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1 DISCIPLINA CONSTITUCIONAL DOS PRECATÓRIOS Harrison Leite Tathiane Piscitelli Dizer o Direito1 DISCIPLINA CONSTITUCIONAL DOS PRECATÓRIOS 1. Conceito e Abrangência Quando o particular possui alguma dívida reconhecida judicialmente e não a paga, pode ter seus bens penhorados na EXECUÇÃO. O mesmo não se dá com relação à Fazenda Pública, visto que os seus bens são impenhoráveis, pois os serviços públicos não podem sofrer solução de continuidade. Logo, contra a Fazenda Pública há um sistema próprio de execução e pagamento. Tal sistema, ao mesmo tempo, configura um privilégio para o Estado devedor (justamente pela impossibilidade de penhora dos bens) e uma garantia ao credor (já que a CF prevê medidas que, em tese, asseguram o recebimento do seu crédito). O PRECATÓRIO é uma ordem formal de pagamento, decorrente de DECISÃO JUDICIAL TRANSITADA EM JULGADO contra a Fazenda Pública. Ciente de que a expedição de precatórios dependente, inexoravelmente, do trânsito em julgado da sentença judicial proferida em desfavor da Fazenda Pública, nos termos do art. 100 da CF, o STF, em sede de Repercussão Geral (RE 573872/RS), decidiu: Info 866 do STF: “A execução provisória de obrigação de fazer em face da Fazenda Pública não atrai o regime constitucional dos precatórios”. Não há parâmetro constitucional nem legal que obste a pretensão de executar provisoriamente a sentença condenatória de obrigação de fazer, antes do trânsito em julgado dos embargos do 1 CAVALCANTE. Márcio André Lopes. Dizer o direito. Extraído do sítio: http://www.dizerodireito.com.br/ 2 devedor opostos pela Fazenda Pública. Assim, inexiste razão para que a obrigação de fazer tenha seu efeito financeiro postergado em função do trânsito em julgado, sob pena de hipertrofiar uma regra constitucional de índole excepcionalíssima. LEMBRAR! Obrigação de fazer e obrigação de não fazer NÃO atraem a necessidade de expedição de precatórios. O regime de precatórios alcança a Administração Direta (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), suas autarquias e fundações públicas, e, segundo a jurisprudência do STF, as empresas públicas e sociedades de economia mista que explorem serviços públicos típicos do Estado, de natureza não concorrencial. Exemplo clássico de empresa pública que já teve reconhecido o direito ao regime de precatórios é a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT. Como exemplo de sociedade de economia mista que, segundo a Suprema Corte, submete-se à sistemática dos precatórios, mencione-se a Companhia de Saneamento de Alagoas – CASAL. Segundo Harrison Leite, não basta ser empresa pública para ter o regime especial do precatório. Para o STF, além de a empresa ser DEPENDENTE, ela NÃO pode possuir atividade econômica com intuito lucrativo e concorrencial. É o que normalmente ocorre com as SEM. EXTRA DIZER O DIREITO - Márcio André Lopes Cavalcante:2 É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de economia mista? As sociedades de economia mista PRESTADORAS DE SERVIÇO PÚBLICO de atuação própria do Estado e de natureza não concorrencial SUBMETEM-SE AO REGIME DE PRECATÓRIO. O caso concreto no qual o STF decidiu isso envolvia uma sociedade de economia mista prestadora de serviços de abastecimento de água e saneamento que prestava serviço público primário e em regime de exclusividade. O STF entendeu que a atuação desta sociedade de economia mista correspondia à própria atuação do Estado, já que ela não tinha objetivo de lucro e o capital social era majoritariamente estatal. Logo, diante disso, o STF reconheceu que ela teria direito ao processamento da execução por meio de precatório. STF. 2ª Turma. RE 852302 AgR/AL, Rel. Min. 2 CAVALCANTE. Márcio André Lopes. Dizer o direito. Extraído do sítio: http://www.dizerodireito.com.br/ 3 Dias Toffoli, julgado em 15/12/2015 (Info 812). Quem tem o privilégio de pagar por meio de precatório? A quem se aplica o regime dos precatórios? As Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais. Essa expressão abrange: • União, Estados, DF e Municípios (administração direta); • autarquias; • fundações; • empresas públicas prestadoras de serviço público (ex: Correios); • sociedades de economia mista prestadoras de serviço público de atuação própria do Estado e de natureza