Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
EXPEDIENTE CADERNOS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA é uma publicação do UNICURITIBA Endereço: Rua Chile, 1678 – CEP 80220-181 – Curitiba, PR – Brasil Telefone: (41) 3213-8700 Site: www.unicuritiba.edu.br E-mail: npea@unicuritiba.edu.br UNICURITIBA Reitor: Danilo Vianna Pró-Reitor Acadêmico: Adriano Rogério Goedert Pró-Reitora Administrativa: Vanessa Santamaria COMISSÃO EDITORIAL Cintia Rubim de Souza Netto Fabiano Christian Pucci do Nascimento Isaak Newton Soares Marlus Vinicius Forigo Paulo Ricardo Opuszka Revisão: Cintia Rubim de Souza Netto e Marlus Vinicius Forigo Diagramação: Marlus Vinicius Forigo Data: 2013 http://www.unicuritiba.edu.br/ mailto:npea@unicuritiba.edu.br APRESENTAÇÃO O Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA), visando consolidar a pesquisa científica que realiza, apresenta à comunidade acadêmica a segunda edição do seu “Cadernos de Iniciação Científica”. Esta publicação tem como propósito divulgar anualmente os resultados dos projetos de iniciação científica da graduação e pós-graduação da Instituição nas suas diferentes linhas de pesquisa, através de artigos produzidos pelos alunos e professores que desenvolveram as pesquisas. Desta forma, contribui para expandir o conhecimento e a prática da pesquisa do corpo discente e docente. Tornar público esses resultados é o comprometimento do UNICURITIBA, através do Núcleo de Pesquisa e Extensão Acadêmica (NPEA), complementando, portanto, outro evento de pesquisa já consolidado, o Simpósio de Iniciação Científica (SPIC). Este Simpósio, realizado anualmente desde 2009, visa à apresentação de resumos das pesquisas e a discussão de seus resultados, bem como a interface com trabalhos de outras Instituições de Ensino Superior. Esta segunda edição do “Caderno de Iniciação Científica” é composta por artigos produzidos pelos alunos e seus professores orientadores nas diversas áreas abordadas pelos projetos ao longo do ano de 2012. Boa leitura CINTIA RUBIM DE SOUZA NETTO Supervisora do Núcleo de Pesquisa e Extensão Acadêmica 5 SUMÁRIO COMENTÁRIOS À MEDIDA DE CONCILIAÇÃO VOLUNTÁRIA NA RECOMENDAÇÃO N. 92 DA OIT Cleverson Jose Gusso e Francielli Morêz ............................................................................ 5 A CONCILIAÇÃO NOS JUIZADOS ESPECIAIS: ÂMBITO PREVIDENCIÁRIO Juliana de Abreu Cassemiro .............................................................................................. 13 ANÁLISE JURIMÉTRICA DA CONCILIAÇÃO: SANÇÃO POSITIVA DO DIREITO NA PROMOÇÃO DA EFICIÊNCIA ECONÔMICA Juliana Cristina Busnardo Augusto de Araujo e Eloína Ferreira Baltazar .......................... 23 PRINCÍPIOS DA NEGOCIAÇÃO COLETIVA Luciana Piccinelli Gradowski ............................................................................................. 34 A MEDIAÇÃO COMO MEIO ALTERNATIVO (E POSSÍVEL) À RESOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS João Paulo Vieira Deschk e Paulo Ricardo Opuszka ........................................................ 46 CONCILIAÇÃO NA JUSTIÇA DO TRABALHO: ACESSO E EFETIVIDADE, DIREITO E DEVER Luiz Eduardo Gunther, Rosemarie D. Pimpão e Willians F. L. dos Santos........................ 55 A CONCILIAÇÃO COMO UM INSTRUMENTO DE ACESSO À JUSTIÇA Maria da Glória M. R. Neiva de Lima e Wagner C. Cordeiro ............................................. 69 JUIZADOS ESPECIAIS: UM CASO DE SUCESSO OU DE FRACASSO NA IMPLEMENTAÇÃO DA NOVA FÓRMULA DE ACESSO À JUSTIÇA E DA CONCILIAÇÃO Nara Fernandes Bordignon ................................................................................................ 86 CONCILIAÇÃO NO DIREITO COMPARADO. PRINCIPAIS ASPECTOS RELACIONADOS À COMPOSIÇÃO DOS INTERESSES EM LITÍGIO Simone A. Barbosa Mastrantonio e Joanna Vitoria Crippa ................................................ 99 APLICAÇÃO DA RESERVA DO ARTIGO 96 DA CISG PELO ÁRBITRO INTERNACIONAL Felipe Hasson .................................................................................................................. 114 ANÁLISE DAS INELEGIBILIDADES NO TEXTO CONSTITUCIONAL Brunna Helouise Marin e Luiz Gustavo de Andrade ........................................................ 127 A DISCURSIVIDADE NO TEXTO LEGAL: POSSIBILIDADES E LIMITES Aloísio Cansian Segundo ................................................................................................. 143 A CISG E O INSTITUTO DO NACHFRIST Bruna Bauer King ............................................................................................................ 152 6 EXCLUSÃO DE RESPONSABILIDADE DE ACORDO COM O ARTIGO 79 DA CISG Luana Costa Veronesi ..................................................................................................... 160 A LIBERDADE DE CRENÇA: LIMITES AO SEU EXERCÍCIO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 Fabiana Soares Prestes e Maria da Glória Colucci ......................................................... 168 EXPERIMENTAÇÃO DE MEDICAMENTOS EM SERES HUMANOS NO DIREITO BRASILEIRO Silvia Helena da M. C. Demeterco e Maria da Glória L. da S. Colucci ............................ 189 A MECANIZAÇÃO DA LAVOURA E A REINSERÇÃO DO CORTADOR DE CANA-DE AÇÚCAR NO SETOR SUCROALCOOLEIRO BRASILEIRO Bruno César Gurski e Maria da Glória Colucci ................................................................ 206 AUTONOMIA DA VONTADE E O TESTAMENTO VITAL NO DIREITO BRASILEIRO Jacqueline Bernardi Benatto e Maria da Glória L. da S. Colucci ..................................... 219 O DIREITO À MORTE DIGNA E O TESTAMENTO VITAL NO BRASIL THE RIGHT TO DIE WITH DIGNITY AND THE LIVING WILL IN BRAZIL Flávia Ludimila K. Baitello e Maria da Glória Colucci ....................................................... 222 O PRINCÍPIO DA RESPONSABILIZAÇÃO NO DIREITO AMBIENTAL E A SADIA QUALIDADE DE VIDA DE PESSOAS IMPACTADAS PELA POLUIÇÃO MARINHA Aimée Isabella S. Mendes e Maria da Glória Colucci ...................................................... 246 5 COMENTÁRIOS À MEDIDA DE CONCILIAÇÃO VOLUNTÁRIA NA RECOMENDAÇÃO N. 92 DA OIT Cleverson Jose Gusso ________________________________ Mestre em Direito Empresarial e Cidadania pelo UNICURITIBA Advogado, Pesquisador, Professor do curso de Graduação em Direito do UNICURITIBA, da Especialização em Direito do Trabalho da PUCPR Coordenador do Núcleo de Prática Jurídica do Centro Universitário Internacional UNINTER Francielli Morêz ________________________________ Mestra em Direitos Fundamentais e Democracia pela UNIBRASIL, Especialista em Sociologia Política pela UFPR e em Direito Público pela Fundação Escola do Ministério Público do Paraná – FEMPAR. Advogada, Pesquisadora e Professora dos cursos de Graduação em Direito e Relações Internacionais do UNICURITIBA e do Centro Universitário Internacional UNINTER, e das Especializações em Direito do Trabalho e Comércio Exterior da PUCP 6 1 NOTAS INTRODUTÓRIAS Surgida em um contexto histórico deveras peculiar, a Organização Internacional do Trabalho – OIT foi – e ainda é – considerada a primeira organização de caráter misto,1 multilateral e especializada no plano universal.2 Tendo se reunido sua primeira Conferência em Washington, em 1919, como parte do Tratado de Versalhes – que pôs fim à Primeira Guerra Mundial3 e determinou a criação da Liga das Nações4 – predecessora da Organização das Nações Unidas –, a OIT alcançou, ao largo dos vinte anos entre guerras, a redação de mais de cinquenta convenções,5 bem como a realização de uma série considerável de missões de inspeção no âmbito dos seus Estados-Membros. Em 1944, a OIT reúne a sua 26ª Conferência na Filadélfia, ocasião na qual é elaborada a Declaração de Filadélfia, que, enquanto anexo à Carta da OIT, veio apresentar os propósitos e princípios quenorteariam a Organização no cenário pós Segunda Guerra Mundial. Dentre este rol de princípios e de propósitos, visualiza-se a necessidade de desmercantilização do trabalho; de erradicação da pobreza e das más condições de vida dos trabalhadores com base na justiça social; da constituição da liberdade de expressão e de associação como condições indispensáveis para o progresso; da consideração equânime de representantes de empregadores, de trabalhadores e de governos na luta para a consecução dos objetivos da Carta da OIT; e 1 Diz-se de caráter misto porque a estrutura da Organização não contempla apenas Estados, tal como tradicionalmente concebido pela teoria clássica das organizações internacionais governamentais. No caso da OIT, tem-se uma composição de membros consubstanciada em Estados, em outras organizações internacionais e em organizações de empregadores e de trabalhadores, conjuntamente. (nota dos autores) 2 Vide, neste passo, SEITENFUS, Ricardo; VENTURA, Deisy. Direito Internacional Público. 4. ed. rev. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006, p. 114. 3 Neste sentido, coloca Nicolas Valticus que “a Primeira Guerra Mundial produziu profundas modificações na posição e no peso da classe trabalhadora das potências aliadas. A trégua social e cooperação que se estabeleceu na Europa ocidental entre os dirigentes sindicais e os governantes, os grandes sacrifícios suportados especialmente pelos trabalhadores e o papel que desempenharam no desenlace do conflito, as promessas dos homens políticos de criarem um mundo novo, a pressão das organizações obreiras para fazer com que o Tratado de Versalhes consagrasse as suas aspirações de uma vida melhor, as preocupações suscitadas pela agitação social e as situações revolucionárias existentes em vários países, a influência exercida pela Revolução Russa de 1917, foram fatores que deram um peso especial às reivindicações do mundo do trabalho no momento das negociações do tratado de paz. Estas reivindicações expressaram-se, tanto em ambos os lados do Atlântico como em ambos os lados da linha de combate, inclusive durante os anos de conflito mundial. Ao final da guerra, os governos aliados, e principalmente os governos francês e britânico, elaboraram projetos destinados a estabelecer, mediante o tratado de paz uma regulamentação internacional do trabalho.” Citado por SOUZA, Zoraide Amaral de. A Organização Internacional do Trabalho: OIT. Revista da Faculdade de Direito de Campos, Campos dos Goytacazes, v. 7, n. 9, p. 433-434, jul./dez. 2006. 