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1 2 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 4 2 GEOTECNIA E A ENGENHARIA ..................................................................... 5 2.1 Origem e formação dos solos .................................................................... 7 2.2 Investigação geotécnica ........................................................................... 10 2.3 Investigação geoambiental ....................................................................... 12 2.3.1 Remediação .............................................................................................. 12 3 FUNDAÇÕES ................................................................................................. 14 3.1 Fundações rasas ...................................................................................... 15 3.1.1 Capacidade de carga das fundações e tensão admissível dos solos ....... 16 3.2 Fundações profundas ............................................................................... 17 3.2.1 Definições e métodos construtivos das estacas ....................................... 19 3.2.2 Capacidade de carga das estacas ............................................................ 23 3.2.3 Fundações por tubulões ........................................................................... 23 3.2.4 Capacidade de carga dos tubulões .......................................................... 25 4 CONTENÇÕES .............................................................................................. 26 4.1 Estrutura de contenção rígida .................................................................. 26 4.2 Estrutura de contenção flexível ................................................................ 26 4.3 Tipos de muros ........................................................................................ 27 4.3.1 Muro de gravidade .................................................................................... 27 4.3.1.1 Muro de alvenaria de pedras ................................................................. 27 4.3.1.2 Muro de gabiões .................................................................................... 28 4.3.1.3 Muro de concreto ciclópico .................................................................... 29 4.3.1.4 Muro de saco solo-cimento .................................................................... 29 4.3.1.5 Muro de solo reforçado .......................................................................... 30 3 4.3.1.6 Muro de flexão em concreto armado ..................................................... 30 4.3.1.7 Muro em fogueira (“crib wall”) ................................................................ 31 4.3.1.8 Muro de pneus ....................................................................................... 31 4.3.2 Solo grampeado ....................................................................................... 32 4.3.3 Cortina ancorada ...................................................................................... 34 4.4 Sistema de drenagem .............................................................................. 34 4.4.1 Sistema de drenagem superficial .............................................................. 35 4.4.2 Sistema de drenagem subsuperficial ........................................................ 35 4.5 Segurança contra a ruptura global ........................................................... 35 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 37 4 1 INTRODUÇÃO Prezado aluno! O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 5 2 GEOTECNIA E A ENGENHARIA Todas as obras de engenharia civil são assentadas em um terreno que tem como estrutura o solo e, de forma inevitável, o comportamento desse deve ser considerado. A observação e análise do comportamento das obras, ao dar atenção às peculiaridades dos solos e entender seus mecanismos de comportamentos constituem o estudo da mecânica dos solos, estudado amplamente na engenharia geotécnica (PINTO, 2006). O solo, segundo o Sistema Brasileiro de Classificação dos Solos (SiBCS), é definido como um manto superficial formado por rocha desagregada, ou seja, desunida, misturado com matéria orgânica em decomposição, que contém ainda água, ar e organismos vivos (EMBRAPA, [200-?]). O solo apresenta propriedades como cor, textura, estrutura, porosidade, dentre outras. Fazem parte da sua composição os elementos minerais (45%), como sílica, óxido de alumínio e ferro, o ar (25%), a água (25%) e matéria orgânica (5%), porém essas características podem variar em função da localização e sazonalidade (CAETANO, 2016). Para MACHADO, S. e MACHADO, M. ([1997]), os solos são definidos como “material solto, natural da crosta terrestre onde habitamos, utilizado como material de construção e de fundação das obras do homem”. Ou ainda, chama-se de solo a rocha já decomposta ao ponto granular e passível de ser escavada apenas com o auxílio de pás, picaretas e/ou escavadeiras, sendo um conceito mais voltado para a engenharia civil. De todas as obras de engenharia, as relacionadas à geotecnia, quando executadas inadequadamente são responsáveis por grandes impactos e prejuízos, sejam eles econômicos ou ambientais. Um exemplo que aconteceu no Brasil foi o deslizamento de encostas, que devido ao clima chuvoso e ao crescimento desordenado das metrópoles causaram enormes prejuízos. Exemplifica-se, aqui a importância de um profissional com conhecimentos geotécnicos, para evitar a ocorrência de desastres como esse (MACHADO, S.; MACHADO, M., [1997]). O solo recebe todas as cargas que são transmitidas pelas obras de engenharia. Em algumas obras, o solo é utilizado como o próprio material de 6 construção, como no caso dos aterros rodoviários, assim como o concreto e o aço que são usados na construção de edifícios e pontes. Inclusive as embarcações quando são construídas transmitem ao solo as cargas do seu peso (PINTO, 2006). Praticamente todas as obras de engenharia transmitem cargas, de alguma forma, sobre o solo. O estudo do comportamento do solo frente ao seu uso é, portanto, de fundamental importância. A Figura 1 apresenta os quatro campos de aplicação segundo MACHADO, S. e MACHADO, M. ([1997]). Figura 1. Campos de aplicação voltados à engenharia Fonte: Adaptada de Machado, S. e Machado, M. ([1997], p. 06). Os campos de aplicação apresentados na Figura 1 são separados de acordo com o elemento a ser construído e dividem-se, conforme MACHADO, S. e MACHADO, M. ([1997]), em: • Fundações: é parte pela qual as cargas da estrutura são descarregadas no solo.O tipo de estrutura a ser utilizado e suas características podem ser decididos conhecendo-se somente os princípios e aplicação da mecânica dos solos. • Obras subterrâneas e estruturas de contenção: estruturas de drenagem, dutos, túneis e obras de contenção são exemplos de sistemas que necessitam do conhecimento da interação solo-estrutura para serem projetados. 