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Introdução a microfungos

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Introdução ao estudo dos Microfungos Guia simples para a iniciação à
identificação
Book · February 2019
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The sustainable use of seaweeds and their extracts View project
Adding value to marine invasive seaweeds of the Iberian northwest View project
João Trovão
University of Coimbra
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Leonel Pereira
University of Coimbra
159 PUBLICATIONS   1,926 CITATIONS   
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João Trovão e Leonel Pereira 
Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. 
Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 
 
 
 
 
 
1 
 
 
 
 
 
INTRODUÇÃO AO 
ESTUDO DOS 
MICROFUNGOS: Guia simples 
para a iniciação à identificação. 
 
João Trovão e Leonel Pereira 
 
 
 
 
 
 
 
 
Guia elaborado para utilização nas aulas práticas de Algas e Fungos 
da licenciatura em Biologia da Universidade de Coimbra. 
João Trovão e Leonel Pereira 
Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. 
Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
Índice 
 
O que são microfungos?.................................................................................3 
Qual a importância dos microfungos?.........…………………..….................5 
Metodologias no estudo de microfungos……………………………………7 
 Meios de cultura e obtenção de culturas……………………………..7 
 Propagação e preservação de culturas……………………………....11 
 Observação de culturas na lupa e preparação de amostras para 
microscopia……………………………………………………………….14 
Organização estrutural de microfungos.…………………………………..22 
 Textura, morfologia e topologia de culturas….……………………..22 
 Micromorfologia básica de microfungos…………………………...26 
 Estratégias de reprodução em microfungos………………………...27 
Conceitos básicos de identificação molecular de microfungos……………31 
Conceitos de espécie e classificações………………………..……………34 
O conceito de espécie em Micologia……..………………………...34 
 Classificação de microfungos……...……..………………………...37 
Chaves simples de identificação……………………………..……………40 
Glossário……………………………………………………..……………84 
Bibliografia…………………………………………………..……………86 
Agradecimentos.……………………………………………..…………..102 
 
 
João Trovão e Leonel Pereira 
Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. 
Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 
 
 
 
 
 
3 
 
 
 
 
O que são Microfungos? 
 
São fungos microscópicos, o grupo de seres vivos que, durante muito 
tempo, foram considerados como vegetais e, somente a partir de 1969, 
passaram a ser classificados num reino à parte, o reino Fungi (Witthaker, 
1969). 
Os fungos apresentam um conjunto de características próprias que 
permitem a sua diferenciação das plantas: não possuem clorofila, não tem 
celulose nas suas paredes celulares (excepto nalguns fungos aquáticos) e não 
armazenam amido como substância de reserva. A presença de substâncias 
quitinosas na parede da maior parte das espécies fúngicas e a sua capacidade 
de depositar glicogénio assemelham-os às células animais. 
São seres vivos eucarióticos, com um só núcleo, como as leveduras, 
ou multinucleados, como os bolores. O seu citoplasma contém mitocôndrias 
e retículo endoplasmático rugoso, são heterotróficos e alimentam-se de 
matéria orgânica morta - fungos saprófitos, ou de matéria orgânica viva - 
fungos parasitas. 
Os componentes principais da parede celular são as hexoses e as 
hexoaminas, que formam mananas, ducanas e galactanas. Alguns fungos têm 
paredes celulares ricas em quitina (N-acetil glicosamina), outros possuem 
complexos polissacarídeos e proteínas, com predominância de cisteína. Os 
microfungos apresentam uma variabilidade enzimática muito grande e, por 
isso, conseguem habitar nos mais variados substratos. 
São aeróbios na sua grande maioria, mas conhecem-se alguns fungos 
João Trovão e Leonel Pereira 
Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. 
Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 
 
 
 
 
 
4 
 
 
 
 
anaeróbicos estritos e facultativos. Podem ser uni oumulticelulares e 
reproduzem-se sexuada ou assexuadamente, podendo apresentar ciclos 
parassexuados. De entre os géneros mais frequentes podemos destacar, 
Aspergillus, Fusarium, Penicillium, Alternaria e Cladosporium. 
Nalgumas ocasiões esses microrganismos podem ser a causa de 
infecções em plantas, em humanos e animais, na maioria das vezes como 
oportunistas. Como os esporos dos fungos se encontram no ar, é inevitável 
que se depositem na superfície de tudo o que lhe está exposto. Os fungos 
crescem onde existe matéria orgânica disponível, viva ou morta, geralmente 
apreciando calor e humidade. Água, solo, troncos, folhas, frutos, sementes, 
excrementos, insectos, alimentos frescos e processados, têxteis e outros 
produtos fabricados pelo homem, constituem excelentes substratos para o 
seu desenvolvimento. 
As leveduras constituem um grupo de microrganismos unicelulares, 
que se reproduzem assexuadamente por gemulação ou por cissiparidade e 
promovem a fermentação alcoólica. São largamente encontradas na 
natureza: são comuns no solo, nas superfícies de órgãos dos vegetais, 
principalmente em flores e frutos, no trato intestinal de animais, em líquidos 
açucarados, e numa grande série de outros locais. 
As colónias aveludadas ou pulverulentas, vulgarmente conhecidas 
por “bolores”, são formadas por fungos de organização multicelular (fungos 
filamentosos). Os fungos filamentosos apresentam crescimento apical, 
reprodução por esporos e estruturas sexuais distintivas das suas células 
vegetativas. Podem ser parasitas, simbiontes, sendo na sua grande maioria, 
saprófitos. 
João Trovão e Leonel Pereira 
Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. 
Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 
 
 
 
 
 
5 
 
 
 
 
Qual é a importância dos microfungos? 
 
A maior parte dos fungos, assim como as bactérias, desempenham 
um papel de grande importância nos ecossistemas. Estes organismos, na 
procura de alimento, decompõem a folhagem e as plantas mortas que 
revestem o solo das florestas, e decompõem os restos de outros organismos. 
Nesse processo produzem dióxido de carbono, libertando-o para a atmosfera, 
e diversas substâncias minerias, que dissolvidas no solo pela chuva e 
humidade, constituem o alimento para outros fungos e plantas. 
Os fungos degradam, assim, material que de outra forma iria 
acumular-se em quantidades incalculáveis na natureza. São portanto 
laboriosos responsáveis pela reciclagem de nutrientes, desempenhando um 
papel essencial na decomposição da matéria orgânica e no ciclo de nutrientes 
nos ecossistemas e assegurando assim muitos mecanismos essenciais a vida. 
Os fungos micorrízicos, associados ao sistema radicular de algumas 
plantas, contribuem para uma mais eficaz absorção de água. Alguns destes 
fungos são no entanto venenosos (por exemplo Amanita phalloides) mas não 
devem contudo ser destruídos, devido a sua enorme utilidade nas zonas 
arborizadas. Em contraste, muitos têm um valor elevado e são extensamente 
apreciados pelos seus odores e sabores, como é o caso das diferentes espécies 
de trufas. 
Desde a década de 1940, os fungos foram aplicados com vista à 
produção de antibióticos e em muitas outras indústrias. Adicionalmente, são 
muitas vezes utilizados como pesticidas biológicos, no controlo de pragas e 
João Trovão e Leonel Pereira 
Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. 
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6 
 
 
 
 
doenças e na descontaminação de locais contaminados por compostos 
químicos. 
Além de indispensáveis na natureza, os fungos são também úteis para 
o homem, nomeadamente no seu papel na síntese de antibióticos, isto claro 
sem falar das leveduras, fungos indispensáveis à produção do pão do vinho 
e da cerveja. 
 
 
Figura 1- Leveduras da cerveja (Saccharomyces cerevisiae). 
 
