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EA D 3 Gestão Escolar: Princípios, Funções, Organização e Áreas de Atuação 1. ObjetivOs • Diferenciar a óptica fragmentada da visão sistêmica da gestão da educação. • Identificar os princípios básicos da gestão democrática: a participação e a cidadania. • Analisar as características da gestão democrática diante dos objetivos educacionais. • Reconhecer as concepções de organização e gestão esco- lar, direção e cultura organizacional. • Compreender e demonstrar a estrutura organizacional de uma escola com gestão participativa. • Compreender e identificar as áreas de atuação da organi- zação e de gestão escolar em função dos objetivos edu- cacionais. © Fundamentos e Métodos da Gestão Escolar112 2. CONteÚDOs • A gestão educacional na óptica sistêmica • Dimensões da gestão democrático-participativa. • Objetivos da escola e práticas de organização e gestão. • Concepções de organização e gestão escolar. • Áreas de atuação da organização e da gestão escolar. 3. ORieNtAÇões PARA O estUDO DA UNiDADe Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir: 1) É importante a compreensão crítica das diferentes con- cepções da organização e gestão da escola para que você possa compreender como acontece o exercício da gestão no cotidiano escolar. 2) Os seus estudos não devem se limitar às referências bi- bliográficas elencadas para esta unidade. Explore outras fontes de pesquisa para aprofundar seus conhecimen- tos, tais como internet, indicações de diferentes referên- cias bibliográficas com seu tutor. 4. iNtRODUÇÃO À UNiDADe Você está iniciando o estudo da terceira unidade de Funda- mentos e Métodos da Gestão Escolar. Discutimos, anteriormente, várias concepções sobre a teoria da administração e a importância de um enfoque cultural que possibilite uma ação contextualizada dos processos de gestão. Vimos também como os processos tec- nológicos e a globalização criaram novas exigências à escola den- tro de novos paradigmas. O objetivo desta unidade é levar você a compreender os princípios e objetivos da gestão democrática, bem como as formas Claretiano - Centro Universitário 113© U3 - Gestão Escolar: Princípios, Funções, Organização e Áreas de Atuação organizativas de atuação da equipe gestora (que podem ou não facilitar a melhor aprendizagem dos alunos). Com base na reflexão sobre as concepções de organização e cultura organizacional, você compreenderá melhor a estrutura de uma instituição de ensino com gestão participativa e, consequen- temente, compreenderá as áreas de atuação da gestão em função dos objetivos educacionais. Após este estudo, você será capaz de conceber a escola como uma instituição social cuja existência tem a finalidade de atingir objetivos que atendam à aprendizagem escolar, à formação da cidadania, além de transmitir atitudes e valores. Além disso, entenderá que o sistema de organização e de gestão da escola é o conjunto de recursos, meios, ações e proce- dimentos que proporcionam as condições necessárias para que as finalidades políticas e sociais da educação em relação à sociedade e ao aluno sejam atendidas. 5. GestÃO DA eDUCAÇÃO e DA esCOlA: sUPeRANDO A visÃO fRAGmeNtADA PelA óPtiCA sistêmiCA Como vimos anteriormente, realizar a gestão da educação e da escola é diferente de gerenciar uma empresa ou um conjunto de empresas, sobretudo pela responsabilidade social que caracte- riza a educação. Um dos aspectos complexos da sociedade atual é a gestão, tanto dos sistemas ou redes de ensino quanto das unidades esco- lares, visto que inúmeros fenômenos sociais passam a fazer parte do contexto no qual a educação se desenvolve. No âmbito da educação, podemos dizer que temos a Gestão do Sistema Educacional e a Gestão da Escola. A Gestão de sistema implica a organização normativa e jurí- dica das redes e modalidades de ensino. Se observarmos os aspec- © Fundamentos e Métodos da Gestão Escolar114 tos legais vindos da Constituição e da LDB, veremos que a gestão da educação situa-se no espaço das ações dos governos federal, estaduais e municipais. O ideal é que esse ordenamento do sistema expresso na le- gislação aconteça dentro de princípios democráticos capazes de possibilitar aos cidadãos a expressão de suas necessidades e de seus anseios em relação à educação. Nesse aspecto, nossa sociedade tem um longo aprendizado no sentido de desenvolver instâncias de participação e decisão que deixem transparecer a vontade coletiva e respeitem as pecu- liaridades culturais e históricas das diversas "redes" municipais, estaduais e federais que compõem o nosso "sistema nacional de ensino". A existência no Brasil de um sistema educacional é bas- tante questionada por alguns teóricos, como veremos a seguir. A Gestão da escola refere-se à maneira de organizar o fun- cionamento da escola, considerando seus múltiplos aspectos: po- líticos, administrativos, pedagógicos, tecnológicos, culturais. Trata- -se de direcionar as ações em relação aos objetivos educativos a fim de possibilitar a aprendizagem da comunidade escolar e local. A gestão escolar também deve desenvolver um processo de trans- parência por meio de uma atitude democrática e democratizante do contexto escolar e comunitário – atualmente, via Conselho Es- colar e Projeto Político-Pedagógico. Analisemos a óptica sistêmica da gestão educacional (do sis- tema) e da gestão escolar (das escolas). A fragmentação do sistema Nacional de educação e a Gestão da educação E os sistemas de ensino? Você sabe o que são eles? Compreende-se como um sistema o conjunto de partes em relação interdependente e harmônica, formando um todo, autô- nomo e independente. Claretiano - Centro Universitário 115© U3 - Gestão Escolar: Princípios, Funções, Organização e Áreas de Atuação Para Sander, (1993 apud BORDIGNON, 2001, p. 35), no se- tor educacional, a teoria dos sistemas vem sendo utilizada como instrumento analítico geral para descrever a organização e o fun- cionamento do sistema educacional como um todo e para orientar a prática educacional na consecução de seus objetivos. O termo "sistema educacional" aparece pela primeira vez na Constituição de 1934, definindo que competia à União organizar e manter sistemas educativos. Porém, o centralismo do Estado Novo não permitiu a descentralização preconizada na Constituição. Conforme Bordignon, 2004, p. 42: A Lei N° 4.024/61 concebida pela Constituição de 1946 e gestada por 15 anos, no processo de redemocratização, criou os sistemas federal e estadual de educação, em coerência com o regime fede- rativo e a autonomia das unidades federadas, e com a política de superação do centralismo do Estado Novo. [...] Dez anos após, a Lei N° 5.692/71 manteve intocada a estrutura e as funções do CFE, CEEs e CEDF, e introduziu a figura dos Conselhos Municipais de Educação (CMEs), com funções a serem delegadas pelos CEEs, uma vez que a legislação não caracterizava os sistemas municipais de educação. A Constituição de 1988 viria consagrar os sistemas municipais de educação, conferindo-lhes espaço próprio na estrutura do sistema educacional. A Lei N° 9.394/96 estabeleceu as competências da União, dos Esta- dos, do Distrito Federal e dos Municípios e as atribuições dos res- pectivos sistemas de ensino. Quanto aos conselhos, apenas remete à lei específica a criação de um Conselho Nacional de Educação, não fazendo referência a conselhos estaduais e municipais. Tanto a Constituição quanto a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) referem-se a sistemas de ensino. Em- bora a referência ao sistema nacional de educação seja usual na literatura educacional e até em documentos oficiais, ela não apa- rece na Constituição e na legislação vigente. A gestão da educação no Brasil faz-se por meio dos Conse- lhos de Educação e de toda uma gama de cargos executivos, tais como: ministros, secretários,diretores-gerais, entre outros. Mas será que as ações desenvolvidas nos diversos órgãos normativos © Fundamentos e Métodos da Gestão Escolar116 são coordenadas e direcionadas para um determinado fim? Será que temos um Sistema Nacional de Educação? O que seria um sis- tema de ensino? Se observarmos o título IV da Lei de Diretrizes e Bases (LDBN 9394/96), veremos que ele trata "Da Organização da Educação Na- cional". Saviani (2010) comenta que, no projeto original, a deno- minação era "Do Sistema Nacional de Educação" que foi retirada, quando da aprovação do projeto na Câmara, não aparecendo tam- bém no texto da lei. O autor salienta que esse é um aspecto crucial da LDB, pois a própria lei desconhece que a exigência de se fixar as diretrizes e bases da educação nacional implica diretamente o Sistema Nacio- nal de Educação. Diz Saviani (2010, p. 771): Quando a Constituição determina que a União estabeleça as dire- trizes e bases da educação nacional, obviamente ela está preten- dendo com isso que a educação, em todo o território do país, seja organizada segundo diretrizes comuns e sobre bases também co- muns. E a organização educacional com essas características é o que se chama "Sistema Nacional