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Aula 01 - Pontos iniciais do direito do consumidor

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Prévia do material em texto

Campanha Nacional das Escolas da Comunidade – CNEC 
Faculdade CNEC Santo Ângelo 
Curso de Graduação em Direito 
Direito do Consumidor 
Prof. Dr. Doglas Cesar Lucas 
 
AULA 01 
 
PONTOS INICIAIS DE DIREITO DO CONSUMIDOR1 
 
CONTEÚDO DE HOJE: Considerações preliminares sobre o Direito do Consumidor; Aspectos históricos; 
Consumo e contemporaneidade. 
 
1. Algumas notas iniciais sobre sociedade do consumo 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1 Este material foi elaborado pela pelo Professor Doglas Cesar Lucas, com base na doutrina de Flavio Tartuce e Humberto Theodoro 
Júnior, constituindo, inclusive, por diversas vezes, literal reprodução destas fontes, de modo que não deve ser compartilhado como 
se fosse de minha autoria. 
https://www.youtube.com/watch?v=-H4wgsnvz2w
“O consumo é o único fim e propósito de toda a produção; e o interesse do produtor deve ser atendido até 
o ponto, apenas, em que seja necessário para promover o do consumidor. A máxima é tão perfeitamente 
evidente por si mesma, que seria absurdo tentar prová-la [...] . No sistema mercantilista o interesse do 
consumidor é quase que constantemente sacrificado pelo do produtor; e ele parece considerar a produção, 
e não o consumo, como o fim último e o objeto de toda a indústria e comércio”. (Adam Smith, Princípios da 
Economia de Mercado Competitivo). 
 
O ato de consumir, hoje, transcende a mera aquisição de um produto. Convivemos, de um lado, com a 
mercadoria colocada como protagonista das práticas cotidianas. De outro, experenciamos uma constante 
orientação para que o modelo de conduta seja sempre mediado, articulado, orientado pelo ato de consumir. 
E isso não é por acaso. 
 
É por isso que, para Zygmunt Bauman (2008, p. 154), “A busca por 
prazeres individuais articulada pelas mercadorias oferecidas hoje em 
dia, uma busca guiada e a todo tempo redirecionada e reorientada por 
campanhas publicitárias sucessivas, fornece o único substituto 
aceitável – na verdade, bastante necessitado e bem-vindo – para a 
edificante solidariedade dos colegas de trabalho e para o ardente calor 
humano de cuidar e ser cuidado pelos mais próximos e queridos, tanto 
no lar como na vizinhança.” 
 
Para o sociólogo polonês, falecido em janeiro de 2017, o jogo do mercado é configurado por três regras: 
 
1. Todo produto é vendável e visa a ser consumido; 
2. Esse consumo não é um consumo em si, é um consumo vinculado à satisfação de um desejo. 
3. O valor a ser pago depende diretamente da confiabilidade da “promessa de satisfação’’ e 
“intensidade de desejos”. 
 
Nessa perspectiva, “a ‘subjetividade’ do sujeito, e a maior parte daquilo que essa subjetividade possibilita ao 
sujeito atingir, concentra-se num esforço sem fim para ela própria se tornar, e permanecer, uma mercadoria 
vendável”. (BAUMAN, 2008, p. 20). 
 
Essa mesma análise pode ser visualizada na teorização do filósofo 
francês Gilles Lipovetsky (2007), para quem a sociedade do 
hiperconsumo está vocacionada a uma felicidade que ele chama de 
paradoxal. Com efeito, a produção dos bens, os serviços, as mídias, 
os lazeres, a educação, a ordenação urbana, tudo é direcionado, em 
tese, para proporcionar mais e mais felicidade. 
 
Quanto mais uma sociedade enriquece, supostamente maior seria o consumo e as necessidades de consumir, 
promovendo-se uma “mercantilização” das necessidades. Lipovetsky diz que as “receitas da felicidade” 
espalhar-se-iam nos diversos campos (alimentação, afeto, sexualidade, comunicação, educação, criação dos 
filhos etc.), de modo que haveria uma espécie de treinamento generalizado para condicionar o “uso” da 
felicidade por todos. Vejam que o próprio STF já se valeu de uma retórica, não isenta de críticas, afinada com 
este debate: o princípio da felicidade. 
 
Nesse sentido, os produtos “fálicos” materalizam não somente uma aquisição, mas também uma potência 
que, como veremos, converte-se num “sonho”: 
 
 
 
 
 
 
 
 
Ainda, sob a alcunha de “turboconsumidor”, Lipovetsky alude às rápidas mudanças sociais e econômicas que 
levaram o ser humano não apenas a um consumo em massa, mas a uma situação de individualização e 
hiperindividualização do consumo. 
 
