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03 - Regime Constitucional dos Precatorios

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 DISCIPLINA CONSTITUCIONAL DOS PRECATÓRIOS 
 
Harrison Leite 
Tathiane Piscitelli 
Dizer o Direito1 
 
DISCIPLINA CONSTITUCIONAL DOS PRECATÓRIOS 
 
1. Conceito e Abrangência 
 
Quando o particular possui alguma dívida reconhecida judicialmente e não a paga, pode ter seus 
bens penhorados na EXECUÇÃO. O mesmo não se dá com relação à Fazenda Pública, visto que os 
seus bens são impenhoráveis, pois os serviços públicos não podem sofrer solução de continuidade. 
Logo, contra a Fazenda Pública há um sistema próprio de execução e pagamento. Tal sistema, ao 
mesmo tempo, configura um privilégio para o Estado devedor (justamente pela impossibilidade de 
penhora dos bens) e uma garantia ao credor (já que a CF prevê medidas que, em tese, asseguram o 
recebimento do seu crédito). 
 
O PRECATÓRIO é uma ordem formal de pagamento, decorrente de DECISÃO JUDICIAL 
TRANSITADA EM JULGADO contra a Fazenda Pública. 
 
Ciente de que a expedição de precatórios dependente, inexoravelmente, do trânsito em julgado da 
sentença judicial proferida em desfavor da Fazenda Pública, nos termos do art. 100 da CF, o STF, 
em sede de Repercussão Geral (RE 573872/RS), decidiu: 
 
Info 866 do STF: “A execução provisória de obrigação de fazer em face da Fazenda 
Pública não atrai o regime constitucional dos precatórios”. 
 
Não há parâmetro constitucional nem legal que obste a pretensão de executar provisoriamente a 
sentença condenatória de obrigação de fazer, antes do trânsito em julgado dos embargos do 
 
1 CAVALCANTE. Márcio André Lopes. Dizer o direito. Extraído do sítio: http://www.dizerodireito.com.br/ 
 
 
 
 
 
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devedor opostos pela Fazenda Pública. Assim, inexiste razão para que a obrigação de fazer tenha 
seu efeito financeiro postergado em função do trânsito em julgado, sob pena de hipertrofiar uma 
regra constitucional de índole excepcionalíssima. 
LEMBRAR! Obrigação de fazer e obrigação de não fazer NÃO atraem a necessidade de expedição 
de precatórios. 
 
O regime de precatórios alcança a Administração Direta (União, Estados, Distrito Federal e 
Municípios), suas autarquias e fundações públicas, e, segundo a jurisprudência do STF, as empresas 
públicas e sociedades de economia mista que explorem serviços públicos típicos do Estado, de 
natureza não concorrencial. 
Exemplo clássico de empresa pública que já teve reconhecido o direito ao regime de precatórios é a 
Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT. Como exemplo de sociedade de economia mista 
que, segundo a Suprema Corte, submete-se à sistemática dos precatórios, mencione-se a 
Companhia de Saneamento de Alagoas – CASAL. 
 
Segundo Harrison Leite, não basta ser empresa pública para ter o regime especial do precatório. 
Para o STF, além de a empresa ser DEPENDENTE, ela NÃO pode possuir atividade econômica com 
intuito lucrativo e concorrencial. É o que normalmente ocorre com as SEM. 
 
EXTRA DIZER O DIREITO - Márcio André Lopes Cavalcante:2 
É possível aplicar o regime de precatórios às sociedades de economia mista? 
 
As sociedades de economia mista PRESTADORAS DE SERVIÇO PÚBLICO de atuação própria do 
Estado e de natureza não concorrencial SUBMETEM-SE AO REGIME DE PRECATÓRIO. 
O caso concreto no qual o STF decidiu isso envolvia uma sociedade de economia mista prestadora 
de serviços de abastecimento de água e saneamento que prestava serviço público primário e em 
regime de exclusividade. O STF entendeu que a atuação desta sociedade de economia mista 
correspondia à própria atuação do Estado, já que ela não tinha objetivo de lucro e o capital social 
era majoritariamente estatal. Logo, diante disso, o STF reconheceu que ela teria direito ao 
processamento da execução por meio de precatório. STF. 2ª Turma. RE 852302 AgR/AL, Rel. Min. 
 
