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Filósofos gregos e sua contribuição para o Direito

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FilóSOFos gregos no direito
Docente: PROFA. MARGARETH P. ÁRBUES
Sócrates (470 – 399 a.c.)
Não deixou registros, apenas discípulos;
Conhecido como parteiro de ideias;
Levava o indivíduo a negar aquilo que afirmava.
 MÉTODO SOCRÁTICO: consistia em ironia e maiêutica
Ironia: visa eliminar a doxa (opinião), assim ficava perguntando para que as pessoas entrassem em contradição , com a finalidade de que reconhecessem que não tinha conhecimento sobre o assunto tratado;
Opinião não é conhecimento;
Ortodoxo é aquele que toma sua opinião como única e não aceita discutir;
“Só sei que nada sei”;
Maiêutica: visa a epsteme (conhecimento, ciência) através da dialética. Entendida como o parto de ideias.
Espsteme – O conhecimento não é algo que se ensina, se transmite. O único que pode chegar ao conhecimento é o próprio indivíduo, raciocinando
 JULGAMENTO DE SÓCRATES:
Com a utilização de seu método, criou muitas inimizades. Acabou por ser, pela acusação de não reconhecer os deuses do Estado, ao introduzir novas divindades e corromper a juventude.
Após um julgamento conturbado restou-lhe com duas opções, ou a pena de morte, ou ser alimentado no Pritaneu, enquanto fosse vivo, como herói ou benemérito da cidade.
Vendo-se entre a morte e as impossíveis recompensas, para não abrir mão de sua própria consciência, Sócrates optara pela morte.
Conflito entre a justiça e a segurança jurídica, respeito às leis positivas.
A obediência às leis é a condição necessária, mas não suficiente para realizar a justiça (ideia do bem), dizia que “era a única possibilidade de fazer justiça, pois não se faz justiça com as próprias mãos, pois ao desrespeitar já esta se cometendo uma injustiça”.
Platão (429 – 347 a.c.)
* Discípulo de Sócrates;
Foi quem escreveu tudo o que conhecemos sobre a filosofia de Sócrates.;
 REAÇÃO CONTRA O RELATIVISMO SOFISTA: cada objeto seria único, singular, por exemplo, duas cadeiras diferentes teriam teorias diferentes, com uma teoria para cada cadeira, mesmo que só mudasse a cor, o que contradiz a experiência. Dessa forma, para se fazer uma teoria, precisa-se de um método.
PROBLEMATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO: não pode confundi-lo, como faziam os pré-socráticos.
Conhecimentos sensíveis: apreendidos através dos sentidos, conhecimentos do individual, particular, empírico. É relativo, pois depende de quem faz a experiência, o que pode variar que indivíduo para indivíduo.
Conhecimentos inteligíveis: apreendidos através do intelecto, conhecimento das Ideias (eidos). Racional, por exemplo, conhecimentos matemáticos, buscando as essências, o eidos
 Caso só tivéssemos o conhecimento sensível, cada conhecimento seria único e singular.
 O que os conhecimentos inteligíveis conhecem são os eidos, no sentido de essência, de arquétipo ideal perfeito de qualquer coisa. Por ex., o arquétipo cadeira só é alcançado pela via inteligível, o eidos, do que é cadeira, é aquilo que faz com que entendamos que todas as outras variações de cadeiras pertençam ao gênero cadeira.
Obs.: Então, grande parte da confusão feita pelos pré-socráticos, dava-se pela confusão desses dois principais tipos de conhecimento.
 MITO DA CAVERNA (A República, livro III):
Principal escrito de Platão em que procura de forma metafórica explicar , hierarquicamente, os graus do conhecimento, para ele existe um modo de conhecer, de saber , que é o mais adequado para se pensar em um governante capaz de fazer política com sabedoria e justiça. O conhecimento é para Platão , o elemento essencial p/ um bom governante – A busca pela verdade.
Na alegoria, à parte sensível são as sombras, e a vida inteligível é o sujeito que consegue se soltar e ao ver a luz fica cego por um momento, perdendo o senso de realidade, que é dado pela sensibilidade, mas mesmo assim ele se arrisca a ir para fora da caverna, e pela sua razão, pela via inteligível conhece a verdade, deixando de lado a aparência, buscando a essência.
 A REPÚBLICA:
Principal livro de Platão;
Trata de um projeto de como deveria ser uma sociedade justa e perfeita;
O nome República é uma adaptação feita pelos Romanos do que anteriormente era Dipoliteia perité tes dikes, que significava estudo da polis sob a justiça;
Platão defendia que uma sociedade justa era uma sociedade estratificada em três classes:
Filósofos – razão – direção;
Guerreiros – força, coragem, defesa, ordem;
Trabalhadores – sensibilidade, nutrição, economia.
Os filósofos seriam os responsáveis pela direção, pelo governo, pela elaboração das leis, representariam simbolicamente a razão, a cabeça.
