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“Os negros na História de Alagoas”: um estudo da obra de 
Alfredo Brandão (1930-1950) 
Gabriela Torres Dias1 
 
O texto “Época de introdução do elemento negro em Alagoas e discriminação 
das raças”, compõe o primeiro capítulo da obra “História dos negros em Alagoas” de 
Alfredo Brandão, apresentada no 1º Congresso afro-brasileiro de 1934, no Recife. Em 
sua obra, o autor buscou resgatar de maneira sintética a história dos negros no Estado. 
Para isso, abordou temas que compreendem o vocabulário, folclore, religiosidade, a 
Guerra dos Palmares, a escravidão e o movimento abolicionista. Neste capítulo, 
especificamente, se dedica aos três primeiros temas e através deles defende a origem 
bantu dos negros alagoanos. Em especial, o quesito religiosidade, para Brandão, pouco 
teria se difundido no território e somente teriam sido encontradas em Alagoas nos 
tempos posteriores à abolição e, muito provavelmente, estariam ligados aos negros 
vindos da Bahia onde houve maior número de importação sudanesa. Ao passo que 
tentava entender a trajetória do negro e suas contribuições para a formação da sociedade 
alagoana, não deixava de reforçar certos ideais racistas como o do branqueamento. Seu 
texto é preenchido de ideias antagônicas que refletem suas concepções e estereótipos 
sobre o negro e suas produções, tais como: riqueza versus pobreza mítica; bom versus 
ruim. A partir da contextualização social e histórica dessas categorias (CARDOSO; 
VAINFAS, 1997), busca-se compreender como as imagens atribuídas ao negro e à 
cultura negra na obra do autor, estavam em conexão com as discussões sobre identidade 
nacional estabelecidas no período. A análise dessas características é fundamental para 
entender como certos estereótipos conferidos ao negro, profundamente enraizados na 
sociedade brasileira, perpassavam parte do pensamento intelectual alagoano desta 
temporalidade, de maneira a contribuir para a perpetuação da cultura do racismo e do 
processo de invizibilização social desta parcela importante da população. 
 
 
Palavras-chave: Alfredo Brandão; Alagoas; história do negro. 
 
 
 INTRODUÇÃO 
 
A questão da identidade nacional brasileira começou a ser discutida, ao menos 
de maneira institucional, com a criação do Instituto Histórico Brasileiro durante o 
período imperial e se prolongaram pelo restante do século XIX e primeira metade do 
século XX, neste último, ganhou força principalmente, nos anos que corresponderam ao 
 
1 Mestranda em História Social pela Universidade Federal de Alagoas. 
gabitorres_dias@hotmail.com 
 
 
período do Estado Novo. No que se refere ao negro, só começou a ser considerado em 
tais discussões a partir da abolição e da proclamação da república, onde passou a ser 
mão-de-obra livre e pôde ser considerado cidadão, respectivamente. 
Mais tarde no século XX, especialmente no ano de 1934, ocorreu o 1º Congresso 
Afro-brasileiro, na cidade do Recife, promovido por Gilberto Freyre. Nele estiveram 
presentes vários intelectuais que estudavam as questões sobre identidade nacional, entre 
eles vários alagoanos, tais como Arthur Ramos, conhecido nacionalmente pelos seus 
estudos sobre o tema, e o próprio Alfredo Brandão. 
Com base nestas considerações pretende-se através do texto “Época de 
introdução do elemento negro em Alagoas e discriminação das raças”, presente no livro 
de Brandão (1988), intitulado “Os negros na História de Alagoas”: identificar as 
imagens representativas do negro e da cultura negra em Alagoas, construídas dentro da 
historiografia estamental alagoana; refletir sobre o lugar social do negro no Estado e 
sobre a cultura local. 
Acredita-se na relevância da temática para compreensão das influências negras 
na sociedade brasileira e alagoana, no combate ao racismo e no preenchimento de 
lacunas quando se fala da historiografia regional a respeito de trabalhos que abordem a 
temática da identidade brasileira. 
Pretende-se mediar a discussão através das observações propostas por Cardoso e 
Vainfas (1997), que ao discutirem a produção histórica e a análise de textos chamam 
atenção para a necessidade de o historiador, estar sempre atento para o modo como se 
expressa o conteúdo histórico do documento. Considerar o conteúdo histórico do 
documento não significaria, entretanto, reduzir a história ao texto como teriam feito 
autores estruturalistas que negavam existir história fora do discurso. Trata-se mais 
amplamente, de relacionar o texto ao contexto de sua produção, de relacionar as ideias 
contidas nos discursos, “as formas pelas quais elas se exprimem e o conjunto de 
determinações extratextuais que presidem a produção, a circulação e o consumo dos 
discursos” (CARDOSO; VAINFAS, 1997, p.378), ou seja, o historiador “deve sempre, 
sem negligenciar a forma do discurso, relacioná-lo ao social” (CARDOSO; VAINFAS, 
1997, p.378). 
Destarte, optou-se pela análise temática como método para a verificação do 
 