2 CAVALCANTE. Márcio André Lopes. Dizer o direito. Extraído do sítio: http://www.dizerodireito.com.br/ 
 
 
 
 
 
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Dias Toffoli, julgado em 15/12/2015 (Info 812). 
Quem tem o privilégio de pagar por meio de precatório? A quem se aplica o regime dos 
precatórios? 
As Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais. 
Essa expressão abrange: 
• União, Estados, DF e Municípios (administração direta); 
• autarquias; 
• fundações; 
• empresas públicas prestadoras de serviço público (ex: Correios); 
• sociedades de economia mista prestadoras de serviço público de atuação própria 
do Estado e de natureza não concorrencial. 
Logo, diante disso, o STF reconheceu que ela teria direito ao processamento da execução por meio 
de precatório. 
Obs: existe precedente em sentido contrário (STF. 1ª Turma. RE 531538 AgR, Rel. Min. Marco 
Aurélio, julgado em 17/09/2013). No entanto, para fins de concurso, deve-se adotar a posição 
explicada acima por se tratar do julgado mais recente e do entendimento majoritário. 
Não atuar em regime de concorrência e não objetivar lucro 
Segundo o STF, para que a sociedade de economia mista goze dos privilégios da Fazenda Pública, é 
necessário que ela não atue em regime de concorrência com outras empresas e que não tenha 
objetivo de lucro. 
(Juiz TJPB 2015 CESPE) As sociedades de economia mista em regime de concorrência não gozam, em 
regra, dos benefícios deferidos à fazenda pública, salvo o pagamento por precatório. (ERRADO) 
 
2. Procedimento dos Precatórios. 
 
Vencida a Fazenda Pública em demanda judicial, o juiz da execução solicita ao Presidente do 
Tribunal respectivo a requisição da verba necessária ao pagamento do credor. 
O Presidente do Tribunal, então, comunica à Fazenda Pública a existência da obrigação, a fim de 
que ela seja consignada no orçamento como despesa pública. 
 
 
 
 
 
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Se o precatório for apresentado até o dia 1º de julho, a verba correspondente deve ser incluída na 
proposta orçamentária do exercício seguinte, no qual o pagamento há de efetuar-se até o dia 31 
de dezembro. 
Incluído o valor na dotação própria (geralmente, “sentenças judiciais” ou “precatórios”), será ele 
liberado e o Presidente do Tribunal determinará o pagamento do precatório, obedecidas a ordem 
cronológica de recebimento das solicitações e as preferências constitucionais, com exceção dos 
créditos de pequeno valor, que recebem tratamento distinto (RPV). 
Se o precatório não for pago até o dia 31 de dezembro do ano seguinte (para requisições realizadas 
até 1º de julho), incidirão juros de mora, de acordo com interpretação a “contrario sensu” da 
súmula vinculante 17 do STF: “durante o período previsto no parágrafo 1º do artigo 100 da 
Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos”. 
 
IMPORTANTÍSSIMO!! “INCIDEM os juros da mora no período compreendido entre a data da 
realização dos cálculos e da requisição ou do precatório”. (TESE lançada no RE 579431, julgado 
em 19/04/2017) 
O Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que incidem juros de mora no período 
compreendido entre a data de elaboração de cálculos e a expedição da requisição de pequeno 
valor (RPV) ou do precatório. O entendimento foi firmado no dia 19/04/2017, no julgamento do 
Recurso Extraordinário (RE) 579431, com repercussão geral reconhecida. 
Como caiu em prova: 
PGM MANAUS 2018 (CESPE): Conforme a disciplina constitucional dos precatórios e a 
jurisprudência dos tribunais superiores, julgue o item subsequente. 
Não incidem juros de mora no período compreendido entre a data da realização dos cálculos de 
liquidação e a da expedição do precatório. 
Errado 
 
EXTRA DIZER O DIREITO 
§ 12 do art. 100 da CF/88 
Como já vimos, entre o dia em que o precatório é expedido e a data em que ele é efetivamente 
pago, são passados alguns anos. Durante este período, obviamente, se a quantia devida não for 
atualizada, haverá uma desvalorização do valor real do crédito em virtude da inflação. Com o 
 
 
 
 
 
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objetivode evitar essa perda, o § 5º do art. 100 determina que o valor do precatório deve ser 
atualizado monetariamente quando for pago. 
 
