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Título da aula/capítulo: Cap. 6 (livro 2) – A Sociologia no Brasil e a interpretação do povo brasileiro; Disciplina: Sociologia; Professor: João Gabriel da Fonseca; Turmas: 3º ano e curso; ATIVIDADE: RESPONDER ÀS QUESTÕES JUSTIFICANDO AS QUESTÕES OBJETIVAS QUESTÕES TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO: Leia o texto e observe o mapa para responder à(s) questão(ões) a seguir. Nem existia Brasil no começo dessa história. Existiam o Peru e o México, no contexto pré-colombiano, mas Argentina, Brasil, Chile, Estados Unidos, Canadá, não. No que seria o Brasil, havia gente no Norte, no Rio, depois no Sul, mas toda essa gente tinha pouca relação entre si até meados do século XVIII. E há aí a questão da navegação marítima, torna-se importante aprender bem história marítima, que é ligada à geografia. [...] Essa compreensão me deu muita liberdade para ver as relações que Rio, Pernambuco e Bahia tinham com Luanda. Depois a Bahia tem muito mais relação com o antigo Daomé, hoje Benin, na Costa da Mina. Isso formava um todo, muito mais do que o Brasil ou a América portuguesa. [...] Nunca os missionários entraram na briga para saber se o africano havia sido ilegalmente escravizado ou não, mas a escravidão indígena foi embargada pelos missionários desde o começo, e isso também é um pouco interesse dos negreiros, ou seja, que a escravidão africana predomine. [...] A escravização tem dois processos: o primeiro é a despersonalização, e o segundo é a dessocialização. (Luiz Felipe de Alencastro. Entrevista a Mariluce Moura. “O observador do Brasil no Atlântico Sul”. In: Revista Pesquisa Fapesp, no 188, outubro de 2011.) 1. (Unesp 2020) A “despersonalização” e a “dessocialização” dos escravizados podem ser associadas, respectivamente, a) ao fato de que os escravos eram identificados por números marcados a ferro e à interdição do contato entre os cativos e seus senhores. b) à noção do escravo como mercadoria e ao fato de que os africanos eram extraídos de sua comunidade de origem. c) à noção do escravo como tolerante ao trabalho compulsório e ao fato de que ele era proibido de fazer amizades ou constituir família. d) ao fato de que os escravos eram etnologicamente indistintos e à proibição de realização de festas e cultos. e) à noção do escravo como desconhecedor do território colonial e ao fato de que ele não era reconhecido como brasileiro. 2. (Udesc 2019) Leia o trecho a seguir: “Não existe democracia racial efetiva, onde o intercâmbio entre indivíduos pertencentes a ‘raças’ distintas começa e termina no plano da tolerância convencionalizada. Esta pode satisfazer as exigências do bom-tom, de um discutível espírito cristão e da necessidade prática de ‘manter cada um no seu lugar’. Contudo, ela não aproxima realmente os homens senão na base da mera coexistência no mesmo espaço social e, onde isso chega a acontecer, da convivência restritiva, regulada por um código que consagra a desigualdade, disfarçando-a e justificando-a acima dos princípios de integração da ordem social democrática”. Florestan Fernandes, 1960. Florestan Fernandes se refere à ideia de “democracia racial” que, durante um período, foi considerada constitutiva da identidade nacional brasileira. Esta tese era caracterizada por: a) pressupor uma miscigenação harmoniosa entre os diferentes grupos étnicos constitutivos da nação brasileira. b) apregoar que representantes de todos os grupos étnicos deveriam ter representatividade política em âmbito legislativo. c) promover a denúncia de práticas racistas contra negros, mulheres e indígenas. d) reivindicar a instauração de processos e eventuais julgamentos dos responsáveis pelo processo de favelização nas grandes capitais brasileiras, a partir de fins do século XIX. e) defender as candidaturas plurirraciais nos processos eleitorais, pós 1964. 