 
João Trovão e Leonel Pereira 
Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. 
Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 
 
 
 
 
 
7 
 
 
 
 
Metodologias no estudo de microfungos 
Meios de cultura e obtenção de colónias 
 
Os fungos são normalmente isolados por plaqueamento de uma 
amostra previamente recolhida (por exemplo a partir de solo, líquidos, 
superfícies e do ar) numa placa de petri com meio de cultura próprio para o 
seu crescimento. O plaqueamento pode ser realizado, por exemplo, por 
diluição da amostra em água ou em solução salina de baixa concentração e 
posterior espalhamento na placa de meio de cultura. 
De uma forma geral, a preparação de meios de cultura pode ser 
realizada pelo recurso à adição dos seus constituintes em água destilada ou 
pela solubilização de meios comerciais liofilizados na mesma, seguido de 
esterilização em autoclave (durante cerca de 15 minutos, pressão de 1 ATM, 
temperatura de 121ºC). 
Após ligeiro arrefecimento do meio, sem que ocorra a sua total 
solidificação (devido ao agár), poderá ser adicionado um antibiótico para 
evitar o crescimento de bactérias indesejadas (exemplos: estreptomicina, 
cloranfenicol ou penicilina) e vertido cuidadosamente para placas de petri. 
Este procedimento deve ser realizado dentro de uma câmara de fluxo, 
previamente esterilizada (com alcóol e pelo menos 15 minutos em luz 
ultravioleta) e em condições de assépia, isto é, impedindo ao máximo que 
ocorram contaminações de origem externa. 
Após arrefecimento total do meio nas placas de petri, recomenda-se 
um período de resguardo de cerca de 5 dias, com vista à confirmação da não 
João Trovão e Leonel Pereira 
Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. 
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8 
 
 
 
 
existência de qualquer tipo de contaminação. Findo este período, as placas 
de meio podem ser utilizadas para inoculação ou propagação de colónias. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Os meios podem ser vulgarmente classificados como sendo “ricos”, 
“genéricos” e “pobres” consoante as suas concentrações de nutrientes. Por 
norma, são utilizados meios ricos e genéricos para a obtenção do máximo 
número de colónias, no entanto, a utilização simultânea de meios pobres 
pode conduzir ao isolamento de culturas “adaptadas” a condições de 
sobrevivência que requerem poucos nutrientes. 
A utilização de meios pobres é realizada também muitas vezes para 
induzir a formação de estruturas sexuais em culturas que não esporulam 
facilmente. Este estímulo baseia-se no princípio de que a concentração das 
fontes de carbono e azoto, e a temperatura de cultivo influenciam o tipo de 
reprodução (assexual vs. sexual). 
Figura 2- Câmera de fluxo (esquerda) e caixas de meio a secar (direita). 
João Trovão e Leonel Pereira 
Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. 
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9 
 
 
 
 
Dado que vários microfungos são parasíticos ou endofíticos (vivem 
no interior) de espécies de plantas, uma alternativa ao cultivo em meios 
pobres para induzir a esporulação pode ser o seu cultivo em meio de cultura 
ao qual na sua superfície foram colocadas partes da planta que parasitam (por 
exemplo, agulhas de pinheiro). Esta técnica permite um crescimento “in 
situ” em laboratório, e consequentemente a visualização das estruturas 
reprodutoras. Estas modificações com vista a que se formem estruturas 
reproductivas de sobrevivência, que não seriam necessárias num meio “rico” 
em nutrientes, são muitas vezes essenciais para a correcta identificação das 
diferentes colónias. 
Para além da disponibilidade de nutrientes, outros factores externos 
que afectam o crescimento dos microfungos devem ser tidos em conta, 
nomeadamente o pH, a temperatura,a humidade e a luz. 
No momento de isolamento de culturas, há que ter também em conta 
a esporulação agressiva de algumas espécies, o que se traduz numa 
predominância destas face a espécies com menores níveis de esporulação, e 
até mesmo de espécies que apresentem crescimento mais lento. Esta 
problemática no isolamento pode no entanto ser ultrapassada por sucessivas 
diluições da amostra inicial e posterior plaqueamento, com vista à exposição 
das espécies menos abundantes. 
Os fungos podem ainda ser cultivados em culturas líquidas (sem 
adição de agár), tendo este tipo de cultivo normalmente como finalidade a 
produção de elevadas quantidades de biomassa (bio-reactor), enzimas e 
antibióticos. 
João Trovão e Leonel Pereira 
Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. 
Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 
 
 
 
 
 
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Meios de cultura "Pobres" Meios de cultura "Genéricos" Meios de cultura "Ricos" 
Water agar (WA) Malt-extract agar (MEA) Potato-Dextrose agar (PDA) 
Potato Carrot agar (PCA) Malt-Yeast agar (MYA) Martin’s Peptone Dextrose agar (MPDA) 
Synthetic Nutrient Poor agar (SNA) Malt agar (MA) Sabouraud Dextrose agar (SDA) 
 Cornmeal agar (CMA) Sabouraud Maltose agar (SMA) 
 Oatmeal agar (OA) Czapek Yeast Extract agar (CZYA) 
 Czapek-Dox agar (CDA) Yeast Extract (MCM) 
 V8 Juice agar (V8) 
 
 
Tabela 1- Exemplos de meios de cultura de utilização mais comum (Adaptado de Shrestha et al., 2006). 
 
 
 
Tabela 2- Composição dos meios de cultura mais comuns (Adaptado de Shrestha et al. 2006). 
 
Componente (g/l) WA PCA SNA MEA MYA MA CMA OA CDA V8 PDA MPDA SDA SMA CZYA MCM 
Dextrose - - - 20 4 - - - - - 20 10 40 - - 20 
Malt Agar - - - 20 10 20 - - - - - - - - - - 
Maltose - - - - - - - - - - - - - 40 - - 
Sucrose - - 0,2 - - - - - 30 - - - - - 30 - 
Batata - 20 - - - - - - - - 200 - - - - - 
Milho - - - - - - 50 - - - - - - - - - 
Aveia em flocos - - - - - - - 30 - - - - - - - - 
Cenoura - 20 - - - - - - - - - - - - - - 
Peptona - - - 1 - - - - - - - 5 10 10 - 2 
Yeast-extract - - - - 4 - - - - - - - - - - 2 
NaNO3 - - - - - - - - 3 - - - - - 3 - 
MgSO4·7H2O - - 0,5 - - - - - 0,5 - - 0,5 - - 0,5 0,5 
KCl - - - - - - - - 0,5 - - - - - 0,5 - 
FeSO4·7H2O - - - - - - - - 0,001 - - - - - 0,001 - 
KH2PO4 - - 1 - - - - - - - - 1 - - - 0,46 
K2HPO4 - - - - - - - - 1 - - - - - 1 1 
KNO3 - - 1 - - - - - - - - - - - - - 
Glucose - - 0,2 - - - - - - - - - - - - - 
V8-Juice - - - - - - - - - 200 - - - - - - 
Agár 20 20 12 20 15 20 15 20 10 20 20 20 15 15 20 20 
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Propagação e preservação de culturas 
 
Após a obtenção das diferentes culturas por plaqueamento, estas 
podem ser mantidas em culturas puras por propagação (vulgo “repicagem”). 
A repicagem consiste na inoculação de uma pequena parte do fungo em 
estudo em caixas de petri com meio fresco. Para a repicagem são necessários 
bisturis ou ansa de inoculação, bico de Bunsen e parafilm, e esta deve ser 
realizada em condições de assépsia e dentro de uma câmara de fluxo. 
Para realizar uma propagação, deve-se inicialmente colocar o bisturi 
ou a ansa de inoculação (não sendo descartável) à chama do bico de Bunsen, 
até que esta fique incandescente. Em seguida, e após o arrefecimento da 
mesma (para não destruir as estruturas reprodutoras por acção do calor), 
deve-se cortar um quadrado de cerca de 1cm por 1 cm (no caso da utilização 
do bisturi; no caso de utilização de ansa, uma passagem sobre a zona 
esporulante será suficiente) da colónia que se pretende propagar, e colocá-lo 
numa nova caixa de petri com a face contendo a colónia virada de encontro 
ao agar da nova caixa de meio. Por fim deve-se proceder à selagem das caixas 
com parafilm. 
Caso necessite de repetir este procedimento, deve colocar de novo o 
bisturi ou a ansa de inoculação à chama do bico de Bunsen, até que esta fique 
incandescente de forma a esterilizar o instrumento de inoculação. Antes de 
proceder a uma nova repicagem, deve-se assegurar que o bisturi ou a ansa de 
inoculação arrefeçam de forma a não provocar a morte da colónia pelo 
contacto com o instrumento quente. 
 
