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4 I. RESUMO Os fármacos que afetam o sistema nervoso autônomo (SNA) são divididos em dois grupos, de acordo com o tipo de neurônio envolvido nos seus meca- nismos de ação. Os fármacos colinérgicos (descritos neste e no próximo capítulo) atuam em receptores que são ativados pela acetilcolina (ACh), e os fármacos adrenérgicos (Caps. 6 e 7) atuam em receptores que são estimula- dos pela norepinefrina ou pela epinefrina. Os fármacos colinérgicos e adre- nérgicos atuam estimulando ou bloqueando receptores do SNA. A Figura 4.1 resume os agonistas colinérgicos discutidos neste capítulo. II. O NEURÔNIO COLINÉRGICO A fibra pré-ganglionar que termina na suprarrenal, o gânglio autônomo (tanto parassimpático como simpático) e as fibras pós-ganglionares da di- visão parassimpática usam ACh como neurotransmissor (Fig. 4.2). A divi- são pós-ganglionar simpática das glândulas sudoríparas também usa ACh. Além disso, neurônios colinérgicos inervam os músculos do sistema somá- tico e também desempenham função importante no sistema nervoso cen- tral (SNC). A. A neurotransmissão nos neurônios colinérgicos A neurotransmissão nos neurônios colinérgicos envolve seis etapas se- quenciais: 1) síntese, 2) armazenamento, 3) liberação, 4) ligação da ACh ao receptor, 5) degradação do neurotransmissor na fenda sináptica (ou seja, o espaço entre os terminais nervosos e os receptores adjacentes localizados nos nervos ou órgãos efetores), e 6) reciclagem de colina e acetato (Fig. 4.3). 1. Síntese de ACh: A colina é transportada do líquido extracelular para o citoplasma do neurônio colinérgico por um sistema carrega- dor dependente de energia que cotransporta sódio e pode ser inibi- do por hemicolínio. (Nota: a colina tem um nitrogênio quaternário e carrega permanentemente uma carga positiva; dessa forma, não AÇÃO DIRETA Acetilcolina Betanecol Carbacol Cevimelina Pilocarpina AÇÃO INDIRETA (Reversíveis) Ambenônio Donepezila Galantamina Neostigmina Fisostigmina Piridostigmina Rivastigmina Nicotina Edrofônio AÇÃO INDIRETA (Irreversíveis) Ecotiofato REATIVADOR DA ACETILCOLINESTERASE Pralidoxima Figura 4.1 Resumo dos agonistas colinérgicos. Rajan Radhakrishnan Agonistas colinérgicos Capitulo_04_Whalen.indd 51 25/04/2016 09:44:00 52 Whalen, Finkel & Panavelil consegue difundir-se através da membrana.) A captação da colina é o passo limitante da síntese de ACh. A colina-acetiltransferase catalisa a reação da colina com a acetilcoenzima A (CoA) para for- mar ACh (um éster) no citosol. 2. Armazenamento da ACh em vesículas: A ACh é empacotada em vesículas pré-sinápticas por um processo de transporte ativo aco- plado ao efluxo de prótons. A vesícula madura contém não só ACh, mas também trifosfato de adenosina (ATP) e proteoglicano. A co- transmissão nos neurônios autônomos é uma regra, e não exce- ção. Isso significa que a maioria das vesículas contém o neuro- transmissor primário (neste caso, a ACh) e o cotransmissor que aumenta ou diminui o efeito do neurotransmissor primário. 3. Liberação da ACh: Quando um potencial de ação, propagado por canais de sódio voltagem-dependentes, chega ao terminal nervo- so, abrem-se canais de cálcio voltagem-dependentes na membra- na pré-sináptica, causando um aumento na concentração de cálcio intracelular. Níveis elevados de cálcio promovem a fusão das vesí- culas sinápticas com a membrana celular e a liberação do seu con- teúdo no espaço sináptico. Essa liberação pode ser bloqueada Inervação simpática da suprarrenal Simpático Parassimpático Acetilcolina Acetilcolina AcetilcolinaNorepinefrinaEpinefrina e norepinefrina liberadas na corrente sanguínea Receptor nicotínico Receptor nicotínico Receptor nicotínico AUTÔNOMO Músculo estriadoÓrgãos efetores Sem gânglio SOMÁTICO Acetilcolina Acetilcolina Receptor nicotínico Medula suprarrenal Neurônios pós-ganglionares Neurônio pré-ganglionar Transmissor ganglionar Transmissor neuroefetor Receptor muscarínico Receptor adrenérgico Receptor adrenérgico Figura 4.2 Locais de ação dos agonistas colinérgicos nos sistemas nervosos autônomo e somático. Capitulo_04_Whalen.indd 52 25/04/2016 09:44:01 Farmacologia Ilustrada 53 pela toxina botulínica. Em contraste, a toxina da aranha viúva-ne- gra provoca a liberação de toda a ACh armazenada nas vesículas, esvaziando-a na fenda sináptica. 4. Ligação com o receptor: A Ach liberada das vesículas sinápticas difunde-se através do espaço sináptico e se liga a receptores pós- -sinápticos na célula-alvo, ao receptor pré-sináptico na membrana do neurônio que liberou a Ach ou a outros receptores-alvo pré-si- nápticos. Os receptores pós-sinápticos colinérgicos na superfície dos órgãos efetores são divididos em duas classes: muscarínicos e nicotínicos (Fig. 4.2). A ligação ao receptor leva a uma resposta fi- siológica no interior da célula, como o início de um impulso nervoso na fibra pós-ganglionar ou a ativação de enzimas específicas nas células efetoras mediadas por moléculas segundas mensageiras. 