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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO UNIVERSITÁRIO NORTE DO ESPÍRITO SANTO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS NATURAIS EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO DE QUÍMICA: INVESTIGAÇÃO DA TEMÁTICA AGROTÓXICO NOS LIVROS DIDÁTICOS E A PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES SOBRE O TEMA AMBIENTAL KELLY GRACE RIZZI SIQUEIRA Monografia de Conclusão de Curso São Mateus-ES 2015 KELLY GRACE RIZZI SIQUEIRA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO DE QUÍMICA: INVESTIGAÇÃO DA TEMÁTICA AGROTÓXICO NOS LIVROS DIDÁTICOS E A PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES SOBRE O TEMA AMBIENTAL Monografia apresentada ao Departamento de Ciências Naturais – DCN - CEUNES, Universidade Federal do Espírito Santo, como parte dos requisitos para obtenção do título de Licenciado em Química. Orientadora: Profa. Dra. Ana Nery Furlan Mendes. São Mateus-ES 2015 KELLY GRACE RIZZI SIQUEIRA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO ENSINO DE QUÍMICA: INVESTIGAÇÃO DA TEMÁTICA AGROTÓXICO NOS LIVROS DIDÁTICOS E A PERCEPÇÃO DOS PROFESSORES SOBRE O TEMA AMBIENTAL Monografia apresentada ao Departamento de Ciências Naturais – DCN - CEUNES, Universidade Federal do Espírito Santo, como parte dos requisitos para obtenção do título de Licenciado em Química. São Mateus, 16 de junho de 2015. BANCA EXAMINADORA ____________________________ Prof (a). Dr (a). Ana Nery Furlan Mendes (Orientadora) ____________________________ Prof (a). Dr (a). Carla da Silva Meireles ____________________________ Prof (a). Dr (a). Sandra Mara Santana Rocha São Mateus-ES 2015 Dedico esta monografia a minha família pela fé e confiança demonstrada. Aos meus colegas de universidade pelo apoio. Aos professores pelo simples fato de estarem dispostos a ensinar. Enfim a todos que de alguma forma tornaram este caminho mais fácil de ser percorrido. Agradecimentos Agradeço à minha família, pelo incentivo e colaboração. À minha orientadora por estar sempre disposta a ajudar. Agradeço aos meus colegas pelas palavras amigas nas horas difíceis, pelo auxilio nos trabalhos e dificuldades; e principalmente por estarem comigo nesta caminhada tornando-a mais fácil e agradável. A todos que contribuíram de alguma forma para o desenvolvimento deste trabalho, pelo tempo e pela dedicação concedidos. A todos que compartilharam comigo os meus ideais, incentivando-me a prosseguir fossem quais fossem os obstáculos. A educação deve contribuir para a autoafirmação da pessoa [...] e ensinar como se tornar cidadão. Um cidadão é definido, em uma democracia, por sua solidariedade e responsabilidade em relação a sua pátria. O que supõe nele o enraizamento de sua identidade nacional (MORIN, 2000). TRABALHOS PUBLICADOS EM EVENTOS CIENTÍFICOS II Semana de Química do Norte do Espírito Santo – São Mateus 2015 Pôster: “Temática ambiental no ensino de Química: Concepções dos professores da rede estadual de Jaguaré e São Mateus/ES” Prêmio de melhor trabalho na categoria de ensino em Química. SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 1 1.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................... 5 1.1.1 Breve Histórico da Educação Ambiental no contexto mundial e brasileiro ........ 5 1.1.2 Educação Ambiental e suas contribuições no ensino de química. ....................... 9 1.1.3 O livro didático de Química e suas contribuições para Educação Ambiental ... 12 1.1.4 O tema agrotóxicos no ensino de Química Ambiental ......................................... 15 2. OBJETIVOS .......................................................................................................................... 21 2.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................................................ 21 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................................... 21 3. METODOLOGIA ................................................................................................................. 22 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO .......................................................................................... 24 4.1 ANÁLISE DOS LIVROS ................................................................................................ 24 4.1.1 Conhecimento científico ......................................................................................... 25 4.1.2 Conscientização ambiental .................................................................................... 27 4.1.3 Atividades participativas ....................................................................................... 29 4.2 ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO ................................................................................... 30 4.2.1 Concepções dos professores sobre a Educação Ambiental e Química Ambiental ............................................................................................................................................. 31 4.2.2 Percepções do professor sobre o tema agrotóxico ................................................ 36 4.2.3 Considerações do professor quanto o papel do livro didático em suas aulas e na abordagem ambiental. ...................................................................................................... 38 4.3 OFICINA TEMÁTICA: UMA PROPOSTA METODOLÓGICA PARA ABORDAGEM SOBRE AGROTÓXICO NA DISCIPLINA DE QUÍMICA. ................................................. 41 5. CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 45 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 47 ANEXO A .................................................................................................................................. 56 LISTA DE FIGURAS Figura 1 - O que pretende a Educação Ambiental. Fonte: DIAS, 2004, p. 100. .............. 9 Figura 2 - Representação dos processos que podem ocorrer com uma molécula de agrotóxico a partir do momento em que é adicionada ao solo. FONTE: Spadotto (2006). ................................................................................................................................... 17 Figura 3 - Exercício sobre solubilidade do DDT. Fonte SM1, p. 271 .......................... 26 Figura 4 – Destaques para o tema agrotóxico no livro SM1; a) utilização de herbicidas para fins militares, como ocorridos na Guerra do Vietnã; b) a importância do uso de roupas adequadas durante a aplicação; c) classificação toxicológica; e d) processo de descarte das embalagens. Fonte SM1, p. 218, 219, 220, 221 e 222. ............................. 27 Figura 5 - Informações para consumo seguro dos alimentos. Fonte SM1, p. 306. ........ 28 Figura 6 - Frequência da na abordagem de QA nas aulas dos professores participantes da pesquisa. ................................................................................................................ 33 Figura 7 - Temas trabalhados pelos professores. .......................................................... 35 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Conceitos de Química que podem ser relacionados à temática agrotóxicos. 19 Tabela 2 - Código e referência dos livros analisados em diferentes escolas. ................. 24 Tabela 3 - Livros com abordagem sobre agrotóxicos e suas diferentescategorias. ....... 25 Tabela 4 - Títulos dos capítulos dos livros ................................................................... 27 Tabela 5 - Formação inicial dos professores dos municípios de Jaguaré e São Mateus. 31 Tabela 6 – Temas de EA apontados pelos professores de Química em grau de importância crescente. ................................................................................................. 40 LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS CTS – Ciência Tecnologia Sociedade CTSA – Ciência Tecnologia Sociedade Ambiente ENEQ – Encontro Nacional de Ensino de Química ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio MEC – Ministério da Educação PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais PNLD – Programa Nacional do Livro Didático PNLEM – Programa Nacional do Livro didático para Ensino Médio SBQ – Sociedade Brasileira de Química SEDU – Secretaria Estadual de Educação UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. RESUMO Problemas ambientais de origem antropogênica, que ameaçam até mesmo a nossa sobrevivência, vem agravando-se com o crescimento populacional e tecnológico. Assim, surge a Educação Ambiental (EA) como uma solução para que a humanidade reveja seus comportamentos. Porém, a EA tem sido um grande desafio a ser aplicado nas escolas, seja pela falta de materiais e/ou despreparo dos professores, por conseguinte, ela vem sendo cada vez mais foco de pesquisas. Na disciplina de Química, a EA pode ser trabalhada dentro do que se denomina: Química Ambiental (QA). A QA é o tema mais utilizado pelo ENEM devido a sua contribuição na contextualização da Química e interdisciplinaridade, o que a torna um exemplo de como apropriar-se de uma aprendizagem mais significativa. Devido a esses fatos relevantes, tal pesquisa buscou conhecer as concepções de parte dos professores de Química dos Municípios de Jaguaré e São Mateus possuem sobre a EA e QA. Além disso, buscou-se analisar os livros didáticos quanto sua contribuição sobre a temática agrotóxico, pois este é um dos temas ambientais que se destaca em municípios que possuem grande parte da renda originada na agricultura, como Jaguaré e São Mateus, visto que seu uso na lavoura é uma realidade nacional. Através da aplicação de um questionário com perguntas abertas e fechadas, os professores desses municípios expressaram suas definições de EA e QA, a importância do tema agrotóxico para região e apontaram a contribuição do livro didático para temática ambiental. As análises dos questionários e dos livros didáticos foram realizadas com base na análise de conteúdo de Bardin. Por meio dessa pesquisa verificou-se que nem todos os professores estão preparados a trabalhar a EA em suas aulas, mas reconhecem a importância dessa temática, assim como o tema agrotóxico para os alunos de sua escola. Pela análise dos livros didáticos constatou-se que tal tema é bem limitado e pouco contextualizado com os conteúdos específicos de Química, sendo um material “pobre" para o aluno quando o professor não se faz presente. Tendo em vista que os professores relacionaram a abordagem do tema agrotóxico somente com a química orgânica e conscientização durante o seu uso, a pesquisa propõe, ao final das análises, uma metodologia pedagógica para esse tema: a utilização de oficinas temáticas. Diante da complexa realidade da educação brasileira, o professor possui o papel de trazer para si a responsabilidade de ir além dos livros didáticos, indo à busca de experiências e saberes, para que em seguida possa levar para sala de aula, visando contribuir para formação de cidadãos conscientes quanto às questões ambientais. Palavras-chave: Educação Ambiental. Ensino de química. Agrotóxico. 