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Guia de Estudos da Unidade 2 - Línguistica

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Linguística
UNIDADE 2
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UNIDADE 2 - O SIGNO LINGUÍSTICO NA ESTRUTURA DA LÍNGUA
DICIPLINA: LINGUÍSTICA I
APRESENTAÇÃO
Na unidade passada, vimos noções e conceitos gerais que constituem a Linguística 
enquanto ciência. Você pôde perceber que há várias ideias do senso comum sobre a 
língua. A maioria delas sempre carregadas de preconceito. Essas ideias, no entanto, 
não têm sustentação científica, ou seja, não passam pelo crivo da Linguística, disciplina 
e campo do saber responsável pelo estudo das línguas naturais.
 
Nesta unidade, continuaremos a estudar a língua com base nos pressupostos da 
ciência linguística. Dessa maneira, você poderá compreender melhor como essa 
disciplina se constituiu e como sua forma de pensamento se diferencia do senso 
comum. Na unidade 1, fomos apresentados ao pensamento do pai da Linguística, o 
genebrino Ferdinand de Saussure. Esse estudioso dedicou-se a delimitar os objetos 
de estudo e os objetivos da Linguística em detrimento de outras disciplinas que, para 
ele, também se dedicavam ao estudo das línguas, tais como a Psicologia, a Filosofia e 
a Estilística. O trabalho de Saussure é muito relevante porque, através de suas ideias, 
a ciência do século XX pôde vislumbrar o nascimento de uma disciplina que estuda as 
línguas naturais a partir de um método científico, o que até então não existia.
 
As ideias de Saussure são sistematicamente representadas pela existência de 
dicotomias, ou seja, dualidades, pares de conceitos opostos. É muito mais fácil 
entender o pensamento saussuriano a partir da diferença entre dois conceitos em vez 
de tentar explicá-los separadamente. Por essa razão, nesta seção, estudaremos três 
das principais dicotomias de Saussure (que são quatro, no total).
•	 Significante e significado: nessa parte veremos um dos conceitos mais 
importantes do pensamento de Saussure, o signo linguístico. Como foi dito aqui 
anteriormente, é muito mais fácil compreender essa ideia a partir desse par de 
conceitos. Você poderá entender como a ciência linguística entende de forma 
diferente o funcionamento da linguagem.
•	 Língua e fala: depois de entender o que é um signo linguístico, vamos trabalhar 
com a ideia de língua e fala. Nesta parte você vai conhecer o conceito de língua 
que estimulou o aparecimento da Linguística e como Saussure delimitou o seu 
objeto de estudo, explicando a diferença entre a língua e a fala.
•	 Diacronia e sincronia: esses conceitos demonstram como podem ser os métodos 
de estudo da língua, a partir da visão escolhida pelo linguista. Podemos estudá-la 
de maneira histórica, considerando o desenvolvimento de uma língua ao longo do 
tempo, ou podemos delimitar um espaço de tempo específico e observar como a 
língua funciona naquele momento. Descobriremos o que Saussure achava dessas 
ideias.
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Agora que já sabemos o que vamos estudar, mãos à obra! Vamos continuar nossa 
gratificante tarefa de conhecer mais sobre a Linguística. Para iniciar nosso estudo, 
vamos antes assistir a um vídeo que traz, em aproximadamente 9 minutos, a vida e a 
obra de Ferdinand de Saussure. Segue o link: http://sereduc.com/EHg7oO
1 – O Signo Linguístico
Você se lembra de que, na unidade anterior, vimos que um dos principais objetivos 
de Saussure era diferenciar a Linguística de outras disciplinas? Uma das formas de 
fazer isso é delimitar o objeto de estudo dessa disciplina. Primeiramente é necessário 
delimitar o que o linguista observará quando estiver estudando as línguas. Ora, há 
diversos aspectos relacionados à língua, não é mesmo? Há os aspectos gramaticais, 
sonoros, fisiológicos, psicológicos entre outros. Então em que o linguista deve focar?
 
Para Saussure a linguística deve focalizar o estudo do signo linguístico. Mas o que 
seria o signo linguístico mesmo? Na página 48 do nosso livro-texto, encontramos 
a imagem 2.2, que representa graficamente o signo linguístico. Como comentamos 
anteriormente, a melhor maneira de entender o pensamento de Saussure é a partir 
das dicotomias, pares de conceitos opostos. A primeira dicotomia a qual devemos nos 
dedicar é a diferença entre significante e significado.
 