Como é calculado o valor da correção monetária e dos juros de mora no caso de atraso no 
pagamento do precatório? 
A EC n.° 62/09 trouxe uma nova forma de cálculo prevista no § 12 do art. 100: 
§ 12. A partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a atualização (obs: correção 
monetária) de valores de requisitórios, após sua expedição, até o efetivo pagamento, 
independentemente de sua natureza, será feita pelo índice oficial de remuneração básica da 
caderneta de poupança, e, para fins de compensação da mora (obs2: juros de mora), incidirão 
juros simples no mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupança, ficando 
excluída a incidência de juros compensatórios. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 62/09) 
 
Desse modo, o § 12 determinava que a correção monetária e os juros de mora, no caso de 
precatórios pagos com atraso, deveriam adotar os índices e percentuais aplicáveis às cadernetas 
de poupança. Regra semelhante está prevista no art. 1ºF da Lei n° 9.494/97: 
Art. 1º-F. Nas condenações impostas à Fazenda Pública, independentemente de sua natureza e para 
fins de atualização monetária, remuneração do capital e compensação da mora, haverá a 
incidência uma única vez, até o efetivo pagamento, dos índices oficiais de remuneração básica e 
juros aplicados à caderneta de poupança. (Redação dada pela Lei nº 11.960/09) 
 
O § 12 do art. 100, inserido pela EC 62/09, também foi questionado. O que decidiu a Corte? 
O STF declarou a INCONSTITUCIONALIDADE da expressão “índice oficial de remuneração básica da 
caderneta de poupança”, constante do § 12 do art. 100 da CF. 
Para os Ministros, o índice oficial da poupança NÃO consegue evitar a perda de poder aquisitivo 
da moeda. Este índice é fixado ex ante, ou seja, previamente, a partir de critérios técnicos não 
relacionados com a inflação considerada no período. Todo índice definido ex ante é incapaz de 
refletir a real flutuação de preços apurada no período em referência. 
Dessa maneira, como este índice (da poupança) não consegue manter o valor real da condenação, 
ele afronta à garantia da coisa julgada, tendo em vista que o valor real do crédito previsto na 
condenação judicial não será o valor real que o credor irá receber efetivamente quando o 
 
 
 
 
 
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precatório for pago (este valor terá sido corroído pela inflação). A finalidade da correção monetária 
consiste em deixar a parte na mesma situação econômica que se encontrava antes. Nesse sentido, 
o direito à correção monetária é um reflexo imediato da proteção da propriedade. 
Vale ressaltar, ainda, que o Poder Público tem seus créditos corrigidos pela taxa SELIC, cujo valor 
supera, em muito, o rendimento da poupança, o que reforça o argumento de que a previsão do 
§12 viola a isonomia. 
Como vimos acima, o art. 1º-F. da Lei n° 9.494/97, com redação dada pelo art. 5º da Lei n° 
11.960/2009, também previa que, nas condenações impostas à Fazenda Pública, os índices a serem 
aplicados eram os da caderneta de poupança. 
Logo, com a declaração de inconstitucionalidade do § 12 do art. 100 da CF, o STF também declarou 
inconstitucional, por arrastamento (ou seja, por consequência lógica), o art. 5º da Lei n° 
11.960/2009, que deu a redação atual ao art. 1º-F. da Lei n° 9.494/97. 
O STF também declarou a inconstitucionalidade da expressão “independentemente de sua 
natureza”, presente no § 12 do art. 100 da CF, com o objetivo de deixar claro que, para os 
precatórios de NATUREZA TRIBUTÁRIA se aplicam os mesmos juros de mora incidentes sobre o 
crédito tributário. 
Assim, para o STF, aos precatórios de natureza tributária devem ser aplicados os mesmos juros de 
mora que incidem sobre todo e qualquer crédito tributário. 
 