1 1. INTRODUÇÃO Com o desenvolvimento tecnológico, a partir da Revolução Industrial, problemas ambientais surgiram como resultado do processo de produção/consumo desordenado. Discussões e ações sobre a problemática ambiental começaram a ser inseridas no cenário internacional a partir da segunda metade do século XX. Dentre as ações políticas promovidas pela UNESCO temos a Conferência de Belgrado, de Estocolmo e a de Tbilisi, que marcaram historicamente a preocupação com a conscientização educacional com relação a questões ambientais, consolidando uma nova área de práticas e pesquisas denominada Educação Ambiental (EA). Entre as metas e objetivos para EA está: ser comtemplada transversalmente nas diversas áreas de conhecimento e níveis de ensino. Assim, consequentemente, a EA passa a ser incentivada nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), através de um trabalho com os conteúdos disciplinares de forma contextualizada e integrada (UHMANN, 2013; DIAS, 2012). Encontram-se dentro da área de Química, duas denominações recorrentes para a EA: a Química Ambiental (QA) e a Química Verde (QV). A QV visa estudos de processos que eliminem a produção de poluentes e resíduos tóxicos (DREWS, 2011). Machado (2004) aponta que se deve empregar o termo “Química Verde” no sentido de Química para o meio ambiente e “Química Ambiental” no sentido de Química no meio ambiente. Posto isto, Cortes Jr. (2008) define a QA como a área de estudo responsável por conhecer os processos químicos dos constituintes do meio ambiente e suas inter- relações, principalmente as que dizem respeito à influência da atividade humana nestes processos. Segundo Machado e Mortimer (2007), a aula de química deve ser o espaço de construção do pensamento químico e de (re) elaborações de visões de mundo, para que os alunos assumam perspectivas e posições. Nesse sentido, a QA se encaixa perfeitamente, pois ela ressalta a necessidade de compreender a Química como uma ciência construída histórica e socialmente, com valores, aspectos políticos e econômicos, onde suas teorias científicas são entendidas pelo aluno de acordo com sua 2 realidade social e cultural, onde também, os problemas ambientais não podem ser ignorados (DREWS, 2011). Temos assim, que a QA se relaciona com EA: “[...] dentro de um contexto socioeconômico, no qual as análises de poluentes e substâncias relacionadas à degradação ambiental se dão em um âmbito de interesse políticos e sociais, mostrando a ciência como uma construção social permeada por interesses” (CHASSOT, apud DIONYSIO e MESSEDER, 2012 p.04). Porém, a EA para muitos professores é um desafio, que despreparados seguem a sequência do conteúdo do livro didático em suas aulas, ocasionando a diminuição da interação professor/aluno, impedindo a abordagem de assuntos atuais, locais ou globais, importantes para a abordagem significativa de EA (OTESBELGUE et. al., 2013). Logo, o livro didático não é suficiente para garantir as discussões relativas a questões ambientais, sendo função do professor, trabalhar de maneira adequada esse instrumento e se comprometer com questões didático-pedagógicas, para trazer à tona questões relevantes, constando ou não no livro (SÁ, 2006). Porém é importante deixar claro que um dos problemas da EA, está na falta de materiais que consigam apresentar uma dinâmica ambiental da sociedade atual (DIAS, 2012). Na EA o educador precisa dominar, além do conteúdo específico de Química, outras áreas relacionadas ao tema e atuar de maneira crítica sobre as implicações sociais e problemas socioambientais (SANTOS; SCHNETZLER, apud UHMANN, 2013). Logo, para o melhoramento no ensino de QA, o professor deve buscar suportes que venham sanar qualquer carência. Quanto a esses suportes, temos como exemplo as publicações e encontros de ensino de química, com destaque para o Encontro Nacional de Ensino de Química (ENEQ), que surgiu com o propósito maior de constituir uma comunidade de educadores químicos no Brasil, para o fortalecimento da Educação Química brasileira. Assim, podemos considerar o ENEQ como uma forte referência de como transcorre a EAno ensino de Química no Brasil. No entanto, foi somente no ano de 2010 que a sessão temática de EA foi introduzida nos encontros. Entre os anos de 2010 a 2014 ocorreu uma variação dos números de trabalhos dentro da temática de EA, onde em 2010 havia 20 apresentações de pôsteres e 21 comunicações orais; e em 2014 havia 46 apresentações de pôsteres e 10 comunicações orais. Pode-se constatar também que na sessão temática de EA no ENEQ entre os anos de 2010 a 2014 não foram apresentados trabalhos com o tema agrotóxico, apesar de que, de 3 acordo com Braibante e Zappe (2012) seja possível uma contextualização entre agrotóxico e a disciplina de Química, desde a tabela periódica no primeiro ano até reações orgânicas no terceiro ano do ensino médio. Cavalcanti e colaboradores (2010) reforçam a importância desse tema: Além de contexto motivador, agrotóxicos é uma temática rica conceitualmente, o que permite desenvolver conceitos químicos, biológicos, ambientais, entre outros, proporcionando aos estudantes compreender sua importância, de forma a conscientizá-los sobre a necessidade de uso correto dos agrotóxicos, e também favorecer o seu desenvolvimento intelectual, despertando-lhes espírito crítico, para que, dessa forma, possam interferir nos seus cotidianos (CAVALCANTI et. al., 2010, p. 31) Esse tema é pertinente, já que no Brasil entre 2001 e 2008 a venda de agrotóxicos saltou de US$ 2 bilhões para mais de US$ 7 bilhões, ocupando a posição de maior consumidor mundial, apesar de não ser o maior produtor de recursos agrícolas (LONDRES, 2011). Municípios como Jaguaré e São Mateus, que possuem parte de sua renda atribuída à agricultura, vêm a colaborar com esse índice. O Município de Jaguaré destaca-se pelo cultivo do café Conilon, ocupando 22.000 hectares (ha) e pela fruticultura com 1.000 ha (INCAPER, 2011). Já o Município de São Mateus possui um cultivo diversificado: café cultivado em 15.800 ha, cana de açúcar em 7.166 ha, coco-da-baía em 3.800 ha, entre outros, chegando a um total de 32.908 ha cultivados (INCAPER, 2011). Os agrotóxicos causam muitas implicações no meio ambiente e relacioná-los aos conteúdos de Química, principalmente em escolas de municípios que possuem atividade agrícola, contribuirá para que o professor desenvolva nos alunos a capacidade de identificar e compreender o vocabulário da ciência, utilizando-o para refletir e posicionar perante aos desafios de sua realidade local (CHASSOT, 1990; KRASILCHIK; MARANDINO, apud ZAPPE, 2011). Desta maneira, a QA além de propiciar a contextualização dos conceitos químicos, diferencia o olhar de professores e alunos em relação ao meio ambiente (LEITE; RODRIGUES, 2011). Assim, devido à relevância em se discutir o ensino de QA associada à influência do livro didático e a contribuição didático-pedagógica do professor para à promoção de uma formação mais crítica dos estudantes, essa pesquisa julga ser necessário à investigação e a reflexão dessa área de ensino em nossa região, com o intuito de contribuir para superação de dificuldades e uma significativa promoção de EA nas aulas de Química. 4 A pesquisa se dividiu em duas partes: a primeira com o objetivo de conhecer as concepções dos professores da rede estadual dos Municípios de Jaguaré e São Mateus sobre EA e QA por meio de aplicação de um questionário com perguntas abertas e fechadas; e a segunda, consistiu em analisar a abordagem temática de agrotóxicos nos livros didáticos, visto que esse tema é importante e presente na realidade dos alunos desses municípios. A análise dos livros quanto a sua abordagem sobre agrotóxico, assim como a análise dos questionários foram realizadas por meio da análise de conteúdo proposta por Bardin (1977), que é compreendida como um conjunto de técnicas de pesquisa que tem como objetivo buscar um sentido em um determinado documento. De acordo com Bardin (1977) esse método visa obter indicadores que permitam a inferência das informações que estão sendo trabalhadas. Para Moraes (1999), esse tipo de procedimento procura organizar os dados de maneira simplificada para que traga significação, por meio da criação das unidades de análise. Inicialmente o material é organizado, processo chamado de pré-análise, para levantar hipóteses, suposições, objetivo e definir uma direção para a interpretação final. Na análise propriamente dita, ocorrem essencialmente as operações de codificação (processo pelo qual os dados brutos são transformados sistematicamente e agregados em unidades), enumeração e por fim, a categorização, para que os resultados sejam tratados para uma significação do documento. No processo de categorização cada elemento não pode estar presente em duas categorias, tem que está adaptado ao material analisado e haver o objetivo (BARDIN, 1977). 