 
discurso que traz uma representação do negro dentro da historiografia tradicional 
alagoana, produzida a partir dos anos 1930. Isto consistirá em “descobrir ‘núcleos de 
sentido’ que compõem a comunicação e cuja presença, ou frequência ou aparição 
podem significar alguma coisa para o objetivo analítico escolhido”. 
 
 
1.“O NEGRO NA HISTÓRIA DE ALAGOAS” 
 
O autor, Alfredo Brandão, é da geração de intelectuais brasileiros, filhos da 
“cultura bacharelesca”, proliferada no Brasil em meados do século XIX com o 
estabelecimento das primeiras instituições de ensino superior brasileiras, os quais, 
formados no curso de medicina ou direito, muitas vezes aventuravam-se por outras 
áreas do conhecimento como foi o caso da ciência Histórica e das ciências sociais em 
geral. É a partir destes intelectuais de profissão, associados aos Institutos Históricos de 
suas regiões, que irão sair boa parte das produções historiográficas ao longo da segunda 
metade do século XIX e primeira metade do século XX. Muitos deles, ao menos em 
Alagoas, eram provenientes das elites econômicas e políticas que mandavam seus filhos 
para educarem-se em centros urbanos como Olinda, Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro, 
quando não, em centros europeus (LINDOSO, 2005, p. 117-118). O sociólogo Manuel 
Diégues Junior (1980, p. 272) caracterizou muito bem a realidade educacional restrita 
em Alagoas no final do século XIX, “numa época em que a cultura intelectual pouco se 
irradiava, eram ainda os engenhos que forneciam, os melhores homens de atividade 
intelectual, pela educação que proporcionavam os senhores a seus filhos. ” 
O autor em questão, Alfredo Brandão, nascido em 1874, na cidade de Viçosa em 
Alagoas, era filho do então coronel Teotônio Torquato Brandão, político, o qual chegara 
inclusive, a ser presidente da câmara municipal de sua cidade no período monárquico 
(BRANDÃO, 2005, p.76). 
Formado pela Faculdade de Medicina Bahia em 1902, Alfredo Brandão além da 
profissão de médico desenvolveu atividades como a de escritor. Publicou um livro de 
crônicas, intitulado “Chronicas Alagoanas”. Foi colaborador de vários jornais e revistas 
de Maceió em sua época, tais como, Gutenberg, Correio Mercantil, Jornal de Debates, 
 
 
Jornal de Alagoas e Gazeta de Alagoas. Em alguns deles publicou contos sob o 
pseudônimo de Alba Lobo e Álvaro Bali (BRANDÃO, 1988, p.1-2). Além da literatura, 
desenvolveu alguns trabalhos de caráter histórico sociológico particularmente, “Viçosa 
das Alagoas” e a obra em questão “O Negro na História de Alagoas”. Esta última, 
apresentada pelo autor no 1º Congresso afro-brasileiro ocorrido em Recife, em 
novembro doa no de 1934, se faz relevante para este trabalho. Por intermédio da 
literatura em questão pode-se ter noção de algumas reflexões, formas de pensamento e 
do engajamento da intelectualidade alagoana, componentes do Instituto Histórico 
alagoano― instituição da qual o autor era membro ― sobrequestões em voga à época, 
que envolviam a ideia de identidade nacional e, mais especificamente as questões 
raciais na constituição deste “ideal” de nação. 
Dirceu Lindoso (2005), ao questionar-se sobre a produção da cultura alagoana, 
identificou que esta, se faz numa relação de conflito que opõe duas escalas da 
sociedade, o erudito e o popular. Alerta para o fato de a cultura erudita ao tentar 
sobrepor-se ao popular, encontrar nesta resistência, assim, as duas culturas confluir-se-
iam e se permeariam em diversas situações. 
 