de Educação". Saviani (1999) argumenta que um sistema de ensino pres- supõe a disposição ordenada de diversos elementos necessários à consecução dos objetivos educacionais divulgados e conhecidos pela população à qual se destina. Observem que ele destaca a exis- tência de objetivos comuns. Saviani (1999, p. 123) considera equivocado o uso do termo "sistemas de ensino" na própria Constituição Federal de 1988 em seu Artigo 211, entendendo que se trata apenas de organização das redes escolares. Ele afirma: "Com efeito, sabe-se que é muito comum a utilização do conceito de sistema de ensino como sinô- nimo de rede de escolas". O que falta a esses desdobramentos é uma finalidade comum. Claretiano - Centro Universitário 117© U3 - Gestão Escolar: Princípios, Funções, Organização e Áreas de Atuação O educador chama a atenção para as imprecisões do termo: Daí sua polissemia com as imprecisões e confusões decorrentes, o que nos impõe a exigência de examinar, preliminarmente, o signifi- cado da expressão ‘sistema educacional’. Convivemos diariamente com expressões como 'sistema federal de ensino','sistema oficial', 'sistema público', 'sistema escolar', 'sistema de ensino superior' etc. Na verdade, porém, o uso dessas expressões é impróprio; um exame mais detido revelará que, em todos esses casos, se trata propriamente do sistema educacional, considerado sob este ou aquele prisma, nesse ou naquele aspecto (SAVIANI, 2008, p. 215). O autor ainda comenta o nosso atraso na configuração de um sistema educacional nacional e o erro de se considerar níveis de ensino (superior, médio, básico, infantil) ou agrupamento de redes escolares (escolas públicas ou privadas; escolas federais, es- taduais e municipais) como sistemas. Estas são modalidades ou redes de ensino mantidas pelos estados, pelos municípios e por particulares. Assim, para Saviani (2008), esse procedimento é inadequado e cria uma fragmentação, além de dificultar uma visão global da educação pública e o debate sobre a questão da democratização e do acesso ao ensino. Nesse sentido, Saviani (1999, p. 121) entende que, a rigor, não temos um sistema educacional nacional, visto que nos faltam condições básicas para tal. Segundo ele, são quatro as hipóteses explicativas acerca da inexistência de um sistema nacional de edu- cação do Brasil: 1) a estrutura da sociedade de classes dificulta uma prática cons- ciente e coletiva; 2) a coexistência de distintos grupos em conflito que dificultam a definição dos objetivos; 3) a importância da cultura de países estrangeiros, sem considerar o contexto real de nossa sociedade; 4) a superficialidade teórica dos educadores (SAVIANI, 1987, cf. LIBÂNEO; et al, 2005, p. 231). © Fundamentos e Métodos da Gestão Escolar118 Libâneo et al. (2005, p. 227) comentam essa questão levanta- da por Saviani, afirmando que um sistema supõe "um conjunto de elementos, de unidades relacionadas, que são coordenadas entre si e constituem um todo". O estudioso alerta que, apesar de inte- grados a um todo, os elementos não perdem sua individualidade, o que leva que se considere a especificidade dos estabelecimentos escolares que possuem suas singularidades. Diante disso, esses autores (2005, p. 231) argumentam que não existe um sistema nacional por não haver articulação entre os vários sistemas de ensino das diferentes esferas administrativas. Pondera que, embora o Artigo 211 da Constituição Federal e o Ar- tigo 8º da LDBN 9394/96 estabeleçam o regime de colaboração, estes aspectos legais não provocaram "a articulação necessária en- tre os vários sistemas de ensino, uma vez que a política existente historicamente no país é de competição e não de colaboração". Que consequências tem essa fragmentação na gestão mais ampla do sistema ou do não sistema? Podemos perceber que os planos e as políticas públicas edu- cacionais do ministério da educação encontram dificuldades de concretizarem suas metas, sobretudo, no que se refere à manu- tenção do ensino público. As ações tornam-se descontínuas, não abrangem a globalidade das escolas, encontram barreiras ideoló- gicas dos diversos agrupamentos e seus interesses. Percebemos também que a legislação se torna confusa por não conseguir coordenar todas as diversidades e estabelecer uma linha de ação comum a todos os "sistemas" (ou redes e níveis) que configuram a realidade de nossa educação. Muitas regulamenta- ções se tornam um complexo de leis, decretos e portarias. O que fica evidente é uma óptica fragmentada em diferentes redes de ensino, que inviabiliza o caminhar rumo à qualidade de educação desejada pela sociedade como um todo. Claretiano - Centro Universitário 119© U3 - Gestão Escolar: Princípios, Funções, Organização e Áreas de Atuação Temos realidades educacionais bem diversas dentro de uma realidade nacional. Por exemplo, duas redes municipais de educa- ção de duas cidades bem próximas podem adotar medidas bem di- versas na coordenação e na gestão das escolas que as constituem. Em grandes metrópoles, vemos escolas de um mesmo bairro adotando sistemáticas bem diversas de avaliação e, consequen- temente, de gestão. Não percebemos entre as redes um espíri- to colaborativo e um acordo para a adoção de objetivos comuns. Há uma acirrada competição que esfacela ainda mais o "sistema" educacional. Garcia (2000, p. 115) salienta que os últimos anos podem ser caracterizados por uma gestão educacional de interrupções, pois cada período governamental abandona os programas e pro- jetos da administração anterior, elaborando novas prioridades. Diz o educador: Atropelados por demandas conflitantes, originárias de várias ins- tâncias do sistema educativo, quer venham das áreas federal, esta- duais ou municipais, os responsáveis pela gestão educativa – sejam eles administradores, diretores de escola ou professores – em geral na encontram as conexões de sentido entre o proclamado e o real (para repetir a feliz análise de Anísio Teixeira) ou entre aquilo que é anunciado e veiculado pela propaganda e o que acontece no dia-a- -dia da escola e das salas de aula. Por outro lado, tenta-se resolver essa fragmentação ado- tando-se medidas de centralização. Entende-se que pelo controle é possível criar um sistema, sem, no entanto, desencadear uma discussão séria sobre a educação nacional, suas dificuldades, sua realidade e suas possibilidades de organização rumo à democrati- zação da qualidade educacional para todos. Nossa tradição de gestão teve – e ainda tem – um aspecto fortemente centralizador, entranhado na organização do sistema educacional e no interior da própria escola, manifestando-se tanto por meio de diferentes formas autoritárias deação e convivência quanto por meio de controles burocráticos de aspectos organiza- cionais do processo educativo. © Fundamentos e Métodos da Gestão Escolar120 Observa-se uma cadeia vertical de controles, sobretudo nas relações entre as diferentes esferas do Poder Público (União, Esta- dos e Municípios), bem como nas relações destas instâncias com as escolas. Apesar dessas formas de controle, vem sendo desen- cadeado, ultimamente, um processo de descentralização, como salienta Vieira (2000, p. 142): Consideradas, todavia, as dimensões continentais de nosso país, o modelo centralista encontrou suas brechas. A despeito de diretri- zes gerais e estruturas rígidas e da montagem de um aparato legal e burocrático para fazer face a tais necessidades, na prática, formas de descentralização foram se impondo. Estados e municípios exer- ceram significativos graus de liberdade, ao assumir suas funções de coordenação do sistema escolar, nas suas diferentes esferas de abrangência. Cury (2000, p. 46) salienta que o Artigo 206 da Constituição Federal (com seus princípios de igualdade, liberdade, pluralismo, gratuidade, qualidade, piso salarial comum e gestão democrática) expressa a conquista de setores organizados e autônomos da so- ciedade com vista à busca de participação, bem como o esforço para reverter a tradição do uso do público a favor do privado. O autor deixa claro que há aspectos que evidenciam o avan- ço da gestão democrática no âmbito nacional, tal qual a concep- ção de um Federalismo Cooperativo expresso na lei. A cooperação mútua entre governo federal, estados e municípios pode facilitar as articulações e as ações na área educacional, favorecendo uma distribuição mais equitativa dos ônus financeiros com o setor. No entanto, dentro de uma óptica sistêmica, Saviani (2010, p. 776) entende que há necessidade de: [...] construir um verdadeiro sistema, isto é, um conjunto unificado que articula todos os aspectos da educação no país inteiro, com normas comuns válidas para todo o território nacional e com pro- cedimentos também comuns, visando a assegurar educação com o mesmo padrão de qualidade a toda a população do país. Sem um sistema nacional, o autor alerta para o quadro de imprecisões, desencontros, contradições e improvisações que Claretiano - Centro Universitário 121© U3 - Gestão Escolar: Princípios, Funções, Organização e Áreas de Atuação marcam a gestão da educação no âmbito