não concorrencial. Logo, diante disso, o STF reconheceu que ela teria direito ao processamento da execução por meio de precatório. Obs: existe precedente em sentido contrário (STF. 1ª Turma. RE 531538 AgR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/09/2013). No entanto, para fins de concurso, deve-se adotar a posição explicada acima por se tratar do julgado mais recente e do entendimento majoritário. Não atuar em regime de concorrência e não objetivar lucro Segundo o STF, para que a sociedade de economia mista goze dos privilégios da Fazenda Pública, é necessário que ela não atue em regime de concorrência com outras empresas e que não tenha objetivo de lucro. (Juiz TJPB 2015 CESPE) As sociedades de economia mista em regime de concorrência não gozam, em regra, dos benefícios deferidos à fazenda pública, salvo o pagamento por precatório. (ERRADO) 2. Procedimento dos Precatórios. Vencida a Fazenda Pública em demanda judicial, o juiz da execução solicita ao Presidente do Tribunal respectivo a requisição da verba necessária ao pagamento do credor. O Presidente do Tribunal, então, comunica à Fazenda Pública a existência da obrigação, a fim de que ela seja consignada no orçamento como despesa pública. 4 Se o precatório for apresentado até o dia 1º de julho, a verba correspondente deve ser incluída na proposta orçamentária do exercício seguinte, no qual o pagamento há de efetuar-se até o dia 31 de dezembro. Incluído o valor na dotação própria (geralmente, “sentenças judiciais” ou “precatórios”), será ele liberado e o Presidente do Tribunal determinará o pagamento do precatório, obedecidas a ordem cronológica de recebimento das solicitações e as preferências constitucionais, com exceção dos créditos de pequeno valor, que recebem tratamento distinto (RPV). Se o precatório não for pago até o dia 31 de dezembro do ano seguinte (para requisições realizadas até 1º de julho), incidirão juros de mora, de acordo com interpretação a “contrario sensu” da súmula vinculante 17 do STF: “durante o período previsto no parágrafo 1º do artigo 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos”. IMPORTANTÍSSIMO!! “INCIDEM os juros da mora no período compreendido entre a data da realização dos cálculos e da requisição ou do precatório”. (TESE lançada no RE 579431, julgado em 19/04/2017) O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que incidem juros de mora no período compreendido entre a data de elaboração de cálculos e a expedição da requisição de pequeno valor (RPV) ou do precatório. O entendimento foi firmado no dia 19/04/2017, no julgamento do Recurso Extraordinário (RE) 579431, com repercussão geral reconhecida. Como caiu em prova: PGM MANAUS 2018 (CESPE): Conforme a disciplina constitucional dos precatórios e a jurisprudência dos tribunais superiores, julgue o item subsequente. Não incidem juros de mora no período compreendido entre a data da realização dos cálculos de liquidação e a da expedição do precatório. Errado EXTRA DIZER O DIREITO § 12 do art. 100 da CF/88 Como já vimos, entre o dia em que o precatório é expedido e a data em que ele é efetivamente pago, são passados alguns anos. Durante este período, obviamente, se a quantia devida não for atualizada, haverá uma desvalorização do valor real do crédito em virtude da inflação. Com o 5 objetivode evitar essa perda, o § 5º do art. 100 determina que o valor do precatório deve ser atualizado monetariamente quando for pago. Como é calculado o valor da correção monetária e dos juros de mora no caso de atraso no pagamento do precatório? A EC n.° 62/09 trouxe uma nova forma de cálculo prevista no § 12 do art. 100: § 12. A partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a atualização (obs: correção monetária) de valores de requisitórios, após sua expedição, até o efetivo pagamento, independentemente de sua natureza, será feita pelo índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança, e, para fins de compensação da mora (obs2: juros de mora), incidirão juros simples no mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupança, ficando excluída a incidência de juros compensatórios. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 62/09) Desse modo, o § 12 determinava que a correção monetária e os juros de mora, no caso de precatórios pagos com atraso, deveriam adotar os índices e percentuais aplicáveis às cadernetas de poupança. Regra semelhante está prevista no art. 1ºF da Lei n° 9.494/97: Art. 1º-F. Nas condenações impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua natureza e para fins de atualização monetária, remuneração do capital e compensação da mora, haverá a incidência uma única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneração básica e juros aplicados à caderneta de poupança. (Redação dada pela Lei nº 11.960/09) O § 12 do art. 100, inserido pela EC 62/09, também foi questionado. O que decidiu a Corte? O STF declarou a INCONSTITUCIONALIDADE da expressão “índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança”, constante do § 12 do art. 100 da CF. Para os Ministros, o índice oficial da poupança NÃO consegue evitar a perda de poder aquisitivo da moeda. Este índice é fixado ex ante, ou seja, previamente, a partir de critérios técnicos não relacionados com a inflação considerada no período. Todo índice definido ex ante é incapaz de refletir a real flutuação de preços apurada no período em referência. Dessa maneira, como este índice (da poupança) não consegue manter o valor real da condenação, ele afronta à garantia da coisa julgada, tendo em vista que o valor real do crédito previsto na condenação judicial não será o valor real que o credor irá receber efetivamente quando o 6 precatório for pago (este valor terá sido corroído pela inflação). A finalidade da correção monetária consiste em deixar a parte na mesma situação econômica que se encontrava antes. Nesse sentido, o direito à correção monetária é um reflexo imediato da proteção da propriedade. Vale ressaltar, ainda, que o Poder Público tem seus créditos corrigidos pela taxa SELIC, cujo valor supera, em muito, o rendimento da poupança, o que reforça o argumento de que a previsão do §12 viola a isonomia. Como vimos acima, o art. 1º-F. da Lei n° 9.494/97, com redação dada pelo art. 5º da Lei n° 11.960/2009, também previa que, nas condenações impostas à Fazenda Pública, os índices a serem aplicados eram os da caderneta de poupança. Logo, com a declaração de inconstitucionalidade do § 12 do art. 100 da CF, o STF também declarou inconstitucional, por arrastamento (ou seja, por consequência lógica), o art. 5º da Lei n° 11.960/2009, que deu a redação atual ao art. 1º-F. da Lei n° 9.494/97. O STF também declarou a inconstitucionalidade da expressão “independentemente de sua natureza”, presente no § 12 do art. 100 da CF, com o objetivo de deixar claro que, para os precatórios de NATUREZA TRIBUTÁRIA se aplicam os mesmos juros de mora incidentes sobre o crédito tributário. Assim, para o STF, aos precatórios de natureza tributária devem ser aplicados os mesmos juros de mora que incidem sobre todo e qualquer crédito tributário. 3. Classificação: Quanto à classificação, os precatórios podem ser comuns ou alimentícios. Definem-se os comuns por exclusão: todo precatório que não tiver natureza alimentícia será comum. O conceito de precatório alimentício consta do art. 100, § 1º, da CF: “os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por invalidez, fundada em responsabilidade civil, em virtude de sentença judicial transitada em julgado, e serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos, exceto sobre aqueles referidos no § 2º deste artigo”. IMPORTANTE! Súmula Vinculante 47: Os honorários advocatícios incluídos na condenação ou destacados do montante principal devido ao credor consubstanciam verba de natureza alimentar 7 cuja satisfação ocorrerá com a expedição de precatório ou requisição de pequeno valor, observada ordem especial restrita aos créditos dessa natureza. Entre os créditos de natureza alimentícia, a Constituição estabeleceu outra prioridade. Assim, as pessoas com MAIS DE 60 ANOS de idade ou PORTADORAS DE DOENÇA GRAVE ou PORTADORES DE DEFICIÊNCIA definida na lei têm preferência dentro da ordem dos precatórios alimentícios. No entanto, o valor pago com prioridade limita-se ao equivalente ao TRIPLO do crédito de pequeno valor. Ultrapassado o referido teto, é possível o fracionamento do precatório, de modo que uma parte dele seja paga pela fila com “superpreferência” e a outra seja quitada de acordo com a fila com “preferência normal”. CF, Art. 100, § 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares, ORIGINÁRIOS ou por SUCESSÃO HEREDITÁRIA (novidade), tenham 60 (sessenta) anos de idade, ou sejam portadores de doença grave, ou PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, assim definidos na forma da lei, serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo fixado em lei para os fins do disposto no § 3º deste artigo, admitido o fracionamento para essa finalidade, sendo que o restante será pago na ordem cronológica de apresentação do precatório. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 94, de 2016) IMPORTANTE!! Atentar bem para a EC 94/2016!! Antes da referida emenda, o STJ possuía entendimento de que a CF só atribuía o benefício da superpreferência do §2º art. 100 aos CREDORES ORIGINÁRIOS, é dizer, não se estendia essa prerrogativa aos herdeiros ou sucessores ao argumento de ser direito de caráter personalíssimo (RMS 44.836/MG). ENTRETANTO, com a EC 94/2016 o quadro mudou, e, por disposição constitucional expressa, admite-se que tanto os credores ORIGINÁRIOS quanto os por SUCESSÃO HEREDITÁRIA podem ter a superpreferência. Percebe-se, ainda, que a EC 94/2016 incluiu, como titulares do referido privilégio, AS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, sanando uma situação de injustiça. Outrossim, NÃO HÁ MAIS RESTRIÇÃO de que essas condicionantes devam ocorrer na data da expedição do precatório, conforme se verá adiante. 4. Exceção ao regime constitucional de precatórios: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc94.htm#art1 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc94.htm#art1 8 O § 3º do art. 100 da CF/88 prevê uma exceção ao regime de precatórios. Este parágrafo estabelece que, se a condenação imposta à Fazenda Pública for de “pequeno valor”, o pagamento será realizado sem a necessidade de expedição de precatório: § 3º O disposto no caput deste artigo relativamente à expedição de precatórios não se aplica aos pagamentos de obrigações definidas em leis como de pequeno valor que as Fazendas referidas devam fazer em virtude de sentença judicial transitada em julgado. Quanto é “pequeno valor” para os fins do § 3º do art. 100? Este quantum poderá ser estabelecido por cada ente federado (União, Estado, DF, Município) por meio de leis específicas, conforme prevê o § 4º do art. 100: § 4º Para os fins do disposto no § 3º, poderão ser fixados, por leis próprias,valores distintos às entidades de direito público, segundo as diferentes capacidades econômicas, sendo o mínimo igual ao valor do maior benefício do regime geral de previdência social. O Crédito de pequeno valor (que varia entre os entes políticos) enquanto não for fixado em lei, pelo ente, o valor de suas obrigações de pequeno valor, serão consideradas as seguintes quantias, segundo o ADCT: • 40 salários-mínimos, para os Estados-membros e o Distrito Federal; • 30 salários-mínimos, para os Municípios. Quanto à União, o montante de 60 salários-mínimos, nos termos da Lei 10.259/01, é aquele que deve ser pago fora da sistemática dos precatórios. Ou seja, não é necessário esperar até o dia 31 de dezembro do ano seguinte para recebê-lo. Logo após o trânsito em julgado da decisão judicial, a Fazenda Pública é comunicada, obrigando-se a liberar a quantia à parte vencedora na demanda. Como a definição do crédito de pequeno valor era deixada inteiramente ao arbítrio dos entes federados, muitos deles o estabeleceram em patamar ínfimo (por exemplo: um salário mínimo), de modo que raramente as obrigações eram pagas por RPV (requisição de pequeno valor). Para sanar o problema, a EC 62/09 impôs um piso para o conceito de pequeno valor, qual seja, o equivalente ao MAIOR BENEFÍCIO DO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL – RGPS. 9 Como caiu em prova: PGM MANAUS 2018 (CESPE): Conforme a disciplina constitucional dos precatórios e a jurisprudência dos tribunais superiores, julgue o item subsequente. Será inconstitucional lei municipal que fixar o valor máximo das suas obrigações de pequeno valor em patamar superior ao valor máximo definido em lei do respectivo estado-membro para essa mesma classe de obrigações decorrentes de condenação judicial. ERRADO PRECATÓRIOS Comuns Todos que não têm natureza alimentícia. Alimentícios Têm preferência sobre os comuns. Alimentícios para: - pessoa maior de 60 anos; - pessoa com doença