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Intervenções Estatais na Propriedade - 1 parte

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DIREITO ADMINISTRATIVO II
Profa. Estefânia Gonçalves
DIREITO ADMINISTRATIVO II
INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE
 Intervenção: é toda e qualquer atividade estatal que amparada na lei, tenha por fim ajustar
o direito de propriedade a inúmeros fatores exigidos pela função social a que está
condicionada.
 Propriedade (art. 5º, XXII, CF): Direito fundamental.
 Função social da propriedade (art. 5, XXIII, CF): o proprietário deve dar uma destinação
útil à propriedade, sob pena de intervenção do Estado.
 Princípio da supremacia do interesse público: é aplicado em situações expressamente
previstas em lei e corresponde a própria essência da atuação da administração pública
(atuação para a coletividade). Existindo conflito entre interesse público e particular, deverá
prevalecer o interesse público.
 Poder de polícia: é a faculdade de que dispõe a Administração Pública para condicionar e
restringir o uso e gozo de bens, atividades e direitos individuais, em beneficio da
coletividade ou do próprio Estado.
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DIREITO ADMINISTRATIVO II
Art. 78, CTN: Considera-se poder de polícia atividade da administração
pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade,
regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público
concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da
produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de
concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao
respeito à propriedade e aos direitos individuais ou coletivos.
Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando
desempenhado pelo órgão competente nos limites da lei aplicável, com
observância do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como
discricionária, sem abuso ou desvio de poder.
DIREITO ADMINISTRATIVO II
 Formas de intervenção:
 Supressiva/drástica/gravosa: O Estado retira a propriedade do
seu titular originário, transferindo-a para o seu patrimônio, com o
objetivo de atender o interesse público.
DESAPROPRIAÇÃO E REQUISIÇÃO DE BENS FUNGÍVEIS OU
CONSUMÍVEIS.
 Restritiva: O Estado impõe restrições e condições à propriedade,
sem retirá-la do seu titular.
LIMITAÇÕES ADMINISTRATIVAS, OCUPAÇÃO TEMPORÁRIA,
REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA, SERVIDÃO ADMINISTRATIVA E
TOMBAMENTO.
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 Competência legislativa sobre propriedade: privativa da União.
OBS: não confundir com a competência para efetivar a intervenção.
Art. 22, CF: Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho;
II - desapropriação;
III - requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de guerra;
 Competência para legislar sobre tombamento:
 União, Estados e DF: competência concorrente
Art. 24, CF: Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;
 Municípios (interesse local): competência suplementar
Art. 30, CF: Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
IX - promover a proteção do patrimônio histórico-cultural local, observada a legislação e a ação
fiscalizadora federal e estadual.
DIREITO ADMINISTRATIVO II
SERVIDÃO ADMINISTRATIVA (art. 40, DL 3365/41)
 Natureza Jurídica/conceito: É o direito real público, que autoriza o Estado a usar a
propriedade imóvel (particular ou pública) para permitir a execução de obras e
serviços de interesse coletivo. Ex: instalação de redes elétricas, implantação de
oleodutos e gasodutos em áreas privadas para a execução de serviços públicos.
 Afeta proprietários determinados (ato administrativo concreto).
 O bem é gravado (RGI) e finca um estado de sujeição à utilidade pública
proporcionando um desfrute direto, parcial do próprio bem.
 Servidão aparente: Dispensa o registro no RGI, pois o registro serve para dar
publicidade e se ela é aparente a coletividade já tomou ciência da restrição sobre o
bem (súmula 415, STF). Ex: torre de telecomunicações e torre de transmissão de
energia.
 Características: é permanente e onerosa, em regra.
DIREITO ADMINISTRATIVO II
 Indenização: é prévia e limitada aos danos sofridos em virtude da restrição
de direitos imposta, não podendo ultrapassar o valor do imóvel.
