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Historia da America II

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LICENCIATURA EM
 HISTÓRIA 
HISTÓRIA DA AMÉRICA II
Semestre 6
Prof. Clara Versiani
UNIVERSIDADE METROPOLITANA DE SANTOS
HISTÓRIA DA AMÉRICA II�
UNIMES VIRTUAL
Universidade Metropolitana de Santos 
Campus II – UNIMES VIRTUAL
Av. Conselheiro Nébias, 536 - Bairro Encruzilhada, Santos - São Paulo
Tel: (13) 3228-3400 Fax: (13) 3228-3410
www.unimesvirtual.com.br
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.
V642l VERSIANI, Clara
 Licenciatura em História: História da América II.
 (por) Prof.ª Clara Versiani. Semestre 6. Santos: 
 UNIMES VIRTUAL. UNIMES. 2007. 166 p. 
 1. História 2. História da América II.
 
 CDD 970
www.unimesvirtual.com.br
HISTÓRIA DA AMÉRICA II �
UNIMES VIRTUAL
UNIMES – Universidade Metropolitana de Santos - Campus I e III
Rua da Constituição, 374 e Rua Conselheiro Saraiva, 31
Bairro Vila Nova, Santos - São Paulo - Tel.: (13) 3226-3400
E-mail: infounimes@unimes.br
Site: www.unimes.br
Prof.ª Rosinha Garcia de Siqueira Viegas
Fundadora 
 
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Prof. Rubens Flávio de Siqueira Viegas Júnior
Pró-Reitor Administrativo
Prof.ª Vera Aparecida Taboada de Carvalho Raphaelli
Pró-Reitora Acadêmica
Prof.ª Carmem Lúcia Taboada de Carvalho
Secretária Geral
mailto:infounimes@unimes.br
www.unimes.br
HISTÓRIA DA AMÉRICA II�
UNIMES VIRTUAL
EQUIPE UNIMES VIRTUAL
Supervisão de Projetos
Prof.ª Deborah Guimarães
Prof.ª Doroti Macedo
Prof.ª Maria Emilia Sardelich
Prof. Sérgio Leite
Grupo de Apoio Pedagógico - GAP
Prof.ª Elisabeth dos Santos Tavares - Supervisão
Prof.ª Cristhiane Fernandes Reis
Prof.ª Danielle Oliveira da Costa
Prof.ª Joice Firmino da Silva
Prof.ª Márcia Cristina Ferrete Rodrigues
Prof.ª Maria Eugênia de Oliveira Souza
Prof.ª Maria Luiza Miguel
Prof.ª Monika Nascimento Moura
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Angélica Ramacciotti
William Antony Fernandes
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Luiz Felipe Silva dos Reis - Supervisão
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Clécio Alvmeida Ribeiro
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William Souza - Supervisão de Edição
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Leonardo Andrade
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Luiz Henrique Andrade de Oliveira
Raphael Xavier
Stenio Elias Losada
Suellen Caldas
Victor Ruas da Costa
Grupo de Design Multimídia - GDM
Alexandre Amparo Lopes da Silva - Supervisão
Alexandre Luiz Salgado Prado
Harald Michael Santos Puchreiter
Leonardo Correia dos Santos
Marcelo da Silva Franco
Apoio Administrativo
Angélica Dias Maria
Denise Aparecida Ursini Marques Machado
Fábio Gomes Mota Molinari 
Izabel Steinheuser
Jonia Antonia Fraiha Nunes
Juliana Lamoso da Silva
Juliana Ramos de Oliveira
Lisandra A. Miguel da Silva
Monique Ferreira da Silva
Raphael Tavares
Richard Leandro Koedel
Rubia Lisboa da Silva
Sabrina Santana Gonçalves
Simone Cristina de Lima
Vanessa Pereira
HISTÓRIA DA AMÉRICA II �
UNIMES VIRTUAL
 
AULA INAUGURAL
 
 
A história da América: opções metodológicas e conceituais 
O estudo da história, muitas vezes nos dá a impressão de que boa parte 
dos processos desencadeados pela humanidade, possui causas e carac-
terísticas comuns, relações tão íntimas que fazem com que tais processos 
surjam aos nossos olhos como se fosse uma coisa só. No entanto, quando 
examinados de perto eles se revelam plurais, diversos múltiplos, embora 
continuem a pertencer ao mesmo contexto, ao mesmo movimento, à mes-
ma “onda” de acontecimentos.
Tanto o múltiplo, quanto o uno, é o que se descobre no estudo da História 
da América. A multiplicidade se revela nas distintas culturas, etnias, lín-
guas, costumes, níveis diferentes de desenvolvimento político, econômico 
e social. Se em alguns países predomina a influência branca e africana, em 
outros, essa última praticamente inexiste, e, no lugar dela, há uma forte 
presença indígena. Em outras regiões, tal presença nem se nota mais. 
Por outro lado, a unicidade se revela na diversidade. Em contraste com a 
Europa, a América sempre foi o lugar do diverso, do diferente, do “nunca 
visto”. Para cá vieram imigrantes de todas as regiões do globo. Tanto no 
período colonial, como depois dele, as sociedades aqui foram marcadas 
pela presença de diferentes grupos, entre os quais, se criou desde o início, 
antagonismos e tensões.
De todo modo, a América surgia para os europeus como a “visão do para-
íso”, atraindo grupos diversos, desencadeando ações idem, determinadas 
pela mesma razão ou paixão. 
O que se pretende nesse curso é oferecer a você a possibilidade de cons-
truir uma visão o mais próxima possível da verdade sobre o passado da 
América. Porque, só assim, será possível àquele que se dedica ao estudo 
da história, desmistificar, “desencantar o mundo”, adquirindo uma percep-
ção maior da realidade, que, no entanto, certamente, não será a única. 
Para concluir, proponho uma reflexão:
HISTÓRIA DA AMÉRICA II�
UNIMES VIRTUAL
Não sem pedantismo, mas com um bom grão de verdade, diria efetiva-
metne que uma das missões do historiador, desde que se interesse nas 
coisas do seu tempo – […] - , consiste em procurar afugentar do presente 
os demônios da História. Quer isto dizer, em outras palavras, que a lúcida 
inteligência das coisas idas ensina que não podemos voltar atrás e nem há 
como pretender ir buscar no passado o bom remédio para as misérias do 
momento que corre. (HOLANDA, 2000, p. XVIII).
E as misérias, “são os bens que o precipitado tempo nos deixa. Somos 
nossa memória, somos esse quimérico museu de formas inconstantes, 
essa pilha de espelhos rotos.” (BORGES, 2001, p. 26).
Nos veremos nas próximas aulas.
Até lá.
Professora Clara Versiani
 
HISTÓRIA DA AMÉRICA II �
UNIMES VIRTUAL
Índice
Unidade I - A descolonização e a formação dos Estados nacionais na América 11
Aula: 01 - A sociedade colonial inglesa na América do Norte .................................... 12
Aula: 02 - A independência das Treze Colônias e a formação do Estado .................... 17
Aula: 03 - “A democracia na América” ....................................................................... 22
Aula: 04 - A sociedade colonial na América Ibérica ................................................... 26
Aula: 05 - A descolonização nas “colônias de exploração” I ...................................... 31
Aula: 06 - A descolonização nas “colônias de exploração” II ...................................... 38
Aula: 07 - A formação do Estado na América Ibérica; o caudilhismo ......................... 44
Aula: 08 - O neocolonialismo na América Ibérica ....................................................... 49
Resumo - Unidade I .................................................................................................... 52
Unidade II - A expansão dos EUA ; nacionalismo, conflitos 
 e movimentos sociais na América ................................................. 57
Aula: 09 - A expansão interna dos Estados Unidos .................................................... 58
Aula: 10 - A Guerra Civil nos Estados Unidos ............................................................. 62
Aula: 11 - A expansão imperialista dos Estados Unidos ............................................. 66
Aula: 12 - Afirmação dos Estados, conflitos e tentativa 
 de expansão na América Ibérica I .............................................................. 69
Aula: 13 - Afirmação dos Estados, conflitos e tentativas 
 de expansão na América Ibérica II ............................................................. 73
Aula: 14 - A Revolução Mexicana ............................................................................. 77
Aula: 15 - Democratização e ou modernização na América Ibérica – 
 primeiros passosI ..................................................................................... 81
Aula: 16 - Democratização e ou modernização na América Ibérica – 
 primeiros passos II .................................................................................... 85
Resumo - Unidade II ................................................................................................... 90
Unidade III - A América na era dos Extremos ................................................... 93
Aula: 17 - A crise de 1929 e o regime neocolonial ..................................................... 94
Aula: 18 - Os Estados Unidos nas primeiras décadas do século XX ........................... 98
Aula: 19 - O New Deal ............................................................................................ 102
Aula: 20 - O populismo na América Ibérica I ............................................................ 104
Aula: 21 - O populismo na América Ibérica II ........................................................... 108
Aula: 22 - O populismo na América Ibérica III .......................................................... 111
Aula: 23 - A América no contexto da Guerra Fria .................................................... 114
Aula: 24 - A Revolução Cubana ................................................................................ 118
Resumo - Unidade III ................................................................................................ 123
HISTÓRIA DA AMÉRICA II10
UNIMES VIRTUAL
Unidade IV - Revolução, contra - revolução e redemocratização na América ..127
Aula: 25 - Ações e reações na América Ibérica I ...................................................... 128
Aula: 26 - Ações e reações na América Ibérica II ..................................................... 131
Aula: 27 - Ações e reações na América Ibérica III .................................................... 137
Aula: 28 - Ações e reações na América Ibérica IV .................................................... 142
Aula: 29 - A 2ª Guerra Fria e a América ................................................................... 146
Aula: 30 - A redemocratização na América Ibérica ................................................... 152
Aula: 31 - A América neoliberal ................................................................................ 157
Aula: 32 - O fim da jornada ....................................................................................... 161
Resumo - Unidade IV ................................................................................................ 163
HISTÓRIA DA AMÉRICA II 11
UNIMES VIRTUAL
Unidade I
A descolonização e a formação dos Estados 
nacionais na América
Objetivos
Possibilitar a compreensão dos fatores políticos, econômicos, sociais e ideoló-
gicos que levaram à descolonização, bem como das características centrais do 
processo; o conhecimento das especificidades e das diferenças no processo de 
formação dos Estados. 