5 1.1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Problemas ambientais vêm sendo um dos grandes desafios para a humanidade, pois o modo de vida capitalista sedutor e apelativo para o consumo gera poluição e agressão à natureza, que, por consequência, ameaça até mesmo à sobrevivência da humanidade. Esse quadro pode ser ainda revertido, desde que todos os setores da sociedade comecem efetivamente a lutar pela preservação do nosso planeta. Os professores de Química podem fazer parte dessa corrente com ações, dentro de cada realidade, através de uma Educação Ambiental (EA) ativa e transformadora. A Química geralmente é apontada como causadora de grandes impactos ambientais, mas quando direcionada adequadamente, através da Química Ambiental, pode-se fornecer aos alunos a compreensão do envolvimento da Química com os problemas atuais, para proporcionar um posicionamento crítico sobre as implicações ambientais geradas (RESSETTI, 2015). Neste trabalho, será apresentada uma reflexão sobre a EA e suas contribuições para o ensino de Química quando tratamos de um assunto de grande problematização no meio ambiente, os agrotóxicos. 1.1.1. Breve Histórico da Educação Ambiental no contexto mundial e brasileiro A existência de uma crise ambiental no mundo moderno, derivada de atividades humanas, se caracteriza pelo utilitarismo, pela instrumentalização e pela exploração desordenada, presente no modo de vida capitalista. Para reverter os sintomas dessa crise, mobilizações a partir da década de 1960 vêm sendo realizadas para garantir que a sociedade tenha uma postura mais consistente sobre a realidade por meio da educação (SOFFIATI, 2011). A primeira grande catástrofe ambiental que chamou a atenção ocorreu em 1952, quando o ar poluído de Londres provocou a morte de mais de 4.000 pessoas, desencadeando uma série de discussões em outros países, como nos Estados Unidos, onde se iniciou o movimento do “ambientalismo” a partir de 1960. Quem descreveu perfeitamente nessa época o descuido que setores de produção tinham com o meio ambiente foi a publicação de Rachel Carson, “Primavera Silenciosa” (1962), que contribuiu para que a temática ambiental passa-se a fazer parte das discussões políticas internacionais. Nos vários 6 eventos internacionais promovidos pela UNESCO - (Estocolmo 1972, Belgrado 1975 e Tbilisi 1977) - chamou-se a atenção para que medidas educativas fossem adotadas para preservar e melhorar o meio ambiente (DIAS, 2004; CARRARO, 1997). Na Conferência Mundial de Meio Ambiente Humano em Estocolmo (1972), admitiu-se que a educação formal não seria capaz de promover mudanças necessárias, devido a sua característica rígida e distante da realidade da sociedade. Assim, para cumprir tal tarefa, surge o rótulo de Educação Ambiental (EA), como um “novo” processo educacional (DIAS, 2004). A autora Dias (2012) apresenta o processo que levou o surgimento da EA: A anunciação da crise ambiental e a consequente efervescência das discussões sobre essa questão também ocasionaram a defesa pela Educação nos processos de conscientizaçãodos indivíduos frente às transformações ambientais. A Educação passa a ser vista como um dos instrumentos que poderiam contribuir para as possíveis soluções da “crise ambiental”. Assim, a declaração sobre Meio Ambiente Humano, firmada na Conferência de Estocolmo, defendeu a necessidade de trabalhos educacionais voltados para o meio ambiente que possibilitariam um novo posicionamento da sociedade. [...] Emerge da evidenciação dos problemas ambientais a consolidação de uma nova área de práticas e pesquisas denominada Educação Ambiental que passa a ser compreendida de forma sistematizada a partir de 1972 (DIAS, 2012, p.12). Posteriormente tornou-se necessário definir as bases conceituais da EA em outros encontros regionais, nacionais e internacionais. O Seminário Internacional de Educação Ambiental em Belgrado em 1975, por exemplo, proporcionou a elaboração da Carta de Belgrado, um documento que apresenta ideias que foram fundamentais para o desenvolvimento dos princípios práticos e teóricos da EA, sendo tais princípios, complementados na Conferência Intergovernamental sobre EA em Tbilisi no ano de 1977 (DIAS, 2012). Apesar de estabelecidos nesses encontros os objetivos, princípios e recomendações sobre EA, obstáculos como uma política desfavorável e interesses econômicos caracterizou a EA como um tipo de educação que poderia proporcionar a sociedade uma nova visão de mundo. Isto forçou a EA ser vista por alguns governos como um processo revolucionário/subversivo, motivo que fez com que não fosse aceita imediatamente pelas instituições educacionais de alguns países, como, por exemplo, no Brasil, devido ao fato de se opor aos interesses econômicos da época ditatorial (DIAS, 2004). 7 Na Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental, em Tbilisi (1977), recomendou-se para o desenvolvimento da EA considerar aspectos políticos, sociais, econômicos, científicos, tecnológicos, culturais, ecológicos e éticos. Mas o Brasil foi à contramão dessa conferência, quando o MEC publicou o documento “Ecologia - uma proposta para o ensino de 1° e 2° graus”, onde limitaria a EA ás Ciências Biológicas e reforçaria um caos conceitual-metodológico, aonde os professores viessem a confundir EA com o ensino de Ecologia. Mas posteriormente, a EA receberia um leve impulso com a Política Nacional do Meio Ambiente sancionada em 1981, segundo a qual a EA deve ser oferecida em todos os níveis de ensino, denominada EA formal, e para comunidade, denominada de EA não formal (DIAS, 2004; PRADO; SOUZA 2013, SANTOS; SILVA, 2013). Em 1987, na Conferência Internacional sobre Educação Ambiental, realizado em Moscou, o Brasil obteve um vexame perante a comunidade internacional, pois não tinham o que apresentar sobre o desenvolvimento da EA, seja suas conquistas e/ou dificuldades. A comunidade internacional presente nessa conferência questionou o Brasil pela demora em reconhecer as recomendações da Conferência de Tbilisi. Essa relutância do Brasil e outros países em desenvolvimento em pôr em prática a EA foi explicada por um documento divulgado na Itália em 1988, em que um dos motivos seria a pressão desses países para o pagamento da dívida externa. Tal documento condiz com a realidade, visto que, na Conferência de Estocolmo (1972) a delegação brasileira chegou a afirmar que o Brasil não se importaria em pagar o preço da degradação ambiental, desde que o resultado fosse o aumento do seu Produto Interno Bruto, mostrando que a economia era a principal preocupação (DIAS, 2004). Durante anos as ações em EA eram esporádicas no Brasil, até que o presidente Fernando Collor de Melo ordena a publicação e distribuição por todo país, do documento chamado “Projeto de Informação sobre Educação Ambiental”, que apontou que 85%, de 140 mil professores que participaram dessa pesquisa, afirmaram que esse era o primeiro material que recebiam sobre EA. Então, em 1989 o MEC cria o Grupo de Trabalho para a Educação Ambiental que deu início a uma série de iniciativas, dentre estas está a Conferência Rio-92, que corroborou com as premissas de Tbilisi e Moscou e consolidou o Plano de Ação intitulado “Agenda 21”, que visou esforços para o final do 8 analfabetismo ambiental e capacitação de pessoal para essa área (DIAS, 2004; SAITO, 2012). No entanto, o discurso e a prática andavam completamente afastados nessa época, pois durante os anos de estruturação da EA no Brasil, a cada ministro que entrava no governo, era anunciado que a EA seria uma prioridade, porém eram investidos somente 0,03% da verba, ou mesmo 0,0% como ocorreram entre os anos de 1999-2000. Isto explica a carência de especialistas em EA no Brasil e surge uma visão que a EA seria algo inatingível e que só gera nos encontros dessa área de ensino discursos que são devaneios que não se aproveita. Esquecia-se na época de realizar discussões para a contextualização, metas e estratégias, para evitar diversas confusões conceituais, que estão presentes até nos dias atuais (DIAS, 2004). Em 1994 a EA ganhou instrumentos para seu desenvolvimento mais intenso, quando surge o Programa Nacional Ambiental, que encadeou posteriormente na Política Nacional de Educação Ambiental (Lei n° 9.795/99), surgindo desde então um período produtivo, apesar de ainda haver dificuldades variadas (DIAS, 2004). Essa política diz que a EA tem como princípio mostrar a concepção do meio ambiente em sua totalidade, ou seja, incluindo o meio natural, o socioeconômico e o cultural (SAITO, 2012). Ainda na década de 1990, depois de debates e experiências em relação a considerar a EA como disciplina específica ou não, surge um desfecho final com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) ao consolidar a EA como tema transversal em todas as disciplinas das Ciências de forma mais integrada, agregando questões de ordem política, econômica, social, tecnológica e científica (SAITO, 2012; DIAS; ECHEVERRIA, 2011). Após a inserção do tema ambiental nos PCNs, a EA ganhou mais força dentro do ensino formal, pois de acordo com Dias (2012, p.13) “a elaboração desse documento pode ser considerada como um marco para a difusão do tema meio ambiente nos planejamentos pedagógicos das escolas brasileiras”. Por fim, pode-se perceber que essa área de estudo é recente no Brasil e ainda está em fase de construção, uma vez que até a década de 1980 a EA não estava presente na graduação e pós-graduação (PRADO; SOUZA, 2013). 