5. Degradação da ACh: O sinal no local efetor pós-juncional termina rapidamente devido à hidrólise da ACh pela acetilcolinesterase Na+Na+ 1 3 4 26 5 + Ca2+ Ca2+ RESPOSTA INTRACELULAR SÍNTESE DE ACETILCOLINA A colina acetiltransferase catalisa a síntese de acetilcolina a partir de colina e acetil-CoA LIBERAÇÃO DO NEUROTRANSMISSOR A liberação é bloqueada pela toxina botulínica O veneno de aranhas causa liberação de acetilcolina LIGAÇÃO AO RECEPTOR CAPTAÇÃO NAS VESÍCULAS DE ARMAZENAMENTO A acetilcolina está protegida da degradação no interior da vesícula RECICLAGEM DA COLINA O receptor pós-sináptico é ativado pela ligação com o neurotransmissor DEGRADAÇÃO DA ACETILCOLINA A acetilcolina é rapidamente hidrolisada pela acetilcolinesterase na fenda sináptica Acetilcolina ColinaColina AcCoA Acetilcolina Vesícula sináptica Receptor pré-sináptico Colina Acetato A colina é captada pelo neurônio. Este transporte é inibido pelo hemicolínio Figura 4.3 Síntese e liberação da acetilcolina do neurônio colinérgico. AcCoA, acetilcoenzima A. Capitulo_04_Whalen.indd 53 25/04/2016 09:44:01 54 Whalen, Finkel & Panavelil (AChE), formando colina e acetato na fenda sináptica (Fig. 4.3). (Nota: a butirilcolinesterase, às vezes denominada pseudocolines- terase, é encontrada no plasma, mas não desempenha função sig- nificativa na terminação do efeito da ACh na sinapse.) 6. Reciclagem da colina: A colina pode ser recaptada por um sistema de captação de alta afinidade acoplado ao sódio que transporta a molécula de volta para o neurônio. Ali, ela é acetilada em ACh, que é armazenada até a liberação por um potencial de ação subsequente. III. RECEPTORES COLINÉRGICOS (COLINOCEPTORES) Duas famílias de receptores colinérgicos, designados muscarínicos e nicotíni- cos, podem ser diferenciadas entre si com base em suas diferentes afinidades para fármacos que mimetizam a ação da ACh (fármacos colinomiméticos). A. Receptores muscarínicos Os receptores muscarínicos pertencem à classe dos receptores acopla- dos à proteína G (receptores metabotrópicos). Esses receptores, além de se ligarem à ACh, reconhecem a muscarina, um alcaloide que está presente em certos cogumelos venenosos. Porém, os receptores mus- carínicos apresentam baixa afinidade pela nicotina (Fig. 4.4A). Há cinco subclasses de receptores muscarínicos. Contudo, somente os receptores M1, M2 e M3 foram caracterizados funcionalmente. 1. Localização dos receptores muscarínicos: Esses receptores se localizam em gânglios do sistema nervoso periférico e em ór- gãos efetores autônomos, como coração, músculos lisos, cérebro e glândulas exócrinas. Embora os cinco subtipos sejam encontra- dos nos neurônios, receptores M1 também são encontrados nas células parietais gástricas; M2, nas células cardíacas e nos mús- culos lisos; e M3, na bexiga, nas glândulas exócrinas e no músculo liso. (Nota: fármacos com ações muscarínicas preferencialmente estimulam receptoresmuscarínicos nesses tecidos, mas, em con- centrações elevadas, podem mostrar alguma atividade em recep- tores nicotínicos.) 2. Mecanismos de transdução do sinal pela ACh: Inúmeros meca- nismos moleculares diferentes transmitem o sinal gerado na ocu- pação do receptor pela ACh. Por exemplo, quando os receptores M1 ou M3 são ativados, o receptor sofre uma mudança conforma- cional e interage com uma proteína G, designada Gq, a qual, por sua vez, ativa a fosfolipase C. Isso leva à produção de segundos mensageiros trifosfato (1,4,5) de inositol (IP3) e diacilglicerol (DAG). O IP3 causa aumento no Ca 2+ intracelular. O cálcio, então, pode estimular ou inibir enzimas ou causar hiperpolarizacão, secreção ou contração. O DAG ativa a proteinocinase C, uma enzima que fosforila inúmeras proteínas no interior da célula. Em contraste, a ativação do subtipo M2 no músculo cardíaco estimula a proteína G, denominada Gi, a qual inibe a adenililciclase e aumenta a condu- tância do K+. O coração responde diminuindo a velocidade e a for- ça de contração. 