Plano de Estudo
Esta unidade conta com as seguintes aulas:
Aula: 01 - A sociedade colonial inglesa na América do Norte
Aula: 02 - A independência das Treze Colônias e a formação do Estado
Aula: 03 - “A democracia na América”
Aula: 0� - A sociedade colonial na América Ibérica
Aula: 0� - A descolonização nas “colônias de exploração” I
Aula: 0� - A descolonização nas “colônias de exploração” II
Aula: 0� - A formação do Estado na América Ibérica; o caudilhismo
Aula: 0� - O neocolonialismo na América Ibérica
HISTÓRIA DA AMÉRICA II12
UNIMES VIRTUAL
Aula: 01
Temática: A sociedade colonial inglesa 
 na América do Norte
 
 Um dos fatos mais intrigantes para todos aqueles que se 
debruçam sobre a história da América é a constatação das 
diferenças que marcam os processos de colonização, bem 
como as diferenças entre os Estados formados após a independência e, 
principalmente, a imensa diferença entre o desenvolvimento político e eco-
nômico das ex-colônias inglesas da América do Norte e os demais países 
do chamado Novo Mundo.
Para que se possa compreender tais diferenças é necessá-
rio considerar o processo de colonização dos atuais Esta-
dos Unidos e parte do Canadá. Já se tornou senso comum 
apontar para esse processo de colonização como sendo um processo de 
povoamento e não de exploração, diferente, portanto, do que aconteceu 
nas outras regiões da América, compreendendo desde a região do Méxi-
co, passando pelo Caribe e a América do Sul. 
As formas de colonização explicam parte das diferenças. Antes de mais 
nada, é preciso deixar de lado a idéia de que a colonização inglesa tinha 
como característica inerente uma maior tolerância em relação às suas co-
lônias. Se considerarmos a colonização inglesa em regiões do Caribe e em 
regiões da África e da Ásia ou, da mesma forma, a colonização realizada 
pelos holandeses, é possível observar o empreendimento colonial basea-
do na extração e na agricultura voltado para a exportação, com base em 
grandes propriedades monocultoras e com utilização de trabalho compul-
sório, tal como se estabeleceu nas regiões colonizadas pelos ibéricos.
Outro ponto importante a ser considerado é que nem toda a região das 
Treze Colônias inglesas da América do Norte estava destinada especifi-
camente ao povoamento, tal como se pode constatar pela existência do 
sistema de plantation nas colônias da região sul do que hoje são os Es-
tados Unidos.
Entretanto, muito embora se possa falar do caráter mercan-
tilista da colonização inglesa, as diferenças da metrópole 
colonizadora em relação às metrópoles ibéricas são bastan-
te relevantes e explicam parte das causas da emancipação das treze colô-
nias - New Hampshire, Massassuchetts, Connecticut, Rhode Island, Nova 
York, Pensilvânia, New Jersey, Delaware, Maryland, Virginia, Carolina do 
HISTÓRIA DA AMÉRICA II 13
UNIMES VIRTUAL
Norte, Carolina do Sul, Geórgia. Explica, sobretudo, que o Estado surgido 
desse processo tenha assumido características tão diferentes dos outros 
que surgiriam no continente. 
A maior parte dos colonizadores da região pertenciam a minorias religiosas, 
perseguidas desde o início da reforma religiosa inglesa, ainda no século XVI, 
mas principalmente, no período que se seguiu à morte de Elizabeth I, em 
1603. Embora fossem maioria, os colonos não vieram apenas da Inglaterra, 
mas também de outras regiões da Europa. Mesmo perseguidos na metrópo-
le, tais colonos não deixaram de levar para as novas terras parte da tradição 
política inglesa, o que implicou no estabelecimento do auto-governo e ainda 
a consideração da necessidade de limites ao poder do rei. 
O absolutismo inglês desenvolveu-se de modo muito di-
ferente do que pode ser observado na área continental da 
Europa. A tradição de um parlamento — se não comple-
tamente independente, mas atuante — e traços de igualdade jurídica já 
presentes na Inglaterra desde a Idade Média, influenciariam sobremaneira 
a organização dos colonos no Novo Mundo, bem como as idéias que leva-
ram à independência e aos fundamentos do novo Estado. Para ilustrar essa 
diferença do absolutismo inglês com relação aos demais, observemos o 
que coloca Perry Anderson a respeito da justiça:
Ao passo que no continente o sistema de justiça se 
achava geralmente dividido entre a jurisdição real 
segregada e as jurisdições senhoriais, em Inglaterra 
a sobrevivência dos tribunais populares pré-feudais 
proporcionara uma espécie de terreno comum em 
que podia conseguir-se uma mistura de ambas, pois 
os xerifes que presidiam aos tribunais dos condados 
eram de nomeação régia não-hereditária, e no en-
tanto selecionados de entre a fidalguia local, não de 
entre uma burocracia central; e os próprios tribunais 
retinham vestígios de seu carácter original como as-
sembléias jurídicas populares, nas quais os homens 
livres da comunidade rural se apresentavam perante 
seus iguais. (ANDERSON, 1984, p.131.)
Note-se na passagem acima o peso do local — da comunidade — na tra-
dição judiciária inglesae, ainda, do princípio de igualdade que, se não era 
suficiente para eliminar todos os privilégios conferidos às classes nobres, 
ao menos reconhecia a todos os homens livres, a possibilidade de se fazer 
representar. Como veremos mais adiante, a valorização do local, da co-
munidade, bem como o direito de representação estendido a todos, eram 
parte do ideário dos colonos que promoveram a independência.
HISTÓRIA DA AMÉRICA II1�
UNIMES VIRTUAL
Há ainda que se considerar que, muito embora a confissão 
religiosa ocupasse um aspecto central na sociedade que se 
formou nas Treze Colônias, não houve nelas o peso ou a in-
fluência da religião que houve na América ibérica. Essa ausência pode ser 
explicada pela herança inglesa, uma vez que, a ruptura entre Henrique VIII 
e a autoridade papal, com a posterior criação de uma religião do Estado 
submetida à autoridade do rei, livrou a Inglaterra e suas colônias da influ-
ência e do poder da Igreja de Roma, permitindo o surgimento de estruturas 
políticas e sociais diferenciadas em relação às que se pode observar na 
América ibérica.
Ainda a respeito da religião, boa parte dos colonos das terras inglesas da 
América do Norte era protestante. Max Weber, em sua análise sobre o 
desenvolvimento do capitalismo no Ocidente e sua relação com o ethos 
protestante, fez a seguinte colocação: 
Ainda mais notável, […], é a relação entre uma 
filosofia da vida religiosa e o mais intenso de-
senvolvimento da perspicácia comercial entre 
as seitas cujo alheamento da vida se tornou tão 
proverbial quanto a sua riqueza, principalmente 
entre os quakers e os menonitas. O papel que os 
primeiros tiveram na Inglaterra e na América do 
Norte coube aos segundos na Holanda e na Ale-
manha. (WEBER, 2001, p.23.) 
Como se pode notar pelo trecho acima e, como veremos mais adiante, a 
influência do ethos (do grego Ethos – lugar, modo de discurso) protestante, 
com todos os seu elementos de ascese, valorização do trabalho, da pou-
pança, da disciplina do corpo e da mente permaneceram na configuração 
do Estado que surgiu depois da independência. 
Ainda sobre o protestantismo e suas concepções de mundo é importante 
atentar para o este outro trecho em Weber:
À organização social-orgânica, do tipo fiscal. monopo-
lista adotada pelo anglicanismo sob os Stuarts, […], 
a essa ligação do Estado e da Igreja com os monopo-
listas, fundamentada numa ética social cristã – opu-
nha o calvinismo, […], os motivos individualistas da 
aquisição racional e legal através da habilidade e da 
inciativa de cada um, que – […] – teve uma parte 
ponderável e decisiva no desenvolvimento industrial 
que se deu apesar da, e contra a, autoridade do Esta-
do. (Id. Ibid, p.98.) 
HISTÓRIA DA AMÉRICA II 1�
UNIMES VIRTUAL
O trecho acima diz respeito à oposição dos calvinistas na Inglaterra à di-
reção dada pelos Stuarts à economia, e revela a mesma disposição moral 
entre a maior parte dos colonos na América. 
Para além das questões políticas, ideológicas e culturais, mas relaciona-
da a todas elas, existe uma outra questão fundamental,que diz respeito à 
economia desenvolvida nas Treze Colônias ou em parte delas. Como já se 
colocou, as colônias do Sul, Maryland, Virgínia, Carolina do Norte, Carolina 
do Sul e Geórgia, desenvolveram, principalmente, uma economia voltada 
para o mercado externo, nos moldes do pacto colonial, tal como se pôde 
observar em outras áreas da América — nas colônias ibéricas, ou mesmo 
nas áreas de colonização francesa, inglesa e holandesa nas Antilhas, por 
exemplo. No entanto, nas colônias do Norte e do Centro,a economia se 
desenvolveu de outro modo.
No Norte e no Centro as condições climáticas e geográficas 
muito semelhantes às da Europa impediram o desenvolvi-
mento de uma agricultura ou de atividades extrativistas de 
produtos tropicais que interessassem ao mercado europeu. Dessa manei-
ra, não foi imposto às tais colônias o modelo de administração típico das 
áreas coloniais da América, baseado num estrito controle das metrópoles. 
Floresceu, então, nessas regiões a atividade mercantil voltada para o mer-
cado interno e para o mercado externo, livre das amarras da fiscalização 
metropolitana. O mesmo se deu com a atividade manufatureira. 
Empurrados por necessidades de expansão — já que ocupavam uma es-
treita faixa de terra — pelo dinamismo da economia e pelo crescimento 
da população, os colonos iniciaram um movimento de ocupação de terras 
mais ao Norte, na direção do Canadá. O conflito entre os colonos ingleses 
e a França que dominava a região contribuiu para a Guerra dos Sete Anos 
(1756-1763) entre esse país e a Inglaterra. A guerra, que se desenrolou 
também na Europa e na Ásia, envolvendo aliados dos dois principais impé-
rios, contou com uma intensa participação dos colonos. Entretanto, apesar 
da vitória inglesa, o rei Jorge III proibiu o acesso dos colonos americanos 
às terras do vale do Ohio. Além disso, as despesas com a conflito impli-
caram na elevação da carga tributária para os colonos, o que aumentou a 
revolta entre eles. 
