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caderno_de_iniciacao_cientifica_2013

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EXPEDIENTE 
 
 
CADERNOS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA é uma publicação do UNICURITIBA 
 
 
Endereço: Rua Chile, 1678 – CEP 80220-181 – Curitiba, PR – Brasil 
Telefone: (41) 3213-8700 
Site: www.unicuritiba.edu.br 
E-mail: npea@unicuritiba.edu.br 
 
 
UNICURITIBA 
 
Reitor: Danilo Vianna 
 
Pró-Reitor Acadêmico: Adriano Rogério Goedert 
 
Pró-Reitora Administrativa: Vanessa Santamaria 
 
 
COMISSÃO EDITORIAL 
 
Cintia Rubim de Souza Netto 
Fabiano Christian Pucci do Nascimento 
Isaak Newton Soares 
Marlus Vinicius Forigo 
Paulo Ricardo Opuszka 
 
 
Revisão: Cintia Rubim de Souza Netto e Marlus Vinicius Forigo 
 
 
Diagramação: Marlus Vinicius Forigo 
 
 
Data: 2013 
 
 
 
 
 
 
http://www.unicuritiba.edu.br/
mailto:npea@unicuritiba.edu.br
 
APRESENTAÇÃO 
 
 
 
 
O Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA), visando consolidar a 
pesquisa científica que realiza, apresenta à comunidade acadêmica a segunda 
edição do seu “Cadernos de Iniciação Científica”. Esta publicação tem como 
propósito divulgar anualmente os resultados dos projetos de iniciação científica da 
graduação e pós-graduação da Instituição nas suas diferentes linhas de pesquisa, 
através de artigos produzidos pelos alunos e professores que desenvolveram as 
pesquisas. Desta forma, contribui para expandir o conhecimento e a prática da 
pesquisa do corpo discente e docente. Tornar público esses resultados é o 
comprometimento do UNICURITIBA, através do Núcleo de Pesquisa e Extensão 
Acadêmica (NPEA), complementando, portanto, outro evento de pesquisa já 
consolidado, o Simpósio de Iniciação Científica (SPIC). Este Simpósio, realizado 
anualmente desde 2009, visa à apresentação de resumos das pesquisas e a 
discussão de seus resultados, bem como a interface com trabalhos de outras 
Instituições de Ensino Superior. 
Esta segunda edição do “Caderno de Iniciação Científica” é composta por 
artigos produzidos pelos alunos e seus professores orientadores nas diversas áreas 
abordadas pelos projetos ao longo do ano de 2012. 
 
 
 
 
Boa leitura 
 
 
 
 
CINTIA RUBIM DE SOUZA NETTO 
Supervisora do Núcleo de Pesquisa e Extensão Acadêmica 
 
5 
 
SUMÁRIO 
 
COMENTÁRIOS À MEDIDA DE CONCILIAÇÃO 
VOLUNTÁRIA NA RECOMENDAÇÃO N. 92 DA OIT 
Cleverson Jose Gusso e Francielli Morêz ............................................................................ 5 
 
A CONCILIAÇÃO NOS JUIZADOS ESPECIAIS: 
ÂMBITO PREVIDENCIÁRIO 
Juliana de Abreu Cassemiro .............................................................................................. 13 
 
ANÁLISE JURIMÉTRICA DA CONCILIAÇÃO: SANÇÃO POSITIVA 
DO DIREITO NA PROMOÇÃO DA EFICIÊNCIA ECONÔMICA 
Juliana Cristina Busnardo Augusto de Araujo e Eloína Ferreira Baltazar .......................... 23 
 
PRINCÍPIOS DA NEGOCIAÇÃO COLETIVA 
Luciana Piccinelli Gradowski ............................................................................................. 34 
 
A MEDIAÇÃO COMO MEIO ALTERNATIVO (E POSSÍVEL) 
À RESOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS 
João Paulo Vieira Deschk e Paulo Ricardo Opuszka ........................................................ 46 
 
CONCILIAÇÃO NA JUSTIÇA DO TRABALHO: 
ACESSO E EFETIVIDADE, DIREITO E DEVER 
Luiz Eduardo Gunther, Rosemarie D. Pimpão e Willians F. L. dos Santos........................ 55 
 
A CONCILIAÇÃO COMO UM INSTRUMENTO DE ACESSO À JUSTIÇA 
Maria da Glória M. R. Neiva de Lima e Wagner C. Cordeiro ............................................. 69 
 
JUIZADOS ESPECIAIS: UM CASO DE SUCESSO OU DE 
FRACASSO NA IMPLEMENTAÇÃO DA NOVA FÓRMULA 
DE ACESSO À JUSTIÇA E DA CONCILIAÇÃO 
Nara Fernandes Bordignon ................................................................................................ 86 
 
CONCILIAÇÃO NO DIREITO COMPARADO. PRINCIPAIS ASPECTOS 
RELACIONADOS À COMPOSIÇÃO DOS INTERESSES EM LITÍGIO 
Simone A. Barbosa Mastrantonio e Joanna Vitoria Crippa ................................................ 99 
 
APLICAÇÃO DA RESERVA DO ARTIGO 96 DA CISG 
PELO ÁRBITRO INTERNACIONAL 
Felipe Hasson .................................................................................................................. 114 
 
ANÁLISE DAS INELEGIBILIDADES NO TEXTO CONSTITUCIONAL 
Brunna Helouise Marin e Luiz Gustavo de Andrade ........................................................ 127 
 
A DISCURSIVIDADE NO TEXTO LEGAL: POSSIBILIDADES E LIMITES 
Aloísio Cansian Segundo ................................................................................................. 143 
 
A CISG E O INSTITUTO DO NACHFRIST 
Bruna Bauer King ............................................................................................................ 152 
 
 
6 
 
 
EXCLUSÃO DE RESPONSABILIDADE DE 
ACORDO COM O ARTIGO 79 DA CISG 
Luana Costa Veronesi ..................................................................................................... 160 
 
A LIBERDADE DE CRENÇA: 
LIMITES AO SEU EXERCÍCIO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 
Fabiana Soares Prestes e Maria da Glória Colucci ......................................................... 168 
 
EXPERIMENTAÇÃO DE MEDICAMENTOS 
EM SERES HUMANOS NO DIREITO BRASILEIRO 
Silvia Helena da M. C. Demeterco e Maria da Glória L. da S. Colucci ............................ 189 
 
A MECANIZAÇÃO DA LAVOURA E A REINSERÇÃO 
DO CORTADOR DE CANA-DE AÇÚCAR NO 
SETOR SUCROALCOOLEIRO BRASILEIRO 
Bruno César Gurski e Maria da Glória Colucci ................................................................ 206 
 
AUTONOMIA DA VONTADE E O TESTAMENTO 
VITAL NO DIREITO BRASILEIRO 
Jacqueline Bernardi Benatto e Maria da Glória L. da S. Colucci ..................................... 219 
 
O DIREITO À MORTE DIGNA E O TESTAMENTO VITAL NO BRASIL 
THE RIGHT TO DIE WITH DIGNITY AND THE LIVING WILL IN BRAZIL 
Flávia Ludimila K. Baitello e Maria da Glória Colucci ....................................................... 222 
 
O PRINCÍPIO DA RESPONSABILIZAÇÃO NO DIREITO AMBIENTAL 
E A SADIA QUALIDADE DE VIDA DE PESSOAS IMPACTADAS 
PELA POLUIÇÃO MARINHA 
Aimée Isabella S. Mendes e Maria da Glória Colucci ...................................................... 246 
5 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
COMENTÁRIOS À MEDIDA DE CONCILIAÇÃO VOLUNTÁRIA 
 
NA RECOMENDAÇÃO N. 92 DA OIT 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Cleverson Jose Gusso 
________________________________ 
Mestre em Direito Empresarial e Cidadania pelo UNICURITIBA 
Advogado, Pesquisador, Professor do curso de Graduação em Direito do 
UNICURITIBA, da Especialização em Direito do Trabalho da PUCPR 
Coordenador do Núcleo de Prática Jurídica do Centro Universitário Internacional 
UNINTER 
 
 
Francielli Morêz 
________________________________ 
Mestra em Direitos Fundamentais e Democracia pela UNIBRASIL, Especialista 
em Sociologia Política pela UFPR e em Direito Público pela Fundação Escola do 
Ministério Público do Paraná – FEMPAR. Advogada, Pesquisadora e Professora dos 
cursos de Graduação em Direito e Relações Internacionais do UNICURITIBA e do Centro 
Universitário Internacional UNINTER, e das Especializações em Direito do Trabalho e 
Comércio Exterior da PUCP
6 
1 NOTAS INTRODUTÓRIAS 
 
Surgida em um contexto histórico deveras peculiar, a Organização Internacional do 
Trabalho – OIT foi – e ainda é – considerada a primeira organização de caráter misto,1 
multilateral e especializada no plano universal.2 
Tendo se reunido sua primeira Conferência em Washington, em 1919, como parte 
do Tratado de Versalhes – que pôs fim à Primeira Guerra Mundial3 e determinou a criação 
da Liga das Nações4 – predecessora da Organização das Nações Unidas –, a OIT 
alcançou, ao largo dos vinte anos entre guerras, a redação de mais de cinquenta 
convenções,5 bem como a realização de uma série considerável de missões de inspeção 
no âmbito dos seus Estados-Membros. 
Em 1944, a OIT reúne a sua 26ª Conferência na Filadélfia, ocasião na qual é 
elaborada a Declaração de Filadélfia, que, enquanto anexo à Carta da OIT, veio 
apresentar os propósitos e princípios quenorteariam a Organização no cenário pós 
Segunda Guerra Mundial. Dentre este rol de princípios e de propósitos, visualiza-se a 
necessidade de desmercantilização do trabalho; de erradicação da pobreza e das más 
condições de vida dos trabalhadores com base na justiça social; da constituição da 
liberdade de expressão e de associação como condições indispensáveis para o 
progresso; da consideração equânime de representantes de empregadores, de 
trabalhadores e de governos na luta para a consecução dos objetivos da Carta da OIT; e 
 
