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Guia de Estudos da Unidade 4 - Línguistica

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Linguística
UNIDADE 4
1
UNIDADE 4 - A LÍNGUA NA SOCIEDADE 
DICIPLINA: LINGUÍSTICA I
Na unidade anterior, você pôde ver os diversos tipos de gramáticas, dentre eles a 
gramática normativa. De maneira geral, você deve ter percebido que o senso comum, 
ao falar de gramática, normalmente associa a palavra à sua vertente normativa 
apenas. Além disso, você também deve ter percebido que normalmente, no senso 
comum, as pessoas ao falarem da língua pensam apenas nas regras que regem a 
gramática normativa. 
 
Em função dessa crença, boa parte das pessoas imagina que o ensino das línguas 
deve se pautar apenas em questões da gramática normativa e se aluno errar qualquer 
detalhe das regras do português, naturalmente vai achar que ele não fala Português. 
Dessa maneira, é comum ouvir frase do tipo:
•	 Ele fala “a gente somos” e por isso não fala português.
•	 Os jovens estão assassinando a língua portuguesa.
•	 Com a internet, as pessoas estão ficando ignorantes porque não conseguem 
mais escrever em português.
 
Provavelmente você já deve ter ouvido falar de frases como essa ou pode até mesmo 
já ter dito. De certo modo, essas frases demonstram que as pessoas se importam 
com a língua portuguesa e por isso querem preservá-la. No entanto, devemos pensar 
criticamente sobre o que é falado e principalmente ter coerência entre o que estudamos 
e o que praticamos! É importante que, enquanto estudante da ciência linguística, você 
desconfie de tudo que é dito sobre a língua com base apenas no senso comum. Afinal 
de contas, é nosso dever estudar a língua e fazer considerações pertinentes com 
base nos nossos estudos e não apenas com impressões apressadas sobre o nosso 
objeto de estudo.
 
Para pensar sobre essa questão dos “erros” de português, leia o seguinte texto:
Ai se sesse
Cordel do fogo encantado
Se um dia nois se gostasse
Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
Se juntim nois dois vivesse
Se juntim nois dois morasse
Se juntim nois dois drumisse
Se juntim nois dois morresse
Se pro céu nois assubisse
2
Mas porém acontecesse de São Pedro não abrisse
a porta do céu e fosse te dizer qualquer tulice
E se eu me arriminasse
E tu cum eu insistisse pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Tarvês que nois dois ficasse
Tarvês que nois dois caisse
E o céu furado arriasse e as virgi toda fugisse
(Disponível em: http://letras.com/cordel-do-fogo-encantado/78514/)
Perceba que no texto acima há diversos “erros” de português. De acordo com a norma 
padrão e com a ortografia da língua portuguesa, palavras como nois, juntim, drumisse, 
tarvês e outras estão todas erradas. Mas agora vamos relativizar a noção de erro. Do 
ponto de vista artístico, é coerente dizer que o texto está errado? E agora do ponto de 
vista linguístico, é correto afirmar que o texto está escrito em uma língua que não é a 
portuguesa falada no Brasil?
 
Certamente nenhuma das duas perguntas pode ser respondida positivamente! Do 
ponto de vista artístico, o texto está adequado! O compositor da letra dessa música 
quis representar uma variedade específica da língua portuguesa falada no Brasil. As 
músicas compostas por esse grupo musical são uma clara referência à linguagem de 
cordel, que, por sua vez, faz modificações do padrão da língua portuguesa a fim de 
tentar representar a fala dos moradores da zona rural do sertão nordestino. Então, 
já pensou se o compositor optasse por escrever todo o texto seguindo as normas 
prescritas na gramática normativa? Certamente você não conseguiria apreender o 
sentido e, sobretudo a identidade cultural presente no texto.
 