Ademais, em função das despesas do Estado e dos novos ventos que so-
pravam na economia inglesa, com o franco desenvolvimento da Revolução 
Industrial, a disposição da metrópole mudou em relação às suas colônias, 
aumentando a fiscalização sobre elas para evitar o contrabando e garantir 
mercado para os produtos industrializados e o fornecimento de matéria 
prima. O súbito recrudescimento do pacto colonial e a negativa inglesa de 
assegurar às colônias a participação de seus representantes nos proces-
HISTÓRIA DA AMÉRICA II1�
UNIMES VIRTUAL
sos decisórios metropolitanos que lhe diziam respeito lançaram as bases 
para a independência. 
Nesta aula pudemos ver como algumas das características ide-
ológicas e culturais presentes nas colônias inglesas da Amé-
rica do Norte foram importantes para o estabelecimento das 
diferenças sociais, políticas e econômicas em relação à América Ibérica.
A esse respeito reflita: Qual é o lugar das questões ideológi-
cas e culturais na determinação dos processos históricos? 
Tais questões são sempre determinadas pelos aspectos 
econômicos? 
HISTÓRIA DA AMÉRICA II 1�
UNIMES VIRTUAL
Aula: 02
Temática: A independência das Treze Colônias 
 e a formação do Estado
 
Tal como visto na aula anterior, questões objetivas como 
o recrudescimento do pacto colonial da metrópole inglesa 
com relação às suas colônias na América do Norte, empur-
rou-as para o processo de independência. É importante lembrar que nesse 
primeiro momento o I Congresso da Filadélfia que foi realizado em 1774 
estabeleceu como objetivo a participação dos colonos nas decisões da 
metrópole, no que dissesse respeito a eles e seus negócios. Este mesmo 
processo será visto em boa parte da América Ibérica no processo das 
independências, ou seja, o objetivo inicial muitas vezes não era a emanci-
pação, e sim, alcançar um outro status de mais liberdade e participação 
junto à metrópole. A esse respeito coloca Arendt,
Em outras palavras, devemos nos voltar para as Re-
voluções Francesa e Americana, e devemos levar em 
conta que ambas foram protagonizadas, em seus es-
tágios iniciais, por homens que estavam firmemente 
convencidos de que não fariam outra coisa senão res-
taurar uma antiga ordem de coisas que fora perturba-
da e violada pelo despotismo de monarcas absolutos 
ou por abusos do governo colonial. Eles alegavam, 
com toda sinceridade, que desejavam o retorno dos 
velhos tempos em que as coisas eram como deviam 
ser. (ARENDT, 1988, p. 35.)
Vimos que a influência de outros fatores de natureza ideológica que defi-
niram o meio social da colônia e continuaram exercendo influência sobre 
o Estado constituído na região. Entretanto, é importante ressaltar que, no 
contexto do processo que levou à independência, a influência das idéias 
do Iluminismo foi fundamental. No conjunto dos movimentos políticos con-
siderados revolucionários, tais como a Guerra de libertação das Treze Colô-
nias aRevolução Francesa e, até mesmo, movimentos de menor alcance 
e importância como a Inconfidência Mineira de 1789, é possível perceber 
a sua influência do movimento das Luzes.
Ideais como liberdade, e igualdade, no que diz respeito aos direitos; o 
anticolonialismo e, no caso da Independência dos Estados Unidos, o anti-
despotismo podem ser observados. A esse respeito vejamos,
 
O horror ao despotismo foi o traço de união de todos 
HISTÓRIA DA AMÉRICA II1�
UNIMES VIRTUAL
os filósofos da Ilustração. Voltaire combateu a tirania 
religiosa e a exercida pelo aparelho judicial arcaico 
dos parlamentos: Montesquieu pregou o princípio 
da divisão dos poderes com a finalidade principal de 
evitar a tirania que resultaria da supremacia de um 
dos poderes, e foi o mais veemente crítico, em geral, 
do despotismo, forma de governo cujo princípio é o 
medo, em contraste com a república, cujo princípio é 
a virtude, e a aristocracia, cujo princípio é a honra.( 
ROUANET In: NOVAES, 1992, p. 336.)
Ora, se considerarmos as causas objetivas da independên-
cia, bem como o fato de que nos seus primeiros momentos 
o que desejavam os colonos não era independência, mas 
a “não taxação sem representação”. Veremos que o que de fato animou 
a luta por uma maior participação nas decisões e, em seguida pela inde-
pendência, foi o horror ao despotismo e à tirania inspirado pelas idéias 
iluministas. 
Em 1775, no II Congresso da Filadélfia, sem o atendimento das reivindi-
cações dos colonos pela metrópole, a idéia de separação começa a ser 
gestada. Em 1776 é publicada a Declaração de Independência, da qual se 
reproduz um trecho a seguir.
Quando, no curso dos acontecimentos humanos, se 
torna necessário um povo dissolver laços políticos 
que o ligavam a outro, e assumir, entre os poderes 
da Terra, posição igual e separada, a que lhe dão di-
reito as leis da natureza e as do Deus da natureza, o 
respeito digno às opiniões dos homens exige que se 
declarem as causas que os levam a essa separação.
Consideramos estas verdades como evidentes por si 
mesmas, que todos os homens foram criados iguais, 
foram dotados pelo Criador de certos direitos inalie-
náveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a 
busca da felicidade.
Que a fim de assegurar esses direitos, governos são 
instituídos entre os homens, derivando seus justos 
poderes do consentimento dos governados; que, 
sempre que qualquer forma de governo se torne des-
trutiva de tais fins, cabe ao povo o direito de alterá-la 
ou aboli-la e instituir novo governo, baseando-o em 
tais princípios e organizando-lhe os poderes pela for-
ma que lhe pareça mais conveniente para realizar-lhe 
a segurança e a felicidade. Na realidade, a prudência 
recomenda que não se mudem os governos instituí-
dos há muito tempo por motivos leves e passageiros; 
e, assim sendo, toda experiência tem mostrado que 
HISTÓRIA DA AMÉRICA II 1�
UNIMES VIRTUAL
os homens estão mais dispostos a sofrer, enquanto os 
males são suportáveis, do que a se desagravar, abo-
lindo as formas a que se acostumaram. Mas quando 
uma longa série de abusos e usurpações, perseguin-
do invariavelmente o mesmo objeto, indica o desígnio 
de reduzi-los ao despotismo absoluto, assistem-lhes 
o direito, bem como o dever, de abolir tais governos 
e instituir novos-Guardas para sua futura segurança. 
Tal tem sido o sofrimento paciente destas colônias 
e tal agora a necessidade que as força a alterar os 
sistemas anteriores de governo. A história do atual 
Rei da Grã-Bretanha compõe-se de repetidos danos 
e usurpações, tendo todos por objetivo direto o esta-
belecimento da tirania absoluta sobre estes Estados. 
Para prová-lo, permitam-nos submeter os fatos a um 
cândido mundo. (DECLARAÇÃO de independência, 
1776, online)1
É possível, a partir desse trecho da declaração redigida por Thomas Jeffer-
son, verificar claramente algumas das idéias colocadas acima a respeito 
das condições objetivas e subjetivas que conduziram à independência dos 
Estados Unidos.
A partir da ruptura então declarada, têm início a Guerra de Independência, 
de 1776 a 1783. O comando do exército libertador foi entregue a George 
Washington. A partir de 1778 foi estabelecida uma aliança entre o Estados 
Unidos e a França. Esta última via na guerra e no apoio aos revolucionários 
a possibilidade de enfraquecer a hegemonia da Inglaterra. Em 1783, der-
rotada, a Inglaterra reconhece a independência dos Estados Unidos. 
Tal Independência, para alguns, surge como sendo a principal fonte de 
inspiração para os movimentos de libertação que surgiriam na América 
depois. Outros consideram que foi um movimento que influenciou a Revo-
lução Francesa. No entanto, com relação aos movimentos de libertação da 
América, à exceção talvez da Inconfidência Mineira, em 1789, movimento 
como já se disse de alcance e importância reduzidos,2 todos os outros 
movimentos parecem ter sido muito mais influenciados pela Revolução 
Francesa, além dos fatores relacionados às guerras napoleônicas do sécu-
lo XIX, do que pelo movimento dos Estados Unidos. A respeito do alcance 
da Revolução Americana, vejamos o que coloca Arendt:
1 Para consulta à Declaração da Independência dos Estados Unidos de 1776 na íntegra, 
acesse o endereço no site da Embaixada Americana,
http://www.embaixada-americana.org.br/index.php?action=materia&id=645&s 
2 A este respeito afirma Rouanet: “Com exceção do semiproletário Joaquim José da 
Silva Xavier e do filho de artesão que foi José Joaquim Maia, os inconfidentes foram em 
geral proprietários e exprimiram interesses e preocupações de proprietários: Para alguns 
a Inconfidência teria sido exatamente isso: uma conjuração em favor da propriedade.” 
(ROUANET, in: NOVAES , 1992, p. 342.) 
http://www.embaixada-americana.org.br/index.php?action=materia&id=645&s 
HISTÓRIA DA AMÉRICA II20
UNIMES VIRTUAL
Foi a Revolução Francesa e não a Americana, que 
ateou fogo ao mundo, e foi, conseqüentemente, do 
curso da Revolução Francesa, e não do desenrolar 
dos acontecimentos na América, ou dos atos dos 
“Pais Fundadores” que o atual uso da palavra revolu-
ção recebeu suas conotações e matizes em todos os 
lugares, inclusive nos Estados Unidos. A colonização 
da América do Norte e o governo republicano dos Es-
tados Unidos constituem talvez o maior e, certamente, 
o mais audacioso empreendimento do povo europeu; 
contudo, os Estados Unidos tiveram efetivamente a 
iniciativa de sua própria história por pouco mais de 
cem anos, em esplêndido, ou não tão esplêndido, iso-
lamento do continente-mãe. […] A triste verdade da 
questão é que a Revolução Francesa que redundou 
em desastre, tenha feito história no mundo, ao pas-
so que a Revolução Americana, tão triunfantemente 
vitoriosa, tenha permanecido um acontecimento de 
importância quase que apenas local. (ARENDT, 1988, 
p. 44-45.)