3. Agonistas muscarínicos: A pilocarpina é um exemplo de agonis- ta muscarínico não seletivo usado no tratamento da xerostomia e A B NicotinaAcetilcolinaMuscarina Muscarina Acetilcolina Nicotina Alta a�nidade Baixa a�nidade Receptores muscarínicos Receptores nicotínicos Baixa a�nidade Alta a�nidade Figura 4.4 Tipos de receptores colinérgicos. Capitulo_04_Whalen.indd 54 25/04/2016 09:44:01 Farmacologia Ilustrada 55 do glaucoma. Atualmente, são feitos esforços para desenvolver agonistas e antagonistas muscarínicos que atuem em subtipos es- pecíficos de receptores. Agonistas dos receptores M1 são investi- gados para o tratamento da doença de Alzheimer, e antagonistas dos receptores M3, para o tratamento da doença pulmonar obstru- tiva crônica. (Nota: na atualidade, nenhum fármaco clinicamente importante interage apenas com receptores M4 e M5.) B. Receptores nicotínicos Os receptores nicotínicos, além de ligarem a ACh, reconhecem a ni- cotina, mas têm baixa afinidade pela muscarina (Fig. 4.4B). O receptor nicotínico é composto de cinco subunidades e funciona como um ca- nal iônico disparado pelo ligante. A ligação de duas moléculas de ACh provoca uma alteração conformacional que permite a entrada de íons sódio, resultando na despolarização da célula efetora. A nicotina em concentração baixa estimula o receptor; em concentração alta, o blo- queia. Os receptores nicotínicos estão localizados no SNC, na suprar- renal, nos gânglios autônomos e na junção neuromuscular (JNM) nos músculos esqueléticos. Aqueles localizados na JNM algumas vezes são designados NM, e os outros, NN. Os receptores nicotínicos dos gânglios autônomos diferem daqueles situados na JNM. Por exemplo, os recep- tores ganglionares são bloqueados seletivamente pela mecamilamina, ao passo que os receptores da JNM são bloqueados especificamente pelo atracúrio. IV. AGONISTAS COLINÉRGICOS DE AÇÃO DIRETA Os agonistas colinérgicos mimetizam os efeitos da ACh ligando-se direta- mente aos colinoceptores (muscarínicos ou nicotínicos). Estes fármacos podem ser classificados em dois grupos: 1) ésteres da colina endógenos, que incluem a ACh e ésteres sintéticos de colina, como o carbacol e o be- tanecol; e 2) alcaloides de ocorrência natural, como a nicotina e a pilocar- pina (Fig. 4.5). Todos os fármacos colinérgicos de ação direta têm efeitos mais prolongados do que a ACh. Alguns dos fármacos terapeuticamente mais úteis (pilocarpina e betanecol) se ligam preferencialmente aos recep- tores muscarínicos, e algumas vezes são referidos como fármacos musca- rínicos. (Nota: os receptores muscarínicos estão localizados primariamen- te, mas não exclusivamente, nas junções neuroefetoras do sistema nervoso parassimpático.) Contudo, como um grupo, os agonistas de ação direta mostram pouca especificidade nas suas ações, o que limita sua utilida- de clínica. A. Acetilcolina A acetilcolina é um composto amônio quaternário que não consegue penetrar membranas. Embora seja o neurotransmissor de nervos paras- simpáticos e somáticos, bem como dos gânglios autônomos, não tem im- portância terapêutica, devido à sua multiplicidade de ações (que provoca efeitos difusos) e à sua rápida inativação pelas colinesterases. A ACh tem atividade muscarínica e nicotínica. Suas ações incluem os itens descritos a seguir: 1. Diminuição da frequência e do débito cardíaco: As ações da ACh no coração mimetizam os efeitos da estimulação vagal. Por exemplo, se injetada por via intravenosa (IV), a ACh produz uma NC + CH3 CH2 CH 2O O CH3 CH3 NC + CH3 CH2O O CH3 CH3 CH CH 3 H2 N H 2 N NCH + CH3 CH2 CH 2O O 3 C CH3 CH3 CH3 C 2 CH 2 OO N N H 5 Acetilcolina Carbacol (derivado da acetilcolina) Pilocarpina (produto natural) Éster do ácido carbâmico; resiste à hidrólise pela acetilcolinesterase Betanecol (derivado da acetilcolina) Ligação hidrolisada pela acetilcolinesteras Figura 4.5 Comparação das estruturas de alguns agonistas colinérgicos. Capitulo_04_Whalen.indd 55 25/04/2016 09:44:02 56 Whalen, Finkel & Panavelil breve redução na frequência cardíaca (cronotropismo negativo) e no volume sistólico, como resultado da redução da frequência de descargas no nó sinoatrial (NSA). (Nota: a atividade vagal normal regula o coração pela liberação de ACh no NSA.) 2. Diminuição da pressão arterial: A injeção de ACh causa vasodi- latação e diminuição da pressão sanguínea por mecanismo indire- to. A ACh ativa receptores M3 situados nas células endoteliais que cobrem o músculo liso dos vasos sanguíneos. Isso resulta na pro- dução de óxido nítrico (NO) a partir da arginina. O NO então difun- de-se até as células musculares lisas dos vasos para estimular a produção de proteinocinase G, levando à hiperpolarização e ao relaxamento do músculo liso por meio da inibição da fosfodieste- rase-3. Na ausência da administração de fármacos colinérgicos, os receptores vasculares não têm função conhecida, pois a ACh nunca é liberada no sangue em quantidade significativa. A atropi- na bloqueia esses receptores muscarínicos e evita que a ACh pro- duza vasodilatação. 