2. Breve evolução histórica 
 
Evolução Histórica da proteção do consumidor 
 
Código de Hamurabi: para construção civil 
229. Se um construtor construir uma casa para outrem, e não a fizer bem feita, e se a casa cair e matar seu 
dono, então o construtor deverá ser condenado à morte. 
230. Se morrer o filho do dono da casa, o filho do construtor deverá ser condenado à morte. 
231. Se morrer o escravo do proprietário, o construtor deverá pagar por este escravo ao dono da casa. 
https://www.youtube.com/watch?v=94FV8Kv7xD8
232. Se perecerem mercadorias, o construtor deverá compensar o proprietário pelo que foi arruinado, pois 
ele não construiu a casa de forma adequada, devendo reerguer a casa às suas próprias custas. 
233. Se um construtor construir uma casa para outrém, e mesmo a casa não estando completa, as paredes 
estiveram em falso, o construtor deverá às suas próprias custas fazer as paredes da casa sólidas e resistentes. 
 
Grécia- estabelecia controle de mercadorias... 
“são também designados por sorteio os fiscais de mercado, cinco para o Pireu e cinco para a cidade; as leis 
atribuiem-lhes os encargos atinentes as mercadorias em geral; a fim de que os produtos vendidos não 
contenham misturas , nem sejam adulterados, são também designados por sorteio os fiscais das medidas, 
cinco para a cidade e cinco para o Pireu, ficam a seu encargos as medidas e os pesos em geral, a fim de que 
os vendedores utilizem os corretos [...] são também designados por sorteio dez inspetores do comércio, os 
quais se atribuem os encargos mercantis, devendo eles obrigar os comerciantes a trazerem para a cidade 
dois terços de trigo transportados para a comercialização [...]” (Constituição de Atenas, Aristóteles). 
 
No Brasil Colônia: 
– Lei de 1652, vigente em Salvador... 
 quem vende-se o canada (medida de 1,4 litros de vinho) acima de 800 réis, seria “preso na enxovia e 
dela levado para ser acoitado nas ruas, ficará inábil para vender e desterrado dessa capitania para todo o 
sempre”. 
 
Resolução 39/248 da ONU (1985). Traçou política geral de proteção aos consumidores destinada aos estados 
filiados tendo em conta seus interesses e necessidades em todos os países, reconhecendo que o consumidor 
se encontra em situação de vulnerabilidade econômica, social, cultural e que todos os consumidores devem 
ter acesso a produtos e serviços não perigosos, que promovam o desenvolvimento social e econômico justo, 
equitativo e seguro (informação, educação, ressarcimento, liberdade). 
 
No Brasil mais recente. 
O consumo se intensificou após o início de nossa industrialização, em meados da década de 1930, sendo que, 
já nessa época, o Estado possuía características fortemente intervencionistas na ordem econômica. 
• Década de 70 – associações e entidades de proteção do consumidor: 
• 1974 – RJ – CONDECON 
• 1976 – Curitiba – Assoc. de Defesa e Orientação do Consumidor 
• 1976 – Porto Alegre – Assoc. de Proteção do Consumidor 
• 1976 – São Paulo → Decreto 7890 cria o Sistema Estadual de Proteção do 
Consumidor 
• Lei nº 7.347/85 - Lei da Ação Civil Pública - proteção dos interesses difusos da sociedade. 
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• A Constituição Federal de 1988 em vários dispositivos referiu-se à proteção do consumidor: 
• No art. 5º, inciso XXXII, entre os direitos individuais e coletivos, estabeleceu que 
Estado deve promover, na forma da lei, a defesa do consumidor. 
• Nos arts. 23, inciso VIII, e 24, atribui a competência concorrente da União, Estados e 
Distrito Federal para legislar sobre consumo. 
• Em matéria tributária, no art. 150, §5º, exigiu o esclarecimento ao consumir acerca 
dos impostos incidentes sobre mercadorias e serviços. 
• No art. 170 elegeu a defesa do consumidor comoprincípio geral da ordem 
econômica e financeira. Por fim, no art. 175, inciso II, no que concerne aos serviços 
públicos, determinou que a lei disporá especificamente sobre os direitos dos 
usuários. 
• Art. 48, ADCT. O Congresso Nacional, dentro de 120 dias da promulgação da Constituição, elaborará 
código de defesa do consumidor. → O ADCT impôs a elaboração do CDC. 
• Assim, em 11 de setembro de 1990, foi publicada a Lei 8078. 
 