grave prevista em lei ou PESSOAS COM DEFICIÊNCIA Limitados ao TRIPLO do crédito de pequeno valor. Têm preferência sobre os alimentícios “normais”. Saliente-se que, embora seja rápido o recebimento do pagamento por RPV, o STF afirma que, entre a data de ELABORAÇÃO DO CÁLCULO da requisição e sua EXPEDIÇÃO, deve incidir correção monetária e JUROS MORATÓRIOS (referente aos juros, vide TESE lançada no RE 579431, julgado em 19/04/2017). Segundo a CF, “é vedada a expedição de precatórios complementares ou suplementares de valor pago, bem como o fracionamento, repartição ou quebra do valor da execução para fins de enquadramento de parcela do total ao que dispõe o § 3º deste artigo [RPV]”. Observe-se que a parte não pode fracionar o valor que tem a receber, a fim de que uma parcela da quantia seja paga por RPV e a restante por precatório. Se desejar, o beneficiário pode renunciar à parte excedente ao teto da RPV, a fim de receber seu dinheiro por esse meio mais célere. Não se podem confundir as duas hipóteses indicadas no quadro a seguir. 10 FRACIONAMENTO DE VALOR Para precatório alimentar com “superpreferência”: Permitido. Para pagamento em RPV + precatório: Vedado. A parte em favor de quem se expediu o precatório pode ceder o crédito correspondente a outrem. Trata-se da chamada cessão de precatórios. Na prática, ela é muito comum: a parte cede seu crédito a um terceiro, que, em contrapartida, paga àquela quantia geralmente inferior à que será recebida da Fazenda Pública. Assim, a parte cedente recebe logo seu dinheiro, enquanto a cessionária deve aguardar para receber a quantia, que, no entanto, será maior do que o valor despendido. A CF dispõe, no art. 100, § 13: “o credor poderá ceder, total ou parcialmente, seus créditos em precatórios a terceiros, independentemente da concordância do devedor, não se aplicando ao cessionário o disposto nos §§ 2º e 3º”. O § 14 complementa: “a cessão de precatórios somente produzirá efeitos após comunicação, por meio de petição protocolizada, ao tribunal de origem e à entidade devedora”. Percebe-se, assim, que a cessão de precatórios: • pode ser total ou parcial; • se o cedente não possui preferência, o cessionário também não as terá; • não depende da concordância da Fazenda; • produz efeitos apenas após comunicação ao Tribunal e à entidade devedora. Foi dito que, se o cedente não possui preferência (seu precatório é comum), o cessionário também não a terá (ou seja, ainda que maior de 60 anos ou portador de doença grave prevista em lei ou PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, não poderá entrar na fila preferencial). Há, no entanto, celeuma no que tange à hipótese inversa. Se alguém com preferência ou “superpreferência” cede seu precatório a outrem que não a teria, o precatório deve “mudar de fila” (passar de alimentício para comum)? A tendência parece ser que não, sob pena de a “mudança de fila” representar desvalorização no crédito da parte. A matéria teve repercussão geral reconhecida no STF em 2010 (RE 631.537) e aguarda um desfecho. 11 DEVO LEMBRAR! Não confundir a CESSÃO com a SUCESSÃO HEREDITÁRIA, alvo da EC 94/2016. Segundo nova redação da do §2º art. 100 CF o sucessor hereditário pode manter a “superpreferência”. 5. Natureza da atividade Tem natureza nitidamente ADMINISTRATIVA a atividade do presidente do tribunal, consistente em (a) noticiar o poder público da existência do precatório, (b) determinar a sua inclusão no orçamento e (c) ordenar o pagamento do crédito, bem como, se for o caso, (d) autorizar, a requerimento do credor (no caso de preterimento do seu direito de precedência ou de não alocação orçamentária), o sequestro da quantia respectiva. Tanto é assim que, segundo a súmula 733 do STF, “não cabe recurso extraordinário contra decisão proferida no processamento de precatórios”. A súmula 311 do STJ é ainda mais explícita: “os atos do presidente do tribunal que disponham sobre processamento e pagamento de precatório não têm caráter jurisdicional”. Aliás, incorre em crime de responsabilidade, respondendo, também, perante o CNJ, o presidente do tribunal que, por ato comissivo ou omissivo, retardar ou tentar frustrar a liquidação regular de precatórios. Harrison Leite: mais recente, e com o fim de ajustar as regras de pagamento de precatórios às decisões do STF, o Congresso Nacional aprovou a EC n. 94/16, que instituiu novo regime especial, ao permitir o pagamento das dívidas com precatórios ser parcelado até 2020. Assim, dificilmente vê-se cumprida a regra constitucional prevista no §5º do art. 100, que tem sido normal ideal e utópica para diversos credores dos entes federativos. 