João Trovão e Leonel Pereira 
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12 
 
 
 
 
 
 
a
)
 
b
)
 
c)
 
d
)
 
e
)
 
Figura 3- a) repicagem com ansa de inoculação; b) esterilização de bisturi; c) repicagem com bisturi; d) repicagem em novo 
meio de cultura; e) novo repicado após propagação; 
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A conservação de culturas pode ser realizada de acordo com vários 
procedimentos consoante o tempo de conservação que se pretende. 
Para conservar uma cultura durante vários meses, pode recorrer-se à 
sua refrigeração a 4ºC, enquanto que para uma conservação para maiores 
periodos de tempo (por exemplo em herbário) deve realizar-se com recurso 
a outros procedimentos como por exemplo, a liofilização ou a utilização de 
azoto líquido (para informação relativa a outras técnicas de conservação ver 
Humber 1997). 
A conservação de culturas a 4 ºC pode ser realizada de duas maneiras. 
A primeira consiste na simples refrigeração de colónias com cerca de 5 a 7 
dias directamente a 4 ºC, e a segunda, consiste na repicagem para a superfície 
de um tubo de meio sólido, com adição de óleo mineral até cobertura de toda 
a superfície da colónia e posterior refrigeração a 4ºC. Para reutilizar uma 
cultura conservada com recurso a este método, simplesmente deve-se 
proceder à repicagem da colónia para uma caixa de meio de cultura nova e 
incubar durante 5 a 7 dias a cerca de 25 ºC. 
Caso a colónia demostre perda de vitalidade, deve-se repicar 
sucessivamente até que esta a recupere. 
 
 
 
 
 
 
 
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Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. 
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Observação de culturas na lupa e preparação de amostras para 
microscopia. 
 
Numa primeira análise, os fungos devem ser observados sob uma lupa 
binocular. Algumas características distintivas são visíveis usando 
ampliações pequenas (5 a 10x). 
Um exame macroscópico pode ser realizado quando uma colónia 
atinge o seu estado maturo. Nesta análise deve dar-se especial atenção a 
características tais como a zonagem, textura, cor, pigmentação no meio e a 
topografia da colónia. 
 
 
 
Figura 4- Observação de colónias de Fusarium roseum à lupa. 
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Para uma avaliação das características microscópicas da cultura, é 
necessário a sua preparação para microscopia. O primeiro passo para a 
preparação de lâminas para microscopia trata-se (caso seja pretendido) da 
sua fixação e coloração com corantes. A escolha do corante deve reflectir 
não só o tipo de estrutura que se pretende visualizar, mas também o tipo de 
organismo. 
Sendo assim de uma forma geral, podemos recorrer aos seguintes 
reagentes e corantes: 
 
✓ Lactofenol/Lactofenol azul: O corante azul irá manchar a quitina das 
paredes celulares fúngicas, permitindo-lhes destacarem-se. Pelo seu lado o 
lactofenol fixará o organismo. Para a montagem de preparações, uma gota 
de corante deve ser colocada numa lâmina de vidro,juntamente com uma 
pequena amostra do organismo. Após a adição de lamela, a preparação pode 
ser vista ao microscópio. Para conservar as preparações a longo termo, 
deverá proceder-se ao isolamento de todas as extremidades da lamela com 
verniz e deixar secar. Este corante é amplamente utilizado em micologia. 
 
 
Figura 5- Preparação com corante Lactofenol azul. 
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✓ Solução salina: A montagem de uma amostra em solução salina poderá ser 
utilizada para a observação de leveduras ou de elementos fúngicos, tais como 
hifas, pseudo-hifas e nalguns casos conídios. Para a realização desta técnica 
é necessário a colocação de uma gota da solução numa lâmina de vidro, 
juntamente com uma pequena amostra do organismo. Após a adição de 
lamela a preparação pode ser vista ao microscópio. 
 
✓ Solução de hidróxido de potássio: Esta técnica deve ser utilizada quando se 
analisam microfungos associados a pele, pêlos ou unhas de origem animal. 
O hidróxido de potássio dissolve os restos celulares e permite que se 
verifiquem apenas os elementos fúngicos. Para a realização desta técnica é 
necessário que se pressione gentilmente uma porção do material de análise 
numa lâmina, seguido da adição de uma gota de solução de a 10%. Em 
seguida deve-se adicionar uma lamela, passar a lâmina brevemente 2 a 3 
vezes pela chama e deixar repousar cerca de 15 a 20 minutos. Após este 
procedimento a preparação pode ser vista ao microscópio. 
 
✓ Coloração de Gram: Apesar desta técnica ser de mais comum aplicação em 
bactérias, ela pode no entanto, ser aplicada em leveduras para a visualização 
de pseudo-hifas e cápsulas. 
 
✓ Tinta da Índia: Este procedimento é utilizado para detectar cápsulas em 
leveduras. As preparações são realizadas pela colocação de uma gota da 
solução numa lâmina de vidro, juntamente com uma pequena amostra do 
organismo. Em seguida deve-se adicionar uma lamela e deixar repousar 
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cerca de 10 a 15 minutos. Após este procedimento a preparação pode ser 
vista ao microscópio. 
 
✓ Coloração de Grocott: Este procedimento serve para a detecção de fungos 
pela coloração dos seus hidratos de carbono, tornando as paredes celulares 
negras ou castanhas. É uma técnica útil para identificar algumas leveduras 
causadoras de pneumonias, corando tanto células vivas como células mortas. 
 
✓ Coloração pelo ácido periódico de Schiff: É utilizado para a detecção de 
microfungos numa amostra complexa, uma vez que tinge as paredes 
celulares (células vivas apenas) de magenta. 
 
Para uma avaliação microscópica da cultura, podemos recorrer a 
quatro formas de montagem de preparações microscópicas. São elas: 
 
✓ Método “Tease-Mount”: Este método pode ser utilizado imediatamente após 
a maturação dos fungos a analisar. O método consiste em, cuidadosamente, 
colocar uma pequena área da colónia com a ajuda de anças estéreis numa 
lâmina. A remoção deve realizar-se a partir de uma zona intermédia da 
colónia, evitando as extremidades e o centro. Após a colocação do material 
na lâmina, este pode ser gentilmente espalhado pela mesma evitando, dentro 
do possível, a destruição da morfologia e orientação típicas das estruturas 
reprodutoras. Após a adição de lamela a preparação pode ser vista ao 
microscópio. Para conservar as preparações a longo termo, deverá proceder-
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Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. 
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se ao isolamento de todas as extremidades da lamela com verniz e deixar 
secar. 
 
 
Figura 6- Método "Tease-Mount" 
 
 
✓ Método do celofane ou fita-cola: Este método pode ser utilizado após a 
maturação das colónias fúngicas e consiste na utilização de um pedaço de 
fita cola ou de celofane transparente. Inicialmente, deve cortar uma pequena 
porção do adesivo e, segurando-o entre os dedos com o lado aderente virado 
para a colónia, pressionar contra o topo da mesma. Ao retirar o adesivo da 
placa de meio, as estruturas esporolantes vão estar presas à fita adesiva que 
pode ser colada numa lâmina. Para colocar a fita cola, deve-se esticar a fita 
nas zonas laterais e colocá-la firmemente na lâmina. Com esta técnica não é 
necessário a adição de uma lamela nesta técnica. Esta metodologia não pode 
ser usada permanentemente, podendo no entanto cuidadosamente ser 
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removida a fita cola e consequentemente colocar uma lamela e isolar as 
extremidades com verniz e deixar secar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
✓ Método do “Coverslip sandwich”: Este método é realizado pela colocação 
do fungo em crescimento em meio de cultura intercalado entre duas lamelas. 
As lâminas são de seguida inseridas diretamente na superfície do agár numa 
posição de 45º. Após a maturação da colónia, as lamelas são removidas e 
colocadas em lâminas que podem ser visualizadas ao microscópio e seladas 
com verniz. 
 