7 • Projeto de pavimentos: os pavimentos podem ser flexíveis ou rígidos. Os efeitos de contração e expansão do solo por conta da umidade são problemas no projeto de pavimentos flexíveis, por exemplo. Os pavimentos flexíveis dependem do solo para transmissão das cargas geradas pelo tráfego. • Escavações, aterros e barragens: para sua execução são necessários conhecimento da estabilidade dos taludes, do comportamento do solo, da quantidade de água e sua influência, dentre outros. 2.1 Origem e formação dos solos Todo solo tem origem na desintegração e decomposição das rochas pela ação de agentes intempéricos ou antrópicos. Os agentes intempéricos são processos físicos, químicos e biológicos, um exemplo de agente intempérico é a chuva. Já os agentes antrópicos são as ações causadas por nós, seres humanos, como uma escavação (MACHADO, S.; MACHADO, M., [1997]). O processo de intemperismo é dividido em três grupos: intemperismo físico, químico e biológico. Ressalta-se, porém, que na natureza esses processos tendem a acontecer ao mesmo tempo, de forma que um tipo de intemperismo auxilia o outro no processo de transformação da rocha em solo. Os processos de intemperismo físico reduzem o tamanho das partículas, aumentando sua área superficial e facilitando o trabalho do intemperismo químico. Os processos químicos e biológicos podem causar a completa alteração física da rocha e modificar suas propriedades químicas. O intemperismo físico é o processo de decomposição da rocha sem a alteração química dos seus componentes. O intemperismo químico é o processo de decomposição da rocha sem a alteração química dos seus componentes, onde praticamente todo processo desse tipo depende da presença de água. No intemperismo biológico a decomposição da rocha acontece pelos esforços mecânicos produzidos por vegetais através das raízes, por animais através de escavações de roedores, da atividade das minhocas ou pela ação do próprio homem ou de ambos (MACHADO, S.; MACHADO, M., [1997]). 8 Figura 2. Agentes intempéricos do solo Fonte: Adaptada de Machado, S. e Machado, M. ([1997], p. 06). TOLEDO, OLIVEIRA e MELFI (2009) definem o solo como: Materiais que se originaram das rochas, por desagregação e decomposição (intemperismo), depois por reorganização e, conforme o caso, também por erosão, transporte e sedimentação. Os processos de desagregação e decomposição das rochas por intemperismo ocorrem na superfície dos continentes, na interação entre litosfera-atmosfera- hidrosfera-biosfera, transformando as rochas duras em materiais móveis. Esses mesmos materiais, quando depositados em zonas topográficas mais baixas e soterrados por mais sedimentos sobrepostos, em depósitos sedimentares, consolidam-se pela pressão e por processos de recristalização, tornando-se novamente rochas duras (sedimentares). Estas, seguindo o ciclo natural das rochas, acabarão passando por metamorfismo ou por fusão parcial ou total, formando novas rochas. A crosta terrestre é composta de vários e diferentes tipos de elementos que se interligam e formam minerais. Esses minerais podem estar agregados como rochas ou como solo (MACHADO, S.; MACHADO, M., [1997]). Uma rocha, por mais endurecida que seja, pode se transformar em um material mais solto devido ao intemperismo, servindo de abrigo para pequenos animais e plantas. Já alguns minerais da rocha menos resistente ao intemperismo são transformados em argilas, onde a água pode infiltrar e deslocar materiais da parte superficial para uma mais profunda. É sob a ação de um conjunto de fenômenos biológicos, físicos e químicos que um solo começa a se formar (LEPSCH, 2010). 9 As partículas resultantes do processo de intemperismo dependerão fundamentalmente da composição da rocha matriz e do clima da região. O solo é o produto da decomposição das rochas e, por isso, apresenta um maior índice de vazios do que a rocha mãe, os quais são ocupados por fluidos da natureza, como o ar, a água ou outro. Devido ao seu pequeno índice de vazios e as fortes ligações existentes entre os minerais, as rochas são coesas, enquanto que os solos são granulares. Os grãos do solo estão misturados com a matéria orgânica. Desta forma, podemos dizer que para a engenharia, solo é um material granular composto de rocha decomposta, água, ar (ou outro fluido) e eventualmente matéria orgânica, que pode ser escavado sem o auxílio de explosivos (MACHADO, S.; MACHADO, M., [1997]). De acordo com CAETANO (2016): A formação do solo é resultante da ação combinada de cinco fatores: clima (pluviosidade, umidade, temperatura), natureza dos organismos (vegetação, microrganismos decompositores, animais), material de origem (rocha local), relevo (morros, planícies) e idade. Conforme observado, as propriedades do solo, mais arenoso ou mais argiloso, por exemplo, variam em função de muitos processos ambientais e químicos. Os mapas geológicos, assim como ensaios de reconhecimento, do local de análise podem auxiliar na identificação do tipo de solo existente na obra que será realizada. O conhecimento do local onde vai ser executada a obra é importantíssimo quando se tem como objetivo uma construção segura e adequada. Segundo DAS (2007): A estrutura do solo é definida como o arranjo geométrico de partículas, umas em relação às outras, e essa estrutura pode ser afetada por muitos fatores, entre eles: forma, composição mineralógica das partículas, tamanho, natureza e composição da água do solo. Um solo pode ser dividido em duas classes: • Solos coesivos: subdivida em duas categorias principais, alveolares e com grãos isolados, essa classe é caracterizada por apresentar elevado intervalo de 10 índice de vazios. Nessa classe, carregamentos abruptos e/ou carga elevada, levam a estrutura à ruptura, resultando em recalques expressivos. • Solos não coesivos: os grãos são muitos finos, na maioria dos casos imperceptíveis a olho nu. As argilas com esse tipo de estrutura apresentam um alto índice de vazios e pouco peso. 2.2 Investigação geotécnica A quantidade de dados necessária à determinação é relativa a cada situação, oscilando em função de variáveis como: porte da edificação, funcionalidade, concepção estrutural adotada, problemas relativos ao solo, entre outras. Segundo SCHNAID (2000), o custo envolvido na execução de sondagens de reconhecimento, no Brasil, varia entre 0,2 e 0,5% do custo total da obra, sendo que essas informações geotécnicas são indispensáveis na previsão dos custos para a solução de