O Código de Defesa do Consumidor surge no bojo de um movimento tendente a tutelar grupos minoritários 
vulneráveis. O seu texto começou a ser idealizado antes mesmo da promulgação da Constituição Federal de 
1988, por meio da constituição de comissão formada no âmbito do Conselho Nacional de Defesa do 
Consumidor, com a finalidade de elaborar um Anteprojeto de Código. Após diversos trabalhos, discussões, 
audiência pública e criação de uma Comissão Mista, foi apresentado um novo texto de Projeto de Código, 
que culminou na promulgação da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 (THEODORO JÚNIOR, 2017). 
 
Tartuce adverte que o CDC surge no seio da pós-modernidade jurídica. A “pós-modernidade é utilizada para 
simbolizar o rompimento dos paradigmas construídos ao longo da modernidade, quebra ocorrida ao final do 
século XX. Mais precisamente, parece correto dizer que o ano de 1968 é um bom parâmetro para se apontar 
o início desse período, diante de protestos e movimentos em prol da liberdade e de outros valores sociais 
que eclodiram em todo o mundo. Em tais reivindicações pode ser encontrada a origem de leis 
contemporâneas com preocupação social, caso do Código Brasileiro de Defesa do Consumidor.” (TARTUCE, 
2017, p. 21-22). 
 
Por conseguinte, não é exagero dizer que o CDC é uma típica norma pós-moderna, no sentido de rever 
conceitos clássicos do Direito Privado, tais como o contrato, a responsabilidade civil, a prescrição e o ônus 
da prova. 
 
Quanto àquilo que chamamos de pós-modernidade, em termos jurídicos, podemos identificar alguns fatores 
fundamentais: 
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1. Globalização e a ideia de unidade mundial; No caso do CDC brasileiro, tal preocupação pode ser 
notada pela abertura constante do seu art. 7º, que admite a aplicação de fontes do Direito 
Comparado, caso dos tratados e convenções internacionais: Art. 7º, CDC. Os direitos previstos neste 
Código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil 
seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades 
administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, 
costumes e equidade. 
2. Inflação legislativa: “No caso brasileiro, convive-se com mais de 40 mil leis, a deixar o aplicador do 
Direito desnorteado a respeito de sua incidência no tipo (fattispecie). Mesmo em relação aos 
consumidores, em muitas situações, há uma situação de dúvida sobre qual norma jurídica deve 
incidir no caso concreto.” (TARTUCE, 2017, p. 22-23). 
3. Pluralismo: esse movimento é intensificado pela valorização dos direitos humanos e das liberdades. 
Em face desse pluralismo, há a inflação legislativa a que nos referimos anteriormente e uma 
abundância na proteção jurídica, de modo que é comum verifica-se na pós-moderndade a colisão 
entre esses direitos, conflitos estes que acabam por ser resolvidos a partir da ponderação e à luz da 
Constituição. 
4. Hipercomplexidade: “Na contemporaneidade, os prosaicos exemplos de negócios e atos jurídicos 
entre Tício, Caio e Mévio, comuns nas aulas de Direito Romano e de Direito Civil do passado (ou até 
do presente), não conseguem resolver os casos de maior complexidade, particularmente aqueles 
relativos a colisões entre direitos considerados fundamentais, próprios da pessoa humana. Ademais, 
muitas situações envolvendo os contratos de consumo superam aquela antiga visualização. A título 
de ilustração, imagine-se que um consumidor brasileiro compra um produto americano acessando 
seu computador no Brasil, estando o provedor da empresa vendedora localizado na Nova Zelândia. 
Pergunta-se: quais as leis aplicadas na espécie? Sem se pretender ingressar no mérito da questão, o 
exemplo demonstra quão complexas podem ser as simples relações de consumo.” (TARTUCE, 2017, 
p. 25). 
 
O juiz argentino Ricardo Luis Lorenzetti fala em “era da desordem, que, em síntese, pode ser identificada 
pelos seguintes aspectos: a) enfraquecimento das fronteiras entre as esferas do público e do privado; b) 
pluralidade das fontes, seja no Direito Público ou no Direito Privado; c) proliferação de conceitos jurídicos 
indeterminados; d) existência de um sistema aberto, sendo possível uma extensa variação de julgamentos; 
e) grande abertura para o intérprete estabelecer e reconstruir a sua coerência; f) mudanças constantes de 
posições, inclusive legislativas; g) necessidade de adequação das fontes umas às outras; h) exigência de 
pautas mínimas de correção para a interpretação jurídica. Nessa perspectiva, o Código de Defesa do 
Consumidor enquadra-se perfeitamente em tal realidade pós-moderna. Primeiro, por trazer como conteúdo 
questões de Direito Privado e de Direito Público. Segundo, por encerrar vários conceitos indeterminados, 
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como o de boa-fé. Terceiro, por representar uma norma aberta, perfeitamente afeita a diálogos 
interdisciplinares, como se verá (diálogo das fontes). Quarto, por encerrar a pauta mínima de proteção dos 
consumidores (TARTUCE, 2017). 
 