9 1.1.2. Educação Ambiental e suas contribuições no ensino de química. Para Loureiro, Educação Ambiental pode ser definida como: A Educação Ambiental é uma práxis educativa e social que tem por finalidade a construção de valores, conceitos, habilidades e atitudes que possibilitem o entendimento da realidade de vida e atuação lúcida e responsável de atores sociais individuais e coletivos no ambiente (LOUREIRO, 2011, p. 73). Assim como a de Loureiro (2011) existem várias outras definições de EA que no final se completam, como destaca Dias (2004, p.100), que através de várias dessas definições atribuiu a sua visão de EA “como um processo por meio do qual as pessoas aprendam como funciona o ambiente, como dependemos dele, como o afetamos e como promovemos a sua sustentabilidade”. Na Figura 1 é mostrado o esquema de DIAS (2004) para explicar o propósito da EA. Figura 1 - O que pretende a Educação Ambiental. Fonte: DIAS, 2004, p. 100. Todas essas definições de EA que podem ser encontradas, de alguma forma partiram de um dos documentos mais importantes, a Carta de Belgrado (1975), que defende como objetivos da EA: “Contribuir para aquisição de consciência, vínculos afetivos, habilidades, sensibilidade e valores sociais, estimular a capacidade de avaliação, desenvolver o senso de responsabilidade e propiciar compreensão básica do ambiente como um todo” (DIAS, 2012, p. 20). Tendo em mãos essas e outras definições, diferentesposturas pedagógicas podem ser tomadas quando se trabalha com tema de investigações e práticas sociais e políticas na EA, visto que essas diferentes posturas e concepções justificam a necessidade de 10 explorar assuntos locais e internacionais (DIAS, 2012). Existe a EA centrada na conservação do ambiente físico, a EA popular, EA crítica, EA política, EA comunitária, EA socioambiental, dentre outras, pois “[...] não há “uma” educação para o ambiente, mas múltiplas propostas, proporcionais, em número e variedade, às tantas concepções de mundo, de sociedade e de questão ambiental existente” (LIMA, 1999, p.140). Mas independente da denominação que o educador escolha seguir, ele já tem como característica uma visão crítica e emancipatória sobre mundo e sobre a real função de sua disciplina específica (SANTOS et. al., 2011). Conforme a Lei 9.795, de 27 de abril de 1999, a EA passa a ser tratada como tema transversal que pode ser trabalhada em todos os níveis escolares, logo estará presente no Ensino Médio na disciplina de Química (SANTOS, 2009). No ensino de Química, de acordo com Oliveira e Irazusta (2013, p.02), a EA “contribui para o desenvolvimento de valores, comportamentos, atitudes e do senso crítico e a ampliação da consciência de suas ações para sua vida e a sociedade”, onde a união entre química e EA é capaz de favorecer a compreensão de conceitos químicos associados a eventos da vida cotidiana do aluno, caracterizando em um trabalho transdisciplinar, assim como visa os Parâmetros Curriculares Nacionais. Devido à defasagem na sua formação, muitos professores de Química levam para sala de aula uma concepção errada dessa área de estudo, onde veem a EA apenas como uma forma de discutir os problemas ambientais como, por exemplo: tratamento de lixo, tratamento de esgoto, reciclagem, etc. Na realidade, esta área abrange um vasto campo, uma vez que a EA se encaixa nos processos sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências direcionadas para preservação do meio ambiente, pensando na sociedade em geral. Assim, a formação e a capacitação em EA dos professores das diferentes áreas, incluindo a Química, vêm sendo reconhecida e tornando-se prioridade em instituições educativas que almejam a união de todos os envolvidos no processo educacional para dessa forma promover a EA. Busca-se, com isto, que o professor torne-se capaz de levar para sala de aula uma discussão crítica sobre os problemas ambientais, aproveitando para contextualizar conceitos científicos da Química, uma vez que possui saberes e experiências adquiridas na sua formação através de instituições educativas que valorizam a EA (CAMPOS et. al., 2010). 11 Professores-pesquisadores de diferentes áreas estão engajados em compreender e buscar melhorias na abordagem da EA e suas relações com os conhecimentos científicos, ou seja, uma busca por uma maneira efetiva para a contextualização com a EA, pois se admite que para o aluno ser crítico, consciente e participativo na sociedade contemporânea, também seja necessário que ele compreenda o conhecimento científico, pois passaria a ser apto para capacidade de avaliação em diferentes situações problemáticas em relação ao meio ambiente. Os professores de Química estão cada vez mais articulados com a temática ambiental, principalmente aqueles que dialogam com a abordagem Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) (DIAS, 2012). O movimento CTS e a EA tiveram trajetórias muito próximas na segunda metade do século passado. O movimento CTS impulsionou-se mais significativamente quando a sociedade começou a questionar os discursos sobre o progresso e o desenvolvimento vindos da Ciência e Tecnologia sem uma análise crítica das relações de seus conhecimentos. Ao mesmo tempo o movimento ambientalista se intensificou com a crítica no desenvolvimento econômico e com o uso desenfreado dos recursos naturais (SANTOS et. al., 2011). Assim, alguns autores visaram à integração entre a perspectiva CTS e a EA, a exemplo temos Silva e Strieder (2015). Mas a perspectiva Ciência- Tecnologia-Sociedade-Ambiente (CTSA), é uma tarefa recente e nem sempre experimentada (SILVA; STRIEDER, 2015). Tem-se que: Os educadores que possuem ligação com os princípios do ensino CTS e da EA, torna-se importante que eles proporcionem a interpretação de questões socioambientais cotidianas, no sentido de encaminhar a uma abordagem problemática (SANTOS et. al., 2011, p. 138). Dentre as abordagens da EA na Química, podemos encontrar a denominações “Química Ambiental” (QA) e Química Verde (QV), onde a QA visa o estudo da Química no meio ambiente e a QV o estudo da Química para o meio ambiente, que busca soluções para reduzir a produção de resíduos perigosos. A QA originou-se da Química clássica (Química Analítica) e trata-se de uma ciência interdisciplinar que envolve Química, Biologia, Ecologia e a Ciências Sanitárias (KRUGER, apud SANTOS, 2009). Logo, a QA é a área de estudo responsável por conhecer os processos químicos dos componentes do meio ambiente, tais como rochas, solos, água, ar, organismos vivos e suas inter-relações, principalmente as que dizem respeito à influência da atividade humana nestes processos, para proporcionar uma minimização dos danos. Ou seja, tanto 12 a QV como a QA estão relacionados à ideia de modernização ecológica, onde os conhecimentos dos processos químicos que ocorrem no meio ambiente, proporciona uma (re) orientação para as atividades químicas (CORTES JR, 2008). Quando entramos no âmbito escolar, Ressetti (2015) aponta temas e ressalta os objetivos ao se trabalhar Química Ambiental no Ensino Médio: Dentre os temas geradores da Química Ambiental, que podem ser utilizados no ensino de Química, pode-se destacar: a poluição causada pelas indústrias locais, os agrotóxicos, o problema do lixo, a poluição das águas e a poluição atmosférica. Através de tais temas é possível trabalhar praticamente todos os conteúdos de Química do Ensino Médio. O tratamento destes temas será sempre conduzido visando dois objetivos fundamentais em relação aos educandos: A apropriação do saber elaborado referente aos conteúdos científicos da disciplina de Química e a formação de cidadãos capazes de intervir ativamente no ambiente social em que vivem, com uma visão crítica da realidade em seus aspectos históricos, sociais, políticos e econômicos, aptos ao exercício da cidadania (RESSETTI, 2015, p.04, grifo nosso). Assim, para tornar a EA válida no ensino de Química, deve-se fornecer ao aluno a capacitação teórica, prática e de comportamento através de um envolvimento crítico com um problema concreto da sociedade em que vivem (CAMPOS et. al., 2010). Ao seguir os princípios que governam a QA, o professor estará apresentando a Química como uma ciência natural, destacando a sua importância como uma ciência que traz vários benefícios ao homem (SANTOS, 2009). Temos, portanto, que ao: Trabalhar a química ambiental no Ensino Médio se apresenta como proposta de estabelecer o novo paradigma de ensino de química para cidadania no cotidiano da sala de aula, onde a possibilidade de transcender e incluir a química na formação humanística do cidadão possa contribuir na educação ambiental e conscientização holística e integrada da relação homem/natureza (CORTES JR; FERNANDEZ, 2007, p. 04). 