✓ Método do “Slide culture” ou das câmaras húmidas de Ridell: Esta técnica é 
utilizada para a observação de fungos providos de micélios frágeis ou para a 
descrição da forma e disposição de estruturas reprodutoras. É a técnica mais 
aconselhada para a análise de culturas, uma vez que permite a análise directa 
a) b
) 
c) 
Figura 7- a) preparação da fita-cola para contacto; b) contacto entre a superfície adesiva e a colónia; c) montagem em lámina; 
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após o crescimento sobre uma lâmina de microscopia. Para a realização desta 
técnica é necessário cultivar os espécimes directamente sobre uma lâmina, 
no interior de uma câmara húmida. A simulação de uma câmara húmida pode 
ser realizada pela colocação de papel de filtro estéril no interior de uma caixa 
de petri sem meio de cultura. O papel de filtro deve ser humedecido com 
água destilada de forma a evitar a secagem do bloco de agar inoculado. Após 
a preparação da câmara, um bloco do meio de cultura de cerca de 1 cm por 
1 cm deve ser cortado com a ajuda de um bisturi estéril. O bloco de agar deve 
ser em seguida colocado sobre uma lâmina estéril e este conjunto colocado 
dentro da placa de petri com o papel de filtro humedecido. Para a inoculação, 
pequenas porções da colónia fúngica devem ser inoculadas no cubo de agar 
montado na lâmina. As inoculações devem ser realizadas a meio do bloco, 
uma por cada lado. Por fim, deve ser colocada uma lamela na superfície do 
bloco e a caixa de petri deve ser fechada para evitar contaminações. Após 7 
a 10 dias de cultura numa estufa a 25 ºC as lamelas podem ser removidas 
gentilmente e passadas para novas lâminas, fixadas com lactofenol ou com 
resina apropriada e, de seguida, observadas ao microscópio. 
 
 
 
 
 
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Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. 
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a) 
c) 
d) 
e) 
f) b) 
Figura 8- a) Preparação da câmara humida; b) câmara húmida com preparação; c) bloco de agár em lâmina; d) 
agár inoculado; e) bloco com lamela;f) preparação após 7 dias de incubação em câmara húmida; 
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Organização estrutural de microfungos 
Textura, morfologia e topologia de culturas 
 
Quando é necessário realizar a descrição de uma colónia ou realizar 
a sua avaliação com vista à sua identificação, três grandes características 
macroscópicas devem ser analisadas. Estas características são: a textura, 
morfologia e topologia das colónias. Em adição, caso as colónias libertem 
pigmento para o meio alterando a sua cor e este deve também ser avaliado. 
Em termos de textura de colónias, de uma forma geral, podemos ter 
6 grandes tipos. São eles: 
 
✓ “Cottony/Woolly” (aparência de lã de ovelha) 
✓ “Velvety/Suede-like” (aparência de veludo) 
✓ “Powdery” (aparência polvorosa ou em pó) 
✓ “Granular/Sugary” (aparência granular ou arenosa) 
✓ “Glabrous/Waxy” (aparência glabra ou brilhante) 
✓ “Creamy” (aparência cremosa) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Figura 9- Exemplos de tipos de textura de colónias: a) “Cottony/Woolly” b) “Velvety/Suede-like” c) “Creamy” d) “Powdery” 
e) “Glabrous/Waxy”; 
a) 
b) 
c) 
d) 
e) 
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Em termos de morfologia de colónias, podemos de uma forma geral, 
ter 3 grandes tipos. São eles: 
 
✓ Rugosas (descreve colónias que são enrugadas, dobradas e estriadas). 
✓ Verrucosas (descreve colónias que são elevadas, enrugadas ou enroladas e 
com aspecto de verrugem). 
✓ Umbiculadas (descreve colónias que se elevam num ponto leve, ou com 
elevação no meio, ou que apresentam forma de botões/ amontoados). 
 
Em termos de topologia das colónias, podemos analisar três 
propriedades, forma, elevação e margem: 
 
- Forma: 
 
✓ Circular 
✓ Irregular 
✓ Filamentosa 
✓ Rizóide 
✓ Punctiforme 
✓ Em fuso 
 
 
 
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- Elevação: 
 
✓ Plana 
✓ Elevada 
✓ Convexa 
✓ Pulvinada 
✓ Umbiculada 
✓ Crateriforme 
 
- Margem: 
 
✓ Inteira 
✓ Ondular 
✓ Lobada 
✓ Irregular 
✓ Filamentosa 
✓ Enrolada/encaracolada 
 
 
 
 
 
 
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Figura 22- Hifas septadas (à esquerda) e hifas não septadas ou cenocíticas (à direita). 
Micromorfologia básica de microfungos 
 
As hifas que compõem o corpo de um fungo podem ser de dois tipos, 
vegetativas (hifas que absorvem o alimento e que normalmente se econtram 
na superfície do ágar) ou aéreas (hifas que podem suster estruturas 
reprodutoras e que se estendem acima da superfície do agár). As hifas aéreas 
podem servir de apoio a estruturas reprodutoras diferenciadas e são 
normalmente as responsáveis por características como a cor e a textura, 
quando se visualiza a parte frontal da colónia. As hifas vegetativas são 
responsáveis pelas características verificadas na parte reversa. Ambas 
ajudam na identificação e distinção das diferentes espécies. 
As hifas podem ainda ser asseptadas (sem paredes laterais) ou 
septadas/cenocíticas (contendo paredes laterais). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Estratégias de reprodução em microfungos 
 
As frutificações ou estruturas reprodutoras dos fungos realizam as 
funções de preservação e disseminação da espécie através da formação de 
células especiais chamadas de esporos. Esses esporos podem ser hialinos, 
pigmentados, simples, septados, apresentando várias formas que, muitas 
vezes, caracterizam géneros e espécies de fungos. 
A reprodução de fungos pode ser assexuada ou sexuada. A reprodução 
assexuada ocorre por fissão binária (mitose), com divisão nuclear e 
citoplasmática. Este fenómeno também é conhecido como conidiogénese ou 
formação de conídios. Os conídios são formados a partir da célula-mãe 
separando-se por formação do septo e posterior crescimento. 
A reprodução sexual ocorre através da união de dois núcleos num 
único zigoto. Os esporos, de acordo com a sua origem, podem ser assexuados 
ou sexuados e tanto um como outro tipo podem estar no interior de 
determinadas estruturas: 
 
- Esporos de origem assexuada: 
 
✓ Ectósporos: esporos que se formam na extremidade de hifas especiais 
(conidióforos). Esses esporos são denominados conídios e são encontrados 
nos géneros Aspergillus, Penicillium, etc. 
✓ Endósporos: esporos produzidos no interior de estruturas denominadas 
esporângios, que se desenvolvem na extremidade de esporangióforos. Nesse 
caso os esporos são denominados esporangiósporos. 
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- Esporos de origem sexuada: 
 
✓ Ectósporos: esporos produzidos na extremidade de basídios, denominam-se 
basidiósporos. 
✓ Endósporos: esporos produzidos no interior de células denominadas ascos, 
encerrados dentro de ascocarpos. Nesse caso os esporos são denominados 
ascósporos. 
 
A forma como ocorre a formação dos conídios é muitas vezes uma 
característica distintiva entre muitas espécies de fungos. Os conídios apesar 
de resultarem do processo mitótico, podem formar-se de várias formas. 
Assim encontramos: 
 
✓ Blastoconídios: são produzidos por divisão binária. 
✓ Poroconídios: são formados quando a célula filha é libertada por um poro no 
topo da célula original. 
✓ Fiáloconídios: são estruturas que são formadas a partir de um fiálide, que se 
trata de uma estrutura em forma de vassoura no terminal de um conidióforo. 
✓ Aneloconídios: são formados a partir de um anel em forma de vaso. 
✓ Macroconídios/Microconídios: são formados quando um elemento inteiro da 
hifa se converte num conídio multicelular. A formação de microconídeos 
ocorre da mesma forma, no entanto, as hifas são asseptadas. 
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✓ Clamidoconídios: são conídios de sobrevivência que têm paredes grossas e 
se formam durante condições ambientais extremas. A sua germinação levará 
à produção de mais conídios quando as condições estiverem mais favoráveis. 
✓ Artroconídios: são estruturas que resultam da fragmentação das hifas nos 
pontos de septação e que se separam dentro da cadeia de hifas original antes 
de se dispersarem independentemente. 
 