1 Diz-se de caráter misto porque a estrutura da Organização não contempla apenas Estados, tal como 
tradicionalmente concebido pela teoria clássica das organizações internacionais governamentais. No caso 
da OIT, tem-se uma composição de membros consubstanciada em Estados, em outras organizações 
internacionais e em organizações de empregadores e de trabalhadores, conjuntamente. (nota dos autores) 
2 Vide, neste passo, SEITENFUS, Ricardo; VENTURA, Deisy. Direito Internacional Público. 4. ed. rev. e 
ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006, p. 114. 
3 Neste sentido, coloca Nicolas Valticus que “a Primeira Guerra Mundial produziu profundas modificações na 
posição e no peso da classe trabalhadora das potências aliadas. A trégua social e cooperação que se 
estabeleceu na Europa ocidental entre os dirigentes sindicais e os governantes, os grandes sacrifícios 
suportados especialmente pelos trabalhadores e o papel que desempenharam no desenlace do conflito, as 
promessas dos homens políticos de criarem um mundo novo, a pressão das organizações obreiras para 
fazer com que o Tratado de Versalhes consagrasse as suas aspirações de uma vida melhor, as 
preocupações suscitadas pela agitação social e as situações revolucionárias existentes em vários países, a 
influência exercida pela Revolução Russa de 1917, foram fatores que deram um peso especial às 
reivindicações do mundo do trabalho no momento das negociações do tratado de paz. Estas reivindicações 
expressaram-se, tanto em ambos os lados do Atlântico como em ambos os lados da linha de combate, 
inclusive durante os anos de conflito mundial. Ao final da guerra, os governos aliados, e principalmente os 
governos francês e britânico, elaboraram projetos destinados a estabelecer, mediante o tratado de paz uma 
regulamentação internacional do trabalho.” Citado por SOUZA, Zoraide Amaral de. A Organização 
Internacional do Trabalho: OIT. Revista da Faculdade de Direito de Campos, Campos dos Goytacazes, v. 
7, n. 9, p. 433-434, jul./dez. 2006. 
4 A ligação entre a já extinta Liga das Nações e a OIT se devia ao fato de que os custos de funcionamento 
desta foram incluídos no orçamento daquela. Ainda hoje esta lógica se mantém, considerando a vinculação 
da OIT à Organização das Nações Unidas. Ver, neste sentido, GOMES, Orlando; GOTTSCHALK, Elson. 
Curso de Direito do Trabalho. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1990, p. 59. Outrossim, todos os Estados 
que subscreveram o Tratado de Paz de Versalhes tornaram-se membros efetivos da OIT. Contudo, o fato 
de um Estado renunciar à Liga das Nações não implicava na sua exclusão do quadro de membros da OIT, 
nem tampouco que outros Estados que não integrassem a Liga estivessem impedidos de integrar a 
Organização Internacional do Trabalho. Cf. SEITENFUS, Ricardo; VENTURA, Deisy. Op. cit., p. 114. 
5 Somente na Primeira Conferência foram redigidas seis convenções, sendo que a primeira delas 
correspondia a uma das principais reivindicações do movimento sindical e operário do final do século XIX e 
começo do século XX: a limitação da jornada de trabalho a 8 horas diárias e 48 semanais. As demais 
convenções adotadas nessa ocasião referem-se à proteção da maternidade, à luta contra o desemprego, à 
definição da idade mínima de 14 anos para o trabalho na indústria e à proibição do trabalho noturno de 
mulheres e menores de 18 anos. Vide <http://www.oit.org.br/content/hist%C3%B3ria>. Último acesso em 
25/10/2012. 
7 
 
 
da exaltação dos direitos sociais como fundamentais a todos os indivíduos, 
independentemente de sua condição étnica, religiosa, política ou ideológica.6 
Com o fito de concretizar estes objetivos genéricos, a OIT possui uma estrutura 
organizacional interna subdividida basicamente em três níveis: o pleno, consubstanciado 
em sua Assembléia Geral, com legitimidade genérica para atuar acerca de todos os 
pontos contemplados pelas atividades da Organização; um Conselho de Administração; e 
um Secretariado de caráter permanente, denominado Escritório Internacional do Trabalho, 
com sede em Genebra. Neste sentido, as finalidades de sua estrutura jurídica e 
institucional prelecionam que a atuação trabalhista deve buscar o pleno emprego, o 
aumento do nível de vida, a formação profissional dos trabalhadores, sua remuneração 
digna, a extensão da seguridade social e previdenciária, a participação de empregados e 
de empregadores na elaboração e na implementação de medidas socioeconômicas, a 
proteção da infância, da juventude e da maternidade, a promoção de sistemas de saúde 
adequados, a possibilidade de negociação coletiva dos contratos de trabalho e, na 
eventualidade de litígios envolvendo estes contratos, o desenvolvimento de mecanismos 
eficazes de composição destes conflitos, judiciais ou extrajudiciais. 
Neste passo, a Recomendação n. 92 da OIT sobre a conciliação e a arbitragem 
voluntárias, adotada em Genebra a 29 de junho de 1951 por ocasião da 34ª Conferência 
da Organização, descortinou de forma expressa e contundente a necessidade do 
desenvolvimento e do aprimoramento de dois mecanismos alternativos de composição de 
controvérsias trabalhistas no âmago dos Estados-Membros: a conciliação e a arbitragem. 
Preliminarmente, todavia, convém sublinhar a natureza jurídica do referido instituto, eis 
que, sob o ponto de vista normativo, a OIT logra de duas modalidades distintas: as 
recomendações e as convenções. 
As convenções são arcabouços jurídicos de efeito vinculante, devendo ser 
adotadas por no mínimo dois terços dos Estados-Membros por ocasião da Conferência na 
qual forem levadas à pauta de discussão, para, a posteriori, serem colocadas à 
disposição dos signatários para internalização. Nestes termos dispõe, in verbis, o artigo 
19, item 5 e alíneas, da Carta da OIT: 
 
5. Tratando-se de uma convenção: 
a) será dado a todos os Estados-Membros conhecimento da convenção para fins 
de ratificação; 
b) cada um dos Estados-Membros compromete-se a submeter, dentro do prazo de 
um ano, a partir do encerramento da sessão da Conferência (ou, quando, em 
razão de circunstâncias excepcionais, tal não for possível, logo que o seja, sem 
nunca exceder o prazo de 18 meses após o referido encerramento), a convenção 
à autoridade ou autoridades em cuja competência entre a matéria, a fim de que 
estas a transformem em lei ou tomem medidas de outra natureza; 
c) os Estados-Membros darão conhecimento ao Diretor-Geral da Repartição 
Internacional do Trabalho das medidas tomadas, em virtude do presente artigo, 
para submeter a convenção à autoridade ou autoridades competentes, 
comunicando-lhe, também, todas as informações sobre as mesmas autoridades e 
sobre as decisões que estas houverem tomado; 
 
6 Para tanto, a OIT adota a expressão trabalho decente para caracterizar o ponto de convergência dos seus 
quatro objetivos estratégicos: o respeito aos direitos no trabalho (em especial aqueles definidos como 
fundamentais pela Declaração Relativa aos Direitos e Princípios Fundamentais no Trabalho e seu 
seguimento, adotada em 1998: a liberdade sindical e reconhecimento efetivo do direito de negociação 
coletiva; a eliminação de todas as formas de trabalho forçado; a abolição efetiva do trabalho infantil; e a 
eliminação de todas as formas de discriminação em matéria de emprego e ocupação), a promoção do 
emprego produtivo e de qualidade, a extensão da proteção social e o fortalecimentodo diálogo social. Ver, 
neste sentido, a Constituição da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e seu Anexo (Declaração de 
Filadélfia). Disponível em: 
<http://www.oitbrasil.org.br/sites/default/files/topic/decent_work/doc/constituicao_oit_538.pdf>. 
Último acesso em 23/10/2012. 
8 
 
 
d) o Estado-Membro que tiver obtido o consentimento da autoridade, ou 
autoridades competentes, comunicará ao Diretor-Geral a ratificação formal da 
convenção e tomará as medidas necessárias para efetivar as disposições da dita 
convenção; 
e) quando a autoridade competente não der seu assentimento a uma convenção, 
nenhuma obrigação terá o Estado-Membro a não ser a de informar o Diretor-Geral 
da Repartição Internacional do Trabalho - nas épocas que o Conselho de 
Administração julgar convenientes - sobre a sua legislação e prática observada 
relativamente ao assunto de que trata a convenção. Deverá, também, precisar 
nestas informações até que ponto aplicou, ou pretende aplicar, dispositivos da 
convenção, por intermédio de leis, por meios administrativos, por força de 
contratos coletivos, ou, ainda, por qualquer outro processo, expondo, outrossim, 
as dificuldades que impedem ou retardam a ratificação da convenção. 
 
Diferentemente, as recomendações - espécie normativa neste texto em tela –, não 
possuem caráter vinculante propriamente dito, de modo a não implicarem em observância 
obrigatória por parte dos Estados-Membros. Neste exato sentido, corrobora o artigo 19, 
item 6 e alíneas, da Carta da OIT, a seguir transcrito: 
 
6. Em se tratando de uma recomendação: 
a) será dado conhecimento da recomendação a todos os Estados-Membros, a fim 
de que estes a considerem, atendendo à sua efetivação por meio de lei nacional 
ou por outra qualquer forma; 
b) cada um dos Estados-Membros compromete-se a submeter, dentro do prazo de 
um ano a partir do encerramento da sessão da Conferência (ou, quando, em razão 
de circunstâncias excepcionais, tal não for possível, logo que o seja, sem nunca 
exceder o prazo de 18 meses após o referido encerramento), a recomendação à 
autoridade ou autoridades em cuja competência entre a matéria, a fim de que 
estas a transformem em lei ou tomem medidas de outra natureza; 
c) os Estados-Membros darão conhecimento ao Diretor-Geral da Repartição 
Internacional do Trabalho das medidas tomadas, em virtude do presente artigo, 
para submeter a recomendação à autoridade ou autoridades competentes, 
comunicando-lhe, também as decisões que estas houverem tomado; 
d) além da obrigação de submeter a recomendação à autoridade ou autoridades 
competentes, o Membro só terá a de informar o Diretor-Geral da Repartição 
Internacional do Trabalho - nas épocas que o Conselho de Administração julgar 
convenientes – sobre a sua legislação e prática observada relativamente ao 
assunto de que trata a recomendação. Deverá também precisar nestas 
informações até que ponto aplicou ou pretende aplicar dispositivos da 
recomendação, e indicar as modificações destes dispositivos que sejam ou 
venham a ser necessárias para adotá-los ou aplicá-los. 
 
