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Linguística UNIDADE 2 1 UNIDADE 2 - O SIGNO LINGUÍSTICO NA ESTRUTURA DA LÍNGUA DICIPLINA: LINGUÍSTICA I APRESENTAÇÃO Na unidade passada, vimos noções e conceitos gerais que constituem a Linguística enquanto ciência. Você pôde perceber que há várias ideias do senso comum sobre a língua. A maioria delas sempre carregadas de preconceito. Essas ideias, no entanto, não têm sustentação científica, ou seja, não passam pelo crivo da Linguística, disciplina e campo do saber responsável pelo estudo das línguas naturais. Nesta unidade, continuaremos a estudar a língua com base nos pressupostos da ciência linguística. Dessa maneira, você poderá compreender melhor como essa disciplina se constituiu e como sua forma de pensamento se diferencia do senso comum. Na unidade 1, fomos apresentados ao pensamento do pai da Linguística, o genebrino Ferdinand de Saussure. Esse estudioso dedicou-se a delimitar os objetos de estudo e os objetivos da Linguística em detrimento de outras disciplinas que, para ele, também se dedicavam ao estudo das línguas, tais como a Psicologia, a Filosofia e a Estilística. O trabalho de Saussure é muito relevante porque, através de suas ideias, a ciência do século XX pôde vislumbrar o nascimento de uma disciplina que estuda as línguas naturais a partir de um método científico, o que até então não existia. As ideias de Saussure são sistematicamente representadas pela existência de dicotomias, ou seja, dualidades, pares de conceitos opostos. É muito mais fácil entender o pensamento saussuriano a partir da diferença entre dois conceitos em vez de tentar explicá-los separadamente. Por essa razão, nesta seção, estudaremos três das principais dicotomias de Saussure (que são quatro, no total). • Significante e significado: nessa parte veremos um dos conceitos mais importantes do pensamento de Saussure, o signo linguístico. Como foi dito aqui anteriormente, é muito mais fácil compreender essa ideia a partir desse par de conceitos. Você poderá entender como a ciência linguística entende de forma diferente o funcionamento da linguagem. • Língua e fala: depois de entender o que é um signo linguístico, vamos trabalhar com a ideia de língua e fala. Nesta parte você vai conhecer o conceito de língua que estimulou o aparecimento da Linguística e como Saussure delimitou o seu objeto de estudo, explicando a diferença entre a língua e a fala. • Diacronia e sincronia: esses conceitos demonstram como podem ser os métodos de estudo da língua, a partir da visão escolhida pelo linguista. Podemos estudá-la de maneira histórica, considerando o desenvolvimento de uma língua ao longo do tempo, ou podemos delimitar um espaço de tempo específico e observar como a língua funciona naquele momento. Descobriremos o que Saussure achava dessas ideias. 2 Agora que já sabemos o que vamos estudar, mãos à obra! Vamos continuar nossa gratificante tarefa de conhecer mais sobre a Linguística. Para iniciar nosso estudo, vamos antes assistir a um vídeo que traz, em aproximadamente 9 minutos, a vida e a obra de Ferdinand de Saussure. Segue o link: http://sereduc.com/EHg7oO 1 – O Signo Linguístico Você se lembra de que, na unidade anterior, vimos que um dos principais objetivos de Saussure era diferenciar a Linguística de outras disciplinas? Uma das formas de fazer isso é delimitar o objeto de estudo dessa disciplina. Primeiramente é necessário delimitar o que o linguista observará quando estiver estudando as línguas. Ora, há diversos aspectos relacionados à língua, não é mesmo? Há os aspectos gramaticais, sonoros, fisiológicos, psicológicos entre outros. Então em que o linguista deve focar? Para Saussure a linguística deve focalizar o estudo do signo linguístico. Mas o que seria o signo linguístico mesmo? Na página 48 do nosso livro-texto, encontramos a imagem 2.2, que representa graficamente o signo linguístico. Como comentamos anteriormente, a melhor maneira de entender o pensamento de Saussure é a partir das dicotomias, pares de conceitos opostos. A primeira dicotomia a qual devemos nos dedicar é a diferença entre significante e significado. Para facilitar