Pelo seu lado, os esporangiósporos são formados em fungos 
asseptados e são considerados distintos dos conídios, que apenas se formam 
em fungos septados. Estes esporos formam-se dentro de uma estrutura 
especializada chamada esporângio, que é suportado por uma base (columela)organizada numa haste (esporangióforo). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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a
) 
b
) 
c) 
d
) 
e) 
f) 
Figura 10- Tipos de conídios: a) blastoconídios; b) poroconídios; c) fialoconídios; d) 
clamidoconídios; e) artroconídios; f) aneloconídios; 
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Conceitos básicos de identificação molecular 
de microfungos 
 
A morfologia tem sido desde sempre a base de quase todos os estudos 
taxonómicos de fungos. A maioria das espécies foram descritas porque a sua 
morfologia era distintiva de outros taxa. No entanto, as limitações da 
morfologia para a taxonomia foram reconhecidas logo no início, e como tal, 
os micologistas tentaram incorporar outras informações complementares 
com vista a atingirem-se consensos na identificação e distinção de espécies. 
As extensas variações no tamanho, forma e na capacidade de cultivo 
das várias espécies de fungos, traduziram-se também em grandes desafios no 
estudo da sua diversidade. Em adição, devido à longa história de descrição e 
caracterização de espécies, os critérios utilizados por diferentes taxonomistas 
são díspares, tornando difícil uma comparação, por vezes, até dentro do 
mesmo grupo de fungos. 
As ferramentas moleculares foram utilizados pela primeira vez em 
micologia na década de 1970, o que marcou o início de uma nova era na 
taxonomia destes organismos e que sofreu um crescimento explosivo nas 
últimas décadas. As sequências de DNA são agora usadas de uma forma 
rotineira em taxonomia e filogenia de fungos. 
Sendo assim, a identificação de fungos hoje em dia é realizada muitas 
vezes de uma forma bi-fásica, isto é, onde métodos de identificação 
morfológica clássicos são aliados a métodos de identificação molecular 
modernos, num processo complementar com duas etapas. 
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Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. 
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Em 2012, o International Fungal Barcoding Consortium, 
recomendou formalmente a região ITS como barcoding oficial para a 
distinção de espécies fúngicas. Primers universais estão disponíveis para a 
amplificação das regiões ITS por reacção de PCR, que podem 
posteriormente ser sequenciadas e comparadas com as mais de 100000 
sequências depositadas nos bancos de dados internacionais, fornecendo por 
isso, uma referência fidedigna para a identificação molecular de espécies de 
fungos. 
As regiões ITS são biologicamente importantes no processamento dos 
RNAs ribossomais, uma vez que formam estruturas secundárias específicas, 
imprescindíveis para o correcto reconhecimento de locais de clivagem e para 
a ligação de proteínas e RNAs nucleolares durante a maturação dos 
ribossomas. Pela sua importância são zonas altamente conservadas nas quais, 
no entanto, é biologicamente admissível a alteração do seu tamanho e das 
suas sequências, desde que esta variação não altere a formação de estruturas 
secúndarias e o consequente processamento do rRNA. 
Os espaçadores ITS1, ITS2 e o rDNA 5.8S são regiões óptimas para 
estudos de diversidade, devido ao seu grande número de cópias no genoma 
e serem consequentemente regiões de fácil amplificação, pelo facto de não 
estarem sujeitas a transferência horizontal e devido ao elevado grau de 
polimorfismo apresentado entre espécies distintas. 
A região ITS demonstra assim uma grande variação inter-específica, 
uma vez que beneficia de uma rápida taxa de evolução (para saber mais sobre 
identificação de fungos por biologia molecular ver Xu, 2016). 
 
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Figura 23-Organização das regiões ITS. 
 
 
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Conceitos de espécie e classificações 
O conceito de espécie em Micologia 
 
A maioria dos conceitos discutidos até aqui dependem da capacidade 
de identificar cada organismo e consequentemente atribuir-lhe com 
confiança um nome para uma espécie. 
No entanto, o que é uma espécie? O debate ocorre há muitos anos, 
mas não existe ainda uma definição universal de espécie. 
Assim em micologia os conceitos mais aplicados para a definição de 
espécie são: 
 
✓ Conceito morfológico de espécie: Define as diferentes espécies baseado em 
semelhanças e diferenças em termos de caracteres morfológicos. As 
problemáticas deste tipo de classificação em micologia estão relacionadas 
com o facto de poucos caracteres possam defenir limites claros entre espécies 
distintas. Os casos de evolução convergente em que espécies distintas 
apresentam morfologias idênticas são também uma problemática. 
 
✓ Conceito biológico de espécie: Define uma espécie como sendo um conjunto 
de populações que se pode cruzar entre si e que se encontra isolada 
reprodutivamente de outras distintas. As problemáticas deste tipo de 
classificação em micologia prendem-se com o identificar barreiras 
reprodutivas e com os casos de organismos homotálicos (com ambos os 
sexos num só organismo). 
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Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. 
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✓ Conceito ecológico e fisiológico de espécie: Define espécies distintas 
baseando-se nas suas características ecológicas e fisiológicas, por exemplo, 
com o hospedeiro que parasitam. As problemáticas deste tipo de 
classificação em micologia prendem-se com organismos que não possuem 
um substracto ou um hospedeiro obrigatório. 
 
✓ Conceito evolutivo e filogenético de espécie: Define espécies distintas 
baseado nas suas características moleculares, à luz da sua linhagem 
evolutiva. Este conceito considera uma espécie como sendo um grupo 
monofilético (que originam apenas de um ancestral comum) de organismos 
que compartilham semelhanças moleculares e que derivam de um ancestral 
comum. Desta forma, este conceito acaba por não criar nenhuma exclusão 
ou possuir nenhuma limitação óbvia. 
 
✓ Conceito consolidado de espécie: É uma extensão do conceito evolutivo e 
filogénetico de espécies, no qual se tenta obter um consenso na delimitação 
de espécies por comparação de dados da biologia molecular, ecologia, 
fisiologia e morfologia. 
 
Em micologia, mais alguns conceitos sobre espécies são 
importantes. Nomeadamente: 
 
✓ Complexo de espécies: Espécies que são extremamente semelhantes ao 
ponto de não ser possível colocar um limite claro que as separe. 
 
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✓ Espécies cripticas: Quando duas ou mais espécies estão “mascaradas” no 
nome de apenas uma. 
 
✓ Espécies irmãs: Quando duas espécies cripticas são também o ancestral 
relativo mais próximo uma da outra. 
 
✓ Bando de espécies: Quando duas espécies distintas mas evolutivamente 
próximas, partilham o mesmo habitat. 
 
 
 
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Classificação de microfungos 
 
Os microfungos são organismos heterotróficos pertencentes ao 
Domínio Eukarya e ao Reino Fungi. Apesar de os sistemas de classificação 
variarem muito ao longo dos tempos e consoante os autores, é geralmente 
consensual considerar que de uma forma clássica: 
Ascomycota são fungos tipicamente micelianos com septos, cuja 
reprodução assexuada origina conídios imóveis e a reprodução sexuada 
forma ascocarpos (corpos frutíferos), que produzem ascos com 8 ascósporos; 
dentro do filo Ascomycota estão incluídos os chamados “Fungos 
Imperfeitos” (Deuteromycetes) cuja principal diferença para os restantes 
Ascomycota prende-se com o desconhecimento da existência de reprodução 
sexuada. As Leveduras fazem parte do filo Ascomycota e pertencem 
predominantemente à classe Saccharomycetes, grupo de microrganismos 
unicelulares, que se reproduze assexuadamente por brotamento ou por 
cissiparidade e que promovem a fermentação alcoólica. 
Zygomycota são fungos terrestres, usualmente saprófitos. Algumas 
das suas espécies constituem associações com o sistema radicular de algumas 
plantas (micorrizas), em que o estado vegetativo é tipicamente miceliano, 
sem septos. As suas paredes celulares possuem quitina e citosanas, a 
reprodução assexuada origina esporos imóveis no interior de esporângios e 
a reprodução sexuada resulta da fusão de progametângios (hifas férteis), que 
originam um zigósporo. 
Basidiomycota (ver guia prático “Macrofungos”) são fungos 
tipicamente micelianos, com septos, cuja reprodução assexuada origina 
João Trovão e Leonel Pereira 
Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. 
Departamento de Ciências da Vida - Universidade de Coimbra 
 
 
 
 
 