nacional. Criticando al- guns aspectos legais, o autor diz que não se pode admitir a des- centralização como se a tarefa da educação fosse não apenas do governo, mas da sociedade civil. A criação de um sistema nacional de educação não é tarefa de governos, mas do Estado como re- presentante do bem público e dos interesses de toda a sociedade. A gestão da escola via óptica sistêmica Com todas as limitações levantadas no item anterior, pode- mos considerar que a organização de um sistema de ensino de um país abrange três níveis: o sistema de ensino mais geral (o federal, o estadual, o municipal), o sistema das escolas e o sistema das salas de aula. Uma escola desenvolve sua ação em meio às políticas educa- cionais, às diretrizes curriculares, às formas organizativas do sistema e às ações pedagógicas da sala de aula. Dessa forma, os profissionais de uma escola podem não desenvolver com eficácia seu trabalho se não tiverem uma visão mais ampla da rede na qual trabalham e das políticas e planos educacionais. Assim, as políticas e planos também perdem o valor se não tomarem como referência a melhoria do tra- balho que é desenvolvido na escola e na sala de aula. Para que a escola possa cumprir sua função social, é neces- sário fazer uma releitura crítica de algumas concepções e aspectos básicos, superando a óptica fragmentada e alcançando a sistêmi- ca, em que todos participam da organização e da gestão escolar de forma cooperativa e interativa. Gomes (2003, p. 31) apresenta, sinteticamente, a passagem do antigo modelo para o novo paradigma: • Da ótica fragmentada para a sistêmica onde todos participam de forma interativa. • Da limitação de responsabilidades pelos resultados para a ex- pansão, promovendo responsabilidades, centradas no todo, independente das funções diferenciadas. © Fundamentos e Métodos da Gestão Escolar122 • Da ação episódica para o processo contínuo, porque a ação cen- trada no evento é vazia de resultados, e educação é um proces- so contínuo. • Da hierarquização e burocratização para a coordenação, supe- rando a contribuição individual, por ações coordenadas. • Da contribuição individual para a coletiva, porque o espírito de equipe, a participação e a delegação são os grandes desafios da gestão educacional. Segundo Gomes (2003), a escola precisa que se substitua o "trabalho solitário" pelo "trabalho solidário", a centralização pela participação. Como vimos, essa nova concepção sistêmica, que se contra- põe à fragmentada, diretiva e autoritária, ganha corpo nas grandes mobilizações da sociedade em torno da Assembleia Constituinte que resultou no texto constitucional de 1988. Discorrendo sobre o tema, Cury (2000, p. 46) aponta como primeiro passo importante para o avanço da gestão democrática em nossas escolas o dispositivo legal (o Artigo 37 da Constituição Federal de 1988) que, espelhando-se nos Estados Nacionais Mo- dernos, prevê uma marca divisória entre o público e privado, pon- do em relevância a moralidade e a publicidade dos atos, ao fixar os princípios de "legalidade, impessoalidade, moralidade, publici- dade e eficiência" na administração pública dos poderes da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios. A óptica da gestão sistêmica contrapõe-se à gestão pater- nalista ou autoritária que tem prevalecido na condução das ati- vidades públicas. A gestão democrática pressupõe a exigência da moralidade, da impessoalidade e da transparência. O Artigo 12, da LDBN nº 9.394/96, incorpora elementos que favorecem a gestão democrática. Os estabelecimentos de ensino respeitando as normas comuns e as do seu sistema de ensino te- rão a incumbência de: I. elaborar e executar a sua proposta pedagógica; II. administrar seu pessoal e seus recursos financeiros; Claretiano - Centro Universitário 123© U3 - Gestão Escolar: Princípios, Funções, Organização e Áreas de Atuação III. assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula estabe- lecidos; IV. zelar pelo cumprimento do plano de trabalho docente; V. prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendi- mento; VI. articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade; VII. informar pais e responsáveis sobre freqüência e rendimento dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pe- dagógica. O Artigo 14, também da LDBN 9394/96, incorpora em seu texto dispositivos facilitadores da gestão democrática nas escolas. Veja o que diz esse artigo: Art. 14 – Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão de- mocrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I. participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II. participação das comunidades, escolar e local, em conselhos ou equivalentes. Portanto, temos no aspecto da lei o que seria o "sonho ide- alizado", mas sem referências concretas de formas e mecanismos para viabilizar esse sonho. Para que a prática da gestão escolar possa cumprir seus de- sígnios de agente de transformação social, ofertando uma educa- ção inclusiva e de qualidade, é necessário que, à luz da lei, ocorra uma constante autocrítica, uma constante autoavaliação das ações empreendidas no cumprimento do projeto político-pedagógico da escola. Conforme Saviani, (1998, p. 134) Não basta ater-se à letra da lei, é preciso captar seu espírito. Não é suficiente analisar o texto, é preciso examinar seu contexto.Não basta ler as linhas, é necessário ler as entrelinhas. Logo, os documentos e os textos legais devem ser utilizados juntamente com textos críticos para confrontar a situação procla- © Fundamentos e Métodos da Gestão Escolar124 mada (ideal) com a situação real. Dessa forma, é possível detectar as contradições objetivas e os fatores condicionantes da prática educativa. Ao diretor, gestor maior, dentre as muitas atribuições que lhe compete, tais como: planejar, avaliar, coordenar, incentivar, motivar, empreender, valorizar, entre outras, destaca-se a função de mediador, pois a gestão é acima de tudo a gestão de pessoas. Conflitos fazem parte do cotidiano da escola, muitos deles resultantes de diferentes interesses dos atores internos e exter- nos. No entanto, o parâmetro para a resolução dos mesmos são os interesses institucionais, que, por sua vez, devem refletir as reais demandas da comunidade. No próximo item, veremos mais deta- lhadamente a gestão da escola. 6. PRiNCÍPiOs e CARACteRÍstiCAs DA GestÃO es- COlAR Conforme Libâneo (2004, p. 137), [...] a educação escolar tem a tarefa de promover a apropriação de saberes, procedimentos, atitudes e valores por parte dos alunos, pela ação mediadora dos professores e pela organização e gestão da escola. Resumidamente, o encargo das escolas hoje é assegurar o desenvolvimento das capacidades cognitivas, operativas, sociais, a formação da cidadania participativa e da formação ética. Para isso, é necessário superar as formas conservadoras de organização e gestão, adotando-se formas alternativas, criativas, de modo que os objetivos sociais e políticos da escola correspondam às estraté- gias compatíveis de organização e gestão. Vejamos alguns princí- pios e características da gestão democrática. A gestão democrática: a descentralização e a participação Além da cultura centralizadora, o estudo da história brasi- leira mostra também que as formas de gestão de nossa sociedade Claretiano - Centro Universitário 125© U3 - Gestão Escolar: Princípios, Funções, Organização e Áreas de Atuação (legislações, planos de governo, medidas econômicas etc.) em ge- ral caracterizam-se por uma "cultura personalista" na qual a pes- soa que exerce determinado cargo é entendida como a respon- sável individual pelas decisões, o que faz com que as relações se estabeleçam entre indivíduos, e não entre grupos, organizações, entidades. A cultura burocrática e centralizadora que se instalou em nossa cultura é uma das dificuldades que limitam a participação dos sujeitos, na medida em que traz embutida a ideia de partici- pação como dádiva e concessão dos superiores. Os cidadãos não sentem a participação como um direito. Como consequência, observamos que os interesses coletivos desaparecem diante dos privilégios ou as pessoas ficam esperando por decisões vindas "de cima", sem se organizar em movimentos reivindicatórios. Evidentemente, as camadas populares levam aí desvantagem considerável, o que inibe as reivindicações, as prá- ticas de participação e de controle em relação às ações praticadas pelas escolas. Há alguns anos, a escola vem se transformando, buscando romper com o modelo centralizador de administrar a escola, mas a participação ainda não foi incorporada nem por professores nem pela comunidade. Lück (2008, p. 23-24) alerta-nos para a participação pela par- ticipação, descrevendo-a como aquela na qual [...] os participantes do contexto organizacional são convidados apenas a envolver-se numa participação elementar e formal de verbalização e discussão superficial sobre questões já definidas an- teriormente [...]