A independência não alterou significativamente a estrutura social e econô-
mica que já havia no período colonial. Os estados do Sul mantiveram a eco-
nomia de base escravista, enquanto o Norte prosseguiu com as mesmas 
características de sociedade baseada nas médias e pequenas propriedades, 
com as atividade voltadas também para o mercado interno e com signifi-
cativa produção manufatureira. A independência não alterou as condições 
sociais porque elas não faziam parte do movimento revolucionário. Estas 
questões, na sua forma mais política e econômica do que social, só surgi-
riam de fato como causas na Guerra de Secessão de 1860 a 1865.
Socialmente vimos, então, que nada, ou muito pouco se al-
terou. O que nos permite, então, falar da Revolução Ameri-
cana? Na verdade a grande e maior novidade está na forma 
e nos princípios fundadores do Estado. A experiência absolutamente nova 
da fundação de uma república, tal como a que surgiu na América do Norte, 
provocou a curiosidade e o fascínio de estudiosos da época. Atualmente 
ainda pode ser visto como um feito sem precedentes. Para que se possa 
compreender algumas das características essenciais desse Estado que 
surgee seus princípios fundadores é interessante considerar alguns dos 
princípios estabelecidos pela Constituição promulgada em 1787, que im-
plementou como forma de governo a república federativa, a divisão dos 
poderes, o mandato de quatro anos para o presidente da nação, dentre 
outros princípios fundamentais fortemente influenciados pelo ideário ilumi-
nista e que, até então, não existiam.,. Os Estados Unidos transformara-se, 
portanto, em uma república única e sem precedentes na história, do ponto 
de vista dos seus fundamentos. 
HISTÓRIA DA AMÉRICA II 21
UNIMES VIRTUAL
Em 1789, um outro documento, a Carta de Direitos composta pelas dez pri-
meiras emendas à Constituição foi redigida, sendo ratificada pelos estados 
em 17913.Tal documento, dentre outros direitos, estabeleceu o direito à 
liberdade de culto, o direito de possuir armas, o direito a julgamento rápido 
e público entre outros. Essencialmente a Carta de Direitos estabelece os 
direitos individuais, impondo limites à ação do Estado, assegurando aos 
cidadãos a defesa contra o poder do Estado. A luta contra a tirania deveria 
continuar no Estado independente e sem monarca. Defender-se dela é a 
tarefa dos cidadãos que devem zelar e lutar por seus direitos.
Vimos nesta aula as características essenciais do proces-
so de independência das chamadas Treze Colônias inglesas 
que deu origem á República dos Estados Unidos da Amé-
rica. Como foi demonstrado, grande foi a influência do ideário Iluminista 
nesse processo.
Para trabalhar um pouco mais a questão do ideário por trás 
do movimento de libertação dos Estados Unidos, identifique 
no trecho da Declaração de Independência destacado nessa 
aula as evidências mais fortes de tal influência.
3 Para consulta ao texto integral da Constituição dos Estados Unidos e da Carta de Direi-
tos acesse o site da Embaixada dos Estados Unidos em Brasília, http://www.embaixada-
americana.org.br
http://www.embaixada-americana.org.br
http://www.embaixada-americana.org.br
HISTÓRIA DA AMÉRICA II22
UNIMES VIRTUAL
Aula: 03
Temática: “A democracia na América”
 
O título desta aula reproduz uma das obras consideradas fun-
damentais em Ciências Sociais e Humanas a respeito dos Es-
tados e dos regimes que surgiram após a independência das 
Treze Colônias Inglesas. É o título de uma das obras de Alexis de Tocqueville, 
em sua época considerado, apenas, como historiador, mas que hoje é visto 
por alguns como cientista social e por muitos, como teórico da política.
Em seu livro, As etapas do pensamento sociológico, Raymond Aron, apre-
senta as origens e o desenvolvimento da sociologia como ciência. Para tan-
to, dentre outros autores, um dos que merecem a atenção de Aron é Toc-
queville, que, além de Montesquieu, também analisado na obra de Aron, é 
considerado junto com outros autores, um dos fundadores da Sociologia. 
Da mesma forma, outros autores e teóricos da política, como Arendt por 
exemplo, tomam a obra de Tocqueville como referência para a compreen-
são do significado do que ocorreu nas ex-colônias inglesas do Norte. 
O mais interessante na obra de Tocqueville é a consideração que o autor faz, 
já na primeira metade do século XIX, sobre o regime que havia se instalado 
nas ex-colônias e a sociedade que ali se desenhava, a despeito da existência 
da escravidão no Sul. Era o que se poderia chamar de democracia. 
Atualmente, o que se considera chamar democracia, implica em absoluta 
igualdade de direitos para todos. Apresentar o regime dos Estados Unidos 
daquele período como democrático, parece ser um equívoco. No entanto, 
se olharmos os acontecimentos na Europa e no restante da América, per-
ceberemos que, de fato, o regime surgido nos Estados Unidos se compa-
rado a outros, apresentava inúmeros avanços em termos institucionais no 
âmbito dos direitos civis (apesar da permanência da escravidão), e políti-
cos, mas sobretudo em termos dos limites impostos ao poder do Estado.
Além disso, há que se considerar que o conceito de Demo-
cracia, tal como se apresenta na Teoria Política, pode envol-
ver diferentes concepções. Uma delas, a de caráter liberal, 
tem Tocqueville entre seus teóricos. A respeito de tal concepção pode-se 
dizer que:
HISTÓRIA DA AMÉRICA II 23
UNIMES VIRTUAL
Nesta concepção liberal de Democracia, a participa-
ção do poder político, que sempre foi considerada o 
elemento caracterizante do regime democrático, é re-
solvida através de uma das muitas liberdades indivi-
duais que o cidadão reivindicou e conquistou contra o 
Estado absoluto. A participação é também redefinida 
como manifestação daquela liberdade particular que 
indo além do direito de exprimir a própria opinião, de 
reunir-se ou de associar-se para influir na política do 
país, compreende ainda o direito de eleger represen-
tantes para o Parlamento e de ser eleito. […] Deste 
ponto de vista, se é verdade que não pode chamar-se, 
propriamente, liberal, um Estado que não reconheça 
o princípio democrático da soberania popular, ainda 
que limitado ao direito de uma parte (mesmo restrita) 
dos cidadãos darem vida a um corpo representativo, 
é ainda mais verdadeiro que segundo a concepção 
liberal do Estado não pode existir Democracia, senão 
onde forem reconhecidos alguns direitos fundamen-
tais de liberdade que tornam possível uma participa-
ção política guiada por uma determinação da vontade 
autônoma de cada indivíduo. (BOBBIO, in: BOBBIO, 
MATTEUCCI, PASQUINO, 1986, p. 324.) 
Ora, considerando-se o que já foi colocado na aula anterior a respeito da 
Constituição e da Carta de Direitos dos EUA, é possível perceber o quanto 
o regime e as configurações institucionais desse país aproximam-se da 
concepção liberal de Democracia.
Para além das considerações a respeito do tipo de regime que 
se instalou nos Estados Unidos após a Independência, Toc-
queville produziu uma análise da sociedade que, em alguns 
momentos, assume tons proféticos. Nesse sentido, ele se afasta um pouco 
da história e se aproxima da sociologia, no sentido de ser capaz de perceber 
e analisar as forças que regem os fenômenos, estabelecendo se não leis ge-
rais a respeito deles, previsões sobre o seu desenrolar. Alguns consideram 
que nesse momento a sua análise assume um caráter premonitório, chegan-
do até mesmo a estabelecer a possibilidade do que viria a ocorrer muitos 
anos depois sobre as futuras relações dos Estados Unidos e da Rússia1.
No entanto, para as nossas aulas e os objetivos propostos pelo programa, 
é interessante notar, sobretudo, a análise de Tocqueville a respeito de al-
1 “Existem hoje, sobre a terra, dois grandes povos que, tendo partido de pontos diferen-
tes, parecem adiantar-se para o mesmo fim: são os russos e os anglo-americanos. Am-
bos cresceram na obscuridade; e, enquanto os olhares dos homens estavam ocupados 
noutras partes, colocaram-se de improviso na primeira fila entre as nações e o mundo 
se deu conta, quase ao mesmo tempo, do seu nascimento e da sua grandeza.[…]O seu 
ponto de partida é diferente, os seus caminhos são diversos; não obstante, cada um deles 
parece convocado, por um desígnio secreto da Providência, a deter nas mãos, um dia, os 
destinos de metade do mundo.” (TOCQUEVILLE, 1977, p. 315.)
HISTÓRIA DA AMÉRICA II2�
UNIMES VIRTUAL
guns aspectos da sociedade nos Estados Unidos. 
A respeito dos índios, quando Tocqueville inicia sua viagem pelos Estados 
Unidos, em 1831, já era possível notar que no território da Nova Inglaterra 
muitas nações indígenas já não existiam mais e, para os que ali conti-
nuavam a viver, a situação era de miséria. Tal situação é relacionada à 
presença dos europeus, como coloca o autor: 
Algumas famílias européias, ocupando pontos muito 
remotos, acabam então de expulsar definitivamente 
os animais selvagens de todo o espaço intermediário 
que se estende entre elas. Os índios que tinham vivido 
até então numa espécie de abundãncia, mal acham os 
meios de subsistência, e ainda menos conseguem en-
contrar os objetos de troca de que têm necessidade.[…] Impossível imaginar os terríveis males que 
acompanham tais emigrações forçadas. Cada um 
deles procura isolar-se para encontrar furtivamente 
os meios de sustentar sua existência, e vive na in-
tensidade dos desertos como o proscrito no seio das 
sociedades civilizadas. O laço social, desde muito en-
fraquecido, rompe-se então. Para eles, já não havia 
uma pátria; em breve não mais haverá um povo; mal 
restarão famílias; o nome comum se perde, a língua é 
esquecida, desaparecem os traços de origem. A na-
ção deixou de existir. Vive apenas na lembrança dos 
antiguários americanos e só os conhecem alguns eru-
ditos na Europa.(TOCQUEVILLE, 1977, p. 248-249)
Através das observações e análises de Tocqueville, percebemos que a De-
mocracia na América erigiu suas bases sobre uma sociedade branca e de 
origem européia, não incluindo as nações nativas. Estas, ao contrário do 
que ocorrerá em parte da América Ibérica (praticamente dizimadas na re-
gião que liderou o processo de Independência), tiveram pouca ou nenhuma 
participação nesse processo, tão enfraquecidas que já se encontravam. 