3. (Ufsc 2019) Abaixo, o samba-enredo de 2018 da escola de samba do grupo especial Acadêmicos do Salgueiro. Senhoras do Ventre do Mundo Composição: Xande de Pilares, Demá Chagas, Dudu Botelho, Renato Glante, Jassa, Leonardo Gallo, Betinho de Pilares, Vanderley Sena, Ralfe Ribeiro e W. Corrêa Senhoras do ventre do mundo inteiro A luz no caminho do meu Salgueiro A me guiar, vermelha inspiração Faz misturar ao branco nesse chão Na força do seu ritual sagrado Riqueza ancestral Deusa raiz africana Bendita ela é e traz no axé um canto de amor Magia pra quem tem fé Na gira que me criou É mãe, é mulher, a mão guardiã Calor que afaga, poder que assola No Vale do Nilo, a luz da manhã A filha de Zambi nas terras de Angola Guerreira, feiticeira, general contra o invasor A dona dos saberes confirmando seu valor Ecoou no Quariterê O sangue é malê em São Salvador Oh matriarca desse cafundó A preta que me faz um cafuné Ama de leite do senhor A tia que me ensinou a comer doce na colher A bênção, mãe baiana rezadeira Em minha vida, seu legado de amor ôô Liberdade é resistência E à luz da consciência A alma não tem cor Firma o tambor pra rainha do terreiro É negritude, Salgueiro Herança que vem de lá (ô) Na ginga que faz esse povo sambar Com base no texto acima, é correto afirmar que: 01) a temática abordada pela escola de samba Salgueiro possui pouca relevância para o contexto social brasileiro, uma vez que no Brasil não há racismo ou quaisquer outras formas de discriminação racial. 02) na África antes da chegada dos europeus, havia uma produção científica e cultural pouco significativa, sendo os europeus, portanto, os responsáveis pelo desenvolvimento desse continente. 04) o Brasil possui profundos vínculos culturais com a África, de modo que em todas as diferentes regiões do país encontra- se a presença de manifestações culturais de origem afro- brasileira. 08) as mulheres negras na sociedade brasileira atingiram um nível de igualdade social que permite dizer que suas condições de trabalho e de salário são iguais às das mulheres brancas. 16) as religiões afro-brasileiras concentram-se nas regiões Nordeste e Sudeste do Brasil, inexistindo na Região Sul. 32) no Brasil, o racismo manifesta-se de diversas formas, muitas vezes sutis, como por meio de piadas e de outros atos cotidianos. 4. (Uel 2019) Leia o texto a seguir. Como houve continuidade sem quebra temporal entre a escravidão, que destrói a alma por dentro e humilha e rebaixa o sujeito, tornando-o cúmplice da própria dominação, e a produção de uma ralé de inadaptados ao mundo moderno, nossos excluídos herdaram, sem solução de continuidade, todo o ódio e o desprezo covarde pelos mais frágeis e com menos capacidade de se defender. SOUZA, J. A elite do atraso. Rio de Janeiro: Leya, 2017. p.83. Nas teorias sociais, um dos temas mais controversos refere-se às relações entre o indivíduo e a sociedade. A imensa maioria dos cientistas sociais demonstra a existência de complexas relações entre as características sociais (classe social, renda, situação familiar etc.) que envolvem o indivíduo e o seu comportamento. Considerando esse texto, explique a relação entre o passado escravocrata e a forte presença de afrodescendentes entre os jovens presos e assassinados na atualidade no Brasil. Em seguida, relacione esse cenário à discriminação que esses indivíduos sofrem por uma parcela substancial da população brasileira. 5. (Uerj 2019) As caravanas É um dia de real grandeza, tudo azul Um mar turquesa à la Istambul enchendo os olhos Um sol de torrar os miolos Quando pinta em Copacabana A caravana do Arará, do Caxangá, da Chatuba A caravana do Irajá, o comboio da Penha Não há barreira que retenha esses estranhos Suburbanos tipo muçulmanos do Jacarezinho A caminho do Jardim de Alá É o bicho, é o buchicho, é a charanga (...) Com negros torsos nus deixam em polvorosa A gente ordeira e virtuosa que apela Pra polícia despachar devolta O populacho pra favela Ou pra Benguela, ou pra Guiné Sol A culpa deve ser do sol que bate na moleira O sol que estoura as veias O suor que embaça os olhos e a razão E essa zoeira dentro da prisão Crioulos empilhados no porão De caravelas no alto mar Tem que bater, tem que matar, engrossa a gritaria Filha do medo, a raiva é mãe da covardia Ou doido sou eu que escuto vozes Não há gente tão insana Nem caravana do Arará Não há, não há (...) CHICO BUARQUE letras.mus.br Na letra da canção, o compositor estabelece vínculos entre diferentes temporalidades. Esses vínculos explicitam uma relação de causalidade entre os seguintes elementos: a) processo histórico e estrutura social b) origem geográfica e violência urbana c) doutrina religiosa e fundamentação ideológica d) movimento pendular e segregação residencial 6. (Unesp 2019) Texto 1 Vinte e um anos, algumas apólices, um