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BRUMADINHO II

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a) Houve, no episódio, a ocorrência de algum crime previsto no Código Penal? Qual (is)? Justifique a sua resposta. 
No acidente de Brumadinho, que estourou a barragem do Córrego do Feijão, ocorreu o crime de DOLO EVENTUAL, pois o sujeito (empresa responsável pela barragem do Vale do Rio Doce) não quis matar, senão seria dolo direto. Ele prevê o resultado assumindo os riscos de produzi-lo.
De acordo com o art. 18º do Decreto-Lei 2.848/1.940 – Código Penal:
Diz-se o crime:
I - Doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo;
No dolo eventual, o sujeito prevê o resultado e, embora não o queira propriamente atingi-lo, pouco se importa, com a sua ocorrência (eu não quero, mas se acontecer, para mim tudo bem, não é por causa desse risco que eu vou parar minha conduta – não quero, mas também não me importo com a sua ocorrência).
O doutrinador Edílson Mougenot, divide a redação do inciso I, do art. 18º do CP em duas partes. 
Na primeira parte pode-se ler:
I - DOLOSO, quando o agente “QUIS” o resultado (...);
A doutrina e jurisprudência atribuem a essa redação do Código Penal o conceito de “dolo direto”.
Entenda-se por dolo direto a vontade de realizar a conduta e produzir o resultado. Adota-se a “TEORIA DA VONTADE” para caracterizar o dolo direto, assim se houver vontade e consciência de realizar os elementos constantes no tipo legal. (BONFIM, 2010)
Já na segunda parte do inciso I, do art. 18º do Código Penal:
I - (…) ou “ASSUMIU” o risco de produzi-lo;
A segunda parte é classificada pela doutrina como dolo eventual. No dolo eventual o sujeito não quer matar, senão seria dolo direto. Ele prevê o resultado assumindo os riscos de produzi-lo. (BONFIM, 2010).
Desta forma, trago o entendimento do Supremo Tribunal Federal, quanto a outro caso de dolo eventual similar:
Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM HABEAS CORPUS. HOMICÍDIO DOLOSO (ART. 121, CAPUT, DO CÓDIGO PENAL). CRIME COMETIDO NA CONDUÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR. DOLO EVENTUAL. PRETENDIDA DESCLASSIFICAÇÃO PARA O DELITO PREVISTO NO ART. 302 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO. EXAME DO ELEMENTO VOLITIVO. INVIABILIDADE. 1. Enquanto no dolo eventual o agente tolera a produção do resultado, tanto faz que ocorra ou não; na culpa consciente, ao contrário, o agente não assume o risco nem ele lhe é indiferente. Presente essa controvérsia a respeito do elemento subjetivo, na lição de NELSON HUNGRIA, não é possível pesquisá-lo no 'foro íntimo' do agente, tem-se de inferi-lo das circunstâncias do fato externo. 2. Os autos evidenciam, neste juízo sumário, que a imputação atribuída ao agravante não resultou da aplicação aleatória do dolo eventual. Indicou-se, com efeito, as circunstâncias especiais do caso, notadamente a embriaguez, o excesso de velocidade e a ultrapassagem de semáforo com sinal desfavorável em local movimentado, a indicar a anormalidade da ação, do que defluiu a aparente desconsideração, falta de respeito ou indiferença para com o resultado lesivo. 3. O quadro de circunstâncias descrito não permite identificar qualquer vício apto a justificar, neste momento e nesta estreita via processual, a desclassificação da figura incriminadora. Caberá ao Tribunal do Júri auferir a existência do elemento subjetivo do tipo (dolo ou culpa), pois diretamente ligado ao contexto fático da prática delituosa. 4. Agravo regimental a que se nega provimento. (HC 160500 AgR, Relator(a):  Min. ALEXANDRE DE MORAES, Primeira Turma, julgado em 28/09/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-213 DIVULG 04-10-2018 PUBLIC 05-10-2018)
b) Houve, no episódio, a ocorrência de algum crime previsto na Lei n. 9605/98? Qual (is)? Justifique a sua resposta. 