3. Classificação: 
Quanto à classificação, os precatórios podem ser comuns ou alimentícios. Definem-se os comuns 
por exclusão: todo precatório que não tiver natureza alimentícia será comum. 
O conceito de precatório alimentício consta do art. 100, § 1º, da CF: “os débitos de natureza 
alimentícia compreendem aqueles decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas 
complementações, benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por invalidez, fundada 
em responsabilidade civil, em virtude de sentença judicial transitada em julgado, e serão pagos com 
preferência sobre todos os demais débitos, exceto sobre aqueles referidos no § 2º deste artigo”. 
 
IMPORTANTE! Súmula Vinculante 47: Os honorários advocatícios incluídos na condenação ou 
destacados do montante principal devido ao credor consubstanciam verba de natureza alimentar 
 
 
 
 
 
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cuja satisfação ocorrerá com a expedição de precatório ou requisição de pequeno valor, observada 
ordem especial restrita aos créditos dessa natureza. 
 
Entre os créditos de natureza alimentícia, a Constituição estabeleceu outra prioridade. Assim, as 
pessoas com MAIS DE 60 ANOS de idade ou PORTADORAS DE DOENÇA GRAVE ou PORTADORES 
DE DEFICIÊNCIA definida na lei têm preferência dentro da ordem dos precatórios alimentícios. No 
entanto, o valor pago com prioridade limita-se ao equivalente ao TRIPLO do crédito de pequeno 
valor. Ultrapassado o referido teto, é possível o fracionamento do precatório, de modo que uma 
parte dele seja paga pela fila com “superpreferência” e a outra seja quitada de acordo com a fila 
com “preferência normal”. 
 
CF, Art. 100, § 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares, ORIGINÁRIOS ou por 
SUCESSÃO HEREDITÁRIA (novidade), tenham 60 (sessenta) anos de idade, ou sejam portadores de 
doença grave, ou PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, assim definidos na forma da lei, serão pagos com 
preferência sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo fixado em lei para os 
fins do disposto no § 3º deste artigo, admitido o fracionamento para essa finalidade, sendo que o 
restante será pago na ordem cronológica de apresentação do precatório. (Redação dada pela 
Emenda Constitucional nº 94, de 2016) 
 
IMPORTANTE!! Atentar bem para a EC 94/2016!! Antes da referida emenda, o STJ possuía 
entendimento de que a CF só atribuía o benefício da superpreferência do §2º art. 100 aos 
CREDORES ORIGINÁRIOS, é dizer, não se estendia essa prerrogativa aos herdeiros ou sucessores ao 
argumento de ser direito de caráter personalíssimo (RMS 44.836/MG). ENTRETANTO, com a EC 
94/2016 o quadro mudou, e, por disposição constitucional expressa, admite-se que tanto os 
credores ORIGINÁRIOS quanto os por SUCESSÃO HEREDITÁRIA podem ter a superpreferência. 
Percebe-se, ainda, que a EC 94/2016 incluiu, como titulares do referido privilégio, AS PESSOAS COM 
DEFICIÊNCIA, sanando uma situação de injustiça. 
Outrossim, NÃO HÁ MAIS RESTRIÇÃO de que essas condicionantes devam ocorrer na data da 
expedição do precatório, conforme se verá adiante. 
 
4. Exceção ao regime constitucional de precatórios: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc94.htm#art1
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc94.htm#art1
 
 
 
 
 
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O § 3º do art. 100 da CF/88 prevê uma exceção ao regime de precatórios. Este parágrafo estabelece 
que, se a condenação imposta à Fazenda Pública for de “pequeno valor”, o pagamento será 
realizado sem a necessidade de expedição de precatório: 
§ 3º O disposto no caput deste artigo relativamente à expedição de precatórios não se aplica aos 
pagamentos de obrigações definidas em leis como de pequeno valor que as Fazendas referidas 
devam fazer em virtude de sentença judicial transitada em julgado. 
 
Quanto é “pequeno valor” para os fins do § 3º do art. 100? 
Este quantum poderá ser estabelecido por cada ente federado (União, Estado, DF, Município) por 
meio de leis específicas, conforme prevê o § 4º do art. 100: 
§ 4º Para os fins do disposto no § 3º, poderão ser fixados, por leis próprias,valores distintos às 
entidades de direito público, segundo as diferentes capacidades econômicas, sendo o mínimo 
igual ao valor do maior benefício do regime geral de previdência social. 
 