4 A ligação entre a já extinta Liga das Nações e a OIT se devia ao fato de que os custos de funcionamento desta foram incluídos no orçamento daquela. Ainda hoje esta lógica se mantém, considerando a vinculação da OIT à Organização das Nações Unidas. Ver, neste sentido, GOMES, Orlando; GOTTSCHALK, Elson. Curso de Direito do Trabalho. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1990, p. 59. Outrossim, todos os Estados que subscreveram o Tratado de Paz de Versalhes tornaram-se membros efetivos da OIT. Contudo, o fato de um Estado renunciar à Liga das Nações não implicava na sua exclusão do quadro de membros da OIT, nem tampouco que outros Estados que não integrassem a Liga estivessem impedidos de integrar a Organização Internacional do Trabalho. Cf. SEITENFUS, Ricardo; VENTURA, Deisy. Op. cit., p. 114. 5 Somente na Primeira Conferência foram redigidas seis convenções, sendo que a primeira delas correspondia a uma das principais reivindicações do movimento sindical e operário do final do século XIX e começo do século XX: a limitação da jornada de trabalho a 8 horas diárias e 48 semanais. As demais convenções adotadas nessa ocasião referem-se à proteção da maternidade, à luta contra o desemprego, à definição da idade mínima de 14 anos para o trabalho na indústria e à proibição do trabalho noturno de mulheres e menores de 18 anos. Vide <http://www.oit.org.br/content/hist%C3%B3ria>. Último acesso em 25/10/2012. 7 da exaltação dos direitos sociais como fundamentais a todos os indivíduos, independentemente de sua condição étnica, religiosa, política ou ideológica.6 Com o fito de concretizar estes objetivos genéricos, a OIT possui uma estrutura organizacional interna subdividida basicamente em três níveis: o pleno, consubstanciado em sua Assembléia Geral, com legitimidade genérica para atuar acerca de todos os pontos contemplados pelas atividades da Organização; um Conselho de Administração; e um Secretariado de caráter permanente, denominado Escritório Internacional do Trabalho, com sede em Genebra. Neste sentido, as finalidades de sua estrutura jurídica e institucional prelecionam que a atuação trabalhista deve buscar o pleno emprego, o aumento do nível de vida, a formação profissional dos trabalhadores, sua remuneração digna, a extensão da seguridade social e previdenciária, a participação de empregados e de empregadores na elaboração e na implementação de medidas socioeconômicas, a proteção da infância, da juventude e da maternidade, a promoção de sistemas de saúde adequados, a possibilidade de negociação coletiva dos contratos de trabalho e, na eventualidade de litígios envolvendo estes contratos, o desenvolvimento de mecanismos eficazes de composição destes conflitos, judiciais ou extrajudiciais. Neste passo, a Recomendação n. 92 da OIT sobre a conciliação e a arbitragem voluntárias, adotada em Genebra a 29 de junho de 1951 por ocasião da 34ª Conferência da Organização, descortinou de forma expressa e contundente a necessidade do desenvolvimento e do aprimoramento de dois mecanismos alternativos de composição de controvérsias trabalhistas no âmago dos Estados-Membros: a conciliação e a arbitragem. Preliminarmente, todavia, convém sublinhar a natureza jurídica do referido instituto, eis que, sob o ponto de vista normativo, a OIT logra de duas modalidades distintas: as recomendações e as convenções. As convenções são arcabouços jurídicos de efeito vinculante, devendo ser adotadas por no mínimo dois terços dos Estados-Membros por ocasião da Conferência na qual forem levadas à pauta de discussão, para, a posteriori, serem colocadas à disposição dos signatários para internalização. Nestes termos dispõe, in verbis, o artigo 19, item 5 e alíneas, da Carta da OIT: 5. Tratando-se de uma convenção: a) será dado a todos os Estados-Membros conhecimento da convenção para fins de ratificação; b) cada um dos Estados-Membros compromete-se a submeter, dentro do prazo de um ano, a partir do encerramento da sessão da Conferência (ou, quando, em razão de circunstâncias excepcionais, tal não for possível, logo que o seja, sem nunca exceder o prazo de 18 meses após o referido encerramento), a convenção à autoridade ou autoridades em cuja competência entre a matéria, a fim de que estas a transformem em lei ou tomem medidas de outra natureza; c) os Estados-Membros darão conhecimento ao Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho das medidas tomadas, em virtude do presente artigo, para submeter a convenção à autoridade ou autoridades competentes, comunicando-lhe, também, todas as informações sobre as mesmas autoridades e sobre as decisões que estas houverem tomado; 6 Para tanto, a OIT adota a expressão trabalho decente para caracterizar o ponto de convergência dos seus quatro objetivos estratégicos: o respeito aos direitos no trabalho (em especial aqueles definidos como fundamentais pela Declaração Relativa aos Direitos e Princípios Fundamentais no Trabalho e seu seguimento, adotada em 1998: a liberdade sindical e reconhecimento efetivo do direito de negociação coletiva; a eliminação de todas as formas de trabalho forçado; a abolição efetiva do trabalho infantil; e a eliminação de todas as formas de discriminação em matéria de emprego e ocupação), a promoção do emprego produtivo e de qualidade, a extensão da proteção social e o fortalecimentodo diálogo social. Ver, neste sentido, a Constituição da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e seu Anexo (Declaração de Filadélfia). Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/decent_work/doc/constituicao_oit_538.pdf>. Último acesso em 23/10/2012. 8 d) o Estado-Membro que tiver obtido o consentimento da autoridade, ou autoridades competentes, comunicará ao Diretor-Geral a ratificação formal da convenção e tomará as medidas necessárias para efetivar as disposições da dita convenção; e) quando a autoridade competente não der seu assentimento a uma convenção, nenhuma obrigação terá o Estado-Membro a não ser a de informar o Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho - nas épocas que o Conselho de Administração julgar convenientes - sobre a sua legislação e prática observada relativamente ao assunto de que trata a convenção. Deverá, também, precisar nestas informações até que ponto aplicou, ou pretende aplicar, dispositivos da convenção, por intermédio de leis, por meios administrativos, por força de contratos coletivos, ou, ainda, por qualquer outro processo, expondo, outrossim, as dificuldades que impedem ou retardam a ratificação da convenção. Diferentemente, as recomendações - espécie normativa neste texto em tela –, não possuem caráter vinculante propriamente dito, de modo a não implicarem em observância obrigatória por parte dos Estados-Membros. Neste exato sentido, corrobora o artigo 19, item 6 e alíneas, da Carta da OIT, a seguir transcrito: 6. Em se tratando de uma recomendação: a) será dado conhecimento da recomendação a todos os Estados-Membros, a fim de que estes a considerem, atendendo à sua efetivação por meio de lei nacional ou por outra qualquer forma; b) cada um dos Estados-Membros compromete-se a submeter, dentro do prazo de um ano a partir do encerramento da sessão da Conferência (ou, quando, em razão de circunstâncias excepcionais, tal não for possível, logo que o seja, sem nunca exceder o prazo de 18 meses após o referido encerramento), a recomendação à autoridade ou autoridades em cuja competência entre a matéria, a fim de que estas a transformem em lei ou tomem medidas de outra natureza; c) os Estados-Membros darão conhecimento ao Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho das medidas tomadas, em virtude do presente artigo, para submeter a recomendação à autoridade ou autoridades competentes, comunicando-lhe, também as decisões que estas houverem tomado; d) além da obrigação de submeter a recomendação à autoridade ou autoridades competentes, o Membro só terá a de informar o Diretor-Geral da Repartição Internacional do Trabalho - nas épocas que o Conselho de Administração julgar convenientes – sobre a sua legislação e prática observada relativamente ao assunto de que trata a recomendação. Deverá também precisar nestas informações até que ponto aplicou ou pretende aplicar dispositivos da recomendação, e indicar as modificações destes dispositivos que sejam ou venham a ser necessárias para adotá-los ou aplicá-los. As recomendações são, portanto, manifestações com peso jurídico de aconselhamento, e não de imposição, mas cuja redação e divulgação implicam na criação de um ambiente favorável ao encaminhamento de soluções a variados problemas, soluções estas que, de certa forma, tem origem na própria vontade estatal.7 Em circunstâncias tais, a ausência de obrigatoriedade jurídica propriamente dita da Recomendação nº. 92 da OIT, dada a sua natureza jurídico-normativa, não retira a sua relevância do ponto de vista da implementação das suas disposições, sendo, pois, o mais expressivo instrumento alusivo à conciliação e à arbitragem voluntárias em sede trabalhista no âmbito do Direito Internacional Público. 7 Segundo SEITENFUS, Ricardo; VENTURA, Deisy. Op. cit., p. 115. 