3. O CDC e sua posição hierárquica: revisitando a pirâmide kelseniana 
 
O Código de Defesa do Consumidor é norma que tem relação direta com os direitos humanos de terceira 
geração. É comum relacionar as três primeiras gerações, eras ou dimensões com os princípios da Revolução 
Francesa. Mencionada divisão das gerações foi levada a cabo pelo jurista tcheco Karel Vasak, em 1979, em 
exposição feita em aula inaugural no Instituto Internacional dos Direitos Humanos, em Estrasburgo, na 
França. 
 
 
 
Geração Direitos consagrados 
1ª Princípio da liberdade. 
2ª Princípio da igualdade. 
3ª Princípio da fraternidade (pacificação social). → Aqui melhor se enquadra o CDC. 
5ª Proteção do patrimônio genético. 
6ª Proteção de direitos no mundo digital. 
 
Nesse sentido, o Código de Defesa do Consumidor é concebido pela doutrina como uma norma 
principiológica, diante da proteção constitucional dos consumidores, que consta, especialmente na CF: Art. 
5º, XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; 
Além disso, não se pode perder de vista o fato de que o CDC assumiu especial relevância também em relação 
aos direitos difusos e coletivos, pois muitas de suas normas são mais favoráveis aos lesados do que, por 
exemplo, a Lei da Ação Civil Pública ou a Lei da Ação Popular. 
 
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Por isso, Tartuce defende que o CDC tem eficácia supralegal, ou seja, está em um ponto hierárquico 
intermediário entre a Constituição Federal de 1988 e as leis ordinárias. Para tal dedução jurídica, pode ser 
utilizada a simbologia do sistema piramidal, atribuída a Hans Kelsen. 
 
 
 
Em que pese a percepção acima possa causar estranheza em termos de processo legislativo constitucional, 
juristas como o Juiz de Direito Marco Fábio Morsello, defendem essa postura no sentido de que a norma 
consumerista sempre deve prevalecer, por seu caráter mais especial, tendo o que ele denomina como 
segmentação horizontal. De outra forma, sustenta que a matéria consumerista é agrupada pela função e 
não pelo objeto. É, em poucas palavras, forma de efetivação de direitos fundamentais na perspectiva da 
eficácia horizontal dos direitos fundamentais. 
 
MAS CUIDADO! Essa compreensão sofre profundas alterações diante do recente entendimento do STJ e do 
STF acerca da reparação de danos por ocasião de extravio de bagagem ocorrido em transporte internacional: 
 
*Em caso de extraviode bagagem ocorrido em transporte internacional envolvendo consumidor, aplica-se o 
CDC ou a indenização tarifada prevista nas Convenções de Varsóvia e de Montreal? As Convenções 
internacionais. Nos termos do art. 178 da Constituição da República, as normas e os tratados internacionais 
limitadores da responsabilidade das transportadoras aéreas de passageiros, especialmente as Convenções 
de Varsóvia e Montreal, têm prevalência em relação ao Código de Defesa do Consumidor. Art. 178. A lei 
disporá sobre a ordenação dos transportes aéreo, aquático e terrestre, devendo, quanto à ordenação do 
transporte internacional, observar os acordos firmados pela União, atendido o princípio da reciprocidade. 
STF. Plenário. RE 636331/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes e ARE 766618/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados 
em 25/05/2017 (repercussão geral) (Info 866). 
 
*O STJ passou a acompanhar o mesmo entendimento do STF: É possível a limitação, por legislação 
internacional espacial, do direito do passageiro à indenização por danos materiais decorrentes de extravio 
Constituição Federal
Código de Defesa do 
Consumidor
Leis ordinárias
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de bagagem. STJ. 3ª Turma. REsp 673.048-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 08/05/2018 (Info 
626). 
 
Tartuce (2017) afirma que a decisão acima “trata-se de um enorme retrocesso quanto à tutela dos 
consumidores, pelos argumentos outrora expostos. Como se retira do seu art. 1º, o CDC é norma 
principiológica, tendo posição hierárquica superior diante das demais leis ordinárias, caso das duas 
Convenções Internacionais citadas. Porém, infelizmente, tal entendimento, muito comum entre os 
consumeristas, não foi adotado pela maioria dos julgadores. Esclareça-se, por oportuno, que o decisum 
apenas diz respeito à limitação tabelada de danos materiais, não atingindo danos morais e outros danos 
extrapatrimoniais.” 
 