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conidiósporos imóveis e a reprodução sexuada inicia-se com a fusão de hifas 
de um micélio primário, do qual resulta um micélio secundário, a que se 
segue a formação de um basidiocarpo (corpo frutífero habitualmente 
denominado “cogumelo”), que produz basídios com 4 basidiósporos. 
Para além destes filos existem outros não considerados neste guia 
prático: os Glomeromycota (todos os representantes deste filo se 
reproduzem-se assexuadamente formando glomerósporos. Caracterizam-se 
por formar associação com raízes da maioria das famílias de plantas); e os 
Chytridiomycota (filo constituído predominantemente por fungos 
aquáticos). 
Recentemente, a classificação de 2007 do Reino Fungi é o resultado 
de um esforço colaborativo em larga escala envolvendo muitos 
taxonomistas, e resulta da combinação de características morfológicas e 
moleculares. A classificação aceita um reino, um sub-reino, sete filos, dez 
sub-filos, 35 classes, 12 sub-classes e 129 ordens. Nesta classificação dois 
dos filos, Ascomycota e Basidiomycota encontram-se contidos num só ramo 
representando o subclasse Dikarya, o grupo mais rico em espécies e famílias, 
incluindo todos os cogumelos, a maioria dos fungos fitopatogénicos e as 
leveduras, refletindo a importância da presença de hifas dicarióticas. 
Esta classificação contém assim os filos: 
 
✓ Chytridiomycota 
✓ Neocallimastigomycota 
✓ Blastocladiomycota 
✓ Microsporidia 
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✓ Glomeromycota 
✓ Basidiomycota 
✓ Ascomycota 
 
Outra característica distintiva face as classificações mais tradicionais 
é a extinção da classificação dos Zygomycota clássicos, que passam a estar 
divididos por outros grupos para os quais ainda existem estudos a decorrer. 
São eles: 
 
✓ Entomophthoromycotina 
✓ Kickxellomycotina 
✓ Mucoromycotina 
✓ Entorrhizomycotina 
✓ Zoopagomycotina 
 
Para efeitos de identificação com base nas chaves a seguir 
apresentadas, ambas as classificações são representadas. 
https://en.wikipedia.org/wiki/Zoopagomycotina
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Chaves simples de identificação 
 
1. Eumycota (verdadeiros fungos): 
1.1 Hifas cenocíticas…………....”Zygomycota”/Mucoromycotina (Chave I) 
1.2 Hifas septadas..........................................................................................2 
 
2. Dikarya (fungos superiores): 
2.1Esporos produzidos em basídios (basidiósporos)……………. 
……………............................................Basidiomycota (Guia Macrofungos) 
2.2 Esporos produzidos em ascos (ascósporos)…………............Ascomycota 
 
3. Ascomycota: 
3.1 Fungos unicelulares………………..……….Saccharomycetes (Chave II) 
3.2 Fungos multicelulares filamentosos……………….……………………4 
 
4. Ascomycota multicelulares: 
4.1 Com conídios, sem ascósporos................” fungi imperfecti” (Chave III *) 
4.2 Com ascósporos….............................................Ascomycetes (Chave IV) 
 
 
*- Nota: A chave III, contém géneros considerados como verdadeiros fungos imperfeitos, mas também géneros que de 
uma forma clássica foram considerados como sendo imperfeitos. No entanto, alguns destes fungos foram 
reclassificados quer após a abolição do antigo artigo 59 do código de nomenculatura (permissão para dois nomes 
distintos em fungos pleomórficos), quer pela descrição do seu estado sexuado ou quer por novas análises moleculares. 
Fornece-se assim informação relativa apenas aos estados anamorfos das mesmas. As espécies que se englobam neste 
último caso são: Botrytis, Aspergillus, Penicillium, Trichoderma e Fusarium. 
 
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Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. 
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Chave I- ”Zygomycota” Mucoromycotina. 
 
1. Esporângióforos: 
1.1 Agrupamento apical de esporangíolos......................…..Syncephalastrum 
1.2 De outro tipo.....,......................................................................................2 
 
2. Esporângióforos: 
2.1 Com columela…….…………………………………………………….3 
2.2 De outro tipo ………………………..………………….....…Mortierella 
 
3. Esporângióforos: 
3.1 Esporangióforos isolados, sem estolhos e rizóides……………..…Mucor 
3.2 Esporangióforos em feixes……………...................................................5 
 
4. Esporângióforos: 
4.1 Esporangióforos grandes e fotossensíveis..............................Phycomyces 
4.2 Com estolhos e rizóide…………………..………......................Rhizopus 
 
 
 
 
 
 
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Mortierella 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 11- a) e b) Exemplos de colónias de Mortierella sp.; c) e d) exemplos 
esporangióforos de Mortierella sp.; 
a) b) 
c) d) 
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As espécies de Mortierella encontram-se inseridas numa das maiores 
ordens fúngicas basais, com quase 100 espécies descritas. 
Como muitas linhagens basais, são caracterizadas por caracteres 
macro e micro morfológicos simples e reduzidos. 
As colónias geralmente apresentam crescimento típico zonado e em 
forma de rosácea, com o micélio coenocítico jovem tornando-se septado 
irregularmente em culturas mais velhas. Muitas apresentam um odor típico 
semelhante ao do alho. 
A reprodução ocorre através de esporângios ou esporangiolos, através 
da formação de zigósforos e nalguns casos, porclamidósporos. 
Do ponto de vista ecológico, as espécies de Mortierella são 
normalmente isoladas de solos, tecido de plantas mortas ou doentes, 
artrópodes e dejetos de animais. 
Recentemente, muitas espécies de Mortierella foram destacadas como 
organismos interessantes para aplicações biotecnológicas, pois apresentam 
potencial como produtores de ácidos gordos insaturados ou capacidade para 
converter compostos orgânicos. 
 Adicionalmente, várias espécies de Mortierella também demonstram 
capacidade para serem aplicadas como agentes degradantes naturais de 
pesticidas, o que sugere que poderiam ser uma boa solução para a 
biorremediação de locais contaminados com pesticidas organoclorados. 
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Mucor 
 
 
Figura 12- a) e b) Exemplos de colónias de Mucor sp.; c) exemplo de um esporangiofóro de 
Mucor sp. d) exemplo de esporos e columela de Mucor sp.; 
a) b) 
c) d) 
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As espécies de Mucor encontram-se inseridas numa das ordens 
fúngicas mais estudadas dos fungos filogeneticamente inicialmente 
divergentes. 
As colónias deste género são tipicamente brancas ou beges e crescem 
a um ritmo rápido, tornando-se cinza ou acastanhadas devido ao 
desenvolvimento de esporos. Os seus esporos podem ser simples ou 
ramificados e são normalmente formados em esporângios suportados por 
columela com diversas formas. 
Do ponto de vista ecológico, as espécies de Mucor são normalmente 
isoladas de solos, tecidos de plantas, vegetais em decomposição, sistemas 
digestivos de animais, como contaminante em alimentos processados e em 
vários tipos de queijo. 
Algumas espécies de Mucor têm uma importância económica 
considerável. A espécie M. circinelloides é uma potencial fonte de carotenos 
e lípidos uma vez que os acumulam em grandes quantidades no seu micélio. 
Em adição crescem com relativa facilidade e produzem muita biomassa em 
biorreatores. Os lípidos desta espécie ganharam uma atenção especial porque 
podem facilmente ser convertidos em biodiesel, surgindo como alternativa 
aos óleos de origem vegetal como matéria-prima para a produção deste tipo 
de combustível. 
Pelo lado negativo, algumas espécies são responsáveis pelo grupo de 
infecções conhecidas como “Zigomicoses” que causam infecções nas 
mucosas, cerebrais, peritonites, infecções renais, gástricas e pulmonares. 
 