projetos. Porém existem casos em edificações residenciais, onde estes valores podem alcançar 3 e 4%. Nestas situações, cabe ao projetista avaliar cada caso, qualificando a implantação da infraestrutura. BORNSALES Engenharia (2018) descreve que: O plano de investigação geotécnica consiste no planejamento e execução de ensaios de campo e laboratório, com o objetivo de identificar as camadas de solo e substrato rochoso, permitindo definir o modelo de comportamento do terreno de fundação e os valores dos parâmetros geotécnicos. Para fins de projeto e execução, as investigações do terreno de fundação constituído por solo, rocha, mistura de ambos ou rejeitos compreendem: • Investigações de campo Sondagens a trado, conforme a NBR 9603: Esta norma estabelece os requisitos mínimos para sondagem a trado em investigação geológico-geotécnica, dentro dos limites impostos pelo equipamento e pelas condições do terreno, com a finalidade de coleta de amostras deformadas, determinaçãoda profundidade do nível d'água, e identificação preliminar das camadas de solo que compõem o subsolo. 11 Poços e trincheiras, conforme a NBR 9604: Esta norma especifica os requisitos para os procedimentos básicos na abertura de poço e trincheira, bem como os critérios para retirada de amostras deformadas e indeformadas de solo. De inspeção ou de amostragem, sondagens de simples reconhecimento à percussão, sondagens rotativas e sondagens especiais para retirada de amostras indeformadas conforme a NBR 9820; Esta norma fixa as condições exigíveis para a coleta, acondicionamento e transporte de amostras indeformadas de solos de baixa consistência em furos de sondagem, para fins de engenharia geotécnica. Ensaios in situ de permeabilidade ou determinação da perda d’água; Medições de níveis d’água e de pressões neutras; Medições dos movimentos das águas subterrâneas; Processos geofísicos de reconhecimento; Realização de provas de carga no terreno ou nos elementos de fundação; As sondagens de reconhecimento à percussão são indispensáveis e devem ser executadas de acordo com a NBR 6484, levando-se em conta as peculiaridades da obra em projeto. Prescreve o método de execução de sondagens de simples reconhecimento de solos, com SPT, cujas finalidades, para aplicações em Engenharia Civil, são: a determinação dos tipos de solo em suas respectivas profundidades de ocorrência; a posição do nível-d ‘água; e os índices de resistência à penetração (N) a cada metro. Quadro 1. Quantidade de furos de sondagem (NBR 8036) Conforme área de projeção em planta: ÁREA DE PROJEÇÃO (m²) QUANTIDADE DE FUROS <1200 1 a cada 200 m² Entre 1200 e 2400 1 a cada 400 m² que excederem 1200 m² >2400 De acordo com o plano da obra 12 Quadro 2. Quantidade de sondagem (NBR 8036) Quantidade mínima: ÁREA DE PROJEÇÃO (m²) QUANTIDADE DE SONDAGENS <200 2 200 m² < Área de projeção < 400 m² 3 2.3 Investigação geoambiental O termo investigação geoambiental é um estudo de caráter multidisciplinar que realiza o diagnóstico de uma área, contaminada ou não, determinando suas condições de uso e ocupação, e oferecendo subsídios principalmente para projetos de remediação (BOSCOV, 2008). Durante uma investigação geoambiental, além do conhecimento dos parâmetros geológico-geotécnicos, também é necessário obter conhecimento sobre as condições hidro geológicas, condições atmosféricas e as influências do meio biótico, incluindo as características físico-químicas dos poluentes (BOSCOV, 2008). 2.3.1 Remediação A remediação de locais contaminados é uma área de grande aplicação para a geotecnia, tanto em razão das obras que devem ser implementadas como pela necessidade de tomada de decisões com incertezas – competência dos engenheiros desenvolvida em outras áreas da atuação anteriormente ao surgimento da Geotecnia Ambiental (BOSCOV, 2008). Na remediação ambiental, o engenheiro geotécnico geralmente trabalha em equipe com geólogos, químicos, biólogos, toxicologistas, agrônomos, engenheiros ambientais, engenheiros químicos e engenheiros mecânicos. Há também interfaces com advogados, legisladores, gestores e órgãos fiscalizadores. Além da multidisciplinaridade e do caráter forense, outra característica dos trabalhos de remediação é a comunicação com o público e a imprensa, pouco usuais em outras obras de engenharia (BOSCOV, 2008). 13 Segundo a CETESB (2007): Uma área contaminada pode ser definida como um local ou terreno onde há comprovadamente poluição ou contaminação causada pela introdução de quaisquer substâncias ou resíduos que ali foram depositados, acumulados, armazenados, enterrados ou infiltrados de forma planejada, acidental ou até mesmo natural. A expressão remediação de áreas contaminadas compreende a recuperação do subsolo e das águas subterrâneas contaminados ou poluídos. Pode significar tanto a limpeza total (clean up) da área como a diminuição do impacto da contaminação a limites aceitáveis. O engenheiro pode tanto trabalhar no gerenciamento de áreas contaminadas como no projeto de determinada técnica de remediação (BOSCOV, 2008). A recuperação de áreas degradadas, embora seja um termo geral para a atuação sobre locais que sofreram impacto ambiental, tem sido mais utilizado para impactos não relacionados à introdução de substâncias ou resíduos, como a desertificação e a erosão (BOSCOV, 2008). 14 3 FUNDAÇÕES Fundações são elementos estruturais cuja função é transmitir as cargas atuantes sobre a superestrutura da edificação para o maciço de solo. Portanto, o tipo de fundação utilizado depende das cargas transmitidas pela estrutura e das características geotécnicas do maciço de solo. A topografia do terreno e as características das construções vizinhas também influenciam no projeto de fundações (VELLOSO; LOPES, 2010). Assim, analisa-se a possibilidade de utilizar os vários tipos de fundação, em ordem crescente de complexidade e custos (WOLLE, 1993). As fundações podem ser classificadas em rasas ou profundas. Nas fundações rasas, a transmissão de cargas se dá nas primeiras camadas do maciço de solo. Nas fundações profundas, por outro lado, a capacidade de suporte necessária para resistir às cargas transmitidas pela edificação somente é obtida em camadas mais profundas do maciço de solo (SANTOS, 2017). Incertezas estão presentes em todo o canteiro de obra, até mesmo em construções com alto nível de planejamento. No caso da fundação de uma edificação o cuidado na decisão deve ser ainda maior. Logo que um construtor inicia o projeto de sua obra, ele se depara com uma das decisões mais impactante do seu empreendimento: definir qual tipo de fundação irá executar para sustentar sua edificação. Ainda mais desafiante que optar por um ou outro método, é lidar com a possível carência de conhecimento técnico do proprietário da obra, em que muitas vezes culmina em total “terceirização” da tomada de decisão ao projetista ou aos fornecedores que executam o serviço. Todavia, a inexistência de discussões sobre o tema pode ocasionar indesejados custos ou até mesmo problemas à edificação (NUERNBERG 2018). Fundações bem projetadas correspondem de 3% a 10% do custo total do edifício; porém, se forem mal concebidas e mal projetadas, podem atingir 5 a 10 vezes o custo da fundação mais apropriada para o caso (BRITO, 1987). 