As recomendações são, portanto, manifestações com peso jurídico de 
aconselhamento, e não de imposição, mas cuja redação e divulgação implicam na criação 
de um ambiente favorável ao encaminhamento de soluções a variados problemas, 
soluções estas que, de certa forma, tem origem na própria vontade estatal.7 
Em circunstâncias tais, a ausência de obrigatoriedade jurídica propriamente dita da 
Recomendação nº. 92 da OIT, dada a sua natureza jurídico-normativa, não retira a sua 
relevância do ponto de vista da implementação das suas disposições, sendo, pois, o mais 
expressivo instrumento alusivo à conciliação e à arbitragem voluntárias em sede 
trabalhista no âmbito do Direito Internacional Público. 
 
 
 
 
 
 
7 Segundo SEITENFUS, Ricardo; VENTURA, Deisy. Op. cit., p. 115. 
9 
 
 
2 DA CONCILIAÇÃO VOLUNTÁRIA NA RECOMENDAÇÃO N. 92 DA OIT 
 
À parte de questões inerentes à contemplação genérica da Recomendação n. 92 
da OIT acerca da conciliação e da arbitragem voluntárias sob o prisma trabalhista, 
mostra-se oportuna e necessária a distinção havida entre ambas, eis que somente a 
primeira constitui o objeto deste artigo. Ambas se configuram como técnicas alternativas 
de composição de conflitos trabalhistas, mas de natureza diferenciada. Enquanto que a 
arbitragem é uma técnica dita heterocompositiva, determinada pela solução do embate 
por fonte suprapartes, que decide com força obrigatória sobre os litigantes que, de modo 
tal, são submetidos à decisão do(s) árbitro(s), a conciliação é considerada uma técnica 
autocompositiva, segundo a qual o conflito é solucionado pelas próprias partes envolvidas 
mediante ajuste de vontades.8 
Em conformidade com o mencionado, a conciliação, enquanto forma de 
autocomposição de conflitos trabalhistas, é contemplada de forma ampla pelo texto da 
Recomendação n. 92 da OIT, conforme se pode extrair da literalidade do seu item 1, 
capítulo I: “Devem ser estabelecidos organismos de conciliação voluntária, apropriados às 
condições nacionais, com o objetivo de contribuir com a prevenção e a solução dos 
conflitos laborais entre empregadores e trabalhadores.”9 
De tal feita, o texto do documento em tela sublinha a importância e a necessidade 
do estabelecimento deste instrumento, sem fazer alusão específica a alguma ou a 
algumas de suas modalidades em Direito aceitas, estabelecendo, contudo, que as 
modalidades eventualmente utilizadas sejam aplicadas de modo paritário – ou seja, de 
modo a compreender uma equânime representação de empregadores e de empregados 
nos procedimentos respectivos (item 2 do capítulo I) –, de acordo com a vontade das 
partes envolvidas, e não de forma compulsória,10 de modo a inclusive criar-se condições 
aptas à invocação da boa-fé das partes envolvidas no procedimento, sobretudo no 
tocante ao compromisso da abstenção de recorrência a atuações que possam minar a 
condução da prática conciliatória. Eis, neste sentido, a transcrição dos itens 3(2) e 4 da 
referida Recomendação: 
 
3(2). Deveriam ser adotadas disposições para que o procedimento de conciliação 
voluntária possa ser entabulado por iniciativa de uma das partes em conflito, ou 
por organismos de conciliação voluntária. 
4. Se um conflito houver sido submetido a um procedimento de conciliação com o 
consentimento de todas as partes interessadas, estas mesmas deveriam ser 
 
8 Ver, neste sentido, NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 24. ed. 
São Paulo: Saraiva, 2009, p. 6-7. MORAES FILHO, Evaristo de. Introdução ao Direito do Trabalho. 9. ed. 
São Paulo: LTr, 2003, p. 712. 
9 Tradução livre dos autores a partir da versão oficial em inglês disponível em: 
<http://www.ilo.org/dyn/normlex/es/f?p=NORMLEXPUB:12100:0::NO:12100:P12100_INSTRUMENT_ID:312
430:NO>. Último acesso em: 28/10/2012. 
10 Conforme classificação proposta por Jorge Sappia para a Oficina Internacional do Trabalho da OIT, em 
estudo intitulado Justicia Laboral y Medios Alternativos de Solución de Conflictos Colectivos e Individuales 
del Trabajo: “La conciliación puede asumir dos formas, la voluntaria y la obligatoria. La primera es la simple 
convocatoria por la autoridad laboral, a constituir una reunión con finalidades de diálogo tendiente a la 
solución del conflicto. Normalmente carece de formas y plazos reglados y se desarrolla conforme las partes 
se van manifestando. La segunda por el contrario supone la citación forzosa de los contendores del 
conflicto y la obligación de estar presentes en el ámbito de las deliberaciones. Suele incluir un reglamento 
de actuación pero excluye la imposición de conciliar. Ambas se han revelado muy útiles en la experiencia 
regional y la utilización de una u otra, depende mucho de las características del conflicto.” In SAPPIA, Jorge. 
Justicia Laboral y Medios Alternativos de Solución deConflictos Colectivos e Individuales del 
Trabajo. Lima: Oficina Internacional do Trabalho - OIT, 2002, p. 13. 
10 
 
 
estimuladas para que se abstivessem de recorrer a greves e a lock outs enquanto 
durar o processo de conciliação.11 
 
Por ser a Recomendação nº. 92 da OIT, portanto, de referência ampla à 
conciliação voluntária, presume-se a recomendação à utilização da conciliação laboral 
tanto judicial quanto extrajudicial, privada ou pública, prévia ou posterior à eclosão do 
embate, unipessoal ou colegiada – ou seja, em todas as espécies consignadas pela 
doutrina correlata. 
A respeito da conciliação judicial, tem-se o seu desenvolvimento perante o próprio 
Poder Judiciário, no âmbito dos dissídios individuais – caso em que se realiza perante a 
mesma Vara que aprecia a demanda – ou coletivos – caso em que se realiza previamente 
à sessão de julgamento, na audiência de conciliação perante o magistrado presidente do 
tribunal que decidirá o caso, ou perante o juiz do tribunal designado para a audiência de 
conciliação.12 Em relação à conciliação extrajudicial, tem-se a sua realização prévia ao 
ingresso da reclamatória no Poder Judiciário, sendo, via de regra, colegiada por um órgão 
com atribuições para esta finalidade, sendo ele sindical ou não.13 
Acerca da conciliação privada, tem-se como principal ilustração a composição 
realizada pela via sindical. Já acerca da conciliação pública, tem-se como exemplos 
aquelas conduzidas perante o Poder Judiciário ou o Ministério Público.14 Ademais, a 
conciliação poderá ser prévia ao surgimento do embate, tal como no caso dos 
ordenamentos que, em se tratando de atividades essenciais, exigem antes da realização 
da greve a tentativa de conciliação como condição da legalidade da paralisação15 – 
presume-se, portanto, que estes ordenamentos não se coadunam com as disposições da 
Recomendação n. 92 da OIT, pois impelem à realização da conciliação, que no teor da 
referida Recomendação deverá se dar de forma voluntária. Ou, ainda, e no mais dos 
casos, poderá ser posterior à eclosão do conflito, tal como nas situações em que a 
conciliação se dá de forma intercorrente ao processo trabalhista, e, portanto, após a 
deflagração da lide.16 
Por fim, tem-se a conciliação unipessoal e a colegiada, cada qual variando de 
acordo com a figura do conciliador – se conduzido por um único indivíduo, ou por um 
colegiado ou órgão de apreciação conjunta.17 
Outro aspecto de relevante apreciação à luz da efetividade do mecanismo 
conciliatório vem a ser aquele disposto no item 3(1) do capítulo I da Recomendação: “O 
procedimento deveria ser gratuito e expeditivo; toda prestação onerosa neste sentido 
 
11 Tradução livre dos autores a partir da versão oficial em inglês disponível em: 
<http://www.ilo.org/dyn/normlex/es/f?p=NORMLEXPUB:12100:0::NO:12100:P12100_INSTRUMENT_ID:312
430:NO>. Último acesso em: 28/10/2012. Sublinha-se, contudo, o disposto no item 7 do capítulo III da 
Recomendação, pelo qual nenhuma das disposições ali sugeridas poderão ser interpretadas em detrimento 
do exercício do direito de greve. 
12 Cf. NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Op. cit., p. 13. 
13 Idem, ibidem. No caso das Comissões de Conciliação Prévia, emanadas no ordenamento brasileiro a 
partir do advento da Lei n. 9.958/00 e inseridas na Consolidação das Leis do Trabalho - CLT com os artigos 
625-A ao 625-H, há uma série de controvérsias doutrinárias acerca do caráter voluntário ou não da sua 
instituição. A polêmica em torno da questão é apreciada por autores como Amador Paes de Almeida, que 
entendem, à luz das disposições do artigo 625-A, a conotação facultativa das referidas Comissões, onde 
consta que as empresas e os sindicatos podem instituir Comissões de Conciliação Prévia. Por conseguinte, 
a obrigatoriedade de a questão trabalhista ser submetida à Comissão de Conciliação Prévia efetivamente 
existe, desde que se esta se mostrar atuante na localidade da prestação dos serviços, conforme o artigo 
625-D. Em termos tais, vide ALMEIDA, Amador Paes de. Curso prático de Processo do Trabalho. 19. ed. 
rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 520-522. SAPPIA, Jorge. Op. cit., p. 10. 
14 Conforme NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Op. cit, p. 13. 
15 Idem, ibidem. 
16 Idem, p. 14. 
17 Idem, ibidem. 
11 
 
 
deve ser legal e previamente fixada e se reduzir ao mínimo possível.”18 Neste tópico, 
invoca-se a referência, em um primeiro momento, aos custos da instância conciliatória per 
si. Majoritariamente se tem considerado, com base neste trecho, que o trâmite do 
processo de conciliação deve ser gratuito para ambas as partes. No contexto da 
elaboração da Recomendação n. 92 da OIT na sua respectiva Conferência, esta 
disposição se justificou por diversas frentes, dentre as quais o fato de que o Estado acaba 
sendo o principal beneficiado com a instituição de um mecanismo acessível a todos na 
busca pela obtenção de soluções adequadas às controvérsias laborais, soluções estas 
que consolidam o descongestionamento das instâncias judiciais, sobrecarregadas com 
processos complexos e morosos.19 
Outrossim, a respeito da morosidade enquanto fator determinante para o 
estabelecimento de procedimentos alternativos de solução de controvérsias laborais no 
âmbito da referida Recomendação, tem-se que a rapidez, a flexibilidade e a economia são 
algumas condicionantes que operam em favor destes sistemas. Não caberia, afinal, 
ensejar o aumento da combatividade interpartes se, por uma via alternativa de 
negociação direta, o conflito pode ser dissolvido. 
 