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Rhizopus 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 13- a) e b) Exemplos de esporângioforos de Rhizopus sp.; c) exemplos 
de estolhos de Rhizopus sp.; d) exemplos de rizóides de Rhizopus sp.; 
a) b) 
c) d) 
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O género Rhizopus engloba um conjunto de espécies saprófitas ou que 
parasitam de forma especializada algumas espécies de animais. 
As espécies de Rhizopus crescem através da expansão de hifas 
filamentosas e ramificadas coenocíticas e a reprodução ocorre pela formação 
de esporos sexuais e assexuais. 
Na reprodução assexuada, os esporangiosporos são produzidos dentro 
de esporângios suportados por uma grande columela. Os esporangióforos 
surgem entre estruturas semelhantes a pequenas raízes, os rizóides. Na 
reprodução sexual, um zigósporo de cor escurecida é produzido no ponto em 
que dois micélios compatíveis se fundem. 
Do ponto de vista ecológico, as espécies de Rhizopus são isoladas de 
uma grande variedade de substratos orgânicos tais como frutas, vegetais, 
alimentos processados, couro, pão e plantas. 
A espécie mais importante de Rhizopus (R. stolonifer), é uma das 
espécies de fungo mais amplamente distribuídas mundialmente tratando-se 
de um contaminante comum de alimentos. Esta espécie é reconhecida pelo 
seu aparecimento no pão, sendo conhecida vulgarmente como o bolor negro 
do mesmo. Algumas espécies são também fitopatogénicas e podem causar 
complicações do ponto de vista médico. 
Por outro lado, algumas espécies são utilizadas para a produção de 
bebidas alcóolicas e na produção comercial de ácido fumárico e cortisona. 
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Chave II- Ascomycota, Saccharomycetes. 
1. 
1.1 Fungo unicelular com micélio gemulante.................................................2 
1.2 Esporos (bastonetes) resultam da fragmentação de hifas….....Geotrichum 
 
2. 
2.1 Multiplicação por cissiparidade……..................….Schizosaccharomyces 
2.2 Multiplicação por brotação................................................Saccharomyces 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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As leveduras são normalmente fungos unicelulares com algumas 
espécies capazes de desenvolver características semelhantes aos organismos 
multicelulares. Estas características podem sobre a forma de conexões entre 
células em divisão ou pela formação de pseudo-hifas ou hifas falsas. 
As leveduras são muito comuns no ambiente, e estão muitas vezes 
associadas a locais ricos em açúcares. Podem no entanto também ser 
encontradas associadas ao solo, em águas profundas ou na flora intestinal de 
mamíferos e invertebrados. Algumas podem ainda ser encontras na flora 
natural cutânea e das mucosas, tais como Candida albicans, Rhodotorula sp. 
e Trichosporon cutaneum. 
As leveduras podem reproduzir-se por ciclos sexuais e assexuais, 
sendo que o modo mais comum de crescimento ocorre por brotação. 
As propriedades fisiológicas naturais das leveduras levaram a sua 
utilização pelo homem de uma forma clássica ou aplicada em biotecnologia. 
A fermentação de açúcares é a mais antiga e maior aplicação destas 
Figura 14- Saccharomyces cerevisiae. 
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características fisiológicas. Muitas espécies de leveduras são utilizadas para 
a confecção de muitos alimentos e bebidas, tais como a produção de 
fermento para a produção de pão, a fermentação do vinho e da cerveja. 
Adicionalmente, algumas espécies de leveduras apresentam capacidade para 
serem utilizadas na indústria biotecnológica, sendo aplicadas em 
bioremediação para a degradação de efluentes, hidrocarbonetos, ácidos 
gordos, óleos e materiais explosivos (TNT- trinitrotolueno). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Por outro lado, as leveduras incluem alguns dos organismos modelo 
mais amplamente utilizados para a investigação científica em genética e 
biologia celular e molecular (por exemplo Candida albicans e Cryptococcus 
neoformans). 
Do ponto de vista clínico, várias espécies de leveduras são patogénicas 
oportunistas, causando micoses em pacientes imunocomprometidos 
(Cryptococcus) e infecções orais e vaginais, vulgarmente conhecidas como 
candidíases (Candida sp.), onde as espécies comuns das mucosas se tornam 
patogénicas pelo crescimento de pseudo-hifas.Figura 15- Representação de Geotrichum (a esquerda) e Schizosaccharomyces (a direita). 
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Por fim, dado a sua atracção por açúcares, podem também crescer em 
alimentos ricos em fontes de carbono facilmente metabolizadas, levando a 
sua deterioração (fenómeno conhecido como Food Spoilage). 
 
 
Figura 16- Pseudo-hifas de Candida albicans. 
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Chave III- Ascomycota, “fungi imperfecti”. 
1. 
1.1 Conídios constituídos por 1 ou 2 células...................................................2 
1.2 Conídios com 2 ou mais células…………………………..….................7 
 
2. 
2.1 Conídios em cadeias de 2 ou mais células……………………..………...3 
2.2Conídios em pedúnculos e em cachos; conidióforos com brilho....Botrytis 
 
3. 
3.1 Conídios acrópetos, com forma variável, ovóides, em forma de limão ou 
alongados, na maioria com uma célula, mas podendo haver 2 ou 3 
células…………..…………………...……...………..…….…Cladosporium 
3.2 Conídios basipetos, com os mais jovens na base da 
cadeia...………………..…………….……..………….....……….…….4 
3.3 Blastoconídios unicelulares, não hialinos…………….....Aureobasidium 
 
4. 
4.1 Conidióforos com origem em células basais especializadas e terminando 
em vesículas..………………………….……………………......Aspergillus 
4.2 De outro tipo……………..…..…………...……………………….........5 
 
 
 
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5. 
5.1 Conídios globosos, geralmente verdes.………………..….....Penicillium 
5.2 Conídioforos divididos irregularmente….........................…Trichoderma 
 
6. 
6.1 Conídios com um único septo, pelo menos 2 células...............................7 
6.2 Conídios com mais de 3 células…………………………………..……..8 
 
7. 
7.1 Conídios hialinos e colónia cor-de-rosa…………………...Trichotecium 
7.2 Conídios pigmentados e meio com pigmento avermelhado.....Epicoccum 
 
8. 
8.1 Conídios fragmospóricos, hialinos em forma de ”banana”…....Fusarium 
8.2 Talo diferente....…………………………………..…………..Alternaria 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Botrytis 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 17- a) e b) Exemplos de colónias de Botrytis sp.; c) e d) exemplos de conídios em cachos de Botrytis sp.; 
a) b) 
c) d) 
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O género Botrytis engloba um conjunto de espécies de fungos 
anamórficos normalmente saprófitas ou parasitas de plantas. Sendo 
parasitas, são impactantes patógenos de muitas culturas agronomicamente 
importantes tais como a videira, o tomate e as plantas ornamentais A sua 
forma teleomórfica é conhecida por Botryotinia. As espécies de Botrytis 
crescem através da produção de conidióforos robustos, de cor escura e 
ramificados que possuem aglomerados de conídios mais pálidos em posição 
apical. Os seus conídios são dispersados pela chuva e pelo vento. Algumas 
espécies podem também formar esclerócios de sobrevivência. 
Do ponto de vista ecológico, as espécies de Botrytis são isoladas de 
uma grande variedade de hospedeiros (plantas) quer de interior quer de 
exterior. 
A espécie mais conhecida é o Botrytis cinerea e trata-se de um fungo 
necrotrófico fitopatogénico que afeta muitas espécies de plantas, com 
especial incidência em vinhas e no morangueiro. Na viticultura e na 
horticultura, é comumente conhecido como podridão cinzenta. Não é 
patogénico para humanos, podendo no entanto causar alergias repiratórias 
em indivíduos predispostos a tal. 
Devido as perdas que causa do ponto de vista agrícola, existem várias 
opções para o seu controlo, que englobam a calendarização da aplicação de 
fertilizantes, o aumento do espaçamento entre plantas, a remoção de partes 
lesadas, a aplicação de tratamentos químicos e de tratamentos biológicos 
utilizando para isso os fungos Trichoderma harzianium e Gumocladium 
Roseum. 
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Cladosporium 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 18- a) e b) Exemplos de colónias de Cladosporium sp.; c) e d) exemplos de conídios de Cladosporium sp.; 
a) b) 
c) d) 
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O género Cladosporium engloba mais de 750 espécies, representando 
um dos maiores grupos de fungos dematiáceos (de cor negra) conhecidos. O 
género é caracterizado pela presença de complexos de melanina em níveis 
elevados nas suas paredes celulares. 
As suas espécies encontram-se amplamente distribuídas 
mundialmente e incluem os fungos mais comuns em ambientes internos e 
externos. Os esporos de Cladosporium são facilmente dispersos pelo vento 
e geralmente são extremamente abundantes no ar podendo 
consequentemente crescer em superfícies mesmo quando pouca humidade 
está presente. 
Muitas espécies são muitas vezes altamente extremotolerantes, 
crescendo facilmente em meios contendo até 20% de NaCl. Por esta razão, 
são comuns em ambientes hipersalinos e extremos, onde muitos outros 
organismos não conseguem crescer. Os seus esporos são também muito 
frágeis, o que faz com que seja bastante difícil a preparação de amostras para 
microscopia de forma a manter a morfologia original das estruturas. 
As espécies de Cladosporium raramente são patogénicas para 
humanos, mas foram relatadas como casualmente causando infecções 
cutâneas e respiratórias. Os esporos são alergénicos que em grandes 
quantidades podem afetar severamente indivíduos asmáticos e pessoas com 
doenças respiratórias. As espécies de Cladosporium não produzem 
micotoxinas importantes, mas produzem vários compostos orgânicos 
voláteis. 
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Aureobasidium 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 19- a) b) Exemplos de colónias de Aureobasidium sp.; c) exemplo de cadeias de conídios de 
Aureobasidium sp.; d) exemplo de conídios de Aureobasidium sp.; 
a) b) 
c) d) 
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O género Aureobasidium é um fungo cosmopolita, presente em diversos 
ambientes tais como o solo, água, ar e em pedras calcáricas. É também 
isolado à superfície ou endofiticamente em várias espécies de plantas (por 
exemplo na maçã, uva, pepino e feijão verde) sem causar nenhuma doença. 
O género é caracterizado por possuir polimorfismos, sendo capaz de 
crescer sob a forma de micélio e de uma forma semelhante as leveduras. É 
por isso muitas vezes caracterizado como parte das “leveduras negras”. 
Devido a estas características, são muitas vezes isolados de monumentos 
calcáricosdegradados, onde produzem manchas negras pelo seu 
estabelecimento e crescimento. 
A espécie Aureobasidum pullulans é particularmente conhecidas pelas 
suas aplicações na biotecnologia, uma vez que produz pullulan (poli-a-1,6-
maltotriose), um biomaterial promissor, actualmente utilizado no 
embalamento de produtos alimentares e de medicamentos. Adicionalmente 
produz diversas enzimas hidrolíticas com várias aplicações. 
A espécie A. melanogenum é conhecida por causar alguns problemas 
respiratórios e reações inflamatórias após exposição prolongada em 
humanos. 
Durante muito tempo, consideraram-se quatro variedades de A. pullulans 
como se tratando da mesma espécie, no entanto após a sequenciação do 
genoma das quatro verificou-se tratarem-se na verdade de quatro espécies 
distintas. 
 
