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medidas SÓCIO EDUCATIVA PR_vol1

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ
Centro de Apoio Operacional das Promotorias
da Criança e do Adolescente
REVISTA IGUALDADE
TEMÁTICA:
MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
EM MEIO ABERTO
VOLUME I
Curitiba
Março / 2008
Revista Igualdade - Livro 42
Igualdade - Ano XIV - nº XLII - edição especial
PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA
Milton Riquelme de Macedo
CORREGEDOR-GERAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO
Edison do Rêgo Monteiro Rocha
IGUALDADE - Temática: Medidas Socioeducativas - Livro 42
Publicação do Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança 
e do Adolescente
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Luiz Francisco Fontoura
Cibele Cristina Freitas de Resende
Marcela Marinho Rodrigues
Angela Mendonça - Pedagoga
EDITORAÇÃO, CRIAÇÃO DE E-BOOK (PDF)
Régis Sant’Ana Júnior - Informática MPPR
Os artigos são de responsabilidade 
exclusiva dos autores. É permitida a 
reprodução total ou parcial dos artigos 
desta publicação, desde que seja citada a 
fonte.
Ministério Público do Estado do Paraná
Centro de Apoio Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente
(Sub-sede Marechal)
Av. Marechal Floriano Peixoto, nº 1.251
Rebouças - Curitiba - Paraná
CEP 80230-110
 
Fones (41) 3250-4701 / 4702 / 4725
caopca@pr.gov.br
mailto:caopca@pr.gov.br
EDITORIAL
“Qualquer que seja a posição filosófica ou mesmo 
teológica de alguém, uma sociedade não é o templo dos 
valores-ídolos que figuram na frente de seus 
monumentos ou em seus documentos constitucionais; o 
valor de uma sociedade é o valor que ela confere às 
relações humanas (...). Para compreender e julgar uma 
sociedade, é preciso penetrar na sua estrutura básica até 
o elo humano sobre o qual está construída; isso 
inegavelmente depende das relações legais, mas 
também de formas de trabalho, modos de amar, viver e 
morrer.”
Maurice Merleau-Ponty
Nesta edição temática da Revista Igualdade, o Centro de Apoio 
Operacional da Criança e do Adolescente põe em destaque as “Medidas 
Socioeducativas em Meio Aberto”, na perspectiva de contribuir com os 
operadores do direito, especialmente, a partir do papel do Ministério 
Público, com textos de outras áreas de conhecimento, onde seus autores 
procuram refletir sobre a dinâmica social e o adolescente que pratica um 
ato infracional, com o intuito de estimular o debate sobre os caminhos 
possíveis na efetivação da política de atendimento à população 
adolescente em situação de vulnerabilidade.
Acreditamos que a visão de outras ciências e a atuação sistêmica 
e intersetorial são perspectivas imprescindíveis para o trabalho do 
Ministério Público (e outros integrantes do Sistema de Garantias), para 
que não reste o adolescente em conflito com a lei reduzido ao seu 
comportamento exterior, seja pela prática de um ato anti-social, seja por 
“delinqüir”, por “drogar-se”, cujas atitudes refletem situações complexas e 
multifatoriais, que necessitam ser contextualizadas na perspectiva 
histórica, psíquica e social daquele indivíduo em formação, a quem nos 
cabe orientar positivamente.
i
E a importância desse agir, rápida e eficazmente, é 
cientificamente captada pela médica pediatra Júlia Valéria Ferreira 
Cordellini, especializada em Adolescência, Violência Doméstica e 
Educação em Saúde, no texto de abertura “Adolescência e a Saúde 
Física e Mental”, ao esclarecer que: “O (a) adolescente tem que aprender 
a caminhar com as próprias pernas, pensar por si mesmo(a) e tomar 
decisões que definirão o presente e grande parte da vida adulta. É o 
último momento da vida para aprender e incorporar hábitos, valores e 
comportamentos, que definirão seu código de ser e estar no mundo.”
Lembra a autora também Coutecuisse, quando diz com muita 
propriedade que a adolescência é um conceito, enquanto o adolescente é 
uma pessoa.
Na seqüência, o texto da promotora de justiça Mônica Louise de 
Azevedo, nessa mesma linha de pensamento, contextualiza o papel do 
Ministério Público na execução das medidas socioeducativas, fazendo 
uma reflexão crítica sobre a necessidade de celeridade processual e a 
atuação em rede entre o sistema de justiça e os demais atores do 
sistema de garantia, de forma a alcançar a efetividade das medidas 
aplicadas, dando ênfase à necessidade de fortalecimento das medidas 
em meio aberto, como instrumento de inclusão social.
O sociólogo Pedro Rodolfo Bodê de Moraes e a psicóloga Joyce 
Kelly Pescarolo, por sua vez, apresentam uma abordagem sociológica 
sobre o olhar do mundo adulto em relação à infância e juventude 
brasileira, enquanto o professor Lindomar Wessler Boneti nos auxilia a 
compreender a relação entre políticas públicas e violência no Brasil.
O texto da professora Araci Asinelli-Luz enfatiza os direitos 
fundamentais - educação, cultura, esporte e lazer - relacionando-os às 
políticas prioritárias e ao papel da educação para formação da cidadania, 
trazendo a experiência positiva de inclusão educacional dos 
adolescentes-cidadãos abrigados na Chácara Quatro Pinheiros, em 
Mandirituba/PR, por meio do trabalho realizado em parceria com o 
Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do 
Paraná.