Para facilitar nossa compreensão, pensemos em um exemplo prático! Quando falamos 
a palavra “casa”, logo vem uma imagem à nossa cabeça. Essa imagem não precisa 
necessariamente ser uma coisa específica, não precisa ser uma casa de madeira ou 
de tijolos, com dois ou três andares, nem com uma quantidade de portas e janelas 
específicas. As particularidades da casa podem variar de acordo com quem estiver 
pensando. Certamente a casa que pensamos é diferente. No entanto, compartilhamos 
da mesma ideia, do mesmo conceito! Se pensarmos na palavra ‘casa’, naturalmente não 
pensaremos numa cadeira ou numa mesa, pensaremos em algo que reconhecemos 
como casa. Essa ideia que nos vem à cabeça é chamada por Saussure de significado, 
ou seja, a ideia ou o conceito que o homem ativa ao ter contato com palavras, gestos 
ou símbolos.
 
É importantíssimo compreender que o significado não acontece por si mesmo! Não 
é um objeto específico, mas uma ideia ou um conceito que nos vem à mente quando 
utilizamos uma língua. Para entender o significante, temos que pensar na outra face 
do significado! Se tivermos uma ideia na nossa cabeça, o que precisamos fazer para 
que outra pessoa possa saber o que estamos pensando? Ora, precisamos falar! Para 
falar é necessário que combinemos sons que possam ser reconhecidos por outras 
pessoas. Portanto, em língua portuguesa, se tivermos em mente o significado ‘casa’, 
precisamos combinar os sons das letras ‘c’, ‘a’, ‘s’ e ‘a’, e aí conseguiremos expressar 
a ideia que pensamos. O significante é, portanto, a imagem acústica que ativa o 
significado. Para outro exemplo, você pode dar uma olhada nas páginas 47 e 48 do 
seu livro-texto.
 
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Para entender o que é signo linguístico, é necessário compreender que ele é a junção 
da dicotomia significado e significante. Em outras palavras, o signo linguístico para 
Saussure é o significante (ideia/conceito) junto com o significado (imagem acústica) e 
eles são indissociáveis, ou seja, não podem ser separados.
 
Compreendendo o que Saussure chama de signo linguístico, fica fácil compreender 
o quanto o pensamento do estudioso é diferente das ideias do senso comum. 
Enquanto a maior parte das pessoas acredita que as palavras servem para nomear 
coisas, Saussure acredita que na verdade as palavras de uma língua (significantes) 
se ligam a conceitos (significados). E esse conjunto forma os signos! Mas por que 
isso é importante? A ideia de signo linguístico se faz relevante porque, a partir dela, 
pensamos na natureza simbólica e abstrata da linguagem. Para Saussure os signos 
linguísticos são aleatoriamente escolhidos, ou seja, não há nenhuma regra que diga 
que a casa é chamada de casa por alguma razão específica. Podemos perceber 
essa aleatoriedade, ao constatar como as diversas línguas do mundo fazem escolhas 
diferentes para nomear os mesmos significantes. Por exemplo, em inglês a palavra 
‘casa’ é house, em francês, maison, em norueguês, hjem, e assim por diante.
 
Na teoria saussuriana da linguagem, então, podemos perceber que a noção de signo 
é central. Vamos, agora, brincar de formas signos? Vimos que o signo é composto de 
duas “faces de uma mesma moeda”. Veja que esquema interessante pode ser feito a 
partir dessa ideia, contrastando palavras de várias línguas:
Viu como fica mais fácil de entender as noções de significante e significado a partir 
dessa associação?
O Signo linguístico como parte de uma estrutura
Até agora o conteúdo está muito simples, não é mesmo? O signo linguístico é a junção 
de um significante e um significado. No entanto, lembremos que, na seção anterior, 
vimos que Saussure compara a língua a um jogo de xadrez, portanto esses signos 
linguísticos fazem sentido quando colocados em oposição a outros signos linguísticos.
 