1.1.3. O livro didático de Química e suas contribuições para Educação Ambiental Choppin (2004) destaca que os livros didáticos possuem múltiplas funções conjuntas ou não, que podem variar de acordo com o ambiente sociocultural, com a época, disciplina, estratégias de educacionais e formas de utilização. Dentre as principais funções do livro didático estão: 13 Função referencial: diz respeito ao conteúdo, suporte, técnicas ou habilidades; Função instrumental: através de exercícios e atividades por em prática métodos de aprendizagem; Função ideológica e cultural: o livro atua como vetor da língua, cultura e valores das classes dirigentes; Função documental: onde o livro fornece um conjunto de documentos, textuais ou icônicos, cujo intuito é desenvolver um espírito crítico (CHOPPIN, 2004). No geral, a função do livro didático para o professor é fornecer a informação científica, a formação pedagógica e a gestão das aulas. Para os alunos, o livro didático fornece aprendizagens escolares para a vida cotidiana ou profissional (ECHEVERRIA et. al., 2011). Diante dessas múltiplas funções, não devemos compreender o livro didático como um objeto físico e isolado que não influência o contexto sócio-econômico- político-cultural do aluno (DIAS, 2012). Para isso devemos compreender o livro didático como: [...] “suporte de conteúdos previamente escolhidos por um grupo de pessoas, instrumento para alcançar os objetivos de ensino, vetor da cultura e dos valores das classes dirigentes e como documentos textuais ou icônicos cuja observação ou confrontação de seus elementos pode vir a desenvolver o pensamento crítico” (DIAS, 2012, p.24). Nas últimas décadas, várias pesquisas apontam o livro didático como importante fonte de informação e conhecimento no espaço escolar. Muitas vezes esta fonte é usada como instrumento de suporte para professores com dificuldade e insegurança no seu trabalho, somente com o objetivo de obter informações, tratando-o como modelo absoluto da verdade repassando aos alunos o conteúdo de forma acrítica (ECHEVERRIA et. al., 2011), ou seja, o oposto do que Choppin (2004) apresenta sobre o livro didático. Na década de 1980, devido a muitos desgastes políticos e o retorno do modelo educacional europeu, os professores eram responsáveis pela escolha do livro didático, que apresentavam uma série de problemas, fruto do privilégio, até mesmo o monopólio, exercido por certos autores e editoras, favorecendo completamente o lado comercial (CURADO, 2013). Na década de 1990 ocorreram ações para reverter esses problemas, onde a prioridade seria o fator educacional. Assim, conciliado com os PCNs, surge o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), onde o governo federal através dessa política direciona os professores para a escolha do livro didático que mais se aproxima 14 do Plano Político Pedagógico da escola pública. O governo cria o Guia do livro didático, que traz resenhas e informações de cada obra selecionada por uma equipe de especialistas do MEC. As análises dos livros didáticos realizadas pelo PNLD surgiram devido às necessidades formativas dos professores de ciências e a forte dependência que eles têm do livro didático. O PNLD tem como objetivo excluir do Guia do livro didático, os livros que possam apresentar discriminação de qualquer tipo, erros conceituais, desatualizações e etc. Isso colaborou para que as editoras começassem a se adaptar as orientações curriculares do MEC e do PNLD, que, entre muitos benefícios, veio a colaborar na promoção da temática ambiental (DIAS, 2012; CURADO, 2013). Os PCNs para o Ensino Médio apresentavam a problemática ambiental como um dos fatores a serem trabalhados com o conhecimento escolar dentro de uma concepção para a formação cidadã. Mas apesar de não ser intenção dos PCNs em criar uma diretriz curricular obrigatória para o ensino das disciplinas, eles serviram como eixos norteadores para a formulação de programas educacionais como, por exemplo, o já mencionado PNLD, assim como sua extensão para o ensino médio, o Programa Nacional do Livro didático para Ensino Médio (PNLEM), onde se inclui a disciplina de Química. Portanto, houve um processo de propagação da temática ambiental nos processos de ensino ampliada para os livros didáticos a partir dos PCNs. Temos na avalição do PNLEM a utilização de 59 critérios envolvendo aspectos conceituais, metodológicos e éticos, dentre esses, quatro visam avaliar questões ambientais. Dentre esses quatro critérios, dois são de caráter eliminatório (DIAS, 2012). Ainda assim, de acordo com a pesquisa de Loguercio (2001), alguns professores escolhem os livros de acordo com a quantidade de exercícios para o vestibular e alguma alusão ao cotidiano dos alunos. Isso é reflexo das lacunas na formação dos professores frente ao conhecimento químico e educacional que acarreta na dificuldade de analisar o livro didático e obter uma capacidade crítica e de resgate de sua autoridade de intelectual formador (LOGUERCIO, 2001). É o que Echeverria (2008) destaca ao dizer que não podemos avaliar os resultados na educação Básica que a distribuição de livros de Química pelo PNLEM irá acarretar, pois existem outros fatores que influenciam como: a pressão do mercado editorial e a formação dos professores. 15 Em uma realidade de má valorização dos profissionais docentes e decadência do espaço escolar, a preocupação da qualidade do livro didático é uma das complexas vertentes que devem ser melhoradas no processo de ensino-aprendizagem. Ao reconhecer a forte influência que o livro exerce nas aulas de Química, tende a surgir pesquisas que venham a somar para a melhoria do ensino, assim contribuindo que o educador vá além do conteúdo presente no livro, onde seja capaz de transpor entre outras áreas, posicionado de maneira crítica, seja sobre as implicações sociais ou com a relação com os problemas socioambientais (SANTOS; SCHNETZLER, apud UHMANN (2013); DIAS, 2012). Ou seja, utilizar o livro didático sem deixar que ele modele o professor. Para a temática ambiental, o livro didático pode servir de complementação quando se trabalha além da exaltação da ciência/Química para questões ambientais. Mas não é tão fácil conseguir do livro didático de Química um suporte vantajoso para EA já que, há mais de 30 anos, que não apontam resultados positivos em relação a seu conteúdo dos textos (ECHEVERRIA et. al., 2011). Na sua maioria, os livros de Ensino Médio de Química discutem assuntos ambientais de forma superficial, simplificada e confusa, muitas vezes antes que alunos tenham um entendimento de conteúdos relacionados. (QUADROS et. al., 2008). Logo, precisa-se ter consciência que os livros didáticos não podem ser considerados como o principal método da EA escolar, mas é importante deixar claro que um dos problemas dessa prática está na falta de materiais que consigam apresentar uma dinâmica ambiental da sociedade atual (DIAS, 2012). Assim, temos que ter consciência que o livro didático utilizado corretamente pelo professor e desfrutado todo seu potencial, pode ser um ótimo material para abordagem da EA, pois um bom livro não necessariamente será um suporte pedagógico adequado na mão de um mau professor (SÁ, 2006). 1.1.4. O tema agrotóxicos no ensino de Química Ambiental Em muitas escolas, o ensino de Química é caracterizado pelo verbalismo do professor e a memorização do aluno, onde estão desligados das necessidades reais para formação da cidadania (ALMEIDA, 2009). Logo, o que é mais importante para um aluno: a configuração eletrônica dos lantanídeos ou os problemas que ocorrem no meio ambiente 16 no uso indiscriminado e incorreto de agrotóxicos? Diante dessa pergunta levantada pela autora Carraro (1997), ficamos frente a frente com um dos temas que podem colaborar para o ensino de Química de forma significativa para a vida do aluno, principalmente aquele que mora em uma região agrícola. Isso condiz com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96) que prevê para os alunos um ensino diversificado, respeitando as características regionais de cada cultura (CURADO, 2013). Ou ainda, segundo o PCNEM, que diz que o ensino de Química deve permitir a construção de uma visão de mundo mais articulada, menos fragmentada, que o aluno se enxergue como participante de um mundo em constante transformação (CURADO, 2013). O tema agrotóxico deve ser ministrado pelo professorlevando em conta as questões ambientais, mas também a questões sociais e econômicas. Essa é uma forma do educador alertar a comunidade em geral, por meio dos alunos, das problemáticas causadas pelo mau uso dessas substâncias (COSTA, 2012). Enxerga-se aqui uma possível contribuição social do professor, como cidadão ativo aos problemas de sua comunidade. O desenvolvimento dos agrotóxicos foi impulsionado pelo desejo do homem em melhorar sua condição de vida, buscando aumentar a produção dos alimentos, em consequência do crescimento da população e a diminuição da área de cultivo devido à expansão das cidades (BRAIBANTE; ZAPPE, 2012; JARDIM; ANDRADE, 2009). Eles são substâncias que causam contaminação de coleções de águas superficiais e subterrâneas, e a contaminação das comunidades de seres vivos. A existência de áreas contaminadas por agrotóxicos está relacionada com o desconhecimento de procedimentos seguros para o manejo de substâncias perigosas e a ocorrência de acidentes ou vazamentos durante os processos produtivos, de transporte ou de armazenamento (JARDIM; ANDRADE, 2009; PERES; MOREIRA, 2007). A cada ano no Brasil, a contaminação por agrotóxicos vem atingindo proporções cada vez maiores, reflexos de uma cultura que visa fins lucrativos tanto por parte da indústria que os produz, quanto de quem comercializa o plantio (GERMANO et. al., 2010). A agricultura industrial visa somente à produtividade, deixando de lado os danos ecológicos que podem ser causados pelo uso indiscriminado de agrotóxicos. Na agricultura podemos apontar vários descasos, como por exemplo: o não avanço na 17 tradução dos rótulos dos produtos fabricados em outros países, em que não adequa a linguagem ao público para o qual se destina; a falta de fiscalização de órgãos públicos quanto às normas de comercialização, dosagens, número de aplicação, uso de produtos ilegais, entre outros (COSTA, 2012). Na Figura 2 temos o destino do agrotóxico no meio ambiente por diferentes processos, tais como de retenção (sorção, absorção), de