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1 0.1 Expansão do potencial para uma distribuição arbitrária de carga loca- lizada Considere um distribuição de cargas dada pela densidade ρ, restrita a uma região do espaço finita do espaço Ω (note que Ω está completamente contida em uma esfera de raio finito R): Sabemos que o potencial produzido por essa distribuição pode ser escrito como V (~r) = ∫∫∫ Ω kρ (~r′) dτ ′ |~r − ~r′| . Como, em geral, estamos interessados no potencial longe da distribuição de cargas, vamos supor que r > R (isso garante que r é sempre maior que r′) e escrever |~r − ~r′| = √ (~r − ~r′)2 = [ r2 + r′2 − 2rr′ cos θ′ ]1/2 = r [ 1 + ( r′ r )2 − 2r ′ r cos θ′ ]1/2 = r [1 + �] 1/2 , onde � é dado por � = ( r′ r )2 − 2r ′ r cos θ′ = r′ r ( r′ r − 2 cos θ′ ) . Podemos escrever agora, expandindo em �, 1 |~r − ~r′| = 1 r [1 + �] 1/2 = 1 r ( 1− 1 2 �+ 3 8 �2 − 5 16 �3 + 35 128 �4 − 63 256 �5 + ... ) ou, em termos de r, r′ e θ′, 1 |~r − ~r′| = 1 r { 1− 1 2 r′ r ( r′ r − 2 cos θ′ ) + 3 8 [ r′ r ( r′ r − 2 cos θ′ )]2 − 5 16 [ r′ r ( r′ r − 2 cos θ′ )]3 + ... } = 1 r { 1− 1 2 ( r′ r )( r′ r − 2 cos θ′ ) + 3 8 ( r′ r )2( r′ r − 2 cos θ′ )2 − 5 16 ( r′ r )3( r′ r − 2 cos θ′ )3 + ... } = 1 r { 1− 1 2 ( r′ r )( r′ r − 2 cos θ′ ) + 3 8 ( r′ r )2 [( r′ r )2 − 2 ( r′ r ) (2 cos θ′) + (2 cos θ′) 2 ] − 5 16 ( r′ r )3 [( r′ r )3 − 3 ( r′ r )2 (2 cos θ′) + 3 ( r′ r ) (2 cos θ′) 2 − (2 cos θ′)3 ] + ... } = 1 r [ 1 + ( r′ r ) cos θ′ + ( r′ r )2( −1 2 + 3 2 cos2 θ′ ) + ( r′ r )3( −3 2 cos θ′ + 5 2 cos3 θ′ ) + ... ] . Vamos introduzir os polinômios de Legendre 2 n Pn (x) 0 1 1 x 2 ( −1 + 3x2 ) /2 3 ( −3x+ 5x3 ) /2 4 ( 3− 30x2 + 35x4 ) /8 ... ... Usando esses polinômios, podemos escrever 1 |~r − ~r′| = 1 r [ P0 (cos θ ′) + ( r′ r ) P1 (cos θ ′) + ( r′ r )2 P2 (cos θ ′) + ( r′ r )3 P3 (cos θ ′) + ... ] = 1 r ∞∑ n=0 ( r′ r )n Pn (cos θ ′) = ∞∑ n=0 (r′) n rn+1 Pn (cos θ ′) Importante 1 |~r − ~r′| = ∞∑ n=0 (r′) n rn+1 Pn (cos θ ′) , r > r′ 1 |~r − ~r′| = ∞∑ n=0 rn (r′) n+1Pn (cos θ ′) , r′ > r Assim o potencial é escrito como V (~r) = ∫∫∫ Ω kρ (~r′) dτ ′ |~r − ~r′| = ∫∫∫ Ω kρ (~r′) dτ ′ [ 1 r ∞∑ n=0 ( r′ r )n Pn (cos θ ′) ] = k ∞∑ n=0 1 rn+1 ∫∫∫ Ω r′nPn (cos θ ′) ρ (~r′) dτ ′. Portanto, V (~r) = k ∞∑ n=0 1 rn+1 ∫∫∫ Ω r′nPn (cos θ ′) ρ (~r′) dτ ′. Isso é chamado expansão multipolar do potencial V . O termo n = 0 corresponde à contribuição monopolar; o termo n = 1 corresponde à contribuição dipolar; o termo n = 2 corresponde à contribuição quadrupolar; etc. 0.2 Expansão multipolar em coordenadas cartesianas Vamos expandir o termo |~r − ~r′|−1em série de Taylor em ~r′ e escrever 1 |~r − ~r′| = 1 r − ~r′ · ∇1 r + 1 2 (~r′ · ∇)2 1 r − ... = ∞∑ n=0 (−1)n n! (~r′ · ∇)n 1 r . Então, podemos escrever o potencial como 3 V (~r) = ∫∫∫ Ω kρ (~r′) |~r − ~r′| dτ ′ = ∫∫∫ Ω kρ (~r′) dτ ′ ∞∑ n=0 (−1)n n! (~r′ · ∇)n 1 r = ∞∑ n=0 (−1)n n! ∫∫∫ Ω kρ (~r′) [ (~r′ · ∇)n 1 r ] dτ ′ = k [∫∫∫ Ω ρ (~r′) dτ ′ ] 1 r − k ∑ i [∫∫∫ Ω ρ (~r′)x′idτ ′ ] ∂ ∂xi 1 r + k ∑ i,j [ 1 2! ∫∫∫ Ω ρ (~r′)x′ix ′ jdτ ′ ] ∂2 ∂xi∂xj 1 r −k ∑ i,j,k [ 1 3! ∫∫∫ Ω ρ (~r′)x′ix ′ jx ′ kdτ ′ ] ∂3 ∂xi∂xj∂xk 1 r + ... Chamamos de momento de monopolo elétrico a carga total Q = ∫∫∫ Ω ρ (~r′) dτ ′. Chamamos de momento de dipolo elétrico o vetor pi = ∫∫∫ Ω ρ (~r′)x′idτ ′. Chamamos de momento de quadrupolo elétrico1 o tensor de ordem 2 Qij = 1 2! ∫∫∫ Ω ρ (~r′)x′ix ′ jdτ ′. Chamamos de momento de octopolo elétrico o tensor de ordem 3 Qijk = 1 3! ∫∫∫ Ω ρ (~r′)x′ix ′ jx ′ kdτ ′. Com essas definições, podemos escrever o potencial como V (~r) = k Q r − ∑ i pi ∂ ∂xi 1 r + ∑ i,j Qij ∂2 ∂xi∂xj 1 r − ∑ i,j,k Qijk ∂3 ∂xi∂xj∂xk 1 r + ... = k Q r + ∑ i pixi r3 + ∑ i,j Qij 3xixj − r2δij r5 + ∑ i,j,k Qijk 15xixjxk − 3r2 (xiδjk + xjδik + xkδij) r7 + ... 0.3 Os termos de monopolo e de dipolo O potencial do monopolo é dado por Vmonopolo (~r) = k r ∫∫∫ Ω ρ (~r′) dτ ′ = kQ r , onde Q é a carga total da configuração. Se Q 6= 0, esse é o termo dominante do potencial. Se a carga total é zero, a contribuição do monopolo é zero, e o próximo termo candidato a termo dominante será o de dipolo: Vdipolo (~r) = k r2 ∫∫∫ Ω r′P1 (cos θ ′) ρ (~r′) dτ ′ = k r2 ∫∫∫ Ω r′ cos θ′ρ (~r′) dτ ′ 1Essa definição pode variar de autor para autor. Por exemplo, o livro do Jackson, Classical Electrodynamics, define de forma diferente: Qij = ∫∫∫ Ω ( 3x′ix ′ j − r′2δij ) ρ (~r′) dτ ′. 4 Como θ′ é o ângulo entre ~r e ~r′, podemos escrever r′ cos θ′ = r̂ · ~r′ e Vdipolo (~r) = k r2 ∫∫∫ Ω r̂ · ~r′ρ (~r′) dτ ′ = k r2 r̂ · ∫∫∫ Ω ~r′ρ (~r′) dτ ′ Chamamos de momento de dipolo, ~p, da distribuição, a integral aparecendo na expressão acima (que independe de ~r) ~p = ∫∫∫ Ω ~r′ρ (~r′) dτ ′. Assim, a contribuição do dipolo para o potencial pode ser escrita suscintamente como Vdipolo (~r) = k~p · r̂ r2 . Exemplo Para um dipolo constituído de duas cargas pontuais q e −q separadas por uma distância d, podemos escrever ρ (~r) = qδ(3) (~r − ~r+)− qδ(3) (~r − ~r−) e ~p = ∫∫∫ Ω ~r′ρ (~r′) dτ ′ = ∫∫∫ Ω ~r′ [ qδ(3) (~r′ − ~r+)− qδ(3) (~r′ − ~r−) ] dτ ′ = q ∫∫∫ Ω ~r′δ(3) (~r′ − ~r+) dτ ′ − q ∫∫∫ Ω ~r′δ(3) (~r′ − ~r−) dτ ′ = q~r+ − q~r− = q (~r+ − ~r−) = q~d, em que ~d é um vetor cujo módulo é igual a distância entre as cargas e o sentido é o da carga negativa para a carga positiva (ver figura abaixo). Neste caso, o potencial é Vdipolo (~r) = kq~d · r̂ r2 . 5 0.4 Campo elétrico de um dipolo Vamos calcular o campo elétrico de um dipolo (cujo momento de dipolo é ~p) disposto como mostrado na figura abaixo. Já descobrimos que o potencial de um dipolo é dado por Vdipolo (~r) = k~p · r̂ r2 , Vdipolo (r, θ) = kp cos θ r2 . O campo elétrico é dado por ~E = −∇V . Usando o gradiente em coordenadas esféricas, temos ~E = − [ r̂ ∂V ∂r + θ̂ 1 r ∂V ∂θ + φ̂ 1 r sin θ ∂V ∂φ ] . Assim, (Edipolo)r = − ∂Vdipolo ∂r = 2kp cos θ r3 (Edipolo)θ = − 1 r ∂Vdipolo ∂θ = kp sin θ r3 (Edipolo)φ = − 1 r sin θ ∂Vdipolo ∂φ = 0 Portanto, ~Edipolo = kp r3 ( 2 cos θr̂ + sin θθ̂ ) . Esse campo pode ser escrito ainda como ~Edipolo = k 3r̂(~p · r̂)− ~p r3 .
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