E agora sobre o ponto de vista linguístico, o texto está adequado? Faz parte da língua 
portuguesa? Sim! Como falante nativo de português do Brasil, é pouco provável que 
alguém não consiga compreender o texto. O texto é organizado a partir da sintaxe do 
português, as palavras utilizadas no texto mesmo que modificadas fazem parte do 
léxico da língua portuguesa. Enfim, o texto faz sentido! Ao não levar em consideração 
a gramática normativa, o texto não apresenta nenhum erro, muito pelo contrário! Se as 
regras gramaticais fossem seguidas, o texto perderia bastante do seu valor artístico. 
 
Nessa unidade, vamos discutir a relação fundamental entre língua, cultura e sociedade. 
E principalmente a visão da Linguística em torno desse tópico. É importante ressaltar 
que nessa unidade nos aproximamos mais dos estudos linguísticos contemporâneos, 
e, dessa maneira, poderemos comentar mais sobre as contribuições da ciência 
linguística para o campo do ensino de língua materna.
 
Então vejamos como se organiza o guia de estudo da unidade 4:
•	 Língua, cultura e sociedade: começaremos discutindo sobre a relação que a 
língua, nosso objeto de estudo, mantém com a sociedade e a cultura. Como 
3
vimos anteriormente, o início da Linguística foi marcado pela separação da 
língua e do seu uso, por meio da dicotomia língua e fala do linguista genebrino, 
Ferdinand de Saussure. Você poderá aprofundar as leituras sobre esse tema 
pelas páginas 99, 100 e 101 do livro-texto.
•	 Variação linguística e norma padrão: já focamos anteriormente na questão 
da norma padrão, mas agora vamos situá-la dentro das variações linguística 
para que dessa maneira você possa consolidar a ideia de que o padrão não 
representa a totalidade das línguas. Você irá compreender que o padrão é 
apenas uma variante privilegiada em meio a diversas outras variantes que 
constituem a língua. Nesse capítulo, vamos trabalhar com a Sociolinguística, 
área da Linguística que é especializada nesse assunto. Essa seção é 
abordada nas páginas de 105 a 125 do livro-texto.
•	 Atitudes e preconceitos linguísticos: por fim, discutiremos o que são atitudes 
e preconceitos linguísticos, de onde eles surgem e o impacto social e 
educacional ocasionado por eles. Nessa seção você também traçará um 
paralelo entre esses conceitos e o ensino de línguas. No seu livro-texto, você 
pode encontrar mais sobre essa discussão nas páginas 126 a 131.
 
1 - Língua, Cultura e Sociedade
Nesta seção, o mais importante é compreender a relação entre esse tripé: língua, 
cultura e sociedade. Então comecemos com o conceito de cultura. O que seria 
cultura? Todos nós temos uma ideia do que é cultural. No senso comum, dizemos 
que artesanatos, danças típicas e outras tradições regionais fazem parte da cultura 
de uma região. Entretanto, devemos considerar cultura de uma maneira mais ampla.
 
Vamos utilizar como exemplo diferenças culturais entre diferentes países. Nos Estados 
Unidos é comum fazer uma refeição pequena e leve durante o almoço e uma refeição 
maior e pesada durante o jantar. Em países como o Brasil isso soa estranho, pois 
costumamos ter a maior refeição do dia no almoço. Apesar de simples, o aspecto 
mencionado acima faz parte dos nossos costumes, portanto é uma referência dessas 
culturas.
 
Reconhecemos esse aspecto como pertencente à vida dos brasileiros e dos americanos. 
Então a cultura no nosso caso é entendida como o conjunto dessas referências. Como 
você pode perceber, a cultura é muito mais ampla do que os traços folclóricos de uma 
região, ela também está nas banalidades e amenidades da vida de um lugar.
 