nossa compreensão, pensemos em um exemplo prático! Quando falamos a palavra “casa”, logo vem uma imagem à nossa cabeça. Essa imagem não precisa necessariamente ser uma coisa específica, não precisa ser uma casa de madeira ou de tijolos, com dois ou três andares, nem com uma quantidade de portas e janelas específicas. As particularidades da casa podem variar de acordo com quem estiver pensando. Certamente a casa que pensamos é diferente. No entanto, compartilhamos da mesma ideia, do mesmo conceito! Se pensarmos na palavra ‘casa’, naturalmente não pensaremos numa cadeira ou numa mesa, pensaremos em algo que reconhecemos como casa. Essa ideia que nos vem à cabeça é chamada por Saussure de significado, ou seja, a ideia ou o conceito que o homem ativa ao ter contato com palavras, gestos ou símbolos. É importantíssimo compreender que o significado não acontece por si mesmo! Não é um objeto específico, mas uma ideia ou um conceito que nos vem à mente quando utilizamos uma língua. Para entender o significante, temos que pensar na outra face do significado! Se tivermos uma ideia na nossa cabeça, o que precisamos fazer para que outra pessoa possa saber o que estamos pensando? Ora, precisamos falar! Para falar é necessário que combinemos sons que possam ser reconhecidos por outras pessoas. Portanto, em língua portuguesa, se tivermos em mente o significado ‘casa’, precisamos combinar os sons das letras ‘c’, ‘a’, ‘s’ e ‘a’, e aí conseguiremos expressar a ideia que pensamos. O significante é, portanto, a imagem acústica que ativa o significado. Para outro exemplo, você pode dar uma olhada nas páginas 47 e 48 do seu livro-texto. 3 Para entender o que é signo linguístico, é necessário compreender que ele é a junção da dicotomia significado e significante. Em outras palavras, o signo linguístico para Saussure é o significante (ideia/conceito) junto com o significado (imagem acústica) e eles são indissociáveis, ou seja, não podem ser separados. Compreendendo o que Saussure chama de signo linguístico, fica fácil compreender o quanto o pensamento do estudioso é diferente das ideias do senso comum. Enquanto a maior parte das pessoas acredita que as palavras servem para nomear coisas, Saussure acredita que na verdade as palavras de uma língua (significantes) se ligam a conceitos (significados). E esse conjunto forma os signos! Mas por que isso é importante? A ideia de signo linguístico se faz relevante porque, a partir dela, pensamos na natureza simbólica e abstrata da linguagem. Para Saussure os signos linguísticos são aleatoriamente escolhidos, ou seja, não há nenhuma regra que diga que a casa é chamada de casa por alguma razão específica. Podemos perceber essa aleatoriedade, ao constatar como as diversas línguas do mundo fazem escolhas diferentes para nomear os mesmos significantes. Por exemplo, em inglês a palavra ‘casa’ é house, em francês, maison, em norueguês, hjem, e assim por diante. Na teoria saussuriana da linguagem, então, podemos perceber que a noção de signo é central. Vamos, agora, brincar de formas signos? Vimos que o signo é composto de duas “faces de uma mesma moeda”. Veja que esquema interessante pode ser feito a partir dessa ideia, contrastando palavras de várias línguas: Viu como fica mais fácil de entender as noções de significante e significado a partir dessa associação? O Signo linguístico como parte de uma estrutura Até agora o conteúdo está muito simples, não é mesmo? O signo linguístico é a junção de um significante e um significado. No entanto, lembremos que, na seção anterior, vimos que Saussure compara a língua a um jogo de xadrez, portanto esses signos linguísticos fazem sentido quando colocados em oposição a outros signos linguísticos. Vamos observar um exemplo na seguinte sentença: Hoje teremos carnede porco para o almoço. 