3. Outras ações: No trato gastrintestinal (TGI), a ACh aumenta a se- creção salivar e estimula as secreções e a motilidade intestinal. As secreções bronquiais também são aumentadas. No trato genituri- nário, a ACh aumenta o tônus do músculo detrusor, causando mic- ção. No olho, a ACh estimula a contração do músculo ciliar para a visão próxima e contrai o esfíncter da pupila, causando miose (constrição acentuada da pupila). A ACh (em solução a 1%) é insti- lada na câmara anterior do olho para produzir miose durante cirur- gias oftálmicas. B. Betanecol O betanecol é um éster carbamila não substituído, relacionado estrutu- ralmente com a ACh (Fig. 4.5). O betanecol não é hidrolisado pela AChE (devido à esterificação do ácido carbâmico), embora seja inativado por meio de hidrólise por outras esterases. Ele não tem ações nicotínicas (pela presença do grupo metila), mas apresenta forte atividade muscarí- nica. Suas principais ações são na musculatura lisa da bexiga urinária e no TGI. Tem duração de ação de cerca de 1 hora. 1. Ações: O betanecol estimula diretamente os receptores muscaríni- cos, aumentando a motilidade e o tônus intestinal. Ele também es- timula o músculo detrusor da bexiga e relaxa os músculos trígono e o esfíncter. Esses efeitos provocam a micção. 2. Aplicações terapêuticas: No tratamento urológico, o betanecol é usado para estimular a bexiga atônica, particularmente na reten- ção urinária não obstrutiva no pós-parto ou pós-operatório. O beta- necol também pode ser usado no tratamento da atonia neurogêni- ca, bem como no megacolo do intestino. 3. Efeitos adversos: O betanecol causa os efeitos da estimulação colinérgica generalizada (Fig. 4.6), que incluem sudoração (diafo- rese), salivação, rubor, diminuição da pressão arterial, náuseas, dor abdominal, diarreia e broncoespasmo. O sulfatode atropina pode ser administrado para superar as graves respostas cardio- vasculares ou broncoconstritoras desse fármaco. Diarreia Diaforese Miose Emergência urinária Náusea Figura 4.6 Alguns efeitos adversos observados com os agonistas colinérgicos. Capitulo_04_Whalen.indd 56 25/04/2016 09:44:02 Farmacologia Ilustrada 57 Olho não tratado Midríase (Dilatação da pupila) Miose (Contração da pupila) Olho tratado com atropina Olho tratado com pilocarpina Figura 4.7 Ações da pilocarpina e da atropina na íris e no músculo ciliar do olho. C. Carbacol (carbamilcolina) O carbacol apresenta ações muscarínicas e nicotínicas. Como o beta- necol, o carbacol é um éster do ácido carbâmico (Fig. 4.5) e um mau substrato para a AChE. Ele é biotransformado por outras esterases, mas em uma velocidade muito menor. 1. Ações: O carbacol tem amplos efeitos nos sistemas cardiovascular e gastrintestinal devido à sua atividade estimulante ganglionar, po- dendo primeiro estimular e depois deprimir esses sistemas. Ele pode causar liberação de epinefrina da suprarrenal por sua ação nicotíni- ca. Instilado localmente no olho, o carbacol mimetiza os efeitos da ACh, causando miose e espasmo de acomodação, no qual o múscu- lo ciliar permanece em um estado constante de contração. 2. Usos terapêuticos: Devido a sua alta potência, inespecificidade por receptor e duração de ação relativamente longa, o carbacol raras vezes é usado em terapêutica, exceto no olho, como fármaco miótico no tratamento do glaucoma, por causar contração pupilar e diminuição da pressão intraocular. 3. Efeitos adversos: Nas doses usadas em oftalmologia, ocorre pouco ou nenhum efeito adverso, devido à sua escassa penetrabi- lidade sistêmica (o carbacol é uma amina quaternária). D. Pilocarpina O alcaloide pilocarpina é uma amina terciária e resiste à hidrólise pela AChE (Fig. 4.5). Comparado com a ACh e seus derivados, a pilocarpina é muito menos potente; porém, por não possuir carga elétrica, penetra no SNC nas dosagens terapêuticas. A pilocarpina apresenta atividade muscarínica e é usada primariamente em oftalmologia. 1. Ações: Aplicada localmente no olho, a pilocarpina produz rápida miose e contração do músculo ciliar. Quando o olho está em miose, ocorre espasmo de acomodação. A visão se torna fixa para uma distância particular, tornando impossível a focalização (Fig. 4.7). (Note o efeito oposto da atropina, um bloqueador muscarínico, no olho.) A pilocarpina é um dos mais potentes estimulantes das se- creções, como suor, lágrimas e saliva, mas seu emprego para es- ses efeitos é limitado devido à sua falta de seletividade. O fármaco é útil em promover salivação nos pacientes com xerostomia resul- tante de irradiação na cabeça e no pescoço. A síndrome de Sjögren, caracterizada por xerostomia e falta de lágrimas, é tratada com comprimidos orais de pilocarpina e cevimelina, um fármaco colinér- gico que também tem o inconveniente de ser inespecífico. 