Depois de reconhecer o que é cultura, somos levados ao seguinte questionamento: 
a língua é uma referência cultural? Certamente, a língua faz parte da cultura. Falar 
português nos constitui como brasileiros, mesmo que falemos bem uma língua 
estrangeira, o nosso vernáculo será o português do Brasil, ou seja, essa é a língua 
com a qual nos sentimos mais confortáveis nas situações de menor monitoramento. 
Por outro lado, é necessário reconhecer o papel de destaque que a língua recebe em 
4
relação a outros artefatos culturais. Ora, é através da língua que nos constituímos 
como seres humanos! É justamente por falar uma língua que nos diferenciamos dos 
animais, então a língua ocupa uma posição de maior importância na cultura de um 
povo. Conforme vimos nas unidades 1e 2, de acordo com a hipótese de Sapir-Whorf, 
bastante aceita na ciência linguística, a cultura é limitada pela língua.
 
Pensando no nosso conceito de cultura, é fácil de reconhecer que as pessoas de uma 
dada região, apesar de partilharem as referências culturais, não são iguais. Cada 
indivíduo possui diferentes contextos sociais que o faz se diferenciar dos outros. Por 
exemplo, mesmo que duas pessoas tivessem nascido em meio à cultura brasileira, 
elas terão referências diferentes se elas estiverem em classes sociais distintas. O 
mesmo acontece se elas têm idades muito diferentes, se elas vivem na zona rural ou 
nos grandes centros urbanos, se elas moram em regiões distintas do Brasil.
 
Por isso consideramos que na cultura há diversas condições que podem mudar as 
referências culturais dos indivíduos. Mas e na língua? Como essas diferenças culturais 
funcionam? Ora, de certa maneira, é fácil perceber se você notar a maneira como as 
pessoas ao seu redor falam! Perceba como seus avós falam e notem que é diferente 
da maneira como você fala. Há certos modos de falar, certas palavras que você não 
usaria, mas que eles usam. Agora pense nos seus amigos de outras regiões do Brasil, 
pense em como os brasileiros têm diferentes maneiras de pronunciar as palavras, na 
quantidade de palavras que é utilizada apenas na sua região e que não é utilizada 
em outras. Agora pense em como é diferente a fala de uma pessoa não escolarizada 
que passou pouco ou nenhum tempo na escolar em relação aos seus professores da 
faculdade, que possuem curso superior.
 
Depois de ter pensado nisso, você deve ter chegado à conclusão de que a língua varia. 
Mesmo pensando na mesma língua, o português falado no Brasil, há diferentes formas 
de falar, de construir as frases, de escolher as palavras. Dessa maneira, podemos 
dizer que nas línguas há o que chamamos de variação linguística. Você se lembra dos 
tipos de gramática que estudamos na unidade 3? Lembra-se mais especificamente 
da gramática normativa? A gramática normativa é aquela constituída pelas regras do 
bem dizer, ou seja, as regras que são consideradas as mais adequadas em contextos 
culturais formais. Mas você deve se lembrar também que já comentamos que essas 
regras não esgotam as possibilidades em uma língua, que não representam a 
totalidade de uma língua como nos faz crer o senso comum na maior parte das vezes. 
 
Em vista do exposto, a gramática normativa pode ser considerada uma variação 
linguística dentre as diversas variedades que a língua apresenta. Com essa afirmação, 
muitas pessoas acreditam que os linguistas recomendam que o ensino de línguas 
não deva levar em consideração o ensino da gramática, contudo essa afirmação é 
completamente equivocada, ou seja, está errada! De certa forma, é consenso em 
Linguística que as diversas variações linguísticas devem ser levadas em consideração 
no ensino de língua materna, no entanto a norma padrão deve ser ensinada porque é 
no ambiente escolar que as regras da gramática normativa podem ser internalizadas 
e dessa maneira os alunos poderão circular em diversas esferas formais, como os 
5
ambientes profissional e acadêmico, por exemplo.
 
É notório que o aluno já traz de casa uma porção de conhecimento adquirido com suas 
famílias, seus amigos etc. Essa porção de conhecimento não deve ser descartada, 
um bom professor consegue fazer conexões entre o que os alunos já sabem e o que 
a escola requer que ele aprenda. Portando um bom professor de língua materna deve 
trabalhar com as variedades linguísticas que os alunos já têm e compará-las com as 
regras trazidas pela gramática normativa, mostrando aos alunos a multiplicidade de 
possibilidades que a língua pode lhe proporcionar. 
 