15 3.1 Fundações rasas As fundações rasas — também denominadas superficiais — são aquelas em que a transmissão de cargas ocorre logo nas primeiras camadas do maciço de solo. De modo geral, considera-se como fundação rasa aquela executada com até 2 m de profundidade. Nas fundações rasas, as cargas são transmitidas diretamente ao terreno pelas pressões distribuídas sob a base da fundação. Isso resulta na mobilização de esforços resistentes exclusivamente na superfície de contato entre a base da fundação e o solo (CINTRA; AOKI; ALBIERO, 2011). Desse modo, as fundações rasas são classificadas como fundações diretas. O projeto de fundações rasas deve satisfazer os seguintes critérios, de acordo com REBELLO (2008, p. 41): As camadas superficiais do maciço de solo devem possuir resistência suficiente para resistir às cargas transmitidas pelos elementos de fundação; Os elementos de fundação devem ser executados com profundidade máxima de 2 m, visto que profundidades superiores elevariam os custos deescavação e reaterro. As fundações rasas podem ser divididas, de acordo com as suas características estruturais, em quatro grupos principais: blocos, sapatas, vigas de fundação e radiers. Veja no Quadro 3 as principais características de cada grupo. Quadro 3. Principais grupos de fundações rasas GRUPO DESCRIÇÃO Bloco Elemento de fundação superficial de concreto, dimensionado de modo que as tensões de tração nele resultantessejam resistidas pelo concreto, sem necessidade de armadura. Pode ter as faces verticais, inclinadas ou escalonadas e apresentar planta de seção quadrada ou retangular. Sapata Elemento de fundação superficial, de concreto armado dimensionado de modo que as tensões Sapatas isoladas Cada elemento de fundação recebe e transmite o carregamento de um único pilar. 16 de tração nele resultantes sejam resistidas pelo emprego de armadura especialmente dispostas para esse fim. Pode ter espessura constante ou variável e sua base em planta é normalmente quadrada, retangular ou trapezoidal. Sapatas associadas Sapata comum a mais de um pilar. Sapatas corridas ou baldrames Sapata sujeita à ação de uma carga distribuída linearmente ou de pilares ao longo de um mesmo alinhamento. Vigas de fundação As vigas de fundação são elementos de fundação lineares, formados por vigas de concreto armado, que recebem vários pilares situados no mesmo alinhamento. O cruzamento de várias vigas de fundação resulta em uma estrutura denominada grelha de fundação. Radier Elemento de fundação superficial que abrange parte ou todos os pilares de uma estrutura, distribuindo os carregamentos. Fonte: Adaptado de ABNT (2019). 3.1.1 Capacidade de carga das fundações e tensão admissível dos solos A capacidade de carga de uma fundação (σr) é definida como: A tensão transmitida pelo elemento de fundação capaz de provocar a ruptura do solo ou a sua deformação excessiva. A capacidade de carga das fundações depende de uma série de variáveis, como por exemplo, das dimensões do elemento de fundação, da profundidade de assentamento, das características dos solos. Segundo a NBR 6122/2019, a capacidade de carga dos solos pode ser calculada por vários métodos, destacando-se: • Provas de carga sobre placas, cujos resultados devem ser interpretados levando-se em consideração as relações de comportamento entre a placa e a fundação real; 17 • Métodos teóricos, como as formulações clássicas desenvolvidas por Terzaghi (1943), Meyehof (1963), Vésic (1974), que são baseadas principalmente nas propriedades de resistência ao cisalhamento e compressibilidade dos solos; • Métodos empíricos, nos quais a capacidade de carga é obtida com base na descrição das condições do terreno e em tabelas de tensões básicas; • Métodos semi-empíricos: aqueles em que as propriedades dos materiais são estimadas por meio de correlações e são usadas em teorias da Mecânica dos Solos. De acordo com a NBR 6122/2019, a tensão admissível de uma fundação direta é: A tensão aplicada ao solo que provoca apenas recalques que a construção pode suportar sem inconvenientes, oferecendo segurança satisfatória contra a ruptura ou o escoamento do solo ou do elemento estrutural, Podendo ser obtida segundo duas filosofias de projeto diferentes: • Aplicando-se um fator de segurança global à capacidade de carga obtida por qualquer um dos métodos citados anteriormente. Neste caso, o valor deste fator de segurança depende da precisão da metodologia empregada para o cálculo da capacidade de carga, sendo normalmente, definida pelo seu autor em função das incertezas envolvidas (estimativas dos carregamentos, propriedades dos solos) (CINTRA et al., 2003); • Pela aplicação dos fatores de segurança parciais, aos parâmetros de resistência do maciço de solos. Neste caso, a tensão admissível é igual ao valor da capacidade de carga obtida por qualquer método a partir dos parâmetros de resistência do solo empregados (CINTRA et al., 2003). 3.2 Fundações profundas As fundações profundas se caracterizam por transmitir as cargas provenientes da estrutura por meio da sua base (resistência de ponta), da sua superfície lateral (resistência de fuste ou resistência de atrito lateral) ou da 18 combinação das duas. Desse modo, essas fundações são classificadas como indiretas (VELLOSO; LOPES, 2010). Nas fundações profundas a profundidade de assentamento deve ser maior que o dobro da menor dimensão em planta do elemento de fundação, conforme esquematicamente mostrado na Figura 3 (NBR 6122/2019). Figura 3. Fundação profunda segundo a NBR 6122/2019. Fonte: Adaptado de NBR 6122/2019. De acordo com a NBR 6122/2019, se enquadram na definição apresentada acima os seguintes elementos: Quadro 4. Grupos de fundações profundas GRUPO DESCRIÇÃO Estacas Elemento de fundação profunda executado com o auxílio de ferramentas ou equipamentos sem que haja descida de operário em qualquer fase de execução (cravação a percussão, prensagem, vibração, ou por escavação), podendo ser constituído de madeira, aço, concreto. Tubulões Elemento cilíndrico de fundação profunda que, em pelo menos na sua fase final, ocorre descida de operário, podendo ser executado a céu aberto ou a ar comprimido, e ter ou não, a base alargada. 