diploma, podes entrar no parlamento, na magistratura, na imprensa, na lavoura, na indústria, no comércio, nas letras ou nas artes. Há infinitas carreiras diante de ti. [...] Nenhum [ofício] me parece mais útil e cabido que o de medalhão. [...] Tu, meu filho, se me não engano, pareces dotado da perfeita inópia mental, conveniente ao uso deste nobre ofício. [...] No entanto, podendo acontecer que, com a idade, venhas a ser afligido de algumas ideias próprias, urge aparelhar fortemente o espírito. [...] Em todo caso, não transcendas nunca os limites de uma invejável vulgaridade. (Machado de Assis. Teoria do medalhão. www.dominiopublico.gov.br.) Texto 2 De fato, existem medalhões em todos os domínios da vida social brasileira: na favela e no Congresso; na arte e na política; na universidade e no futebol; entre policiais e ladrões. São as pessoas que podem ser chamadas de “homens”, “cobras”, “figuras”, “personagens” etc. [...] Medalhões são frequentemente figuras nacionais. [...] Ser o filho do Presidente, do Delegado, do Diretor conta como cartão de visitas. (Roberto da Matta. Carnavais, malandros e heróis, 1983.) Tanto no texto do escritor Machado de Assis como no do antropólogo Roberto da Matta, a figura do medalhão a) corresponde a um fenômeno cultural recente e desvinculado do clientelismo. b) tem sua existência fundamentada em ideais liberais e democráticos de cidadania. c) consiste em um tipo social exclusivamente pertencente às elites burguesas. d) apresenta sucesso social fundamentado na competência acadêmica e intelectual. e) ilustra o caráter fortemente hierarquizado e personalista da sociedade brasileira. 7. (Ufsc 2018) Todo brasileiro, mesmo o alvo, de cabelo louro, traz na alma, quando não na alma e no corpo – há muita gente de jenipapo ou mancha mongólica pelo Brasil –, a sombra, ou pelo menos a pinta, do indígena ou do negro. No litoral, do Maranhão ao Rio Grande do Sul, e em Minas Gerais, principalmente do negro. A influência direta, ou vaga e remota, do africano. Na ternura, na mímica excessiva, no catolicismo em que se deliciam nossos sentidos, na música, no andar, na fala, no canto de ninar menino pequeno, em tudo que é expressão sincera de vida, trazemos quase todos a marca da influência negra. Da escrava ou sinhama que nos embalou. Que nos deu de mamar. Que nos deu de comer, ela própria amolengando na mão o bolão de comida. FREYRE, Gilberto. Casa-grande & senzala, 2005 [1933], p. 367. Em suma, a expansão urbana, a revolução industrial e a modernização ainda não produziram efeitos bastante profundos para modificar a extrema desigualdade racial que herdamos do passado. Embora “indivíduos de cor” participem (em algumas regiões segundo proporções aparentemente consideráveis) das “conquistas do progresso”, não se pode afirmar, objetivamente, que eles compartilhem, coletivamente, das correntes de mobilidade social vertical vinculadas à estrutura, ao funcionamento e ao desenvolvimento da sociedade de classes. FERNANDES, Florestan, O negro no mundo dos brancos, 2006 [1972], p. 67. [Adaptado]. Acerca do debate sobre relações raciais no Brasil e com base na leitura dos textos acima, é correto afirmar que: 01) a chamada “democracia racial” é uma expressão normalmente atribuída a Florestan Fernandes, que defendia essa ideia sobre o Brasil. 02) para o sociólogo e antropólogo Gilberto Freyre, o Brasil seria um país miscigenado não apenas no plano biológico, mas também no cultural. 04) há diferentes interpretações sociológicas e antropológicas sobre como se dão as relações raciais no Brasil, inclusive correlacionando as desigualdades raciais com outros fatores, como gênero e classe social. 08) segundo as ideias de Florestan Fernandes, no Brasil foi necessária a realização de medidas formais para separar negros de brancos. 16) segundo Gilberto Freyre, era necessário distinguir raça de cultura, pois algumas diferenças existentes entre brancos e negros seriam de ordem cultural, e não racial, como defendiam algumas teorias. 