6. Declaração de inconstitucionalidade parcial da EC 62/09 Tema de suma relevância é a declaração de inconstitucionalidade parcial, pelo STF, da EC 62/09, que efetuou inúmeras mudanças no art. 100 da CF, em cujos parágrafos residem as regras sobre o regime dos precatórios. Observe-se o que foi decidido nas diversas ADIs que trataram do tema: 12 1. A expressão “na data de expedição do precatório”, constante no § 2º do art. 100 foi declarada inconstitucional, por violar o princípio da igualdade, de modo que a “superpreferência” dos créditos alimentícios ali previstos (até o triplo do crédito de pequeno valor) deve ser estendida a todos os credores com 60 anos ou mais, e não apenas àqueles que alcançaram essa idade no dia em que o precatório foi emitido; 2. Declararam-se inconstitucionais os parágrafos 9º e 10 do art. 100, que estipulavam um regime de compensação obrigatória entre o valor do precatório e eventuais créditos do particular para com a Fazenda Pública. Essa sistemática gera uma enorme superioridade processual para a Fazenda Pública, violando o devido processo legal, o contraditório, a ampla defesa, a coisa julgada, a isonomia e, por fim, aseparação dos Poderes. Mais tarde, em um recurso extraordinário (RE 614.406/RS), o STF decidiu que os mencionados dispositivos são inconstitucionais, também, com relação aos pagamentos efetuados por RPV; 3. A expressão “índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança”, constante do § 12 do art. 100, também foi declarada inconstitucional, uma vez que a correção monetária não se pode basear em índices fixados “ex ante”, a partir de critérios técnicos não relacionados com a inflação. Por arrastamento (ou seja, por consequência lógica), também se declarou inconstitucional o art. 5º da Lei 11.960/09, que deu a redação atual ao art. 1º-F da Lei 9.494/97; 4. O STF declarou inconstitucional, ainda, a expressão “independentemente de sua natureza”, presente no § 12 do art. 100, deixando-se claro que, para precatórios de natureza tributária, aplicam-se os mesmos juros de mora incidentes sobre o crédito tributário da Fazenda Pública; 5. Foram declarados inconstitucionais o § 15 do art. 100 e todo o art. 97 do ADCT. Segundo o primeiro dispositivo, o legislador infraconstitucional (por meio de lei complementar) poderia criar um regime especial para os precatórios dos Estados- membros, do Distrito Federal e dos Municípios, estabelecendo uma vinculação entre a 13 forma e o prazo de pagamento com a receita corrente líquida desses entes. Enquanto não editada a referida lei pelo ente interessado, o regime especial seria o estabelecido segundo os termos do art. 97 do ADCT, que previa uma série de vantagens aos entes federados. Permitia-se, por exemplo, a realização de uma espécie de “leilão reverso”, no qual os credores de precatórios poderiam competir entre si, oferecendo deságios (“descontos”) em relação aos valores que lhes assistiam. Aqueles que oferecessem maiores descontos receberiam com preferência, excepcionando-se a ordem cronológica. Após a decisão acima, proferida em 2013, o STF decidiu modular os seus efeitos, em 2015. Desse modo, alguns dispositivos mencionados, apesar de terem sido declarados inconstitucionais, continuarão a vigorar por mais algum tempo. Observe-se: • Expressão “índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança” prevista no § 12 do art. 100: (a) para precatórios da administração Estadual ou Municipal: pode ser aplicada até 25/03/2015; (b) para precatórios da administração federal: pode ser aplicada até 31/12/2013. Após essas datas, deverão ser utilizados: - IPCA-E: precatórios em geral; - SELIC: precatórios tributários; • São válidas as compensações determinadas pelos parágrafos 9º e 10 do art. 100 que tenham sido realizadas até 25/03/2015. A partir dessa data, deixa de ser possível a realização da compensação obrigatória, mas admite-se que sejam feitos acordos entre o credor do precatório e a Fazenda Pública, para compensações voluntárias; • Os “leilões reversos” realizados até 25/03/2015 são válidos. A partir dessa data, veda-se sua realização. • O § 15 do art. 100 e o art. 97 do ADCT (regime especial de pagamento de precatórios) valerão por mais cinco anos a contar de 01/01/2016, ou seja, até o final de 2020; • A vinculação de percentuais da receita corrente líquida ao pagamento dos precatórios continua válida por mais cinco anos a contar de 01/01/2016, ou seja, até o final de 2020. 