9 2 DA CONCILIAÇÃO VOLUNTÁRIA NA RECOMENDAÇÃO N. 92 DA OIT À parte de questões inerentes à contemplação genérica da Recomendação n. 92 da OIT acerca da conciliação e da arbitragem voluntárias sob o prisma trabalhista, mostra-se oportuna e necessária a distinção havida entre ambas, eis que somente a primeira constitui o objeto deste artigo. Ambas se configuram como técnicas alternativas de composição de conflitos trabalhistas, mas de natureza diferenciada. Enquanto que a arbitragem é uma técnica dita heterocompositiva, determinada pela solução do embate por fonte suprapartes, que decide com força obrigatória sobre os litigantes que, de modo tal, são submetidos à decisão do(s) árbitro(s), a conciliação é considerada uma técnica autocompositiva, segundo a qual o conflito é solucionado pelas próprias partes envolvidas mediante ajuste de vontades.8 Em conformidade com o mencionado, a conciliação, enquanto forma de autocomposição de conflitos trabalhistas, é contemplada de forma ampla pelo texto da Recomendação n. 92 da OIT, conforme se pode extrair da literalidade do seu item 1, capítulo I: “Devem ser estabelecidos organismos de conciliação voluntária, apropriados às condições nacionais, com o objetivo de contribuir com a prevenção e a solução dos conflitos laborais entre empregadores e trabalhadores.”9 De tal feita, o texto do documento em tela sublinha a importância e a necessidade do estabelecimento deste instrumento, sem fazer alusão específica a alguma ou a algumas de suas modalidades em Direito aceitas, estabelecendo, contudo, que as modalidades eventualmente utilizadas sejam aplicadas de modo paritário – ou seja, de modo a compreender uma equânime representação de empregadores e de empregados nos procedimentos respectivos (item 2 do capítulo I) –, de acordo com a vontade das partes envolvidas, e não de forma compulsória,10 de modo a inclusive criar-se condições aptas à invocação da boa-fé das partes envolvidas no procedimento, sobretudo no tocante ao compromisso da abstenção de recorrência a atuações que possam minar a condução da prática conciliatória. Eis, neste sentido, a transcrição dos itens 3(2) e 4 da referida Recomendação: 3(2). Deveriam ser adotadas disposições para que o procedimento de conciliação voluntária possa ser entabulado por iniciativa de uma das partes em conflito, ou por organismos de conciliação voluntária. 4. Se um conflito houver sido submetido a um procedimento de conciliação com o consentimento de todas as partes interessadas, estas mesmas deveriam ser 8 Ver, neste sentido, NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2009, p. 6-7. MORAES FILHO, Evaristo de. Introdução ao Direito do Trabalho. 9. ed. São Paulo: LTr, 2003, p. 712. 9 Tradução livre dos autores a partir da versão oficial em inglês disponível em: <http://www.ilo.org/dyn/normlex/es/f?p=NORMLEXPUB:12100:0::NO:12100:P12100_INSTRUMENT_ID:312 430:NO>. Último acesso em: 28/10/2012. 10 Conforme classificação proposta por Jorge Sappia para a Oficina Internacional do Trabalho da OIT, em estudo intitulado Justicia Laboral y Medios Alternativos de Solución de Conflictos Colectivos e Individuales del Trabajo: “La conciliación puede asumir dos formas, la voluntaria y la obligatoria. La primera es la simple convocatoria por la autoridad laboral, a constituir una reunión con finalidades de diálogo tendiente a la solución del conflicto. Normalmente carece de formas y plazos reglados y se desarrolla conforme las partes se van manifestando. La segunda por el contrario supone la citación forzosa de los contendores del conflicto y la obligación de estar presentes en el ámbito de las deliberaciones. Suele incluir un reglamento de actuación pero excluye la imposición de conciliar. Ambas se han revelado muy útiles en la experiencia regional y la utilización de una u otra, depende mucho de las características del conflicto.” In SAPPIA, Jorge. Justicia Laboral y Medios Alternativos de Solución deConflictos Colectivos e Individuales del Trabajo. Lima: Oficina Internacional do Trabalho - OIT, 2002, p. 13. 10 estimuladas para que se abstivessem de recorrer a greves e a lock outs enquanto durar o processo de conciliação.11 Por ser a Recomendação nº. 92 da OIT, portanto, de referência ampla à conciliação voluntária, presume-se a recomendação à utilização da conciliação laboral tanto judicial quanto extrajudicial, privada ou pública, prévia ou posterior à eclosão do embate, unipessoal ou colegiada – ou seja, em todas as espécies consignadas pela doutrina correlata. A respeito da conciliação judicial, tem-se o seu desenvolvimento perante o próprio Poder Judiciário, no âmbito dos dissídios individuais – caso em que se realiza perante a mesma Vara que aprecia a demanda – ou coletivos – caso em que se realiza previamente à sessão de julgamento, na audiência de conciliação perante o magistrado presidente do tribunal que decidirá o caso, ou perante o juiz do tribunal designado para a audiência de conciliação.12 Em relação à conciliação extrajudicial, tem-se a sua realização prévia ao ingresso da reclamatória no Poder Judiciário, sendo, via de regra, colegiada por um órgão com atribuições para esta finalidade, sendo ele sindical ou não.13 Acerca da conciliação privada, tem-se como principal ilustração a composição realizada pela via sindical. Já acerca da conciliação pública, tem-se como exemplos aquelas conduzidas perante o Poder Judiciário ou o Ministério Público.14 Ademais, a conciliação poderá ser prévia ao surgimento do embate, tal como no caso dos ordenamentos que, em se tratando de atividades essenciais, exigem antes da realização da greve a tentativa de conciliação como condição da legalidade da paralisação15 – presume-se, portanto, que estes ordenamentos não se coadunam com as disposições da Recomendação n. 92 da OIT, pois impelem à realização da conciliação, que no teor da referida Recomendação deverá se dar de forma voluntária. Ou, ainda, e no mais dos casos, poderá ser posterior à eclosão do conflito, tal como nas situações em que a conciliação se dá de forma intercorrente ao processo trabalhista, e, portanto, após a deflagração da lide.16 Por fim, tem-se a conciliação unipessoal e a colegiada, cada qual variando de acordo com a figura do conciliador – se conduzido por um único indivíduo, ou por um colegiado ou órgão de apreciação conjunta.17 Outro aspecto de relevante apreciação à luz da efetividade do mecanismo conciliatório vem a ser aquele disposto no item 3(1) do capítulo I da Recomendação: “O procedimento deveria ser gratuito e expeditivo; toda prestação onerosa neste sentido 11 Tradução livre dos autores a partir da versão oficial em inglês disponível em: <http://www.ilo.org/dyn/normlex/es/f?p=NORMLEXPUB:12100:0::NO:12100:P12100_INSTRUMENT_ID:312 430:NO>. Último acesso em: 28/10/2012. Sublinha-se, contudo, o disposto no item 7 do capítulo III da Recomendação, pelo qual nenhuma das disposições ali sugeridas poderão ser interpretadas em detrimento do exercício do direito de greve. 12 Cf. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Op. cit., p. 13. 13 Idem, ibidem. No caso das Comissões de Conciliação Prévia, emanadas no ordenamento brasileiro a partir do advento da Lei n. 9.958/00 e inseridas na Consolidação das Leis do Trabalho - CLT com os artigos 625-A ao 625-H, há uma série de controvérsias doutrinárias acerca do caráter voluntário ou não da sua instituição. A polêmica em torno da questão é apreciada por autores como Amador Paes de Almeida, que entendem, à luz das disposições do artigo 625-A, a conotação facultativa das referidas Comissões, onde consta que as empresas e os sindicatos podem instituir Comissões de Conciliação Prévia. Por conseguinte, a obrigatoriedade de a questão trabalhista ser submetida à Comissão de Conciliação Prévia efetivamente existe, desde que se esta se mostrar atuante na localidade da prestação dos serviços, conforme o artigo 625-D. Em termos tais, vide ALMEIDA, Amador Paes de. Curso prático de Processo do Trabalho. 19. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 520-522. SAPPIA, Jorge. Op. cit., p. 10. 14 Conforme NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Op. cit, p. 13. 15 Idem, ibidem. 16 Idem, p. 14. 17 Idem, ibidem. 11 deve ser legal e previamente fixada e se reduzir ao mínimo possível.”18 Neste tópico, invoca-se a referência, em um primeiro momento, aos custos da instância conciliatória per si. Majoritariamente se tem considerado, com base neste trecho, que o trâmite do processo de conciliação deve ser gratuito para ambas as partes. No contexto da elaboração da Recomendação n. 92 da OIT na sua respectiva Conferência, esta disposição se justificou por diversas frentes, dentre as quais o fato de que o Estado acaba sendo o principal beneficiado com a instituição de um mecanismo acessível a todos na busca pela obtenção de soluções adequadas às controvérsias laborais, soluções estas que consolidam o descongestionamento das instâncias judiciais, sobrecarregadas com processos complexos e morosos.19 Outrossim, a respeito da morosidade enquanto fator determinante para o estabelecimento de procedimentos alternativos de solução de controvérsias laborais no âmbito da referida Recomendação, tem-se que a rapidez, a flexibilidade e a economia são algumas condicionantes que operam em favor destes sistemas. Não caberia, afinal, ensejar o aumento da combatividade interpartes se, por uma via alternativa de negociação direta, o conflito pode ser dissolvido. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise da Recomendação nº. 92 permite inferir que a OIT pauta-se no pleno emprego, no aumento do nível de vida, na formação profissional dos trabalhadores e na sua remuneração digna, incentivando o desenvolvimento de sistemas eficazes para a composição dos conflitos decorrentes das relações laborais. Tal recomendação demonstra também a necessidade do desenvolvimento e do aprimoramento constante de mecanismos alternativos de composição de controvérsias na seara trabalhista. Deste modo, os breves comentários postos neste artigo, podem ser utilizados para se repensar o sistema judicial atual, com o intuito de fomentar novas políticas e incrementar as já existentes, visando a resolução dos conflitos laborais. Muito embora haja grande esforço do Conselho Nacional de Justiça – CNJ e dos Tribunais pátrios, depreende-se que ainda há um longo caminho a percorrer até que o Brasil atenda ao contido na sexagenária Recomendação 92 da OIT. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, Amador Paes de. Curso prático de Processo do Trabalho. 19. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. GOMES, Orlando; GOTTSCHALK, Elson. Curso de Direito do Trabalho. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1990. MORAES FILHO, Evaristo de. Introdução ao Direito do Trabalho. 9. ed. São Paulo: LTr, 2003. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. 18 Tradução livre dos autores a partir da versão oficial em inglês disponível em: <http://www.ilo.org/dyn/normlex/es/f?p=NORMLEXPUB:12100:0::NO:12100:P12100_INSTRUMENT_ID:312 430:NO>. Último acesso em: 28/10/2012. 19 Vide SAPPIA, Jorge. Op. cit., p. 14. 12 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO – OIT. Disponível em: <http://www.oit.org.br>. SAPPIA, Jorge. Justicia Laboral y Medios Alternativos de Solución de Conflictos Colectivos e Individuales del Trabajo. Lima: Oficina Internacional do Trabalho - OIT, 2002. SEITENFUS, Ricardo; VENTURA, Deisy. Direito Internacional Público. 4. ed. rev. e ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. SOUZA, Zoraide Amaral de. A Organização Internacional do Trabalho: OIT. Revista da Faculdade de Direito de Campos, Campos dos Goytacazes, v. 7, n. 9, jul./dez. 2006. 13 A CONCILIAÇÃO NOS JUIZADOS ESPECIAIS: ÂMBITOPREVIDENCIÁRIO Juliana de Abreu Cassemiro ______________________________________ Aluna do curso de especialização em Direito Constitucional da ABDConst Conciliadora da 4ª Vara do JEF Previdenciário de Curitiba – PR Integrante do grupo de pesquisa Sistemas e Métodos de Conciliação Judicial e Extrajudicial e a Proteção dos Direitos da Personalidade (Resolução nº 125 do CNJ) sob a coordenação do Prof. Dr. Luiz Eduardo Gunther 14 1 INTRODUÇÃO Em tempos atuais, observa-se a crescente elaboração de estudos a fim de alcançar o “desafogamento” do Judiciário pátrio. Para sustentar as bases do Estado Social, com respaldo no constitucionalismo emergente do pós-guerra, vislumbra-se a utilização de vias alternativas para a salvaguarda do sistema, que objetiva harmonizar políticas de inclusão e capitalismo. Nesse contexto, a judicialização parece constituir canal importante para promover a atuação do Estado em suas bases constitucionais. O sistema previdenciário compõe a rede de mecanismos e instituições para proteção do trabalhador que se encontra incapacitado. Quando entende fazer jus a um benefício previdenciário, o segurado tem o direito de requerer um benefício perante o Instituto Nacional do Seguro Social, em regra. O indeferimento do benefício previdenciário solicitado gera ao requerente o direito de ingressar com ação previdenciária perante a Justiça Estadual diante da competência delegada, conferida à Vara Cível, ou perante os Juizados Especiais Federais, quando a causa não tiver valor superior a sessenta salários mínimos, como forma de proporcionar uma tutela jurisdicional mais célere, nos termos da Lei nº 10.259/01. Justamente no âmbito previdenciário, nas ações que versam sobre a capacidade laboral do segurado, tem-se evidenciado a crescente utilização da conciliação para a simplificação do trâmite processual. Quando da constatação de incapacidade laborativa pela perícia médica, verifica-se o encaminhamento dos autos do processo para a conciliação, no intuito de incentivar o acordo entre autor e réu, eliminando a necessidade de aguardo da prolatação da sentença. 2 PERSPECTIVAS CONSTITUCIONAIS E A RESOLUÇÃO Nº 125 DO CNJ Tratar dos temas conciliação e sistema previdenciário impõe a responsabilidade de elucidar, ainda que sucintamente, a relação com as bases político-jurídicas nas quais foram construídos. Inicialmente, destaca-se a co-implicação entre Estado e Constituição, ou seja, a dialeticidade entre ambos, porquanto não há um como pensá-los separadamente. Conforme ensina Jose Luiz Bolzan de Morais1, o Estado é uma instituição histórica, surgiu em um dado contexto e evolui segundo os ditames da sociedade, posto que é fruto de uma conquista civilizatória. Nesse sentido, cabe refletir até mesmo quanto à existência do Estado, pois não há garantias de sua eternidade. Em outras palavras, assim como o Estado emergiu de um processo histórico-social, ele pode ser extinto por suas mesmas origens, em razão de uma desnecessidade social de sobrevivência do Estado. Da mesma forma, as Constituições são um pacto constituinte, produtos de um dado momento histórico que envolve um conjunto de vontades políticas, interesses e anseios que dialogam com o passado e com o presente. As Constituições projetam um ideal ao futuro, estabelecendo objetivos, compondo uma tripla dimensão temporal. Assim, o Estado Constitucional incorpora uma tradição político-jurídica que formata o poder político sob a lógica de um poder limitado e controlado e, além disso, reconhece os direitos humanos como conteúdos fundamentais que direcionam o poder, voltado à sua consecução como finalidade da ação estatal; e, como tal, é um produto da história, por isso dinâmico, bastando perceber a 1 BOLZAN DE MORAIS, Jose Luis. O Estado e seus limites: reflexões iniciais sobre a profanação do Estado Social e a dessacralização da modernidade. Boletim da Faculdade de Direito. Universidade de Coimbra, v. LXXXII, p. 569-590, 2007. 15 passagem – no âmbito do liberalismo – do Estado Mínimo ao Estado Social; dos direitos de liberdade aos direitos de solidariedade etc.2 No século XIX, o Estado Constitucional plasmava a limitação do poder político pela submissão à Constituição. A transição do Absolutismo para o Liberalismo impunha a concretização das conquistas políticas em jurídicas. Os direitos humanos constituíram o substrato do Estado de Direito da época. A Constituição e os direitos humanos eram os limitadores do poder, porquanto a liberdade dos homens consistia na contenção do poder estatal. Adiante, na passagem do século XIX para o século XX, o Estado passou a ser demandado a cumprir funções, de modo a promover igualdades. A Constituição passa não mais a prever somente freios à ação estatal, mas incorpora a igualdade a partir do Estado, que adquire um caráter prestacional. O Estado Constitucional absorve esses novos conteúdos, transitando para o Estado Social de Direito. Reconhece-se a desigualdade no âmbito das relações sociais e age para a promoção da igualdade material. Presta serviços, assegura a dignidade da pessoa humana, não com caráter meramente assistencialista, mas como direito de cidadania. O Estado Social objetiva a atender as demandas da nova classe social, o proletariado, mas sustentando a própria continuidade do modelo econômico liberal. Pretende a convivência entre políticas de inclusão e capitalismo, comprometendo-se com o progresso social, mas vinculando este progresso à eficácia econômica. A reflexão de Bolzan de Morais tem respaldo na limitação do diálogo entre modelo econômico do capitalismo e a políticas de inclusão. Questiona-se a possibilidade da existência mútua das premissas do Estado Social. Tais ponderações são decorrentes de dois fatores por ele elencados, quais sejam a “questão social” e a “questão ambiental”. A questão ambiental está na origem da transição do Estado Social, sintetizando-se na emergência do processo de urbanização, no surgimento das máquinas e fábricas, do nascimento de uma nova classe social – o operariado, e trazendo a necessidade de regulamentação estatal. O espaço do Estado Social sempre foi aberto e está em constante ampliação. No final da Segunda Guerra Mundial até meados dos anos 70 ocorreram os chamados 30 anos gloriosos do Estado Social. A economia capitalista que está nas origens desse modelo de Estado não é a mesma, assim como as preocupações econômicas. O meio ambiente passou a ser a grande novidade. Anteriormente, os problemas estavam adstritos em âmbito estatal, territorial, após, ultrapassaram as circunscrições fronteiriças nacionais, rompendo com o paradigma da territorialidade e afetando a própria noção de Estado e de Constituição3. Somado à questão ambiental, observa-se o intenso aumento de demandas para obter direitos que já são assegurados pela Constituição Federal. Além do maior acesso à Justiça, uma explicação plausível é a não concretização da norma constitucional pelo Estado, impondo a necessidade de procurar a via judicial. Portanto, cabe questionar a sobrevivência do Estado e os caminhos que o mesmo tem percorrido para evitar o seu enfraquecimento. Uma via possível que se vislumbra é repensar o constitucionalismo, não iniciando propriamente pelos Estados, mas com dimensões distintas dele. Esse é o caso do interconstitucionalismo citado por Canotilho4, termo utilizado para tratar das Constituições integradas, a exemplo do Projeto de criação da Constituição Europeia. A outra alternativa está projetada no espaço da judicialização. O Poder Judiciário é, atualmente, um espaço de destaque, não pelo viés de privatização 2 BOLZAN DE MORAIS, p. 570-571. 3 BOLZAN DE MORAIS, p. 570-576. 4 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Princípios: Entre a Sabedoria e a Aprendizamgem. Boletim da Faculdadede Direito. Vol. LXXXII. Coimbra. 2006. p.12. apud BOLZAN DE MORAIS, p. 586-587. 