. Dessa forma, os sujeitos apenas confirmam e legitimam as decisões alheias e se desmotivam, pois se gasta um bom tempo com questões banais e secundárias. © Fundamentos e Métodos da Gestão Escolar126 A construção de uma gestão democrática requer dos educa- dores esforço para estimular práticas de participação popular para a conquista da cidadania. É por meio de instâncias participativas que a população passa a conhecer os serviços que a escola lhe oferece, as possibilidades e limites da instituição, podendo, assim, avaliá-la a fim de organizar demandas e intervir de forma organizada. A participação é um princípio fundamental para a democra- tização da gestão e a melhoria da qualidade de ensino, na medida em que permite que todos os segmentos da comunidade com- preendam melhor o funcionamento da escola, conheçam mais profundamente os alunos e os profissionais que nela trabalham, envolvam-se no processo educativo e acompanhem melhor a edu- cação ali oferecida. Segundo Lück (2008, p. 29): A participação, em seu sentido pleno, caracteriza-se por uma for- ça de atuação consciente pela qual os membros de uma unidade social reconhecem e assumem seu poder de exercer influência na determinação da dinâmica dessa unidade, de sua cultura e de seus resultados, poder esse resultante de sua competência e vontade de compreender, decidir e agir sobre questões que lhe são afetas, dando-lhe unidade, vigor e direcionamento firme. Logo, participar exige a mobilização efetiva dos esforços in- dividuais para a superação de atitudes de acomodação e alienação e para a construção do espírito de equipe, visando à efetivação de objetivos sociais e institucionais que são adequadamente entendi- dos e assumidos por todos. De acordo com Libâneo (2005, p. 329), o conceito de partici- pação fundamenta-se no princípio de autonomia que se contrapõe a formas autoritárias de tomada de decisão, pois implica que as pessoas e os grupos tenham a capacidade de livre escolha de obje- tivos e processos de trabalho. Werle (2003, p. 39) pondera que os processos participativos geram conflitos – os quais nem sempre a direção está habilitada para enfrentar. "Nem todos suportam, manejam e conseguem Claretiano - Centro Universitário 127© U3 - Gestão Escolar: Princípios, Funções, Organização e Áreas de Atuação enfrentar, com maturidade, conflitos em seu grupo de trabalho". Essa falta de habilidade faz com que muitos gestores prefiram ca- muflar, encobrir ou negar, a fim de manter a situação com está, numa atitude considerada autoritária. Nesse sentido, Lück (2008, p. 50) salienta que a ação partici- pativa precisa ter como parâmetros valores substanciais para que não perca seu caráter social e pedagógico. Resumidamente, são eles: • a ética como ação orientada pelo respeito humano, às institui- ções sociais e aos valores necessários à qualidade de vida; • a solidariedade como reconhecimento do valor inerente de cada pessoa e ao desenvolvimento em condições de troca e re- ciprocidade; • a equidade como reconhecimento de que em condições des- favoráveis ou diferenciadas as pessoas precisam de atenção e condições especiais; • compromisso como ação dos envolvidos no processo pedagógi- co, focada e identificada com os objetivos, valores, princípios e estratégias de desenvolvimento. Enfatizamos que essa participação não deve acontecer de forma aleatória, pois é preciso que se criem órgãos oficiais, como os Conselhos de Classe e os Conselhos de Escola, Colegiados ou Comissões. Estes são órgãos nos quais se compartilham proble- mas, discutem-se possibilidades, assumem-se decisões coletivas. Como vimos no retrospecto das teorias administrativas, mui- tos deles surgiram no início da década de 1980, funcionando efe- tivamente em várias escolas e, em outras, ainda persistindo por imposição legal. No entanto, a criação desses espaços participativos comple- xifica a gestão escolar que deve coordenar a organização de inú- meras ações para que a participação se efetive e não seja apenas um discurso. Organizar horários, espaços, pautas, comunicados, convocações de reuniões que se ajustem aos múltiplos atores é apenas uma das dificuldades. © Fundamentos e Métodos da Gestão Escolar128 Enfim,num certo sentido, a participação é ingrediente dos próprios objetivos da escola e da educação. A escola é lugar de aprender, de adquirir conhecimentos, desenvolver capacidades in- telectuais, sociais, afetivas, éticas e estéticas, mas é também lugar de formação de competências para a participação na vida social, econômica e cultural. E num sentido ainda mais amplo, pela abertura de canais de participação da comunidade, a escola deixa de ser um espaço afastado do social, um lugar isolado da realidade, para conquistar o status de comunidade educativa, que interage com a sociedade civil. Vivendo a prática da participação nos órgãos deliberativos da escola, os pais, os professores, os alunos e funcionários vão apren- dendo a se sentir responsáveis pelas decisões que os afetam num âmbito mais amplo da sociedade. A gestão como prática política: a cidadania Como vimos nos itens anteriores, a gestão educacional e a escolar implicam uma gestão democrática com base na participa- ção. Pais, alunos, professores e funcionários assumem sua parte de responsabilidade pelo projeto da escola. Gadotti (2001, p. 46) afirma que há pelo menos duas razões para a implementação de uma de gestão democrática: A primeira dessas razões é porque a escola deve formar para a ci- dadania e a segunda razão consiste no fato de que a gestão de- mocrática pode melhorar o que é específico da escola: o ensino. A participação pertence à própria natureza do ato pedagógico. Cabe à gestão escolar democrática adotar práticas adminis- trativas e pedagógicas que superem as concepções que fazem da escola uma ilha isolada do seu entorno, fechada em si como se fosse uma instituição desvinculada da sociedade. Portanto, torna-se necessário o desenvolvimento de um sis- tema escolar verdadeiramente influenciado pelo político e pelo social, para que assim a escola evidencie cada vez mais a sua prá- Claretiano - Centro Universitário 129© U3 - Gestão Escolar: Princípios, Funções, Organização e Áreas de Atuação tica da cidadania e o seu envolvimento da comunidade, da família e da empresa. Nessa perspectiva de interação social da própria escola, a participação efetiva de estruturas formais, como os órgãos cole- giados e conselhos escolares, assume papel de destaque e rele- vância em processos decisórios que contribuam para a construção da cidadania. Ao abordar o tema "A escola, sua articulação com a gestão e a política educacional", Vieira (2000, p. 141) comenta que, "na úl- tima década, a escola tornou-se foco da política educacional para que ela pudesse adequar-se às demandas da sociedade, do conhe- cimento e cumprir a sua função social". Vieira (2000) questiona: qual é a articulação existente entre escola e cidadania? Para responder, ela cita: Se toda comunidade política se caracteriza pela coexistência de vá- rias tradições, a escolaridade tem significado particular. A escola, de fato, institui a cidadania. É ela o lugar onde as crianças deixam de pertencer exclusivamente à família para integrarem-se numa comunidade mais ampla em que os indivíduos estão reunidos não por vínculos de parentesco ou de afinidade, mas pela obrigação de viver em comum. A escola institui em outras palavras, a coabitação de seres diferentes sob a autoridade de uma mesma regra (CANI- VEZ, 1991: 33 apud VIERA, 2000, p. 129). Para isso, é necessário retomar a constatação óbvia de que a escola tem papel fundamental na formação da cidadania e revela o caráter estratégico de uma gestão para o exercício dessa função política e social. No entanto, essa concepção não aconteceu, como vimos anteriormente, sem um longo processo de evolução teórica. No momento atual, temos que: No âmbito da escola, passa-se de uma concepção de administração do cotidiano das relações de ensino-aprendizagem para a noção de um todo mais amplo, multifacetado, relacionado não apenas com uma comunidade interna, constituída por professores, alunos e funcionários, mas também que se articula com as famílias e a comunidade externa (VIEIRA, 2000, p 141). © Fundamentos e Métodos da Gestão Escolar130 Portanto, os diretores e/ou administradores passam a ser chamados de "gestores" e essa substituição terminológica advém do entendimento da escola como "instituição caracterizada por uma cultura própria, atravessada por relações de consenso e con- flito, marcadas por resistências e contradições", conforme reflete Vieira (2000, p. 141). Alicerçada nos princípios democráticos, a gestão da educa- ção concorre para a superação de políticas educacionais, histori- camente orientadas por autoritarismos que têm norteado as re- lações sociais brasileiras, as quais se encontram cristalizadas em nossa cultura desde os tempos coloniais. Se, por um lado, considera-se que boa parte do fracasso es- colar acontece no interior das escolas públicas (ainda que a res- ponsabilidade não seja só da escola), há também todo um mo- vimento de políticas públicas para dar suporte para que a escola possa cumprir sua função social. Tanto