4. O CDC e a teoria do diálogo das fontes 
 
No Brasil, a principal expressão da teoria do diálogo das fontes se dá justamente na interação entre o CDC e 
o CC/2002, em matérias como a responsabilidade civil e o Direito Contratual. Do ponto de vista legal, a tese 
está baseada no art. 7º do CDC, que adota um modelo aberto de interação legislativa: 
 
Art. 7º Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções 
internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos 
pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, 
analogia, costumes e equidade. 
 
*O art. 7º da Lei 8.078/90 fixa o chamado diálogo das fontes, segundo o qual sempre que uma lei garantir 
algum direito para o consumidor, ela poderá se somar ao microssistema do CDC, incorporando-se na tutela 
especial e tendo a mesma preferência no trato da relação de consumo (STJ, REsp 1037759). 
 
Nesse ínterim, é possível que a norma mais favorável ao consumidor esteja fora da própria Lei Consumerista, 
podendo o intérprete fazer a opção por esse preceito específico. Nesse sentido: 
 
Enunciado nº 1 do Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor (BRASILCON): As normas e os 
negócios jurídicos devem ser interpretados e integrados da maneira mais favorável ao consumidor. 
 
Por conseguinte, o que temos é um sistema que permite a adoção da norma mais favorável ao vulnerável 
(no nosso caso, o consumidor), independentemente do diploma no qual ela esteja alocada. 
 
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http://genjuridico.com.br/2018/05/23/a-aplicacao-da-teoria-do-dialogo-das-fontes-no-direito-do-consumidor-brasileiro/#:~:text=Por%20meio%20da%20teoria%20do,certeza%20ao%20sistema%20de%20direito.
https://www.conjur.com.br/2016-mar-29/arthur-moura-dialogo-fontes-chave-destrancar-cpc
Para Claudia Lima Marques, o diálogo das fontes “é uma tentativa de expressar a necessidade de uma 
aplicação coerente das leis de direito privado, coexistentes no sistema. É a denominada ‘coerência derivada 
ou restaurada’ (cohérence dérivée ou restaurée), que, em um momento posterior à descodificação, à tópica 
e à microrrecodificação, procura uma eficiência não só hierárquica, mas funcional do sistema plural e 
complexo de nosso direito contemporâneo, a evitar a ‘antinomia’, a ‘incompatibilidade’ ou a ‘não 
coerência’.” (MARQUES, 2009 p. 90). 
 
Enunciado 167: Com o advento do Código Civil de 2002, houve forte aproximação principiológica entre esse 
Código e o Código de Defesa do Consumidor, no que respeita à regulação contratual, uma vez que ambos 
são incorporadores de uma nova teoria geral dos contratos”. 
 
“Simbologicamente, pode-se dizer que, pela teoria do diálogo das fontes, supera-se a interpretação insular 
do Direito, segundo a qual cada ramo do conhecimento jurídico representaria uma ilha (símbolo criado por 
José Fernando Simão). O Direito passa a ser visualizado, assim, como um sistema solar (interpretação 
sistemática e planetária), em que os planetas são os Códigos, os satélites são os estatutos próprios (caso do 
CDC) e o Sol é a Constituição Federal, irradiando seus raios solares – seus princípios – por todo o sistema 
(figura de Ricardo Luis Lorenzetti). Vejamos tais visualizações, de forma esquematizada.” (TARTUCE, 2017, p. 
34): 
 
 
 
 
TIPOS DE DIÁLOGOS DAS 
FONTES 
DEFINIÇÃO EXEMPLO 
DIÁLOGO SISTEMÁTICO DE 
COERÊNCIA → Conceito 
Consiste no aproveitamento da 
base conceitual de uma lei pela 
outra. 
Considerando que o CDC não define o que 
seja bem móvel ou imóvel, o aplicador se 
vale dos conceitos fixados no CC (arts. 79 a 
84). 
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DIÁLOGO SISTEMÁTICO DE 
COMPLEMENTARIDADE E 
SUBSIDIARIEDADE 
 
Adoção de princípios e normas, 
em caráter complementar, por 
um dos sistemas, quando se fizer 
necessário para a solução do 
caso concreto. 
Considerando que o CDC não definiu o 
prazo para ajuizamento da ação de 
repetição de indébito (art. 42, parágrafo 
único), aplica-se, de forma complementar, o 
prazo prescricional fixado pela regra geral 
do CC, a saber, 10 anos (art. 205). 
DIÁLOGO DE INFLUÊNCIAS 
RECÍPROCAS 
Influência do sistema especial no 
geral e do geral no especial. 
Considerando que o CC/2002 se tornou 
suficiente para harmonizar as relações 
entre iguais, a aplicação do CDC foi 
direcionada apenas para a proteção do 
vulnerável, o que explica a atual opção do 
STJ pela teoria finalista (simples ou 
mitigada), na definição do conceito de 
consumidor. 
 