Desde que em Brumadinho estourou a barragem do Córrego do Feijão, discute-se as várias consequências da tragédia em diversas esferas, principalmente, o ressarcimento dos prejuízos sofridos do ponto de vista da responsabilidade integral pelos quais causou o crime de meio ambiente, o qual está previsto claramente na Lei Federal 9.605/98 como: 
“Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.”
Vimos que a Lei Federal n.º 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 (Lei de Crimes Ambientais), protege o meio ambiente e determina as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente.
Encontramos também descrito no artigo 225 da CF/88, caput, dispõe sobre o reconhecimento do direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, sadio, com extensão ao direito a vida, seja pelo aspecto da própria existência física e saúde dos seres humanos, seja quanto à dignidade desta existência, medida pela qualidade de vida. Este reconhecimento impõe ao Poder Público e à coletividade a responsabilidade pela proteção ambiental. 
Contrário ao que ocorria no passado, a Lei Federal n.º 9.605/98, define a responsabilidade das pessoas jurídicas, permitindo que grandes empresas sejam responsabilizadas criminalmente pelos danos que seus empreendimentos possam causar à natureza. Matar animais continua sendo crime, exceto para saciar a fome do agente ou da sua família; os maus tratos, as experiências dolorosas ou cruéis, o desmatamento não autorizado, a fabricação, venda, transporte ou soltura de balões, hoje são crimes que sujeitam o infrator à prisão.
A pessoa jurídica infratora, Vale do Rio Doce, empresa responsável pela barragem de Brumadinho-MG, violou um direito ambiental, esta não pode ter sua liberdade restringida da mesma forma que uma pessoa comum, mas é sujeita a penalizações. Neste caso, aplicam-se as penas de multa e/ou restritivas de direitos, que são: a suspensão parcial ou total das atividades; interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade; a proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações. 
Também é possível a prestação de serviços à comunidade através de custeio de programas e de projetos ambientais; execução de obras de recuperação de áreas degradadas; contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas.
Tipos de Crimes Ambientais
De acordo com a Lei de Crimes Ambientais (Lei N.º 9.605/98), os crimes ambientais são classificados em 05 tipos diferentes:
1) Contra a fauna (arts. 29 a 37): São as agressões cometidas contra animais silvestres, nativos ou em rota migratória, como a caça, pesca, transporte e a comercialização sem autorização; os maus-tratos; a realização experiências dolorosas ou cruéis com animais quando existe outro meio, independente do fim. Também estão incluídas as agressões aos habitats naturais dos animais, como a modificação, danificação ou destruição de seu ninho, abrigo ou criadouro natural. A introdução de espécimes animal estrangeiras no país sem a devida autorização também é considerado crime ambiental, assim como a morte de espécimes devido à poluição.
2) Contra a flora (art. 38 a 53): Causar destruição ou dano a vegetação de Áreas de Preservação Permanente, em qualquer estágio, ou a Unidades de Conservação; provocar incêndio em mata ou floresta ou fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocá-lo em qualquer área; extração, corte, aquisição, venda, exposição para fins comerciais de madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal sem a devida autorização ou em desacordo com esta; extrair de florestas de domínio público ou de preservação permanente pedra, areia, cal ou qualquer espécie de mineral; impedir ou dificultar a regeneração natural de qualquer forma de vegetação; destruir, danificar, lesar ou maltratar plantas de ornamentação de logradouros públicos ou em propriedade privada alheia; comercializar ou utilizar motosserras sem a devida autorização.
3) Poluição e outros crimes ambientais (art. 54 a 61): Todas as atividades humanas produzem poluentes (lixo, resíduos, e afins), no entanto, apenas será considerado crime ambiental passível de penalização a poluição acima dos limites estabelecidos por lei. Além desta, também é criminosa a poluição que provoqueou possa provocar danos à saúde humana, mortandade de animais e destruição significativa da flora. Assim como, aquela que torne locais impróprios para uso ou ocupação humana, a poluição hídrica que torne necessária a interrupção do abastecimento público e a não adoção de medidas preventivas em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível.