Outro grupo também alijado da participação e que não encontrará mui-
tas possibilidades de inclusão nos primeiros anos dessa nova ordem, em 
função da sua própria condição servil e mesmo depois, são os negros. 
Como já colocado, a Independência não eliminou a escravidão. Mesmo 
assim,numa perspectiva liberal, a permanência da escravidão nas colônias 
do Sul não impediu que se visse nos Estados Unidos a primeira experiência 
democrática da modernidade. 
Ao contrário dos índios, na análise arguta de Tocqueville, o destino dos ne-
gros nos Estados Unidos surge entrelaçado aos dos brancos. Contudo, os 
negros não conseguirão unir-se a eles completamente, mesmo no Norte, 
onde não havia a escravidão. As razões para isso devem-se, na visão do 
autor e como pode ser comprovado pelos fatos, ao seguinte: 
HISTÓRIA DA AMÉRICA II 2�
UNIMES VIRTUAL
Os modernos, depois de ter abolido a escravidão, têm 
ainda, pois, de destruir três preconceitos muito mais in-
vencíveis e tenazes que ele: o preconceito do senhor, o 
preconceito de raça, e, afinal, o preconceito do branco.
[…] Assim, o negro é livre, mas não pode partilhar nem 
os direitos, nem os prazeres, nem os trabalhos, nem as 
dores, nem mesmo a sepultura daquele de quem foi de-
clarado igual; não poderia encontrar-se com ele em parte 
alguma, nem na vida, nem na morte. (Id. Ibid. p. 263.)
 
Mesmo no Norte, até como conseqüência do tipo de economia que lá teria 
lugar, mais desenvolvida e industrializada do que no Sul, as possibilidades 
de inclusão para os negros em condições de igualdade com os brancos 
seriam praticamente nulas. 
Outro ponto importante a respeito dessa análise da Demo-
cracia na América é o que diz respeito às possibilidades de 
manutenção da união da Confedereção. Quase trinta anos 
antes da Guerra de Secessão, Tocqueville já percebia os sinais que leva-
riam à Guerra Civil. As razões estariam menos nas diferenças econômicas 
entre o Sul e o Norte e mais nas diferenças de caráter e hábitos entre as 
duas regiões. Tais diferenças teriam sido provocadas por características 
econômicas distintas. 
Entretanto, sobre a análise de Tocqueville é preciso fazer ressalvas à gran-
de influência, atribuída por este autor e seus contemporâneos, ao clima 
sobre o comportamento do grupos sociais. A despeito disso, nota-se a 
acuidade da análise do pensador e historiador francês ao apontar para 
essa fragilidade da nação que surgia, as diferenças entre o Norte e o Sul e 
as ameaças daí advindas à unidade nacional, o que ficaria evidente com 
a eclosão da Guerra Civil anos depois.
Além disso, de acordo com a mesma análise, a incorporação de novos 
territórios também colocaria algumas das fragilidades ou limites da expe-
riência triunfante dos “anglo-americanos”, como se confirmará pelos fatos 
que se seguirão. 
Vimos nessa aula, a partir de Tocqueville, alguns dos problemas que cedo ou 
tarde, como se verá, o novo Estado teria que enfrentar; além de uma breve 
consideração sobre o lugar de outros grupos sociais na nação que surge.
Para compreender melhor a análise de Tocqueville, acesse 
o texto disponível nosso banco de textos no ambiente de 
aprendizagem e leia o artigo da professora Célia Quirino dos 
Santos a respeito desse autor. 
HISTÓRIA DA AMÉRICA II2�
UNIMES VIRTUAL
Aula: 0�
Temática: A sociedade colonial na América Ibérica
Nesta aula trataremos da herança colonial na América Ibéri-
ca. É bem verdade que, na região das Antilhas, a colonização 
não foi somente Ibérica ou, mais exatamente, espanhola. In-
gleses, holandeses e franceses também fizeram parte do processo de colo-
nização. Em alguns casos tomando e ocupando terras antes colonizadas de-
claradas como pertencendo aos espanhóis. Portanto, muito embora falemos 
da América Ibérica, é bom lembrar que nessas outras regiões colonizadas 
pelas demais metrópoles européias, o pacto colonial, tal como se conhece, 
ou seja, a estrutura latifundiária, monocultora, baseada no trabalho compul-
sório, também teve lugar. 
No entanto, para os propósitos do nosso curso, nos concentraremos nas 
sociedades e Estados surgidos no processo de descolonização das Améri-
cas espanhola e portuguesa, eventualmente situando algum outro proces-
so de independência que mereça a nossa atenção em colônias de outras 
metrópoles, tal como será o caso do Haiti.
Diferentemente do que pode ser observado nas colônias inglesas do Norte, no 
restante da América observa-se uma administração mais centralizada, com 
intensa fiscalização sobre o comércio dos produtos coloniais. É bem verdade 
que por maior e mais rígida que fosse a fiscalização, esta, em nenhum momen-
to, foi suficiente para impedir de fato o contrabando, o saque e as invasões.
O início da colonização da América foi creditada aos ibéricos, assim como 
sua descoberta. O empreendimento espanhol e depois português da con-
quista e busca de riquezas, acidentalmente ou não, conduziu à chegada 
dos europeus no continente.
O estabelecimento do monopólio, do pacto e de uma estrutura administrati-
va que, segundo a análise de Faoro, implicou na transferência para as áreas 
colonizadas existente nos países centrais, levou à formação de um Estado 
patrimonial (FAORO, 2001.) Em linhas gerais, a herança patrimonial signifi-
cou a formação nas colônias ibéricas de uma estrutura administrativa mais 
centralizada nas mãos dos dignatários do rei e que serviu a interesses par-
ticulares. A ausência de uma burguesia mais atuante podia ser observada 
nas instâncias locais de poder, como as Casas de Câmara ou os Cabildos, 
que representavam o predomínio de uma visão patrimonial do poder. 
HISTÓRIA DA AMÉRICA II 2�
UNIMES VIRTUAL
É bem verdade também que, no caso da América Ibérica, 
em função das riquezas aqui encontradas, o interesse das 
metrópoles era maior e, como se pode notar nas colônias 
inglesas do Sul da América do Norte, onde o interesse do reino era maior, 
a fiscalização era mais intensa, levando à diminuição das possibilidades 
de autonomia. 
Autonomia esta, que era menor se considerarmos os efeitos do absolu-
tismo em Portugal e Espanha, sem dúvida maiores do que na Inglaterra. 
Diferentemente, do que foi observado em aulas anteriores, na Península 
Ibérica, não encontraremos práticas como a de um parlamento atuante, 
ainda que com uma atuação também limitada, como havia na Inglaterra 
desde a época medieval.
Além disso, há que se considerar o papel fundamental da Igreja, mais espe-
cificamente dos jesuítas, no processo de colonização da América Ibérica.
O Estado absolutista, muito embora isso nem sempre seja ressaltado, en-
frentava limites, tal como coloca Anderson:
A monarquia absoluta no Ocidente esteve sempre de 
fato, duplamente limitada: pela persistência de cor-
pos políticos tradicionais abaixo dela e pela presença 
de um direito arqui-moral acima dela. Por outras pala-
vras, o poder do absolutismo operava em última aná-
lise dentro doslimites necessários da classe cujos in-
teresses ele assegurava. (ANDERSON, 1984, p.55.)
O Estado absolutista encontrava limites na nobreza e no di-
reito, o que tornava o exercício do poder sobre as colônias 
mais difícil. Esses limites estavam representados na eficá-
cia da fiscalização, que fazia com que a necessidade de negociar a manter 
alianças fosse primordial e a Igreja, que era parte essencial desse equilí-
brio de forças sobre o qual se sustentava o poder do Estado absoluto. 
A Igreja, instituição que manteve no Ocidente, durante a Idade Média, sua 
unidade e a aliança com as monarquias ibéricas mesmo durante a divisão 
provocada pela Reforma, sustentou o seu poder e a sua influência esten-
dendo-o para as áreas conquistadas, a despeito de todas as divergências e 
conflitos internos.A respeito dessa influência vejamos o que coloca Freyre:
A partir de 1532, a colonização portuguesa no 
Brasil, do mesmo modo que a inglesa na Amé-
rica do Norte e ao contrário da espanhola e da 
francesa nas duas Américas, caracteriza-se 
pelo domínio quase exclusivo da famílira rural 
HISTÓRIA DA AMÉRICA II2�
UNIMES VIRTUAL
ou semi-rural. Domínio a que só o da Igreja faz 
sombra, através da atividade, às vezes hostil, ao 
familismo. (FREYRE, 2001, p.92.)
É interessante notar que, no decorrer das reformas que têm lugar no sé-
culo XVIII nas metrópoles e por conseqüência nas colônias ibéricas de 
além-mar, que resultaram na expulsão dos jesuítas, tem início o desenvol-
vimento dos movimentos que, mais tarde, originarão as Independências. 
Note-se o que coloca Donghi a respeito da ação dos religiosos nas colô-
nias espanholas:
Além de dominarem terras disseminadas entre as de 
propriedade espanhola, as ordens religiosas dirigem 
iniciativas complexas, que têm a finalidade simultâ-
nea de difundir a religião e de governar; é o caso das 
missões e aldeias de índios já convertidos, situadas 
nas fronteiras imperiais desde o alto Paraná até a Ca-
lifórnia, onde desempenham uma precisa função polí-
tica.( DONGHI, 1975, p. 38.)
