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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ Artigo Cientifico Autor: *Edison Leonardo Duarte Biancardine Curso: Licenciatura em História Polo: Campos dos Goytacazes Orientador: Alessandra Silveira Borghetti Soares Campos dos Goytacazes 2019 O TIGRE DA ABOLIÇÃO: JOSÉ DO PATROCÍNIO UM LUTADOR DE SEU TEMPO RESUMO José do Patrocínio nascido em campos dos Goytacazes em 8 de outubro de 1854, filho de escrava forra; Maria do Espírito Santo com Cônego José Carlos Monteiro. Mestiço, em uma sociedade escravista foi mandado ainda jovem a Capital, Rio de Janeiro, onde estudou humanidades se formando em farmácia em de 1877, Apesar de sua formação em Farmácia ele pouco militou nesta seara, Patrocínio destacou-se no jornalismo e como romanista, o primeiro jornal o qual trabalhou foi na Gazeta de notícias como redator, alguns anos depois com apoio de seu sogro adquiriu o seu próprio Jornal, nessa época se dedicou em lutar pela abolição, adquirindo o pseudônimo: O Tigre da Abolição. Dentre as obras de José do Patrocínio destacamos: Mota Coqueiro ou Pena de Morte, Campanha Abolicionista, Pedro Espanhol, Os Ferrões. Quando estava com 34 anos a Lei Aurea foi assinada, sua popularidade ficou abalada pelo agradecimento a Princesa Isabel, mesmo abolicionista foi acusado de defender a Monarquia em momento que a sociedade respirava anseios republicanos. Veio a república e apesar de demonstrar simpatia por Deodoro da Fonseca lhe pesava acusação de monarquista, no Governo de Floriano Peixoto ele foi perseguido e desterrado para Cucuí no Amazonas. O homem idealista, intelectual e abolicionista, teve sua vida marcada não só por tudo isso, mais pelo que produziu, ele ocupante da cadeira de número 21 da Academia Brasileira de Letras e um dos fundadores, este mulato; farmacêutico, escritor, jornalista é uma das figuras mais importantes do Brasil, um homem com uma vida ímpar. PALAVRAS CHAVES: Abolicionista, José do Patrocínio, República 1 1. INTRODUÇÃO Pretende-se falar mais sobre um dos maiores vultos da história Brasileira em um contexto de efervescência social, cultural e ideológica que se passava no Brasil e em especial no Rio de Janeiro até então capital do país. Falar sobre o Abolicionista representante direto da raça ofendida, do homem, do pensador, do empreendedor dentro desse aspecto de empreendedorismo pode-se destacar algumas de suas façanhas: Farmacêutico, romancista, jornalista dono de jornal de nome “A Cidade” e até iniciou a construção do “santa cruz” um dirigível. Nossa tentativa é a de abordar seus feitos, exaltar a luta, dar a real dimensão de quem foi esse grande homem, esse ícone de nossa história que ocupa um espaço expressivo, mais bem aquém da grandeza real. Falar do Republicano, do homem que após consolidada a Republica foi acusado de Isabelista e de Monarquista. Comentar do homem perseguido e banido, depois de contribuir tanto para nossa cultura e para nossa história. Segundo Eridan passos: Fascinou-me a trajetória do negro que conquistara um lugar na elite social do país e que se colocara, para usar uma expressão de Joaquim Nabuco, como mandatário de sua raça, na luta contra a escravidão. (passos, 2016) Do homem negro que em seu funeral parou-se as ruas da capital do país, movendo multidões de anônimos e famosos, de pessoas que apenas queriam se despedir daquele que entrava a eternidade deixando nesse mundo; seu nome e os feitos registrados também para a eternidade. Verdadeiro tributo a quem fez o impossível em um mundo de pouquíssimas possibilidades e enormes desafios, um trabalho que tenta demonstrar um pouco da luta do herói da abolição 2 poucas são as pessoas capazes de mudar a mentalidade de uma época. Primeiro porque elas precisam estar completamente convencidas da causa que abraçaram, o que não é uma tarefa das mais fáceis. Mas também porque, para influenciar a forma de pensar de toda uma sociedade, é necessário se ver como agente dentro de um determinado contexto histórico. José Carlos do Patrocínio, mais conhecido dos livros de História apenas como José do Patrocínio, foi um desses brasileiros raros e peça-chave naquele que pode ser considerado o ponto de mutação para o Brasil contemporâneo – a extinção da escravatura.