O Crédito de pequeno valor (que varia entre os entes políticos) enquanto não for fixado em lei, 
pelo ente, o valor de suas obrigações de pequeno valor, serão consideradas as seguintes quantias, 
segundo o ADCT: 
• 40 salários-mínimos, para os Estados-membros e o Distrito Federal; 
• 30 salários-mínimos, para os Municípios. 
 
Quanto à União, o montante de 60 salários-mínimos, nos termos da Lei 10.259/01, é aquele que 
deve ser pago fora da sistemática dos precatórios. Ou seja, não é necessário esperar até o dia 31 de 
dezembro do ano seguinte para recebê-lo. Logo após o trânsito em julgado da decisão judicial, a 
Fazenda Pública é comunicada, obrigando-se a liberar a quantia à parte vencedora na demanda. 
 
Como a definição do crédito de pequeno valor era deixada inteiramente ao arbítrio dos entes 
federados, muitos deles o estabeleceram em patamar ínfimo (por exemplo: um salário mínimo), de 
modo que raramente as obrigações eram pagas por RPV (requisição de pequeno valor). Para sanar 
o problema, a EC 62/09 impôs um piso para o conceito de pequeno valor, qual seja, o equivalente 
ao MAIOR BENEFÍCIO DO REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL – RGPS. 
 
 
 
 
 
 
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Como caiu em prova: 
PGM MANAUS 2018 (CESPE): Conforme a disciplina constitucional dos precatórios e a 
jurisprudência dos tribunais superiores, julgue o item subsequente. 
Será inconstitucional lei municipal que fixar o valor máximo das suas obrigações de pequeno 
valor em patamar superior ao valor máximo definido em lei do respectivo estado-membro para 
essa mesma classe de obrigações decorrentes de condenação judicial. 
ERRADO 
 
 
PRECATÓRIOS 
Comuns Todos que não têm natureza alimentícia. 
Alimentícios Têm preferência sobre os comuns. 
Alimentícios para: 
- pessoa maior de 60 anos; 
- pessoa com doença grave prevista em lei ou 
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA 
Limitados ao TRIPLO do crédito de pequeno 
valor. 
 
Têm preferência sobre os alimentícios 
“normais”. 
 
 
Saliente-se que, embora seja rápido o recebimento do pagamento por RPV, o STF afirma que, entre 
a data de ELABORAÇÃO DO CÁLCULO da requisição e sua EXPEDIÇÃO, deve incidir correção 
monetária e JUROS MORATÓRIOS (referente aos juros, vide TESE lançada no RE 579431, julgado 
em 19/04/2017). 
Segundo a CF, “é vedada a expedição de precatórios complementares ou suplementares de valor 
pago, bem como o fracionamento, repartição ou quebra do valor da execução para fins de 
enquadramento de parcela do total ao que dispõe o § 3º deste artigo [RPV]”. 
Observe-se que a parte não pode fracionar o valor que tem a receber, a fim de que uma parcela 
da quantia seja paga por RPV e a restante por precatório. Se desejar, o beneficiário pode renunciar 
à parte excedente ao teto da RPV, a fim de receber seu dinheiro por esse meio mais célere. 
 
Não se podem confundir as duas hipóteses indicadas no quadro a seguir. 
 
 
 
 
 
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FRACIONAMENTO DE VALOR 
Para precatório alimentar com 
“superpreferência”: 
Permitido. 
Para pagamento em RPV + precatório: 
Vedado. 
 
A parte em favor de quem se expediu o precatório pode ceder o crédito correspondente a outrem. 
Trata-se da chamada cessão de precatórios. Na prática, ela é muito comum: a parte cede seu 
crédito a um terceiro, que, em contrapartida, paga àquela quantia geralmente inferior à que será 
recebida da Fazenda Pública. Assim, a parte cedente recebe logo seu dinheiro, enquanto a 
cessionária deve aguardar para receber a quantia, que, no entanto, será maior do que o valor 
despendido. 
A CF dispõe, no art. 100, § 13: “o credor poderá ceder, total ou parcialmente, seus créditos em 
precatórios a terceiros, independentemente da concordância do devedor, não se aplicando ao 
cessionário o disposto nos §§ 2º e 3º”. O § 14 complementa: “a cessão de precatórios somente 
produzirá efeitos após comunicação, por meio de petição protocolizada, ao tribunal de origem e à 
entidade devedora”. 
Percebe-se, assim, que a cessão de precatórios: 
• pode ser total ou parcial; 
• se o cedente não possui preferência, o cessionário também não as terá; 
• não depende da concordância da Fazenda; 
• produz efeitos apenas após comunicação ao Tribunal e à entidade devedora. 
 