São considerados crimes ambientais a pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem autorização ou em desacordo com a obtida e a não-recuperação da área explorada; a produção, processamento, embalagem, importação, exportação, comercialização, fornecimento, transporte, armazenamento, guarda, abandono ou uso de substâncias tóxicas, perigosas ou nocivas a saúde humana ou em desacordo com as leis; a operação de empreendimentos de potencial poluidor sem licença ambiental ou em desacordo com esta; também se encaixam nesta categoria de crime ambiental a disseminação de doenças, pragas ou espécies que possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora e aos ecossistemas.
4) Contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural (art. 62 a 65): Ambiente é um conceito amplo, que não se limita aos elementos naturais (solo, ar, água, flora, fauna). Na verdade, o meio ambiente é a interação destes, com elementos artificiais -- aqueles formados pelo espaço urbano construído e alterado pelo homem -- e culturais que, juntos, propiciam um desenvolvimento equilibrado da vida. Desta forma, a violação da ordem urbana e/ou da cultura também configura um crime ambiental.
5) Contra a administração ambiental (art. 66 a 69): São as condutas que dificultam ou impedem que o Poder Público exerça a sua função fiscalizadora e protetora do meio ambiente, seja ela praticada por particulares ou por funcionários do próprio Poder Público. Comete crime ambiental o funcionário público que faz afirmação falsa ou enganosa, omitir a verdade, sonegar informações ou dados técnico-científicos em procedimentos de autorização ou de licenciamento ambiental ou aquele que concede licença, autorização ou permissão em desacordo com as normas ambientais, para as atividades, obras ou serviços cuja realização depende de ato autorizativo do Poder Público. 
Desta forma, trago o entendimento do Supremo Tribunal Federal, quanto a outro caso de crime de meio ambiental similar:
EMENTA DIREITO PENAL E PROCESSUAL PENAL. CRIME CONTRA O MEIO AMBIENTE. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. APREENSÃO DE BENS. ART. 25, § 2º, DA LEI Nº 9.605/1998. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. ART. 93, IX, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. NULIDADE. INOCORRÊNCIA. RAZÕES DE DECIDIR EXPLICITADAS PELO ÓRGÃO JURISDICIONAL. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO ART. 5º, LIV E LV, DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. CONTRADITÓRIA E AMPLA DEFESA. DEVIDO PROCESSO LEGAL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. REEXAME DE FATOS E PROVAS. EVENTUAL VIOLAÇÃO REFLEXA DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA NÃO VIABILIZA O RECURSO EXTRAORDINÁRIO. AGRAVO MANEJADO SOB A VIGÊNCIA DO CPC/1973. 1. Inocorrente violação do art. 93, IX, da Constituição Federal. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no sentido de que o referido dispositivo constitucional exige a explicitação, pelo órgão jurisdicional, das razões do seu convencimento. Enfrentadas todas as causas de pedir veiculadas pela parte, capazes de, em tese, influenciar no resultado da demanda, desnecessário o exame detalhado de cada argumento suscitado, considerada a compatibilidade entre o que alegado e o entendimento fixado pelo órgão julgador. 2. A controvérsia, a teor do já asseverado na decisão guerreada, não alcança estatura constitucional. Não há falar em afronta aos preceitos constitucionais indicados nas razões recursais. Compreensão diversa demandaria a análise da legislação infraconstitucional encampada na decisão da Corte de origem, a tornar oblíqua e reflexa eventual ofensa à Constituição, insuscetível, como tal, de viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário. Desatendida a exigência do art. 102, III, “a”, da Lei Maior, nos termos da remansosa jurisprudência desta Suprema Corte. 3. Agravo regimental conhecido e não provido. (ARE 642574 AgR, Relator(a):  Min. ROSA WEBER, Primeira Turma, julgado em 06/11/2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-242 DIVULG 14-11-2018 PUBLIC 16-11-2018)
c) A pessoa jurídica (Vale do Rio Doce) poderá/deverá responder por algum dos crimes acima mencionados (no item a e b)? Por qual (is)? Justifique a sua resposta e aponte quais são as sanções possíveis, nesse caso.