(trecho tirado de “A Alma nobre do Abolicionista José do Patrocínio” da série heróis e heroínas do Rio, de Sandra Machado. 1. FORMAÇÃO Em Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, aos 8 dias do mês de outubro de 1854, nascia um mestiço, filho de uma negra liberta que era quitandeira, e tinha por nome Maria do Espirito Santo e do Cônego José Carlos Monteiro. Seu pai o levou para a fazenda mesmo sem nunca ter reconhecido oficialmente sua paternidade ele cresceu ali na qualidade de negro liberto, desde cedo o jovem José assistia castigos que sobrevinham aos escravos. Com 14 anos de idade, já concluída a educação primária, foi para o Rio de Janeiro, alguns autores dizem que josé do patrocínio foi com a “permissão” e seu pai, outros que ele foi mandado, o fato é que lá trabalhou como servente de pedreiro na Santa Casa de Misericórdia durante um tempo o padre (seu pai) o ajudou com algum recurso, mas o padre estava cada dia mais descapitalizado e isso se dava sobretudo pela vida boemia e por jogos. José morava com um amigo João Rodrigues Pacheco Vilanova, que o apresentou a um militar chamado Capitão Sena, marido de sua mãe, este militar que morava em São Cristóvão deu-lhe abrigo e em troca patrocínio lecionava a seus filhos, este Capitão mais tarde viria a se tornar seu sogro, José casou com Enriquieta “dona bibi”. Assim Patrocínio foi trabalhando e 3 pagando por seus estudos, em 1868 entrou para a faculdade de medicina e lá se formou em Farmácia. Mas foi no jornalismo a sua descoberta. Em 1875, escrevia no jornal, Os Ferrões. Na casa de seu sogro ele participou de várias reuniões republicanas e abolicionistas ali ele começou a se politizar, na casa do Capitão Sena começaram as primeiras reuniões do Clube Republicano, a filha do Capitão e futura esposa de Patrocínio ajudava na organização. Após trabalhar no jornal Os Ferrões por 10 edições que eram mensais ele foi para o Gazeta de Notícias ao convite do dono daquele periódico, o senhor Ferreira Araújo, ali ficou responsável pela crônica política. "José do patrocínio, mulato, filho bastardo de escrava e vindo da senzala, sentia-se o legítimo representante dos escravos brasileiros”. (Terra 2002:p.187). 1.1. A Política José do Patrocínio teve ação direta na política através dos Periódicos que lhe conferiram notório saber, prestígio, engajamento e a descoberta de seu propósito no mundo, no jornal Gazeta de notícia ele teve pseudônimo que logo se popularizou; Phudhome ao longo de sua carreira passou por outros periódicos e teve outros pseudônimos tais como; Notus Ferrão; Justino Monteiro, Pax Vobis e Pombos Correios “A forma de escrever de José do Patrocínio conquistou admiradores, logo despontou como republicano e como abolicionista. "Como orador, Patrocínio era imbatível. Com isso, angariou fama e, também, muitos desafetos. Como nos diz Ernesto Sena: “Patrocínio tinha, pelo seu temperamento, pela alta generosidade de seu grande coração, a fraqueza de se deixar sugestionar facilmente quando em seu espírito pairava a suspeita de que lhe tentavam marear o brilho do ideal político, e então ninguém como ele sabia atacar de frente, arrogante e terrível, o adversário. Ninguém possuía, 4 como ele, a facilidade na argumentação e a violência na linguagem, que ridiculariza, que acabrunha e que desorienta o inimigo debaixo de [um] sem número de imagens e comparações que muitas vezes definem por