transformação (degradação química e biológica), e de transporte (deriva, volatização, lixiação e carregamento superficial) ou mesmo a interação de diferentes processos que contaminam o ar, água e solo (SPADOTTO, 2006). Essa característica contaminadora dos agrotóxicos vem a colaborar para que a “química” seja relacionada e apontada como a maior causadora de problemas ambientais no mundo, onde o aluno recebe essa preconcepção de outras fontes de informações que se posicionam de forma sensacionalista, caso não tenha a oportunidade de refletir e obter uma opinião sobre esse assunto através do conhecimento (JARDIM; ANDRADE, 2009; PERES; MOREIRA, 2007). Figura 2 - Representação dos processos que podem ocorrer com uma molécula de agrotóxico a partir do momento em que é adicionada ao solo. Fonte: SPADOTTO (2006). Considerando que o Brasil consome 84% dos agrotóxicos vendidos na América Latina, a escola é uma instituição que deve atribuir-se a si mesma o papel de preocupar-se com 18 as pessoas, ajudando o aluno a ser um cidadão crítico e consciente perante essa realidade. O professor tem a tarefa de ser um agente formador, buscando desenvolver no aluno as habilidades por meio de uma reflexão do que lhe é transmitido (COSTA, 2012). Portanto, é importante a colaboração da disciplina de Química para que forneça ao aluno uma visão crítica e um posicionamento sobre o assunto. Para Flor (2007, p.01), quando se trabalha com o tema agrotóxico, devemos levar em consideração outros fatores além dos conceitos químicos, pois de acordo com essa autora “o indivíduo precisa ter noção do poder de ação que a aquisição desses conhecimentos lhe possibilita. [...] que não somos sujeitos neutros, mas sim influenciados por nossas leituras de textos, do mundo e da vida”. Ao tratar esse assunto, o professor dará ao aluno a oportunidade de adquirir o conhecimento através dos elementos químicos presentes nos principais agrotóxicos, assim como os seus malefícios relacionados com a saúde, para assim se tornar apto de uma visão mais crítica sobre o assunto (GERMANO et. al., 2010). Afinal, além do contexto motivador, a temática agrotóxico permite uma interdisciplinaridade com conceitos químicos, biológicos, ambientais, entre outros (CAVALCANTI, 2010). Ao relacionar o uso dos agrotóxicos aos conteúdos de Química, principalmente em escolas de municípios que possuam atividade agrícola, o professor estará formando alunos capazes de identificar e compreender o vocabulário da ciência, utilizando-o para refletir e enfrentar desafios do seu cotidiano (CHASSOT, 1990; KRASILCHIK; MARANDINO, apud ZAPPE, 2011). Teremos assim, no ensino de química uma EA voltada para o esclarecimento e compreensão das relações na sociedade entre si e com a natureza, desenvolvendo valores para que haja mudanças de hábitos, posturas e estilos de vida (CARRARO, 1997). Existem mais de mil formulações diferentes de agrotóxicos e pelo menos 11 elementos químicos estão em sua formulação (dentre esses estão: Br, C, Cl, S, P, H, N e O). Portanto, Zappe (2011) sugere que a partir das formulações dos agrotóxicos sejam desenvolvidos estudos sobre os modelos atômicos, as propriedades da Tabela periódica, ligações químicas, representações moleculares, funções orgânicas, propriedades físico- químicas dos agrotóxicos, soluções, etc. Na Tabela 1 são apresentados os conteúdos que 19 podem ser trabalhados em cada ano do ensino médio utilizando-se a temática agrotóxico. Tabela 1 - Conceitos de Química que podem ser relacionados à temática agrotóxicos. Ano do Ensino Médio Conceitos de Química 1° ano Notação e Nomenclatura química; História do átomo; Tabela periódica; Ligações Químicas. 2° ano Soluções; Equilíbrio químico. 3° ano Compostos orgânicos; Funções orgânicas; Reações orgânicas. Fonte: ZAPPE (2011) Como exemplo de como a temática “agrotóxico” pode ser aplicada no ensino de Química, podemos citar a pesquisa de Gotardi (2012) que seguiu a seguinte sequência didática: Aula inicial utilizando slides, dando uma visão geral sobre os agrotóxicos; Aulas sobre soluções e solubilidade, destacando que as pessoas que fazem uso dos agrotóxicos estão lidando com um frasco de uma solução e que essa possui características importantes de serem conhecidas; Estudo da Bula de um agrotóxico, como por exemplo, o Tamaron, focando na diluição, concentração das soluções, doses letais, equipamentos de proteção, tratamento de embalagens vazias; Trabalho em grupo sobre as informações das Bulas de agrotóxicos, o que fez com que os alunos lessem e interpretassem a bula, colocando-os no “lugar” dos agricultores; Aula de discussão sobre o que foi trabalhado com o tema; Por fim, uma visita a uma plantação de café orgânico, para assistir uma palestra realizada por um agricultor desse tipo de cultivo. Além de Gotardi (2012), temos outros autores que realizaram pesquisas que mostram ser possível a contextualização no ensino de química com a temática “agrotóxico” (ZAPPE, 2011; CAVALGANTI et. al., 2010; MORAES et. al., 2011; GUIMARÃES et. al., 2013; BROIETTI et. al., 2014; ALMEIDA, 2009). 20 Maldaner (1999), expressa perfeitamente a importância de se contextualizar no ensino de Química: Não se trata de negar a possibilidade de aprender o conteúdo específico de química, o fazer químico, a capacidade técnica de fazer a ciência química avançar. Porém aprender química é muito mais que isto. É compreender a química como ciência que recria a natureza, modifica-a e, com isso, o próprio homem [...] Saber química é, também, saber posicionar-se criticamente frente a situações (MALDANER, 1999, p. 289, grifo nosso). Infelizmente, Silva (2007) aponta em sua pesquisa que os professores de Química sentem muita dificuldade em entender e praticar a contextualização em suas aulas, devidoa barreiras epistemológicas, afetivas, cognitivas, que controlam suas decisões no processo educativo, ficando muitas vezes, presos a sequência dos livros didáticos. Para sanar essas dificuldades, Silva (2007) sugere uma formação continuada com equipes de trabalho imbuídas em tarefas de pesquisa-ação, onde trocas de experiências seriam usadas para reflexão das práticas pedagógicas. Portanto, foi possível mostrar que a temática agrotóxico é relevante para vida em sociedade e para contextualização no ensino de Química, apesar de não ser uma tarefa fácil para alguns professores que possuem carência na formação ou são pressionados a fazer outros trabalhos. Segundo Barcelos (2008, apud MAIA et. al., 2013) a escola é um local privilegiado para a realização da EA, desde que se dê a oportunidade à criatividade. 21 2. OBJETIVOS 2.1. OBJETIVO GERAL Este trabalho tem como objetivo analisar a abordagem do tema “agrotóxico” nos livros didáticos que estão sendo utilizados no ano de 2015 pelas escolas de São Mateus e Jaguaré, quanto ao contemplar ou não os objetivos básicos para uma Educação Ambiental voltada para formação de um aluno crítico. Além disso, investigar as concepções acerca da Educação Ambiental e da Química Ambiental na práxis de professores de Química que atuam em escolas da rede pública desses Municípios, e a percepção destes quanto ao seu papel, no âmbito do ensino de química, quanto às interlocuções com a Educação Ambiental, principalmente as que fazem menção a região predominantemente agrícola. 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Revisar a bibliografia sobre as ações de Educação Ambiental no ensino de Química; Analisar os livros didáticos quanto sua abordagem sobre agrotóxico; Elaborar o questionário direcionado aos professores da rede Estadual dos Municípios de Jaguaré e São Mateus; Aplicar o questionário aos professores de química da rede estadual dos Municípios de Jaguaré e São Mateus; Através da aplicação do questionário investigar: a percepção dos professores quanto à abordagem de Educação Ambiental no livro didático de Química; se os professores obtiveram motivações e treinamento para promoção de temas ambientais; qual a percepção e a abordagem dos professores quanto ao tema de Educação Ambiental e especificamente sobre agrotóxicos; Analisar os resultados pelo método da Análise de Conteúdo desenvolvida por Bardin (1979), buscando apresentar qual é a importância dada a Educação Ambiental, especialmente ao tema agrotóxico. 