 
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
A análise da Recomendação nº. 92 permite inferir que a OIT pauta-se no pleno 
emprego, no aumento do nível de vida, na formação profissional dos trabalhadores e na 
sua remuneração digna, incentivando o desenvolvimento de sistemas eficazes para a 
composição dos conflitos decorrentes das relações laborais. 
Tal recomendação demonstra também a necessidade do desenvolvimento e do 
aprimoramento constante de mecanismos alternativos de composição de controvérsias na 
seara trabalhista. 
Deste modo, os breves comentários postos neste artigo, podem ser utilizados para 
se repensar o sistema judicial atual, com o intuito de fomentar novas políticas e 
incrementar as já existentes, visando a resolução dos conflitos laborais. 
Muito embora haja grande esforço do Conselho Nacional de Justiça – CNJ e dos 
Tribunais pátrios, depreende-se que ainda há um longo caminho a percorrer até que o 
Brasil atenda ao contido na sexagenária Recomendação 92 da OIT. 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
ALMEIDA, Amador Paes de. Curso prático de Processo do Trabalho. 19. ed. rev. e 
atual. São Paulo: Saraiva, 2008. 
 
GOMES, Orlando; GOTTSCHALK, Elson. Curso de Direito do Trabalho. 11. ed. Rio de 
Janeiro: Forense, 1990. 
 
MORAES FILHO, Evaristo de. Introdução ao Direito do Trabalho. 9. ed. São Paulo: LTr, 
2003. 
 
NASCIMENTO, Amauri Mascaro. Curso de Direito Processual do Trabalho. 24. ed. São 
Paulo: Saraiva, 2009. 
 
18 Tradução livre dos autores a partir da versão oficial em inglês disponível em: 
<http://www.ilo.org/dyn/normlex/es/f?p=NORMLEXPUB:12100:0::NO:12100:P12100_INSTRUMENT_ID:312
430:NO>. Último acesso em: 28/10/2012. 
19 Vide SAPPIA, Jorge. Op. cit., p. 14. 
12 
 
 
 
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO – OIT. Disponível em: 
<http://www.oit.org.br>. 
 
SAPPIA, Jorge. Justicia Laboral y Medios Alternativos de Solución de Conflictos 
Colectivos e Individuales del Trabajo. Lima: Oficina Internacional do Trabalho - OIT, 
2002. 
 
SEITENFUS, Ricardo; VENTURA, Deisy. Direito Internacional Público. 4. ed. rev. e 
ampl. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. 
 
SOUZA, Zoraide Amaral de. A Organização Internacional do Trabalho: OIT. Revista da 
Faculdade de Direito de Campos, Campos dos Goytacazes, v. 7, n. 9, jul./dez. 2006. 
13 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A CONCILIAÇÃO NOS JUIZADOS ESPECIAIS: 
 
ÂMBITOPREVIDENCIÁRIO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Juliana de Abreu Cassemiro 
______________________________________ 
Aluna do curso de especialização em Direito Constitucional da ABDConst 
Conciliadora da 4ª Vara do JEF Previdenciário de Curitiba – PR 
Integrante do grupo de pesquisa Sistemas e Métodos de Conciliação Judicial e 
Extrajudicial e a Proteção dos Direitos da Personalidade (Resolução nº 125 do CNJ) 
sob a coordenação do Prof. Dr. Luiz Eduardo Gunther
14 
1 INTRODUÇÃO 
 
Em tempos atuais, observa-se a crescente elaboração de estudos a fim de 
alcançar o “desafogamento” do Judiciário pátrio. Para sustentar as bases do Estado 
Social, com respaldo no constitucionalismo emergente do pós-guerra, vislumbra-se a 
utilização de vias alternativas para a salvaguarda do sistema, que objetiva harmonizar 
políticas de inclusão e capitalismo. Nesse contexto, a judicialização parece constituir 
canal importante para promover a atuação do Estado em suas bases constitucionais. 
O sistema previdenciário compõe a rede de mecanismos e instituições para 
proteção do trabalhador que se encontra incapacitado. Quando entende fazer jus a um 
benefício previdenciário, o segurado tem o direito de requerer um benefício perante o 
Instituto Nacional do Seguro Social, em regra. O indeferimento do benefício previdenciário 
solicitado gera ao requerente o direito de ingressar com ação previdenciária perante a 
Justiça Estadual diante da competência delegada, conferida à Vara Cível, ou perante os 
Juizados Especiais Federais, quando a causa não tiver valor superior a sessenta salários 
mínimos, como forma de proporcionar uma tutela jurisdicional mais célere, nos termos da 
Lei nº 10.259/01. 
Justamente no âmbito previdenciário, nas ações que versam sobre a capacidade 
laboral do segurado, tem-se evidenciado a crescente utilização da conciliação para a 
simplificação do trâmite processual. Quando da constatação de incapacidade laborativa 
pela perícia médica, verifica-se o encaminhamento dos autos do processo para a 
conciliação, no intuito de incentivar o acordo entre autor e réu, eliminando a necessidade 
de aguardo da prolatação da sentença. 
 
 
2 PERSPECTIVAS CONSTITUCIONAIS E A RESOLUÇÃO Nº 125 DO CNJ 
 
Tratar dos temas conciliação e sistema previdenciário impõe a responsabilidade de 
elucidar, ainda que sucintamente, a relação com as bases político-jurídicas nas quais 
foram construídos. Inicialmente, destaca-se a co-implicação entre Estado e Constituição, 
ou seja, a dialeticidade entre ambos, porquanto não há um como pensá-los 
separadamente. 
Conforme ensina Jose Luiz Bolzan de Morais1, o Estado é uma instituição histórica, 
surgiu em um dado contexto e evolui segundo os ditames da sociedade, posto que é fruto 
de uma conquista civilizatória. Nesse sentido, cabe refletir até mesmo quanto à existência 
do Estado, pois não há garantias de sua eternidade. Em outras palavras, assim como o 
Estado emergiu de um processo histórico-social, ele pode ser extinto por suas mesmas 
origens, em razão de uma desnecessidade social de sobrevivência do Estado. 
Da mesma forma, as Constituições são um pacto constituinte, produtos de um dado 
momento histórico que envolve um conjunto de vontades políticas, interesses e anseios 
que dialogam com o passado e com o presente. As Constituições projetam um ideal ao 
futuro, estabelecendo objetivos, compondo uma tripla dimensão temporal. 
 
Assim, o Estado Constitucional incorpora uma tradição político-jurídica que 
formata o poder político sob a lógica de um poder limitado e controlado e, além 
disso, reconhece os direitos humanos como conteúdos fundamentais que 
direcionam o poder, voltado à sua consecução como finalidade da ação estatal; e, 
como tal, é um produto da história, por isso dinâmico, bastando perceber a 
 
1 BOLZAN DE MORAIS, Jose Luis. O Estado e seus limites: reflexões iniciais sobre a profanação do 
Estado Social e a dessacralização da modernidade. Boletim da Faculdade de Direito. Universidade de 
Coimbra, v. LXXXII, p. 569-590, 2007. 
15 
 
 
passagem – no âmbito do liberalismo – do Estado Mínimo ao Estado Social; dos 
direitos de liberdade aos direitos de solidariedade etc.2 
 
No século XIX, o Estado Constitucional plasmava a limitação do poder político pela 
submissão à Constituição. A transição do Absolutismo para o Liberalismo impunha a 
concretização das conquistas políticas em jurídicas. Os direitos humanos constituíram o 
substrato do Estado de Direito da época. A Constituição e os direitos humanos eram os 
limitadores do poder, porquanto a liberdade dos homens consistia na contenção do poder 
estatal. 
Adiante, na passagem do século XIX para o século XX, o Estado passou a ser 
demandado a cumprir funções, de modo a promover igualdades. A Constituição passa 
não mais a prever somente freios à ação estatal, mas incorpora a igualdade a partir do 
Estado, que adquire um caráter prestacional. O Estado Constitucional absorve esses 
novos conteúdos, transitando para o Estado Social de Direito. Reconhece-se a 
desigualdade no âmbito das relações sociais e age para a promoção da igualdade 
material. Presta serviços, assegura a dignidade da pessoa humana, não com caráter 
meramente assistencialista, mas como direito de cidadania. 
O Estado Social objetiva a atender as demandas da nova classe social, o 
proletariado, mas sustentando a própria continuidade do modelo econômico liberal. 
Pretende a convivência entre políticas de inclusão e capitalismo, comprometendo-se com 
o progresso social, mas vinculando este progresso à eficácia econômica. A reflexão de 
Bolzan de Morais tem respaldo na limitação do diálogo entre modelo econômico do 
capitalismo e a políticas de inclusão. Questiona-se a possibilidade da existência mútua 
das premissas do Estado Social. Tais ponderações são decorrentes de dois fatores por 
ele elencados, quais sejam a “questão social” e a “questão ambiental”. A questão 
ambiental está na origem da transição do Estado Social, sintetizando-se na emergência 
do processo de urbanização, no surgimento das máquinas e fábricas, do nascimento de 
uma nova classe social – o operariado, e trazendo a necessidade de regulamentação 
estatal. 
O espaço do Estado Social sempre foi aberto e está em constante ampliação. No 
final da Segunda Guerra Mundial até meados dos anos 70 ocorreram os chamados 30 
anos gloriosos do Estado Social. A economia capitalista que está nas origens desse 
modelo de Estado não é a mesma, assim como as preocupações econômicas. O meio 
ambiente passou a ser a grande novidade. Anteriormente, os problemas estavam 
adstritos em âmbito estatal, territorial, após, ultrapassaram as circunscrições fronteiriças 
nacionais, rompendo com o paradigma da territorialidade e afetando a própria noção de 
Estado e de Constituição3. 
Somado à questão ambiental, observa-se o intenso aumento de demandas para 
obter direitos que já são assegurados pela Constituição Federal. Além do maior acesso à 
Justiça, uma explicação plausível é a não concretização da norma constitucional pelo 
Estado, impondo a necessidade de procurar a via judicial. 
Portanto, cabe questionar a sobrevivência do Estado e os caminhos que o mesmo 
tem percorrido para evitar o seu enfraquecimento. Uma via possível que se vislumbra é 
repensar o constitucionalismo, não iniciando propriamente pelos Estados, mas com 
dimensões distintas dele. Esse é o caso do interconstitucionalismo citado por Canotilho4, 
termo utilizado para tratar das Constituições integradas, a exemplo do Projeto de criação 
da Constituição Europeia. A outra alternativa está projetada no espaço da judicialização. 
O Poder Judiciário é, atualmente, um espaço de destaque, não pelo viés de privatização 
 