completo uma individualidade”. Numa polêmica com o filósofo Sílvio Romero, por exemplo,o chama de “teuto maníaco de Sergipe”, “Spenser de cabeça chata”, “macaco de Tobias Barreto” e ex-Ramos” (pois o nome de batismo de Romero era Sílvio Vasconcelos da Silveira Ramos)."1 José do Patrocínio trabalhou pró -abolição de forma aguerrida nessa caminhada tão árdua ele teve por companheiro tantos outros abolicionistas de reconhecidos .como Joaquim Nabuco, Lopes Trovão, Teodoro Sampaio, Paula Nei, Quintino Bocaiuva e Pardal Mallet, alguns desses ele conhecia desde os primórdios do Clube Republicano na casa de seu sogro. No dia 3 de agosto de 1880 Patrocínio começaria seu contato político direto com as multidões, foi nessa data no Teatro São Luiz e aquela multidão presente foi a primeira a ser conquistada através da oratória, muitas outras pessoas já o tinham como referência por seus textos. “Há já muito tempo sou continuamente alvo das mais dolorosas calúnias e das mais cruciantes injúrias. Os meus adversários, em cuja vida privada nunca penetrei, muitas vezes só em respeito à compostura da imprensa, divertem-se em pintar-me como chaga mais cancerosa da nossa sociedade. (...)Não quero, porém, deixar que por mais tempo o povo brasileiro acredite, sob palavra dos meus amigos, na minha honra e no desinteresse com que tenho servido à causa da abolição, que eu entendo ser a da reorganização moral e econômica da minha pátria. Passo a citar fatos. Perguntam-me como vivo e de que vivo e têm razão. Quem sabe que eu sou filho de uma pobre preta quitandeira de Campos deve admirar-se de me ver hoje proprietário de um jornal e de que eu pudesse fazer uma viagem à Europa. Vamos a explicações. Comecei minha vida como quase servente, aprendiz extranumerário da farmácia da Santa Casa de Misericórdia, em 1868. (...)Fui sempre trabalhador, mas sempre altivo. Desde 1868 comecei a estudar. (...)Não é possível dar minuciosamente todas 1 (https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/paulo-cruz/aprendendo-com-jose-do-patrocinio/) https://www.gazetadopovo.com.br/vozes/paulo-cruz/aprendendo-com-jose-do-patrocinio/ 5 as informações uma a uma. Devo, porém, ao público, o nome das pessoas com que tive relações: são estes cavaleiros, os meus amigos Dr. José Américo dos Santos, Manoel ribeiro, Antônio Justianiano Esteves Jr. Dr. André Rebouças, Dr. Ubaldino do Amaral, comendadores Moreira Filho, Martins Pinho, João José dos Reis & Comp., Luís ribeiro Gomes, visconde de Figueiredo, Luiz A. F. de Almeida e a diretoria do Banco do Comércio. A todos estes recorri, pedindo crédito e obtendo-o, satisfiz os meus compromissos, de modo que se evidenciava o meu trabalho e o meu sacrifício. (...)Eu sinto realmente não ter podido dar a meus inimigos a satisfação de me verem pálido e morto. Desculpem-me esses senhores, se eu vivo com a cabeça alta e curado do meu fígado. O pecúlio que eu como é o do trabalho e da honra, a Kermesse que me sustentou na Europa foi o tino e a dedicação dos meus companheiros de trabalho e dos meus amigos do comércio a quem abraço 11 daqui afirmando- lhes que sempre fui, sou e que serei digno deles. (PATROCÍNIO, 1884:1). Patrocínio com se companheiro naquele momento o Lopes Trovão, faziam caravanas para discursar pela abolição, também jornais como: A Gazeta da Tarde e Cidade do Rio ficaram com performance abolicionista com a influência e o trabalho de Patrocínio, a intenção era sempre de mostrar a população que a escravidão era absurda e também pressionar o legislativo, na sede da Gazeta da tarde na data de 10 de maio de 1883 nascia a Confederação Abolicionista no dia seguinte a confederação lançava um manifesto que seria assinado por entes congêneres e por personalidades abolicionistas de bastante expressão como; Adré Rebolsas e Aristides Lobo. 1.2. PATROCÍNIO, MAÇONARIA