 
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Aspergillus 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 20- a) b) Exemplos de colónias de Aspergillus sp.; c) exemplo de cabeça conídial 
de Aspergillus sp.; d) exemplo de esporos de Aspergillus sp.; 
a) b) 
c) d) 
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O género Aspergillus é um fungo cosmopolita, presente em diversos 
ambientes e composto por cerca de 250 espécies. A sua forma teleomórfica 
é conhecida por Emericella. 
O género é caracterizado pelas vesículas em forma de aspersório (do latim 
aspergillum) onde se encontram os esporos. 
As suas espécies possuem a capacidade de crescer em altas pressões 
osmótica, são fortemente aeróbicas e como tal, são encontradas em quase 
todos os ambientes ricos em oxigénio. 
Do ponto de vista ecológico, crescem em substratos ricos em carbono e 
são contaminantes comuns de produtos alimentares (bolor do pão e das 
frutas), podendo ainda infectar ou crescer na superfície de muitas plantas e 
árvores. 
Do ponto de vista biotecnológico, são fontes de moléculas naturais 
aplicadas na indústria farmacêutica. A espécie A. niger é capaz de produzir 
ácido cítrico, contribuindo com 99% da produção mundial do mesmo. 
Algumas espécies são também utilizadas na produção de diversas enzimas 
com interesse comercial. 
Pelo lado negativo, algumas espécies podem causar infecções em animais 
e em humanos como A. flavus e A. fumigatus uma vez que produzem 
aflatoxina que é simultaneamente uma toxina e um carcinogéno. 
Adicionalmente algumas espécies podem causar o conjunto de micoses 
denominadas por aspergiloses. Outras espécies são ainda agentes 
patogénicos agrícolas causando doenças em plantas como o milho. 
 
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Penicillium 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Figura 21- a) e b) Exemplos de colónias de Penicillium sp.; c) exemplo de fíalide composta por 
ramificações, métula e conídios em Penicillium sp.; 
a) b) 
c) 
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O género Penicillium é um fungo cosmopolita, presente em diversos 
ambientes e composto por cerca de 300 espécies. Os conidióforos deste 
género formam-se a partir do micélio em grande número e apresentam uma 
estrutura típica ramificada. Os conidiósporos são a sua principal via de 
dispersão e apresentam muitas vezes a cor verde. A reprodução sexual 
quando ocorre é realizada através da produção de ascósporos. 
Do ponto de vista ecológico, são considerados fungos de solo que 
preferem climas frescos e moderados, com materia orgânica disponível, mas 
também estão presentes no ar e em poeiras de ambientes internos. 
Várias espécies do gênero Penicillium desempenham um papel essencial 
na produção de queijo, como por exemplo as espécies Penicillium 
camemberti e Penicillium roqueforti. 
Além da sua importância na indústria alimentar, possuem também um 
papel essencial na produção de enzimas e macromoléculas com elevada 
aplicabilidade. Algumas espécies demonstram também potencial de uso na 
biorremediação. 
O género inclui uma grande variedade de espécies principais produtoras 
de antibióticos. A penicilina, produzida por P. chrysogenum foi descoberta 
acidentalmente por Alexander Fleming em 1929. A sua potencial utilização 
como antibiótico foi testada no final da década de 1930 quando Howard 
Florey e Ernst Chain purificaram e concentraram o composto. Pelo enorme 
impacto deste antibiótico durante a Segunda Guerra Mundial, reduzindo o 
número de mortos por infecção de feridas, Fleming, Florey e Chain 
ganharam em conjunto o prémio Nobel de Medicina em 1945. 
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Introdução ao estudo dos microfungos: Guia simples para a iniciação à identificação. 
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Outras drogas com efeitos antimicóticos como a griseofulvina foram 
também extraídas de outras espécies como por exemplo P. griseofulvum. 
Existem ainda espécies capazes de produzir moléculas com potencial 
aplicação na inibição de células tumorais e cancerígenas, pelo menos em 
testes laboratoriais. 
Pelo lado negativo, várias espécies são responsáveis pela degradação de 
alimentos processados e outras produzem várias micotoxinas severamente 
tóxicas. Algumas espécies afectam também algumas árvores de fruto tais 
como a macieira, a pereira e os citrinos. Outras espécies são ainda 
patogénicas para animais tais como por exemplo P. corylophilum, P. 
fellutanum e P. implicatum. 
Por fim, algumas espécies causam também alguns danos a maquinarias e 
aos materiais combustíveis e lubrificantes que estas utilizam. 
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Trichoderma 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Figura 22- a) e b) Exemplo de colónias de Trichoderma sp.; c) exemplo de conidióforo de Trichoderma sp.; d) 
e e) exemplos de conidióforos ramificados e com forma pirâmidal e conídios de Trichoderma sp.; 
a) b) 
c) d) e) 
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O género Trichoderma é um fungo cosmopolita saprófito, presente em 
quase todos os tipos de solos e é considerado como um dos fungos mais 
prevalentes quando cultivado a partir deste tipo de amostras. 
As suas culturas crescem rapidamente, inicialmente sendo transparentes 
mas tornando-se brancas e esverdeadas rapidamente. Os seus conidióforos 
são altamente ramificados e com ramos laterais podendo ter uma forma 
piramidal. Muitas espécies apresentam ainda um odor típico semelhante a 
côco. 
Os seus teleomorfos incluem espécies de Hypocrea. 
Do ponto de vista ecológico, as espécies de Trichoderma são isoladas de 
solos, cascas de árvores, madeira e sobe outras espécies de fungos. 
Várias espécies são utilizadas como agentes de controle biológico contra 
doenças fúngicas de plantas, com especial relevância para T. harzianum, T. 
viride e T. hamatum. São também empregues na produção da ciclosporina 
A, um imunossupressor utilizado em transplantes de órgãos de forma a evitar 
a rejeição. São ainda utilizados industrialmente para a produção de enzimas 
em bio-reactor, nomeadamente celulases, hemicelulases e

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