19 Caixões Elemento de fundação de forma prismática, concretado na superfície do terreno, e instalado por escavação interna, podendo-se ainda na sua instalação usar, ou não, ar comprimido, e ter, ou não, a sua base alargada. Fonte: Adaptado de ABNT (2019). As fundações profundas são normalmente utilizadas quando os solos superficiais não apresentam capacidade de suportar elevadas cargas, ou estão sujeitos a processos erosivos, e também, quando existe a possibilidade da realização de uma escavação futura nas proximidades da obra (VELLOSO; LOPES, 2010). 3.2.1 Definições e métodos construtivos das estacas • Estaca tipo Franki Estaca moldada in loco executada pela cravação, por meio de sucessivos golpes de um pilão, de um tubo de ponta fechada por uma bucha seca constituída de pedra e areia, previamente firmada na extremidade inferior do tubo por atrito. Esta estaca possui base alargada e é integralmente armada (NBR 6122/2019). A estaca do tipo Franki foi introduzida como fundação há mais de 85 anos por Edgard Frankignoul na Bélgica, sendo empregada pela primeira vez no Brasil em 1935, na Casa Publicadora Baptista no Rio de Janeiro (HACHICH et al., 1998). Figura 4. Esquema representando a execução de uma estaca tipo Franki. Fonte: Velloso e Lopes (2010, p. 207). 20 • Estacas tipo broca Tipo de fundação profunda executada por perfuração com trado, e posterior concretagem in loco, normalmente com diâmetro variando entre 15 e 25 cm e comprimento de até 6,0 m. As estacas tipo broca são normalmente empregadas para pequenas cargas, pelas limitações que envolvem o seu processo de execução. As estacas tipo broca apresentam como vantagem o fato de não provocar vibrações durante a sua execução, evitando desta forma, danos nas estruturas vizinhas, além de poder servir de cortinas de contenção para construção de subsolos, quando executadas de forma justapostas. Entretanto, as principais desvantagens referem-se às limitações de execução em profundidades abaixo do nível d’água, principalmente em solos arenosos, devendo-se também evitar a sua execução em argilas moles saturadas, a fim de evitar possíveis estrangulamentos no fuste da estaca. Figura 5. Esquema de trado rotativo. Fonte: Rebello (2008, p. 70). • Estaca tipo Strauss Estaca executada por perfuração do solo com uma sonda ou piteira e revestimento total com camisa metálica, realizando-se gradativamente o 21 lançamento e apiloamento do concreto, com retirada simultânea do revestimento (NBR 6122/2019). A execução requer um equipamento constituído de um tripé de madeira ou de aço, um guincho acoplado a um motor (combustão ou elétrico), uma sonda de percussão munida de válvula em sua extremidade inferior, para a retirada de terra, um soquete com aproximadamente 300 kg, tubulação de aço com elementos de 2 a 3 metros de comprimento, rosqueáveis entre si, um guincho manual para retirada da tubulação,além de roldanas, cabos de aço e ferramentas. • Estacas escavadas mecanicamente com trado helicoidal Este tipo de estaca é executado a partir de uma escavação prévia feita no terreno por um trado helicoidal mecânico onde, posteriormente, é feita a concretagem in loco. Pelas características do processo executivo pode-se observar que este tipo de estaca é encontra-se no grupo de estacas que não provocam descolamento do solo durante a sua execução. O equipamento para execução deste tipo de estaca compreende basicamente um trado helicoidal mecânico. Em geral o diâmetro das perfuratrizes varia de 0,2 m a 1,7 m, podendo-se executar estacas com profundidades variando de 6,0 a 10 m, conforme o comprimento do trado utilizado. • Estacas tipo hélice contínua Estaca de concreto moldada in loco, executada mediante a introdução no terreno, por rotação, de um trado helicoidal contínuo no terreno e injeção de concreto pela própria haste central do trado, simultaneamente à sua retirada, sendo a armadura introduzida após a concretagem da estaca (NBR 6122/2019). Dentre as principais vantagens deste tipo de estaca destacam-se a elevada produtividade, promovida pela versatilidade de equipamento, que por sua vez leva à economia devido à redução dos cronogramas de obra, pode ser executada na maior parte dos maciços de solo, exceto quando ocorrem matacões e rochas, não produz distúrbios e vibrações típicos dos equipamentos a percussão, controle de qualidade dos serviços executados, além de não causar a descompressão do 22 terreno durante a sua execução. As principais desvantagens estão relacionadas ao porte do equipamento, que necessita de áreas planas e de fácil movimentação, pela sua produtividade exige central de concreto no canteiro de obras, e pelo seu custo é necessário um número mínimo de estacas a se executar para compensar o custo com a mobilização do equipamento. • Estacas injetadas Estaca moldada in loco, armada, executada por perfuração rotativa ou rotopercussiva e injetada com calda de cimento por meio de um tubo com válvulas (manchete). As estacas injetadas diferem dos demais tipos por poderem ser executadas com maiores inclinações (0º a 90º), apresentar resistência de fuste bastante superior, se comparada aos demais tipos de estaca com mesmos diâmetros, e resistir a esforços de compressão e tração, desde que convenientemente armadas, com a mesma eficiência, pelo fato de resistir à carga de trabalho praticamente apenas por atrito lateral (HACHICH et al., 1998). Dentre as suas aplicações podem ser citadas: estabilização de encostas, reforço de fundações, execução de fundações em terrenos com blocos de rocha ou antigas fundações, execução de fundações em alto mar (“offshore”). Em função do processo de injeção do agente aglutinante, as estacas injetadas são normalmente divididas em dois grupos: o Estacas-raiz: são aquelas em que se aplicam injeções de ar comprimido, a baixas pressões (inferiores a 5,0 MPa), imediatamente após a moldagem do fuste e no topo do mesmo, simultaneamente com a remoção do revestimento; o Micro estacas: as injeções são realizadas empregando-se válvulas tipo “manchete” instaladas nas escavações previamente realizadas. • Estacas pré-moldadas Estaca constituída de segmentos de pré-moldado ou pré-fabricado de concreto e introduzida no terreno por golpes de martelo de gravidade, de 23 explosão, hidráulico ou por martelo vibratório. Para fins exclusivamente geotécnicos não há distinção entre estacas pré-moldadas e pré-fabricadas, e para os efeitos desta Norma elas são denominadas pré-moldadas (NBR 6122/2019). Pela natureza do processo executivo este tipo de estacas classifica-se como estacas de grande deslocamento. As estacas pré-moldadas são ainda subdivididas, conforme o material empregado na sua execução, em: o Estacas de concreto o Estacas de madeira o Estacas metálicas 3.2.2 Capacidade de carga das estacas A capacidade de carga de uma fundação profunda, estaca ou tubulão isolado, é definida como a força aplicada sobre o elemento de fundação que provoca apenas recalques que a construção pode suportar sem inconvenientes, oferecendo simultaneamente segurança satisfatória contra a ruptura do solo ou do elemento de fundação (NBR 6122/2019). Segundo ALONSO (1983), o cálculo da capacidade de carga de uma estaca pode ser feito por meio de dois métodos: • Realização de provas de carga; • Métodos semi-empíricos, dentre os quais destacam-se o método de Aoki e Velloso (1975), e o método de Decourt e Quaresma (1978). 