Vamos observar um exemplo na seguinte sentença:
Hoje teremos carnede porco para o almoço.
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Na frase acima temos um signo destacado, a palavra porco. Este signo pode ser 
entendido a partir da oposição com outros signos! Sabemos o que é porco porque 
diferenciamos esse tipo de carne de outros, como carne de boi, frango, peixe etc. Você 
entenderá melhor essa noção quando estudar na Unidade 3 as relações sintagmáticas 
e paradigmáticas da língua. No entanto, por agora, nós já podemos perceber que a 
língua se organiza da seguinte maneira: podemos reconhecer um signo da língua 
quando o diferenciamos de outros. Ainda com esse exemplo, nós também podemos 
perceber o quanto Saussure se diferencia da noção do senso comum de que a língua 
serve para etiquetar coisas no mundo!
 
Para exemplificar, tomemos como exemplo a língua inglesa! Em inglês são usados 
signos diferentes para falar do animal vivo e do animal morto. Por exemplo, para 
se referir ao animal vivo, usa-se a palavra pig em língua inglesa. Já para o animal 
morto, ou seja, a carne que servimos nas refeições, usa-se a palavra pork. Veja que 
interessante: ao traduzir a frase que usamos como exemplo, o tradutor tem que estar 
atento a essa diferença entre a língua portuguesa e a língua inglesa.
 
A partir desse exemplo, percebemos que, na verdade, a língua não nomeia coisas 
no mundo, mas relaciona conceitos abstratos a significantes. Ora, tanto em Portugal 
quanto na Inglaterra havia porcos e esses eram utilizados como alimento, entretanto 
são escolhidos dois significantes diferentes em língua inglesa, enquanto em português 
o mesmo significante é usado para os dois significados, o animal vivo e a carne do 
animal para alimento. Você pode encontrar mais exemplos no seu livro-texto, nas 
páginas 50 e 51.
 
Ainda no que diz respeito à questão do signo linguístico na estrutura da língua, é 
importante ressaltar que não podemos confundir o signo com as palavras, porque 
esses se referem a ideias diferentes. Conforme já discutimos, o signo linguístico é 
uma inter-relação entre um significante e um significado que não necessariamente 
precisa ser expresso em forma de palavra. Dentro das próprias palavras podemos 
encontrar mais de um signo; por exemplo, na palavra reafirmar, encontramos o prefixo 
re-, que se liga a ideia de fazer de novo e também é encontrado em outras palavras, 
como: reler, relembrar, refazer, reabilitar, entre outras. Portanto o prefixo re-, assim 
como outros afixos, desinências e vogais temáticas, também é considerado signo 
linguístico.
Signos linguísticos e percepção de mundo
Continuando com a nossa reflexão sobre a linguagem, percebemos que a ideia de 
Saussure modifica bastante a maneira como entendemos a língua, porque se levamos 
em consideração que a língua nomeia as coisas do mundo, é coerente que pensemos 
que a língua é limitada pelo mundo. No entanto, de acordo com o ponto de vista 
saussuriano, é o mundo que é, em certa medida, limitado pelas nossas experiências 
linguísticas! Tomemos como exemplo o caso da diferença entre pig e pork em inglês. 
Veja como, no caso dos falantes de inglês, há uma percepção diferente do mundo. 
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Foi o etnolinguista norte-americano Edward Sapir que discorreu mais acerca desse 
assunto. Ele percebeu que a língua mantém uma relação muito estreita com a cultura. 
Por exemplo, os esquimós têm mais de 50 palavras para indicar a neve, a mesma 
coisa não aconteceria para falantes de lugares que não têm neve. 
 