2. Usos terapêuticos no glaucoma: A pilocarpina é usada no trata- mento do glaucoma e é o fármaco de escolha na redução emer- gencial da pressão intraocular nos glaucomas de ângulo aberto e ângulo fechado. A pilocarpina é extremamente eficaz na abertura da rede trabecular ao redor do canal de Schlemm, causando uma redução imediata na pressão intraocular devido à drenagem do humor aquoso. Essa ação ocorre em minutos, dura de 4 a 8 horas e pode ser repetida. (Nota: os inibidores da anidrase carbônica tópicos, como a dorzolamida, e o bloqueador β-adrenérgico timo- lol são eficazes no tratamento crônico do glaucoma, mas não são usados na redução da pressão intraocular de emergência.) A ação Capitulo_04_Whalen.indd 57 25/04/2016 09:44:02 58 Whalen, Finkel & Panavelil miótica da pilocarpina também é útil na reversão da midríase devi- do à atropina. 3. Efeitos adversos: A pilocarpina pode causar visão turva, ceguei- ra noturna e dor na testa. A intoxicação com esse fármaco se ca- racteriza pelo exagero de vários efeitos parassimpáticos, incluindo sudoração (diaforese) e salivação. Os efeitos são similares àque- les produzidos pelo consumo de cogumelos do gênero Inocybe. A administração parenteral de atropina, em dosagem que consegue atravessar a barreira cerebrospinal, é usada para antagonizar a toxicidade da pilocarpina. V. AGONISTAS COLINÉRGICOS DE AÇÃO INDIRETA: ANTICOLINESTERÁSICOS (REVERSÍVEIS) A AChE é uma enzima que especificamente hidrolisa a ACh a acetato e coli- na e, dessa forma, termina com sua ação. Localiza-se no terminal nervoso, onde está ligada à membrana pré e pós-sináptica. Os inibidores da AChE (fármacos anticolinesterásicos, ou inibidores da colinesterase) promovem ações colinérgicas indiretamente, prevenindo a degradação da ACh. Isso resulta em acúmulo de ACh na fenda sináptica (Fig. 4.8). Portanto, esses fármacos podem provocar uma resposta em todos os colinoceptores do or- ganismo, incluindo os receptores muscarínicos e nicotínicos do SNA, bem como nas JNMs e no cérebro. Os inibidores reversíveis da AChE podem ser classificados como fármacos de ação curta ou intermediária. A. Edrofônio O edrofônio é o protótipo do inibidor da AChE de ação curta. Ele se liga de modo reversível ao centro ativo da AChE, impedindo a hidrólise da ACh. Ele é absorvido rapidamente e tem duração de ação curta (10-20 minutos), devido à eliminação renal rápida. O edrofônio é uma amina quaternária, e suas ações são limitadas à periferia. É usado no diagnós- tico da miastenia grave, uma doença autoimune causada por anticorpos contra o receptor nicotínico nas JNMs. Isso causa sua degradação e reduz o número de receptores disponíveis para interação com a ACh. A injeção IV do edrofônio leva a um rápido aumento da força muscular. Deve-se ter cuidado, pois o excesso desse fármaco pode provocar uma crise colinérgica (a atropina é o antagonista). O edrofônio pode ser usa- do também para avaliar o tratamento inibidor da colinesterase, para dife- renciar entre crises colinérgicas e miastênicas e para reverter os efeitos de bloqueadores neuromusculares não despolarizantes após a cirurgia. Devido à disponibilidade de outros fármacos, o uso do edrofônio se tor- nou limitado. B. Fisostigmina A fisostigmina é um éster nitrogenado do ácido carbâmico encontrado em plantas e é uma amina terciária. Ela é substrato da AChE, com quem forma um intermediário carbamilado relativamente estável, que, então, se torna reversivelmente inativado. O resultado é a potenciação da atividade colinérgica em todo o organismo. 1. Ações: A fisostigmina tem uma ampla faixa de efeitos como resul- tado de sua ação e estimula os receptores muscarínicos e nicotíni- cos do SNA e os receptores nicotínicos da JNM. Sua duração de RESPOSTA INTRACELULAR AUMENTADA Ecotiofato Edrofônio Neostigmina Fisostigmina Acetato Colina NEURÔNIO Acetilcolina Figura 4.8 Mecanismos de ação dos agonistas colinérgicos indiretos. Capitulo_04_Whalen.indd 58 25/04/2016 09:44:03 Farmacologia Ilustrada 59 ação é de cerca de 30 minutos a 2 horas, sendo considerada um fármaco de ação intermediária. A fisostigmina pode entrar no SNC e estimular os locais colinérgicos. 2. Usos terapêuticos: A fisostigmina aumenta a motilidade do intes- tino e da bexiga, servindo no tratamento de atonia nos dois órgãos (Fig. 4.9). Ela é usada também no tratamento de doses excessivas de fármacos com ações anticolinérgicas, como a atropina. 