3.2.3 Fundações por tubulões Elemento de fundação profunda em que, pelo menos na etapa final da escavação do terreno, faz-se necessário o trabalho manual em profundidade para executar o alargamento de base ou pelo menos para a limpeza do fundo da escavação, uma vez que neste tipo de fundação as cargas são resistidas preponderantemente pela ponta (NBR 6122/2019). 24 • Tubulões a céu aberto Os tubulões a céu aberto são elementos estruturais de fundação profunda construídos a partir da concretagem realizada em um poço aberto no terreno, geralmente dotado de base alargada (ALONSO, 1983). Os tubulões a céu aberto são normalmente executados acima do nível d’água natural ou rebaixado, ou, em casos especiais, em terrenos saturados onde seja possível bombear a água sem riscos de desmoronamento. No caso de o carregamento atuar apenas na direção vertical não há necessidade de se armar o tubulão, sendo necessário, neste caso, apenas uma ferragem de topo para a ligação do mesmo com o bloco de coroamento (ALONSO, 1983). • Tubulões a ar comprimido Os tubulões a ar comprimido, com camisa de concreto, ou de aço, são utilizados quando se deseja executar tubulões em solos onde haja água e não seja possível o seu esgotamento devido ao perigo de desmoronamento das paredes da escavação (HACHICH et al., 1998). Neste tipo de tubulão, a pressão máxima de ar comprimido empregada é de 3,4 atm (340 kPa, ou aproximadamente 34 mca), razão pela qual estes tubulões têm sua profundidade limitada a aproximadamente 30 m abaixo do nível d’água. É importante ressaltar que no caso de utilização de ar comprimido, em qualquer etapa de execução, deve-se observar que o equipamento deve permitir que se atendam rigorosamente os tempos de compressão e descompressão prescritos pela boa técnica e pela legislação vigente, só se admitindo trabalhos sobre pressões superiores a 150 kPa quanto as seguintes providências forem tomadas (HACHICH et al., 1998): • Equipe permanente de socorro médico à disposição da obra; • Câmara de descompressão equipada disponível na obra; • Compressores e reservatórios de ar comprimido de reserva; 25 • Renovação de ar garantida, sendo o ar injetado satisfatório para o trabalho humano. 3.2.4 Capacidade de carga dos tubulões Para a capacidade de carga dos tubulões é válida a mesma definição dada pela NBR 6122/2019, e já apresentada anteriormente, para as fundações profundas. O cálculo da capacidade de carga dos tubulões normalmente é feito por um dos seguintes processos (ALONSO, 1983): • Formulação clássica de Terzaghi, analogamente ao que já foi exposto para o cálculo da capacidade de carga das sapatas, uma vez, que no dimensionamento dos tubulões só é levada em consideração a sua resistência de ponta; • Com base em ensaios de laboratório, como por exemplo, no caso das argilas, em que a tensão admissível pode ser adotada como: s = pa Onde: pa: tensão de pré-adensamento das argilas; • Com base no valor médio da resistência à penetração medida no ensaio SPT numa profundidade igual a duas vezes o diâmetro da base, a partir da cota de assentamento do tubulão: 30 s Nspt (Mpa) 26 4 CONTENÇÕES São estruturas projetadas para resistir a empuxos de terra e/ou água, cargasestruturais e quais quer outros esforços induzidos por estruturas vizinhas ou equipamentos adjacentes (JOOPERT JR.,2007). A estrutura de contenção deve proporcionar a integridade dos vizinhos durante a escavação. A necessidade de executarmos as contenções, ou ao menos delimitarmos a escavação por taludes, é evidente: a segurança (JOOPERT JR.,2007). Podemos estudar diversas técnicas de execução de contenção enfocando- as de diferentes maneiras. Por exemplo: • Pela existência ou não de contenção em si; • Pela transitoriedade da contenção; • Pelo funcionamento estrutural da contenção; • Pela forma de obtenção de equilíbrio. 4.1 Estrutura de contenção rígida As estruturas de contenção rígidas geralmente são estruturas corridas verticais ou quase verticais, geralmente apoiadas sobre uma fundação rasa. Podem ser construídas em alvenaria (tijolos ou pedras) ou em concreto (simples ou armado) ou ainda de elementos especiais Nesse tipo de estrutura de contenção, o peso próprio do muro exerce uma contribuição significante para a estabilidade da estrutura, ficando sujeita apenas a deslocamento de translação e de rotação e não apresenta praticamente deformações por flexão, como é o caso dos muros de suporte de gravidade. 4.2 Estrutura de contenção flexível As estruturas de contenção flexíveis são definidas como: 27 Estruturas relativamente pouco espessas, que apresentam elevada resistência à flexão, dando o peso próprio da parede uma contribuição insignificante para a estabilidade da estrutura. Já TERZAGHI (1943) é mais pragmático, definindo as estruturas de contenção flexíveis como: Cortinas que experimentam em serviço deformações por flexão e essas deformações são susceptíveis de condicionar a grandeza e a distribuição dos empuxos. 4.3 Tipos de muros 4.3.1 Muro de gravidade Muros de gravidade são estruturas corridas que se opõem aos empuxos horizontais pelo peso próprio. Geralmente, são utilizadas para conter desníveis pequenos ou médios, inferiores a cerca de 5m. Os muros de gravidade podem ser construídos de pedra ou concreto (simples ou armado), gabiões ou ainda, pneus usados (GEO-RIO, 2014). 4.3.1.1 Muro de alvenaria de pedras Os muros de alvenaria de pedra são os mais antigos e numerosos. Atualmente, devido ao custo elevado, o emprego da alvenaria é menos frequente, principalmente em muros com maior altura (GEO-RIO, 2014). No caso de muro de pedras arrumadas manualmente, a resistência do muro resulta unicamente do embricamento dos blocos de pedras. Este muro apresenta como vantagens a simplicidade de construção e a dispensa de dispositivos de drenagem, pois o material do muro é drenante. Outra vantagem é o custo reduzido, especialmente quando os blocos de pedras são disponíveis no local. No entanto, a estabilidade interna do muro requer que os blocos tenham dimensões aproximadamente regulares, o que causa um valor menor do atrito entre as pedras (GEO-RIO, 2014). 