 Extinção da servidão: pode ocorrer se desaparecer a coisa gravada, se a
coisa gravada incorporar ao patrimônio da pessoa da qual foi instituída ou
quando surge o desinteresse do poder público em utilizar o bem.
 Instituição: publicação de decreto do poder executivo ou publicação de lei.
• Acordo formal através de escritura pública, quando o proprietário concorda
com a servidão/indenização;
• Sentença judicial após ajuizamento de ação pelo poder público
comprovando critérios específicos de necessidade pública na servidão.
OBS: a servidão não é auto executável pela administração pública.
DIREITO ADMINISTRATIVO II
REQUISIÇÃO ADMINISTRATIVA (art. 5º, XXV, CF)
 Conceito: é a modalidade de intervenção pelo qual o poder público utiliza bens imóveis, móveis ou
serviços particulares em situação de perigo público iminente, para atender necessidades coletivas
urgentes e transitórias. Ex: uso do imóvel, equipamentos e serviços médicos de hospital privado.
 Natureza jurídica: Direito pessoal da administração pública.
 Perigo público: pode estar retratado em incêndio, inundação, epidemia, catástrofe, sonegação de
gêneros de primeira necessidade, etc.
 Auto executoriedade: a administração pública não precisa de autorização judicial e nem da
publicação formal do ato, em virtude do risco imediato (necessidade pública inadiável e urgente).
Entretanto, o Estado deve fundamentar o ato em evidências fáticas e técnicas, por meio de
motivação transparente e proporcional, sob pena de configurar arbitrariedade e abuso de poder
sobre a propriedade privada/livre iniciativa.
 Afeta proprietários determinados (ato administrativo concreto).
 Pode ser civil para evitar danos à coletividade ou militar para a manutenção da
soberania/segurança nacional.
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 Indenização: posterior, se houver danos comprovados.
Art. 5, XXV, CF: no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de
propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano.
• Bens imóveis ou moveis infungíveis: há o retorno do bem ao proprietário (com indenização,
se houver dano comprovado).
• Bens moveis fungíveis/consumíveis: como o bem foi consumido/perdeu a utilidade haverá
indenização.
 Lei13.979/2020: dispõe sobre medidas para enfrentamento da emergência de saúde pública
decorrente do coronavírus, autoriza o poder público a requisitar administrativamente bens e
serviços de particulares, mediante pagamento posterior de justa indenização (artigo 3º, VII).
A Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde) questiona no STF (ADI 6362) a
constitucionalidade de dispositivo da Lei 13.979/2020 que permite aos gestores locais de saúde
adotarem a requisição administrativa de bens e serviços no combate ao coronavírus sem o
controle da União e sem o esgotamento de alternativas menos gravosas disponíveis.
OCUPAÇÃO TEMPORÁRIA (art. 5º, XXIII e170, III, CF)
Conceito: é a modalidade de intervenção pelo qual o poder público usa, transitoriamente, imóveis privados,
como meio de apoio à execução de obras e serviços públicos em geral. Ex: alocação temporárias de
máquinas, equipamentos e barraca de operários de obra pública de asfaltamento; uso de imóvel para
campanha de vacinação ou eleições.
 Auto executoriedade do ato: não é necessária autorização prévia do poder judiciário e nem publicação
formal do ato.
 Afeta proprietários determinados (ato administrativo concreto).
 Indenização: posterior, se houverdano comprovado.
 Natureza jurídica: Direito pessoal da administração pública.
OBS: Existência de outra modalidade de ocupação temporária (art. 36, DL 3365/41)
É aquela vinculada a um processo de desapropriação, onde o poder público usa terrenos não edificados
vizinhos às obras. Nesta modalidade a indenização é regra, e será realizada em ação própria ao final do uso
do imóvel ( posterior).
• Necessidade de decreto do poder executivo para implementar esta modalidade de ocupação.