Foi dito que, se o cedente não possui preferência (seu precatório é comum), o cessionário também 
não a terá (ou seja, ainda que maior de 60 anos ou portador de doença grave prevista em lei ou 
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA, não poderá entrar na fila preferencial). 
Há, no entanto, celeuma no que tange à hipótese inversa. Se alguém com preferência ou 
“superpreferência” cede seu precatório a outrem que não a teria, o precatório deve “mudar de fila” 
(passar de alimentício para comum)? A tendência parece ser que não, sob pena de a “mudança de 
fila” representar desvalorização no crédito da parte. A matéria teve repercussão geral reconhecida 
no STF em 2010 (RE 631.537) e aguarda um desfecho. 
 
 
 
 
 
 
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DEVO LEMBRAR! Não confundir a CESSÃO com a SUCESSÃO HEREDITÁRIA, alvo da EC 94/2016. 
Segundo nova redação da do §2º art. 100 CF o sucessor hereditário pode manter a 
“superpreferência”. 
 
5. Natureza da atividade 
 
Tem natureza nitidamente ADMINISTRATIVA a atividade do presidente do tribunal, consistente em 
(a) noticiar o poder público da existência do precatório, (b) determinar a sua inclusão no orçamento 
e (c) ordenar o pagamento do crédito, bem como, se for o caso, (d) autorizar, a requerimento do 
credor (no caso de preterimento do seu direito de precedência ou de não alocação orçamentária), 
o sequestro da quantia respectiva. 
Tanto é assim que, segundo a súmula 733 do STF, “não cabe recurso extraordinário contra decisão 
proferida no processamento de precatórios”. A súmula 311 do STJ é ainda mais explícita: “os atos 
do presidente do tribunal que disponham sobre processamento e pagamento de precatório não têm 
caráter jurisdicional”. 
Aliás, incorre em crime de responsabilidade, respondendo, também, perante o CNJ, o presidente 
do tribunal que, por ato comissivo ou omissivo, retardar ou tentar frustrar a liquidação regular de 
precatórios. 
Harrison Leite: mais recente, e com o fim de ajustar as regras de pagamento de precatórios às 
decisões do STF, o Congresso Nacional aprovou a EC n. 94/16, que instituiu novo regime especial, ao 
permitir o pagamento das dívidas com precatórios ser parcelado até 2020. Assim, dificilmente vê-se 
cumprida a regra constitucional prevista no §5º do art. 100, que tem sido normal ideal e utópica 
para diversos credores dos entes federativos. 
 
6. Declaração de inconstitucionalidade parcial da EC 62/09 
 
Tema de suma relevância é a declaração de inconstitucionalidade parcial, pelo STF, da EC 62/09, 
que efetuou inúmeras mudanças no art. 100 da CF, em cujos parágrafos residem as regras sobre o 
regime dos precatórios. Observe-se o que foi decidido nas diversas ADIs que trataram do tema: 
 
 
 
 
 
 
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1. A expressão “na data de expedição do precatório”, constante no § 2º do art. 100 foi 
declarada inconstitucional, por violar o princípio da igualdade, de modo que a 
“superpreferência” dos créditos alimentícios ali previstos (até o triplo do crédito de 
pequeno valor) deve ser estendida a todos os credores com 60 anos ou mais, e não 
apenas àqueles que alcançaram essa idade no dia em que o precatório foi emitido; 
 