Não foi sem tensões que se assistiu ao inrompimento do popular no erudito 
no espaço poético de Jorge de Lima, nos estudos sobre o negro africano de 
Arthur Ramos ou mesmo, para falar de um tempo antigo, nos primeiros 
registros de folclore feitos no distante 1897, por Júlio Campina, pseudônimo 
de um pioneiro dos estudos populares em Alagoas- Luís Tenório Cavalcante 
de Albuquerque (LINDOSO, 2005, p. 101). 
 
Não é surpresa o interesse de intelectuais pertencentes à elite em pensar o 
popular, entretanto esta relação não se daria sem conflito. No caso de Alfredo Brandão, 
é necessário reconhecer sua contribuição à história do negro em Alagoas, especialmente 
por se fazer num momento em que as produções voltadas especificamente para o negro 
no Brasil e em Alagoas eram iniciais2. Pois esta parcela da população esteve durante 
muito tempo não só marginalizada a nível social, mas também no âmbito da produção 
histórica lhes foi relegado um papel de “esquecimento”. Tal como afirmou Skidmore 
 
2 Não se pode esquecer de trabalhos como o de Nina Rodrigues no início do século XX, entretanto 
o que se quer destacar é que a maior quantidade de trabalhos voltados para o negro se deu a partir 
da década de 1930. 
 
 
(2012), foi durante a década de 1930, com o repensar das relações raciais e da história 
da miscigenação no Brasil que apareceram trabalhos voltados de maneira mais clara 
para o africano. Agora interpretada como algo positivo e símbolo de nacionalidade, de 
identidade brasileira, a mestiçagem passa a ser vista como a “mola” harmonizadora dos 
antagonismos sociais, dando condições de confraternização e mobilidade social 
peculiares ao Brasil (FREYRE, 1986, p.89). Esta visão da mestiçagem era descendente 
da teoria culturalista, da escola norte-americana, de Franz Boas, muito difundida no 
Brasil naquele momento. Diferentemente das teorias raciais do século XIX, a teoria da 
antropologia cultural, não entendia o ser humano negro como biologicamente inferior ao 
branco, mas o sentido evolucionista passava ao plano cultural. 
Diante disso, interessa entender como este autor, pertencente aos círculos das 
elites políticas e econômicas do Estado, representante da historiografia estamental3, irá 
utilizar esta tendência do “repensar das relações raciais no Brasil” para pensar o negro 
na história de Alagoas. Quais as imagens representativas atribuídas por ele ao papel do 
negro e da cultura negra no desenvolvimento do sociocultural do estado? 
Metodologicamente, para melhor facilitar a compreensão da análise, far-se-á 
incialmente um resumo do texto em questão e, posteriormente, a sua análise. 
Resumo do texto: o texto “Época de introdução do elemento negro em Alagoas 
e discriminação das raças”, refere-se ao primeiro capítulo da obra, “Os Negros na 
História de Alagoas” (1934) e funciona como uma espécie de introdução aos assuntos 
abordados pelo autor ao longo do livro. Ainda nesta parte Alfredo Brandão defende que 
a presença negra em Alagoas é longeva e data do início da colonização. Segundo o 
autor, “o primeiro negro apareceu em Alagoas quase com o primeiro branco”. 
Entretanto, embora essa presença seja longeva, a história do negro em Alagoas, com 
exceção das narrativas sobre Palmares, teria se deixado ficar em apagado, os motivos 
para tal residiriam na escassez local de documentações. Assim, para resgatar a história 
do negro em Alagoas, o autor recorre à estudos da linguagem e do folclore. A partir 
destes dois estudos defende a origem dos negros alagoanos como de maioria bantu; 
 
3 Conceito criado por Dirceu Lindoso ao referir-se à historiografia do status quo, produzida pelas 
elites políticas e econômicas locais, a qual foi reproduzida no Instituto Histórico e Geográfico de 
Alagoas. 
 