16 das políticas públicas por meio de ações individuais pretendendo determinadas garantias individuais, mas por meio da própria jurisdição constitucional como um espaço para promover o enquadramento da ação política em bases constitucionais. Nesta seara encontra-se o instituto da conciliação como método alternativo de resolução de conflito para a solução das lides previdenciárias. A Constituição, como Lei Máxima do ordenamento jurídico Pátrio, posiciona-se em patamar hierarquicamente superior às demais normas do sistema. Nesse sentido, ensina Celso Antonio Bandeira de Mello, “é a matriz última da validade de qualquer ato jurídico.”5 Toda norma jurídica deve ser obedecida quando estabelecida no ordenamento jurídico, razão pela qual as disposições constitucionais, como normas jurídicas que são, não admitem contrariedades, ainda que por omissão. O artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal de 1988 elenca a dignidade da pessoa humana como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito. Este, por sua vez, assume automaticamente o papel de garantidor da efetivação dos seus princípios basilares. Na mesma esteira, Bandeira de Mello afirma a existência de um conjunto normativo inserido na Constituição que compõe a Justiça Social, ressaltando-se os artigos 6º, 7º, 170 e 193. Não cabe, no presente momento, a descrição de cada um dos preceitos constitucionais elencados, mas apontar a proteção constitucional dos direitos sociais. Comumente classificados como normas de caráter programático, carentes de regulamentação, possuem, na realidade, aplicação imediata diante da leitura sistematizada das normas constitucionais. No mesmo sentido, todavia em um plano processual, José Antonio Savaris associa o direito fundamental à proteção social e a função jurisdicional. A proteção social, que consiste nos “...mecanismos institucionais que são articulados para reduzir e superar os riscos sociais, assegurando, de modo universal, segurança econômica contra as circunstâncias inevitáveis que afetam a subsistência e o bem-estar dos indivíduos e suas famílias6”, vincula-se com os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e de justiça social. Segundo Savaris, o exercício adequado da função jurisdicional assegura e protege o direito material. “Para tanto, deve satisfazer o direito de proteção social de modo tão célere quanto possível, fazendo coincidir a cobertura social com o imediato momento em que surge a necessidade – e o respectivo direito7”. A satisfação do direito pela via judicial deve se assemelhar a sua realização espontânea, sem que para tanto fosse necessário recorrer ao Poder Judiciário. Dos apontamentos expostos, verifica-se que a conciliação no sistema previdenciário é um pertinente instrumento de proteção dos direitos sociais e salvaguarda do Estado Constitucional. Conforme análise que segue, a utilização do método alternativo de resolução de conflito para a satisfação de um direito do segurado contribui para a obtenção do resultado rápido, útil e eficaz da prestação jurisdicional. Na década de 90, o Poder Judiciário sofreu uma espécie de pressão para a redução duração das demandas, razão pela qual se observou o advento da Emenda Constitucional nº 45. O artigo 5º, LXXVIII, da Constituição Federal, destaca a importância da duração razoável do processo e da asseguração dos meios que garantam a celeridade da sua tramitação no plano constitucional. Da citada Emenda adveio o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), como instituição plural, responsável pelo controle da magistratura, conforme artigo 103-B da Carta Magna. 5 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Eficácia das Normas Constitucionais e Direitos Sociais. São Paulo: Malheiros, 2009.p. 12. 6 SAVARIS, José Antonio. Princípio da Primazia do Acertamento Judicial da Relação Jurídica de Proteção Social. In: Revista Brasileira de Direito Previdenciário. v. 6 (dez./jan.2012). Porto Alegre: Magister, 2011. p. 41. 7 Idem, p. 41-42. 17 Com base no artigo 5º, LXXVIII, da CF/88, o CNJ passou a estabelecer metas para a realização da razoável duração do processo. Em síntese, o CNJ possui competência para efetivar os princípios do artigo 37 da CF/88. Em 29 de novembro de 2010, foi editada a Resolução nº 125 do CNJ, tendo por objetivos estratégicos a eficiência operacional, o acesso ao sistema de Justiça e responsabilidade social. Portanto, os sistemas de gestão da Administração Pública são aplicáveis também ao Poder Judiciário. A Resolução nº 125 do CNJ, do mesmo modo, atribui aplicabilidade à Democracia, na medida que considera o direito de acesso à Justiça como uma de suas premissas. O estabelecimento da “política pública de tratamento adequado dos problemas jurídicos e dos conflitos de interesses”, em que se insere a conciliação, estimula a regulamentação do método alternativo de resolução de controvérsia no âmbito dos tribunais. O artigo 4º da Resolução nº 125 determina a competência do CNJ para organização de programas de incentivo à autocomposição de litígios e pacificação social por meio da conciliação e da mediação. A convivência entre o Poder Judiciário e as instituições de ensino é incentivada no seu artigo 5º. No mesmo sentido, o artigo 6º da Resolução nº 125 trata da necessidade de preparo técnico para o enfretamento da questão. Cabe, neste momento, analisar o procedimento da conciliação para a resolução da lide previdenciária e sua adequação com os preceitos constitucionais e parâmetros da Resolução nº 125 do CNJ. 3. CONCILIAÇÃO NO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL PREVIDENCIÁRIO 3.1 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O SISTEMA PREVIDENCIÁRIO A seguridade social, como instrumento de proteção das necessidades sociais, abrangendo uma rede de normas e relações jurídicas dela consequentes, composta pela previdência, assistência e saúde, tem encontrado amparo na concretização dos direitos por meio do Poder Judiciário. O subsistema previdenciário visa a proteger, em especial, o trabalhador quando confrontado com a impossibilidade de obter meios de subsistência através da força de trabalho8. Para tanto, criou-se o Regime Geral da Previdência Social, previsto no artigo 9º da Lei nº 8.213/91 e no artigo 6º do Regulamento da Previdência Social (RGPS), aprovado pelo Decreto nº 3.048/99, com o fim de assegurar aos beneficiários meios indispensáveis de manutenção da subsistência, por meio de contribuição. A gerência do RGPS é incumbida, basicamente, ao Instituto Nacional da Seguridade Social (INSS), sendo esta uma autarquia federal responsável pela organização da previdência social. No entanto, o aumento progressivo de beneficiários do RGPS e da expectativa de vida, combinado com o índice de desemprego da faixa populacional ativa, dentre outros fatores, vem propiciando o “inchaço” dos cofres da previdência social. Por não outro motivo, inúmeros benefícios previdenciários requeridos diariamente ao INSS são indeferidos, inconformando o pretenso beneficiário. Na hipótese do segurado do RGPS entender que se encontra incapaz para a execução das atividades habituais, confere-se o direito de requerer o benefício previdenciário por incapacidade que entender mais adequado junto ao INSS. A referida autarquia agendará uma data para a realização de perícia médica a ser efetuada por perito que atua para o próprio INSS. Da perícia administrativa resultará um laudo médico, cujo diagnóstico analisará a eventual incapacidade ou capacidade do segurado para o trabalho ou exercício das atividades habituais. 8 CORREIA, Marcos Orione Gonçalves. CORREIA, Erica de Paula. Curso de direito da seguridade social. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 30-33. 18 Desse modo, quando requerido o auxílio-doença, impõe a comprovação da incapacidade temporária para o labor,nos termos do artigo 59 da Lei nº 8.213/91. Se não cumprido os requisitos legais, quais sejam a qualidade de segurado e incapacidade temporária por mais de quinze dias, o pedido é indeferido. O mesmo ocorre com os demais benefícios por incapacidade, quando requerido o benefício de aposentadoria por invalidez ou o auxílio-acidente; faz-se necessária a constatação da incapacidade laboral, cumulada com os demais requisitos legais dos artigos 42 e 86 da Lei nº 8.213/91, respectivamente. Observando-se o indeferimento do pedido pela via administrativa por motivo de não constatação de incapacidade laboral, o pretenso beneficiário pode interpor recurso administrativo, a fim de alterar a decisão. Contudo, interpondo ou não o recurso administrativo, entende-se que o simples indeferimento inicial é suficiente para a comprovação da lesão ou ameaça de lesão a direito de concessão de benefício previdenciário, sendo desnecessário o exaurimento da via administrativa para ingressar com a ação no Poder Judiciário9. Para propor ação previdenciária, no caso dos benefícios previdenciários de natureza acidentária, tais como auxílio-acidente, auxílio-doença acidentário, e aposentadoria por invalidez decorrente de acidente de trabalho, é competente a Justiça dos Estados e do Distrito Federal, em respeito à redação do artigo 129 da Lei nº 8.213/9110. Após o ingresso da ação, o processo se desenvolverá pelo rito sumário, em razão da natureza alimentar. No entanto, para pleitear benefício previdenciário por incapacidade cuja natureza não tenha caráter acidentário, a competência é da Justiça Federal. Neste âmbito de competência concentraremos nossos esforços para desenvolver uma breve análise sobre a sua efetividade, em especial, com relação ao uso do instituto da conciliação. 