Ao tratar das variações linguísticas, o ensino tem que deixar claro para os alunos que 
a variação linguística existe e que tem seu espaço, por outro lado o ensino também 
deve dar conta da missão de letrar os aprendizes. Mas o que seria então letrar? 
Como definir o termo letramento? Para começar vamos pensar em um conceito que 
você já deve ter ouvido falar: alfabetização. Todos nós passamos por um momento 
em que aprendemos as letras do alfabeto e também aprendemos que essas letras 
correspondem a sons da nossa língua, a partir desse aprendizado pudemos começar 
a ler algumas palavras e sentenças, e também nos tornamos capazes de escrever 
algumas dessas palavras e sentenças. Contudo, esse processo de ensino visava nos 
tornar capazes de “decodificar” a língua, ou seja, corresponder um dado som a uma 
letra ou letras do alfabeto. Esse processo de ensino é conhecido como alfabetização. 
Mas uma pessoa apenas alfabetizada é capaz de ler e compreender os textos que tem 
circulação social? Provavelmente não! O processo de leitura é muito mais complexo 
do que a mera decodificação de letras em sons. É necessário que o leitor tenha 
algum conhecimento prévio, histórico, social e até mesmo técnico, também é preciso 
ter senso crítico, questionar a condição de verdade das ideias, ter a capacidade de 
relacionar as ideias a outras. Enfim, há vários processos necessários para que alguém 
seja capaz de ler!
 
Podemos chamar de letramento, o processo pelo qual os aprendizes são ensinados a 
não apenas decodificar letras em sons, mas também que possam ler e compreender 
textos de circulação social. Essa inserção no mundo letrado também tem que levar em 
consideração a gramática normativa. Ora, se é função da escola trazer o aluno aos 
contextos formais de uso da língua, tais como trabalho e universidade, é necessário 
instrumentalizar os aprendizes com as regras gramaticais desses contextos.
 
Dessa maneira, mesmo os alunos que são provenientes de contextos culturais bastante 
diversos podem se encaixar em situações culturais prestigiadas pela sociedade. Esse 
também é um objetivo do ensino pautado pelo letramento. Como exemplo, podemos 
trazer a realidade de crianças de comunidades extremamente pobres que muitas 
vezes veem os ambientes formais de uso da língua como muito distantes, sem que 
possam vislumbrar a possibilidade de frequentar a universidade ou bons empregos. 
Sem que haja um bom trabalho de letramento na escola, é improvável que esses 
aprendizes atinjam as expectativas sociais de alunos universitários. Por isso, é dever 
da escola garantir o letramento para proporcionar uma transformação social através 
da educação. 
6
Esse processo de transformação através do ensino é conhecido pela palavra de língua 
inglesa emporwerment, ou seja, empoderamento. Por essa perspectiva, é função do 
ensino garantir que os alunos se apoderem gradativamente, de maneira que eles 
possam ascender socialmente.
 
Para que um professor de língua materna possa atuar nessa missão é necessário 
que ele tenha um bom conhecimento das variações linguísticas e também da noção 
de preconceito linguístico. Esses dois conceitos são amplamente estudados pela 
Sociolinguística e serão abordados pelos nossos próximos tópicos, então vamos lá! 
2 - Variação Linguística
Como vimos na unidade II, na obra “Curso de Linguística Geral”, o linguista genebrino 
Ferdinand de Saussure, considerado por muitos como o pai da Linguística, estabeleceu 
dicotomias que acabaram por advogar uma Linguística centralmente preocupada 
com questões estruturais e abstratas que, de alguma maneira, negligenciava a parte 
mais concreta e funcional da língua. Conforme já vimos na unidade 2, o pensamento 
saussuriano foi bastante relevante para inaugurar a ciência linguística enquanto 
disciplina autônoma e iniciar todos os estudos que desenvolvemos hoje. Contudo 
diversos linguistas sentiram a necessidade de explorar mais profundamente a 
natureza da língua e desenvolver estudos que não só atendessem à porção estrutural 
da linguagem, mas que colocassem em foco a relação língua e uso.
 