2 BOLZAN DE MORAIS, p. 570-571. 
3 BOLZAN DE MORAIS, p. 570-576. 
4 CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Princípios: Entre a Sabedoria e a Aprendizamgem. Boletim da 
Faculdadede Direito. Vol. LXXXII. Coimbra. 2006. p.12. apud BOLZAN DE MORAIS, p. 586-587. 
16 
 
 
das políticas públicas por meio de ações individuais pretendendo determinadas garantias 
individuais, mas por meio da própria jurisdição constitucional como um espaço para 
promover o enquadramento da ação política em bases constitucionais. Nesta seara 
encontra-se o instituto da conciliação como método alternativo de resolução de conflito 
para a solução das lides previdenciárias. 
 A Constituição, como Lei Máxima do ordenamento jurídico Pátrio, posiciona-se em 
patamar hierarquicamente superior às demais normas do sistema. Nesse sentido, ensina 
Celso Antonio Bandeira de Mello, “é a matriz última da validade de qualquer ato jurídico.”5 
Toda norma jurídica deve ser obedecida quando estabelecida no ordenamento jurídico, 
razão pela qual as disposições constitucionais, como normas jurídicas que são, não 
admitem contrariedades, ainda que por omissão. 
O artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal de 1988 elenca a dignidade da 
pessoa humana como um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito. Este, por 
sua vez, assume automaticamente o papel de garantidor da efetivação dos seus 
princípios basilares. Na mesma esteira, Bandeira de Mello afirma a existência de um 
conjunto normativo inserido na Constituição que compõe a Justiça Social, ressaltando-se 
os artigos 6º, 7º, 170 e 193. Não cabe, no presente momento, a descrição de cada um 
dos preceitos constitucionais elencados, mas apontar a proteção constitucional dos 
direitos sociais. Comumente classificados como normas de caráter programático, carentes 
de regulamentação, possuem, na realidade, aplicação imediata diante da leitura 
sistematizada das normas constitucionais. 
No mesmo sentido, todavia em um plano processual, José Antonio Savaris associa 
o direito fundamental à proteção social e a função jurisdicional. A proteção social, que 
consiste nos “...mecanismos institucionais que são articulados para reduzir e superar os 
riscos sociais, assegurando, de modo universal, segurança econômica contra as 
circunstâncias inevitáveis que afetam a subsistência e o bem-estar dos indivíduos e suas 
famílias6”, vincula-se com os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana e 
de justiça social. 
Segundo Savaris, o exercício adequado da função jurisdicional assegura e protege 
o direito material. “Para tanto, deve satisfazer o direito de proteção social de modo tão 
célere quanto possível, fazendo coincidir a cobertura social com o imediato momento em 
que surge a necessidade – e o respectivo direito7”. A satisfação do direito pela via judicial 
deve se assemelhar a sua realização espontânea, sem que para tanto fosse necessário 
recorrer ao Poder Judiciário. 
Dos apontamentos expostos, verifica-se que a conciliação no sistema 
previdenciário é um pertinente instrumento de proteção dos direitos sociais e salvaguarda 
do Estado Constitucional. Conforme análise que segue, a utilização do método alternativo 
de resolução de conflito para a satisfação de um direito do segurado contribui para a 
obtenção do resultado rápido, útil e eficaz da prestação jurisdicional. 
Na década de 90, o Poder Judiciário sofreu uma espécie de pressão para a 
redução duração das demandas, razão pela qual se observou o advento da Emenda 
Constitucional nº 45. O artigo 5º, LXXVIII, da Constituição Federal, destaca a importância 
da duração razoável do processo e da asseguração dos meios que garantam a celeridade 
da sua tramitação no plano constitucional. Da citada Emenda adveio o Conselho Nacional 
de Justiça (CNJ), como instituição plural, responsável pelo controle da magistratura, 
conforme artigo 103-B da Carta Magna. 
 
5 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Eficácia das Normas Constitucionais e Direitos Sociais. São 
Paulo: Malheiros, 2009.p. 12. 
6 SAVARIS, José Antonio. Princípio da Primazia do Acertamento Judicial da Relação Jurídica de Proteção 
Social. In: Revista Brasileira de Direito Previdenciário. v. 6 (dez./jan.2012). Porto Alegre: Magister, 2011. p. 
41. 
7 Idem, p. 41-42. 
17 
 
 
Com base no artigo 5º, LXXVIII, da CF/88, o CNJ passou a estabelecer metas para 
a realização da razoável duração do processo. Em síntese, o CNJ possui competência 
para efetivar os princípios do artigo 37 da CF/88. Em 29 de novembro de 2010, foi editada 
a Resolução nº 125 do CNJ, tendo por objetivos estratégicos a eficiência operacional, o 
acesso ao sistema de Justiça e responsabilidade social. Portanto, os sistemas de gestão 
da Administração Pública são aplicáveis também ao Poder Judiciário. 
A Resolução nº 125 do CNJ, do mesmo modo, atribui aplicabilidade à Democracia, 
na medida que considera o direito de acesso à Justiça como uma de suas premissas. O 
estabelecimento da “política pública de tratamento adequado dos problemas jurídicos e 
dos conflitos de interesses”, em que se insere a conciliação, estimula a regulamentação 
do método alternativo de resolução de controvérsia no âmbito dos tribunais. 
O artigo 4º da Resolução nº 125 determina a competência do CNJ para 
organização de programas de incentivo à autocomposição de litígios e pacificação social 
por meio da conciliação e da mediação. A convivência entre o Poder Judiciário e as 
instituições de ensino é incentivada no seu artigo 5º. No mesmo sentido, o artigo 6º da 
Resolução nº 125 trata da necessidade de preparo técnico para o enfretamento da 
questão. Cabe, neste momento, analisar o procedimento da conciliação para a resolução 
da lide previdenciária e sua adequação com os preceitos constitucionais e parâmetros da 
Resolução nº 125 do CNJ. 
 
 
3. CONCILIAÇÃO NO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL PREVIDENCIÁRIO 
 
3.1 BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE O SISTEMA PREVIDENCIÁRIO 
 
A seguridade social, como instrumento de proteção das necessidades sociais, 
abrangendo uma rede de normas e relações jurídicas dela consequentes, composta pela 
previdência, assistência e saúde, tem encontrado amparo na concretização dos direitos 
por meio do Poder Judiciário. 
O subsistema previdenciário visa a proteger, em especial, o trabalhador quando 
confrontado com a impossibilidade de obter meios de subsistência através da força de 
trabalho8. Para tanto, criou-se o Regime Geral da Previdência Social, previsto no artigo 9º 
da Lei nº 8.213/91 e no artigo 6º do Regulamento da Previdência Social (RGPS), 
aprovado pelo Decreto nº 3.048/99, com o fim de assegurar aos beneficiários meios 
indispensáveis de manutenção da subsistência, por meio de contribuição. 
A gerência do RGPS é incumbida, basicamente, ao Instituto Nacional da 
Seguridade Social (INSS), sendo esta uma autarquia federal responsável pela 
organização da previdência social. No entanto, o aumento progressivo de beneficiários do 
RGPS e da expectativa de vida, combinado com o índice de desemprego da faixa 
populacional ativa, dentre outros fatores, vem propiciando o “inchaço” dos cofres da 
previdência social. Por não outro motivo, inúmeros benefícios previdenciários requeridos 
diariamente ao INSS são indeferidos, inconformando o pretenso beneficiário. 
Na hipótese do segurado do RGPS entender que se encontra incapaz para a 
execução das atividades habituais, confere-se o direito de requerer o benefício 
previdenciário por incapacidade que entender mais adequado junto ao INSS. A referida 
autarquia agendará uma data para a realização de perícia médica a ser efetuada por 
perito que atua para o próprio INSS. Da perícia administrativa resultará um laudo médico, 
cujo diagnóstico analisará a eventual incapacidade ou capacidade do segurado para o 
trabalho ou exercício das atividades habituais. 
 
8 CORREIA, Marcos Orione Gonçalves. CORREIA, Erica de Paula. Curso de direito da seguridade social. 
5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 30-33. 
18 
 
 
Desse modo, quando requerido o auxílio-doença, impõe a comprovação da 
incapacidade temporária para o labor,nos termos do artigo 59 da Lei nº 8.213/91. Se não 
cumprido os requisitos legais, quais sejam a qualidade de segurado e incapacidade 
temporária por mais de quinze dias, o pedido é indeferido. O mesmo ocorre com os 
demais benefícios por incapacidade, quando requerido o benefício de aposentadoria por 
invalidez ou o auxílio-acidente; faz-se necessária a constatação da incapacidade laboral, 
cumulada com os demais requisitos legais dos artigos 42 e 86 da Lei nº 8.213/91, 
respectivamente. 
Observando-se o indeferimento do pedido pela via administrativa por motivo de não 
constatação de incapacidade laboral, o pretenso beneficiário pode interpor recurso 
administrativo, a fim de alterar a decisão. Contudo, interpondo ou não o recurso 
administrativo, entende-se que o simples indeferimento inicial é suficiente para a 
comprovação da lesão ou ameaça de lesão a direito de concessão de benefício 
previdenciário, sendo desnecessário o exaurimento da via administrativa para ingressar 
com a ação no Poder Judiciário9. 
Para propor ação previdenciária, no caso dos benefícios previdenciários de 
natureza acidentária, tais como auxílio-acidente, auxílio-doença acidentário, e 
aposentadoria por invalidez decorrente de acidente de trabalho, é competente a Justiça 
dos Estados e do Distrito Federal, em respeito à redação do artigo 129 da Lei nº 
8.213/9110. Após o ingresso da ação, o processo se desenvolverá pelo rito sumário, em 
razão da natureza alimentar. 
No entanto, para pleitear benefício previdenciário por incapacidade cuja natureza 
não tenha caráter acidentário, a competência é da Justiça Federal. Neste âmbito de 
competência concentraremos nossos esforços para desenvolver uma breve análise sobre 
a sua efetividade, em especial, com relação ao uso do instituto da conciliação. 
 