A professora Ana Maria Eyng apresenta o Observatório de 
Violência nas Escolas, o Diagnóstico do Perfil do Adolescente em Conflito 
com a Lei em Curitiba e a pesquisa de Representações de Professores e 
Alunos da Escola Pública sobre o Fenômeno das Violências nas Escolas. 
Ela propõe, também, um esboço de ações futuras de atividades de 
pesquisa e intervenção no sistema educacional na busca da efetivação 
do direito fundamental à educação.
ii
O filósofo e educador Deodato Rivera faz uma reflexão sobre 
socioeducação a partir do paradigma da educação biocêntrica, adotada 
por Humberto Maturana, fundada na biologia do amor, comprometida 
com a evolução da vida e orientada para o restabelecimento das funções 
originais do ser humano: amor, socialização e cooperação.
A escolha dos três textos seguintes deu-se em função da 
necessidade de compartilhar com os leitores a preocupação do CAOPCA 
sobre a ausência de atendimento terapêutico aos adolescentes e suas 
famílias, eis que são poucos os programas socioeducativos que contam 
com este suporte.
Pela impossibilidade de trazer, neste trabalho, o conhecimento de 
todas as linhas de atendimento terapêutico, colacionamos algumas 
experiências que tiveram êxito, sobre as quais tomamos conhecimento 
durante a pesquisa de campo realizada pelo CAOPCA no biênio de 
2006/2007: A psicóloga Rosamary Damasco Padilha realizou 
atendimento de adolescentes encaminhados pela Vara do Adolescente 
Infrator de Curitiba e pela Rede de Ensino, aplicando a técnica de 
mediação sistêmico-integrativa no processo de resolução pacífica de 
conflitos; A psicóloga Maria Clara Jost, que realiza atendimentos de 
adolescentes em conflito com a lei e em situação de vulnerabilidade nos 
estados de Minas Gerais e São Paulo, brinda-nos com um texto reflexivo 
sobre a possibilidade de modificação ser humano adolescente por meio 
do despertar das suas potencialidades na sua dimensão humanística, 
considerando que o ser humano é um todo integrado composto por três 
dimensões: corpórea, psíquica e humanística; A terapeuta de família 
Maria Eneida Fabian Holzmann apresenta a proposta de jogos 
espontâneo-criativos nos processos de desenvolvimento da 
comunicação, autonomia e integração familiar, fundamentada na 
Abordagem Sistêmica na pós-modernidade (Esteves, 2002). Ela, através 
de projeto de pesquisa, no ano de 2003, realizou atendimento de 
adolescentes e seus familiares em unidade de internação no Paraná.
O último artigo desta edição, escrito a quatro mãos por Marcela 
Marinho Rodrigues, promotora de justiça, e Angela Mendonça, pedagoga,ambas lotadas no Centro de Apoio Operacional às Promotorias da 
Criança e do Adolescente, aborda a necessidade de se implementar nos 
programas socioeducativos uma proposta pedagógica capaz de formar o 
adolescente, circunstancialmente em conflito com a lei, para o exercício 
da cidadania, tendo como substrato a educação humanística e a 
compreensão do ser humano adolescente em sua totalidade, que tem 
direito ao desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social.
iii
Agradecemos a todos os autores dos artigos aqui publicados, que 
gentilmente aceitaram fazer parte deste projeto.
No segundo volume da mesma temática e no material de apoio 
constante do CD-ROM “Drogadição - Medidas Socioeducativas”, 
apresentamos alguns caminhos possíveis no sentido de se efetivar o 
princípio da eficiência nas políticas públicas destinadas ao adolescentes 
em conflito com a lei.
Por fim, lembramos que um dos papéis deste Centro de Apoio 
Operacional das Promotorias da Criança e do Adolescente é estar ao 
lado desses vários “heróis invisíveis do cotidiano”, oferecendo o suporte 
técnico necessário e adequado a cada contexto de atuação funcional. 
Esperamos que as concepções ideológicas e filosóficas apresentadas 
nesta revista possam inspirar novas percepções e formas de agir, 
significando mudanças conjuntas, para fazer sempre melhor o que já 
fizemos antes.
iv
ÍNDICE
EDITORIAL
ÍNDICE
ÍNDICE POR AUTOR
ADOLESCÊNCIA E A SAÚDE FÍSICA E MENTAL
(Júlia Valéria Ferreira Cordellini)
UM POUCO DE HISTÓRIA
ALGUNS CONCEITOS
Adolescência...
Juventude...
Puberdade
A Puberdade Feminina
A Puberdade Masculina
ÉTICA NA CONSULTA DO ADOLESCENTE
ATENÇÃO INTEGRAL PARA UMA SAÚDE INTEGRAL
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
O MINISTÉRIO PÚBLICO E A EXECUÇÃO DAS MEDIDAS 
SOCIOEDUCATIVAS
(Mônica Louise de Azevedo)
1. INTRODUÇÃO
2. DIRETRIZES PARA A ATUAÇÃO NA EFETIVAÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS EM 
MEIO ABERTO
2.1 Atuação integrada do Ministério Público com os órgãos 
executores das medidas: as equipes multidisciplinares, 
os Centros de Referência e os Conselhos Tutelares.