22 3. METODOLOGIA Inicialmente realizou-se uma pesquisa bibliográfica com a intenção de encontrar na literatura trabalhos que abordassem sobre o tema Educação Ambiental, Química Ambiental, livro didático e aplicações no ensino de Química com a temática agrotóxico. Após a pesquisa bibliográfica, o segundo passo foi a realização de uma revisão bibliográfica centralizada na observação de dados teóricos de vários autores que publicaram artigos, dissertações e livros sobre os objetivos da Educação Ambiental e da Química Ambiental, além de relatos de práticas pedagógicas sobre esses temas. Conforme Lima e Mioto (2007, p. 44) a pesquisa bibliográfica “é sempre realizada para fundamentar teoricamente o objeto de estudo, contribuindo com elementos que subsidiam a análise futura dos dados obtidos”. Neste trabalho de investigação procurou-se analisar as informações referentes à temática “agrotóxico” contidas nos textos dos livros do Programa Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio (PNLEM) de 2015, escolhidos por algumas escolas dos Municípios de Jaguaré e São Mateus. Como os livros didáticos representam um importante instrumento de trabalho do professor, julgou-se necessário avaliar nessa pesquisa o tratamento das questões ambientais nos livros, especificamente sobre o tema “agrotóxico” e analisar o grau de aprofundamento do tema e a forma como o mesmo é desenvolvido. Para isso foram solicitadas para algumas escolas desses municípios, as coleções dos livros didáticos que estão sendo utilizadas por seus professores de Química. A opinião de parte dos professores da rede estadual, atuantes no ano de 2015, como professores efetivos ou com designação temporária, sobre a abordagem da temática ambiental nas aulas de Química, foi obtida através da utilização de um questionário, contendo perguntas abertas e fechadas, e que está apresentado no apêndice A. Este questionário foi direcionado aos professores de Química e serviu como método de coleta de dados, para análise da percepção, receptividade e aplicabilidade por parte destes sobre a temática ambiental e em especial ao tema agrotóxico. Ambas as análises, dos livros e dos questionários, teve sua investigação realizada pelo método de Análise de Conteúdo que se caracteriza como um dos procedimentos 23 clássicos para interpretar materiais textuais. De acordo com Bardin (1977) esse método visa obter indicadores que permitam a inferência de informações relativas às condições de produção/recepção da mensagem escrita. A partir dos resultados da análise, se pode regressar às causas, ou até descer aos efeitos. Ainda de acordo com Bardin (1977), esse método pode ser compreendido como um conjunto de técnicas de pesquisa que tem como objetivo buscar um sentido em um determinado documento. Visando obter indicadores que permitam a inferência das informações que estão sendo trabalhadas. Para Moraes (1999), esse tipo de procedimento procura organizar os dados de maneira simplificada para que traga significação, por meio da criação das unidades de análise. Inicialmente o material é organizado, processo chamado de pré-análise, para levantar hipóteses, suposições, objetivo e definir uma direção para a interpretação final. A análise propriamente dita, consiste essencialmente de operações de codificação (processo pelo qual os dados brutos são transformados sistematicamente e agregados em unidades), enumeração e por fim realizada a categorização para que os resultados sejam tratados para uma significação do documento. No processo de categorização cada elemento não pode estar presente em duas categorias, tem que está adaptado ao material analisado e haver o objetivo (BARDIN, 1977). 24 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO Neste capítulo são apresentados os resultados da análise dos livros quanto à abordagem do tema agrotóxico, resultado da análise do questionário dos professores da rede estadual e por fim, uma breve discussão sobre uma proposta de como tornar aplicável à contextualização do tema agrotóxico na disciplina de química no ensino médio. 4.1. ANÁLISE DOS LIVROS A Tabela 2 apresenta os livros analisados e suas respectivas escolas e Municípios. A análise limitou-se aos livros do PNLD 2015 escolhidos por parte das escolas dessas cidades. Os livros serão representados com um código formado pelas iniciais dos sobrenomes dos autores seguido por um número que indicará o volume. Tabela 2 - Código e referência dos livros analisados em diferentes escolas. Código Referência Escola/Município F1/F2/F3 FONSECA, M. R. M. da; Química. 1. ed., v. 1, 2 e 3. São Paulo: Ática, 2013 EEEM Pedro Paulo Grobério/Jaguaré e EEEFM Marita Motta Santos/São Mateus. SM1/SM2/SM3 SANTOS, W. L. P. dos; MÓL, G. de S. (coords.) Química cidadã 2. ed., v. 1, 2 e 3. São Paulo: Ed. AJS, 2013. EEEM Ceciliano Abel de Almeida/São Mateus e EEEFM Santo Antônio/São Mateus. De maneira geral, a temática ambiental está presente em ambas as coleções, apresentando temas como: poluição, efeito estufa, consumo sustentável, entre outros. Temos nos livros F1/F2/F3 uma divisão em cinco unidades, cada uma com um tema central relacionado ao meio ambiente. Por exemplo, no F1 as cinco unidades são: mudanças climáticas; oxigênio e ozônio; poluição eletromagnética; poluiçãode interiores; e chuva ácida. Já os volumes dos livros SM possuem três unidades, cada uma abordando um tema social, por exemplo, temos no SM1 os temas: consumo sustentável; poluição atmosférica; e agricultura. Cabe destacar que em cada unidade do SM possui um boxe chamado “Atitude sustentável” que orienta os alunos para a prática da 25 cidadania, especialmente ao referir-se aos impactos ambientais gerados pelos temas de cada unidade. Ambas as coleções possuem sugestões de práticas experimentais e devido a isso, preocupam-se em orientar o aluno no procedimento do descarte de resíduos gerados. Dentre os vários temas ambientais foi possível identificar também em todos os livros informações sobre agrotóxicos, possibilitando assim realizar uma divisão de categorias relacionadas a esse tema. As categorias são: conhecimento científico, conscientização ambiental e atividade participativa. Conhecimento científico diz respeito à utilização da temática “agrotóxico” em abordagens que envolvem conhecimentos específicos de Química, ou seja, informações contextualizadas com a Química. Atividade participativa inclui exercícios, trabalho em grupo e experiências, ou seja, tudo que venha estimular o aluno a ter uma ação em torno do tema agrotóxico. E a categoria de conscientização ambiental, diz respeito a todas as informações que contribua para que os alunos tenham um espaço para a reflexão e ação sobre o tema agrotóxico. Na Tabela 3 é apresentado um mapa que aponta em cada livro a presença (parte pintada) ou não da abordagem do tema agrotóxico nas diferentes categorias, deixando claro que durante a análise foi considerado qualquer referência ao tema. Tabela 3 - Livros com abordagem sobre agrotóxicos e suas diferentes categorias. Categorias Livros SM1 SM2 SM3 F1 F2 F3 Conhecimento científico Conscientização ambiental Atividades participativas 4.1.1. Conhecimento científico Pode-se constatar que somente os livros F3 e SM1, tiveram os três tipos de abordagem, mesmo que tenha sido de forma bem limitada. Podemos inserir o F3 e SM1 nessa categoria devido ao fato de apresentarem o nome e a fórmula estrutural de alguns agrotóxicos usados no controle de pestes, proporcionando ao aluno visualizar como ocorrem as ligações entre os átomos destas substâncias. Além disso, o livro SM3 26 apresentou a estrutura do DDT (dicloro-difenil-tricloroetano) para exemplificar substâncias organossintéticas e substâncias com anéis aromáticos. As substâncias com anéis aromáticos, derivadas do benzeno, constituem um importante grupo de matérias-primas para produção de materiais diversos, por exemplo: [...] o DDT, que é um inseticida [...] (SM3, p. 47, grifo nosso). No geral os livros não apresentavam uma contextualização muito efetiva. O que foi muito comum em todos os livros foi a presença de textos no início de cada capítulo que usava um tema ambiental ou social, que na maioria, não era utilizado no conteúdo específico do capítulo. Por exemplo, o livro SM1 apresentou um excelente texto informativo sobre agrotóxicos no início do capítulo sobre ligações químicas, mas prosseguiu o desenvolvimento do capítulo de forma tradicional e conteudista. Braibante e Zappe (2012) destacam que devido ao fato da solubilidade e do pH influenciarem diretamente na persistência dos agrotóxicos no meio ambiente, esses assuntos são de grande importância e que poderiam ser contextualizado no ensino de química. Porém, em apenas um exercício, foi identificado uma abordagem de maneira indireta sobre solubilidade de um tipo de agrotóxico, o DDT, como pode ser observado na Figura 3. Figura 3 - Exercício sobre solubilidade do DDT. Fonte SM1, p. 271 Na Tabela 4 são apresentados em quais capítulos dos livros foram encontradas as abordagens sobre agrotóxico. No livro F3, no capítulo “Haletos orgânicos”, faz sentido à presença do agrotóxico DDT, visto que ele é um composto contendo cloro. Em outros capítulos, a abordagem sobre agrotóxico fica perdida dentro do conteúdo específico de química, ou seja, não ocorre uma contextualização. 27 Tabela 4 - Títulos dos capítulos dos livros com a temática agrotóxico. Livro Capítulo que foi encontrado a temática agrotóxico. F1 Propriedades da matéria; e Compostos orgânicos. F2 Expressões físicas de concentração; Concentração e quantidade de matéria; e Misturas de soluções. F3 Haletos orgânicos; Funções oxigenadas; e Carboidratos. SM1 Transformações e propriedades da substância; Ligações Químicas; e Substâncias inorgânicas. SM2 Propriedades da água e propriedades coligativas; Equilíbrio Químico. SM3 Química da Saúde e da beleza e a nomenclatura orgânica; e Indústria química e síntese orgânica. 4.1.2. Conscientização ambiental Essa é a abordagem mais frequente encontrada sobre agrotóxico em todos os livros analisados. É possível verificar na Figura 4 que no livro SM1, o tema agrotóxico teve grande destaque através da apresentação dos tipos de grupos químicos, classificação de toxicidade e instruções de uso. Tal livro é o único que possui uma unidade com o tema “agricultura” e devido a isso, a abordagem sobre agrotóxico foi muito bem trabalhada. a) b) c) d) Figura 4 – Destaques para o tema agrotóxico no livro SM1; a) utilização de herbicidas para fins militares, como ocorridos na Guerra do Vietnã; b) a importância do uso de roupas adequadas durante a aplicação; c) classificação toxicológica; e d) processo de descarte das embalagens. Fonte SM1, p. 218, 219, 220, 221 e 222. 