Outros exemplos apontados são os artigos do Novo CPC sobre competência e sobre demandas individuais 
repetitivas: 
 
Art. 22, CPC. Compete, ainda, à autoridade judiciária brasileira processar e julgar as ações: 
II - decorrentes de relações de consumo, quando o consumidor tiver domicílio ou residência no Brasil; 
 
Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe: 
X - quando se deparar com diversas demandas individuais repetitivas, oficiar o Ministério Público, a 
Defensoria Pública e, na medida do possível, outros legitimados a que se referem o art. 5º da Lei nº 7.347, 
de 24 de julho de 1985 , e o art. 82 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990 , para, se for o caso, promover 
a propositura da ação coletiva respectiva. 
 
Some-se a isso a evidente pluralidade de fontes normativas que tangenciam a temática das relações de 
consumo e a nova visão dos direitos fundamentais não apenas como deveres de abstenção do Estado 
(direitos de defesa do particular em face do Poder Público), mas principalmente como uma dimensão ativa, 
que enseja posições jurídicas para os seus titulares, de forma que o Estado deve também promovê-los 
positivamente. É a eficácia horizontal dos direitos fundamentais e sua dimensão objetiva. 
 
Questão 
Ano: 2018 
Banca: FCC 
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Órgão:DPE-RS 
A respeito do microssistema consumerista e da proteção ao consumidor no ordenamento jurídico, considere: 
I. A Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, dispõe de cláusulas abertas e de conceitos legais 
indeterminados, que permitem melhor adequação ao caso concreto. 
II. Em consonância com a Constituição Federal de 1988, a defesa do consumidor constitui um direito 
fundamental de proteção à pessoa em situação de vulnerabilidade. 
III. Consoante teoria do diálogo das fontes e o próprio Código de Defesa do Consumidor, admite-se a 
aplicação da norma mais favorável ao consumidor, mesmo que esta se encontre externamente ao 
microssistema consumerista. 
IV. O consumidor é vulnerável e hipossuficiente no mercado de consumo consoante presunção jure et de 
jure. → Não é uma presunção absoluta (veremos isso em momento oportuno). 
É correto o que consta APENAS de: I, II e III. 
 
A professora Claudia Lima Marques demonstra três diálogos possíveis a partir da teoria do diálogo das fontes: 
 
1. Havendo aplicação simultânea das duas leis, se uma lei servir de base conceitual para a outra, estará 
presente o diálogo sistemático de coerência. Exemplo: os conceitos dos contratos de espécie podem 
ser retirados do Código Civil, mesmo sendo o contrato de consumo, caso de uma compra e venda 
(art. 481 do CC). 
2. Se o caso for de aplicação coordenada de duas leis, uma norma pode completar a outra, de forma 
direta (diálogo de complementaridade) ou indireta (diálogo de subsidiariedade). O exemplo típico 
ocorre com os contratos deconsumo que também são de adesão. Em relação às cláusulas abusivas, 
pode ser invocada a proteção dos consumidores constante do art. 51 do CDC e, ainda, a proteção 
dos aderentes constante do art. 424 do CC. 
3. Os diálogos de influências recíprocas sistemáticas estão presentes quando os conceitos estruturais 
de uma determinada lei sofrem influências da outra. Assim, o conceito de consumidor pode sofrer 
influências do próprio Código Civil. Como afirma a própria Claudia Lima Marques, “é a influência do 
sistema especial no geral e do geral no especial, um diálogo de doublé sens (diálogo de coordenação 
e adaptação sistemática)”. 
 
5. Algumas palavras finais 
 
Diante de todo o exposto, verifica-se que a criação do Direito do Consumidor como uma disciplina autônoma 
tornou-se necessária, em razão da evidente superioridade do fornecedor frente ao consumidor em suas 
relações contratuais. Se é certo que a sociedade de consumo trouxe benefícios, “em certos casos, a posição 
do consumidor, dentro desse modelo, piorou em vez de melhorar”, na medida em que “agora é o fornecedor 
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(fabricante, produtor, construtor, importador ou comerciante) que, inegavelmente, assume a posição de 
força na relação de consumo e, por isso mesmo, ‘dita as regras’” (THEODORO JÚNIOR, 2017). 
 