28 Muros de pedra sem argamassa devem ser recomendados unicamente para a contenção de taludes com alturas de até 2m. A base do muro deve ter largura mínima de 0,5 a 1,0m e deve ser apoiada em uma cota inferior à da superfície do terreno, de modo a reduzir o risco de ruptura por deslizamento no contato muro- fundação (GEO-RIO, 2014). Quanto a taludes de maior altura (cerca de uns 3m), deve-se empregar argamassa de cimento e areia para preencher os vazios dos blocos de pedras. Neste caso, podem ser utilizados blocos de dimensões variadas. A argamassa provoca uma maior rigidez no muro, porém elimina a sua capacidade drenante. É necessário então implementar os dispositivos usuais de drenagem de muros impermeáveis, tais como dreno de areia ou geossintético no tardoz e tubos barbacãs para alívio de poro pressões na estrutura de contenção (GEO-RIO, 2014). Figura 6. Muro de alvenaria de pedras. Fonte: GEO-RIO (2014). 4.3.1.2 Muro de gabiões Os muros de gabiões são gaiolas metálicas preenchidas de pedras arrumadas manualmente. Estas pedras podem ser originadas de rochas naturais como os seixos rolados ou artificiais como britas. Os diâmetros das pedras devem estar entre 1 a 2 vezes maior que a dimensão da malha de aço. Já as gaiolas são constituídas de fios de aço galvanizado com dupla torção, que preserva a mesma de deformações caso ocorra 29 ruptura de algum dos fios. As gaiolas são de seções transversais quadradas ou retangulares, sobrepostas umas às outras e amarradas entre si (GEO-RIO, 2014). A face deste muro é drenante devido as pedras não serem argamassadas, sendo necessário, no entanto o uso de geotêxtil associado a uma camada granular junto ao tardoz para evitar o carreamento dos grãos finos do solo (GEO-RIO, 2014). 4.3.1.3 Muro de concreto ciclópico Muros de concreto ciclópico são estruturas de contenção construídas com blocos de rochas e concreto. Esses blocos de rocha são de dimensões diferentes e são tipicamente pedra de mão. Sua execução é feita através da montagem da forma e preenchimento com concreto e blocos. É indicado para pequenas alturas e sua seção transversal é normalmente trapezoidal (GEO-RIO, 2014). 4.3.1.4 Muro de saco solo-cimento Este tipo de contenção é constituída de sacos preenchidos por solo e cimento, dispostos em camadas. Sua maior vantagem é sua facilidade de adaptação à topografia do local, além de ser de fácil execução. Conforme GEO-RIO (2014), a execução consiste das seguintes etapas: • Peneiramento do solo de granulometria predominantemente granular em malha de 9mm; • Mistura do solo em seguida com o cimento na proporção entre 1:10 a 1:15; • Adição de água potável na quantidade 1% acima da umidade ótima de compactação Proctor Normal e colocação da mistura em sacos de poliéster, preenchendo dois terços do volume total; • Empilhamento dos sacos em camadas desencontradas em relação a imediatamente anterior e posterior, garantindo maior entrosamento. 30 Figura 7. Muro de saco solo-cimento. Fonte: GEO-RIO (2014). 4.3.1.5 Muro de solo reforçado Os muros de solo reforçado são realizados através de solo compactado com algum elemento de reforço, que proporciona maior desempenho mecânico ao solo. Segundo ELIAS, CHRISTOPHER E BERG (2001) apud EHRLICH E BECKER (2009): Muro em solo reforçado é uma solução de fácil execução, não necessita de mão de obra especializada, sendo assim econômica e prazo de execução reduzido. O reforço é determinado pela estabilidade externa e interna e pode ser geotêxtil ou geogrelhas, materiais com resistência à tração. Já o solo deve ser de bom comportamento para compactação. A face do solo reforçado deve ser protegida com vegetação ou alvenaria. 4.3.1.6 Muro de flexão em concreto armado São muros feitos com concreto armado para resistir a esforços de flexão provocados pelo empuxo. Suas seções transversais na maior parte dos casos são em L, porém T invertido pode ser usado para proporcionar alturas maiores. Para maiores alturas 31 pode ser usado contraforte que possibilita um melhor desempenho estrutural diminuindo a espessura da parede (GEO-RIO, 2014). Quando há limitação de espaço para base e a fundação for resistente, podem ser utilizadas ancoragens ou chumbadores na base do muro, atentando-se sempre para que a execução destes não prejudique obras no futuro. No caso de fundações em solos menos resistentes, há a possibilidade de substituir esse material de baixa capacidade por um material com boa resistência, através da compactação ou mistura com cimento (GEO-RIO, 2014). Figura 8. Muro de flexão em concreto armado. Fonte: GEO-RIO (2014). 4.3.1.7 Muro em fogueira (“crib wall”) “Crib Walls” são: Estruturas formadas por elementos pré-moldados de concreto armado, madeira ou aço, que são montados no local, em forma de “fogueiras” justapostas e interligadas longitudinalmente,cujo espaço interno é preenchido com material granular graúdo. São estruturas capazes de se acomodarem a recalques das fundações e funcionam como muros de gravidade. 4.3.1.8 Muro de pneus Os muros de pneus são: 32 Construídos a partir do lançamento de camadas horizontais de pneus, amarrados entre si com corda ou arame e preenchidos com solo compactado. Funcionam como muros de gravidade e apresentam com vantagens o reuso de pneus descartados e a flexibilidade. A utilização de pneus usados em obras geotécnicas apresenta-se como uma solução que combina a elevada resistência mecânica do material com o baixo custo, comparativamente aos materiais convencionais. Sendo um muro de peso, os muros de solo-pneus estão limitados a alturas inferiores a 5m e à disponibilidade de espaço para a construção de uma base com largura da ordem de 40 a 60% da altura do muro. No entanto, deve-se ressaltar que o muro de solo-pneus é uma estrutura flexível e, portanto, as deformações horizontais e verticais podem ser superiores às usuais em muros de peso de alvenaria ou concreto. Assim sendo, não se recomenda a construção de muros de solo-pneus para contenção de terrenos que sirvam de suporte a obras civis pouco deformáveis, tais como estruturas de fundações ou ferrovias. Como elemento de amarração entre pneus, recomenda-se a utilização de cordas de polipropileno com 6mm de diâmetro. Cordas de náilon ou sisal são facilmente degradáveis e não devem ser utilizadas. O peso específico do material solo-pneus utilizado em muro experimental foi determinado a partir de ensaios de densidade no campo e varia na faixa de 15,5 kN/m3 (solo com pneus inteiros) a 16,5 kN/m3 (solo com pneus cortados) (MEDEIROS et al.; 1997). O posicionamento das sucessivas camadas horizontais de pneus deve ser descasado, de forma a minimizar os espaços vazios entre pneus. 