3.2 CONCILIAÇÃO: MECANISMO EM DESENVOLVIMENTO As ações de competência da Justiça Federal podem ser propostas na Vara Federal comum, quando a causa versar sobre valor superior a sessenta salários mínimos, porquanto nos casos em que o valor da causa for até sessenta salários mínimos, são competentes os Juizados Especiais Federais, criados por força da Lei nº 10.259, de 12 de julho de 2001. O artigo 3º, inciso III, da Lei nº 10.259/01, atribui ao Juizado Especial Cível a competência para julgar ações previdenciárias com valor da causa até sessenta salários mínimos. Significativo número de ações previdenciárias se enquadram na citada hipótese, razão pela qual, a exemplo da cidade de Curitiba, Paraná, existem atualmente uma Vara Federal Previdenciária de Curitiba e quatro Varas do Juizado Especial Federal Previdenciário de Curitiba. Embora a criação da Lei nº 10.259/01 tivesse objetivado efetivar o princípio da celeridade processual, plasmado no artigo 5º, inciso LXXVIII, da Constituição Federal, acrescentado pela Emenda Constitucional n.º 45 de 08 de dezembro de 2004, o intenso número de demandas previdenciárias ensejadas especialmente pelos recorrentes indeferimentos administrativos dos pedidos de benefícios previdenciários, contribuindo para o interesse do pretenso beneficiário em ser submetido à perícia judicial, aumentando o número de ações para além da capacidade estrutural dos Juizados Especiais Federais 9 SAVARIS, José Antonio. Direito processual previdenciário. 3ª ed. rev. amp. et atual. Curitiba: Juruá, 2011. p. 68/69. 10 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 16ª ed. rev. amp. et atual. Rio de Janeiro: Editora Impetus, 2011. p. 713. 19 Previdenciários, resultou na ineficácia do princípio constitucional e perspectivas da Lei nº 10.259/01. Por tal razão, a Justiça Federal, Seção Judiciária do Paraná, criou um projeto diferenciado para alcançar a celeridade processual e buscar a conciliação entre as partes nominado SICOPP (Sistema Conciliatório Pré-Processual) 11. O Projeto de responsabilidade do Juiz Federal da 1ª Vara do JEF Cível e Previdenciário de Curitiba, José Antônio Savaris, cientificado e autorizado pelo Coordenador do Sistema de Conciliação do TRF da 4ª Região, Desembargador Federal Néfi Cordeiro, foi elaborado em 03 de dezembro de 2008, para desenvolver no âmbito da Coordenadoria Regional do Sistema de Conciliação (SISTCON-PRO), Seção Judiciária do Paraná, conciliações junto às quatro Varas dos Juizados Especiais Cíveis e Previdenciários da Subseção Judiciária de Curitiba. Na atualidade, o projeto é destinado aos processos concernentes à concessão de benefícios previdenciários por incapacidade e aos expurgos de poupança decorrentes do Plano Verão. A redução de prazos e custos são alguns dos objetivos da implantação do projeto, combinados com o incentivo a conciliação e o desafogamento dos Juizados. Integram a composição do SICOPP o Juiz Federal Coordenador do Sistema de Conciliação (SISTCON-PR), bem como Juízes Federais designados para atuar no SICOPP, Servidores, Estagiários Conciliadores - bacharéis e estudantes de Direito. Ainda, o projeto prevê a participação dos agentes das entidades públicas envolvidas, com poderes para celebrar acordos. O procedimento das ações de benefícios previdenciários por incapacidade no Sistema de Conciliação Pré-Processual – SICOPP foi padronizado pela Portaria nº 02/2009. Protocolada a petição inicial por meio do sistema processual eletrônico E-Proc e efetuada a distribuição pelo mesmo sistema, a uma das Varas do JEF Previdenciário de Curitiba, após análise de eventual prevenção, remete-se o processo ao SICOPP para fazer a análise da exordial, conforme disposto no artigo 1º da Portaria nº 02/2009. Cabe ressaltar que este procedimento é destinado aos processos cujos objetos são a concessão ou restabelecimento de benefícios previdenciários ensejados pela incapacidade laboral do segurado. Determina o artigo 2º da Portaria nº02/2009 que recebido o processo pelo SICOPP, os servidores analisarão a petição inicial. No caso de não observância de informações e documentos indispensáveis ao desenvolvimento do processo, a parte autora será intimada no prazo de dez dias para emendar a inicial, sendo este prazo prorrogável por mais dez dias quando requerido pelo autor, nos moldes do artigo 284 do Código de Processo Civil. Não cumprido o ato de Secretaria, haverá o decurso do prazo e o indeferimento da petição inicial, com consequente prolatação de sentença de extinção do processo sem resolução do mérito, com fundamento no artigo 267, inciso I, do CPC. Em contrapartida, dispõe o artigo 3º da Portaria nº 02/2009 que quando devidamente emendada a petição inicial, ou inexistindo necessidade de emenda, será designada a perícia médica judicial por ato de Secretaria de acordo com a aptidão técnica necessária para a análise da incapacidade alegada. Alegada mais de uma doença, pertinente a diferentes especialidades da medicina, há a possibilidade de designação de uma segunda perícia judicial por perito diverso. Para a realização da perícia judicial são então intimados o perito, para anexar o laudo pericial após o exame, a Autarquia ré, a fim de anexar dados referentes ao processo administrativo, e a parte autora, para comparecer na data do exame munida de Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) e documentação médica comprovadora da incapacidade. 11 Projeto: “Sistema Conciliatório Pré-Processual – SICOPP”. 20 Observa-se a força probatória do laudo pericial para a solução do litígio. Efetuado o exame pericial e constada a capacidade do autor, as partes são intimidas sobre o resultado do laudo para apresentar manifestação e, após, o processo é remetido para a Vara de origem. No entanto, caso o perito judicial conclua pela incapacidade do autor, serão analisados os demais requisitos essenciais para a concessão ou restabelecimento do benefício previdenciário por incapacidade, quais sejam a qualidade de segurado e a carência legalmente exigida. Observadosos citados pressupostos, será designada a audiência de conciliação. Os advogados das partes são intimados, via de regra, por e-mail, porém o artigo 6º da Portaria 02/2009 permite a intimação por telefone ou qualquer outro meio idôneo. A pauta de audiências é disponibilizada no próprio site da Justiça Federal, Seção Judiciária do Paraná. A audiência de conciliação é realizada por vezes pelos juízes federais, mas na maioria dos casos quem preside a audiência de conciliação são os conciliadores nomeados. A condução da audiência de conciliação do âmbito do SICOPP é célere e objetiva. Comparece a parte autora, normalmente por meio de seu procurador, e o representante do INSS, que fará a proposta de acordo, considerando dados como data de início da doença, data de início da incapacidade, temporariedade ou não da incapacidade e cálculo de parcelas vencidas e vincendas para fixação dos valores em atraso e período de concessão do benefício previdenciário. Aceita a proposta de acordo pelo autor da ação, as cláusulas do acordo são reduzidas a termo pelo conciliador, ata que será, então, homologada por sentença. Posteriormente a certificação do trânsito em julgado, a chefia da Agência da Previdência Social de Atendimento às Demandas Judiciais, AADJ, será requisitada para a implantação do benefício concedido ou restabelecido, no prazo de 05 dias, sob pena de multa, nos termos do artigo 9º da Portaria nº 02/2009, e o processo é então remetido para a Vara de origem. No caso de restar infrutífera a realização da audiência de conciliação, o processo será remetido à Vara inicial para a tramitação usual. Importa destacar os limites de responsabilização do SICOPP determinado no artigo 13 da Portaria nº 02/2009. Embora o procedimento de conciliação se desenvolva no SICOPP, as Varas do Juizado Especial Federal Cível e Previdenciário de Curitiba mantêm a responsabilidade sobre os atos de execução do processo, tais como controle de prazos para o cumprimento do acordo pelo INSS, controle das requisições de pagamento aos peritos nomeados, cálculo do valor referente as parcelas vencidas, quando não devidamente fixado em acordo, expedições de requisições de pagamento e instrução e julgamento dos processos na hipóteses em que de frustração da tentativa de realização do acordo. O projeto SICOPP foi implantado no ano de 2009, quando já se vislumbrou a efetividade do sistema de conciliação. No mês de agosto de 2009, quando o projeto efetivamente iniciou, foram designadas 524 audiências, dentre as quais 519 foram realizadas, sendo efetuados acordos em 432 audiências, computando um percentual de 86% de acordos do total das audiências realizadas. No mês dezembro de 2009, o percentual de acordos pactuados subiu para 91% do total das audiências realizadas12. No ano de 2010, os percentuais de audiências realizadas com acordos continuaram significativos. No mês de janeiro de 2010 foi de 89%, subindo para 91% no mês seguinte e mantendo uma média de 88% de acordos efetuados durante o ano. No mês de dezembro de 2010, o percentual chegou ao patamar mais alto, qual seja 96% de acordos realizados13. 12 Dados fornecidos pela Justiça Federal, Seção Judiciária do Paraná, SICOPP. “Tabulação de audiências geral – 2009”. 13 Dados fornecidos pela Justiça Federal, Seção Judiciária do Paraná, SICOPP. “Tabulação de audiências geral – 2010”. 