2.2 Garantia da participação da família, da comunidade 
escolar e do mundo do trabalho na execução das 
medidas socioeducativas
2.3 Atuação integrada do Ministério Público com a rede de 
atendimento às crianças e adolescentes, bem como a 
articulação com os diversos conselhos de defesa de 
direitos, nas três esferas de governo
3. CONCLUSÕES
v
QUEM TEM MEDO DOS JOVENS?
(Pedro Rodolfo Bodê de Moraes e Joyce Kelly Pescarolo)
INTRODUÇÃO
DEFININDO JUVENTUDE
A NEGAÇÃO DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE: O MENOR
AUTORIDADE, AUTORITARISMO E LIMITES
PRECARIZAÇÃO, ESVAZIAMENTO INSTITUCIONAL ECRISES DE AUTORIDADE
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANEXO - TABELA 1
POLÍTICAS PÚBLICAS E VIOLÊNCIA NO BRASIL
(Lindomar Wessler Boneti)
INTRODUÇÃO
ESTADO, CLASSES SOCIAIS E POLÍTICAS PÚBLICAS
A GÊNESE E OS PRINCÍPIOS E DETERMINANTESQUE FUNDAMENTAM A AÇÃO PÚBLICA
OS AGENTES DETERMINANTES NA ELABORAÇÃO EIMPLEMENTAÇÃO DAS POLÍTICAS 
PÚBLICAS
ENFIM, COMO DEFINIR UMA POLÍTICA PÚBLICA?
AS POLÍTICAS SOCIAIS E VIOLÊNCIA NO BRASIL
POLÍTICAS SOCIAIS E VIOLÊNCIA NO BRASIL
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DO DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA, AO ESPORTE E AO LAZER
(Araci Asinelli-Luz)
INTRODUÇÃO
Tabela 1: Política de atendimentoda criança e do adolescente
CONTEXTUALIZANDO O DIREITO À EDUCAÇÃO, À CULTURA,AO ESPORTE E AO LAZER
Tabela 2: Artigos relacionados ao Direito à Educação, à 
Cultura, ao Esporte e ao Lazer presentes na 
legislação.
VIOLAÇÃO DE DIREITOS RELATIVOS À EDUCAÇÃO,À CULTURA, AO ESPORTE E AO LAZER
UMA EXPERIÊNCIA CONCRETA DO DIREITO EDUCAÇÃO,À CULTURA, AO ESPORTE E AO 
LAZER:A CHÁCARA DOS MENINOS DE QUATRO PINHEIROS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
vi
OBSERVATÓRIO DAS VIOLÊNCIAS NAS ESCOLAS PUCPR: 
PESQUISA E INTERVENÇÃO
(Ana Maria Eyng)
1. CONTEXTUALIZAÇÃO
2. PROJETOS DESENVOLVIDOS PELO OBSERVATÓRIO DAS VIOLÊNCIAS NAS ESCOLAS 
PUCPR
2.1 Considerações iniciais sobre o tema em estudo
2.2 O perfil do adolescente em conflito com a lei
Caracterização dos Adolescentes em conflito com a lei
Caracterização do Ato Infracional
Adolescentes em conflito com a lei e a Escola
Inclusão social dos Adolescentes em conflito com a lei
Questões que merecem destaque
2.3 Representações de professores e alunos da escola 
pública sobre o fenômeno das violências nas escolas
Dados da pesquisa sobre representações
Significado de escola
Significado de professor
Significado de aluno
Significado de adolescente
Significado de violência nas escolas
Apontamentos para continuar a reflexão
3. ESBOÇO DAS AÇÕES FUTURAS
4. OBSERVATÓRIO DE VIOLÊNCIAS NAS ESCOLAS- BRASIL / PUCPR - PARANÁ
Por que Observatório de Violências nas Escolas- Brasil e 
Estado do Paraná?
Funcionamento do Observatório das Violências nas Escolas- 
Brasil / PUCPR - Paraná
Público-Alvo
Objetivo geral do observatório
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
O ERRO DE ARISTÓTELES
(Deodato Rivera)