8. (Uem-pas 2017) A nação, a nacionalidade e a identidade nacional são construções sócio-históricas, portanto são resultado da ação de vários agentes sociais. O intelectual é um dos agentes sociais envolvidos na construção das ideias de nação, de nacionalidade e de identidade nacional. Para o caso brasileiro, no que diz respeito à criação da identidade nacional, um intelectual central foi Gilberto Freyre (1900-1987). Em suas obras, Freyre sistematizou, divulgou e ajudou a sedimentar a ideia do Brasil como país mestiço, atrelando a identidade nacional brasileira à miscigenação, à mestiçagem. Sobre a identidade nacional brasileira assentada na miscigenação e na mestiçagem, é correto afirmar: 01) A identidade nacional brasileira assentada nos ideais da mestiçagem e da miscigenação busca conciliar discursivamente uma sociedade altamente estratificada onde o racismo é um operador social importante. 02) A construção da identidade nacional brasileira favoreceu a expropriação do patrimônio cultural da população negra, uma vez que elementos da cultura negra foram transformados em cultura nacional, situação que colaborou para fortalecer a ideia da ausência de uma cultura da população negra no Brasil. 04) A identidade nacional alicerçada nos ideais da miscigenação e da mestiçagem é algo que foi e ainda é utilizado para encobrir o racismo existente no Brasil. 08) A construção da identidade nacional em torno do ideal da miscigenação e da mestiçagem favoreceu o desenvolvimento do mito da democracia racial e da ausência de racismo no Brasil. 16) A identidade nacional calcada nos ideais da miscigenação e da mestiçagem favoreceu o surgimento de conflito racial explícito no Brasil. 9. (Enem (Libras) 2017) A miscigenação que largamente se praticou aqui corrigiu a distância social que de outro modo se teria conservado enorme entre a casa-grande e a mata tropical; entre a casa-grande e a senzala. O que a monocultura latifundiária e escravocrata realizou no sentido de aristocratização, extremando a sociedade brasileira em senhores e escravos, com uma rala e insignificante lambujem de gente livre sanduichada entre os extremos antagônicos, foi em grande parte contrariado pelos efeitos sociais da miscigenação. FREYRE, G. Casa-grande & senzala. Rio de Janeiro: Record, 1999. A temática discutida é muito presente na obra de Gilberto Freyre, e a explicação para essa recorrência está no empenho do autor em a) defender os aspectos positivos da mistura racial. b) buscar as causas históricas do atraso social. c) destacar a violência étnica da exploração colonial. d) valorizar a dinâmica inata da democracia política. e) descrever as debilidades fundamentais da colonização portuguesa. 10. (Uel 2015) Leia o fragmento a seguir, de Sobrados e Mucambos, de 1936, do sociólogo brasileiro Gilberto Freyre.Os engenhos, lugares santos donde outrora ninguém se aproximava senão na ponta dos pés e para pedir alguma coisa – pedir asilo, pedir voto, pedir moça em casamento, pedir esmola para a festa da igreja, pedir comida – deram para ser invadidos por agentes de cobrança, representantes de uma instituição arrogante da cidade – o Banco – quase tão desprestigiadora da majestade das casas-grandes quanto a polícia. Houve senhores que esmagados pelas hipotecas e pelas dívidas encontraram amparo no filho ou no genro, deputado, ministro, funcionário público. O Estado foi afinal o “grande asilo das fortunas desbaratadas da escravidão”. Adaptado de: FREYRE, G. Sobrados e Mucambos: decadência do patriarcado rural e desenvolvimento urbano. 14.ed. São Paulo: Global, 2003. p.121-123. Com base no texto e nos conhecimentos sociológicos sobre o Brasil, cite, no mínimo, três características da descrição de Freyre a respeito do processo de modernização que se instalou no País. 11. (Uem 2018) “Conforme propôs Sérgio Buarque de Holanda, o país foi sempre marcado pela precedência dos afetos e do imediatismo emocional sobre a rigorosa impessoalidade dos princípios, que organizam usualmente a vida dos cidadãos nas mais diversas nações. ‘Daremos ao mundo o homem cordial’, dizia Holanda, não como forma de celebração, antes lamentando a nossa difícil entrada na modernidade refletindo criticamente sobre ela”. (SCHWARCZ, L. M.; STARLING, H. M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 17). Ao pensar a sociedade brasileira nos anos 1930, Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982) indicou ser a cordialidade uma característica fundamental da sociedade local. Acerca do conceito de homem cordial, conforme construído por Sérgio Buarque de Holanda, é correto afirmar que 01) indica o desapreço da sociedade brasileira pelo uso da violência. 