21 O percentual de processos em que se realizaram acordos no ano seguinte diminuiu em 1%, desse modo das 2.223 audiências realizadas, foram efetuados 1.868 acordos, totalizando 87% de audiências que resultaram em acordos. O mês de abril de 2011 foi o que se evidenciou o maior percentual de acordos, quando se computou 92% de audiências com acordos realizados14. No início do ano de 2012, verificou-se uma queda no índice de audiências de conciliação realizadas com acordo. Em janeiro de 2012 foram realizadas 187 audiências de conciliação das quais resultaram 154 acordos (85% de audiências com acordos realizados). No presente momento, foram computadas as audiências até o mês de julho de 2012, quando ocorreram 265 audiências de conciliação. Dessas audiências, 212 resultaram em acordo entre as partes, denotando um percentual de 80%15. Muito embora os dados fornecidos pelo SICOPP demonstrem uma diminuição no percentual de realizações de acordos nas audiências de conciliação, o número ainda é significativo. Como descrito, trata-se de projeto diferenciado para reduzir o número de demandas nos Juizados Especiais Federais Previdenciários, incentivar a conciliação e trazer ao plano da eficácia a almejada celeridade processual. Por ora, cada Seção Judiciária da Justiça Federal possui um órgão direcionado para a conciliação como meio alternativo para resolução de conflito, regulamentos por meio de Portarias editadas pelas próprias Seções Judiciárias. Inexiste uma regulamentação específica sobre a matéria, demonstrando que a conciliação no âmbito dos Juizados Especiais Federais ainda é uma novidade, que segue caminhando para o seu desenvolvimento ideal. O pouco tempo de existência do SICOPP e os números percentuais apresentados comprovam a consonância com os objetivos da Resolução nº 125 do Conselho Nacional de Justiça, em especial a efetiva aplicação do seu artigo 1º, parágrafo único, porquanto oferece outros mecanismos de soluções de controvérsias além da prolatação de sentença mediante processo judicial. Trata-se de efetiva comunhão entre os princípios constitucionais da celeridade processual e da eficiência, bem como das perspectivas atuais Constituição Federal de 1988, e as novas metas do CNJ, formalizados na Resolução nº 125 de 29 de novembro de 2010. 4 CONCLUSÃO A contribuição das audiências de conciliação para a prestação da tutela jurisdicional célere e em conformidade com os preceitos constitucionais embasados na eficiência estatal, no que concerne às ações previdenciárias, vai ao encontro das soluções propostas para a manutenção e sobrevivência do Estado e da Constituição da República. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOLZAN DE MORAIS, José Luis. As crises do Estado e da Constituição e a transformação espaço-temporal dos direitos humanos. 2ª ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011. 14 Dados fornecidos pela Justiça Federal, Seção Judiciária do Paraná, SICOPP. “Tabulação de audiências geral – 2011”. 15 Dados fornecidos pela Justiça Federal, Seção Judiciária do Paraná, SICOPP. “Tabulação de audiências geral – 2012”. 22 ________ . O Estado e seus limites: reflexões iniciais sobre a profanação do Estado Social e a dessacralização da modernidade. Boletim da Faculdade de Direito. Universidade de Coimbra, v. LXXXII, p. 569-590, 2007. CORREIA, Marcos Orione Gonçalves. CORREIA, Erica de Paula. Curso de direito da seguridade social. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010. IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 16ª ed. rev. amp. et atual. Rio de Janeiro: Editora Impetus, 2011. MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Eficácia das Normas Constitucionais e Direitos Sociais. São Paulo: Malheiros, 2009. SAVARIS, José Antonio. Direito processual previdenciário. 3ª ed. rev. amp. et atual. Curitiba, Juruá, 2011. ______. Princípio da Primazia do Acertamento Judicial da Relação Jurídica de Proteção Social. In: Revista Brasileira de Direito Previdenciário. v. 6 (dez./jan.2012). Porto Alegre: Magister, 2011. ______. Projeto: “Sistema Conciliatório Pré-Processual – SICOPP” SICOPP. Tabulação de audiências geral – 2009. ______. Tabulação de audiências geral – 2010. ______. Tabulação de audiências geral – 2011. ______. Tabulação de audiências geral – 2012. 23 ANÁLISE JURIMÉTRICA DA CONCILIAÇÃO: SANÇÃO POSITIVA DO DIREITO NA PROMOÇÃO DA EFICIÊNCIA ECONÔMICA Juliana CristinaBusnardo Augusto de Araujo ______________________________________ Servidora Pública Federal do TRT da 9ª Região. Graduada em Direito pela PUC/PR Especialista em Direito Empresarial pelo IBEJ Mestre em Direito Empresarial e Cidadania pelo UNICURITIBA Integrante do Grupo de Pesquisa ligado ao Mestrado do UNICURITIBA “Tutela dos Direitos da Personalidade na Atividade Empresarial: os Efeitos Limitadores na Constituição da Prova Judiciária” liderado pelo Professor Doutor Luiz Eduardo Gunther Eloína Ferreira Baltazar ______________________________________ Servidora Pública Federal do TRT da 9ª Região. Graduada em Direito pela UFPR Especialista em Direito Penal e Processo Penal pela UCDD – SP Integrante do Grupo de Pesquisa ligado ao Mestrado do UNICURITIBA “Tutela dos Direitos da Personalidade na Atividade Empresarial: os Efeitos Limitadores na Constituição da Prova Judiciária” liderado pelo Professor Doutor Luiz Eduardo Gunther 24 RESUMO O presente artigo refere-se à jurimetria que converge ciência social aplicada – direito - e ciência matemática aplicada – estatística - com o princípio básico de mensurar os fatos relacionados aos conflitos para antecipar cenários e planejar condutas no exercício da advocacia, na elaboração das leis e na gestão do judiciário. O objetivo central é a análise dos resultados sobre o número de conciliações realizadas no Poder Judiciário, constituindo-se intervenção estatal na ordem econômica mediante aplicação de sanção positiva do Direito no fomento à viabilidade econômica das atividades desempenhadas na iniciativa privada mediante a diminuição dos riscos jurídicos, no sentido da calculabilidade e confiança no funcionamento da ordem jurídica. O significativo número crescente dos processos conciliados, bem as ações regulamentadas pelo Conselho Nacional de Justiça, dentre elas as Resoluções 106, de 06 de abril de 2010 e 125, de 29 de novembro de 2010, revelam a implementação do paradigma jurídico promocional na melhoria da economia com a diminuição dos riscos jurídicos das atividades afetas à livre iniciativa. A pacificação dos conflitos pela conciliação pautada no modelo normativo de lógica premial funciona como incremento à eficiência do mercado, aprimorando a segurança jurídica na criação e no desenvolvimento das atividades econômicas, as quais, adequadamente funcionalizadas, são a melhor forma de promover o crescimento econômico e a melhoria das condições de vida da população. Palavras-chave: jurimetria, conciliação, promoção da eficiência econômica. ABSTRACT This article refers to jurimetrics that converges applied social science - right - science and applied mathematics - statistics - with the basic principle of measuring the facts related to conflict scenarios to anticipate and plan conducts the practice of law, in making laws and in management of the judiciary. The main objective is to analyze the results on the number of conciliations performed on Judiciary, becoming state intervention in the economic order by applying positive sanction of law in promoting the economic viability of the activities performed in the private sector by reducing legal risks in the sense of calculability and confidence in the functioning of the legal system. The growing number of significant processes conciled and actions regulated by the National Council of Justice, among them the Resolutions 106, April 6, 2010 and 125 of 29 November 2010, shows the implementation of legal paradigm promotional in improving economy by reduced risk of entrerprises legal activities. The conflicts pacification through conciliation based on rewad’s logic normative model increases market efficiency, enhancing legal certainty in the creation and development of economic activities, which, properly functionalized, are the best way to promote economic growth and improvement of living conditions of the population. Keywords: jurimetrics, conciliation, promoting economic efficiency. 1 INTRODUÇÃO O presente artigo refere-se à jurimetria que converge ciência social aplicada – direito - e ciência matemática aplicada – estatística - com o princípio básico de mensurar os fatos relacionados aos conflitos para antecipar cenários e planejar condutas no exercício da advocacia, na elaboração das leis e na gestão do judiciário. O objetivo central é a análise dos resultados sobre o número de conciliações realizadas no Poder Judiciário, constituindo-se intervenção estatal na ordem econômica mediante aplicação de sanção positiva do Direito no fomento à viabilidade econômica das atividades desempenhadas na iniciativa privada mediante a diminuição dos riscos jurídicos, no sentido da calculabilidade e confiança no funcionamento da ordem jurídica. Tal levantamento, considerada certa informatização da Justiça em todos os níveis, demonstra elaboração viável e alberga informações extremamente interessantes não só 25 sobre os efeitos da atuação dos juízes na perspectiva econômica, mas também sobre o impacto de todo o direito sobre a economia brasileira. A investigação revela alta credibilidade, já que baseada em dados objetivos e instrumentalizada por pesquisa de processos similares nas diversas regiões do país, com demonstração analítica dos dados e resultados obtidos. É claro, preciso, traduz uma realidade fática. O significativo número crescente dos processos conciliados, bem como as ações regulamentadas pelo Conselho Nacional de Justiça, dentre elas as Resoluções 106, de 06 de abril de 2010 e 125, de 29 de novembro de 2010, revelam a implementação do paradigma jurídico promocional na melhoria da economia com a diminuição dos riscos jurídicos das atividades afetas à livre iniciativa. 