4 Na frase acima temos um signo destacado, a palavra porco. Este signo pode ser entendido a partir da oposição com outros signos! Sabemos o que é porco porque diferenciamos esse tipo de carne de outros, como carne de boi, frango, peixe etc. Você entenderá melhor essa noção quando estudar na Unidade 3 as relações sintagmáticas e paradigmáticas da língua. No entanto, por agora, nós já podemos perceber que a língua se organiza da seguinte maneira: podemos reconhecer um signo da língua quando o diferenciamos de outros. Ainda com esse exemplo, nós também podemos perceber o quanto Saussure se diferencia da noção do senso comum de que a língua serve para etiquetar coisas no mundo! Para exemplificar, tomemos como exemplo a língua inglesa! Em inglês são usados signos diferentes para falar do animal vivo e do animal morto. Por exemplo, para se referir ao animal vivo, usa-se a palavra pig em língua inglesa. Já para o animal morto, ou seja, a carne que servimos nas refeições, usa-se a palavra pork. Veja que interessante: ao traduzir a frase que usamos como exemplo, o tradutor tem que estar atento a essa diferença entre a língua portuguesa e a língua inglesa. A partir desse exemplo, percebemos que, na verdade, a língua não nomeia coisas no mundo, mas relaciona conceitos abstratos a significantes. Ora, tanto em Portugal quanto na Inglaterra havia porcos e esses eram utilizados como alimento, entretanto são escolhidos dois significantes diferentes em língua inglesa, enquanto em português o mesmo significante é usado para os dois significados, o animal vivo e a carne do animal para alimento. Você pode encontrar mais exemplos no seu livro-texto, nas páginas 50 e 51. Ainda no que diz respeito à questão do signo linguístico na estrutura da língua, é importante ressaltar que não podemos confundir o signo com as palavras, porque esses se referem a ideias diferentes. Conforme já discutimos, o signo linguístico é uma inter-relação entre um significante e um significado que não necessariamente precisa ser expresso em forma de palavra. Dentro das próprias palavras podemos encontrar mais de um signo; por exemplo, na palavra reafirmar, encontramos o prefixo re-, que se liga a ideia de fazer de novo e também é encontrado em outras palavras, como: reler, relembrar, refazer, reabilitar, entre outras. Portanto o prefixo re-, assim como outros afixos, desinências e vogais temáticas, também é considerado signo linguístico. Signos linguísticos e percepção de mundo Continuando com a nossa reflexão sobre a linguagem, percebemos que a ideia de Saussure modifica bastante a maneira como entendemos a língua, porque se levamos em consideração que a língua nomeia as coisas do mundo, é coerente que pensemos que a língua é limitada pelo mundo. No entanto, de acordo com o ponto de vista saussuriano, é o mundo que é, em certa medida, limitado pelas nossas experiências linguísticas! Tomemos como exemplo o caso da diferença entre pig e pork em inglês. Veja como, no caso dos falantes de inglês, há uma percepção diferente do mundo. 5 Foi o etnolinguista norte-americano Edward Sapir que discorreu mais acerca desse assunto. Ele percebeu que a língua mantém uma relação muito estreita com a cultura. Por exemplo, os esquimós têm mais de 50 palavras para indicar a neve, a mesma coisa não aconteceria para falantes de lugares que não têm neve. Dessa maneira, é importante que você entenda que os signos linguísticos não são absolutos em relação à realidade. Eles não representam perfeitamente o mundo, mas são recortes de realidades que dependem essencialmente de questões culturais para existir. Pelo menos, essa é a maneira com a qual a maioria dos linguistas contemporâneos compreende os signos linguísticos. Características do signo linguístico Vamos lembrar que, na Unidade 1, vimos que o signo linguístico não é o único que existe, mas que há vários outros signos, que fazem parte da linguagem não verbal, como imagens, gestos, dança, música entre outros. Por isso, é importante que você conheça as características dos signos linguísticos! Então vamos lá, você pode encontrar mais informações acerca dessas características nas páginas 55 a 59 do seu livro-texto. • A arbitrariedade do signo: basicamente, Saussure entende que o signo linguístico é fruto de uma convenção social, ou seja, ele é aleatoriamente constituído e imotivado. Não haveria nada no signo linguístico “mesa” que justificasse a escolha por esse significante. Essa característica do signo é o que possibilita a