02) versa sobre a adesão da sociedade brasileira ao cumprimento das leis e sobre o desprezo pelo “jeitinho”. 04) as relações pessoais extrapolam as relações privadas e organizam também a vida pública. 08) a cordialidade seria algo transmitido no processo de socialização presente, de certa forma, na maioria dos brasileiros. 16) indica a superação do passado colonial e a possibilidade de estruturação de uma democracia no Brasil baseada nos princípios de ordem e de progresso. 12. (Enem PPL 2017) TEXTO I A Resolução nº 7 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) passou a disciplinar o exercício do nepotismo cruzado, isto é, a troca de parentes entre agentes para que tais parentes sejam contratados diretamente, sem concurso. Exemplificando: o desembargador A nomeia como assessor o filho do desembargador B que, em contrapartida, nomeia o filho deste como seu assessor. COSTA, W. S. Do nepotismo cruzado: características e pressupostos. Jusnavigandi, n. 950, 8 fev. 2006. TEXTO II No Brasil, pode-se dizer que só excepcionalmente tivemos um sistema administrativo e um corpo de funcionários puramente dedicados a interesses objetivos e fundados nesses interesses. HOLANDA, S. B. Raízes do Brasil. Rio de Janeiro: José Olympio, 1993. A administração pública no Brasil possui raízes históricas marcadas pela a) valorização do mérito individual. b) punição dos desvios de conduta. c) distinção entre o público e o privado. d) prevalência das vontades particulares. e) obediência a um ordenamento impessoal. 13. (Unioeste 2017) As sociedades humanas podem ser compreendidas com base no exame de suas representações coletivas, suas categorias de classificação que podem ser percebidas nas maneiras de se comportar dos seus membros, nos hábitos mais comuns do seu cotidiano, nas suas expressões e valorações presentes na linguagem. No Brasil, vários pensadores sociais tentaram interpretar a sociedade brasileira. Sobre os Intérpretes do Brasil, entre eles Euclides da Cunha, Sérgio Buarque de Holanda, Roberto Da Matta, Gilberto Freire e Raymundo Faoro, é INCORRETO afirmar. a) Para Euclides da Cunha, é possível entender o Brasil a partir das categorias de litoral e de sertão. As organizações sociais do tipo que se encontrava no litoral limitavam-se a copiar as formas europeias, destinando o País à submissão permanente. Por outro lado, Euclides afirma que uma nação efetivamente brasileira e capaz de realizar um projeto nacional autônomo teria que originar-se na população sertaneja. Em seu trabalho, o autor destaca o sertanejo como o personagem histórico capaz de impulsionar a formação da nação autônoma. b) Para Sérgio Buarque de Holanda, o Brasil pode ser compreendido a partir do estudo das suas raízes socioculturais. Ele constrói um panorama histórico de nossa estrutura política, econômica e social influenciada pelo modelo português. O Brasil de Sérgio Buarque de Holanda é um território de desterro do europeu que aqui se constitui enquanto homem cordial e organiza-se pelo personalismo, patriarcalismo e autoritarismo, porém que precisa se tornar uma democracia. c) Para Roberto Da Matta, os vários paradoxos e tensões que constituem nossa maneira de ser são um caminho possível para entender o Brasil. Tais paradoxos e tensões podem ser vistos no fato do brasileiro acreditar ser importante respeitar a lei, por outro lado, esse mesmo brasileiro acha lícito recorrer ao famoso “jeitinho”. d) Para Gilberto Freire, o Brasil pode ser compreendido a partir de uma interpretação histórica da realidade econômica e, em especial, do seu subdesenvolvimento, entendidos como fruto de relações internacionais. e) Para Raymundo Faoro, o Brasil pode ser compreendido a partir da formação do patronato político e do patrimonialismo do Estado brasileiro, levando-se em consideração as características da colonização portuguesa. 14. (Uel 2017) O decênio de 1930 viu florescer um gênero novo de textos sobre o Brasil. O país, que já havia sido interpretado anteriormente em livros de gênero literário (como em Os Sertões, de Euclides da Cunha), passou a contar com análises advindas do campo das ciências sociais, que também começavam a se constituir em terreno nacional. Um dos mais destacados autores do período foi Sérgio Buarque de Holanda, que escreveu, em 1936, o clássico ensaio Raízes do Brasil, que aborda aspectos fundamentais acerca da colonização nacional e da formação de características da cultura política brasileira. Muito conhecida é sua formulação acerca do homem cordial. Com base nessas considerações, disserte sobre como a cordialidade do brasileiro, descrita por Sérgio Buarque de Holanda, influi na relação entre o público e o privado na sociedade brasileira. 