Dessa maneira, é importante que você entenda que os signos linguísticos não são 
absolutos em relação à realidade. Eles não representam perfeitamente o mundo, 
mas são recortes de realidades que dependem essencialmente de questões culturais 
para existir. Pelo menos, essa é a maneira com a qual a maioria dos linguistas 
contemporâneos compreende os signos linguísticos.
Características do signo linguístico
Vamos lembrar que, na Unidade 1, vimos que o signo linguístico não é o único que 
existe, mas que há vários outros signos, que fazem parte da linguagem não verbal, 
como imagens, gestos, dança, música entre outros. Por isso, é importante que 
você conheça as características dos signos linguísticos! Então vamos lá, você pode 
encontrar mais informações acerca dessas características nas páginas 55 a 59 do seu 
livro-texto.
•	 A arbitrariedade do signo: basicamente, Saussure entende que o signo 
linguístico é fruto de uma convenção social, ou seja, ele é aleatoriamente 
constituído e imotivado. Não haveria nada no signo linguístico “mesa” que 
justificasse a escolha por esse significante. Essa característica do signo é o 
que possibilita a existência de múltiplas línguas. Ora, se o significante fosse 
determinado pela essência de determinado objeto do mundo, não admitiríamos 
tantos signos diferentes para os mesmos significados. No entanto, o linguista 
genebrino lembra que há alguns signos da língua que são motivados, aqueles 
formados por derivação. O numeral vinte, por exemplo, é completamente 
arbitrário, no entanto dezenove é formado pela junção de dois outros signos 
dez e nove. Para saber de mais casos em que há motivação de signos, veja 
os exemplos na página 57 do seu livro. 
•	 A linearidade do significante: outra característica do signo linguístico é que 
este é linear, ou seja, dois signos não podem acontecer ao mesmo tempo. 
Não podemos falar duas palavras ao mesmo tempo, tampouco podemos 
pronunciar dois fonemas ao mesmo tempo. Cada signo linguístico tem que 
acontecer separadamente.
2 – Língua e Fala
Depois de entender a dicotomia significante e significado, que determina o conceito 
de signo linguístico, vamos passar para outra importante dicotomia no pensamento 
de Ferdinand de Saussure: língua e fala. Na unidade I, você pôde ver rapidamente a 
diferença entre língua (langue) e fala (parole), entretanto agora vamos nos debruçar 
mais profundamente no que seriam esses dois conceitos e compreender o porquê de 
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Saussure defender que o objeto da linguística deveria ser a língua em detrimento da 
fala.
 
Como sabemos, Saussure acredita que a língua é um sistema arbitrário de signos 
linguísticos. Com base nessa definição, vamos entender o que o linguista queria dizer 
com isso. Primeiramente percebemos que a língua é um sistema, ou seja, não é caótica, 
mas de alguma maneira organizada! A língua é constituída de regras, essas regras 
têm que ser compartilhadas pelos falantes e qualquer transformação ou mudança tem 
que se encaixar nessas regras e nelas se estabilizar. Contudo é importante que você 
se lembre de que as regras as quais nos referimos não são necessariamente regras 
das gramáticas normativas porque a linguística, conforme vimos na unidade I, não se 
preocupa em seguir essas regras. Há regras inclusive nos “desvios” da norma padrão 
como, por exemplo, na ausência de marca de plural apontada na unidade I. 
 
Ainda em relação à definição de língua de Saussure, por que o linguista acredita 
que a língua é arbitrária? Ora, porque, como você viu na sessão anterior, a língua 
é imotivada, ou seja, os signos são em sua maioria escolhidos de forma aleatória e 
não obedecem à essência da palavra! Lembra quando chegamos à conclusão de que 
há vários significantes nas diversas línguas do mundo para representar os mesmos 
significados?
 
Finalmente, Saussure também afirma que a língua é um sistema de signos linguísticos, 
ou seja, constituída a partir da relação do significado com o significante. Como sabemos, 
esses signos são arbitrários e identificados pela relação de oposição com outros 
signos e também são lineares, não aceitam sobreposições. Com isso, percebemos 
que o conceito de língua (langue) para Saussure é constituído de características bem 
objetivas, abstratas e estruturais. Mas você acha que a língua é só isso? Certamente 
não!
 
Há diversas outras questões que também fazem parte do que entendemos como 
língua! Questões culturais, políticas, históricas, afetivas, psicológicas entre outras. 
No entanto, devemos reconhecer que, na verdade, Saussure reconheciatodas essas 
múltiplas facetas das línguas. Para o linguista genebrino, todos esses aspectos que 
não faziam parte do sistema arbitrário de signos linguísticos eram incluídos no conceito 
de fala (parole).
 
Logo temos pelo menos duas grandes características básicas das línguas naturais. 
De um lado, temos todas as características estruturais e sistemáticas das línguas, 
ou seja, suas regras e regularidades. De outro lado, encontramos todas as questões 
relacionadas às variações, particularidades e exceções da língua. A língua representaria 
essas regularidades e a fala indicaria as particularidades.
 
Para Saussure, não seria possível estudar a língua e a fala de forma articulada. 
Então, para que a Linguística fosse constituída, necessariamente precisaríamos de 
uma separação e delimitação do seu objeto de estudo. O pai da Linguística propôs, 
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então, que essa disciplina apenas focaria nas questões estruturais das línguas, 
portanto na langue. Já a parole não deveria ser abordada pela Linguística, mas levada 
em consideração por disciplinas como a Psicologia e Filosofia, as quais estariam 
mais preparadas para trabalhar com questões como a variação, os problemas de 
compreensão, a função do contexto e da cultura na língua.
 