nos aspectos legais quanto nas políticas educacionais, vemos que a escola vem ampliando seu espaço de autonomia. A escola é o núcleo da gestão, por isso a importância da definição clara de seu papel na construtora da cidadania. É importante com- preender que a promulgação da Lei de Diretrizes e Base da Edu- cação Nacional (LDBN) nº 9.394/96 representou a incorporação de instrumentos de caráter democratizantes na Lei Maior, da qual emanam todas as demais diretrizes para e educação no país. Bordignon e Gracindo (2000, p. 156) ponderam que a escola trabalha o conhecimento, mas que o saber não é um fim em si mesmo. Não se aprende por diletantismo, mas, sim, objetivando a aquisição de um instrumento de cidadania. Os autores questionam: "Mas que cidadania é esta?" Ponde- ram que a função da escola é muito mais que preparar as pesso- as para o exercício da cidadania: há necessidade de se "construir" uma real cidadania para além da filosofia positivista. Uma cidada- nia que na relação com o outro se baseie na liberdade e solidarie- Claretiano - Centro Universitário 131© U3 - Gestão Escolar: Princípios, Funções, Organização e Áreas de Atuação dade, que respeite a igualdade da dignidade humana na diferença das individualidades, que promova a inclusão no espaço social da sociedade do conhecimento, que faça efetivar a democracia. Nessa perspectiva, Cury (2000, p. 57) considera que a cons- trução de uma cidadania ativa já alcançou avanços importantes no aspecto da lei, como resultado da mobilização e lutas de setores da sociedade civil organizada e comprometida com a construção de uma nação menos desigual e mais justa. Podemos recordar que não faz muito tempo que a lei colo- cou em plano de igualdade o contribuinte negro e o branco, am- pliando a cidadania com o reconhecimento dos direitos civis, polí- ticos, sociais e culturais. No entanto, Cury (2000) observa que a prática social da cons- trução da cidadania, mesmo se considerarmos os avanços obtidos, ainda encontra limites no âmbito dos grupos organizados e gran- des dificuldades junto aos grupos não organizados. Voltamos a reafirmar a importância da dimensão da gestão democrática na educação como recurso primaz no atendimento das demandas sociais por uma educação de qualidade, que seja construtora e centrada na inclusão e no conhecimento. 7. ObjetivOs DA esCOlA e PRátiCAs De ORGANizA- ÇÃO e GestÃO Organização e gestão Dentro de uma visão técnico-científica, a organização esco- lar busca a racionalização de aspectos que podem ser planejados, controlados e avaliados na busca por maior eficiência e eficácia. Numa visão mais crítica, a organização escolar implica a considera- ção da interação entre as pessoas, envolvendo a construção social de um ambiente educativo por professores, alunos, pais, funcioná- rios e comunidade. © Fundamentos e Métodos da Gestão Escolar132Segundo Libâneo (2005, p. 293), em se tratando da escola, a organização e a gestão dizem respeito: [...] ao conjunto de normas, diretrizes, estrutura organizacional, ações e procedimentos que asseguram a racionalização de recur- sos humanos, materiais, financeiros e intelectuais, assim como a coordenação e o acompanhamento do trabalho das pessoas. Assim, a educação envolve processos de racionalização, co- ordenação e acompanhamento. A forma como uma escola se organiza e se estrutura indica o predomínio de uma ou outra concepção de gestão, que pode focar mais intensamente a racionalização ou a coordenação e o acompanhamento. A ação do gestor pode deixar evidente o com- promisso com a simples organização dos aspectos administrativos ou o compromisso com a transformação e a estruturação de um espaço democrático de aprendizagem. O uso racional dos recursos refere-se à opção eficiente e efi- caz dos meios a serem utilizados para a consecução dos objetivos. No entanto, a coordenação e o acompanhamento refere-se a: [...] um conjunto de procedimentos e iniciativas dirigidas a articular, reunir e integrar o trabalho das pessoas que pertencem ao corpo docente e técnico-administrativo da escola para atingir objetivos e metas comuns (LIBÂNEO; et al., 2005, p. 293). Para que se concretizem essas duas características, especi- ficamente da escola, são colocadas em prática as atividades es- pecíficas de planejar, organizar, dirigir e avaliar a condição dessas funções, frente a diversas ações e procedimentos; é o que se de- nomina gestão: "a atividade que coloca em ação um sistema orga- nizacional" (LIBÂNEO et al., 2005, p. 294). De acordo com Libâneo et al. (2005), com base nesta defini- ção geral sobre gestão, emergem duas consequências importantes que apresentamos resumidamente: • As formas de organização e gestão se constituem como meios para atingir determinados fins, não podendo os as- pectos administrativos ser fins em si mesmos. Claretiano - Centro Universitário 133© U3 - Gestão Escolar: Princípios, Funções, Organização e Áreas de Atuação • Conceitualmente, a gestão faz parte da organização por duas razões: a) a escola, concebida como instituição social, é uma organização cujos objetivos, meios, processos e re- sultados devem estar focados na formação humana. Assim, emergem como condicionante fundamental ao fortalecimento das relações sociais, culturais e afe- tivas que nela ocorrem; b) a partir da premissa que deve predominar na insti- tuição escolar, o elemento humano deve ser adminis- trado democraticamente, de maneira que todos que dela fazem parte estejam voltados a atingir os objeti- vos educacionais, colocando-se em plano de relevân- cia o requerimento da gestão participativa. Assim, segundo o autor, a organização e a gestão escolar, para atender às demandas da unidade escolar, devem dispor de condições e de meios para a realização de seus objetivos específi- cos, e visam: • promover as condições, os meios e todos os recursos necessá- rios ao ótimo funcionamento da escola e do trabalho em sala de aula; • promover o envolvimento das pessoas no trabalho, por meio da participação e fazer a avaliação e o acompanhamento desta participação; • garantir a realização da aprendizagem para todos os alunos (LI- BÂNEO et al., 2005 p. 294). No entanto, a ação organizativa da gestão não pode se rea- lizar sem pensar nos fins educacionais, no sentido da ação desen- volvida, e nas concepções que a embasam. Cabe lembrar que existem no mínimo duas formas de conce- ber a gestão educacional centrada na escola, segundo Libâneo et al. (2005, p. 295): • na lógica neoliberal, situar a escola como centro das políticas, com o Estado mínimo transferindo muitas de suas responsabili- dades para a comunidade e as escolas que ficam encarregadas das funções de planejar, organizar e avaliar os serviços educa- cionais. © Fundamentos e Métodos da Gestão Escolar134 • na lógica sociocrítica, privilegia-se o espaço educativo como um ambiente de formação e de aprendizagens significativas cujos sujeitos, alunos e profissionais da escola vêm valorizando suas iniciativas e decisões, participação e autonomia voltados ao atendimento dos reais interesses públicos pelos serviços edu- cacionais, sem que isso desobrigue o Estado de suas responsa- bilidades. Veja a colocação que Libâneo et al. (2005, p. 300-301) fazem sobre a escola. A escola é uma instituição social cujo objetivo explícito: o desen- volvimento das potencialidades físicas, cognitivas e afetivas dos alunos, por meio da aprendizagem dos conteúdos (conhecimentos, habilidades, procedimentos, atitudes e valores), para retornarem- -se cidadãos participativos na sociedade em que vivem. O objetivo primordial da escola é, portanto, o ensino e a aprendizagem dos alunos, tarefa a cargo da atividade docente. A organização escolar necessária é aquela que melhor favorece o trabalho do professor, existindo uma interdependência entre os objetivos e as funções da escola e a organização e a gestão do trabalho escolar. Como se pode perceber, não se trata de uma organização qualquer que a gestão deve desenvolver, mas, sim, de uma orga- nização que dinamize a real função da escola: a aprendizagem dos alunos. Libâneo et al. (2005) argumenta que de nada vale um con- junto de inovações tais como gestão democrática, eleições para diretor, introdução de modernos equipamentos e tantos outros re- cursos, se os alunos continuarem apresentando baixo rendimento escolar e aprendizagem não sedimentada. Nessa mesma perspectiva, Gadotti (2004, p. 86) afirma: Fazer pedagogia é fazer prática teórica por excelência. É descobrir e elaborar instrumentos de ação social. Assim sendo, o pedagogo e o diretor, à luz de uma concepção progressista de educação, tem sua função de mediador do trabalho pedagógico, agindo em todos os espaços de contradição para a transformação da prática de uma educação pública e de qualidade, visando à emancipação das clas- ses populares. O que depreendemos da afirmação do autor é que deve ha- ver uma organização coletiva da escola em função dos sujeitos que Claretiano - Centro Universitário 135© U3 - Gestão Escolar: Princípios, Funções, Organização e Áreas de Atuação nela estão, sendo