E ABOLIÇÃO Na Maçonaria existiram negros famosos e um desses foi o Patrocínio, não só ele mais outros como André Rebolsas e Luiz Gama, claro que isso conferia- lhes certa vantagem, abria-lhes certas portas onde conheceram muitas pessoas importantes em seu tempo e mais ainda para eles, não podemos esquecer que até então estamos tratando de uma sociedade escravista com forma de governo Imperial. “Como aponta Renata Ribeiro Francisco “A sobrevivência social de mulatos dependeu do estabelecimento de apadrinhamentos, os habilitava a circularem 6 em certos espaços. Mas, mesmo se valendo de tais arranjos sociais, que pareciam ser eficientes, observamos que a entrada efetiva da maçonaria no Brasil no início do século XIX colaborou em certo sentido para a modernização dessas relações. A maçonaria carregava em si elementos próprios desse modelo de apadrinhamento, pois era sociedade de ajuda mútua, mas acrescida de outros elementos como a ritualística e segredo compartilhados por aqueles que nela ingressavam. (AZEVEDO, 1996/97:182) Tínhamos aí uma espécie de “apadrinhamento maçônico”, novidade que atrairia sobremaneira, jovens estudantes e carreiristas iniciantes. As possibilidades vislumbradas pela maçonaria logo exerceriam atração sobre nossos mulatos Francisco Gê Acaiaba Brandão de Montezuma (1794-1870), Joaquim Saldanha Marinho (1816-1895), José Ferreira de Meneses (184?-1881)3 , Luiz Gama (1830- 1882), José do Patrocínio (1853-1905), Eutíquio Pereira da Rocha e tantos outros, cujas identidades étnicas maçônicas não nos foram reveladas4 .”( Por talentos e virtudes: trajetórias maçônicas de negros abolicionistas, XXVIII Simpósio Nacional de História, Renata Ribeiro Francisco)” A maçonaria fundava instituições para lutar contra a escravidão, dentre elas podemos citar a “Sociedade brasileira contra a escravidão” os maçons lançaram o “Manifesto Programa dos Advogados Contra a Escravidão” um bom exemplo dessa luta dos mações foi o Martinho Prado Júnior que contribuiu para o término da escravidão. Fundando no dia 2 de julho de 1886 a Sociedade Promotora da Imigração, que lutava pela introdução de imigrantes em São Paulo, muitos mações ilustres colaboraram para a luta contra a escravidão com exemplo citamos: Marechal Deodoro da Fonseca, Martinho prado Junior entre outros. 1.3. A Viajem ao Nordeste Em 1878 Patrocínio viaja para o Ceará, naquele momento o objetivo era, com a missão de enviar informações a corte sobre a seca no nordeste, esse período a população de Fortaleza havia quituplicado, pois o sertanejo fugindo da fome, 7 fugindo da miséria e do abandono corria para os grandes centros deixando suas terras para trás. 2 “O que José do Patrocínio observa, portanto, é a decadência de um mundo rural aparentemente indestrutível, posto que ancorado na regularidade e na segurança da natureza, mas que se desagrega pela seca – o caos!)”(A miséria na literatura, José do Patrocínio e a seca de 1878 no Ceará,Frederico de Castro Neves)3. Por quase todas as províncias haviam relatos de retirantes que se espalhavam por vários locais do Império, com relatos da miséria, os peródicos tratavam o assunto com sensacionalismo habitual, estavam todos comovidos, todas essas tensões eram observadas e sentidas por Patrocínio, em artigos escritos por ele já havia indicação de suas preocupações sobre a viagem, sobre a seca, sobre a tragédia que estava se desenhando. Patrocínio aponta o enfraquecimento dos “Coronés” que não conseguiam manter seus o sertanejo em suas terras e área de influencia, também falava sobre a prostituição que crescia sobremaneira nesses lugares, a imagem realmente marcante dessa viagem foi a visão dos flagelados, e a dureza com quem a seca os castigava, uma contemplação terrível do resultado da soma de fatores como: seca, pobreza e abandono. Como afirmou Patrocínio: “Conservaram-se límpidas, em todas as memórias, as recordações dos tempos prósperos, levando ao desespero os chefes de família, incapazes de evitar, ou meramente compreender o processo que estavaminseridos” (Gazeta de Notícias, Rio de janeiro , 22.08.1878) Da viagem ao nordeste do brasil José do Patrocínio criou o seu romance “ Os Retirantes” Patrocínio, que tem nesse romance por tema principal a verdadeira odisseia dos retirantes que migram para os grandes centros atrás de uma vida melhor ou apenas não morrer de fome e sede, destaca-se ainda na obra como a seca afetou a vida não só dos mais pobres porém das pessoas das famílias mais ricas naquele lugar 2 http://dx.doi.org/10.1590/S1413-77042007000100005 3 http://dx.doi.org/10.1590/S1413-77042007000100005 8 A obra fictícia “Os Retirantes”, criava uma história sobre um povoado extremamente religioso no sertão, conta detalhes e misérias no local, disserta sobre os dramas em um cenário tenebrosamente miserável. Apesar de romance, apesar de ficção nada escrito nessa época seria capaz de mostrar com tanta clareza toda a desgraça que estava ocorrendo no Nordeste, isso trouxe grande comoção ao povo da capital e de todo império, foi como abrir a ferida: “. [...] o pânico feriu, de improviso, a energia das populações do Sudoeste assim como a de toda a Província do Ceará. Estatelavam todas ante a perspectiva hostil do futuro, numa resignação de faquir que se imola, e, como se tivessem um prurido de angústias, recontavam-se histórias de outras épocas horrorosamente calamitosas. Demais, a superstição abriu logo as longas asas de corvo e pairou sobre os espíritos acovardados. (PATROCÍNIO, José do. Os Retirantes vol. 1, 1973, p. 24). 4 José do Patrocínio apesar de ser negro em uma sociedade escravista tinha status privilegiado, pois nunca fora escravo, era intelectual, através de seus escritos se fez conhecer, e todo esse prestígio José se valia para difundir ideias abolicionistas e atacar o Império que estava com sua imagem negativa após a guerra do Paraguai e tantos outros levantes, e agora a seca, concluímos que josé não foi convidado para essa missão, em vão, quem sabe D. Pedro II queria mostrar através de um de seus maiores questionadores que estava fazendo ua parte por aquele povo? Na verdade o que ocorreu foi mais prestígio acadêmico e político dentre a sociedade como um todo e em especial entre intelectuais, além de lançar Patrocínio em mais uma relevante luta social daquele momento do Brasil, e de forma alguma houve qualquer melhoria na imagem do Império quem com a tímida iniciativa só foi capaz de confirmar a tragédia e promover as idéias contrárias ao regime que já eram um fato. 1.4. Abolição Já em 1875 Patrocínio lançou “Os Ferrões” no ano seguinte escreveu um poema para a Princesa Isabel, em 1883 em contato com outros movimentos abolicionistas criou-se a Confederação Abolicionista, em 1887 José foi eleito 4 http://www.faculdadedamas.edu.br/revistas/index.php/neari http://www.faculdadedamas.edu.br/revistas/index.php/neari 9 para a câmara de vereadores do Rio de Janeiro, no dia 13 de maio de 1888 a Princesa Isabel assinou a Lei Aurea . Patrocínio fazia circular panfletos na corte de teor abolicionista e isso se deu até o dia em que a Lei foi assinada, por sua dedicação ele foi chamado de “Tigre da Abolição. Com a abolição houve um breve momento o qual nosso tigre da abolição ficou esquecido, porém logo veio a Republica, com ela novas lutas, outros desafios e uma perseguição antes inemaginável, um desgaste em sua pessoa pública e inimigos terríveis, porém a história mostrou-nos que com acertos e quase nenhum atropelo houve vitória.5 A abolição aproximou muito Patrocínio da corte em especial da Princesa Isabel, principalmente no ato da assinatura da Lei Aurea onde Patrocínio de forma quase teatral foi agradecer a Princesa quase de joelhos, isso não foi bem visto por muitos, e isso trouxe-lhe problemas que contaremos no próximo capitulo desse singelo trabalho. 