 
através da língua a incidência bantu seria comprovada pela grande quantidade de 
vocábulos na língua portuguesa pertencentes a este grupo étnico. Quanto ao folclore, 
embora não fosse puramente africano, possuía muitos elementos também de 
procedência bantu. 
Um outro fator que concorreria para esta procedência bantu dos negros 
alagoanos, embora não aprofundada pelo autor ao longo de sua obra, seria a ausência ou 
quase ausência, das tradições religiosas africanas. Fato que seria inexplicável, por 
exemplo, se a maior parte dos negros importados para Alagoas fossem sudaneses. Logo 
tais práticas somente teriam sido encontradas em Alagoas mais tardiamente, já em 
tempos posteriores à abolição e muito provavelmente estariam ligados aos negros 
vindos da Bahia onde houve maior número de importação sudanesa, muito embora, elas 
já estivessem naquele momento por demais misturadas às tradições cristãs. Ainda nesta 
parte, o autor menciona o episódio de violência sofrido pelos terreiros de 1912, o qual 
trata como “furor iconoclasta promovido por populares”. Inclusive, seria o motivo para 
o fato de em seu tempo essas religiões serem cultuadas muito reservadamente. 
 
3. “ÉPOCA DE INTRODUÇÃO DO ELEMENTO NEGRO EM ALAGOAS E 
DISCRIMINAÇÃO DAS RAÇAS. ” 
 
As características que representam o negro e a cultura negra apresentadas neste 
texto inicial de Alfredo Brandão refletem a ideia do seu livro como um todo e devem ser 
lidas com atenção. Em primeiro lugar o discurso construído pelo autor traz a oposições 
entre “bom” e “ruim”, “riqueza” e “pobreza” que se voltam para a centralidade da 
origem bantu dos negros Alagoanos. 
 
“Koster, um inglês que no começo do século passado residiu alguns anos no 
Recife, afirma que os negros conduzidos a Pernambuco eram conhecidos sob 
os nomes de Angola, Congo, Rebolo, Angico, Gabam e Moçambique. 
Entretanto em detalhes sobre essas diversas raças, ele diz que ‘os angoleses 
eram dóceis, probos, fiéis e muito próprios para o serviço doméstico, os do 
congo eram menos ativos, porém mais adaptáveis aos trabalhos do campo. 
Pouco inteligentes, preguiçosos e pesados eram os Gabans e os de 
Moçambique (BRANDÃO, 1988, p.19-20) 
 
Percebe-se na descrição uma série de características atribuídas aos grupos 
 
 
étnicos de origem bantu de incidência no Estado, descritas por viajantes do século XIX, 
foram reproduzidas de maneira acrítica por Brandão. Tais características seriam 
positivas quando houvesse aceitação do trabalho imposto e o inverso quando não. 
Ainda na busca por entender a história do negro em Alagoas, o autor constata 
uma ausência documental, o que se revelaria um empecilho na busca da história do 
negro no estado. Entretanto, o autor não anula as possibilidades de conhecer a história 
desse grupamento étnico no estado. Assim, revela uma nova concepção sobre fontes 
históricas, nascentes na historiografia do período, tal como trabalhou Gilberto Freyre 
em Casa Grande & Senzala, por exemplo, o qual utilizou-se de uma diversidade de 
fontes para repensar a história da miscigenação no Brasil e como fizeram outros autores, 
da mesma geração de pensamento ao voltarem-se para o estudo das influências desses 
grupamentos étnicos no Brasil. Ao seguir essa tendência, Brandão buscou em outras 
escalas das produções sociais as evidências para se pensar o negro em Alagoas. Logo, 
tiveram destaque estudos voltados para o vocabulário e o Folclore, através deles pode 
defender a procedência bantu dos negros alagoanos. Entretanto, umoutro elemento 
citado pelo autor, embora não desenvolvido ao longo do livro, concorria para reforçar a 
tese da procedência bantu, trata-se da “ausência ou quase ausência de tradições 
religiosas ou cultos de animais”, 
 