Com certeza deverá responder pelas seguintes Sanções:
Na esfera Penal: DOLO EVENTUAL, uma vez que não pode-se evidenciar que houve culpa do Sujeito (Vale do Rio Doce) dentro da esfera Penal, sendo que não agiu com imprudência em seus atos, ou se seu resultado adveio de negligência ou imperícia, não haverá o que se falar em conduta dolosa, mas sim culposa, pois a barragem I do Vale do 
Rio Doce, que estourou, estava enquadrada na categoria de risco baixo e possuía todas as declarações de estabilidade aplicáveis e passava por constantes auditorias externas e independentes. 
Não havia qualquer indicativo de que a barragem apresentasse problemas que sinalizassem o ocorrido. Havia inspeções quinzenais, reportadas à Agência Nacional de Mineração, sendo a última datada de 21/12/2018. A estrutura passou também por inspeções nos dias 8 e 22 de janeiro deste ano, com registro no sistema de monitoramento da Vale. A Barragem I possuía sistema de vídeo-monitoramento, sistema de alerta por meio de sirenes e cadastramento da população a jusante. Também foi realizado o simulado de emergência em 16 de junho de 2018, sob coordenação das Defesas Civis e com o apoio da Vale, e o treinamento interno com os funcionários em 23 de outubro de 2018. 
Na esfera Ambiental – Responderá uma vez pelos danos violados ao meio ambiente, onde será sujeita a penalizações, como penas de multa ou restrição de seus direitos como:
1) a suspensão parcial ou total das atividades; 
2) interdição temporária de estabelecimento, obra ou atividade; 
3) a proibição de contratar com o Poder Público, bem como dele obter subsídios, subvenções ou doações. 
4) prestação de serviços à comunidade através de custeio de programas e de projetos ambientais; 
5) execução de obras de recuperação de áreas degradadas;
6) contribuições a entidades ambientais ou culturais públicas.
• Trabalho integrante da N1
• Valor: 1.5 pontos
• O presente trabalho deverá ser desenvolvido por grupo de 04 (quatro) alunos.
1) Os alunos deverão pesquisar a respeito do episódio ocorrido em Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019 e, com base nos dados encontrados – as fontes devem ser sempre citadas - deverão responder detalhadamente às seguintes perguntas acima.
02 ) Cada grupo deverá entregar, até o prazo de 08.abril.2019, em sala de aula, por escrito, as respostas das perguntas acima formuladas. Tais respostas deverão trazer, necessariamente, ao menos uma doutrina e um julgado do STJ ou STF.
03) Não será aceito material entregue após a aula do dia 08.abril.2019.
04) Na data de 08 de abril de 2019, em sala de aula, haverá sorteio de pelo menos 04 (quatro) grupos. Tais grupos deverão apresentar o caso de Brumadinho, com detalhes, e responder, também detalhadamente e para todos os colegas e Professora, as questões acima formuladas.
A apresentação oral fará parte da avaliação. O grupo sorteado que não realizar a apresentação, perderá os 1.5 pontos.
REFERÊNCIAS:
1- BONFIM, Edílson Mougenot. Curso de Processo Penal. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2010
2- www.em.com.br/app/noticia/gerais/2019/02/14/interna_gerais,1030597/mais-de-30-horas-depois-vale-envia-mais-respostas-sobre-brumadinho.shtml
3- www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/28289-entenda-a-lei-de-crimes-ambientais/
4- www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28CRIME+DE+MEIO+AMBIENTE%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/ybmt68ot

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