Dois grandes linguistas que iniciaram essa missão foram Eugenio Coseriu e William 
Labov. O primeiro é romeno, mas lecionou por muitos anos no Uruguai e Alemanha 
e o segundo é norte-americanoe atua na Universidade da Pensilvânia nos Estados 
Unidos da América, uma das melhores universidades deste país. Coseriu apresentou 
uma tríade que de alguma maneira sobrepunha a dicotomia de Saussure, língua e fala. 
 
Para Coseriu há uma tríade: sistema, norma e fala. O sistema se caracterizaria por 
todas as possibilidades que uma língua oferece, ou seja, seria um sistema abstrato de 
todas as combinações desde as fonéticas e às sintáticas possíveis em uma dada língua. 
Por outro lado, a norma seria que uma comunidade considerada certa, apropriado ou 
comum em relação a essas possibilidades. Por exemplo, observe as duas frases em 
português:
•	 Eu estou estudando para a minha prova de Linguística na próxima semana. 
•	 Eu estou a estudar para a minha prova de Linguística na próxima semana.
 
Perceba que as duas frases estão compreensíveis e são possíveis em língua 
portuguesa. Por outro lado, a primeira frase soa mais natural para um falante da língua 
portuguesa falada no Brasil. Então podemos concluir que as duas frases fazem parte 
do sistema da língua portuguesa, contudo somente a primeira faz parte da norma do 
português brasileiro. Ao mesmo tempo, você deve notar que a norma, de acordo com 
a perspectiva de Coseriu, é diretamente ligada à cultura da comunidade que fala a 
língua, porque nos exemplos que citamos acima você deve perceber que a segunda 
7
frase, apesar de não fazer parte da norma brasileira, faz parte da norma do português 
falado em Portugal e em outros países da África. 
 
Por fim, Coseriu determina que a fala, a manifestação concreta e real da língua, 
também faz parte deste tripé. Então vemos nascer na Linguística uma preocupação 
com questões não apenas de ordem estrutural, mas também de ordem funcional, 
relativo ao uso. 
 
Já Labov foi o fundador de uma área da Linguística, chamada de Sociolinguística 
variacionista, que de maneira geral estuda as variações da língua a partir de diversas 
camadas sociais, determinadas por variantes como gênero, idade, classe social, etnia, 
região geográfica etc. O trabalho de Labov teve uma importância muito grande porque 
demonstrou que as diferentes variações linguísticas faladas por diversas classes 
sociais, independentemente de seu poder aquisitivo apresentavam regras e poderiam 
ser entendidas como um sistema complexo. Alguns contemporâneos de Labov, como o 
britânico Bernstein nos seus primeiros trabalhos, advogavam que a língua dos alunos 
suburbanos de Londres era restrita e demonstrava problemas de ordem cognitiva. Em 
resposta a trabalhos como este, Labov através de pesquisas numéricas demonstrou 
que, na verdade, todas as variantes apresentam complexidade.
 
O método de Labov é bastante reconhecido na área de Linguística e continua inspirando 
vários trabalhos de sociolinguística variacionista. Você pode encontrar os 5 princípios 
do método laboviano na página 109 do seu livro texto. Depois de entender como e por 
que motivos a Linguística começou a se preocupar mais intensamente com a relação 
entre língua e sociedade, vamos nos concentrar agora em compreender os termos 
que usamos para falar de variações linguísticas.
 