2 A JURIMETRIA NO BRASIL A análise econômica do direito - Law and Economics – L & E – é uma forma específica de interpretação do direito surgida em Chicago, EUA, no início dos anos 70, inspirada na forte contraposição entre capitalismo e socialismo. A escola de Chicago defendia a economia de mercado; em oposição, surge em Harvard a Critical Legal Studies, politicamente socialista e comunista. Segundo Decio Zylbersztajn e Rachel Sztajn existem “diferentes correntes doutrinárias que buscam explicar o fenômeno econômico e propor medidas para corrigir distorções geradas por normas de Direito positivo, com fundamento em análises econômicas. Entre elas, encontram-se a Escola de Chicago, a de Yale, a da Nova Economia Institucional, a Escola Pública, entre outras”1. As esparsas pesquisas jurimétricas antes produzidas eram, em sua maioria, voltadas para questões processuais. A preocupação social com o aperfeiçoamento da Justiça e gestão dos Tribunais promoveu a concentração de estudos quantitativos- empíricos, refletida em políticas implementadas por autoridades judiciárias em todos os níveis, figurando o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) como a instituição difusora destes anseios. A jurimetria converge ciência social aplicada – direito - e ciência matemática aplicada – estatística, cujo princípio básico é mensurar os fatos relacionados aos conflitos, para antecipar cenários e planejar condutas no exercício da advocacia, na elaboração das leis e na gestão do Judiciário. A Estatística tem por objetivo obter, organizar e analisar dados, determinar as correlações que apresentem, tirando delas suas consequências para descrição e explicação do que passou e previsão e organização do futuro. Traduz ciência e prática de desenvolvimento de conhecimento humano pelo uso de dados empíricos, em que a aleatoriedade e incerteza são modeladas pela teoria da probabilidade. A premissa jurimétrica aborda discussões jurídicas “de baixo para cima” de forma a propiciar conhecimento profundo das tendências dos conflitos como matéria-prima da elaboração das soluções processuais. A disciplina se assenta na concepção matemática- estatística do estudo tradicional do direito que discute de forma teórica e conceitualleis e princípios abstratos. A Law and Economics foi criada para aplicação no sistema da common law (de baixo para cima), parte-se da lide como realidade absoluta, do fato para o direito posto. 1 ZYLBERSZTAJN, Decio; SZTAJN, Rachel. Direito e economia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. p. 77. 26 A jurimetria pode medir, por exemplo, o percentual de decisões de um tribunal sobre um determinado assunto ou disciplina e os resultados podem alterar as estratégias de condução de vários casos. Estudiosos da matéria dedicam-se a questões mais específicas, como teses aceitas com maior ou menor frequência, a frequência em que uma norma é aplicada nos julgamentos, o perfil decisório de um determinado juiz, a probabilidade de descumprimento de uma cláusula contratual, bem como o número de conciliações realizadas pelo magistrado, sendo esta última perspectiva a matriz temática deste estudo. No Brasil, a jurimetria vem sendo objeto de estudo da Associação Brasileira de Jurimetria (ABJ) com o apoio da Associação dos Advogados de São Paulo, Instituto de Matemática e Estatística da USP e Sociedade Brasileira de Direito Público. A Associação Brasileira de Jurimetria, fundada no Brasil em 2009 por um grupo de professores de direito e estatística da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e da Universidade de São Paulo, se empenha em “reunir todo mundo que, no Brasil, já tentou algum tipo de diálogo entre essas duas áreas do conhecimento, para compor o repertório da disciplina”2, segundo o professor Fábio Ulhoa Coelho. Justifica o advogado Marcelo Guedes Nunes3, presidente da Associação Brasileira de Jurimetria (ABJ), diferentemente das normas abstratas, os processos e fatos jurídicos surgem em populações numerosas, cujas características, entretanto, permitem uma sumarização. Explica a jurimetria no seguinte sentido: A jurimetria é, portanto, a disciplina resultante da aplicação de modelos estatísticos na compreensão dos processos e fatos jurídicos. [...] a jurimetria, ao descrever os interesses concretos dos agentes jurídicos, seus conflitos e as soluções oferecidas pelos julgadores, pode auxiliar o direito a entender melhor o que os cidadãos esperam das autoridades e, assim, auxiliar as autoridades a elaborar leis mais aderentes à realidade social. Ao descrever a vida concreta do direito, a jurimetria se torna uma ferramenta fundamental para desenvolver instituições jurídicas mais justas e capazes de realizar as aspirações políticas da sociedade. Um dos campos em que o diálogo entre Direito e Economia se demonstra fecundo reside na calculabilidade dos riscos jurídicos que envolvem a segurança jurídica. Dependendo da forma como o Judiciário se comporta frente a um aspecto pode advir um comportamento econômico negativo, que comprometa o estímulo às atividades empreendedoras. Pesquisa acerca da morosidade e da falta de previsibilidade das decisões judiciais4 demonstrou que o grande número de casos levados aos tribunais por pessoas, empresas e grupos de interesse, a insuficiência de recursos, as deficiências do ordenamento jurídico, o formalismo processual exagerado e a forma de atuação de magistrados e advogados são as causas que ocupam o topo na lista das mais citadas. A falta de credibilidade no sistema é demonstrada em outra pesquisa elaborada Associação Nacional dos Magistrados5 que revela que 91% dos empresários avaliaram o Judiciário como ruim ou péssimo no que concerne à sua agilidade. 2 MAGRO, Maíra. Estudiosos querem mapear Justiça. Disponível em: < http://www.senado.gov.br/noticias/OpiniaoPublica/inc/senamidia/notSenamidia.asp?ud=20110726&datNotici a=20110726&codNoticia=582411&nomeOrgao=&nomeJornal=Valor+Econ%C3%B4mico&codOrgao=47&tip Pagina=1>. Acesso em: 13.09.2012. 3 NUNES, Marcelo Guedes. O que é jurimetria: como se fazem boas leis. A jurimetria a serviço da advocacia. Disponível em: < http://abjur.org.br/o-que-e-jurimetria.php>. Acesso em: 13.09.2012. 4 ZYLBERSZTAJN, Decio; SZTAJN, Rachel. Direito e economia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. p. 253. 5 VIANNA, L. W.; CARVALHO, M. A. R.; MELO, M. P. C; BURGOS, M. B. O perfil do magistrado brasileiro. Projeto diagnóstico da Justiça. AMB/IUPERJ, 1996. In: ZYLBERSZTAJN, Decio; SZTAJN, Rachel. Direito e economia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. p. 251. http://www.senado.gov.br/noticias/OpiniaoPublica/inc/senamidia/notSenamidia.asp?ud=20110726&datNoticia=20110726&codNoticia=582411&nomeOrgao=&nomeJornal=Valor+Econ%C3%B4mico&codOrgao=47&tipPagina=1 http://www.senado.gov.br/noticias/OpiniaoPublica/inc/senamidia/notSenamidia.asp?ud=20110726&datNoticia=20110726&codNoticia=582411&nomeOrgao=&nomeJornal=Valor+Econ%C3%B4mico&codOrgao=47&tipPagina=1 http://www.senado.gov.br/noticias/OpiniaoPublica/inc/senamidia/notSenamidia.asp?ud=20110726&datNoticia=20110726&codNoticia=582411&nomeOrgao=&nomeJornal=Valor+Econ%C3%B4mico&codOrgao=47&tipPagina=1 http://abjur.org.br/o-que-e-jurimetria.php 27 Os que rejeitam a Law and Economics entendem que o direito estaria a serviço do capitalismo, para maximização dos lucros. Porém os lucros são cálculos contábeis e não econômicos, a economia analisa o comportamento do agente econômico diante de certo fato. Assim, a análise economia comporta não somente aspectos contábeis, mas ampla discussão acerca da sociedade. A própria legislação econômica possui, à semelhança da maior parte do ordenamento, um conteúdo econômico, entretanto, há, porém, neste conjunto, um plus representado pela economicidade que transcende o dado meramente econômico, “apresentando um núcleo caracterizado pela racionalidade econômica a serviço da realização do justo, no âmbito sócio-econômico”6, ou seja, medida jurídica de direção e orientação da justiça sócio-econômica estatal. A resistência à análise econômica do direito pode ser compreendida em razão das diferenças metodológicas utilizadas na ciência jurídica e na ciência estatística, a primeira baseada em regra genérica a ser aplicada em casos específicos e a segunda assentada em análise de dados gerais para extração da regra específica: Por conta de diferentes metodologias utilizadas pelos dois ramos do conhecimento – o modelo dogmático e abstrato ensinado nas escolas de Direito e a construção de modelos a partir de dados empíricos recolhidos na sociedade associados a teorias – nas escolas de economia-, os operadores do Direito veem com desconfiança e com restrições as tentativas de associar o raciocínio econômico aos esquemas abstratos predominantes na formulação e análise das normas jurídicas7. Segundo Rachel Zylbersztajn e Decio Sztajn8, as críticas ao avanço da combinação de Direito e Economia, entretanto, vêm perdendo terreno pela demonstração de que a contribuição é positiva, demonstrando o equívoco na afirmação de que a economia busca eficiências enquanto o Direito se prende à promoção da questão ser/dever ser, com o objetivo de dizer que as posições são irreconciliáveis. Justificam que os fatos considerados sob a ótica quantitativa e empírica, própria do método econômico, em nada destrói a argumentação jurídica, qualitativa. O Conselho Nacional de Justiça é um órgão administrativo do Poder Judiciário e tem como missão “contribuir para que a prestação jurisdicional seja realizada com moralidade, eficiência e efetividade, em benefício da sociedade”, destacando-se, dentre suas diretrizes, a “ampliação do acesso à justiça, pacificação e responsabilidade social” – que tem relação direta com os métodos alternativos de solução de conflitos, além da “modernização tecnológica do Judiciário”9. Nesse sentido, a resolução 125 de 29 de novembro de 2010 dispõe sobre a Política Judiciária Nacional de Tratamento Adequado dos Conflitos de Interesses no âmbito do Poder Judiciário e dá outras providências, como criar um banco de dados com plena ênfase à tecnologia. Dessa forma,
Compartilhar