que o gestor deve entender seu papel como me- diador da intencionalidade educativa da escola, pela via dos dife- rentes segmentos que a compõem. Este é o parâmetro da gestão na sua possibilidade de atuação no espaço escolar. Nessa perspectiva, Libâneo et al. (2005, p. 301) comenta que diversos autores vêm realizando pesquisas que têm como objeto os elementos da organização escolar que interferem no desempe- nho dos alunos, afirmando que uma escola pode ser considerada bem organizada e gerida quando: [...] assegura condições organizacionais, operacionais e pedagógi- co-didáticas que permitam o bom desempenho dos professores em sala de aula, de modo que todos seus alunos sejam bem-suce- didos em suas aprendizagens. Esses estudos relatam que a maneira de funcionamento de uma escola interfere nos resultados escolares dos alunos. Tais pes- quisas colaboram para a identificação de características organiza- cionais que podem contribuir para o rendimento da unidade e que são, obviamente, consideradas as peculiaridades de cada institui- ção escolar. Vejamos, resumidamente, algumas das características organi- zacionais apresentadas por Libâneo et al. (2003, p. 302-303) como capazes de permitir à escola o cumprimento de sua função social: 1) professores que tenham domínio do conteúdo, clareza dos ob- jetivos, que utilizem metodologias e abordagens didático-peda- gógicas que favoreçam a construção de aprendizagens, criando um ambiente escolar de afetividade, que façam uma avaliação fundamentada nos princípios da avaliação contínua; 2) existência de um projeto pedagógico curricular que reflita o consenso estabelecidoentre a direção e o corpo docente, no que tange a objetivos e metas, metodologias e a organização administrativa pedagógica da unidade escolar (regimento, nor- mas e procedimentos de funcionamento); 3) um ambiente de trabalho agradável, no qual a direção exerça o papel de articuladora da troca de experiências entre os do- centes, criando uma sinergia na adoção e prática de critérios de ensino e qualidade na escola; © Fundamentos e Métodos da Gestão Escolar136 4) estrutura organizacional e boa organização do processo de ensi- no e aprendizagem, que consigam motivar a maioria dos alunos a aprender; 5) dispor de infraestrutura física, de recursos didáticos pedagógi- cos que permitam aos alunos situações favoráveis para a apren- dizagem; 6) atuação da direção e coordenação pedagógica na condução de um trabalho educativo que motive o conjunto dos professores a terem um bom desempenho em suas atividades; 7) uma distribuição de alunos por sala a partir de critérios bem de- finidos e uma estrutura e organização curricular com conteúdos que reflitam a realidade; 8) organização do currículo com inovações, a serem incorporadas ou não, analisadas pela equipe sempre com o espírito crítico- -reflexivo, porém, sempre aberto para o novo. Estas reflexões devem ocorrer à luz das experiências que todos já trazem con- sigo, as quais foram construídas e acumuladas ao longo de suas trajetórias de vida. Dessa maneira, podem compreender me- lhor o impacto que o novo poderá ter em seu trabalho. O esquema (Figura 1) a seguir mostra como se articulam, na escola, os meios e os objetivos. fonte: Libâneo et al. (2003, p. 305). Figura 1 Articulação entre meios e objetivos, na escola. Claretiano - Centro Universitário 137© U3 - Gestão Escolar: Princípios, Funções, Organização e Áreas de Atuação Como você pode perceber na Figura 1, a gestão e a organiza- ção da escola são meios para atingir os objetivos decorrentes das demandas e exigências econômicas, políticas, sociais e culturais que são pensados no processo de planejamento e concretizados no currículo colocado em ação pelo ensino. Essas ações são as res- ponsáveis pela qualidade cognitiva e operativa das aprendizagens dos alunos num processo dialético. Logo, cabe ao gestor a responsabilidade de articular os di- ferentes atores em torno de uma educação de qualidade numa mediação democrática capaz de interagir com todos os segmentos da comunidade escolar. Isso exige mais que o conhecimento buro- crático, exige uma sólida formação pedagógica a fim de que possa privilegiar a organização pedagógica e implementar novas formas de administrar – nas quais a comunicação e o diálogo façam parte da prática cotidiana. 8. CONCePÇões De ORGANizAÇÃO e De GestÃO es- COlAR De acordo com o Dicionário Aurélio eletrônico, organização significa: [...] ato ou efeito de organizar-se; modo pelo qual um ser vivo é or- ganizado; conformação, estrutura; modo pelo qual se organiza um sistema; associação ou instituição com objetivos definidos. Segundo a mesma obra, gestão significa "ato de gerir, gerên- cia, administração". A Gestão Escolar se expressa numa forma de organizar o trabalho pedagógico da escola diante de objetivos e metas, numa forma de planejar e disponibilizar para tal os recursos materiais e humanos. Se essas formas organizativas acontecem em processos interativos e coletivos de atribuição de papéis, funções e ativida- des, temos uma clara redistribuição de poder e a caracterização de uma gestão democrática. © Fundamentos e Métodos da Gestão Escolar138 Assim, como vimos anteriormente, as atividades-meio de uma gestão estão comprometidas com os fins e objetivos educa- cionais, não podendo deles se desprender para não gerar uma bu- rocracia inútil. Em outro aspecto, a escola deve ser entendida como uma organização social; portanto, uma instituição cuja gestão deve co- locar em prática procedimentos que têm como componentes nu- cleares os seres humanos e a cidadania. Nessa lógica, é fundamental que a participação de todos os indivíduos ocorra de maneira democrática, desde a elaboração dos objetivos até a avaliação dos resultados alcançados, para que as atividades-fins da escola sejam contempladas com sucesso. A participação ativa dos diversos segmentos da comunidade escolar é precondição para a consolidação da gestão democrática. Logo, um gestor não pode se descuidar do clima organizacional que diz respeito à satisfação das pessoas com seu ambiente de tra- balho e que vem carregado de uma cultura historicamente cons- truída por determinada instituição. Cultura organizacional O que é cultura organizacional? Para além da organização formal e planejada, as instituições sofrem impacto das relações informais que têm sido denominadas de "cultura organizacional". Podemos considerá-la um conjunto de fatores sociais, culturais e psicológicos que influenciam no comportamento da organização em geral e das pessoas em particular. Isso implica diversos outros aspectos. Além das normas, diretrizes, procedimentos operacionais e administrativos que ca- racterizam uma escola, temos os aspectos culturais, nem sempre identificados ou expressos claramente, que diferenciam uma es- cola de outra. Diversos aspectos de uma instituição estão relacionados a crenças, valores e opiniões que interferem nas formas de agir e in- Claretiano - Centro Universitário 139© U3 - Gestão Escolar: Princípios, Funções, Organização e Áreas de Atuação teragir no trabalho cotidiano, na maneira pela qual as pessoas re- agem às inovações e às próprias normas e diretrizes institucionais. Por exemplo, uma postura positiva dos alunos com relação ao aprender e ao estudar não acontece de uma hora para outra, mas, por ser um valor cultural, precisa ser permanentemente culti- vado. Se a escola se preocupa com esse aspecto, e busca construí- -lo, facilita muito o trabalho pedagógico. Esse valor começa a fazer parte da cultura organizacional daquela escola. Logo, precisamos olhar atentamente para cada escola, pois cada uma tem a sua cultura própria, resultante da interação de fatores sociais, culturais e psicológicos. Ela vai se estabelecendo e se modificando ao longo do tempo, de acordo com um conjunto de conhecimentos, valores, crenças e modos de agir de um grupo em um determinado contexto espacial e histórico. Essa cultura institucional, própria de cada escola, transpa- rece no conflito que se estabelece entre os diversos interesses de grupos, de pessoas, de raças, gênero e etnias que compõem a co- munidade escolar. Muitas vezes, a cultura institucional não é fa- cilmente percebida. Ela está constantemente sujeita a mudanças, resultantes do embate que as pessoas travam em suas atividades cotidianas. Libâneo et al. (2003, p. 321) consideram sua importância: Levar em conta a cultura organizacional da escola é, portanto, exi- gência prévia à formação, ao desenvolvimento e à avaliação do projeto curricular e, também, às atividades que envolvem tomadas de decisão: o currículo, a estrutura organizacional, as relações hu- manas, as ações de formação continuada, as práticas de avaliação. Entretanto, essa maneira de ver a organização escolar precisa con- siderar o contexto concreto e real das interações sociais – marcado, também, por conflitos, por relações de fé e poder externas e in- ternas, por interesses pessoais e políticos. Assim como os próprios interesses culturais e sociais definidos pelo Estado e sociedade. A Figura 2 mostra