INTRODUÇÃO
PARTE I 
O PARADIGMA BIOCÊNTRICO
1. POR QUE MATURANA?
2. POR UMA EDUCAÇÃO BIOCÊNTRICA
3. O OLHAR BIOCÊNTRICO NA SOCIOEDUCAÇÃO
vii
4. O ERRO DE ARISTÓTELES:“ZOON POLITIKON” É... O CHIMPANZÉ!
5. A BIOLOGIA DO AMOR DE HUMBERTO MATURANA
6. A SOCIOEDUCAÇÃO COMO EDUCAÇÃO PARA A PAZ
7. A BIOLOGIA DO AMOR NA EDUCAÇÃO ESCOLAR CHILENA
PARTE II 
A RELEVÂNCIA SOCIAL DOS SOCIOEDUCADORES
8. ESPECIALISTAS EM RECUPERABILIDADE HUMANA
9. SETE PERGUNTAS PARA OS SOCIOEDUCADORES
10. CONCLUSÃO
Concluindo
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PARTE III
ANEXOS
A -REPERTÓRIO
A.1 - UMA SÍNTESE DA BIOLOGIA DO AMOR DE MATURANA,SOB A ÓTICA DO 
CUIDADO, POR LEONARDO BOFF
Ressonâncias do cuidado
O amor como fenômeno biológico
A.2 - 67 PROPOSIÇÕES DE HUMBERTO MATURANASOBRE A BIOLOGIA DO AMOR
B -TESTEMUNHOS
B.1 -REFLEXÃO E PROPOSTA DE AÇÃO+ COMENTÁRIOS DOS ORGANIZADORES
Reflexão e proposta de ação
Comentários
Testemunho n. 1
Testemunho n. 2
Testemunho n. 3
Testemunho n. 4
Testemunho n. 5
Testemunho n. 6
A MEDIAÇÃO SISTÊMICO-INTEGRATIVANA EDUCAÇÃO E NO 
JUDICIÁRIO
(Rosemary Damaso Padilha)
1. INTRODUÇÃO
2. ATENDIMENTOS
3. METODOLOGIA
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
viii
ADOLESCÊNCIAS EM CONFLITO
(Maria Clara Jost)
COMO DESENVOLVER FAMÍLIAS
(Maria Eneida Fabian Holzmann)
CICLO VITAL DA FAMÍLIA
O QUE SE PODE FAZER?
FAMÍLIA NUCLEAR, FAMÍLIA EXTENSA E FAMÍLIA SUBSTITUTA
JOGOS ESPONTÂNEO-CRIATIVOS NOS PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO DA 
COMUNICAÇÃO, AUTONOMIA E INTEGRAÇÃO
Proposta de intervenção sistêmica para famílias de risco
Pressupostos
Eixos da proposta
1. Eixo Norteador
2. Eixo Dialógico
3. Eixo Histórico
IDÉIAS PARA O PLANEJAMENTO
Algumas Estratégias (ação-reflexão) no caminhar do processo
Tempos dos encontros
Possíveis Jogos-tema ou jogos dinamizadores de desenvolvimento
Postura do coordenador (facilitador, potencializador) e equipe
Avaliação - Acompanhamento (refletir sobre)
Uma proposta possível
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALGUMAS REFLEXÕES ACERCA DA SOCIOEDUCAÇÃO
(Marcela Marinho Rodrigues e Angela Mendonça)
1. EDUCAÇÃO HUMANÍSTICA
2. PARTICIPAÇÃO POLÍTICA
3. EDUCAÇÃO PELOS SENTIDOS
4. DIREITO AO DESENVOLVIMENTO ESPIRITUAL
5. COMUNICAÇÃO
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ix
ÍNDICE POR AUTOR
ANA MARIA EYNG (Pedagoga)
Observatório das violências nas escolas PUCPR:
pesquisa e intervenção
ANGELA MENDONÇA (Pedagoga)
Algumas reflexões acerca da socioeducação
ARACI ASINELLI-LUZ (Doutora em Educação)
Do direito à educação, à cultura, ao esporte e ao lazer
DEODATO RIVERA (Filósofo)
O erro de Aristóteles
JOYCE KELLY PESCAROLO (Psicóloga)
Quem tem medo dos jovens?
JÚLIA VALÉRIA FERREIRA CORDELLINI (Médica Pediatra)
Adolescência e a saúde física e mental
LINDOMAR WESSLER BONETI (Sociólogo)
Políticas públicas e violência no Brasil
MARCELA MARINHO RODRIGUES (Promotora de Justiça)
Algumas reflexões acerca da socioeducação
MARIA CLARA JOST (Psicóloga)
Adolescências em conflitoMARIA ENEIDA FABIAN HOLZMANN (Pedagoga)
Como desenvolver famílias
MÔNICA LOUISE DE AZEVEDO (Promotora de Justiça)
O Ministério Público e a execução das medidas socioeducativas
PEDRO RODOLFO BODÊ DE MORAES (Sociólogo)
Quem tem medo dos jovens?
ROSEMARY DAMASO PADILHA (Psicóloga)
A mediação sistêmico-integrativa na Educação e no Judiciário
x
ADOLESCÊNCIA E A SAÚDE FÍSICA E MENTAL
Júlia Valéria Ferreira Cordellini*
UM POUCO DE HISTÓRIA
O conceito da adolescência como categoria social, é recente na 
história das sociedades ocidentais, apesar de haver relatos seculares 
sobre a juventude, como o de Hesíodo, poeta épico da Grécia, no século 
VIII a.C. que encarava a juventude com ironia e severidade:
“Não vejo esperança para o futuro de nosso povo se ele 
depender da frívola mocidade de hoje, pois todos os 
jovens são indizivelmente frívolos... Quando eu era 
menino, ensinavam-nos a ser discretos e a respeitar os 
mais velhos, mas os moços de hoje são excessivamente 
sabidos e não toleram restrições.”
Na Idade Média e Renascimento não houve qualquer contribuição 
aos problemas da adolescência e juventude. No período romântico, Jean-
Jacques Rousseau (1712-1778), afirma em Emílio que a adolescência 
seria o segundo nascimento e, em 1904, StanleyHall escreve livro em 
dois volumes sob o título: Adolescência - sua psicologia e relações com a 
fisiologia, antropologia, sociologia, sexo, crime, religião e educação. Foi 
* Médica Pediatra com especialização em Adolescência, Violência 
Doméstica e Educação em Saúde. Coordenadora Municipal do 
Programa Adolescente Saudável da Secretaria Municipal da Saúde - 
SMS, de Curitiba.
Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba:
Rua Francisco Torres, nº 830 - 7º andar - Ed. Laucas
Centro - Curitiba - PR - CEP 80060-130
e-mail: adolescente@sms.curitiba.pr.gov.br
Fones: (41) 3350-9436 Fax: (41) 3350-9498
1
ele quem empregou pela primeira vez o termo adolescência com 
conotação médica.
A primeira referência a um serviço de adolescência data de 1918, 
na Faculdade de Medicina de Stafford, em que já se esboçava a 
preocupação com o aspecto multiprofissional do tema. Na América Latina 
o serviço pioneiro foi fundado em 1958, na cidade de Buenos Aires 
(Argentina). No Brasil, desde 1960, muitos pediatras já atendiam 
adolescentes em seus consultórios e, em 1962, surge no Departamento 
de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo 
(FMUSP) o primeiro serviço multidisciplinar, com a proposta curativa, mas 
também visando à promoção de saúde e a prevenção de agravos. Quase 
que simultaneamente surgem mais dois serviços, no Rio de Janeiro e 
outro na Santa Casa de São Paulo. Na atualidade, o atendimento ao 
adolescente vem ganhando cada vez mais adeptos, em várias 
especialidades médicas, e também em outras áreas, como na psicologia, 
educação, sociologia, assistência social, direito, odontologia e outras.
ALGUNS CONCEITOS
Adolescência...
A palavra “adolescente” vem do latim adulescere, que significa 
crescer, desenvolver, aumentar, tornar-se maior.
O conceito de adolescência engloba não só as transformações 
físicas, mas também o processo de mudança e adaptação psicológica, 
familiar e social a essas transformações.
Nenhuma definição é totalmente satisfatória, e os critérios mais 
conhecidos são os seguintes:
● Critério Cronológico : período da vida humana que se estende 
dos 10 aos 20 anos. (Hurlock, 1961)
● Critério de Desenvolvimento Físico : adolescência começa com 
a primeira manifestação da puberdade e termina no momento 
em que o desenvolvimento físico está quase concluído. 
(English, 1958)
● Critério Sociológico : é o período da vida em que a sociedade 
deixa de encarar o indivíduo como criança, mas não lhe 
confere plenamente o status de adulto, nem em seus papéis e 
nem em suas funções. (Hollingshead,1963)
2
● Critério Psicológico : é o período de extensa reorganização da 
personalidade que resulta de mudanças no status biossocial 
entre a infância e a idade adulta. (Ausubel,1954)
Há também outras definições que englobam mais de um critério 
e, entre os autores brasileiros, cito:
● Colli que define esse importante período da vida como sendo 
de transição entre a infância e a idade adulta, caracterizando-
se por intenso crescimento e desenvolvimento que se 
manifesta por marcantes transformações anatômicas, 
fisiológicas, mentais e sociais.
● Mielnik que caracteriza a adolescência como fase crítica e 
tormentosa, agitada e frenética, ao mesmo tempo terna e 
melancólica, solitária e intensamente social, excitada e 
deprimida e que se situa entre infância e meninice que se 
abandona e o ponto longínquo, inseguro e mal visualizado da 
idade adulta que se almeja como objetivo.
Do ponto de vista cronológico, a Organização Mundial da Saúde 
(1977), define adolescência como sendo a faixa etária de 10 a 19 anos 
completos. Esta também é a faixa etária que o Ministério da Saúde e a 
Sociedade Brasileira de Pediatria consideram como adolescentes. Já o 
Estatuto da Criança e do Adolescente delimita entre 12 e 18 anos.
Costuma-se também subdividir a adolescência em três grupos: 
adolescência inicial (de 10 a 14 anos), adolescência média (de 15 a 17 
anos) e adolescência final ou plena (de 17 a 20 anos incompletos).
Em cada um desses grupos há tarefas a serem vencidas e 
incorporadas para que o desenvolvimento psicossocial do adolescente 
aconteça, tais como: formação gradativa da independência, da imagem 
corporal, da vivência em grupo e formação da identidade.
A adolescência inicial é marcada pelo rápido crescimento e pela 
entrada na puberdade; a adolescência média caracteriza-se pelo 
desenvolvimento intelectual e pela maior valorização do grupo e na 
adolescência final consolidam-se as etapas anteriores e o adolescente 
prepara-se para assumir o mundo adulto. Se todas as transformações 
tiverem ocorrido conforme previsto na fase inicial e média, incluindo a 
presença de um suporte familiar e do grupo de iguais, o adolescente 
estará pronto para as responsabilidades da idade adulta. Caso as tarefas 
de cada fase não tenham sido completadas, problemas como depressão 
e outras desordens emocionais poderão desenvolver-se.
3
DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL DO ADOLESCENTE
Tarefas Adolescência
Inicial
Adolescência
Média
Adolescência
Final
Independência Diminui interesse 
pelas atividades 
com os pais.
Conflito com os 
pais.
Reaceitação dos 
valores parentais.
Imagem corporal Preocupação 
consigo e com as 
mudanças puberais.
Insegurança acerca 
da aparência.
Aceitação do corpo.
Preocupação em 
torná-lo mais 
atraente.