Hoje a maior parte dos linguistas reconhece que há possibilidade de trabalhar com a 
língua e com a fala de forma articulada. Na Linguística atual há diversas correntes, 
chamadas de funcionalistas, que conseguem articular o estudo das estruturas 
linguísticas com o contexto de uso da língua, a fala. Em particular, podemos chamar 
atenção para a Sociolinguística, tema da unidade 4. Essa corrente da Linguística se 
preocupa fundamentalmente com a relação entre as regras e regularidades da língua 
e questões de variação social, tais como idade, região geográfica, classe social, sexo 
entre outros. A Sociolinguística, a partir da relação entre língua e variações sociais, 
estuda as variações linguísticas, que consistem nas mudanças presentes na língua 
em decorrência de fatores sociais.
 
Observe abaixo a letra da música “Estrada do Sertão”, composta por João Pernambuco 
e Hermínio Bello de Carvalho. Perceba como a língua varia tanto nos aspectos 
gramaticais quanto no escolha do vocabulário:
Estrada do Sertão
Coisa que não arrenego
Nem tão pouco desapego
Ter gostado de você
Foi gostar desenchavido
Encruado e recolhido
De ninguém se aperceber
Matutando vou na estrada
Nos meus óio a passarada
Faz um ninho pra você
Juriti espreita triste
E a jandaia não resiste
Chora junto por você
Nos teus óio faz clarão
E é um verde, um azulão
Tiê sangue furta cor
Que me dá desassossego
Que me suga que nem morcego,
Mangando que é beija-flor
Não me encrespe a vida assim
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Já me basta o que de mim essa vida caçoou
Não me faz essa graçola
De me abrir essa gaiola
Pra depois não me prender.
Canta firme juriti
E vê se entoa uma canção
Sabiá me roça aqui
Ô Sabia...
Bem de junto do ao coração
Pousa aqui meu colibri...
Vê se tu tem pena d´eu
Quero ser teu bacuri...
Quero ser de vós meçê
Quanto mais se desfeiteia,
Me despreza, mais me arrasto pra você...
(Disponível em: http://www.vagalume.com.br/elba-ramalho/estrada-do-sertao.html)
 
No caso da letra da música acima, vemos diversas variações linguísticas de ordem 
geográfica e social para garantir o efeito regional evocado pelos compositores. Essas 
variações são objetos de estudo da Sociolinguística; na Unidade 4 você poderá 
conhecer melhor essa corrente de estudo da Linguística.
 
Então podemos perceber que a função de Saussure foi fundamental para o aparecimento 
da Linguística porque foi a partir das suas delimitações que a comunidade científica 
aceitou o surgimento dessa ciência. Por outro lado, é importante que você perceba 
que, apesar da inquestionável relevância do pensamento saussuriano, a Linguística 
contemporânea tem variados objetos e objetivos de estudo, e, claro, as diretrizes de 
Saussure continuam válidas para diversas correntes da Linguística.
3 – Diacronia e Sincronia
 
Finalmente, esse é o nosso último par de conceitos que se opõem, nossa última 
dicotomia estudada na unidade. Para falar desses conceitos, é válido que você entenda 
a história dessas palavras. Primeiramente, as duas apresentam o radical khrónos, que 
vem do grego e significa tempo. Desde já, você pode perceber que esses conceitos se 
relacionam à questão do tempo no estudo das línguas, mais especificamente a como 
podemos entender o tratamento do tempo quando estudamos as línguas.
 
A palavra diacronia vem da junção do prefixo dia que significa “ao longo de” com o 
radical khrónos, logo a palavra significa ao longo do tempo. Como a própria palavra 
já indica, diacronia é o estudo da língua ao longo da história. Em outras palavras, ao 
fazer um estudo diacrônico, o linguista acompanha as mudanças que ocorrem nas 
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línguas ao longo de vários momentos históricos diferentes. Atualmente chamamos 
esses estudiosos de linguistas históricos. O século XIX, como vimos na unidade I, 
foi extremamente fértil para essa corrente da linguística. Muito se desenvolveu em 
matéria de estudos diacrônicos da linguagem.
 