4.3.2 Solo grampeado Solo grampeado é uma contenção feita através de grampos introduzidos no terreno, resistentes à flexão composta, reduzindo a deformação do solo. Esses grampos, conforme o GEO-RIO (2014), são elementos passivos que só são solicitados quando o solo sofre deformação, sendo no projeto considerado sua resistência a tração e em alguns casos sua resistência ao cisalhamento. 33 A execução é realizada através da escavação em etapas. Em cada etapa uma espessura de solo, em geral de 1 a 2 m, é escavado e em seguida instalado o grampo. Antes da perfuração, os grampos devem receber tratamento anticorrosivo. A instalação é feita perfurando em aproximadamente 15° com horizontal o talude já escavado, com perfuração de diâmetros entre 75 mm e 125 mm. Após a perfuração, o grampo é inserido e injeta-se calda de cimento sem pressão (GEO-RIO, 2014). A execução da face é de fundamental importância para evitar a erosão superficial e a estabilidade do solo entre os grampos. A face comumente é realizada em concreto projetado, porém pode ser empregado a revegetação ou blocos pré- moldados. O concreto projetado é empregado com uma tela metálica para garantir a estabilidade superficial, sendo usado em áreas de fácil acesso (GEO-RIO, 2014). Figura 9. Etapas de escavação de uma contenção em solo grampeado. Fonte: GEO-RIO (2014). Figura 10. Fases de execução da 6° etapa evidenciada na Figura 9. Fonte: GEO-RIO (2014). 34 4.3.3 Cortina ancorada Cortina ancorada funciona como uma contenção através de paredes verticais ou sub verticais de concreto armado com ancoragens fixadas no terreno. As paredes apresentam espessura entre 20 e 40 cm, sendo está definida através do espaçamento entre as ancoragens e das cargas solicitadas. Quando a cortina é executada para conter um talude que vai ser cortado, sua execução é realizada pelo método descendente em nichos. Cada faixa é escavada em nichos alternados, executando as ancoragens nos trechos cortados (GEO-RIO, 2014). A ancoragem é composta por calda de cimento e barra de aço e pode ser dividido em dois trechos, o ancorado e o livre. O trecho ancorado transmite a carga de tração ao terreno através da calda de cimento e o trecho livre transmite a carga de tração entre a cabeça da ancoragem e o trecho ancorado (GEO-RIO, 2014). Figura 10. Seção transversal de uma cortina ancorada típica. Fonte: GEO-RIO (2014). 4.4 Sistema de drenagem Para um comportamento satisfatório de uma estrutura de contenção, é fundamental a utilização de sistemas eficientes de drenagem. Os sistemas de drenagem podem ser superficiais ou internos (GEO-RIO, 1999). 35 4.4.1 Sistema de drenagem superficial Devem captar e conduzir as águas que incidem na superfície do talude, considerando-se não só a área da região estudada como toda a bacia de captação. Diversos dispositivos (canaletas transversais, canaletas longitudinais de descida (escada), dissipadores de energia, caixas coletoras) podem ser selecionados para o projeto, dependendo da natureza da área (ocupação densa, com vegetação), das condições geométricas do talude, do tipo de material (solo/rocha) (GEO-RIO, 1999). 4.4.2 Sistema de drenagem subsuperficial Têm como função controlar as magnitudes de pressões de água e/ou captar fluxos que ocorrem no interior dos taludes (drenos horizontais, trincheiras drenantes longitudinais, drenos internos de estruturas de contenção, filtros granulares e geodrenos). Estes sistemas tendem a causar rebaixamento do nível piezométrico, sendo o volume de água que flui através dos drenos diretamente proporcional ao coeficiente de permeabilidade e ao gradiente hidráulico. Com o rebaixamento do nível piezométrico, o gradiente hidráulico diminui e o fluxo então vai se reduzindo progressivamente até se restabelecer uma condição de regime permanente. Em solos de baixa condutividade hidráulica, esta redução pode significar a inexistência de um volume de drenagem visível a olho nu, a qual não deve, entretanto, ser associada à deterioração do dreno. Este tipo de comportamento muitas vezes gera dúvidas quanto à eficácia do sistema de drenagem, sugerindo a possibilidade de colmatação. Neste sentido, recomenda-se a monitoração contínua, através da instalação de piezômetros, comparando-se registros antes, durante e após a construção (GEO-RIO, 1999). 4.5 Segurança contra a ruptura global A verificação de um sistema de contenção quanto a sua segurança em relação a estabilidade geral consiste na verificação de um mecanismo de ruptura 36 global do maciço. Neste caso, a estrutura de contenção é considerada como um elemento interno à massa de solo, que potencialmente pode se deslocar como um corpo rígido. Normalmente essa verificação consiste em se garantir um coeficiente de segurança adequado à rotação de uma massa de solo que se desloca ao longo de uma superfície cilíndrica; isto é (NBR 11682/2009): FSglobal = resistentes instabilizantes M M 1,3 1,5 obras provisórias obras permanentes Para o cálculo do fator de segurança pode ser utilizado qualquer método de cálculo de equilíbrio limite, normalmente empregado para avaliação da estabilidade de taludes (NBR 11682/2009). 37 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT, NBR 8036:1983 - Programação de sondagens de simples reconhecimento dos solos para fundações de edifícios – Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 1983. ABNT. NBR 6122:2019 - Projeto e execução de fundações – Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2019. ABNT, NBR 6484:2001 - Solo - Sondagens de simples reconhecimentos com SPT - Método de ensaio. Rio de Janeiro: ABNT, 2001. ABNT, NBR 9603:2015 - Sondagem a trado – Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2015. ABNT, NBR 9604:2016 - Abertura de poço e trincheira de inspeção em solo, com retirada de amostras deformadas e indeformadas — Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2016. ABNT, NBR 9820:1997 - Coleta de amostrasindeformadas de solos de baixa consistência em furos de sondagem – Procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 1997. ABNT. NBR 11682: estabilidade de taludes – procedimento. Rio de Janeiro: ABNT, 2009. ALONSO, U. R. Exercícios de Fundações. 1ª ed, São Paulo: Blucher, 1983. BOSCOV, 2008 BRITO, J. L. W. de. Fundações do edifício. São Paulo, EPUSP, 1987. CAETANO, M. O. Minerais, rochas e solos. Material de aula da Unisinos, curso de Engenharia Ambiental, disciplina de gestão de recursos naturais e passivos ambientais. 2016. CINTRA, J. C. A.; AOKI, N.; ALBIERO, J. H. Fundações diretas: projeto geotécnico. São Paulo: Oficina de Textos, 2011. DAS, B. M. Fundamentos de engenharia geotécnica. São Paulo: Thomson Learning, 2007. 38 EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA). 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