• Art. 36, DL 3365: É permitida a ocupação temporária, que será indenizada, afinal, por ação própria, de terrenos
não edificados, vizinhos às obras e necessários à sua realização. O expropriante prestará caução, quando
exigida.
DIREITO ADMINISTRATIVO II
LIMITAÇÃO ADMINISTRATIVA (art. 5º, XXIII e170, III, CF)
 Conceito: São determinações de caráter geral, por meio das quais o poder público
impõe a proprietários indeterminados obrigações positivas (de fazer), negativas, (não
fazer) ou permissivas (tolerar, deixar fazer), para condicionar a propriedade ao
atendimento da função social (interesse público abstrato). Ex: impor ao proprietário
limpeza de terreno, proibir a construção acima de determinado número de andares,
permissão de vistoria de elevadores em edifícios e ingresso de agentes para fins de
vigilância sanitária.
 Possuem caráter de definitividade.
 São imposições de caráter geral, pois não contempla imóveis determinados.
 Indenização: em regra não há (salvo dano comprovado), pois não há prejuízos
individualizados, mas sacrifícios gerais.
 Formas de instituição: atos administrativos de caráter geral ou lei.
DIREITO ADMINISTRATIVO II
 Direito de preempção (limitação administrativa legal): art. 25, lei 10.257/01 –
estatuto da cidade): direito de preferencia do município na alienação onerosa.
Art. 25: O direito de preempção confere ao Poder Público municipal preferência para aquisição de imóvel urbano objeto de
alienação onerosa entre particulares.
§ 1º Lei municipal, baseada no plano diretor, delimitará as áreas em que incidirá o direito de preempção e fixará prazo
de vigência, não superior a cinco anos, renovável a partir de um ano após o decurso do prazo inicial de vigência.
§ 2º O direito de preempção fica assegurado durante o prazo de vigência fixado na forma do § 1o, independentemente do
número de alienações referentes ao mesmo imóvel.
Art. 26: O direito de preempção será exercido sempre que o Poder Público necessitar de áreas para:
I – regularização fundiária; II – execução de programas e projetos habitacionais de interesse social; III – constituição de
reserva fundiária;
IV – ordenamento e direcionamento da expansão urbana; V – implantação de equipamentos urbanos e comunitários; VI –
criação de espaços públicos de lazer e áreas verdes; VII – criação de unidades de conservação ou proteção de outras
áreas de interesse ambiental; VIII – proteção de áreas de interesse histórico, cultural ou paisagístico; IX – (VETADO)
Parágrafo único. A lei municipal prevista no § 1o do art. 25 desta Lei deverá enquadrar cada área em que incidirá o direito
de preempção em uma ou mais das finalidades enumeradas por este artigo.
DIREITO ADMINISTRATIVO II
Art. 27: O proprietário deverá notificar sua intenção de alienar o imóvel, para que o Município, no prazo
máximo de trinta dias, manifeste por escrito seu interesse em comprá-lo.
§ 1º À notificação mencionada no caput será anexada proposta de compra assinada por terceiro
interessado na aquisição do imóvel, da qual constarão preço, condições de pagamento e prazo de
validade.
§ 2º O Município fará publicar, em órgão oficial e em pelo menos um jornal local ou regional de grande
circulação, edital de aviso da notificação recebida nos termos do caput e da intenção de aquisição do
imóvel nas condições da proposta apresentada.
§ 3º Transcorrido o prazo mencionado no caput sem manifestação, fica o proprietário autorizado a
realizar a alienação para terceiros, nas condições da proposta apresentada.
§ 4º Concretizada a venda a terceiro, o proprietário fica obrigado a apresentar ao Município, no prazo de
trinta dias, cópia do instrumento público de alienação do imóvel.
§ 5º A alienação processada em condições diversas da proposta apresentada é nula de pleno direito.
§ 6º Ocorrida a hipótese prevista no § 5o o Município poderá adquirir o imóvel pelo valor da base de
cálculo do IPTU ou pelo valor indicado na proposta apresentada, se este for inferior àquele.