Já que o mercado não consegue, por si mesmo, superar esse desequilíbrio, tornou-se imprescindível a 
intervenção estatal, consubstanciada na edição de um Código de Defesa do Consumidor. 
 
Agora que já conversamos sobre os aspectos iniciais da disciplina e que vão nortear todo o nosso estudo ao 
longo do semestre, proponho que discutamos em um fórum os reflexos da pandemia de coronavírus nas 
relações consumeristas. Para tanto, sugiro a leitura da seguinte matéria do JOTA, cujo inteiro teor segue 
abaixo: 
 
 
 
Em tempos de pandemia do coronavírus (COVID-19), tem-se visto, com crescente frequência, situações em 
que os fornecedores de produtos e serviços estão impossibilitados de cumprir com suas obrigações 
contratuais. Casos em que o fornecedor, mesmo que envidasse todos os esforços ao seu alcance, não 
conseguiria fornecer o serviço ou produto contratado. 
 
Esse é o caso, por exemplo, de fornecedor que não consegue entregar o produto final vendido ao 
consumidor, porque o seu fornecedor chinês não entregou os insumos necessários para a elaboração do 
produto final. Ou então o caso de empresa aérea que não consegue transportar os consumidores de 
determinados voos, porque o país de destino fechou as suas fronteiras para estrangeiros. Esse é ainda o caso 
de produtora de eventos que não pode realizar grande show programado há meses, em face de norma estatal 
promulgada recentemente que proíbe a realização de eventos que gerem a aglomeração de mais de 500 
pessoas. 
 
Mas o que acontece nesses e noutros casos? Quais são os direitos (e eventuais deveres) dos consumidores? 
E quais são os deveres (e eventuais direitos) dos fornecedores? O que diz o Código de Defesa do Consumidor 
(CDC)? 
 
A lacunosa regulamentação do CDC 
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/coronavirus-e-o-cdc-o-virus-que-revela-a-vulnerabilidade-da-lei-hospedeira-18032020
Em uma leitura atenta do CDC, nota-se que esses casos não são bem regulados. A principal norma sobre 
descumprimento das obrigações é o art. 35, o qual prevê os direitos do consumidor apenas em caso de “o 
fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação ou publicidade”. Nessa 
hipótese, é facultado ao consumidor, entre outras medidas, “exigir o cumprimento forçado da obrigação”, 
ou “aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente” (art. 35, inc. I e II, CDC). 
 
Acontece que as situações de impossibilidade não configuram hipótese de “recusa do fornecedor” ao 
cumprimento. Nesses casos, o fornecedor não está se recusando a cumprir suas obrigações contratuais. 
Muito pelo contrário. Ele quer fazê-lo. Ele apenas não consegue, como no referido exemplo de vendedor que 
não recebeu os insumos necessários do seu fornecedor chinês. Ou não pode, como no referido caso de 
proibição de eventos que aglomerem pessoas. 
 
O CDC, por outro lado, mais para o seu final, acaba fazendo menção à figura da impossibilidade. No título 
sobre “defesa do consumidor em juízo”, prevê que, “na ação que tenha objeto o cumprimento da obrigação 
de fazer ou não fazer”, será admissível “a conversão da obrigação em perdas e danos”, “se por elas optar o 
autor ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente.” (art. 84, § 1.º, 
CDC). 
 
Essa previsão está sujeita a críticas e questionamentos. Em primeiro lugar, é estranho a sua localização em 
título sobre direito processual. A questão aqui é, sobretudo, de direito material. O problema não é se é 
possível ou não ao juiz garantir a tutela específica, ou seja, se há ou não meios para o juiz constranger o réu 
a cumprir a obrigação, ou garantir-lhe por outra via a satisfação do seu interesse. A questão é, antes de mais, 
de direito material: se o devedor consegue ou não cumprir a sua obrigação e, consequentemente, quais são 
os direitos do credor em cada um desses cenários. Isso tudo se passa normalmente antes e 
independentemente de uma ação judicial. 
 
Além disso, em face desse dispositivo, surgem questões relevantes: por que uma previsão como essa, de 
impossibilidade de cumprimento da obrigação e conversão da obrigação em perdas e danos, refere-se apenas 
às obrigações de fazer e de não fazer e não também às obrigações de dar? E a previsão de impossibilidade 
configura-se apenas no caso de impossibilidade objetiva ou também subjetiva? Apenas de impossibilidade 
definitiva ou também temporária? De impossibilidade superveniente ou também originária? 
 