2. Declararam-se inconstitucionais os parágrafos 9º e 10 do art. 100, que estipulavam 
um regime de compensação obrigatória entre o valor do precatório e eventuais 
créditos do particular para com a Fazenda Pública. Essa sistemática gera uma enorme 
superioridade processual para a Fazenda Pública, violando o devido processo legal, o 
contraditório, a ampla defesa, a coisa julgada, a isonomia e, por fim, aseparação dos 
Poderes. Mais tarde, em um recurso extraordinário (RE 614.406/RS), o STF decidiu que 
os mencionados dispositivos são inconstitucionais, também, com relação aos 
pagamentos efetuados por RPV; 
 
3. A expressão “índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança”, 
constante do § 12 do art. 100, também foi declarada inconstitucional, uma vez que a 
correção monetária não se pode basear em índices fixados “ex ante”, a partir de 
critérios técnicos não relacionados com a inflação. Por arrastamento (ou seja, por 
consequência lógica), também se declarou inconstitucional o art. 5º da Lei 11.960/09, 
que deu a redação atual ao art. 1º-F da Lei 9.494/97; 
 
4. O STF declarou inconstitucional, ainda, a expressão “independentemente de sua 
natureza”, presente no § 12 do art. 100, deixando-se claro que, para precatórios de 
natureza tributária, aplicam-se os mesmos juros de mora incidentes sobre o crédito 
tributário da Fazenda Pública; 
 
5. Foram declarados inconstitucionais o § 15 do art. 100 e todo o art. 97 do ADCT. 
Segundo o primeiro dispositivo, o legislador infraconstitucional (por meio de lei 
complementar) poderia criar um regime especial para os precatórios dos Estados-
membros, do Distrito Federal e dos Municípios, estabelecendo uma vinculação entre a 
 
 
 
 
 
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forma e o prazo de pagamento com a receita corrente líquida desses entes. Enquanto 
não editada a referida lei pelo ente interessado, o regime especial seria o estabelecido 
segundo os termos do art. 97 do ADCT, que previa uma série de vantagens aos entes 
federados. Permitia-se, por exemplo, a realização de uma espécie de “leilão reverso”, no 
qual os credores de precatórios poderiam competir entre si, oferecendo deságios 
(“descontos”) em relação aos valores que lhes assistiam. Aqueles que oferecessem 
maiores descontos receberiam com preferência, excepcionando-se a ordem cronológica. 
Após a decisão acima, proferida em 2013, o STF decidiu modular os seus efeitos, em 
2015. Desse modo, alguns dispositivos mencionados, apesar de terem sido declarados 
inconstitucionais, continuarão a vigorar por mais algum tempo. Observe-se: 
• Expressão “índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança” 
prevista no § 12 do art. 100: (a) para precatórios da administração Estadual ou 
Municipal: pode ser aplicada até 25/03/2015; (b) para precatórios da 
administração federal: pode ser aplicada até 31/12/2013. Após essas datas, 
deverão ser utilizados: 
- IPCA-E: precatórios em geral; 
- SELIC: precatórios tributários; 
• São válidas as compensações determinadas pelos parágrafos 9º e 10 do art. 100 
que tenham sido realizadas até 25/03/2015. A partir dessa data, deixa de ser 
possível a realização da compensação obrigatória, mas admite-se que sejam 
feitos acordos entre o credor do precatório e a Fazenda Pública, para 
compensações voluntárias; 
• Os “leilões reversos” realizados até 25/03/2015 são válidos. A partir dessa data, 
veda-se sua realização. 
• O § 15 do art. 100 e o art. 97 do ADCT (regime especial de pagamento de 
precatórios) valerão por mais cinco anos a contar de 01/01/2016, ou seja, até o 
final de 2020; 
• A vinculação de percentuais da receita corrente líquida ao pagamento dos 
precatórios continua válida por mais cinco anos a contar de 01/01/2016, ou seja, 
até o final de 2020. 
 