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TOMBAMENTO (art. 216 e §5º, CF e DL 25/1937)
 Conceito: é a forma de intervenção pela qual o poder público visa proteger o patrimônio cultural
brasileiro, limitando o uso do bem.
 Bens móveis ou imóveis, públicos e privados podem ser tombados.
OBS: no tombamento não é aplicado o princípio da hierarquia verticalizada aos entes federados que é
aplicado na desapropriação (ACO 1208 - STF)
 Pode ser: Voluntário, quando o proprietário requer o tombamento ou concorda com ele (art. 7º, DL 25);
compulsório, quando da recusa do proprietário quando ao tombamento, após procedimento
administrativo regular, onde a administração pública realizará comprovação da necessidade de tombar
(art. 8º e 9º, DL 25).
 Será provisório quando em andamento processo administrativo instaurado pela notificação ou
definitivo, após a inscrição do bem no livro tombo (art. 10, DL25).
 Tombamento geral é aquele imposto sobre determinada região/bairro/cidade; e individual, aquele
imposto sobre determinado bem específico.
 Instituição: por ato do poder executivo (regra). Entretanto, o STF vem permitindo a imposição de
tombamento por ato legislativo – lei de efeitos concretos (ACO 1208).
 Indenização: em regra, não há (salvo dano comprovado).
DIREITO ADMINISTRATIVO II
 Efeitos do tombamento
• Registro do bem no RGI (art. 13, DL25).
• Restrições aos vizinhos do bem tombado (não pode realizar obras que reduzam a visibilidade do bem tombado; não
pode pôr cartazes ou anúncios que cubram o bem) – art. 18, DL 25.
• Dever do proprietário em conservar o bem, sabendo que obras só podem ser feitas com autorização do poder público
(art. 17, DL25). Caso não disponha de recursos deverá informar à administração pública.
Art. 19, DL 25: O proprietário de coisa tombada, que não dispuser de recursos para proceder às obras de conservação e
reparação que a mesma requerer, levará ao conhecimento do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional a
necessidade das mencionadas obras, sob pena de multa correspondente ao dobro da importância em que for avaliado o
dano sofrido pela mesma coisa.
§ 1º Recebida a comunicação, e consideradas necessárias as obras, o diretor do Serviço do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional mandará executá-las, a expensas da União, devendo as mesmas ser iniciadas dentro do prazo de seis
meses, ou providenciará para que seja feita a desapropriação da coisa.
§ 2º À falta de qualquer das providências previstas no parágrafo anterior, poderá o proprietário requerer que seja
cancelado o tombamento da coisa.
§ 3º Uma vez que verifique haver urgência na realização de obras e conservação ou reparação em qualquer coisa
tombada, poderá o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional tomar a iniciativa de projetá-las e executá-las, a
expensas da União, independentemente da comunicação a que alude este artigo, por parte do proprietário.
DIREITO ADMINISTRATIVO II
 Direito de preferencia de bem tombado: foi entinto pelo artigo 1.072, I do
NCPC/2015.
Art. 22, DL 25: Em face da alienação onerosa de bens tombados, pertencentes
a pessoas naturais ou a pessoas jurídicas de direito privado, a União, os
Estados e os municípios terão, nesta ordem, o direito de preferência.
Art. 1.072, NCPC: Revogam-se:
I - o art. 22 do Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937;
Sendo assim, o proprietário deseja alienar o bem tombado de sua propriedade,
poderá fazê-lo livremente, nas condições que ajustar com o interessado na
aquisição, sem aobrigação de comunicar seu intento aos entes públicos.
DIREITO ADMINISTRATIVO II
Estefânia de Oliveira Gonçalves
Advogada. Professora do Curso de Direito e da Pós
Graduação Lato sensu da Universidade Estácio de
Sá. Mestra em Direito e Especialista em Direito
Público.
DIREITO ADMINISTRATIVO II
Obrigada!
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