No processo de desenvolvimento das monarquias absolutistas a Igreja aca-
bou sob o domínio do Estado — considerando-se o que foi colocado acima 
sobre o delicado equilíbrio que sustentava tais monarquias. Por mais que 
o clero, notadamente o secular, se submetesse à autoridade real temos 
nessa relação o seguinte: a) a influência da Igreja era marcante, conside-
rando-se a necessidade de manter o conjunto de forças; b) submetido à 
autoridade monárquica o clero convertia-se num braço da administração 
e fiscalização Estado.
Na América Ibérica então não se tinha nem a liberdade religiosa das colônias 
inglesas do Norte, nem a presença de religiões menos submetidas ou não 
submetidas à uma autoridade central. Além disso, os outros elementos do 
ethos protestante encontrados nas áreas colonizadas pelos ingleses não se-
rão encontrados nas colônias espanholas e portuguesas da América.
Mesmo em áreas colonizadas por holandeses e ingleses nas Antilhas, onde 
a influência de Roma não se fazia sentir, ou onde não se pode destacar a 
influência de uma estrutura patrimonial de poder, a força do pacto colonial 
é suficiente para emprestar, também a essas áreas, as características cen-
trais da colonização da América, à exceção do que se viu mais ao Norte 
do Continente. Isto é, uma sociedade de base escravocrata ou sustentada 
pelo trabalho servil, com produção destinada à exportação, da grande pro-
priedade agrícola ou extrativista. 
Seja a partir da mineração ou da agricultura, na verdade 
mais em função dessa, uma rica elite de origem européia 
HISTÓRIA DA AMÉRICA II 2�
UNIMES VIRTUAL
surgirá na América. A esta aristocracia “nativa” e branca opõe-se, por 
exemplo, como no caso do México, uma magistratura nomeada pela me-
trópole. Tal divisão não se verá tão claramente no Brasil. A esse respeito 
vale mencionar uma diferença marcante entre a América espanhola e a 
portuguesa. No caso da primeira observa-se, 
Existem, por conseguinte, nítidas separações entre 
brancos, mestiços e mulatos livres, as quais enve-
nenam a vida urbana em toda a América espanho-
la: desde Montevidéu, [,,,], onde um funcionário não 
pode evitar – nem sequer apresentando uma declara-
ção de tribunal onde atesta a pureza de seu sangue 
espanhol – uma insistente campanha que o tacha 
de mestiço e, portanto, de pessoa indigna de ocupar 
cargo de confiança, até a Venezuela, onde a nobreza 
nativa, através de seus mais ilustres representantes, 
serve de porta-voz para oposições mais amplas que 
protestam contra a largueza com a qual as autorida-
des distribuem títulos de nobreza a quantos são capa-
zes de comprá-los. (DONHGI, 1975, p. 27.)
Na América portuguesa, no entanto, muito embora não se possa falar em 
“democracia racial”, as divisões existentes não foram suficientes para im-
pedir a formação de um grande grupo, em alguns lugares como na região 
das minas, de mestiços e mulatos. Estes últimos, no caso das regiões 
mineradoras e mesmo nos centros urbanos da colônia portuguesa, com-
pondo boa parte da classe média.
Quanto à miscibilidade, nenhum povo colonizador, 
dos modernos, excedeu ou sequer igualou nesse pon-
to aos portugueses. Foi misturando-se gostosamen-
te com mulheres de cor logo no primeiro contato e 
multiplicando-se em filhos mestiços que uns milhares 
apenas de machos atrevidos conseguiram firmar-se 
na posse de terras vastíssimas e competir com po-
vos grandes e numerosos na extensão do domínio 
colonial e na eficácia da ação colonizadora. (FREYRE, 
2001, p. 83-84.)
É importante atentar para essas diferenças quando se trata 
de analisar as condições ou causas para os movimentos de 
independência na América espanhola e portuguesa porque, 
muito embora seja possível observar grandes semelhanças, mais do que à 
primeira vista possa parecer, há diferenças importantes a serem notadas. 
Na América espanhola, o “sistema de castas”, levou a uma crescente ten-
são entre a elite nativa e a plebe de um lado, e os peninsulares de outro. 
Tal tensão social não se fará presente na América portuguesa, pelo menos 
não a ponto de se fazer notar como causa do movimento de libertação. 
HISTÓRIA DA AMÉRICA II30
UNIMES VIRTUAL
Nesta aula trabalhamos algumas das características da so-
ciedade colonial na América Ibérica e também em áreas de 
colonização inglesa, holandesa e francesa nas Antilhas que 
se encaixam no pacto colonial. As características que tal domínio impõe à 
economia e sociedade são importantes para que se possa começar a com-
preender as diferenças com relação ao processo de independência dessa 
região em comparação com as colônias inglesas da América do Norte, bem 
como com relação ao tipo de Estado que surgirá após a Independência.
Para compreender um pouco mais sobre o conceito de patrimonialismo 
aplicado à estrutura política e administrativa portuguesa e colonial desen-
volvido por Raymundo Faoro e que pode ser estendido à administração es-
panhola, leia o artigo de Simon Schwartzman, publicado na revista Dados, 
vol. 46, n. 2, que está no banco de textos da nossa disciplina no ambiente 
virtual de aprendizagem.
HISTÓRIA DA AMÉRICA II 31
UNIMES VIRTUAL
Aula: 0�
Temática: A descolonização 
 nas “colônias de exploração” I
Uma vez que se torna necessário, neste ponto, incluir a in-
dependência do Haiti, não tanto pela sua influência no con-
tinente, mas por aquilo que significou e significa até hoje 
em termos do seu ineditismo, será preciso então considerar nos estudos 
dessa aula, aquela área de colonização francesa também estruturada nos 
moldes do pacto colonial.
O Haiti foi a única área do continente, além da Treze Co-
lônias inglesas, a iniciar de fato seu processo de indepen-
dência também no século XVIII. Todas as demais regiões 
só o iniciariam ao longo do século XIX, havendo ainda aquelas que só a 
alcançariam no século XX como, por exemplo, a Jamaica.
Muito embora não tenha sido explicitado o tratado do processo das Treze 
Colônias, é importanteperceber que, para além dos fatores internos que 
conduziram à emancipação no continente, os fatores externos, notada-
mente aqueles que diziam respeito ao contexto europeu, no que se refere 
às disputas comerciais, marítimas e por áreas de influência entre as potên-
cias, além das questões internas das metrópoles na Europa, contribuíram 
no processo de emancipação.
No caso das Treze Colônias, por exemplo, alguns autores consideram que 
a participação da França como aliada dos colonos na Guerra de Indepen-
dência, contribuiu em muito para o sucesso e a vitória delas. A Guerra dos 
Sete Anos, que levou à disputa entre a Inglaterra e a França contribuiu 
como fator para a independência triplamente: trazendo para os colonos 
a noção da sua importância no processo de expansão; fazendo que em 
função das despesas com a guerra, houvesse aumento da carga tributária, 
isso tornou mais tensas as relações entre metrópole e colônia a ponto de 
deflagrar o processo; garantindo o apoio francês na independência já que 
estes, derrotados pelos ingleses na Guerra dos Sete Anos, enxergaram 
naquele processo de libertação uma forma de enfraquecer os rivais. 
No caso do Haiti, além das contradições internas típicas das colônias, prin-
cipalmente aquelas classificadas como de exploração, ou seja, uma grande 
população de escravos governada por uma minoria branca, há ainda a influ-
ência direta de causas nascidas no processo revolucionário francês.
HISTÓRIA DA AMÉRICA II32
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O Haiti corresponde à parte oriental da ilha de Santo Domingo, e nesta 
área de colonização francesa a sociedade se dividia entre a maioria negra 
e escrava, como já se disse, havendo, além da minoria branca dominante, 
uma minoria mulata também livre. Isto é, a despeito da miscigenação não 
havia aí “democracia racial” como de resto. 
A Revolução Francesa, em 1789, aboliu a servidão em solo francês, mas 
até 1793 a escravidão nas colônias foi mantida. É interessante notar que 
ao eclodir a revolução na Europa uma parte da elite da colônia aderiu aos 
ideais revolucionários, pois enxergava no processo a possibilidade de se 
ver livre do peso e das exigências da monarquia absolutista. No entanto, 
não só a minoria branca e mulata foi atingida por tais ideais. Também os 
negros os incorporaram. Em 1791, um ex-escravo, Vincent Ogé tentou a 
sublevação contra os brancos, mas foi derrotado e executado. 
Em 1793, com o início da República Jacobina, fase mais radical da Revo-
lução Francesa, a escravidão nas colônias é abolida. Tal fato fortaleceu 
os movimentos populares, ameaçando a minoria branca. Em 1801, sob a 
liderança de François Dominique Toussaint, negro e ex-escravo, o movi-
mento de libertação mantinha sob seu controle a maior parte da colônia. 
No entanto, nesse momento com a França em outra fase do seu processo 
revolucionário, no governo do Consulado e já sob a influência de Napoleão 
Bonaparte, esta tenta, em 1802 e 1803, submeter a colônia escravizar no-
vamente os negros no Haiti para re-estabelecer o seu lugar na produção 
açucareira nas Antilhas. Toussaint foi feito prisioneiro, morrendo depois 
numa prisão francesa. Toussaint ou Louverture, como era conhecido, foi 
sucedido por Dessalines também ex-escravo, que, auxiliado por ingleses 
e norte-americanos, expulsou as tropas de Napoleão proclamando a inde-
pendência, em 1804.
A morte do líder libertador, em 1806, fez eclodir movimentos de caráter 
republicanos e separatistas. A esta altura a divisão não se dava mais entre 
brancos e negros principalmente, mas entre negros e mulatos. Em 1825, 
a França reconheceu a independência de sua ex-colônia, governada agora 
pela elite mulata, que, na liderança, marginalizava a maioria negra. O Haiti, 
a exemplo de outras áreas da América inscrevia-se dessa forma naquilo 
que Donghi, historiador da América Latina, chamará de “novo pacto”, ou 
seja, a inserção marginal no capitalismo global. 