3. Efeitos adversos: No SNC, a fisostigmina pode causar convul- sões quando são usadas dosagens elevadas. Bradicardia e queda da pressão arterial também podem ocorrer. A inibição da AChE nas JNMs causa acúmulo de ACh e, no final, resulta em paralisia dos músculos esqueléticos. Contudo, esses efeitos raramente são ob- servados com doses terapêuticas. C. Neostigmina A neostigmina é um fármaco sintético que também é um éster do ácido car- bâmico e inibe reversivelmente a AChE de forma similar à da fisostigmina. 1. Ações: Ao contrário dafisostigmina, a neostigmina tem um nitro- gênio quaternário; por isso, ela é mais polar, é pouco absorvida no TGI e não entra no SNC. Seu efeito nos músculos esqueléticos é maior do que o da fisostigmina e pode estimular a contratilidade antes de paralisá-la. A neostigmina tem uma duração de ação in- termediária, em geral 30 minutos a 2 horas. 2. Usos terapêuticos: A neostigmina é usada para estimular a bexi- ga e o TGI, e também como antagonista de fármacos bloqueadores musculares competitivos. A neostigmina é usada ainda no trata- mento sintomático da miastenia grave. 3. Efeitos adversos: Os efeitos adversos da neostigmina incluem os da estimulação colinérgica generalizada, como salivação, rubor, redução da pressão arterial, náusea, dor abdominal, diarreia e broncoespasmo. A neostigmina não causa efeitos adversos no SNC e não é usada para tratar os efeitos tóxicos de fármacos anti- muscarínicos de ação central, como a atropina. A neostigmina é contraindicada quando há obstrução do intestino ou da bexiga. D. Piridostigmina e ambenônio A piridostigmina e o ambenônio são outros inibidores da colinesterase usados no tratamento crônico da miastenia grave. Suas durações de ação são intermediárias (3-6 horas e 4-8 horas, respectivamente), mas mais longas do que a da neostigmina. Os efeitos adversos desses fárma- cos são similares aos da neostigmina. E. Tacrina, donepezila, rivastigmina e galantamina Pacientes com a doença de Alzheimer têm deficiência de neurônios colinérgicos no SNC. Essa observação levou ao desenvolvimento de anticolinesterásicos como possíveis remédios para a perda da função cognitiva. A tacrina foi o primeiro disponível, mas foi substituída por ou- tros devido à sua hepatotoxicidade. Apesar de donepezila, rivastigmina e galantamina retardarem o avanço da doença, nenhum evitou sua pro- gressão. O efeito adverso primário desses fármacos é o distúrbio gas- trintestinal (GI) (ver Cap. 8). Contração do músculo liso visceral Miose Hipotensão PA Bradicardia Figura 4.9 Algumas ações da fisostigmina. Capitulo_04_Whalen.indd 59 25/04/2016 09:44:03 60 Whalen, Finkel & Panavelil VI. AGONISTAS COLINÉRGICOS DE AÇÃO INDIRETA: ANTICOLINESTERÁSICOS (IRREVERSÍVEIS) Inúmeros compostos organofosforados sintéticos apresentam a propriedade de ligar-se covalentemente à AChE. O resultado é um aumento de longa duração nos níveis de ACh em todos os locais onde ela é liberada. Vários desses fármacos são extremamente tóxicos e foram desenvolvidos como agentes “contranervos” com fins militares. Os compostos relacionados, como paration e malation, são usados como inseticidas. A. Ecotiofato 1. Mecanismo de ação: O ecotiofato é um organofosforado que se liga covalentemente no local ativo da AChE por meio do seu grupo fosfato (Fig. 4.10). Quando isso ocorre, a enzima é inativada per- manentemente, e o restabelecimento da atividade da AChE requer a síntese de novas moléculas de enzimas. Após a modificação co- valente da AChE, a enzima fosforilada libera lentamente um de seus grupos etila. A perda do grupo alquila, o que é denominado envelhecimento, torna impossível para os reativadores químicos, como a pralidoxima, romper a ligação entre o fármaco remanes- cente e a enzima. 2. Ações: As ações do ecotiofato incluem estimulação colinérgica ge- neralizada, paralisia da função motora (causando dificuldades res- piratórias) e convulsões. O ecotiofato provoca intensa miose, e tem uso terapêutico para isso. A pressão intraocular cai pela facilitação do efluxo do humor aquoso. A atropina em dosagem elevada pode reverter vários dos efeitos periféricos e alguns dos efeitos muscarí- nicos centrais do ecotiofato. 3. Usos terapêuticos: Está disponível uma solução oftálmica tópica para o tratamento do glaucoma de ângulo aberto. Contudo, o eco- tiofato raramente é usado, devido ao perfil de efeitos adversos, in- cluindo o risco de causar catarata. A Figura 4.11 resume as ações de alguns agonistas colinérgicos. VII. TOXICOLOGIA DOS FÁRMACOS ANTICOLINESTERÁSICOS Nos EUA, os inibidores irreversíveis da AchE (na maioria compostos organo- fosforados) são usados comumente como inseticidas na agricultura, o que tem gerado numerosos casos de envenenamentos acidentais com essas substâncias. Além disso, são frequentemente usados com propósito suicida e homicida. Gases organofosforados que atuam em nervos, como o sarin, são usados em armas de