 
 
 
 
 
14 
7. Julgados recentes sobre o tema: 
 
Por fim, registrem-se os julgados mais recentes dos Tribunais Superiores sobre o tema 
“precatórios”: 
 
1. A limitação de valor para o direito à “superpreferência” estabelecida no art. 100, § 
2º, da CF (triplo do pequeno valor), aplica-se para cada precatório de natureza 
alimentícia, ainda que mais de um tenha sido apresentado no mesmo exercício 
financeiro e perante o mesmo devedor. Assim, se um idoso possui vários créditos 
para receber da Fazenda Pública, sendo expedidos para tanto diversos precatórios, 
não se devem somar os valores para aferir se respeitam o limite em questão (STF, 
RMS 46.155-RO); 
 
2. (IMPORTANTE!!!) Em caso de litisconsórcio ativo FACULTATIVO, o “pequeno valor” 
para fins de dispensa do precatório deve ser considerado INDIVIDUALMENTE, para 
cada litisconsorte, NÃO SE PODENDO SOMAR AS QUANTIAS DEVIDAS A ELES (STF, 
RE 568.645); 
 
3. O advogado pode receber seus honorários por RPV, mesmo que o crédito da parte, 
dito principal, deva ser pago por precatório (STF, RE 564.132/RS; STJ, REsp 
1.347.736/RS); 
 
4. O descumprimento VOLUNTÁRIO e INTENCIONAL de decisão transitada em julgado 
configura pressuposto indispensável ao acolhimento do pedido de INTERVENÇÃO 
FEDERAL. Para que seja decretada a intervenção federal em um Estado-membro 
que tenha deixado de pagar precatórios é necessário que fique comprovado que 
esse descumprimento é VOLUNTÁRIO e INTENCIONAL. Se ficar demonstrado que o 
ente não pagou por dificuldades financeiras não há intervenção (STF. IF 5101/RS, IF 
5105/RS, IF 5106/RS, Min Cezar Peluso, 28/03/2012) 
 
 
 
 
 
 
15 
5. Durante o período em que o processo de execução contra a Fazenda Pública fica 
suspenso em razão da morte do exequente (para a habilitação dos sucessores da 
parte falecida), não corre prazo para efeito de reconhecimento de prescrição 
intercorrente da pretensão executória. De fato, não há previsão legal que imponha 
prazo específico para a habilitação dos sucessores (STJ, AgRg no AREsp 286.713/CE); 
 
6. DEVEM SER ADIMPLIDAS POR MEIO DE FOLHA SUPLEMENTAR – E NÃO POR 
PRECATÓRIO – as parcelas vencidas APÓS O TRÂNSITO EM JULGADO que decorram 
do descumprimento de decisão judicial que tenha determinado a implantação de 
diferenças remuneratórias em folha de pagamento de servidor público (STJ, AgRg no 
Ag 1.412.030/RJ). 
 
7. Nas execuções contra a Fazenda Pública, se o crédito depende de precatório, só 
haverá a condenação ao pagamento de honorários advocatícios se tiver havido a 
apresentação de embargos à execução. Se a Fazenda Pública não opôs embargos à 
execução, não deve pagar honorários, pois não lhe é possível efetuar o pagamento 
sem o início da execução forçada. Por outro lado, se o crédito pode ser pago por 
RPV, a Fazenda Pública, em regra, deve ser condenada ao pagamento de honorários 
advocatícios, ainda que não embargada a execução. No entanto, a Fazenda Pública 
não precisará pagar os honorários na hipótese de ter sido adotada a chamada 
“execução invertida” – quando a Fazenda, depois de condenada, se antecipa e 
prepara uma planilha de cálculos com o valor que entende devido, apresentando-a 
ao credor, que, portanto, não precisa provocar a execução (STJ, AgRg no AREsp 
630.235/RS). 
 
Em resumo, são devidos honorários advocatícios nas execuções contra a Fazenda Pública? 
* Por PRECATÓRIO, COM embargos: SIM; 
* Por PRECATÓRIO, SEM embargos: NÃO; 
* Por RPV, em regra: SIM; 
* Por RPV, havendo “EXECUÇÃO INVERTIDA”: NÃO; 
 
 
 
 
 
 
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Caso o exequente, após a propositura da execução, tenha RENUNCIADO ao valor excedente e 
pleiteado apenas o teto da dívida de pequeno valor, A FAZENDA NÃO SERÁ CONDENADA AO 
PAGAMENTO DE HONORÁRIOS. Isso porque a execução se iniciou sob a sistemática dos 
precatórios, sendo apenas posteriormente adotado o regime da RPV (STF, RE 679.164 AgR; STJ, 
REsp 1.406.296/RS).

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