Aceitação das 
mudanças 
puberais.
Grupo Relação intensa 
com amigos do 
mesmo sexo.
Comportamento 
conforme valores 
do grupo.
Atividade sexual e 
experimentação.
Valores dos pares 
menos importantes.
Mais tempo em 
relações íntimas.
Identidade Desenvolvimento da 
inteligência. 
Aumenta o mundo 
da fantasia.
Vocação idealizada.
Aumenta a 
necessidade de 
privacidade.
Impulsividade.
Desenvolvimento 
da habilidade 
intelectual.
Onipotência.
Comportamentos 
de risco.
Vocação realista e 
prática.
Refinamento dos 
valores sexuais, 
religiosos e morais.
Habilidades para 
assumir 
compromisso e 
para aceitar limites.
Fonte: Neinstein L.S. Adolescent Health Care. A pratical guide. Third Edition, 
1996
A tarefa mais importante a ser construída, pelo adolescente, ao 
longo desse ciclo da vida, é a formação da identidade pessoal, sexual e 
profissional, que dará a cada um a possibilidade de ser único (a). É 
necessário aprender a se conhecer dentro deste novo corpo e cabeça, 
valorizar suas qualidades e respeitar seus limites, para melhor se cuidar e 
fazer escolhas. As escolhas são feitas baseadas nos valores de cada 
pessoa, mas sofre influência do ambiente em que se vive, dos amigos,da 
mídia e até de como está a auto-estima e a auto-imagem naquele 
momento.
O (a) adolescente tem que aprender a caminhar com as próprias 
pernas, pensar por si mesmo(a) e tomar decisões que definirão o 
presente e grande parte da vida adulta. É o último momento da vida para 
aprender e incorporar hábitos, valores e comportamentos, que definirão 
seu código de ser e estar no mundo.
4
No início deste período é comum certa dificuldade de 
relacionamento com os adultos próximos e até consigo mesmo, pois 
ambos precisam deixar para trás algumas coisas da fase infantil, se 
conhecerem de novo e aprenderem a dialogar sem agressões, flexibilizar, 
negociar novas regras e limites de funcionamento do que for possível, 
para lidar com os desafios cotidianos dessa década de vida.
É normal que o adolescente tenha flutuações do humor, fique 
inseguro, triste sem saber bem por que, tenha dúvidas, medos, e se sinta 
diferente ou mal-compreendido, até por seus amigos e familiares. 
Também é normal ficar alegre de repente e achar que pode dar conta de 
tudo.
A delimitação final da adolescência, tanto na teoria como na 
prática, não permite critérios rígidos.
Segundo Osório (1989), há alguns indícios que assinalam o 
término da adolescência: “(1) Estabelecimento de uma identidade sexual 
e possibilidade de estabelecer relações afetivas estáveis; (2) capacidade 
de assumir compromissos profissionais e de se manter (“independência 
econômica”); (3) aquisição de um sistema de valores pessoais (“moral 
própria”) e (4) relação de reciprocidade com a geração precedente (sobre 
tudo com os pais)”. Enfim, a adolescência termina quando o indivíduo 
mostra-se capaz de assumir, no seu grupo social, os papéis reconhecidos 
como próprios dos adultos.
Essas mudanças e adaptações acontecem de maneira 
diferenciada para cada pessoa, de acordo com a herança genética, sexo, 
condições alimentares, ambientais educacionais e culturais. Por isso, é 
importante lembrar o que diz Courtecuisse: a adolescência é um 
conceito, enquanto o adolescente é uma pessoa.
Juventude...
O conceito de juventude também é relativo. O relatório da 
Organização das Nações Unidas, “Relatório sobre a Juventude”, de 1973, 
considera como jovens as pessoas entre 15 e 25 anos. Deve-se levar em 
conta que as modificações da puberdade, embora ocorram em idades 
variáveis, estão sujeitas a determinismos biológicos, pouco modificáveis. 
Entretanto, durante a adolescência, e em menor escala na juventude e 
maturidade, o indivíduo estará sujeito a fatores sociais, psicológicos, 
afetivos, econômicos, culturais, étnicos, religiosos, etc., que agirão em 
menor ou maior intensidade sobre a formação de sua autonomia 
econômica, social e a independência familiar, que o levarão para a vida e 
identidade adulta.
5
Puberdade
As modificações do corpo constituem a parte da adolescência 
denominada puberdade. Etimologicamente, está relacionada à pilosidade 
e o termo puberdade se origina do latim pubertas - idade fértil, 
caracterizada pela capacidade reprodutiva, aspecto importante do 
processo adolescente.
Há dois grandes grupos de fatores que atuam no crescimento e 
desenvolvimento físico: fatores endógenos, que incluem os componentes 
genéticos e neuroendócrinos e os fatores exógenos, que incluem fatores 
ambientais e nutricionais.
A puberdade inicia na grande maioria dos casos entre 8 e 12 
anos na menina e entre 10 e 14 anos no menino. Há duas situações que 
merecem cuidados e intervenção especializada. São elas: a Puberdade 
Precoce, que é definida pelo aparecimento dos caracteres sexuais 
secundários antes dos 8 anos no sexo feminino e antes dos 10 anos no 
sexo masculino; e o Retardo Puberal, quando não houver qualquer sinal 
de puberdade até os 15 anos na menina e até os 16 anos no rapaz.