guerra e terrorismo químico. A toxicidade dessas substâncias se manifesta com sinais e sintomas nicotínicos e muscarínicos (crise colinérgica). Dependendo da substância, o efeito pode ser periférico ou afetar todo o organismo. A. Reativação da acetilcolinesterase A pralidoxima (2-PAM) pode reativar a acetilcolinesterase (AchE) inibida. Contudo, ela é incapaz de entrar no SNC e, por isso, não é útil no tra- tamento dos efeitos dos organosfosforados no SNC. A presença de um grupo químico carregado permite que a pralidoxima se aproxime do sítio aniônico na enzima, onde ela essencialmente desloca o grupo fosfato O-H O O O-H RSH C2H5–O–P–O–C2H5 O S–R C2H5–O–P–O–C2H5 O C2H5–O–P–OH O C2H5–O–P–O–C2H5 O 2-PAM 2-PAM H O2 C2H5–OH Ecotiofato Envelhecimento (perda do grupa- mento alquila) FOSFORILAÇÃO DA ENZIMA Enzima inativada Pralidoxima (PAM) pode remover o inibidor Acetilcolinesterase (inativa) Acetilcolinesterase (irreversivelmente inativa) Acetilcolinesterase (ativa) Local ativo da acetilcolinesterase Figura 4.10 Modificação covalente da acetilcolinesterase pelo ecotiofato. Também é mostrada a reativação da enzima com pralidoxima. R = (CH3)3N +–CH2–CH2–; RSH = (CH3)3N +–CH2–CH2–S-H. Betanecol • Usado no tratamento da retenção de urina • Liga-se preferencialmente aos receptores muscarínicos Fisostigmina • Aumenta a motilidade intestinal e da bexiga • Reverte os efeitos dos antidepressivos tricíclicos no coração e no SNC • Reverte os efeitos da atropina no SNC • É uma amina terciária não ionizada que pode entrar no SNC Rivastigmina, galantamina, donepezila • É usada como tratamento de primeira escolha contra o mal de Alzheimer, embora confira benefícios modestos • Não demonstrou redução nos custos com saúde ou atraso na institucionalização • Pode ser usado com memantina (antagonista N-metil-D-aspartato) em doença moderada à grave Carbacol • Produz miose durante a cirurgia ocular • É usado topicamente para diminuir a pressão intraocular de ângulo amplo ou estreito, particularmente em pacientes que se tornaram tolerantes à pilocarpina Neostigmina • Previne a distenção abdominal pós- cirúrgica e a retenção de urina • É usada no tratamento da miastenia grave • É usada como antagonista dos bloqueadores neuromusculares competitivos • Tem duração de ação intermediária (0,5 a 2 h) Ecotiofato • É usado no tratamento do glaucoma de ângulo amplo • Tem longa duração de ação (100 h) Pilocarpina • Diminui a pressão intraocular no glaucoma de ângulo amplo ou estreito • Liga-se preferencialmente nos receptores muscarínicos • É amina terciária não ionizada que pode entrar no SNC Edrofônio • É usado para o diagnóstico de misatenia grave • É usado com antagonista dos bloqueadores neuromusculares competitivos • Tem ação de curta duração (10-20 min) Acetilcolina • É usada para produzir miose em cirurgias oftálmicas Figura 4.11 Resumo das ações de alguns agonistas colinérgicos. SNC, sistema nervoso central. Capitulo_04_Whalen.indd 60 25/04/2016 09:44:03 Farmacologia Ilustrada 61 do organofosforado e regenera a enzima. Se for administrada antes de acontecer a estabilização da enzima alquilada, ela consegue reverter os efeitos periféricos muscarínicos e nicotínicos, mas não os efeitos no SNC. Com os novos fármacos, que produzem a estabilização do comple- xo enzimático em segundos, a pralidoxima é menos eficaz. A pralidoxima é um inibidor fraco da AChE e, em dosagens maiores do que as usuais, pode causar efeitos similaresaos de outros inibidores da AChE (Figs. 4.6 e 4.9). Além disso, ela não consegue reverter a toxicidade dos inibi- dores reversíveis de AChE (p. ex., fisostigmina). B. Outros tratamentos A atropina é administrada para prevenir os efeitos adversos muscarínicos dessas substâncias. Tais efeitos incluem aumento das secreções bron- quiais e da saliva, broncoconstrição e bradicardia. O diazepam também é administrado para diminuir a convulsão persistente causada por essas substâncias. Medidas gerais de apoio, como manutenção da patência das vias aéreas, suprimento de oxigênio e respiração assistida, também podem ser necessárias. VI. AGONISTAS COLINÉRGICOS DE AÇÃO INDIRETA: ANTICOLINESTERÁSICOS (IRREVERSÍVEIS) Inúmeros compostos organofosforados sintéticos apresentam a propriedade de ligar-se covalentemente à AChE. O resultado é um aumento de longa duração nos níveis de ACh em todos os locais onde ela é liberada. Vários desses fármacos são extremamente tóxicos e foram desenvolvidos como agentes “contranervos” com fins militares. Os compostos relacionados, como paration e malation, são usados como inseticidas. A. Ecotiofato 1. Mecanismo de ação: O ecotiofato é um organofosforado que se liga covalentemente no local ativo da AChE por meio do seu grupo fosfato (Fig. 4.10). Quando isso ocorre, a enzima é inativada per- manentemente, e o restabelecimento da atividade da AChE requer a síntese de novas moléculas de enzimas. Após a modificação co- valente da AChE, a enzima fosforilada libera lentamente um de seus grupos etila. A perda do grupo alquila, o que é denominado envelhecimento, torna impossível para os reativadores químicos, como a pralidoxima, romper a ligação entre o fármaco remanes- cente e a enzima. 