Nas outras áreas da América, especificamente naquelas de 
colonização ibérica, se o processo não é tão popular, o seu 
fim, muitas vezes, não é menos trágico em termos de au-
sência de grandes transformações, ou quanto à exclusão da maioria dos 
trabalhadores. Isto é, não se verá na América Ibérica, assim como não se 
viu no Haiti ,e diferentemente do que se viu nas Treze Colônias, a formação 
HISTÓRIA DA AMÉRICA II 33
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de um Estado de características liberais de fato, tendendo à democracia 
ainda no século XIX. Da mesma forma, não se verá o surgimento de nações 
com economias pujantes e independentes dos investidores externos.
Em que pese as semelhanças, é importante pontuar as diferenças entre o 
que ocorreu na América espanhola e na América portuguesa. Para compre-
ensão de tais diferenças deve-se considerar os efeitos e as reações que as 
Guerras Napoleônicas e outras irão produzir em cada uma das metrópoles.
No caso da América espanhola, antes mesmo das guerras napoleônicas, no 
início do século XVIII, algumas mudanças já se faziam sentir nas colônias. 
Pelo tratado de Utrecht, que pôs fim à Guerra de sucessão espanhola, a 
Inglaterra, a princípio aliada dos austríacos, depois mediadora do tratado e 
quase partidária da França, garantiu para si o asiento, ou seja, o monopólio 
do tráfico negreiro para as colônias espanholas, e o permiso, isto é, a per-
missão para vender manufaturados ingleses nas colônias espanholas. As 
demais reformas, como a abolição do sistema de frotas, do sistema de porto 
único e a permissão para o comércio entre as colônias, todas a partir de 
1740, devem ser entendidas dentro do conjunto de reformas bourbônicas no 
contexto do Despotismo Esclarecido. Isto é, as reformas visavam dinamizar 
a economia da metrópole, intensificando outras atividades nas colônias para 
aumentar a arrecadação tributária e, dessa forma, compensar as perdas 
com a decadência da atividade mineradora através da característica essen-
cial desse tipo de despotismo, a centralização com racionalização.
Os efeitos das reformas na economia colonial de alguma 
forma se fizeram sentir, desenvolveram-se atividades e im-
portantes centros mercantis no litoral. Houve o crescimento 
da classe de comerciantes peninsulares, composta por espanhóis, que 
tornou mais tenso o ambiente social das colônias, uma vez que contra ela 
se dirigirá o ódio e a revolta da elite criolla e, por influência desta ou não, 
das massas populares.
Além disso, a racionalização administrativa dentro do parâmetro da cen-
tralização introduz o exército profissional nas colônias. Segundo Donghi,
Buscou-se, nesse aspecto da reforma burbônica, uma 
das origens do militarismo da época da Independência; 
isso é discutível, mas ela constitui sem dúvida uma 
premissa necessária, na medida em que fez nascer 
uma instituição antes inexistente nas Índias: o exérci-
to. (DONGHI, 1975, p. 37)
As relações entre metrópole e colônia não ficaram de todo estremecidas 
com as reformas do Despotismo Esclarecido, pelo contrário, para alguns 
HISTÓRIA DA AMÉRICA II3�
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historiadores representaram um relativo sucesso, proporcionando uma 
certa modernização nas colônias e uma certa renovação na economia me-
tropolitana, por outro lado as guerras do final do século XVIII e no início do 
século XIX trariam muitos problemas.
A Espanha tornou-se um dos palcos centrais do conflito europeu, sob o domí-
nio dos Bourbons ficou ao lado da França no primeiro momento. Mas no con-
texto dos conflitos continentais, um movimento de Independência da Espanha 
para libertá-la dos franceses tem início. O governo independente organizou-se 
na Junta Central de Cádiz, depois Cortes de Cádiz, aliadas da Inglaterra. 
Nas colônias, os conflitos na metrópole provocaram o afastamento das 
colônias de sua fiscalização e, portanto “uma maior flexibilização” forçada 
pelas circunstâncias; movimentos de apoio aos ingleses e contra os fran-
ceses. Entretanto, a exemplo do que ocorrerá na América portuguesa, as 
Cortes metropolitanas não se interessavam por uma maior flexibilizaçãodo pacto, muito menos por uma maior participação de representantes das 
elites coloniais nas decisões administrativas. Portanto, em pouco tempo a 
frustração com as Cortes se fez sentir. 
Em 1814, Fernando VII, da dinastia Bourbon, foi restaurado 
no trono espanhol. Teve ínício na Europa continental, sob o 
domínio dos princípios do Congresso de Viena, um retorno 
das idéias conservadoras de caráter absolutista o que, nas colônias, teve 
um efeito direto. Tropas reais são enviadas para conter movimentos de ca-
ráter emancipacionista e para reforçar a repressão à elite criolla nas áreas 
em que esta desafiava o poder da metrópole. Isso fez aumentar não só os 
sentimentos anti-metropolitanos, mas as rixas e tensões sociais na região 
entre os peninsulares e os nativos. 
A vitória dos liberais anti-absolutistas na Espanha em 1820, não garan-
tiu dias melhores para os que, nas colônias, pretendiam mais autonomia 
ainda que sob o domínio espanhol. Em 1823, o absolutismo voltou à força 
com o apoio dos franceses. 
Muito embora aqui e ali possam ser localizadas, no final do 
século XVIII e no final do XIX, manifestações de revolta das 
classes populares contra o domínio da metrópole. No que 
se refere a tais movimentos é difícil precisar o quanto eles eram de fato 
contra a metrópole ou contra a elite criolla. Há ainda os movimentos de 
revolta ou o crescimento da influência das idéias da Revolução Francesa 
e em alguma medida da Revolução Americana, que se manifesta em meio 
à elite ilustrada das áreas coloniais. Mas tais manifestações não trazem, 
de fato, grandes conseqüências. Será mesmo, a partir do século XIX que 
os movimentos pró-independência crescerão de tamanho e influência na 
América espanhola.
HISTÓRIA DA AMÉRICA II 3�
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A partir de 1810, teve início, de fato, a revolução que conduziu à Inde-
pendência da área espanhola da América. O que se vê é a explosão das 
tensões sociais já mencionadas que opunham de um lado a elite nativa e, 
de outro, os peninsulares à frente do comércio ou da administração. 
Do México às regiões do sul do império espanhol na América o que se vê, 
num primeiro momento, é a tentativa de impor a partir das instâncias mu-
nicipais de poder, como os cabildos, no caso do México dominado pelos 
nativos, governantes que se opusessem aos funcionários metropolitanos. 
Em Buenos Aires, uma tentativa de substituição do mandatário mais favo-
rável às alianças com os locais, é provocada pelo cabildo, nesse caso do-
minado pelos peninsulares. A tentativa foi reprimida pelas milícias locais. 
A permanência do vice-rei do Prata, favorável aos nativos, fez as tropas 
espanholas sediadas em Montevidéu tentarem implantar um outro gover-
no, uma vez que não reconheciam a autoridade do mandatário apoiado por 
Buenos Aires.
Situação semelhante foi observada no Chile, no Peru, em 
La Paz e em Quito. Em meio a tudo isso, observa-se um 
ponto interessante: duas rebeliões iniciadas por camadas 
populares em Charcas e em La Paz, ambas regiões do que hoje é a Bolívia, 
foram severamente reprimidas. Tudo isso ocorreu nas colônias enquanto 
na metrópole o rei, D. Fernando, foi mantido prisioneiro pelos franceses, 
tendo sido o trono espanhol entregue a José Bonaparte, irmão de Napo-
leão. Foi nesse momento que teve início a resistência espanhola, levando 
à formação das Juntas de Cádiz. 
Nesse contexto, o motivo declarado pelos revoltosos é o apoio ao rei, que 
havia sido feito prisioneiro, e a luta contra os franceses. Donghi caracteri-
za assim essa primeira fase do processo: ”Ocorre assim uma Guerra Civil 
que nasce das camadas dirigentes; mas cada uma das partes antagonis-
tas, com o objetivo de prevalecer, empenha-se no sentido de estender 
essa Guerra Civil, buscando alianças fora do restrito ambiente em que a 
luta se desencadeou.” (DONGHI, 1975, p. 57).
Expedições militares foram enviadas, a partir do Rio da Prata, para o cen-
tro da área espanhola da América do Sul. Nessa região tem início o con-
flito entre as forças do vice-rei do Peru, fiel à metrópole, e as forças revo-
lucionárias. No lado oriental, contra Montevidéu, movimentos populares 
de camponeses serão encorajados, no primeiro momento, pelas forças 
revolucionárias comandadas pela elite nativa branca. Essa revolta campo-
nesa é comandada por José Artigas. A aliança com Buenos Aires não dura 
muito e nessa região pode-se observar um dos primeiros movimentos que 
impedirão a manutenção da unidade da região. 
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O movimento de independência na América espanhola se desenrolava em 
duas frentes, na luta contra os representantes da coroa e na luta interna 
entre os próprios revolucionários. Dentre os grupos que disputam o poder, 
lideranças importantes despontam como Alvear, San Martin, Artigas, Mo-
reno, Carrera, O’Higgins dentre outros. Em 1813, uma assembléia reunida 
em Buenos Aires não chega a proclamar a independência, mas aprova 
um conjunto de mudanças que alteravam definitivamente algumas das ca-
racterísticas da legislação colonial. Tal assembléia suprimiu os títulos de 
nobreza, o direito de primogenitura, aboliu os escravos nascidos depois de 
1813; suprimiu também o Tribunal da Inquisição e oficializou o brasão, a 
bandeira e o hino. A Independência seria proclamada em 1816.
Por outro lado, o primeiro esforço revolucionário parecia ter 
fim no Alto Peru, no Chile e nas áreas que hoje correspon-
dem à Venezuela e Colômba. Com o trono restaurado e com 
a determinação das monarquias continentais de fazer valer o absolutismo, 
a Espanha enviava para a América seus soldados, isolando assim os prin-
cipais líderes revolucionários como, por exemplo, Bolívar.
Entretanto, após as guerras napoleônicas e com todos os problemas acu-
mulados ao longo dos séculos em lutas intermitentes na Europa e nas áre-
as coloniais, a Espanha restaurada não tinha mais a mesma força de antes. 