[...] essa circunstância já assinalada, com relação aos Palmares, pelo próprio 
Nina Rodrigues. 
A história, escreve o ilustrador professor da Faculdade de Medicina da Bahia, 
não faz a menor referência a cultos de animais ou divindades em Palmares. 
Este fato que seria inexplicável com os sudaneses, está perfeitamente de 
acordo com a ideia de que foram diretores de Palmares negros bantus, cuja 
pobreza mítica está hoje perfeitamente reconhecida e demonstrada, o que lhes 
permitiu adotar uma caricatura da religião católica dos colonos. 
Era o mesmo que se dava com os negros africanos dos engenhos, das cidades 
e das vilas. À parte algumas práticas vagas de feitiço e de mandingas, não se 
notava entre eles ritos e cerimônias de outras religiões (BRANDÃO, 1988, 
p.22) 
 
 
 Aqui a religião de matriz africana aparece pela primeira vez em seu texto, sob 
um pano de fundo que opõe “pobreza” e “riqueza” mítica, o qual também pode ser 
percebido na oposição bantu versus sudanês. Durante muito tempo, pensadores da 
cultura negra, embasados nas ideias culturalista do período, tenderam a ver o estudo das 
 
 
diferentes culturas sob o ponto de vista da hierarquização. É o caso por exemplo, da 
teoria da “aculturação”, defendida por Arthur Ramos (2013) para explicar o fenômeno 
do sincretismo cultural. Quando duas ou mais culturas estivessem em contato, tenderia a 
mais adiantada a suplantar a mais atrasada, fenômeno esse, segundo o autor, 
amplamente encontrado no Brasil quanto aos estudos relacionados às religiões e ao 
folclore de origem africana (RAMOS, 2013, p.82). 
 Diante desta hierarquização considerada pela ótica da antropologia cultural, a 
cultura sudanesa foi amplamente tratada, nos estudos referentes à cultura negra, como 
mais complexa e mais desenvolvida do que a de procedência bantu, e por isso teriam 
aqueles, conseguido mantê-la com maior grau de “pureza” no Brasil, sem misturar-se 
totalmente à cultura branca. Por conseguinte, grande parte dos estudos sobre as religiões 
de matriz africana do período, voltaram-se para a Bahia, por ter sido lá a grande 
incidência de negros sudaneses, numa suposição de que se poderia encontrar naquela 
região os ritos africanos em maior grau de originalidade. O estabelecimento de graus de 
hierarquização entre as culturas, no campo de estudos sobre os grupamentos negros, 
relegava a experiência histórica dos grupamentos bantus e, consequentemente, da 
população negra nas regiões do país, descente deste grupo étnico, à uma condição de 
marginalidade, de menor legitimidade. 
Ainda sob a interpretação da antropologia cultural, o antagonismo entre 
“pobreza” e “riqueza” mítica aparece no texto de Brandão, não só na oposição dos 
diferentes grupos negros, mas também, em relação à cultura branca. Vê-se, 
 
 
O senhor de engenho alagoano, logo que comprava um negro da Costa, 
mandava batizá-lo e dar-lhe algumas noções, muito rudimentares é verdade, 
da religião católica. 
O negro aceitava sem a menor relutância essas ideias religiosas; ouvia missa, 
rezava terço, benzia-se e se encomendava a Deus.’ 
Vê-se, portanto, que não era aferrado a outras religiões ou as que professava, 
em sua terra não tinham vínculos profundos em sua alma porque do contrário 
não se teriam convertido com tanta facilidade. É verdade que vamos 
encontrar ritos africanos em Alagoas, porém já muito tardiamente, em tempos 
posteriores à abolição (BRANDÃO, 1988, p.22)) 
 