As principais manifestações da puberdade, segundo Marshall & 
Tanner são: crescimento rápido, desenvolvimento das gônadas, 
desenvolvimento dos órgãos reprodutivos e aparecimento dos caracteres 
sexuais secundários; mudanças na composição corporal e 
desenvolvimento dos sistemas circulatório e respiratório.
Entretanto, existem variações entre os adolescentes em relação à 
duração e a época em que estas mudanças ocorrem, afinal as pessoas 
são diferentes, sendo normais as variações até dentro de uma mesma 
família. De um modo geral, as meninas levam em torno de 2 a 3 anos 
para terminar as mudanças físicas e os meninos por volta de 5 anos.
Na puberdade, os adolescentes ganham cerca de 20% de sua 
estatura final e 50% de seu peso adulto. Ao rápido crescimento em 
estatura, característico desta fase, dá-se o nome de estirão puberal.
O crânio também participa do estirão puberal. Cresce o globo 
ocular e ocorre com freqüência o aparecimento de miopia. Aspecto 
importante a ser monitorado no adolescente escolar.
No sexo masculino é mais marcante o crescimento da fronte, do 
nariz, da mandíbula e do maxilar superior, assim a má oclusão dentária 
pode se acentuar nesta fase, facilitando o aparecimento ou acentuando 
uma queixa de cefaléia (dor de cabeça).
O crescimento do tronco, embora ocorra depois do crescimento 
dos membros, contribui com a maior parcela da altura, aumentando a 
6
relação tronco/membro. Na prática, é neste momento que se 
estabelecem e/ou se agravam os desvios da coluna (escoliose do 
adolescente, cifose juvenil, lordose), devendo este crescimento e postura 
serem monitorados, pois uma intervenção precoce, permite resultados de 
cura mais rápido e eficaz.
O pico de velocidade de crescimento nas meninas ocorre por 
volta dos 11 a 12 anos e entre 13 e 14 anos nos meninos, momento 
importante para observação das questões alimentares, postura, 
adequações das práticas esportivas, entre outras.
Ao final da puberdade, que varia de acordo com o sexo, genética 
e condições ambientais, o crescimento esquelético está concluído, o que 
se constata pela soldadura das cartilagens de conjugação dos ossos 
longos. O amadurecimento gonadal também está completo possibilitando 
o exercício da função reprodutiva.
A Puberdade Feminina
A primeira manifestação visível de puberdade na maioria das 
meninas é o surgimento do broto mamário, em média aos 9,7 anos. Este 
fenômeno é chamado de telarca.
O broto mamário pode de início ser doloroso e unilateral, 
demorando cerca de 6 meses para o crescimento da outra mama. É 
importante que a menina aprenda e acostume-se a examinar seus seios 
mensalmente, sendo um bom período para este auto-exame, 7 dias após 
a menstruação.
Geralmente cerca de 6 meses após a telarca surge a pubarca ou 
adrenarca que é o aparecimento dos pêlos pubianos.
Os pêlos axilares se iniciam em média aos 10,4 anos, 
acompanhados pelo desenvolvimento das glândulas sudoríparas que 
trazem o odor característico do adulto. Momento importante para 
orientações gerais de higiene pessoal.
É freqüente corrimento vaginal claro nos 6 a 12 meses que 
antecedem a primeira menstruação, conhecida como menarca, fato 
marcante da puberdade feminina. A idade média da menarca em nosso 
meio é de 12,2 anos, mas pode ocorrer entre 9 e 16 anos.
Se ocorrer antes dos 9 anos, ou se aos 14 anos ainda não tiver 
iniciado o crescimento dos seios e de penugens embaixo dos braços e no 
púbis, é indicado que se procure um médico para uma consulta. Os 
primeiros ciclos menstruais são geralmente anovulatórios e irregulares, 
podendo esta irregularidade permanecer por até 2 ou 3 anos. O ciclo 
menstrual normal tem um intervalo que varia de 21 a 36 dias, e uma 
7
duração entre 3 a 7 dias.
As adolescentes ainda crescem em média 4 a 6 cm nos 2 ou 3 
anos pós-menarca.
A pele fica mais oleosa, facilitando o aparecimento de espinhas, 
que não devem ser espremidas.Se a adolescente se sentir incomodada 
com isso ou as espinhas forem muitas, deve procurar uma consulta 
médica.
A Puberdade Masculina
A primeira manifestação da puberdade no sexo masculino é o 
aumento do volume testicular em média aos 10,9 anos. O saco escrotal 
torna-se mais baixo e alongado, mais solto e enrugado. O crescimento 
peniano começa em geral, um ano após o crescimento dos testículos. 
Primeiro o pênis cresce em tamanho e depois em diâmetro. Quando o 
adolescente termina sua fase de crescimento seu pênis atinge em média 
15 cm, quando ereto. Este tamanho pode variar de 2 a 3 cm para mais ou 
para menos. Quando se encontra flácido, as variações são maiores.
Os pêlos pubianos aparecem em torno dos 11,3 anos; os pêlos 
axilares, em média aos 12,9 anos; e os pêlos faciais e do restante do 
corpo ocorrem em média aos 14,5 anos.