O próprio pacto perdera força. A experiência da Guerra Civil nas primeiras 
décadas do século XIX mobilizou muitas forças na América hispânica. O 
resultado foi uma segunda fase da luta revolucionária, que contou, a partir 
de então, com o apoio da Inglaterra e dos Estados Unidos. Tal apoio não 
deve, no entanto, ser superestimado.
No que se refere à América do Sul, na área espanhola, nesse momento a 
influência maior no movimento revolucionário caberá a Bolívar e San Mar-
tin. Este último, comandando os chilenos O’Higgins e Carrera, libertou o 
Chile em 1818. Em 1821, com a armada chilena comandada por Cochrane 
tendo isolado o principal porto do Peru em 1820, San Martin proclamou a 
independência do Peru. Este seria reconquistado pelos espanhóis em 1823 
e libertado em seguida por Bolívar. Os espanhóis retomaram também La 
Paz e Potosi, finalmente libertadas em 1825 por Sucre, lugar-tenente de 
Bolívar. Este, a partir de 1816, começando pela ilha Margarita, avançou 
chegando em 1821 a libertar todo o norte, excetuando o Panamá, e todo o 
sul, com exceção de Quito, que foi libertada, finalmente, em 1822. 
Os dois principais líderes do processo que finalmente conquistou a Inde-
pendência nas áreas espanholas da América do Sul e parte da América 
Central, no entanto, não se entenderam a respeito de como a região deve-
ria ser governada. Enquanto Bolívar defendia a formação de uma federação 
de repúblicas, San Martin, filho de uma família dedicada ao funcionalismo 
HISTÓRIA DA AMÉRICA II 3�
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monárquico da metrópole, talvez por fidelidade às suas origens, defendia 
a formação de principados nas regiões libertadas, que seriam governados 
por príncipes europeus convidados.
Nesta aula foi apresentado o processo de Independência em 
algumas regiões das chamadas “colônias de exploração”, 
como o Haiti, a área de colonização espanhola da América 
do Sul e da América Central. A descolonização da América portuguesa, do 
México e de Cuba será tratada a seguir. No entanto, pode-se perceber até 
aqui que o processo de descolonização da América espanhola foi bastante 
intrincado,compreendendo duas fases: uma, logo no início do século XIX, 
e outra que se desenrola a partir de 1816. Apesar da grande mobilização 
das elites e da participação das classes populares, o processo tal como se 
viu nas regiões apresentadas, não foi capaz de alterar significativamente 
a estrutura social e, muito menos, os aspectos econômicos da região.
Para saber mais a respeito do processo de Independência 
na América do Sul e das idéias que cercaram o movimento, 
leia o artigo da professora Maria Lígia Coelho Prado sobre 
Bernardo Monteagudo, um dos líderes do processo, disponível no banco 
de textos do nosso ambiente.
HISTÓRIA DA AMÉRICA II3�
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Aula: 0�
Temática: A descolonização nas 
 “colônias de exploração” II
Nesta aula o tema será ainda o processo de independência 
da América Ibérica, analisando a história da descolonização 
no México, e em outras regiões da América Central, como 
o Brasil e Cuba.
Como foi visto na aula anterior, nessas regiões a Independência também 
não promoveu uma revolução de fato nas estruturas sociais e econômicas, 
e nem se firmou como referência para outros movimentos. Isto é, diferen-
temente da Independência dos Estados Unidos, o movimento emancipa-
cionista nessas áreas, como nas outras já tratadas, não chegou a produzir 
novos paradigmas e nem a romper com o modelo econômico dependente 
dos agentes externos.
Comecemos pelo México. O interessante da Independência dessa região é 
que, a despeito do processo conduzir a uma troca dos grupos da elite que 
detinham e continuaram a deter o poder, o processo teve início a partir de 
uma revolta de índios mestiços. Da mesma forma que nas outras áreas da 
América hispânica, os acontecimentos na Europa, que levaram à prisão do 
rei por Napoleão, também influenciaram esse movimento.
Em 1810, Miguel Hidalgo, pároco de Dolores à frente de trabalhadores agrí-
colas e mineiros, iniciou um movimento revolucionário pela independência 
do México em relação a Espanha,que neste período estava sob o jugo 
Francês. O movimento foi vencido pelo General Trujillo, muito embora suas 
tropas tenham sido dizimadas no confronto, porque, embora mal armados, 
os revolucionários eram numerosos. Hidalgo foi preso e antes de ser exe-
cutado, arrependeu-se de suas idéias emancipacionistas. O movimento 
continuou a ser liderado por outro padre, José Maria Morelos, tornando-se 
mais organizado, havendo, até mesmo uma tentativa de institucionaliza-
ção com a criação de uma assembléia. Entretanto, por ser formado por 
populares, acabou por provocar a união de antigos rivais, a elite nativa e 
os peninsulares, que, temerosos com o “radicalismo” do movimento (na 
verdade, temerosos diante da massa popular engajada), juntaram-se na 
repressão. Morelos foi derrotado, preso e executado, em 1815.
Em 1820, com a Revolução Liberal na Espanha, a Indepen-
dência do México é assumida por partidários da monarquia, 
HISTÓRIA DA AMÉRICA II 3�
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do catolicismo e opositores dos liberais. Como discutido anteriormente, 
em muitos casos no processo de Independência, mesmo com relação as 
Treze Colônias, o que se desejava era maior autonomia nos negócios e par-
ticipação nas decisões, do que propriamente a ruptura. No México, nessa 
segunda fase, quem assume o processo é Itúrbide, membro da elite criolla 
(nativa). Ao conseguir a submissão do vice-rei e obedecendo aos objetivos 
do Plano de Iguala, de 1821, traçado por ele e seus aliados, Itúrbide forma 
uma regência no México estabelecida pelo Tratado de Córdoba e ofereceu 
a coroa do México a Fernando VII, derrubado pela revolução espanhola. 
Seguindo o que acontece mais ao norte, a audiência da Guatemala, à qual 
estava ligada toda a América Central, também adere ao movimento de 
Itúrbide, à exceção do Panamá. Entretanto, outros acontecimentos trans-
formam a situação como a morte do vice-rei do México e o posicionamen-
to do cabildo favorável aos liberais espanhóis. Itúrbide ocupa a cidade do 
México e consegue fazer-se coroar imperador, em 1822. O império de Itúr-
bide incluía todo o México até os atuais territórios do Texas e da Califórnia, 
além da América Central, menos o Panamá. Além da Guerra do México, 
em 1836, as disputas entre liberais, abrigados num primeiro momento no 
Partido dos Yorkinos, ligados a um loja maçônica que era ramificação da 
loja de Nova York, e os conservadores, abrigados no Partido dos Esco-
ceses, ligado à Loja Escocesa, também maçônica, causarão ainda muita 
instabilidade política.
Antes, porém, o caráter quase absolutista que Itúrbide tentou imprimir ao 
seu governo, levou a uma reação de republicanos e liberais, apoiada pelos 
militares, que o derrubou em 1823. A queda levou a América Central a 
separar-se do México, surgindo então as Províncias Unidas da América 
Central que incluíam Guatemala, El Salvador, Nicarágua, Honduras e Costa 
Rica, presididas por Manuel Arce. Mas assim como no México, o período 
que se seguiu em breve seria marcado por disputas entre liberais e conser-
vadores, neste caso muito ligados à igreja, o que conduziria à secessão da 
Guatemala, em 1837, determinando o fim das Províncias Unidas.
Na Independência da América portuguesa encontraremos muitas das ca-
racterísticas mencionadas nos outros processos. O desgaste do pacto co-
lonial também provocava desagrados por aqui. Apesar das tentativas do 
Despotismo Esclarecido, a tal modernização econômica foi bem sucedida. 
É bem verdade que talvez isso tenha ocorrido devido às próprias contradi-
ções e impossibilidades dessa forma de despotismo que, por fim, acabou 
sucumbindo, depois de Pombal, ao peso do Estado imperial e absolutista 
português. A insatisfação com o domínio português fez-se sentir entre os 
produtores de açúcar, que sofriam concorrência do açúcar das Antilhas; 
os pecuaristas, que concorriam com a região platina e os produtores de 
algodão, ,que disputavam com os Estados Unidos. Em todos os casos, os 
produtores responsabilizaram a administração metropolitana e a debilida-
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de do Estado português pela ausência de proteção aos seus interesses no 
mercado internacional. 
As mesmas razões que abalaram a monarquia espanhola no 
início do século XIX abalariam a monarquia portuguesa e pra-
ticamente todos os Estados continentais da Europa. O Trata-
do de Fontainebleau, entre a Espanha e Napoleão, garantiu à França o uso do 
território espanhol para passagem de suas tropas. O objetivo era tomar Por-
tugal que, contrariando os franceses, manteve sua aliança com os ingleses. 
Em 1807, ocorre a primeira invasão francesa. Com a ajuda de seus aliados, 
os ingleses, Portugal expulsa os invasores. A segunda invasão ocorre em 
1809 e a terceira em 1811. A derrota da França no continente, só viria a 
ocorrer em 1814. Em meio a tudo isso, na iminência da invasão. D. João, à 
época ainda regente, decidiu fugir com a corte para o Brasil.
As conseqüências da vinda da família real portuguesa para o Brasil, trans-
formando o Rio de Janeiro na sede do reino português, foram, em linhas 
gerais: a organização do Estado, dando à colônia unidade político-adminis-
trativa; a abertura dos portos, o que rompeu com o imposto exclusivo me-
tropolitano devido ao pacto colonial. Todo o processo de transferência da 
corte para o Brasil, bem como a administração em Portugal e a luta contra 
os invasores, contou com o apoio fundamental dos ingleses. Sendo assim, 
os tratados comerciais assinados e as medidas econômicas tomadas, a 
partir da instalação da corte na América, privilegiavam, sobretudo, os inte-
resses ingleses. Por outro lado, há avanços importantes como o início do 
estímulo à imigração, a partir de 1818, surgindo a primeira colônia de imi-
grantes em Nova Friburgo; incentivo à exploração mineral, atividade que 
também será permitida aos estrangeiros; fundação da Imprensa Régia1 e 
da Academia Real de Desenho, Pintura, Escultura e Arquitetura; expansão 
da área de domínio português em direção ao norte,

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