15. (Uel 2016) Leia o texto a seguir. Cumpre ainda acrescentar que essa cordialidade, estranha, por um lado, a todo formalismo e convencionalismo social, não abrange, por outro, apenas obrigatoriamente, sentimentos positivos e de concórdia. A inimizade bem pode ser tão cordial como a amizade, visto que uma e outra nascem do coração, e procedem, assim, da esfera do íntimo, do familiar, do privado. Nenhum povo está mais distante dessa noção ritualista da vida do que o brasileiro. Nada mais significativo dessa aversão ao ritualismo social, que exige, por vezes, uma personalidade fortemente homogênea e equilibrada em todas as suas partes, do que a dificuldade em que se sentem, geralmente, os brasileiros, de uma reverência prolongada ante um superior. Nosso temperamento admite fórmulas de reverência, e até de bom grado, mas quase somente enquanto não suprimam de todo a possibilidade de convívio mais familiar. Para o funcionário “patrimonial”, a própria gestão política apresenta-se como assunto de seu interesse particular. As funções, os empregos e os benefícios que deles aufere, relacionam-se a direitos pessoais do funcionário e não a interesses objetivos, como sucede no verdadeiro Estado burocrático, em que prevalecem a especialização dasfunções e o esforço para se assegurarem garantias jurídicas aos cidadãos. (Adaptado de: HOLANDA, S. B. Raízes do Brasil. 13.ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1979. p.105-108.) O pensador brasileiro Sérgio Buarque de Holanda desenvolveu sua noção de “homem cordial” em Raízes do Brasil. A partir desse trecho da obra, identifique e explique as três características básicas ligadas a essa noção. Gabarito: Resposta da questão 1: [B] [Resposta do ponto de vista da disciplina de Sociologia] Ao se tornar escravizado, o indivíduo é obrigado a romper os seus vínculos sociais, perdendo laços, deixando de ser reconhecido por sua identidade originária e sendo tratado como mercadoria. Assim é que a “despersonalização” e a “dessocialização” se mostram como características marcantes desse fenômeno. [Resposta do ponto de vista da disciplina de História] A escravidão comercial negra, iniciada por Portugal na época mercantilista e colonialista, enxergava o escravo como mercadoria e, por isso, promovia uma espécie de despersonalização nos negros escravizados, retirando deles a condição de humanidade. Além disso, o fato de os negros serem retirados a força de suas tribos na África para serem vendidos mundo afora promovia uma dessocialização cultural e social que, por fim, levava os negros escravizados a um processo de aculturação. Resposta da questão 2: [A] [Resposta do ponto de vista da disciplina de História] Somente a alternativa [A] está correta. Gilberto Freyre em sua obra “Casa Grande e Senzala” defendeu a ideia de uma democracia racial no Brasil. Abaixo segue um trecho da obra citada, “Casa-Grande & Senzala”, que dá uma síntese do “Brasil de Gilberto Freyre”, do teor de sua interpretação: “Híbrida desde o início, a sociedade brasileira é de todas da América a que se constituiu mais harmoniosamente quanto às relações de raça: dentro de um ambiente de quase reciprocidade cultural que resultou no máximo de aproveitamento dos valores e experiências dos povos atrasados pelo adiantado; no máximo de contemporização da cultura adventícia com a nativa, a do conquistador com a do conquistado. Organizou-se uma sociedade cristã na superestrutura, com a mulher indígena, recém-batizada, por esposa e mãe de família; e servindo-se em sua economia e vida doméstica de muitas das tradições, experiências e utensílios da gente autóctone.” (FREYRE, Gilberto. Casa-grande & Senzala: formação da família brasileira sob o regime da economia patriarcal. 