 
3.2 CONCILIAÇÃO: MECANISMO EM DESENVOLVIMENTO 
 
As ações de competência da Justiça Federal podem ser propostas na Vara Federal 
comum, quando a causa versar sobre valor superior a sessenta salários mínimos, 
porquanto nos casos em que o valor da causa for até sessenta salários mínimos, são 
competentes os Juizados Especiais Federais, criados por força da Lei nº 10.259, de 12 de 
julho de 2001. 
 O artigo 3º, inciso III, da Lei nº 10.259/01, atribui ao Juizado Especial Cível a 
competência para julgar ações previdenciárias com valor da causa até sessenta salários 
mínimos. Significativo número de ações previdenciárias se enquadram na citada hipótese, 
razão pela qual, a exemplo da cidade de Curitiba, Paraná, existem atualmente uma Vara 
Federal Previdenciária de Curitiba e quatro Varas do Juizado Especial Federal 
Previdenciário de Curitiba. 
 Embora a criação da Lei nº 10.259/01 tivesse objetivado efetivar o princípio da 
celeridade processual, plasmado no artigo 5º, inciso LXXVIII, da Constituição Federal, 
acrescentado pela Emenda Constitucional n.º 45 de 08 de dezembro de 2004, o intenso 
número de demandas previdenciárias ensejadas especialmente pelos recorrentes 
indeferimentos administrativos dos pedidos de benefícios previdenciários, contribuindo 
para o interesse do pretenso beneficiário em ser submetido à perícia judicial, aumentando 
o número de ações para além da capacidade estrutural dos Juizados Especiais Federais 
 
9 SAVARIS, José Antonio. Direito processual previdenciário. 3ª ed. rev. amp. et atual. Curitiba: Juruá, 
2011. p. 68/69. 
10 IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 16ª ed. rev. amp. et atual. Rio de Janeiro: 
Editora Impetus, 2011. p. 713. 
19 
 
 
Previdenciários, resultou na ineficácia do princípio constitucional e perspectivas da Lei nº 
10.259/01. 
 Por tal razão, a Justiça Federal, Seção Judiciária do Paraná, criou um projeto 
diferenciado para alcançar a celeridade processual e buscar a conciliação entre as partes 
nominado SICOPP (Sistema Conciliatório Pré-Processual) 11. O Projeto de 
responsabilidade do Juiz Federal da 1ª Vara do JEF Cível e Previdenciário de Curitiba, 
José Antônio Savaris, cientificado e autorizado pelo Coordenador do Sistema de 
Conciliação do TRF da 4ª Região, Desembargador Federal Néfi Cordeiro, foi elaborado 
em 03 de dezembro de 2008, para desenvolver no âmbito da Coordenadoria Regional do 
Sistema de Conciliação (SISTCON-PRO), Seção Judiciária do Paraná, conciliações junto 
às quatro Varas dos Juizados Especiais Cíveis e Previdenciários da Subseção Judiciária 
de Curitiba. 
 Na atualidade, o projeto é destinado aos processos concernentes à concessão de 
benefícios previdenciários por incapacidade e aos expurgos de poupança decorrentes do 
Plano Verão. A redução de prazos e custos são alguns dos objetivos da implantação do 
projeto, combinados com o incentivo a conciliação e o desafogamento dos Juizados. 
Integram a composição do SICOPP o Juiz Federal Coordenador do Sistema de 
Conciliação (SISTCON-PR), bem como Juízes Federais designados para atuar no 
SICOPP, Servidores, Estagiários Conciliadores - bacharéis e estudantes de Direito. Ainda, 
o projeto prevê a participação dos agentes das entidades públicas envolvidas, com 
poderes para celebrar acordos. 
 O procedimento das ações de benefícios previdenciários por incapacidade no 
Sistema de Conciliação Pré-Processual – SICOPP foi padronizado pela Portaria nº 
02/2009. Protocolada a petição inicial por meio do sistema processual eletrônico E-Proc e 
efetuada a distribuição pelo mesmo sistema, a uma das Varas do JEF Previdenciário de 
Curitiba, após análise de eventual prevenção, remete-se o processo ao SICOPP para 
fazer a análise da exordial, conforme disposto no artigo 1º da Portaria nº 02/2009. Cabe 
ressaltar que este procedimento é destinado aos processos cujos objetos são a 
concessão ou restabelecimento de benefícios previdenciários ensejados pela 
incapacidade laboral do segurado. 
 Determina o artigo 2º da Portaria nº02/2009 que recebido o processo pelo SICOPP, 
os servidores analisarão a petição inicial. No caso de não observância de informações e 
documentos indispensáveis ao desenvolvimento do processo, a parte autora será 
intimada no prazo de dez dias para emendar a inicial, sendo este prazo prorrogável por 
mais dez dias quando requerido pelo autor, nos moldes do artigo 284 do Código de 
Processo Civil. 
 Não cumprido o ato de Secretaria, haverá o decurso do prazo e o indeferimento da 
petição inicial, com consequente prolatação de sentença de extinção do processo sem 
resolução do mérito, com fundamento no artigo 267, inciso I, do CPC. Em contrapartida, 
dispõe o artigo 3º da Portaria nº 02/2009 que quando devidamente emendada a petição 
inicial, ou inexistindo necessidade de emenda, será designada a perícia médica judicial 
por ato de Secretaria de acordo com a aptidão técnica necessária para a análise da 
incapacidade alegada. Alegada mais de uma doença, pertinente a diferentes 
especialidades da medicina, há a possibilidade de designação de uma segunda perícia 
judicial por perito diverso. 
 Para a realização da perícia judicial são então intimados o perito, para anexar o 
laudo pericial após o exame, a Autarquia ré, a fim de anexar dados referentes ao 
processo administrativo, e a parte autora, para comparecer na data do exame munida de 
Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) e documentação médica comprovadora 
da incapacidade. 
 
11 Projeto: “Sistema Conciliatório Pré-Processual – SICOPP”. 
20 
 
 
 Observa-se a força probatória do laudo pericial para a solução do litígio. Efetuado o 
exame pericial e constada a capacidade do autor, as partes são intimidas sobre o 
resultado do laudo para apresentar manifestação e, após, o processo é remetido para a 
Vara de origem. No entanto, caso o perito judicial conclua pela incapacidade do autor, 
serão analisados os demais requisitos essenciais para a concessão ou restabelecimento 
do benefício previdenciário por incapacidade, quais sejam a qualidade de segurado e a 
carência legalmente exigida. Observadosos citados pressupostos, será designada a 
audiência de conciliação. 
 Os advogados das partes são intimados, via de regra, por e-mail, porém o artigo 6º 
da Portaria 02/2009 permite a intimação por telefone ou qualquer outro meio idôneo. A 
pauta de audiências é disponibilizada no próprio site da Justiça Federal, Seção Judiciária 
do Paraná. 
 A audiência de conciliação é realizada por vezes pelos juízes federais, mas na 
maioria dos casos quem preside a audiência de conciliação são os conciliadores 
nomeados. A condução da audiência de conciliação do âmbito do SICOPP é célere e 
objetiva. Comparece a parte autora, normalmente por meio de seu procurador, e o 
representante do INSS, que fará a proposta de acordo, considerando dados como data de 
início da doença, data de início da incapacidade, temporariedade ou não da incapacidade 
e cálculo de parcelas vencidas e vincendas para fixação dos valores em atraso e período 
de concessão do benefício previdenciário. 
 Aceita a proposta de acordo pelo autor da ação, as cláusulas do acordo são 
reduzidas a termo pelo conciliador, ata que será, então, homologada por sentença. 
Posteriormente a certificação do trânsito em julgado, a chefia da Agência da Previdência 
Social de Atendimento às Demandas Judiciais, AADJ, será requisitada para a implantação 
do benefício concedido ou restabelecido, no prazo de 05 dias, sob pena de multa, nos 
termos do artigo 9º da Portaria nº 02/2009, e o processo é então remetido para a Vara de 
origem. No caso de restar infrutífera a realização da audiência de conciliação, o processo 
será remetido à Vara inicial para a tramitação usual. 
 Importa destacar os limites de responsabilização do SICOPP determinado no artigo 
13 da Portaria nº 02/2009. Embora o procedimento de conciliação se desenvolva no 
SICOPP, as Varas do Juizado Especial Federal Cível e Previdenciário de Curitiba mantêm 
a responsabilidade sobre os atos de execução do processo, tais como controle de prazos 
para o cumprimento do acordo pelo INSS, controle das requisições de pagamento aos 
peritos nomeados, cálculo do valor referente as parcelas vencidas, quando não 
devidamente fixado em acordo, expedições de requisições de pagamento e instrução e 
julgamento dos processos na hipóteses em que de frustração da tentativa de realização 
do acordo. 
 O projeto SICOPP foi implantado no ano de 2009, quando já se vislumbrou a 
efetividade do sistema de conciliação. No mês de agosto de 2009, quando o projeto 
efetivamente iniciou, foram designadas 524 audiências, dentre as quais 519 foram 
realizadas, sendo efetuados acordos em 432 audiências, computando um percentual de 
86% de acordos do total das audiências realizadas. No mês dezembro de 2009, o 
percentual de acordos pactuados subiu para 91% do total das audiências realizadas12. 
 No ano de 2010, os percentuais de audiências realizadas com acordos 
continuaram significativos. No mês de janeiro de 2010 foi de 89%, subindo para 91% no 
mês seguinte e mantendo uma média de 88% de acordos efetuados durante o ano. No 
mês de dezembro de 2010, o percentual chegou ao patamar mais alto, qual seja 96% de 
acordos realizados13. 
 