Desse modo, os filósofos não se deixariam enganar pelas aparências, pois teriam a via inteligível do conhecimento mais desenvolvida, por isso conseguem, mesmo desconfiando das aparências, enxergar a ideia do bem, do eidos, o que faria com que estivessem mais aptos a elaborar boas leis.
Os guerreiros representariam a força, coragem deste Estado e cuidariam da defesa e da ordem que mantém a organização interna, como o corpo.
Os trabalhadores seriam responsáveis pela produção de matérias, bens, alimentos, riquezas, comércio, construções, funcionando como a base.
 CONCEPÇÃO ORGÂNICA DE JUSTIÇA:
 Não tinha igualdade, nem liberdade – Arete;
 Sendo assim, para Platão a Justiça seria o equilíbrio dessa sociedade, o equilíbrio entre as partes. Os indivíduos para ele seriam como células de um corpo e quando uma não realiza sua função prejudica o corpo, com isso seria necessário elimina-la (eugenia – busca o melhoramento da raça);
 A justiça não começa com os indivíduos, porém acaba chegando neles.
 FORMAS DE GOVERNO (República, livro VIII):
 Segundo Platão, qualquer sociedade se enquadra em uma dessas formas, descrevendo como uma sociedade pode sair da melhor forma (Aristocracia) e chegar na pior (Tirania).
 Aristocracia: governo dos excelentes, busca do pleno bem;
 Timocracia: governo dos melhores, mas que foram corrompidos pela paixão;
 Oligarquia: governo de poucos (ou de um grupo), dos que governam pelo interesse próprio, o que faz com que o interesse do resto seja excluído e o extremo da exclusão são os mendigos, e segundo ele, ter mendigos nas ruas de uma cidade é sinônimo de que a sociedade esta doente. Em sua história, por exemplo, diz que podiam ser os filhos dos timocratas, mas não é porque não filhos que vão ter as mesmas aptidões. Trazendo a visão de Platão para a atualidade, o Brasil seria considerado uma Oligarquia;
 Democracia: quando os que foram excluídos da oligarquia tomam o poder, por meio de um golpe de estado. É a forma de máxima liberdade, só que para isto fica muito próximo da máxima escravidão (tirania). Platão não gosta de Democracia, pois mataram Sócrates em uma democracia direta, sem motivos concretos. Para ele é uma forma de governo instável, onde todos podem decidir, não só aqueles que tem aptidão, o que pode levar à uma guerra civil, pois é de fácil manipulação pela retórica
 Tirania: sujeito que tira a sociedade de uma guerra civil tem a ele delegado plenos poderes e quando querem o tirar o poder, mesmo quando realizou seu objetivo, como ele tem plenos poderes não vai querer devolver e se necessário usara os poderes que tem para impedir que isso ocorra. Dando assim a máxima forma de escravidão e perseguição aos críticos.
 “As Leis” – ultimo livro de Platão onde ele escreve e depois reformula vários conceitos da República, amenizando-os, por exemplo, a aristocracia será mesclada com a democracia, mas ainda prevalece, e afirma ainda que a lei esta acima de tudo.
Aristóteles (384 – 322 a.c.)
Vai criticar, romper, com o dualismo de Platão que sugere a existência de dois planos.
Traz as ideias platônicas para a imanência do mundo:
Hilemorfismo – que segundo Aristóteles, é todo ser composto de forma e matéria, tudo aquilo que é sensível a matéria, o que se pode toca, experimentar, perceber, e pela intelecção é possível chegar a uma forma (Hile = matéria; mofismo = formas);
Teleologia – estudo dos fins (teleos = finalidades). Na concepção de Aristóteles, o universo é teleológico, ou seja, tudo o que existetem uma finalidade, e é justamente este fim que determina como as coisas são, sendo assim, tem-se a relação entre forma e matéria, pois a forma que a matéria terá determina o que ela será.
Por exemplo, para Aristóteles, a finalidade do homem é a felicidade.
Ato/ Potência – Aristóteles buscava explicar o movimento e a modificação das coisas com esta ideia, como por exemplo, o conhecimento. Então para ele, uma coisa esta em ato ou potencia, por exemplo, uma semente é arvore em potencial, ela tem a finalidade de ser uma arvore, e se ela se torna uma arvore, ela se atualiza, e do ponto de vista de um marceneiro ela passa a ser uma mesa em potencial. Dessa forma, pode-se dizer que o que é vivo é morto em potencial.
Aqui imanência aquela que esta compreendida na própria essência do todo, é aquilo que é acessível, o contrario de imanência é a transcendência.
O homem só se desenvolve (racionalmente) se vive em sociedade política, caso contrário vai ter só potencialidade, mas se não tiver as condições não desenvolverá sua alma racional, o que é completamente diferente do pensamento cristão, que o homem não se contaminaria pelo pecado original, quando isolado da sociedade, portanto falaria a língua de Deus.
Conhecimento é a reação entre as formas, onde se considera a matéria separada das formas, e só a alma racional pode fazer isso.
 ÉTICA A NICÔMACO:
 Importante obra de Aristóteles, onde o livro V é um dos mais importantes.
