 O género Aureobasidium é um fungo cosmopolita, presente em diversos ambientes tais como o solo, água, ar e em pedras calcáricas. É também isolado à superfície ou endofiticamente em várias espécies de plantas (por exemplo na maçã, uva, pepino e feijão verde) sem causar nenhuma doença. O género é caracterizado por possuir polimorfismos, sendo capaz de crescer sob a forma de micélio e de uma forma semelhante as leveduras. É por isso muitas vezes caracterizado como parte das “leveduras negras”. Devido a estas características, são muitas vezes isolados de monumentos calcáricosdegradados, onde produzem manchas negras pelo seu estabelecimento e crescimento. A espécie Aureobasidum pullulans é particularmente conhecidas pelas suas aplicações na biotecnologia, uma vez que produz pullulan (poli-a-1,6- maltotriose), um biomaterial promissor, actualmente utilizado no embalamento de produtos alimentares e de medicamentos. Adicionalmente produz diversas enzimas hidrolíticas com várias aplicações. A espécie A. melanogenum é conhecida por causar alguns problemas respiratórios e reações inflamatórias após exposição prolongada em humanos. Durante muito tempo, consideraram-se quatro variedades de A. pullulans como se tratando da mesma espécie, no entanto após a sequenciação do genoma das quatro verificou-se tratarem-se na verdade de quatro espécies distintas. João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 60 Aspergillus Figura 20- a) b) Exemplos de colónias de Aspergillus sp.; c) exemplo de cabeça conídial de Aspergillus sp.; d) exemplo de esporos de Aspergillus sp.; a) b) c) d) João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 61 O género Aspergillus é um fungo cosmopolita, presente em diversos ambientes e composto por cerca de 250 espécies. A sua forma teleomórfica é conhecida por Emericella. O género é caracterizado pelas vesículas em forma de aspersório (do latim aspergillum) onde se encontram os esporos. As suas espécies possuem a capacidade de crescer em altas pressões osmótica, são fortemente aeróbicas e como tal, são encontradas em quase todos os ambientes ricos em oxigénio. Do ponto de vista ecológico, crescem em substratos ricos em carbono e são contaminantes comuns de produtos alimentares (bolor do pão e das frutas), podendo ainda infectar ou crescer na superfície de muitas plantas e árvores. Do ponto de vista biotecnológico, são fontes de moléculas naturais aplicadas na indústria farmacêutica. A espécie A. niger é capaz de produzir ácido cítrico, contribuindo com 99% da produção mundial do mesmo. Algumas espécies são também utilizadas na produção de diversas enzimas com interesse comercial. Pelo lado negativo, algumas espécies podem causar infecções em animais e em humanos como A. flavus e A. fumigatus uma vez que produzem aflatoxina que é simultaneamente uma toxina e um carcinogéno. Adicionalmente algumas espécies podem causar o conjunto de micoses denominadas por aspergiloses. Outras espécies são ainda agentes patogénicos agrícolas causando doenças em plantas como o milho. João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 62 Penicillium Figura 21- a) e b) Exemplos de colónias de Penicillium sp.; c) exemplo de fíalide composta por ramificações, métula e conídios em Penicillium sp.; a) b) c) João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 63 O género Penicillium é um fungo cosmopolita, presente em diversos ambientes e composto por cerca de 300 espécies. Os conidióforos deste género formam-se a partir do micélio em grande número e apresentam uma estrutura típica ramificada. Os conidiósporos são a sua principal via de dispersão e apresentam muitas vezes a cor verde. A reprodução sexual quando ocorre é realizada através da produção de ascósporos. Do ponto de vista ecológico, são considerados fungos de solo que preferem climas frescos e moderados, com materia orgânica disponível, mas também estão presentes no ar e em poeiras de ambientes internos. Várias espécies do gênero Penicillium desempenham um papel essencial na produção de queijo, como por exemplo as espécies Penicillium camemberti e Penicillium roqueforti. Além da sua importância na indústria alimentar, possuem também um papel essencial na produção de enzimas e macromoléculas com elevada aplicabilidade. Algumas espécies demonstram também potencial de uso na biorremediação. O género inclui uma grande variedade de espécies principais produtoras de antibióticos. A penicilina, produzida por P. chrysogenum foi descoberta acidentalmente por Alexander Fleming em 1929. A sua potencial utilização como antibiótico foi testada no final da década de 1930 quando Howard Florey e Ernst Chain purificaram e concentraram o composto. Pelo enorme impacto deste antibiótico durante a Segunda Guerra Mundial, reduzindo o número de mortos por infecção de feridas, Fleming, Florey e Chain ganharam em conjunto o prémio Nobel de Medicina em 1945. João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 64 Outras drogas com efeitos antimicóticos como a griseofulvina foram também extraídas de outras espécies como por exemplo P. griseofulvum. Existem ainda espécies capazes de produzir moléculas com potencial aplicação na inibição de células tumorais e cancerígenas, pelo menos em testes laboratoriais. Pelo lado negativo, várias espécies são responsáveis pela degradação de alimentos processados e outras produzem várias micotoxinas severamente tóxicas. Algumas espécies afectam também algumas árvores de fruto tais como a macieira, a pereira e os citrinos. Outras espécies são ainda patogénicas para animais tais como por exemplo P. corylophilum, P. fellutanum e P. implicatum. Por fim, algumas espécies causam também alguns danos a maquinarias e aos materiais combustíveis e lubrificantes que estas utilizam. João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 65 Trichoderma Figura 22- a) e b) Exemplo de colónias de Trichoderma sp.; c) exemplo de conidióforo de Trichoderma sp.; d) e e) exemplos de conidióforos ramificados e com forma pirâmidal e conídios de Trichoderma sp.; a) b) c) d) e) João Trovão e Leonel Pereira Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 66 O género Trichoderma é um fungo cosmopolita saprófito, presente em quase todos os tipos de solos e é considerado como um dos fungos mais prevalentes quando cultivado a partir deste tipo de amostras. As suas culturas crescem rapidamente, inicialmente sendo transparentes mas tornando-se brancas e esverdeadas rapidamente. Os seus conidióforos são altamente ramificados e com ramos laterais podendo ter uma forma piramidal. Muitas espécies apresentam ainda um odor típico semelhante a côco. Os seus teleomorfos incluem espécies de Hypocrea. Do ponto de vista ecológico, as espécies de Trichoderma são isoladas de solos, cascas de árvores, madeira e sobe outras espécies de fungos. Várias espécies são utilizadas como agentes de controle biológico contra doenças fúngicas de plantas, com especial relevância para T. harzianum, T. viride e T. hamatum. São também empregues na produção da ciclosporina A, um imunossupressor utilizado em transplantes de órgãos de forma a evitar a rejeição. São ainda utilizados industrialmente para a produção de enzimas em bio-reactor, nomeadamente celulases, hemicelulases e
Compartilhar