 
Percebe-se o argumento para essa suposta falta de vínculos profundos com suas 
 
 
crenças religiosas teria decorrido em uma rápida adoção da cultura branca imposta, 
considerada referência de civilização. Tal afirmação se liga na fala do autor ao reforço 
da “fragilidade” e “passividade”, remetente ao imaginário bantu, amplamente 
defendida, por esta vertente de pensadores dos anos 1930. Esta hipótese contribuiu para 
aprisionar as experiências histórica desse grupo étnico específico num cárcere textual 
que revela uma opacidade histórica, segundo Dirceu Lindoso (2005) típica da 
historiografia estamental anulando, assim, as contradições nas quais estavam imersas as 
condições de perpetuação da cultura negra. Esse discurso defendido por Brandão, ao 
defendê-la parece negligenciar, num primeiro momento, os movimentos de resistência 
coletivos compostos por escravos contra o sistema de escravidão, tal como foi Palmares, 
por exemplo. A adoção das práticas religiosas cristãs compunha importante estratégia de 
negociação com o sistema escravista, criada por negros e que evitava o conflito direto. 
Para Wilson do Nascimento Barbosa (2002) a cultura dominada consegue ter um pouco 
de autonomia e não se permiti totalmente a dominação; logo esta situação de conflito 
que opõe as duas culturas pode ser vista como geradora de uma nova, a experiência 
religiosa negra no Brasil, composta por traços ritualísticos recriados em decorrência das 
possibilidades encontradas diante da sua experiência social no novo território. A adoção 
do cristianismo por negros no contexto colonial, pode ser lida, desta maneira, como uma 
importante estratégia de manter vivas suas memórias diante da dura realidade 
escravocrata, cuja tendência era reprimi-las. 
Porém, na fala de Brandão, essa nova experiência religiosa não é considerada e o 
que se tem, é a aparente noção de que há uma sobreposição de culturas e um 
embranquecimento religioso do negro, o que pode ser encarado também como uma 
explicação de suposta fragilidade da cultura negra em Alagoas, por ser esta, ligada a 
origem bantu. 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Percebe-se que em Brandão as formas adquiridas pela cultura negra no estado 
não são entendidas como um processo de reformulação de acordo com o ambiente 
 
 
sócio-cultural aos quais foram expostas e aos conflitos provenientes desse ambiente. A 
imposição da cultura branca como parte do projeto político colonizador e sua tentativa 
de anular os conflitos, aparecem atribuídas de maneira negativa como uma suporta 
fragilidade intrínseca aos grupamentos bantu. Este ideal de fragilidade resultaria no 
branqueamento pois, uma vez inferior, ela deixava-se suplantar pela cultura superior. 
Esta interpretação elimina os conflitos e culpabiliza a própria cultura negra como 
responsável por seu suposto “desaparecimento”; este é um dos problemas notados nessa 
geração de pensadores, por não darem conta de superar o ideal de branqueamento. Ao 
destacarem o popular, numa tentativa de resguardar ou repensar sua história no território 
alagoano, terminaram por reforçar o imaginário de inferiorização de alguns grupos 
negros na formação da sociedade alagoana, visto que, lhes colocavam em posição de 
submissão, contribuindo assim, para reforçar seu processo de invizibilização social. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS 
 
BARBOSA, W. D. N. Cultura Negra e dominação. São Lopoldo: Unisinos, 2002. 
BARBOSA, W. D. N. Cultura negra e dominação. São Leopoldo: Unisinos, 2002. 
BRANDÃO, A. Viçosa de Alagoas: o município e a cidade. Maceió: Fundação 
biblioteca nacional , 2005. 
 
 
CARDOSO, C. F.; VAINFAS, R. História e Análise de Textos. In: VAINFAS, C. F. C. E. 
R. Domínios da História. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997. p. 375-399. 
FREYRE, G. Casa Grande e Senzala. São Paulo: Circulo do Livro, 1986. 
JUNIOR, M. D. O Banguê e a economia alagoana. In: ______ O Banguê nas Alagoas. 
Maceió: Edufal, 1980. 
LINDOSO, D. Alagoana, Uma cultura em Questão:a Alagoana. In: ______ A 
interpretação da Província: estudo da cultura alagoana. 2ª. ed. maceió: edufal, 2005. 
p. 97-111. 
RAMOS, A. O negro no novo mundo. In: ______ As culturas negras no novo mundo. 
maceió: Edufal, 2013. 
SKIDMORE, T. E. Preto noBranco: raça e nacionalidade no pensamento brasileiro 
(1870-1930). São Paulo: Companhia das letras, 2012. 
 
 
 
FONTE LITERÁRIA 
 
Os negros na História de Alagoas/ Acervo do Instituto Histórico e Geográfico de 
Alagoas.

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