 O homem só existe dentro da Polis, ‘zoon politikon’ é a organização a partir das leis. Afirma que a Polis é ontologicamente anterior à própria existência do homem, que só se desenvolve em meio político.
Para Aristóteles a felicidade não é o estado de felicidade, o sentimento, e sim a ação, a atividade através da qual o homem realiza plenamente as suas aptidões, a prática de virtudes.
 As virtudes aqui são sempre o meio termo, a moderação (sophorosýse), assim, tanto se exceder quanto se abster em algo é um vicio,. Assim, a virtude é o equilíbrio, dessa forma pode-se dizer que a justiça, para Aristóteles, é o equilíbrio.
 As virtudes são divididas entre:
Dianoéticas – as que são mais teóricas, racionais como arte, ciência, sabedoria, intelectos e prudência (phróneses).
Prudência que para ele é a capacidade de moderação intelectual de distinguir o certo, errado, justo e injusto, é a existência de que nos organizemos em sociedade.
Éticas – as que vem do étos (caráter que é conseguido através do hábito, por exemplo, escovar os dentes, que se desenvolve com a repetição):
Temperança – moderação entre dor e prazer, experiência – arte da moderação;
Fortaleza ou coragem – moderação entre coragem e covardia;
Generosidade – moderação entre ser avarento e pródigo;
Justiça – moderação do justo.
 A norma do ponto de vista da virtude é aquela que regula uma conduta, e para Aristóteles, é justa quando leva a prática da moderação, leva a ter caráter, ou seja, ter temperança, fortaleza, generosidade e justiça, e as leis tem papel fundamental nisso, pois elas regulam o cidadão. Leis boas dão forma ao caráter do indivíduo e as ruins o deformam.
 Modos de aplicação da justiça: 
Distributiva: “a cada um segundo seu mérito”. O critério para determinar o mérito varia. Numa aristocracia é a excelência, numa politéia é a liberdade, numa oligarquia é a riqueza ou berço, dessa forma, pode-se concluir que é distribuída do Estado para os indivíduos, considerando o mérito de cada um. (Proporção geométrica, por exemplo, a pratica de um crime x fará com que o sujeito receba a pena de 2x para desestimulá-lo de cometer crimes, o mesmo acontece com as boas ações dos indivíduos, então se fez uma boa ação é premiado).
Corretiva (comutativas, signalagmáticas): “que cada um dê ou receba o que a parte contrária deve dar ou receber”. Relação de coordenação, equilíbrio dos indivíduos:
Voluntária – a relação ocorre sem problemas e por livre vontade.
Involuntária – é quando há um desequilíbrio, um abuso, o Estado equilibra pela força que tem. (Proporção aritimétrica).
Equidade (epieikeia) para ele significa bom senso como instrumento jurídico. A norma é geral e o caso concreto, assim, o bom senso para usar e adequar a norma, ou seja, adaptar a lei ao caso concreto. Então para o juiz decidir com equidade, ele teria que imaginar como o legislador teria elaborado a lei naquele caso.
 FORMAS DE GOVERNO (Política, livro III, cap. VIII):
 Formas boas: Monarquia, Aristocracia e “Politéia” (constituição)
 Formas corrompidas: Tirania, Oligarquia e Democracia.
Monarquia é bom desde que o monarca governe visando o interesse público, o problema é que ele pode se corromper e o governo virar uma Tirania, governando e visando os próprios interesses.
Aristocracia é o governo da excelência, dos melhores público, quando visão o interesse público vira uma Oligarquia.
Politéia é a forma de governo popular, ou seja, os próprios cidadãos que governariam, quando isso se corrompe vira uma Democracia, não visando o interesse público, pois as pessoas podem ser manipuladas e vir a acontecer algo que não é certo, como, por exemplo, a morte de Sócrates.
 Aristóteles é o primeiro a esboçar a separação dos “poderes” – no sentido de funções (Política, livro VI, capítulo XI):
Assembleia Popular: elaboração das leis (legislativo hoje);
Magistratura administrativa – escolhem-se os competentes, aptos para administrar (executivo hoje);
Magistratura jurídica – conselho dos anciãos, mais experientes, visando dirimir conflitos (judiciário hoje).
(Magistratura como sendo cargo político)
 JUSTIÇA POLÍTICA:
Natural  – tendências universais variáveis à todos os seres humanos, porém sofrem influencias culturais podendo sofrer modificações, portanto não são imutáveis como as leis da natureza.
 Convencional  – normas baseadas na pura convenção para dar bases à ordem, por exemplo, dirigir no Brasil e na Inglaterra.
Referências bibliográficas
JÚNIOR, Alfredo de Aguiar L.; NASSYRIOS, Gabriela G.; ROSSA, Pedro Paulo V.; SALHAB, Thaís S.; SANTOS, Thaís Helena N. dos. Sócrates, Platão e Aristóteles na visão da Filosofia do Direito. Disponível em: <https://gabinassyrios.jusbrasil.com.br/noticias/325430427/socrates-platao-e-aristoteles-na-visao-da-filosofia-do-direito>.

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