12 Dados fornecidos pela Justiça Federal, Seção Judiciária do Paraná, SICOPP. “Tabulação de audiências 
geral – 2009”. 
13 Dados fornecidos pela Justiça Federal, Seção Judiciária do Paraná, SICOPP. “Tabulação de audiências 
geral – 2010”. 
21 
 
 
 O percentual de processos em que se realizaram acordos no ano seguinte diminuiu 
em 1%, desse modo das 2.223 audiências realizadas, foram efetuados 1.868 acordos, 
totalizando 87% de audiências que resultaram em acordos. O mês de abril de 2011 foi o 
que se evidenciou o maior percentual de acordos, quando se computou 92% de 
audiências com acordos realizados14. 
 No início do ano de 2012, verificou-se uma queda no índice de audiências de 
conciliação realizadas com acordo. Em janeiro de 2012 foram realizadas 187 audiências 
de conciliação das quais resultaram 154 acordos (85% de audiências com acordos 
realizados). No presente momento, foram computadas as audiências até o mês de julho 
de 2012, quando ocorreram 265 audiências de conciliação. Dessas audiências, 212 
resultaram em acordo entre as partes, denotando um percentual de 80%15. 
 Muito embora os dados fornecidos pelo SICOPP demonstrem uma diminuição no 
percentual de realizações de acordos nas audiências de conciliação, o número ainda é 
significativo. Como descrito, trata-se de projeto diferenciado para reduzir o número de 
demandas nos Juizados Especiais Federais Previdenciários, incentivar a conciliação e 
trazer ao plano da eficácia a almejada celeridade processual. 
 Por ora, cada Seção Judiciária da Justiça Federal possui um órgão direcionado 
para a conciliação como meio alternativo para resolução de conflito, regulamentos por 
meio de Portarias editadas pelas próprias Seções Judiciárias. Inexiste uma 
regulamentação específica sobre a matéria, demonstrando que a conciliação no âmbito 
dos Juizados Especiais Federais ainda é uma novidade, que segue caminhando para o 
seu desenvolvimento ideal. 
 O pouco tempo de existência do SICOPP e os números percentuais apresentados 
comprovam a consonância com os objetivos da Resolução nº 125 do Conselho Nacional 
de Justiça, em especial a efetiva aplicação do seu artigo 1º, parágrafo único, porquanto 
oferece outros mecanismos de soluções de controvérsias além da prolatação de sentença 
mediante processo judicial. Trata-se de efetiva comunhão entre os princípios 
constitucionais da celeridade processual e da eficiência, bem como das perspectivas 
atuais Constituição Federal de 1988, e as novas metas do CNJ, formalizados na 
Resolução nº 125 de 29 de novembro de 2010. 
 
 
4 CONCLUSÃO 
 
 A contribuição das audiências de conciliação para a prestação da tutela 
jurisdicional célere e em conformidade com os preceitos constitucionais embasados na 
eficiência estatal, no que concerne às ações previdenciárias, vai ao encontro das 
soluções propostas para a manutenção e sobrevivência do Estado e da Constituição da 
República. 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
BOLZAN DE MORAIS, José Luis. As crises do Estado e da Constituição e a 
transformação espaço-temporal dos direitos humanos. 2ª ed. Porto Alegre: Livraria do 
Advogado, 2011. 
 
14 Dados fornecidos pela Justiça Federal, Seção Judiciária do Paraná, SICOPP. “Tabulação de audiências 
geral – 2011”. 
15 Dados fornecidos pela Justiça Federal, Seção Judiciária do Paraná, SICOPP. “Tabulação de audiências 
geral – 2012”. 
22 
 
 
________ . O Estado e seus limites: reflexões iniciais sobre a profanação do Estado 
Social e a dessacralização da modernidade. Boletim da Faculdade de Direito. 
Universidade de Coimbra, v. LXXXII, p. 569-590, 2007. 
 
CORREIA, Marcos Orione Gonçalves. CORREIA, Erica de Paula. Curso de direito da 
seguridade social. 5ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2010. 
 
IBRAHIM, Fábio Zambitte. Curso de Direito Previdenciário. 16ª ed. rev. amp. et atual. 
Rio de Janeiro: Editora Impetus, 2011. 
 
MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Eficácia das Normas Constitucionais e Direitos 
Sociais. São Paulo: Malheiros, 2009. 
 
SAVARIS, José Antonio. Direito processual previdenciário. 3ª ed. rev. amp. et atual. 
Curitiba, Juruá, 2011. 
 
______. Princípio da Primazia do Acertamento Judicial da Relação Jurídica de Proteção 
Social. In: Revista Brasileira de Direito Previdenciário. v. 6 (dez./jan.2012). Porto Alegre: 
Magister, 2011. 
 
______. Projeto: “Sistema Conciliatório Pré-Processual – SICOPP” 
 
SICOPP. Tabulação de audiências geral – 2009. 
 
______. Tabulação de audiências geral – 2010. 
 
______. Tabulação de audiências geral – 2011. 
 
______. Tabulação de audiências geral – 2012.
23 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
ANÁLISE JURIMÉTRICA DA CONCILIAÇÃO: 
 
SANÇÃO POSITIVA DO DIREITO NA PROMOÇÃO 
 
DA EFICIÊNCIA ECONÔMICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Juliana CristinaBusnardo Augusto de Araujo 
______________________________________ 
Servidora Pública Federal do TRT da 9ª Região. Graduada em Direito pela PUC/PR 
Especialista em Direito Empresarial pelo IBEJ 
Mestre em Direito Empresarial e Cidadania pelo UNICURITIBA 
Integrante do Grupo de Pesquisa ligado ao Mestrado do UNICURITIBA “Tutela dos 
Direitos da Personalidade na Atividade Empresarial: os Efeitos Limitadores na 
Constituição da Prova Judiciária” liderado pelo Professor Doutor Luiz Eduardo Gunther 
 
Eloína Ferreira Baltazar 
______________________________________ 
Servidora Pública Federal do TRT da 9ª Região. Graduada em Direito pela UFPR 
Especialista em Direito Penal e Processo Penal pela UCDD – SP 
 Integrante do Grupo de Pesquisa ligado ao Mestrado do UNICURITIBA “Tutela dos 
Direitos da Personalidade na Atividade Empresarial: os Efeitos Limitadores na 
Constituição da Prova Judiciária” liderado pelo Professor Doutor Luiz Eduardo Gunther
24 
RESUMO 
 
O presente artigo refere-se à jurimetria que converge ciência social aplicada – direito - e ciência 
matemática aplicada – estatística - com o princípio básico de mensurar os fatos relacionados aos 
conflitos para antecipar cenários e planejar condutas no exercício da advocacia, na elaboração 
das leis e na gestão do judiciário. O objetivo central é a análise dos resultados sobre o número de 
conciliações realizadas no Poder Judiciário, constituindo-se intervenção estatal na ordem 
econômica mediante aplicação de sanção positiva do Direito no fomento à viabilidade econômica 
das atividades desempenhadas na iniciativa privada mediante a diminuição dos riscos jurídicos, 
no sentido da calculabilidade e confiança no funcionamento da ordem jurídica. O significativo 
número crescente dos processos conciliados, bem as ações regulamentadas pelo Conselho 
Nacional de Justiça, dentre elas as Resoluções 106, de 06 de abril de 2010 e 125, de 29 de 
novembro de 2010, revelam a implementação do paradigma jurídico promocional na melhoria da 
economia com a diminuição dos riscos jurídicos das atividades afetas à livre iniciativa. 
A pacificação dos conflitos pela conciliação pautada no modelo normativo de lógica premial 
funciona como incremento à eficiência do mercado, aprimorando a segurança jurídica na criação e 
no desenvolvimento das atividades econômicas, as quais, adequadamente funcionalizadas, são a 
melhor forma de promover o crescimento econômico e a melhoria das condições de vida da 
população. 
 
Palavras-chave: jurimetria, conciliação, promoção da eficiência econômica. 
 
 
ABSTRACT 
 
This article refers to jurimetrics that converges applied social science - right - science and applied 
mathematics - statistics - with the basic principle of measuring the facts related to conflict 
scenarios to anticipate and plan conducts the practice of law, in making laws and in management 
of the judiciary. The main objective is to analyze the results on the number of conciliations 
performed on Judiciary, becoming state intervention in the economic order by applying positive 
sanction of law in promoting the economic viability of the activities performed in the private sector 
by reducing legal risks in the sense of calculability and confidence in the functioning of the legal 
system. The growing number of significant processes conciled and actions regulated by the 
National Council of Justice, among them the Resolutions 106, April 6, 2010 and 125 of 29 
November 2010, shows the implementation of legal paradigm promotional in improving economy 
by reduced risk of entrerprises legal activities. The conflicts pacification through conciliation based 
on rewad’s logic normative model increases market efficiency, enhancing legal certainty in the 
creation and development of economic activities, which, properly functionalized, are the best way 
to promote economic growth and improvement of living conditions of the population. 
 
Keywords: jurimetrics, conciliation, promoting economic efficiency. 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
O presente artigo refere-se à jurimetria que converge ciência social aplicada – 
direito - e ciência matemática aplicada – estatística - com o princípio básico de mensurar 
os fatos relacionados aos conflitos para antecipar cenários e planejar condutas no 
exercício da advocacia, na elaboração das leis e na gestão do judiciário. 
O objetivo central é a análise dos resultados sobre o número de conciliações 
realizadas no Poder Judiciário, constituindo-se intervenção estatal na ordem econômica 
mediante aplicação de sanção positiva do Direito no fomento à viabilidade econômica das 
atividades desempenhadas na iniciativa privada mediante a diminuição dos riscos 
jurídicos, no sentido da calculabilidade e confiança no funcionamento da ordem jurídica. 
Tal levantamento, considerada certa informatização da Justiça em todos os níveis, 
demonstra elaboração viável e alberga informações extremamente interessantes não só 
25 
 
 
sobre os efeitos da atuação dos juízes na perspectiva econômica, mas também sobre o 
impacto de todo o direito sobre a economia brasileira. 
A investigação revela alta credibilidade, já que baseada em dados objetivos e 
instrumentalizada por pesquisa de processos similares nas diversas regiões do país, com 
demonstração analítica dos dados e resultados obtidos. É claro, preciso, traduz uma 
realidade fática. 
O significativo número crescente dos processos conciliados, bem como as ações 
regulamentadas pelo Conselho Nacional de Justiça, dentre elas as Resoluções 106, de 06 
de abril de 2010 e 125, de 29 de novembro de 2010, revelam a implementação do 
paradigma jurídico promocional na melhoria da economia com a diminuição dos riscos 
jurídicos das atividades afetas à livre iniciativa. 
 