1.5. FINALMENTE REPUBLICA E então o Brasil acorda Republica, falamos isso pois o povo nem percebeu o movimento, apenas os poderosos do novo regime anunciaram, os pouco que sabiam ler o fizeram, não por periódicos naquela mesma data, mais folhetins, e fofoca nas praças e em comércio. A proclamação não teve sua base em vontade popular, em iniciativa vinda das camadas basilares daquela sociedade, haviam sim movimentos republicanos, porém nada marcado, nenhuma data, exército de revoltosos, manifestações populares e coisas desse tipo. Tentaremos expor começando por Marechal Deodoro da Fonseca, um oficial herói da Guerra do Paraguai, e contrário a Republica, porém no dia 15 de 1889 militares foram ao Campo de Santana dispostos a derrubar o antigo regime 5 https://www.migalhas.com.br › migalhas quentes. 10 Quem eram esses militares? Na verdade não haviam oficiais Generais, não houve apoio da marinha, eram sim, um grupo de jovens oficiais, da Escola Militar da Praia Vermelha que marcharam em direção do velho Marechal e exigiram a Republica, todos aqueles jovens haviam sido alunos de Benjamin Constant que dava aulas de matemática na citada Escola. Como tiveram tanta força? Temos de observar o cenário, podemos iniciar pelo desgaste político do Império em relação as Oligarquias do País que financeiramente ficaram abaladíssimos com a Abolição, o descontentamento no meio militar principalmente entre os oficiais de baixa patente, e desgaste da imagem imperial após o trágico desfecho da Revolta de Canudos. Pronto! Tínhamos uma república e um presidente que era o Marechal Deodoro da Fonseca, sem envolvimento popular, e sem melhorias para a população, pois essa republica era Oligárquica e visava a atender a demanda das camadas mais abastardas da sociedade. Qual a importância disso para nosso trabalho? Toda! Pois, um pouco antes dessa Proclamação a imagem de Patrocínio para com os Republicanos não era das melhores patrocínio sofria com a acusação de estar a frente da guarda negra. 1.6 A GUARDA NEGRA Esse movimento foi pelos republicanos ligados a José do Patrocínio, o que lhe rendeu problemas com o novo regime que se instalava no Brasil. A guarda negra foi um movimento de negros revoltosos, capoeiristas que, sobretudo causavam problemas nas reuniões públicas de orientação republicana, de alguma forma eles eram pró monarquia, sobretudo após a Lei Aurea. A guarda fazia intervenções violentas nas reuniões republicanas, enfrentavam a polícia e devido a isso e devido a ideia de que eles eram ligados a Patrocínio, inimigos da Guarda Negra se tornaram inimigos de patrocínio, dentre os novos inimigos destacamos Silva jardim, que se consolidou como o maior oponente de Patrocínio. 11 Como afirma Humberto Fernando Machado, em seu trabalho, Abolição e Cidadania: A Guarda Negra da Redentora no Rio de Janeiro “Os atritos com Silva Jardim assumiram uma maior dimensão devido ao conflito ocorrido numa Conferência do propagandista republicano na Sociedade Francesa de Ginástica, próximo ao Largo do Rocio, no centro do Rio de Janeiro, em 30 de dezembro de 1888. Durante o evento, membros da Guarda Negra interromperam o seu discurso de forma violenta, invadindo o teatro aos gritos de “viva a monarquia e a Princesa Isabel”.6 Como afirmou; Augusto de Oliveira Mattos em seu trabalho: A proteção multifacetada: As ações da Guarda Negra da Redemptora no caso do Império (Rio de Janeiro 1888-1889) “O estudo da Guarda Negra da Redentora contempla todos esses sítios. Odiada e amada por muitos, mas talvez não compreendida por todos, a organização tentava materializar o sentimento fundamental de pertencimento”. 