Um possível argumento para a falta de regulamento para o caso de obrigações de dar, é o fato de o mercado 
de consumo ser formado, na sua grande maioria, por obrigações de dar coisa incerta. Isto é, por obrigações 
genéricas, cujo objeto é determinado pelo gênero e pela quantidade (art. 243, CC). Por exemplo, a compra e 
venda de um iPhone (coisa incerta), em vez da compra e venda do Abaporu, de Tarsila do Amaral (coisa 
certa). E, em relação às obrigações genéricas, vigora tradicionalmente o princípio de que “o gênero nunca 
perece”. Então,como antes da concentração o devedor não pode alegar a perda ou deterioração da coisa 
(art. 246, CC) e, consequentemente, não seria possível ao devedor alegar impossibilidade de cumprimento, 
o legislador poderia ter ficado com a impressão de seria desnecessário e inútil regular a impossibilidade de 
cumprimento nos casos de obrigação de dar. 
 
Mas, se é que esse foi o caso, a percepção não se sustenta. Entre outros motivos, porque a destruição da 
coisa pode se dar depois da sua concentração, de modo que o regramento a ser aplicado é o das obrigações 
de dar coisa certa, no qual a impossibilidade de cumprimento por perda da coisa é tradicionalmente 
conhecida (ver, por exemplo, art. 234, CC). Além disso, apesar de excepcional, é possível que o gênero pereça, 
como na hipótese de expropriação de todas as coisas do gênero pelo Estado. Nesse caso, “o devedor de coisa 
incerta é, assim como o de coisa certa, liberado por impossibilidade jurídica superveniente.” 
 
E quanto aos efeitos, o CDC não prevê a extinção da obrigação, mas a sua conversão em perdas e danos. 
Trata-se então de impossibilidade por culpa do devedor? Esse questionamento impõe-se, pois 
tradicionalmente entende-se que, em caso de impossibilidade não culposa, o devedor não responde por 
perdas e danos. Esse é o caso clássico da impossibilidade por caso fortuito ou de força maior (art. 393, CC). 
Por fim, vale questionar acerca do conteúdo dessas perdas e danos. Trata-se de indenização pelo interesse 
positivo ou pelo negativo? O CDC, infelizmente, não responde a nenhuma dessas questões. 
 
É possível, portanto, concluir que a regulamentação do CDC é lacunosa em relação aos casos de 
impossibilidade de cumprimento. Como, então, resolver esses casos? O CDC não contém dispositivo análogo 
ao art. 8.º, 1.º, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o qual prevê que “o direito comum será fonte 
subsidiária do direito do trabalho”. Nada obstante, a solução de aplicar o CC às relações de consumo é 
justificada por diversas vias: seja pela ideia de “diálogo das fontes”, mais especificamente pela via do diálogo 
da complementaridade e subsidiariedade[2], ou pela interpretação sistemática entre as normas do CDC e do 
CC. 
 
Conclusão 
A pandemia de coronavírus tem gerados um número crescente de casos de impossibilidade de cumprimento 
das obrigações por parte do fornecedor. O CDC, por sua vez, apresenta regulamento extremamente lacunoso 
e mal localizado para lidar com esses casos: dispõe apenas de lacônica regra, em título voltado à tutela 
processual do consumidor, sobre impossibilidade das obrigações de fazer e de não fazer. Entre outras 
possíveis críticas, deve-se censurar a falta de uma regulação mais pormenorizada e que, sobretudo, abarcasse 
as obrigações de dar. 
 
A solução para esse problema é a aplicação do regramento sobre impossibilidade de cumprimento das 
obrigações presente no CC, naquilo que for compatível com o sistema do CDC. Essa solução encontra 
respaldo na teoria do diálogo das fontes, ou na interpretação sistemática das referidas leis. → Vejam que 
aqui temos a previsão do diálogo das fontes. 
 
6. Referências 
 
Doutrina-base 
BAUMAN, ZYGMUNT. A vida para o consumo: a transformação das pessoas em 
mercadoria. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008. 
LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal: ensaio dobre a sociedade de 
hiperconsumo. Lisboa: Edições 70, 2007. 
MARQUES, Claudia Lima. Manual de direito do consumidor. 2. ed. rev., atual. e 
ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. 
TARTUCE, Flávio; NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito do 
consumidor: direito material e processual. 7. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de 
Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018. 
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Direitos do consumidor. 9. ed. ref., rev. e atual. – 
Rio de Janeiro: Forense, 2017. 
Dispositivos legais 
Art. 7º, CDC. 
Art. 5º, XXXII, CF + 178, CF. 
Art. 48, ADCT. 
Jurisprudências Dizer o Direito 
 
https://www.dizerodireito.com.br/

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