Primeiramente, é necessário que você compreenda três conceitos básicos sobre 
variação linguística:
•	 Variável: é qualquer elemento da língua que se manifesta de forma diferente. 
Vamos pegar como exemplo a maneira que o “S” é pronunciado de forma 
diferente. Pense na forma que as pessoas nascidas no Recife e no Rio de 
Janeiro falam o “S” com um som semelhante ao “X”, “mexmo” e na maneira 
como as pessoas em São Paulo falam o “S”, “mesmo”. Então a letras “S” no 
português falado no Brasil é uma variável. 
•	 Variante: é cada forma diferente que temos de falar a mesma variável. Então 
o “s” com som de “X” (Recife e Rio de Janeiro) e o “s” com som de “S” (São 
Paulo) são dois exemplos de variantes.
•	 Variedade linguística: é um conjunto de variantes normalmente escolhidas 
por pessoas que partilham o mesmo contexto social, econômico e geográfico. 
Por exemplo, quais seriam as características de um indivíduo escolarizado que 
nasceu no Recife? A resposta a esse questionamento nos traria a variedade 
linguística desse contexto cultural.
8
Agora vamos pensar na seguinte pergunta: por que a língua varia? Bom, há diversos 
motivos que fazem a língua variar. Dentre eles a história! Quando vimos a dicotomia, 
sincronia e diacronia, pudemos constatar esse aspecto. Portanto um dos tipos de 
variação é a variação diacrônica. Vejamos agora as variações sincrônicas:
 