28 Outro ponto interessante foi o boxe “Atitude sustentável” da unidade “agricultura” do livro SM1, onde são apresentadas alternativas para que se diminua a contaminação gradativa pelo consumo de alimentos (Figura 5). Figura 5 - Informações para consumo seguro dos alimentos. Fonte SM1, p. 306. Desde a Lei Federal n° 7.802, de 1989, substâncias químicas utilizadas para o controle de pragas devem ser chamadas de agrotóxico e não mais defensivo agrícola. Essa decisão deixa clara a capacidade dessas substâncias de destruir vida animal ou vegetal, característica que fica mascarada em uma denominação de caráter positivo como a de “defensivos” agrícolas. O termo agrotóxico indica não apenas a sua finalidade de uso, mas também o caráter prejudicial destas substâncias, visualizado no radical “tóxico”. (PERES; MOREIRA; DUBOIS, 2015). Portanto, cabe destacar um texto apresentado pelo F3, que apresenta o interesse entorno da denominação dessas substâncias químicas. Defensivos agrícolas para as indústrias. Agrotóxicos para os defensores da natureza. Pontos de vista diferentes sobre as substâncias usadas para controlar ou matar determinadas pragas. Sua utilização pode oferecer ou não perigo para o homem, dependendo da toxicidade do composto, do tempo de contato com ele e do grau de contaminação que pode ocorrer. [...] Um dos mais tóxicos e já há algum tempo proibido, o DDT, virou verbo: dedetizar (F3, p. 81, grifo nosso). 29 Os livros F1, F2 e SM2 entram nessa categoria pelo fato de apresentarem textos sobre poluição dos recursos hídricos e incluir o uso de agrotóxicos como um dos causadores, porém sem aprofundar sobre o assunto quimicamente. O livro SM3 apresenta um texto sobre faturamento da indústria química no mundo, o que inclui os “defensivos agrícolas”. Portanto, nesses quatro livros a abordagem sobre agrotóxico, dentro dessa categoria, foi coadjuvante. O F3 foi o único livro a apresentar uma reportagem sobre o tema com data de 2011 e título “Misteriosa epidemia assola cortadores de cana na América Central” que levanta a hipótese de que uma epidemia de doenças renais em homens que trabalham com agricultura esteja relacionada a componentes tóxicos como pesticidas e herbicidas usados na cultura de cana. 4.1.3. Atividades participativas Na categoria de atividades participativas, temos poucosexercícios, tais como: Em relação à equação abaixo que representa a obtenção do DDT (C14 H9 Cl5) é INCORRETO afirmar que: X C6H5Cl + C2HCl3O→C14H9Cl5+H2O a) o coeficiente x que torna a equação corretamente balanceada é igual a 2 b) o DDT é um composto orgânico oxigenado c) cada molécula de DDT contém 5 átomos de cloro d) a massa de 1 mol de moléculas de água é igual a 18 g (F3, p.81). Debata e entenda: Que denominação você julga mais adequada: agrotóxico ou defensivo agrícola? Os agrotóxicos devem ou não ser utilizados na agricultura? (SM1, p. 225) Não foi encontrada nenhuma atividade que estimulasse um trabalho em grupo, apesar de que nos livros da coleção SM exista um boxe no final de cada unidade chamado “Ação e cidadania” que propõe atividades de ação e cidadania com o objetivo do aluno conhecer a sua comunidade e procurar alternativas para seus problemas, estimulando o espírito de cooperação, solidariedade, responsabilidade, respeito e tolerância. Machado e Mortimer (2007) expressa perfeitamente à importância de trabalhos em grupo: As discussões estabelecidas entre os alunos organizados em grupos, sem a presença do professor, são fundamentais para que o aluno aprenda os conceitos, aprendendo a falar com e sobre eles. Além disso, no grupo, o aluno tem a oportunidade de confrontar suas opiniões com as dos colegas, que muitas vezes são diferentes e até contraditórias, E ele não se sente constrangido em expressar essas opiniões na presença de colegas, algo que 30 muitas vezes ocorre com alunos mais tímidos nas discussões entre toda a classe, organizada pelo professor. O debate em grupos promove o desenvolvimento das habilidades de ouvir, negociar consenso, respeitar a opinião do outro, argumentar e procurar justificativas racionais para as opiniões. Todas essas habilidades têm sido cada vez mais exigidas em diferentes atividades profissionais. Dessa forma, o ensino de química também estará contribuindo para a formação do cidadão e do futuro profissional (MACHADO; MORTIMER, 2007, p. 38). Essa categoria não esteve tão presente nos livros, mesmo na unidade “agricultura” do livro SM1, o que exemplifica a falta de contextualização com o tema. Além disso, não foi encontrada nenhuma experiência relacionada a agrotóxicos. 4.2. ANÁLISE DO QUESTIONÁRIO O questionário é constituído de perguntas abertas e fechadas, sendo dividido em três partes: inicialmente com duas perguntas para definir parte do perfil dos professores; em seguida nove perguntas para conhecimento das concepções dos professores sobre EA e QA; e por fim, cinco perguntas direcionadas ao livro didático. Os professores permaneceram por mais de um mês com o questionário e assim que respondidas por próprio punho, eram recolhidas. As transcrições das respostas que aparecem nesta pesquisa não tiveram oportunidades de serem debatidas pessoalmente com o professor, devido ao curto período de tempo. O Questionário foi entregue para três professores de Jaguaré atuantes na única escola estadual de Ensino Médio do Município, e para sete professores que ministram aulas em três diferentes escolas do Município de São Mateus. Dos questionários distribuídos, obteve-se retorno de dois professores de Jaguaré e seis professores de São Mateus. Os professores do Município de Jaguaré que participaram da pesquisa tem cargo com designação temporária (DT), enquanto que em São Mateus quatro são efetivos e dois são DTs. Os nomes dos professores envolvidos neste trabalho de pesquisa foram codificados por: P1, P2, P3... P8. Assim, essa codificação será apresentada a cada transcrição das respostas desses professores. Na Tabela 5 apresenta-se a formação acadêmica dos professores de cada cidade. As perguntas/respostas dos professores foram analisadas e divididas em três categorias: Concepções dos professores sobre a 31 Educação Ambiental e Química Ambiental; Percepções do professor sobre o tema agrotóxico; e as Considerações do professor quanto o papel do livro didático em suas aulas e na abordagem ambiental. A seguir, apresenta-se a discussão dos resultados obtidos em cada uma destas categorias. Tabela 5 - Formação inicial dos professores dos municípios de Jaguaré e São Mateus. Município Professores Formação inicial Jaguaré P1* Licenciatura em Ciências Biológicas P2* Nutrição São Mateus P3 e P4* Licenciatura plena em Química P5 Bacharel em Química P6 e P7 Licenciatura e Bacharel em Química P8* Farmácia * professores com cargo de designação temporária. 4.2.1. Concepções dos professores sobre a Educação Ambiental e Química Ambiental A aproximação da EA com a QA está dentro de um contexto socioeconômico, em uma necessidade de interação social (ALMEIDA, 2009). Dessa forma, quanto à noção que cada professor tem sobre EA e QA, a maioria apresentou uma percepção de que a EA era algo mais amplo e que, dentro dela, poderia ser trabalhada a QA, mas não mostraram de maneira clara como fariam essa conexão. Outros professores definiram a EA de maneira naturalista, utilizando os termos como “preservação” e “conservação”. Isso reflete uma EA realizada nas escolas de modo pontual (datas ecológicas, palestras etc.), fragmentada, conteudista e com pequeno envolvimento comunitário, reforça uma concepção em que as questões ambientais são muito restritas aos aspectos naturais do ambiente, ou seja, uma visão naturalista (GUERRA; GUIMARÃES, 2007). Temos, portanto, a visão naturalista e a visão socioambiental, sendo essa última a EA que tem sido associada ao que se tem denominado de EA crítica, que vai além de informar questões sobre degradação ambiental e realizar um “adestramento ambiental” (SANTOS, 2010). Cabe ressaltar uma resposta que mostra uma confusão conceitual: P1: EA reflete sobre atitudes com o meio ambiente e QA é a preservação do ambiente através de produtos químicos sem utilizá-los em grande quantidade. 32 Dos oito professores participantes da pesquisa somente quatro receberam algum tipo de formação, orientação e/ou treinamento em EA: P3 e P7 na graduação, P2 na graduação e pós-graduação e P5 em cursos fornecidos pela Secretaria de Educação do Estado. Ainda sobre a diferença de EA e QA, podemos comparar duas respostas, sendo a do P7 que recebeu orientação sobre EA e a do P6 que não recebeu qualquer tipo de formação em EA, onde notamos que para P6 a EA vai além do meio ambiente, pois menciona poder trabalhá-la em todas as disciplinas, mostrando que apesar de não ter recebido treinamento, parte do conceito de EA é de seu conhecimento. P6: EA está relacionada as atitudes humanas em relação ao ambiente, sendo assim ela estará presente em todas as disciplinas. A QA está relacionada com processos químicos que ocorrem na natureza. P7: EA é a preocupação com o meio ambiente e QA está relacionada com os processos de degradação e/ou restauração ligados a natureza e ambientes urbanos. O papel da EA no ensino de Química, de acordo com Oliveira e Irazusta (2013), é contribuir para que o aluno garanta um desenvolvimento de valores, comportamentos, senso crítico e conscientização para sua vida em sociedade. Alguns professores apontaram suas concepções sobre o papel da EA em suas aulas. Abaixo algumas transcrições: P1: Educar para preservar o meio ambiente P2: Diversificação das aulas. Aulas mais interessantes voltadas para o dia-a-dia. P5: O conhecimento sobre meio ambiente é importante para a preservação e utilização dos recursos naturais, criando pessoas mais engajadas na construção de sociedade sustentável. P8: A Educação Ambiental tem o papel de mostrar ao aluno a importância de uma melhoria da qualidade de vida. Quando unimos química e EA, passamos a favorecer uma compreensão de conceitos químicos associados a eventos que ocorrem na vida cotidiana do aluno (OLIVEIRA; IRAZUSTA, 2013). Todos os professores que participaram da pesquisa compartilham
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