1.7 JOSE E O MARECHAL DE FERRO Floriano Peixoto foi o segundo presidente do Brasil, herói da guerra do Paraguai, veio dessa empreitada com a manta de Solano Lopes, noGoverno Provisório foi ministro da guerra e no ano seguinte eleito vice-presidente com a renuncia de Deodoro tornou-se Presidente. Foi o vice-presidente de Deodoro e com a renúncia veio a assumir e tornou-se o segundo Presidente da jovem Republica e nesse contexto o Patrocínio era acusado de ser “Isabelista” para muitos republicanos e para o então presidente, um inimigo que representava o risco de retorno do antigo regime, embora tivesse negado sempre essas acusações, veja a publicação dele: “O que nos levou ao isabelismo foi o sentimento abolicionista nacional, acreditamos que a monarquia tenha rompido de vez, que nunca mais recorreria, para colaboradores de sua política, aos remanescentes d‟esse episódio de ignomia. Tínhamos declarado que não haveria entre nós e estes ipenitentes, criminosos do maior atentado contra a nossa pátria, conciliação possível. Para demostra- lo fingimo-nos a tortura moral do afastamento do nosso partido, quando ele avolumou-se comA onda de 14 de Maio. ( PATROCÍNIO, 1889 apud VASCONCELOS,2011,P.134). 6 https://xn--histria-o0a.ufrj.br/ https://hist�ria.ufrj.br/ 12 Ganhou o apelido por conta de ter seu governo marcado por revoltas e pelo uso da força para debelar tais movimentos, e por falar em força o Marechal “eliminou” a ameaça que seria a Guarda Negra, outra situação ligada pelo imaginário popular a imagem de José do Patrocínio. Embora patrocínio tivesse demonstrado certa simpatia a Deodoro a opinião pública da época havia ligado José a figura da monarquia e Floriano não perdoou e perseguiu com vigor a pessoa de José do Patrocínio7 1.8.O DESTERRO José do Patrocínio logo lançou-se a causa do povo e começou a criticar publicamente Floriano Peixoto, isso lhe rendeu muita perseguição e por fim foi desterrado para Cucuí na região amazônica e teve de deixar seu jornal “ A cidade do rio” nas mãos de outras pessoas, mais logo foi fechado por soldados de Floriano. Em 1893 Patrocínio volta, quase que clandestinamente, se manteve em silencio, porém voltou doente, ano seguinte Prudente de Moraes assume e então as coisa ficam melhores para José A intenção de Prudente de Morais era de pacificar a Republica, e começou por anistiar os desterrados de Floriano Peixoto, e fazer um governo constitucional, o Jornal A Cidade do Rio voltou a circular até 1902.8 1.9 A MORTE No teatro Lírico em meio a uma homenagem a Santos Dumont, em momento em que saudava-o passou muito mal, teve uma hemoptise, nessa fase de sua vida ele pensava muito na aviação, e estava se dedicando ao projeto do Santa Cruz que seria um dirigível, essa empreitada começou no momento em que ele teve de ficar anônimo por causa da perseguição. 7 books.google.com 8 https://www.historia.uff.br/stricto/td/1464.pdf https://www.historia.uff.br/stricto/td/1464.pdf 13 Patrocínio participou da primeira importação de automóvel do brasil, na condição de comprador, isso pouco antes de quebrar financeiramente, ele já não gozava do prestígio de antes, era como se as pessoas tivessem esquecido de sua luta de sua importância No dia 29 de Janeiro de 1905 morria Patrocínio, faleceu em casa, muito simples por sinal. “O herói, José do Patrocínio! O que recebeu em troca, no final de sua vida? Nada. Só abandono e esquecimento. Viveu seus dois últimos anos com dignidade. Sofrendo em silêncio. Sem nada a mendigar a uma sociedade que o esquecera” (josé do patrocínio do patrocínio, o abolicionista dionisíaco, de Eridan Passos) Houve grande comoção social na época, o funeral de Patrocínio, o cortejo foi acompanhado por multidões, políticos e celebridades da época compareceram, no caminho o cortejo parava e muitos faziam discursos exaltando as qualidades de Patrocínio, isso jamais havia ocorrido na