2. Ações: As ações do ecotiofato incluem estimulação colinérgica ge- neralizada, paralisia da função motora (causando dificuldades res- piratórias) e convulsões. O ecotiofato provoca intensa miose, e tem uso terapêutico para isso. A pressão intraocular cai pela facilitação do efluxo do humor aquoso. A atropina em dosagem elevada pode reverter vários dos efeitos periféricos e alguns dos efeitos muscarí- nicos centrais do ecotiofato. 3. Usos terapêuticos: Está disponível uma solução oftálmica tópica para o tratamento do glaucoma de ângulo aberto. Contudo, o eco- tiofato raramente é usado, devido ao perfil de efeitos adversos, in- cluindo o risco de causar catarata. A Figura 4.11 resume as ações de alguns agonistas colinérgicos. VII. TOXICOLOGIA DOS FÁRMACOS ANTICOLINESTERÁSICOS Nos EUA, os inibidores irreversíveis da AchE (na maioria compostos organo- fosforados) são usados comumente como inseticidas na agricultura, o que tem gerado numerosos casos de envenenamentos acidentais com essas substâncias. Além disso, são frequentemente usados com propósito suicida e homicida. Gases organofosforados que atuam em nervos, como o sarin, são usados em armas de guerra e terrorismo químico. A toxicidade dessas substâncias se manifesta com sinais e sintomas nicotínicos e muscarínicos (crise colinérgica). Dependendo da substância, o efeito pode ser periférico ou afetar todo o organismo. A. Reativação da acetilcolinesterase A pralidoxima (2-PAM) pode reativar a acetilcolinesterase (AchE) inibida. Contudo, ela é incapaz de entrar no SNC e, por isso, não é útil no tra- tamento dos efeitos dos organosfosforados no SNC. A presença de um grupo químico carregado permite que a pralidoxima se aproxime do sítio aniônico na enzima, onde ela essencialmente desloca o grupo fosfato O-H O O O-H RSH C2H5–O–P–O–C2H5 O S–R C2H5–O–P–O–C2H5 O C2H5–O–P–OH O C2H5–O–P–O–C2H5 O 2-PAM 2-PAM H O2 C2H5–OH Ecotiofato Envelhecimento (perda do grupa- mento alquila) FOSFORILAÇÃO DA ENZIMA Enzima inativada Pralidoxima (PAM) pode remover o inibidor Acetilcolinesterase (inativa) Acetilcolinesterase (irreversivelmente inativa) Acetilcolinesterase (ativa) Local ativo da acetilcolinesterase Figura 4.10 Modificação covalente da acetilcolinesterase pelo ecotiofato. Também é mostrada a reativação da enzima com pralidoxima. R = (CH3)3N +–CH2–CH2–; RSH = (CH3)3N +–CH2–CH2–S-H. Betanecol • Usado no tratamento da retenção de urina • Liga-se preferencialmente aos receptores muscarínicos Fisostigmina • Aumenta a motilidade intestinal e da bexiga • Reverte os efeitos dos antidepressivos tricíclicos no coração e no SNC • Reverte os efeitos da atropina no SNC • É uma amina terciária não ionizada que pode entrar no SNC Rivastigmina, galantamina, donepezila • É usada como tratamento de primeira escolha contra o mal de Alzheimer, embora confira benefícios modestos • Não demonstrou redução nos custos com saúde ou atraso na institucionalização • Pode ser usado com memantina (antagonista N-metil-D-aspartato) em doença moderada à grave Carbacol • Produz miose durante a cirurgia ocular • É usado topicamente para diminuir a pressão intraocular de ângulo amplo ou estreito, particularmente em pacientes que se tornaram tolerantes à pilocarpina Neostigmina • Previne a distenção abdominal pós- cirúrgica e a retenção de urina • É usada no tratamento da miastenia grave • É usada como antagonista dos bloqueadores neuromusculares competitivos • Tem duração de ação intermediária (0,5 a 2 h) Ecotiofato • É usado no tratamento do glaucoma de ângulo amplo • Tem longa duração de ação (100 h) Pilocarpina • Diminui a pressão intraocular no glaucoma de ângulo amplo ou estreito • Liga-se preferencialmente nos receptores muscarínicos • É amina terciária não ionizada que pode entrar no SNC Edrofônio • É usado para o diagnóstico de misatenia grave • É usado com antagonista dos bloqueadores neuromusculares competitivos • Tem ação de curta duração (10-20 min) Acetilcolina • É usada para produzir miose em cirurgias oftálmicas Figura 4.11 Resumo das ações de alguns agonistas colinérgicos. SNC, sistema nervoso central. Capitulo_04_Whalen.indd 61 25/04/2016 09:44:03
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