existência de múltiplas línguas. Ora, se o significante fosse determinado pela essência de determinado objeto do mundo, não admitiríamos tantos signos diferentes para os mesmos significados. No entanto, o linguista genebrino lembra que há alguns signos da língua que são motivados, aqueles formados por derivação. O numeral vinte, por exemplo, é completamente arbitrário, no entanto dezenove é formado pela junção de dois outros signos dez e nove. Para saber de mais casos em que há motivação de signos, veja os exemplos na página 57 do seu livro. • A linearidade do significante: outra característica do signo linguístico é que este é linear, ou seja, dois signos não podem acontecer ao mesmo tempo. Não podemos falar duas palavras ao mesmo tempo, tampouco podemos pronunciar dois fonemas ao mesmo tempo. Cada signo linguístico tem que acontecer separadamente. 2 – Língua e Fala Depois de entender a dicotomia significante e significado, que determina o conceito de signo linguístico, vamos passar para outra importante dicotomia no pensamento de Ferdinand de Saussure: língua e fala. Na unidade I, você pôde ver rapidamente a diferença entre língua (langue) e fala (parole), entretanto agora vamos nos debruçar mais profundamente no que seriam esses dois conceitos e compreender o porquê de 6 Saussure defender que o objeto da linguística deveria ser a língua em detrimento da fala. Como sabemos, Saussure acredita que a língua é um sistema arbitrário de signos linguísticos. Com base nessa definição, vamos entender o que o linguista queria dizer com isso. Primeiramente percebemos que a língua é um sistema, ou seja, não é caótica, mas de alguma maneira organizada! A língua é constituída de regras, essas regras têm que ser compartilhadas pelos falantes e qualquer transformação ou mudança tem que se encaixar nessas regras e nelas se estabilizar. Contudo é importante que você se lembre de que as regras as quais nos referimos não são necessariamente regras das gramáticas normativas porque a linguística, conforme vimos na unidade I, não se preocupa em seguir essas regras. Há regras inclusive nos “desvios” da norma padrão como, por exemplo, na ausência de marca de plural apontada na unidade I. Ainda em relação à definição de língua de Saussure, por que o linguista acredita que a língua é arbitrária? Ora, porque, como você viu na sessão anterior, a língua é imotivada, ou seja, os signos são em sua maioria escolhidos de forma aleatória e não obedecem à essência da palavra! Lembra quando chegamos à conclusão de que há vários significantes nas diversas línguas do mundo para representar os mesmos significados? Finalmente, Saussure também afirma que a língua é um sistema de signos linguísticos, ou seja, constituída a partir da relação do significado com o significante. Como sabemos, esses signos são arbitrários e identificados pela relação de oposição com outros signos e também são lineares, não aceitam sobreposições. Com isso, percebemos que o conceito de língua (langue) para Saussure é constituído de características bem objetivas, abstratas e estruturais. Mas você acha que a língua é só isso? Certamente não! Há diversas outras questões que também fazem parte do que entendemos como língua! Questões culturais, políticas, históricas, afetivas, psicológicas entre outras. No entanto, devemos reconhecer que, na verdade, Saussure reconheciatodas essas múltiplas facetas das línguas. Para o linguista genebrino, todos esses aspectos que não faziam parte do sistema arbitrário de signos linguísticos eram incluídos no conceito de fala (parole). Logo temos pelo menos duas grandes características básicas das línguas naturais. De um lado, temos todas as características estruturais e sistemáticas das línguas, ou seja, suas regras e regularidades. De outro lado, encontramos todas as questões relacionadas às variações, particularidades e exceções da língua. A língua representaria essas regularidades e a fala indicaria as particularidades. Para Saussure, não seria possível estudar a língua e a fala de forma articulada. Então, para que a Linguística fosse constituída, necessariamente precisaríamos de uma separação e delimitação