 
2 A JURIMETRIA NO BRASIL 
 
A análise econômica do direito - Law and Economics – L & E – é uma forma 
específica de interpretação do direito surgida em Chicago, EUA, no início dos anos 70, 
inspirada na forte contraposição entre capitalismo e socialismo. A escola de Chicago 
defendia a economia de mercado; em oposição, surge em Harvard a Critical Legal 
Studies, politicamente socialista e comunista. 
Segundo Decio Zylbersztajn e Rachel Sztajn existem “diferentes correntes 
doutrinárias que buscam explicar o fenômeno econômico e propor medidas para corrigir 
distorções geradas por normas de Direito positivo, com fundamento em análises 
econômicas. Entre elas, encontram-se a Escola de Chicago, a de Yale, a da Nova 
Economia Institucional, a Escola Pública, entre outras”1. 
As esparsas pesquisas jurimétricas antes produzidas eram, em sua maioria, 
voltadas para questões processuais. A preocupação social com o aperfeiçoamento da 
Justiça e gestão dos Tribunais promoveu a concentração de estudos quantitativos-
empíricos, refletida em políticas implementadas por autoridades judiciárias em todos os 
níveis, figurando o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) como a instituição difusora destes 
anseios. 
A jurimetria converge ciência social aplicada – direito - e ciência matemática 
aplicada – estatística, cujo princípio básico é mensurar os fatos relacionados aos conflitos, 
para antecipar cenários e planejar condutas no exercício da advocacia, na elaboração das 
leis e na gestão do Judiciário. 
A Estatística tem por objetivo obter, organizar e analisar dados, determinar as 
correlações que apresentem, tirando delas suas consequências para descrição e 
explicação do que passou e previsão e organização do futuro. 
Traduz ciência e prática de desenvolvimento de conhecimento humano pelo uso de 
dados empíricos, em que a aleatoriedade e incerteza são modeladas pela teoria da 
probabilidade. 
A premissa jurimétrica aborda discussões jurídicas “de baixo para cima” de forma a 
propiciar conhecimento profundo das tendências dos conflitos como matéria-prima da 
elaboração das soluções processuais. A disciplina se assenta na concepção matemática-
estatística do estudo tradicional do direito que discute de forma teórica e conceitualleis e 
princípios abstratos. A Law and Economics foi criada para aplicação no sistema da 
common law (de baixo para cima), parte-se da lide como realidade absoluta, do fato para 
o direito posto. 
 
1 ZYLBERSZTAJN, Decio; SZTAJN, Rachel. Direito e economia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. p. 77. 
26 
 
 
A jurimetria pode medir, por exemplo, o percentual de decisões de um 
tribunal sobre um determinado assunto ou disciplina e os resultados podem alterar as 
estratégias de condução de vários casos. 
Estudiosos da matéria dedicam-se a questões mais específicas, como teses 
aceitas com maior ou menor frequência, a frequência em que uma norma é aplicada nos 
julgamentos, o perfil decisório de um determinado juiz, a probabilidade de 
descumprimento de uma cláusula contratual, bem como o número de conciliações 
realizadas pelo magistrado, sendo esta última perspectiva a matriz temática deste estudo. 
No Brasil, a jurimetria vem sendo objeto de estudo da Associação Brasileira de 
Jurimetria (ABJ) com o apoio da Associação dos Advogados de São Paulo, Instituto de 
Matemática e Estatística da USP e Sociedade Brasileira de Direito Público. 
A Associação Brasileira de Jurimetria, fundada no Brasil em 2009 por um grupo de 
professores de direito e estatística da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e da 
Universidade de São Paulo, se empenha em “reunir todo mundo que, no Brasil, já tentou 
algum tipo de diálogo entre essas duas áreas do conhecimento, para compor o repertório 
da disciplina”2, segundo o professor Fábio Ulhoa Coelho. 
Justifica o advogado Marcelo Guedes Nunes3, presidente da Associação Brasileira 
de Jurimetria (ABJ), diferentemente das normas abstratas, os processos e fatos jurídicos 
surgem em populações numerosas, cujas características, entretanto, permitem uma 
sumarização. Explica a jurimetria no seguinte sentido: 
 
A jurimetria é, portanto, a disciplina resultante da aplicação de modelos 
estatísticos na compreensão dos processos e fatos jurídicos. [...] a jurimetria, ao 
descrever os interesses concretos dos agentes jurídicos, seus conflitos e as 
soluções oferecidas pelos julgadores, pode auxiliar o direito a entender melhor o 
que os cidadãos esperam das autoridades e, assim, auxiliar as autoridades a 
elaborar leis mais aderentes à realidade social. Ao descrever a vida concreta do 
direito, a jurimetria se torna uma ferramenta fundamental para desenvolver 
instituições jurídicas mais justas e capazes de realizar as aspirações políticas da 
sociedade. 
 
Um dos campos em que o diálogo entre Direito e Economia se demonstra fecundo 
reside na calculabilidade dos riscos jurídicos que envolvem a segurança jurídica. 
Dependendo da forma como o Judiciário se comporta frente a um aspecto pode advir um 
comportamento econômico negativo, que comprometa o estímulo às atividades 
empreendedoras. 
Pesquisa acerca da morosidade e da falta de previsibilidade das decisões judiciais4 
demonstrou que o grande número de casos levados aos tribunais por pessoas, empresas 
e grupos de interesse, a insuficiência de recursos, as deficiências do ordenamento 
jurídico, o formalismo processual exagerado e a forma de atuação de magistrados e 
advogados são as causas que ocupam o topo na lista das mais citadas. 
A falta de credibilidade no sistema é demonstrada em outra pesquisa elaborada 
Associação Nacional dos Magistrados5 que revela que 91% dos empresários avaliaram o 
Judiciário como ruim ou péssimo no que concerne à sua agilidade. 
 
2 MAGRO, Maíra. Estudiosos querem mapear Justiça. Disponível em: < 
http://www.senado.gov.br/noticias/OpiniaoPublica/inc/senamidia/notSenamidia.asp?ud=20110726&datNotici
a=20110726&codNoticia=582411&nomeOrgao=&nomeJornal=Valor+Econ%C3%B4mico&codOrgao=47&tip
Pagina=1>. Acesso em: 13.09.2012. 
3 NUNES, Marcelo Guedes. O que é jurimetria: como se fazem boas leis. A jurimetria a serviço da 
advocacia. Disponível em: < http://abjur.org.br/o-que-e-jurimetria.php>. Acesso em: 13.09.2012. 
4 ZYLBERSZTAJN, Decio; SZTAJN, Rachel. Direito e economia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. p. 253. 
5 VIANNA, L. W.; CARVALHO, M. A. R.; MELO, M. P. C; BURGOS, M. B. O perfil do magistrado brasileiro. 
Projeto diagnóstico da Justiça. AMB/IUPERJ, 1996. In: ZYLBERSZTAJN, Decio; SZTAJN, Rachel. Direito e 
economia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. p. 251. 
http://www.senado.gov.br/noticias/OpiniaoPublica/inc/senamidia/notSenamidia.asp?ud=20110726&datNoticia=20110726&codNoticia=582411&nomeOrgao=&nomeJornal=Valor+Econ%C3%B4mico&codOrgao=47&tipPagina=1
http://www.senado.gov.br/noticias/OpiniaoPublica/inc/senamidia/notSenamidia.asp?ud=20110726&datNoticia=20110726&codNoticia=582411&nomeOrgao=&nomeJornal=Valor+Econ%C3%B4mico&codOrgao=47&tipPagina=1
http://www.senado.gov.br/noticias/OpiniaoPublica/inc/senamidia/notSenamidia.asp?ud=20110726&datNoticia=20110726&codNoticia=582411&nomeOrgao=&nomeJornal=Valor+Econ%C3%B4mico&codOrgao=47&tipPagina=1
http://abjur.org.br/o-que-e-jurimetria.php
27 
 
 
Os que rejeitam a Law and Economics entendem que o direito estaria a serviço do 
capitalismo, para maximização dos lucros. Porém os lucros são cálculos contábeis e não 
econômicos, a economia analisa o comportamento do agente econômico diante de certo 
fato. Assim, a análise economia comporta não somente aspectos contábeis, mas ampla 
discussão acerca da sociedade. 
A própria legislação econômica possui, à semelhança da maior parte do 
ordenamento, um conteúdo econômico, entretanto, há, porém, neste conjunto, um plus 
representado pela economicidade que transcende o dado meramente econômico, 
“apresentando um núcleo caracterizado pela racionalidade econômica a serviço da 
realização do justo, no âmbito sócio-econômico”6, ou seja, medida jurídica de direção e 
orientação da justiça sócio-econômica estatal. 
A resistência à análise econômica do direito pode ser compreendida em razão das 
diferenças metodológicas utilizadas na ciência jurídica e na ciência estatística, a primeira 
baseada em regra genérica a ser aplicada em casos específicos e a segunda assentada 
em análise de dados gerais para extração da regra específica: 
 
Por conta de diferentes metodologias utilizadas pelos dois ramos do conhecimento 
– o modelo dogmático e abstrato ensinado nas escolas de Direito e a construção 
de modelos a partir de dados empíricos recolhidos na sociedade associados a 
teorias – nas escolas de economia-, os operadores do Direito veem com 
desconfiança e com restrições as tentativas de associar o raciocínio econômico 
aos esquemas abstratos predominantes na formulação e análise das normas 
jurídicas7. 
 
Segundo Rachel Zylbersztajn e Decio Sztajn8, as críticas ao avanço da combinação 
de Direito e Economia, entretanto, vêm perdendo terreno pela demonstração de que a 
contribuição é positiva, demonstrando o equívoco na afirmação de que a economia busca 
eficiências enquanto o Direito se prende à promoção da questão ser/dever ser, com o 
objetivo de dizer que as posições são irreconciliáveis. Justificam que os fatos 
considerados sob a ótica quantitativa e empírica, própria do método econômico, em nada 
destrói a argumentação jurídica, qualitativa. 
O Conselho Nacional de Justiça é um órgão administrativo do Poder Judiciário e 
tem como missão “contribuir para que a prestação jurisdicional seja realizada com 
moralidade, eficiência e efetividade, em benefício da sociedade”, destacando-se, dentre 
suas diretrizes, a “ampliação do acesso à justiça, pacificação e responsabilidade social” – 
que tem relação direta com os métodos alternativos de solução de conflitos, além da 
“modernização tecnológica do Judiciário”9. 
Nesse sentido, a resolução 125 de 29 de novembro de 2010 dispõe sobre a Política 
Judiciária Nacional de Tratamento Adequado dos Conflitos de Interesses no âmbito do 
Poder Judiciário e dá outras providências, como criar um banco de dados com plena 
ênfase à tecnologia. Dessa forma,

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