49ª Ed. São Paulo: Global 2004. p. 160). [Resposta do ponto de vista da disciplina de Sociologia] Florestan Fernandes foi um dos principais sociólogos brasileiros. Entre os seus trabalhos está A integração do negro na sociedade de classes, no qual ele analisa como se dá a sobreposição entre uma sociedade de preconceito racial com a estrutura de divisão de classes. Esse trabalho demonstra empiricamente, portanto, como a ideia de “democracia racial” é falsa. Resposta da questão 3: 04 + 32 = 36. As afirmativas [04] e [32] são as únicas corretas. A cultura brasileira tem forte relação com a África e essa influência não pode ser ignorada. Isso porque as desigualdades no nosso país tenderam a produzir um apagamento dessa história, que recentemente tem sido recuperada e valorizada. Resposta da questão 4: No Brasil, a escravidão ocupou a maior parte de nossa história. Durante quatro séculos, pessoas foram trazidas da África para serem aqui escravizadas. Com isso, tiveram seus laços sociais e familiares rompidos, tendo sido submetidas a condições drásticas de trabalho e exploração. Com o fim da escravidão, ao invés de essa população recém-libertada ter sido incentivada e formada para o exercício do trabalho assalariado, a maioria dos postos de trabalho – e, claro, os de melhor remuneração – foram ocupados por imigrantes de origem europeia. O resultado disso foi o deslocamento dos afrodescendentes para o desemprego ou subemprego de péssima remuneração, empurrando os para a pobreza, fragilizando os vínculos familiares e tornando quase impossível a formação educacional necessária para a concorrência com os imigrantes. Com esses indivíduos exercendo atividades socialmente desvalorizadas ou incorrendo na criminalidade, reiterou-se a ideia de que os afrodescendentes – e, por extensão, os pobres em geral – são uma ameaça aos membros da “boa sociedade”. Daí serem eles os principais herdeiros contemporâneos do ódio e do desprezo que os senhores devotavam aos escravos nos séculos anteriores. Resposta da questão 5: [A] [Resposta do ponto de vista da disciplina de Sociologia] A letra de Chico Buarque apresenta uma homologia de estrutura social em diversos tempos históricos em que certos elementos estão presentes, de forma a sugerir as origens do racismo estrutural que existe na sociedade brasileira atual. Dentre esses elementos, podemos citar: o racismo, o discurso de ódio, a segregação urbana, o determinismo geográfico e a violência institucional. [Resposta do ponto de vista da disciplina de História] O grande artista Chico Buarque de Holanda em sua composição “As Caravanas” aponta para a grande chaga social do Brasil, a escravidão. O regime escravista que caracterizou o Brasil entre os séculos XVI e XIX deixou marcas profundas na sociedade, o autor mostra como o passado escravista segue firme no presente. Portanto, a estrutura social brasileira está associada ao processo histórico caracterizado pela escravidão, violência, racismo, preconceito, etnocentrismo, intolerância, entre outras chagas sociais que ainda assolam o país. Resposta da questão 6: [E] Há tempos existe no Brasil a confusão entre o âmbito público e o privado. Essa característica é fundante das nossas relações políticas, gerando situações de clientelismo, favorecimento e, muitas vezes, de corrupção. Resposta da questão 7: 02 + 04 + 16 = 22. As afirmativas [01] e [08] estão incorretas. A ideia de democracia racial foi desenvolvida por Gilberto Freyre, e não por Florestan Fernandes. Florestan Fernandes foi importante para que pudéssemos compreender a estrutura social brasileira vinculada ao racismo. Ele demonstrou que, em nosso país, a questão racial associa-se também a outros fatores sociais, como as desigualdades de classe. Resposta da questão 8: 01 + 02 + 04 + 08 = 15. A afirmativa [16] é a única incorreta. As ideias de miscigenação acabaram por ocultar os conflitos raciais que já existiam no Brasil e que perduram até hoje. Resposta da questão 9: [A] Gilberto Freyre, em diversos escritos, considera a miscigenação como uma característica positiva da história brasileira, sendo responsável por favorecer o equilíbrio de antagonismos que já existia durante o período escravocrata. Resposta da questão 10: Para Gilberto Freyre, o processo de modernização brasileiro, ocorrido a partir do século XIX, foi resultado da entrada do capitalismo avançado no país. Isso modificou as relações de poder, mas sem interferir diretamente nas bases da cultura patriarcal do país. Nesse sentido, houve, de fato, um certo enfraquecimento do patriarcalismo, mas que continuou a se reproduzir no interior