Por sua vez, a palavra sincronia é a associação do radical khrónus com o prefixo sin, 
que significa “junto de”, ou seja, a palavra significa junto do tempo. Em oposição à 
diacronia, a sincronia é o estudo da língua em um determinado momento histórico 
específico, sem necessariamente compará-lo a outro momento histórico. Por exemplo, 
podemos descrever a língua portuguesa falada no Brasil no século XXI, sem fazer 
comparações dela com séculos anteriores como o século XVIII ou o XIX.
 
Por outro lado, também é possível comparar a língua falada na contemporaneidade com 
a língua falada no passado. Pensemos na palavra ‘você’ em língua portuguesa. Hoje 
em dia a utilizamos, no Brasil, como um pronome pessoal do caso reto, substituindo em 
muitas regiões o pronome ‘tu’. Entretanto, essa palavra veio da forma de tratamento 
Vossa Mercê, que começou a ser utilizada em língua portuguesa na passagem do 
século XV para o século XVI.
 
Com o passar do tempo, os falantes passaram a utilizar a palavra ‘vossemecê’, que 
passou a ser ‘vosmecê’, depois ‘vassuncê’ e finalmente o atual ‘você’. Apesar de não 
incorporada totalmente nas variantes mais cultas e formais da língua portuguesa, 
há diversas regiões do Brasil em que, em vez de “você”, é usado o “ocê” ou o “cê” 
em situações informais de uso oral do português do Brasil. Com isso, percebemos 
que a língua, de fato, se modifica de acordo com o curso da história. É de interesse 
dos linguistas históricos perceberem as mudanças estruturais das línguas, além de 
perceberem os fatores históricos, sociais e políticos que influenciam tais modificações.
 
Apesar de considerar a diacronia como forma de estudo da língua, Ferdinand de 
Saussure acreditava que a Linguística deveria se solidificar como uma área de estudo 
sincrônico da língua, ou seja, que se concentrasse no momento histórico atual para 
descrever as línguas sistematicamente. Vendo as três principais dicotomias do linguista 
genebrino, percebemos que o estudioso, apesar de considerar as diversas faces das 
línguas naturais, advogava um estudo da língua sem considerar a fala, e ainda de 
forma sincrônica.
 
Apesar de hoje termos diversas correntes da Linguística, tais como a pragmática 
e as análises do discurso, que se distanciam dos postulados iniciais da Linguística 
estruturalista europeia fundada nos postulados de Saussure, é de suma importância 
que conheçamos e levemos em consideração o que de importante aconteceu para o 
surgimento da Linguística.
Vamos, agora, fazer a leitura atenta do artigo “As dicotomias saussurianas e suas 
implicações sobre os estudos linguísticos”, disponível no link a seguir:
http://www.ueginhumas.com/revelli/revelli6/numero3_n2/revelli.v3.n2.art03.pdf
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Nesse texto, Silva (2011) discute nossas já conhecidas dicotomias saussurianas, 
mostrando também asconsequências dessa teoria em outras correntes da ciência 
linguística. Essa leitura vai ajudar você a compreender melhor tudo o que estudamos 
nesta unidade. Assim, poderemos ir amadurecendo nossas ideias.
E por falar nisso... Vamos ler o belo poema a seguir, de Julio Polidoro:
persigo, da fala, a plena expressão
da sala nunca aberta, o corredor
que nos conduza ao Verbo sem autor
e que traduza as coisas do porão
mas como seduzir a sedução
e como, sendo ovelha, ser pastor,
se a fala, como falso condutor,
tem muitas e nenhuma direção?
Fonte: http://www.germinaliteratura.com.br/julio_polidoro.htm
Acesso: 16/02/2014
Gostou da leitura do poema? Nele, encontramos elementos para discutir algumas das 
dicotomias saussurianas. Veja que, a partir de exemplos do texto, podemos entender 
bem melhor como aplicar a diferença entre:
a) língua e fala.
b) sincronia e diacronia.
Que tal tentar identificar no texto esses elementos? É um exercício livre, que pode ser 
valioso para o entendimento do nosso assunto.
Dessa maneira, encerramos a nossa unidade 2 tendo visto alguns dos principais 
postulados da vertente europeia do Estruturalismo linguístico, de Ferdinand de 
Saussure.

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