14 7. Julgados recentes sobre o tema: Por fim, registrem-se os julgados mais recentes dos Tribunais Superiores sobre o tema “precatórios”: 1. A limitação de valor para o direito à “superpreferência” estabelecida no art. 100, § 2º, da CF (triplo do pequeno valor), aplica-se para cada precatório de natureza alimentícia, ainda que mais de um tenha sido apresentado no mesmo exercício financeiro e perante o mesmo devedor. Assim, se um idoso possui vários créditos para receber da Fazenda Pública, sendo expedidos para tanto diversos precatórios, não se devem somar os valores para aferir se respeitam o limite em questão (STF, RMS 46.155-RO); 2. (IMPORTANTE!!!) Em caso de litisconsórcio ativo FACULTATIVO, o “pequeno valor” para fins de dispensa do precatório deve ser considerado INDIVIDUALMENTE, para cada litisconsorte, NÃO SE PODENDO SOMAR AS QUANTIAS DEVIDAS A ELES (STF, RE 568.645); 3. O advogado pode receber seus honorários por RPV, mesmo que o crédito da parte, dito principal, deva ser pago por precatório (STF, RE 564.132/RS; STJ, REsp 1.347.736/RS); 4. O descumprimento VOLUNTÁRIO e INTENCIONAL de decisão transitada em julgado configura pressuposto indispensável ao acolhimento do pedido de INTERVENÇÃO FEDERAL. Para que seja decretada a intervenção federal em um Estado-membro que tenha deixado de pagar precatórios é necessário que fique comprovado que esse descumprimento é VOLUNTÁRIO e INTENCIONAL. Se ficar demonstrado que o ente não pagou por dificuldades financeiras não há intervenção (STF. IF 5101/RS, IF 5105/RS, IF 5106/RS, Min Cezar Peluso, 28/03/2012) 15 5. Durante o período em que o processo de execução contra a Fazenda Pública fica suspenso em razão da morte do exequente (para a habilitação dos sucessores da parte falecida), não corre prazo para efeito de reconhecimento de prescrição intercorrente da pretensão executória. De fato, não há previsão legal que imponha prazo específico para a habilitação dos sucessores (STJ, AgRg no AREsp 286.713/CE); 6. DEVEM SER ADIMPLIDAS POR MEIO DE FOLHA SUPLEMENTAR – E NÃO POR PRECATÓRIO – as parcelas vencidas APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO que decorram do descumprimento de decisão judicial que tenha determinado a implantação de diferenças remuneratórias em folha de pagamento de servidor público (STJ, AgRg no Ag 1.412.030/RJ). 7. Nas execuções contra a Fazenda Pública, se o crédito depende de precatório, só haverá a condenação ao pagamento de honorários advocatícios se tiver havido a apresentação de embargos à execução. Se a Fazenda Pública não opôs embargos à execução, não deve pagar honorários, pois não lhe é possível efetuar o pagamento sem o início da execução forçada. Por outro lado, se o crédito pode ser pago por RPV, a Fazenda Pública, em regra, deve ser condenada ao pagamento de honorários advocatícios, ainda que não embargada a execução. No entanto, a Fazenda Pública não precisará pagar os honorários na hipótese de ter sido adotada a chamada “execução invertida” – quando a Fazenda, depois de condenada, se antecipa e prepara uma planilha de cálculos com o valor que entende devido, apresentando-a ao credor, que, portanto, não precisa provocar a execução (STJ, AgRg no AREsp 630.235/RS). Em resumo, são devidos honorários advocatícios nas execuções contra a Fazenda Pública? * Por PRECATÓRIO, COM embargos: SIM; * Por PRECATÓRIO, SEM embargos: NÃO; * Por RPV, em regra: SIM; * Por RPV, havendo “EXECUÇÃO INVERTIDA”: NÃO; 16 Caso o exequente, após a propositura da execução, tenha RENUNCIADO ao valor excedente e pleiteado apenas o teto da dívida de pequeno valor, A FAZENDA NÃO SERÁ CONDENADA AO PAGAMENTO DE HONORÁRIOS. Isso porque a execução se iniciou sob a sistemática dos precatórios, sendo apenas posteriormente adotado o regime da RPV (STF, RE 679.164 AgR; STJ, REsp 1.406.296/RS).
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