a cultura organizacional como ponto de partida da ligação com as áreas de atuação. Veja: © Fundamentos e Métodos da Gestão Escolar140 DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL GESTÃO CULTURA ORGANIZACIONAL CURRÍCULO AVALIAÇÃO PROJETO PEDAGÓGICO CURRICULAR fonte: Libâneo et al. (2003, p. 321). Figura 2 A relação entre cultura organizacional e as áreas de atuação. Liga-se à cultura organizacional de uma escola oconceito de clima organizacional. Cabe ao gestor e à sua equipe diretiva desen- cadear ações que propiciem um ambiente de trabalho agradável e democrático, no qual o interesse institucional se sobreponha aos interesses de natureza pessoal, com procedimentos definidos que visem à maior eficiência e à maior eficácia dos serviços ofertados à comunidade. Segundo Bordignon e Gracindo (2000, p. 171-173), "o clima organizacional determina a vontade dos membros de participar ou alienar-se do processo educativo", sendo fundamental que a ges- tão da escola se preocupe com ele. No entanto, os conceitos de cultura e clima organizacional não estão isentos de críticas. De acordo com Lúcia E. N. B. Bruno (1993, p. 133), a cultura organizacional, hoje, substitui a cultura cívica do período autoritário. A autora diz: O culto à bandeira, aos símbolos da nação foi substituído pelo culto aos símbolos das grandes corporações e que se encontram nos ti- Claretiano - Centro Universitário 141© U3 - Gestão Escolar: Princípios, Funções, Organização e Áreas de Atuação mes esportivos, e até mesmo em objetos de uso pessoal. Os hinos entoados coletivamente não são mais aqueles que revivificam os tempos heróicos da formação dos Estados Nacionais, mas aqueles que exaltam a empresa e seus produtos. Talvez seja devido a esse viés dos dois conceitos (cultura e clima organizacional) que Bordignon e Gracindo (2000) destacam que algumas condições são importantes para a efetivação de um clima no qual as pessoas se sintam bem além da superficialidade das festinhas: finalidades e objetivos claramente definidos e co- nhecidos por todos; responsabilidades e ações claramente atribu- ídas pelo coletivo; direção entendida como coordenação das alte- ridades, das diferenças entre os iguais; educadores tratados como sujeitos; os conflitos mediados dialeticamente sem negação; pro- cessos de informação transparentes; cultivo do respeito profissio- nal acima das divergências. Os meios utilizados para se atingir o fim social da escola devem pautar-se pelos princípios da gestão democrática partici- pativa, da justiça e do respeito à pessoa humana. Afinal, são as pessoas que criam e recriam a cultura organizacional, e esta deve contribuir eficazmente para a melhoria da qualidade da educação. Organização e gestão escolar A organização da escola acontece de acordo com a concep- ção que os gestores e educadores têm das finalidades dessa insti- tuição. Como vimos anteriormente, se a função da escola abrange a formação humana para a cidadania, sua organização não pode ser a de transmissão e adoção de posturas autoritárias. Se a gestão entender a organização da escola como uma re- alidade neutra, técnica e racional, provavelmente assumirá uma postura de planejamento e controle e ficará bastante preocupada com aspectos meramente administrativos. Se observarmos bem, muitos de nossos gestores escolares assumem esses aspectos, de- legando a outros funcionários o aspecto pedagógico, como se hou- vesse uma cisão entre um e outro. © Fundamentos e Métodos da Gestão Escolar142 Se a gestão assume uma postura mais crítica, entendendo a escola como um espaço de interação de pessoas e formação para a cidadania, procurará trabalhar mais na direção dos órgãos e ins- tâncias de participação, na mobilização das pessoas, entendendo a organização como uma construção social atribuída a professores, alunos, pais e integrantes da comunidade local. Logo, as ações que se desenvolvem carregam conotações desse ou daquele posicionamento teórico, mesmo que inconscien- temente. Podemos afirmar que, uma vez definida e assumida a concepção de gestão, todas as atividades a serem desenvolvidas na escola serão influenciadas por esse posicionamento, desde a organização dos espaços de aprendizagem até o planejamento do projeto político-pedagógico. O Quadro 1 apresenta as principais características de cada concepção de organização e gestão escolar, de acordo com Libâ- neo (2005). Quadro 1 Concepções de organização e gestão escolar. tÉCNiCO- -CieNtÍfiCA AUtO GestiONáRiA iNteRPRetAtivA DemOCRátiCO PARtiCiPAtivA • Prescrição detalhada de funções e tarefas, acentuando a divisão técnica do trabalho escolar. • Poder centralizado no diretor, destacando-se as relações de subordinação, em que uns têm mais autoridade do que outros. • Vínculo das formas de gestão interna com as formas de auto gestão social (poder coletivo na escola para preparar formas de autogestão no plano político). • Decisões coletivas (assembleias, reuniões), eliminação de todas as formas de exercício de autoridade e de poder. • A escola é uma realidade social subjetivamente constituída, não dada nem objetiva. • Privilegia menos o ato de organizar e mais a 'ação organizadora', com valores e práticas compartilhados. • Definição explicita, por parte da equipe escolar, de objetivos sociopolíticos e pedagógicos da escola. • Articulação da atividade de direção com a iniciativa e a participação das pessoas da escola e das que se relacionam com ela. Claretiano - Centro Universitário 143© U3 - Gestão Escolar: Princípios, Funções, Organização e Áreas de Atuação tÉCNiCO- -CieNtÍfiCA AUtO GestiONáRiA iNteRPRetAtivA DemOCRátiCO PARtiCiPAtivA • Ênfase na administração regulada (rígido sistema de normas, regras, procedimentos burocráticos de controle das atividades), descuidando- se, às vezes, dos objetivos específicos da instituição escolar. • Comunicação linear (de cima para baixo), baseada em normas e regras. • Mais ênfase nas tarefas do que nas pessoas. • Ênfase na auto- organização do grupo de pessoas da instituição, por meio de eleições e de alternância no exercício de funções. • Recusa a normas e a sistemas de controles, acentuando a responsabilidade coletiva. • Crença no poder instituinte da instituição e recusa de todo poder instituído. O caráter instituinte dá-se pela prática da participação e da auto gestão, modos pelos quais se contesta o poder instituído. • A ação organizadora valoriza muito as interpretações, os valores, as percepções e os significados subjetivos, destacando o caráter humano e preterindo o caráter formal, estrutural, normativo. • Qualificação e competência profissional. • Busca de objetividade no trato das questões da organização e da gestão, mediante coleta de informações reais. • Acompanhamento e avaliação sistemáticos com finalidade pedagógica: diagnóstico, acompanhamento dos trabalhos, reorientação de rumos e ações, tomada de decisões. • Todos dirigem e são dirigidos, todos avaliam e são avaliados. • Ênfase tanto nas tarefas quanto nas relações. fonte: Libâneo et al. (2005, p. 327). Sobre os dramas da gestão técnico-científica, julgamos ter comentado o suficiente na unidade anterior. Observamos, então, que a concepção autogestionária traz uma ausência de direção com a participação igual de todos, numa clara recusa da autorida- de. O que precisamos nos questionar em relação a essa concepção é se o grupo-escola tem maturidade, inclusive teórica, para se au- togerir. Nesse caso, alguns autores consideram que essa concep- ção é capaz de trazer autonomia e despertar processos criativos interessantes. © Fundamentos e Métodos da Gestão Escolar144 A concepção interpretativa, apesar de considerar as condi- ções da escola, tem como foco os aspectos subjetivos dos sujeitos escolares, suas experiências e práticas sociais. Nessa perspectiva, a gestão assume um caráter de constru- ção social e coletiva. No entanto, esse posicionamento recusa-se a conhecer mais detidamente os modos de funcionamento da or- ganização no que tange a normas, estratégias e procedimentos. Isso acarreta um abandono dos aspectos administrativos, o que também acaba por interferir no campo pedagógico. A quarta concepção,a democrático-participativa, incorpora ações e planejamentos coletivos e democráticos; porém, também considera as responsabilidades individuais diante de um projeto coletivo. Como nos esclarece Libâneo (2005, p. 326), a concepção democrático-participativa considera importantes tanto "a ênfase nas relações humanas e a participação das decisões" quanto "a tomada de ações efetivas para se atingir com êxito os objetivos específicos da escola". Para que a gestão democrática participativa possa ser viven- ciada e tornar-se concepção norteadora da organização e da ges- tão da escola, é necessário que se coloque em plano de relevância, além dos princípios elencados no quadro anterior, o princípio da autonomia. É importante que você analise cada concepção de or- ganização e gestão escolar e faça uma comparação entre elas. O Organograma (Figura 3) apresenta os elementos de com- posição da estrutura organizacional