Variações diatópicas ou regionais: são aquelas relativas ao lugar em que moramos. 
Observe mais uma vez a letra da música do grupo musical “Cordel do Fogo Encantado” 
e veja as variações diatópicas: 
Ai se sesse
por Cordel do fogo encantado
Se um dia nois se gostasse
Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
Se juntim nois dois vivesse
Se juntim nois dois morasse
Se juntim nois dois drumisse
Se juntim nois dois morresse
Se pro céu nois assubisse
Mas porém acontecesse de São Pedro não abrisse
a porta do céu e fosse te dizer qualquer tulice
E se eu me arriminasse
E tu cum eu insistisse pra que eu me arresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Tarvês que nois dois ficasse
Tarvês que nois dois caisse
E o céu furado arriasse e as virgi toda fugisse
(Disponível em: http://letras.com/cordel-do-fogo-encantado/78514/)
Variações diastráticas ou sociais: são aquelas relacionadas à camada ou grupo 
social a que o falante faz parte. Veja esse vídeo, que dura 2 minutos e 21 segundos, 
aqui o humorista Marcos Luque tenta de maneira humorística representar a fala de 
motoboys paulistanos. (https://www.youtube.com/watch?v=_TKqS56L5eM)
Variações diamésicas (oralidade ou escrita): são as variações relativas à modalidade 
que utilizamos, se oral ou escrita. Observe o texto abaixo e perceba como há uma 
tentativa de representar a linguagem oral, mesmo no texto escrito:
Diálogo da modernidade
Alô? Quem tá falando?
– É o ladrão!
– Desculpe, eu não queria falar com o dono do banco. Tem algum funcionário aí?
– Não, os funcionário tá tudo como refém!
9
– Eu entendo. Trabalham quatorze horas por dia, ganham um salário ridículo, vivem 
levando esporro, mas não pedem demissão porque não encontram outro emprego, 
né? Vida difícil. Mas será que eu não poderia dar uma palavrinha com um deles?
– Impossível!!! Eles tá tudo amordaçado!
– Foi o que pensei. Gestão moderna, né? Se fizerem qualquer crítica, vão pro olho da 
rua. Não haverá, então, algum chefe por aí?
– Claro que não, meu amigo! Quanta inguinorânça! O chefe tá na cadeia, que é o lugar 
mais seguro pra se comandar um assalto.
– Bom… Sabe o que que é? Eu tenho uma conta…
– Tamo levando tudo, ô bacana, o saldo da tua conta é zero!
– Não, isso eu já sabia. Eu sou professor. O que eu queria mesmo era uma informação 
sobre juro.
– Companheiro, eu sou um ladrão pé-de-chinelo. Meu negócio é pequeno. Assalto a 
banco, vez ou outra um seqüestro. Pra saber de juro é melhor tu ligar pra Brasília!!!
– Sei, sei. O senhor tá na informalidade, né? Também, com o preço que tão cobrando 
por um voto hoje em dia… Mas, será que não podia fazer um favor pra mim? É que eu 
atrasei o pagamento do cartão e queria saber quanto vou pagar de taxa.
– Tu tá pensando que eu tô brincando? Isso é um assalto manooo!!!
– Longe de mim. Que é um assalto, eu sei perfeitamente. Mas queria saber o número 
preciso. Seis por cento, sete por cento?
– Eu acho que tu não tá entendendo, ô mané. Sou assaltante!!! Trabalho na base da 
intimidação e da chantagem, saca? ??
– Ah, já tava esperando. Vai querer vender um seguro de vida ou um título de 
capitalização, né?
– Não… Eu… Peraí, bacana, que hoje eu tô bonzinho e vou quebrar o teu galho.
Um minuto depois …
– Alô? O sujeito aqui tá dizendo que é oito por cento ao mês.
– Puxa, que incrível!
– Tu achava que era menos?
– Não, achava que era isso mesmo. Tô impressionado é que, pela primeira vez na 
vida, consegui obter uma informação de uma empresa prestadora de serviço,pelo 
telefone, em menos de meia hora e sem ouvir “Pour Elise”!!!
– Quer saber? Fui com a tua cara. Dei umas bordoadas no gerente e ele falou que vai 
te dar um desconto. Só vai te cobrar quatro por cento, tá ligado?
– Não acredito! E eu não vou ter que comprar nenhum produto do banco?
– Nadica. Tá acertado!
– Muito obrigado, meu senhor. Nunca fui tratado dessa…
– Ih, sujou! (tiros, gritos) A polícia…!!!
– Polícia? Que polícia? Alô? Alô?
(Sinal de ocupado!)
– Alô?… Droga! P… Maldito Estado! Sempre intervindo nas relações entre homens de 
bem!
(Disponível em: http://mesquita.blog.br/cronicas-dialogos-da-modernidade)
10
Variações diafásicas ou de estilo: são aquelas relacionadas ao estilo. Se o falante 
quer ser formal ou informal, polido ou rude etc. Vejam o seguinte exemplo como o autor 
do texto se utiliza de expressões bastante particulares para expressar formalidade:
Prezado(a) Senhor(a),
De acordo com a indicação do Sr. José dos Santos, envio meu currículo para avaliação.
Há cinco anos atuo na área de promoção e markerting da empresa Faculdade do 
Momento, desenvolvendo projetos de divulgação de marca na área educacional e 
também na organização de eventos para o público interno e externo da empresa.
Neste momento, busco novos desafios no mercado de trabalho, visando o 
desenvolvimento da minha carreira e gerando de resultados, para possibilitar 
crescimento qualitativo e quantitativo para os envolvidos.
Agradeço a atenção e coloco-me ao inteiro dispor para contato pessoal.
Assinatura
(Disponível em: http://sereduc.com/Ug5LeG)
 
Acima pudemos ver os principais tipos de variação linguística. Esses também, como 
já dissemos, são os principais motivos pelos quais as línguas variam! É importante 
para o linguista e também para o professor de línguas observarem todas essa 
questões relacionadas à variação a fim de evitar posicionamentos preconceituosos e 
equivocados em relação à língua das pessoas. Para abordar o tema do preconceito 
linguístico e concluir o nosso módulo de Linguística 1, vamos nos dedicar à leitura do 
texto do linguista brasileiro Sírio Possenti, da Universidade Estadual de Campinas: 
http://cienciahoje.uol.com.br/colunas/palavreado/preconceito-linguistico
Com isso, concluímos nossa primeira disciplina de Linguística. Os conhecimentos 
aqui adquiridos serão fundamentais em nossa vida de professores e nas próximas 
disciplinas de Linguística. Vale a pena sempre reler o material do nosso curso, fazer os 
exercícios e buscar mais leituras a respeito dos temas de que tratamos. Bom descanso 
e até o próximo curso – Linguística II.

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