capital, conforme afirmava a „Revista da Semana de 12 de fevereiro de 1905. Foram 14 dias de funeral, muitas as homenagens a Patrocínio, a Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro decretou luto por 3 dias, muitos jornais mandaram coroa de Flores, Olavo Bilac o Barão do Rio branco estão entre as pessoas e instituições que se consternaram com a morte de José, todas as classes que se possa imaginar homenagearam a Patrocínio, escritores, militares, intelectuais, políticos e o povo. 2.CONCLUSÃO Concluímos que José do Patrocínio foi um dos maiores Abolicionistas do Brasil, um herói da abolição, que Patrocínio foi um dos maiores Jornalistas que esse país já teve, que José foi um dos maiores intelectuais dessa pátria, ocupante da cadeira de número 21 da Academia Brasileira de Letra e um de seus fundadores, um grande visionário, dono de jornal, vereador do rio de janeiro, o primeiro a importar um veículo automotor no Brasil, tentou fazer o dirigível santa Cruz o que lhe consumiu os últimos recursos financeiros. Um homem ímpar, um grande cidadão Brasileiro Tudo poderia ter dado errado, para o filho do Vigário com a escrava forra, ele sendo negro em uma sociedade escravista, vindo para a capital ainda menor, sem ter quem se responsabilizasse por custear a educação, tendo de trabalhar para estudar de ajudante de pedreiro, ainda sim encontrando forças para continuar seus estudos. 14 Mais não! Estamos falando de fibra, de garra, de sonhos, de crenças, de um conjunto que havia no interior de um homem que se lançou a aventura da vida e fez o seu melhor, estamos falando de um verdadeiro herói, estamos nos referindo do tigre da abolição. Até nos debruçar sobre o assunto tudo que sabemos sobre a escravidão é o que vemos nas dramaturgias, ou seja, nas novelas seriados. Isso por si não é capaz de nos revelar a riqueza das lutas, dos movimentos. Isso não nos revela os heróis. Como todo trabalho científico deve procuraremos manter distancia do senso comum, e observar todo esse panorama sobre outro ângulo, claro que nem será difícil elencar as qualidades e feitos do Tigre da Abolição. Quando pensamos em um herói negro pensamos em alguém como Zumbi dos Palmares, que era sim um guerreiro, tinha sim liderança porém intelectualmente limitado, essa foi a imagem vendida todos esses anos, aí estudando mais um pouco, saindo do comum, nos deparamos com José do Patrocínio um homem inteligentíssimo, vemos que existiram outros como, André Rebouças. Isso nos faz pensar, será que mostrar sempre zumbi como herói, nas séries, nas novelas, nas escolas, e ignorar os grandes heróis negros intelectuais não seria também uma visão do colonizador? Bom seja como for estamos firmes em crer que o intelectual e abolicionista Patrocínio, é o maior representante da abolição e dos movimentos. Nesse trabalho procuramos exaltar a figura de José do patrocínio, expor um pouco de quem ele foi, e o que ele representou para nossa história, suas obras e suas conquistas, e não menos importante citar seus sofrimentos, pois a vida não é fácil pra ninguém, e no final de tudo esse trabalho é apenas uma forma de dizer: Obrigado Patrocínio! 15 3.REFERENCIA ALVES, Uelinton Farias. José do Patrocínio: a imorredoura cor do bronze. Rio de Janeiro: Garamond/Biblioteca Nacional, 2009. BRINCHES, Victor. Dicionário bibliográfico luso-brasileiro. Ed. Fundo de Cultura, 1965. BROOKSHAW, David. Raça e cor na literatura brasileira. Trad. Marta Kirst. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1983. BRUZZI, Nilo. José do Patrocínio: romancista. Rio de Janeiro: Aurora, 1959. CARVALHO, José Murilo de. Introdução. In: PATROCÍNIO, José do. Campanha abolicionista: coletânea de artigos. Rio de Janeiro. Fundação Biblioteca Nacional; Dep. Nacional do Livro. 1996. CONFORTO, Marília. 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