básica, com os setores e as funções típicas de uma escola que se organiza a partir da concep- ção de organização e gestão democrático-participativa. Esse organograma de desenho circular, representativo da or- ganização e da gestão escolar democrática, configura a inter-relação entre as diversas áreas e setores da escola numa perspectiva sistê- mica. Conforme nos alerta o autor do quadro, no modelo técnico- -científico, o organograma geralmente é representado por um dese- nho geométrico que apresenta a hierarquia detalhada das funções. Claretiano - Centro Universitário 145© U3 - Gestão Escolar: Princípios, Funções, Organização e Áreas de Atuação fonte: Libâneo et al. (2003, p. 340). Figura 3 O organograma básico da escola. Como foi possível ver, a gestão de uma escola não é uma tarefa fácil. É um trabalho que requer formação consistente, além de exigir do gestor um trabalho coletivo, direcionado por princí- pios de autonomia, emancipação e a participação com vistas a conseguir construir, organizar e implementar um projeto político- -pedagógico. Numa gestão democrática, o gestor precisa estar ciente de que a qualidade da educação oferecida pela escola depende mui- to (embora não só) da participação ativa de todos, respeitando a contribuição das individualidades no enriquecimento do trabalho coletivo. As figuras, os quadros e as tabelas fazem parte do texto e complementam os conceitos e as explicações. Portanto, não dei- xe de estudá-los e compreendê-los para uma aprendizagem mais eficiente. © Fundamentos e Métodos da Gestão Escolar146 9. áReAs De AtUAÇÃO DA ORGANizAÇÃO e DA Ges- tÃO esCOlAR São consideradas áreas básicas de atuação da organização e da gestão escolar as atividades elementares que caracterizam o funcionamento da instituição escolar, para que esta possa funcio- nar e garantir a qualidade da aprendizagem dos alunos. São as áreas e setores da unidade escolar que dão suporte às atividades docentes – cuja grande finalidade é promover de- senvolvimento físico, cognitivo, político, ético e sócio afetivo do educando por meio da construção de conhecimentos, valores, ha- bilidades e atitudes. Normalmente, percebemos que se consideram áreas de atu- ação da gestão escolar a área pedagógica, a de recursos humanos e a administrativa, entendendo-se que a gestão pedagógica tem prioridade, pois é a que mais se relaciona com os objetivos de en- sino e com a aprendizagem dos alunos. Vejamos as áreas de atuação da organização e da gestão da escola, segundo Libâneo (2003, p. 355): 1) planejamento e o projeto pedagógico-curricular; 2) a organização e o desenvolvimento do currículo; 3) a organização e o desenvolvimento do ensino; 4) as práticas de gestão: técnico administrativas e pedagógico curriculares; 5) desenvolvimento profissional; 6) a avaliação institucional e da aprendizagem. Para Libâneo et al. (2005), com quem concordamos em rela- ção a essa questão, as áreas de atuação constituem condicionan- tes da eficácia dos processos de ensino e aprendizagem. Na Figura 4, temos as seis áreas de atuação da organização da escola. Claretiano - Centro Universitário 147© U3 - Gestão Escolar: Princípios, Funções, Organização e Áreas de Atuação fonte: Libâneo et al. (2003, p. 356). Figura 4 As áreas de atuação da organização e gestão da escola. O autor destaca que as áreas de atuação da gestão com- põem-se de três blocos, como se pode ver nos círculos da figura. Libâneo (2005, p. 356) comenta, ainda, as áreas descritas na figu- ra, mostrando como as diversas áreas se articulam. A primeira área vincula-se às finalidades da escola, tais como o currículo, o projeto, o ensino. A segunda área está relacionada aos meios para a consecução dos objetivos: as práticas de gestão e o desenvolvimento profissional. A terceira área, a avaliação, cor- relaciona-se às outras duas. Permeando essas áreas, encontra-se a cultura organizacional (como um espaço em que todas as outras áreas se realizam). Enfim, cabe ao diretor o papel de articulador e catalisador das áreas de atuação da organização e gestão escolar em prol da melhoria da qualidade da educação. © Fundamentos e Métodos da Gestão Escolar148 10. QUestões AUtOAvAliAtivAs Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu desempenho no estudo desta unidade: 1) Responda: por que Saviani e Libâneo consideram que não temos um sistema nacional de educação? 2) Faça uma reflexão comparando a escola na lógica neoliberal e na lógica so- ciocrítica. 3) Comente sobre os dois princípios fundamentais da gestão democrática: a participação e a cidadania. 4) Que objetivo o gestor deve focar numa concepção democrática de escola? 5) Quais são as principais áreas de atuação da gestão e da organização escolar? 6) Que diferenças existem entre as concepções autogestionárias e a gestão democrático-participativa? 7) Referencie os pontos em que encontrou maior dificuldade. Em seguida, re- torne à unidade, resumindo-os, a fim de solucionar suas dúvidas. 11. CONsiDeRAÇões Nesta unidade, procuramos apresentar o que é a gestão es- colar, com base em seus pressupostos teórico-conceituais, seus princípios e suas finalidades. A organização e a administração da educação têm por objetivo a estruturação, a organização e a con- dução dos serviços escolares. Vimos que existe uma óptica fragmentada, hierárquica e au- toritária da gestão escolar e uma óptica sistêmica e democrática. Verificamos, também, que a gestão escolar está diretamente vin- culada às políticas públicas para a educação e aos aspectos históri- cos, econômico-sociais e culturais, e que sua práxis ocorre no seio da prática política. Para que a gestão escolar como prática política possa respon- der com eficiência, eficácia e equidade aos desafios da sociedade Claretiano - Centro Universitário 149© U3 - Gestão Escolar: Princípios, Funções, Organização e Áreas de Atuação contemporânea, sua atuação deve ocorrer com base em uma si- nergia estabelecida democraticamente entre direção, professores, alunos, família e comunidade, que devem agir cooperativamen- te. Para isso, é fundamental que todos tenham a oportunidade de participar dos processos decisórios da escola. "Participação" é a palavra-chave na construção de uma escola cidadã. A instituição escolar é o local onde as políticas públicas se concretizam por meio da organização e da gestão. Ela é a respon- sável por reunir os meios, as condições e os procedimentos neces- sários para garantir que os objetivos educacionais sejam alcança- dos. A maneira como a escola se organiza e é dirigida está direta- mente vinculada a uma determinada concepção de organização e gestão escolar. A concepção democrático-participativa ocupa lugar de rele- vância e destaque, pois propicia um funcionamento da escola pú- blica que incorpora ao processo de ensino-aprendizagem práticas concretas de exercício de cidadania, ética e justiça. Para cumprir seus objetivos, a organização ea gestão escolar possuem áreas específicas de atuação. Essas áreas referem-se às atividades básicas que caracterizam uma instituição de ensino e garantem o seu funcionamento para atingir a melhoria da qualida- de da educação. Desse modo, o princípio de autonomia emerge como ele- mento relevante para a consolidação da gestão democrático-par- ticipativa. Devemos levar em conta os avanços alcançados na perspec- tiva da gestão escolar democrática. Entretanto, o Brasil ainda não possui um sistema nacional de ensino sistêmico e articulado. Nosso ensino permanece organizado na forma de um siste- ma de ensino básico e um sistema de ensino superior. Nele, per- dura a falta de interatividade entre os diversos sistemas, além de © Fundamentos e Métodos da Gestão Escolar150 ser patente a fragmentação, a dicotomia entre o ensino público e o privado, entre a educação profissional e a tecnológica e o ensino propedêutico. 12. E-REfERências LÜCK, H. Perspectivas da gestão escolar e implicações quanto à formação de seus gestores. Em Aberto. Brasília: MEC/INEP, v. 17, n.72, 11-33, fev. /jun. 2000. Disponível em: <http://www.crmariocovas.sp.gov.br/prf_l.php?t=001>. Acesso em: 12 jun. 2012. SAVIANI, D. Sistemas de ensino e planos de educação: o âmbito dos municípios. Educação & Sociedade, Ano Xx, Nº 69, dez. 1999. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/ v20n69/a06v2069.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2012. ______. Desafios da construção de um sistema nacional articulado de educação. Trab. Educ. Saúde, v. 6 n. 2, p. 213-231, jul./out. 2008. Disponível em: <http://www.revista. epsjv.fiocruz.br/upload/revistas/r206.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2012. ______. Organização da educação nacional: sistema e Conselho Nacional de Educação, plano e fórum nacional de educação. Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 112, p. 769-787, jul./ set. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v31n112/07.pdf>. Acesso em: 12 jun. 2012. WERLE, F. O. C. Novos tempos, novas designações e demandas: diretor, administrador ou gestor escolar. 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