do seu objeto de estudo. O pai da Linguística propôs, 7 então, que essa disciplina apenas focaria nas questões estruturais das línguas, portanto na langue. Já a parole não deveria ser abordada pela Linguística, mas levada em consideração por disciplinas como a Psicologia e Filosofia, as quais estariam mais preparadas para trabalhar com questões como a variação, os problemas de compreensão, a função do contexto e da cultura na língua. Hoje a maior parte dos linguistas reconhece que há possibilidade de trabalhar com a língua e com a fala de forma articulada. Na Linguística atual há diversas correntes, chamadas de funcionalistas, que conseguem articular o estudo das estruturas linguísticas com o contexto de uso da língua, a fala. Em particular, podemos chamar atenção para a Sociolinguística, tema da unidade 4. Essa corrente da Linguística se preocupa fundamentalmente com a relação entre as regras e regularidades da língua e questões de variação social, tais como idade, região geográfica, classe social, sexo entre outros. A Sociolinguística, a partir da relação entre língua e variações sociais, estuda as variações linguísticas, que consistem nas mudanças presentes na língua em decorrência de fatores sociais. Observe abaixo a letra da música “Estrada do Sertão”, composta por João Pernambuco e Hermínio Bello de Carvalho. Perceba como a língua varia tanto nos aspectos gramaticais quanto no escolha do vocabulário: Estrada do Sertão Coisa que não arrenego Nem tão pouco desapego Ter gostado de você Foi gostar desenchavido Encruado e recolhido De ninguém se aperceber Matutando vou na estrada Nos meus óio a passarada Faz um ninho pra você Juriti espreita triste E a jandaia não resiste Chora junto por você Nos teus óio faz clarão E é um verde, um azulão Tiê sangue furta cor Que me dá desassossego Que me suga que nem morcego, Mangando que é beija-flor Não me encrespe a vida assim 8 Já me basta o que de mim essa vida caçoou Não me faz essa graçola De me abrir essa gaiola Pra depois não me prender. Canta firme juriti E vê se entoa uma canção Sabiá me roça aqui Ô Sabia... Bem de junto do ao coração Pousa aqui meu colibri... Vê se tu tem pena d´eu Quero ser teu bacuri... Quero ser de vós meçê Quanto mais se desfeiteia, Me despreza, mais me arrasto pra você... (Disponível em: http://www.vagalume.com.br/elba-ramalho/estrada-do-sertao.html) No caso da letra da música acima, vemos diversas variações linguísticas de ordem geográfica e social para garantir o efeito regional evocado pelos compositores. Essas variações são objetos de estudo da Sociolinguística; na Unidade 4 você poderá conhecer melhor essa corrente de estudo da Linguística. Então podemos perceber que a função de Saussure foi fundamental para o aparecimento da Linguística porque foi a partir das suas delimitações que a comunidade científica aceitou o surgimento dessa ciência. Por outro lado, é importante que você perceba que, apesar da inquestionável relevância do pensamento saussuriano, a Linguística contemporânea tem variados objetos e objetivos de estudo, e, claro, as diretrizes de Saussure continuam válidas para diversas correntes da Linguística. 3 – Diacronia e Sincronia Finalmente, esse é o nosso último par de conceitos que se opõem, nossa última dicotomia estudada na unidade. Para falar desses conceitos, é válido que você entenda a história dessas palavras. Primeiramente, as duas apresentam o radical khrónos, que vem do grego e significa tempo. Desde já, você pode perceber que esses conceitos se relacionam à questão do tempo no estudo das línguas, mais especificamente a como podemos entender o tratamento do tempo quando estudamos as línguas. A palavra diacronia vem da junção do prefixo dia que significa “ao longo de” com o radical khrónos, logo a palavra significa ao longo do tempo. Como a própria palavra já indica, diacronia é o estudo da língua ao longo da história. Em outras palavras, ao fazer um estudo diacrônico, o linguista acompanha as mudanças que ocorrem nas 9 línguas ao longo de vários momentos históricos diferentes. Atualmente chamamos esses estudiosos de linguistas históricos. O século XIX, como vimos na unidade