das relações familiares e no Estado. Por fim, segundo Gilberto Freyre, essas modificações criaram, nas camadas dominantes, um comportamento de troca de favores no interior da vida pública e privada. Comportamento este que pode relacionar com diversas práticas da política contemporânea. Resposta da questão 11: 04 + 08 = 12. As afirmativas [04] e [08] são as únicas corretas. A cordialidade diz respeito à confusão entre o público e o privado nas relações sociais na sociedade brasileira. Já presente no período colonial, essas relações de cordialidade fazem com que ainda hoje existam formas de tratamento baseadas no “jeitinho” e no tratamento personalista das questões coletivas. Resposta da questão 12: [D] [Resposta do ponto devista da disciplina de História] Os textos trazem consigo exemplos que deixam claro que o fazer política no Brasil, na maioria das vezes e em diferentes épocas, está atrelado ao atendimento de interesses de cunho pessoal, e não público, como deveria ser. O nepotismo, citado no texto I, é um grande exemplo disso. [Resposta do ponto de vista da disciplina de Sociologia] Sérgio Buarque de Holanda, em seu livro Raízes do Brasil, defende a ideia de que, no Brasil, sempre houve uma grande confusão entre o público e o privado, dando origem àquilo que ele chamou de cordialidade. Na prática, os interesses privados (vontades particulares) sempre tenderam a se colocar acima dos interesses públicos. Resposta da questão 13: [D] A questão aparenta ser de uma dificuldade alta. No entanto, ela é mais simples do que parece devido à alternativa [D], que é claramente incorreta. Gilberto Freyre pensou o Brasil não a partir da realidade econômica, mas sociocultural. Não por acaso, sua principal ideia de democracia racial se dá justamente nesse nível. Vale ressaltar que quem analisou o Brasil a partir de uma lógica econômica de subdesenvolvimento foi Celso Furtado. Resposta da questão 14: Sérgio Buarque de Holanda argumenta que o excesso de pessoalidade presente em todas as relações sociais no Brasil fere alguns princípios básicos da ordem pública, onde todos os cidadãos devem ser tratados igualmente, independentemente de seus círculos de socialização, amizade ou parentesco. Nesse raciocínio, a ordem burocrática (no sentido apregoado por Max Weber) é completamente comprometida quando a esfera pública é entendida como um prolongamento da esfera privada. A cordialidade apresenta, assim, seu lado mais cruel, pois ela fundamenta diferentes formas de tratamento para as pessoas que fazem e as que não fazem parte dos círculos de relação de funcionários do Estado, por exemplo. Nesse sentido, ter acesso ou não a benefícios e direitos sociais passa a depender mais das relações sociais que as pessoas travam entre si do que dos princípios da ordem pública. Como pode ser visto, as competências para cumprir determinadas funções não são priorizadas, de forma que até mesmo a empregabilidade depende mais dos círculos de sociabilidade do que de critérios objetivos e impessoais de escolhas de candidatos. A extrema pessoalidade das relações sociais, marca da cordialidade brasileira, enfraquece as instituições, a democracia e o próprio Estado, que sofrem com a debilidade de seu funcionamento. Além disso, a fraqueza da dimensão pública, impessoal e coercitiva, é relativa à força e à permanência da estrutura patriarcal da sociedade brasileira. Resposta da questão 15: O gabarito oficial do vestibular identifica três características do “homem cordial”: 1) O caráter dual ou duplo, de cor/cordial/coração, significando não apenas amor, afeto, simpatia, mas ódio ou desamor, em relação às pessoas em geral. 2) Caráter informal ou de descompromisso excessivo em todas as instâncias e relações da vida cotidiana: na religião, nos rituais, no trabalho, nos estudos, na política, nos horários, nas normas, na vida privada etc., ou seja, a pessoalidade superando a impessoalidade. 3) Trato indiscriminado entre a coisa pública e a coisa privada, que ocorre entre políticos e burocratas, os quais as utilizam como equivalentes, agradando parentes, amigos, correligionários, e prejudicando inimigos ou desconhecidos, ou seja, usando o bem público como extensão pessoal e sentimental de sua casa e de seus interesses. Abraços e bons estudos, Prof. João Gabriel.
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