I, foi extremamente fértil para essa corrente da linguística. Muito se desenvolveu em matéria de estudos diacrônicos da linguagem. Por sua vez, a palavra sincronia é a associação do radical khrónus com o prefixo sin, que significa “junto de”, ou seja, a palavra significa junto do tempo. Em oposição à diacronia, a sincronia é o estudo da língua em um determinado momento histórico específico, sem necessariamente compará-lo a outro momento histórico. Por exemplo, podemos descrever a língua portuguesa falada no Brasil no século XXI, sem fazer comparações dela com séculos anteriores como o século XVIII ou o XIX. Por outro lado, também é possível comparar a língua falada na contemporaneidade com a língua falada no passado. Pensemos na palavra ‘você’ em língua portuguesa. Hoje em dia a utilizamos, no Brasil, como um pronome pessoal do caso reto, substituindo em muitas regiões o pronome ‘tu’. Entretanto, essa palavra veio da forma de tratamento Vossa Mercê, que começou a ser utilizada em língua portuguesa na passagem do século XV para o século XVI. Com o passar do tempo, os falantes passaram a utilizar a palavra ‘vossemecê’, que passou a ser ‘vosmecê’, depois ‘vassuncê’ e finalmente o atual ‘você’. Apesar de não incorporada totalmente nas variantes mais cultas e formais da língua portuguesa, há diversas regiões do Brasil em que, em vez de “você”, é usado o “ocê” ou o “cê” em situações informais de uso oral do português do Brasil. Com isso, percebemos que a língua, de fato, se modifica de acordo com o curso da história. É de interesse dos linguistas históricos perceberem as mudanças estruturais das línguas, além de perceberem os fatores históricos, sociais e políticos que influenciam tais modificações. Apesar de considerar a diacronia como forma de estudo da língua, Ferdinand de Saussure acreditava que a Linguística deveria se solidificar como uma área de estudo sincrônico da língua, ou seja, que se concentrasse no momento histórico atual para descrever as línguas sistematicamente. Vendo as três principais dicotomias do linguista genebrino, percebemos que o estudioso, apesar de considerar as diversas faces das línguas naturais, advogava um estudo da língua sem considerar a fala, e ainda de forma sincrônica. Apesar de hoje termos diversas correntes da Linguística, tais como a pragmática e as análises do discurso, que se distanciam dos postulados iniciais da Linguística estruturalista europeia fundada nos postulados de Saussure, é de suma importância que conheçamos e levemos em consideração o que de importante aconteceu para o surgimento da Linguística. Vamos, agora, fazer a leitura atenta do artigo “As dicotomias saussurianas e suas implicações sobre os estudos linguísticos”, disponível no link a seguir: http://www.ueginhumas.com/revelli/revelli6/numero3_n2/revelli.v3.n2.art03.pdf 10 Nesse texto, Silva (2011) discute nossas já conhecidas dicotomias saussurianas, mostrando também asconsequências dessa teoria em outras correntes da ciência linguística. Essa leitura vai ajudar você a compreender melhor tudo o que estudamos nesta unidade. Assim, poderemos ir amadurecendo nossas ideias. E por falar nisso... Vamos ler o belo poema a seguir, de Julio Polidoro: persigo, da fala, a plena expressão da sala nunca aberta, o corredor que nos conduza ao Verbo sem autor e que traduza as coisas do porão mas como seduzir a sedução e como, sendo ovelha, ser pastor, se a fala, como falso condutor, tem muitas e nenhuma direção? Fonte: http://www.germinaliteratura.com.br/julio_polidoro.htm Acesso: 16/02/2014 Gostou da leitura do poema? Nele, encontramos elementos para discutir algumas das dicotomias saussurianas. Veja que, a partir de exemplos do texto, podemos entender bem melhor como aplicar a diferença entre: a) língua e fala. b) sincronia e diacronia. Que tal tentar identificar no texto esses elementos? É um exercício livre, que pode ser valioso para o entendimento do nosso assunto. Dessa maneira, encerramos a nossa unidade 2 tendo visto alguns dos principais postulados da vertente europeia do Estruturalismo linguístico, de Ferdinand de Saussure.
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