A idade da primeira ejaculação, conhecido como semenarca ou 
espermarca, ocorre em média aos 12,8 anos. Geralmente ocorre também 
a polução noturna, ou seja, a ejaculação involuntária de sêmen quando o 
adolescente está dormindo, decorrente de um estímulo cerebral para 
sonhos eróticos que levam ao orgasmo. É um evento fisiológico normal, 
mas às vezes causa constrangimentos e dúvidas aos adolescentes e 
seus familiares, que devem ser orientados e tranqüilizados pelo 
profissional de saúde.
A mudança da voz, ora afina ora engrossa, ocorre tardiamente.
A ginecomastia puberal (aumento do tecido mamário) ocorre em 
grande parte dos adolescentes masculinos. É freqüentemente bilateral, 
em consistência firme e móvel e, às vezes dolorosa. De acordo com o 
diâmetro, classifica-se em: grau I de 1 a 2 cm; grau II de 2 a 4 cm, e grau 
III de 5 cm em diante.
Inicia-se geralmente entre 13 e 14 anos. Regride 
espontaneamente em cerca de 6 a 8 meses. Quando não involui em 24 
meses, deverá ser avaliado pelo cirurgião plástico. Em geral são casos 
de macroginecosmatia (grau III), ou aquelas persistentes e que podem 
está interferindo com a auto-estima do adolescente.
8
A ginecomastia de causa patológica (por drogas, endocrinopatias, 
tumores ou doenças crônicas), embora rara, deve ser pensada se ocorrer 
antes ou ao término da maturação sexual, devendo ser cuidadosamente 
avaliada e/ou encaminhada para especialista.
A pele fica mais oleosa, facilitando o aparecimento de espinhas, 
que não devem ser espremidas. Se o adolescente se sentir incomodado 
com isso, ou as espinhas forem muitas, deve procurar uma consulta 
médica.
É importante relatar que os profissionais de saúde contam com 
uma ferramenta, conhecida por Tabela de Tanner, que permite classificar 
e acompanhar o desenvolvimento da maturação sexual dos adolescentes 
de ambos os sexos.
Na prática, por que é importante conhecer os estágios puberais?
● Porque é um instrumento para acompanhamento do 
desenvolvimento sexual do adolescente.
● Devido à grande variação da idade de início e da velocidade 
de progressão da maturação sexual, a idade cronológica tem 
pouca importância como parâmetro isolado na avaliação do 
crescimento e desenvolvimento do adolescente.
● Observa-se relação direta entre os estágios de maturação 
sexual e o momento de crescimento e desenvolvimento físico.
● O acompanhamento sistemático da maturação sexual cria 
oportunidades para esclarecer as dúvidas do adolescente 
quanto às mudanças ocorridas e de orientá-lo sobre sua 
saúde sexual e reprodutiva.
Quando os adolescentes conhecem bem o seu corpo, passam a 
entender melhor como acontece a reprodução humana, a beleza e o 
prazer de uma relação sexual saudável e responsável. Destaforma, vai 
ficando mais fácil realizar um auto-cuidado mais adequado, em relação a 
sua saúde física e mental, e conseqüentemente, diminuindo os riscos e 
agravos na vida diária.
ÉTICA NA CONSULTA DO ADOLESCENTE
Os Princípios Fundamentais na Atenção a Adolescentes são:
Ética - a relação profissional de saúde com os adolescentes e 
jovens deve ser pautada pelos princípios de respeito, autonomia e 
liberdade, prescritos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e pelos 
9
Códigos de Ética das diferentes categorias. Ética não é sinônimo de 
moral ou valores religiosos mas de ethos - costumes - comportamentos 
que se tornam normativos para determinado grupo social, procurando 
conferir-lhe um caráter nacional e universal que ultrapassa a 
arbitrariedade individual.
Privacidade - adolescentes e jovens podem ser atendidos 
sozinhos, caso desejem, independente da idade, em um espaço privado 
de consulta, em que são reconhecidas sua autonomia e individualidade, e 
será estimulada sua responsabilidade crescente com a sua saúde 
integral. Privacidade, no entanto, não significa diminuição da 
responsabilidade familiar ou sonegação do direito dos pais de participar 
das vivências do adolescente. É importante que se estabeleça, num 
momento adequado, uma relação pactuada e esclarecida entre o médico, 
enfermeiro, a família e o adolescente.
Devem ser consideradas as situações de exceção como déficit 
intelectual importante, falta de crítica (alguns distúrbios psiquiátricos, 
toxicomania, etc), desejo do adolescente de não ficar só, entre outras.
A privacidade não está, obrigatoriamente, ligada à 
confidencialidade.
Confidencialidade e Sigilo - adolescentes e jovens devem ter 
garantido o direito ao sigilo das informações obtidas durante atendimento 
de saúde. A quebra do sigilo deve ser feita sempre que houver risco de 
vida ou outros riscos relevantes tanto para o cliente quanto para terceiros, 
a exemplo de situações como abuso ou exploração sexual, risco ou 
tentativa de suicídio, risco ou tentativa de aborto, informações de 
homicídios, dependência de drogas, gravidez e outros. Nestes casos, a 
necessidade da quebra de sigilo deverá ser comunicada ao adolescente 
e a maneira e o momento de tal revelação aos pais ou responsáveis 
legais deverão ser individualizados a cada situação. O Artigo 102 do 
Código de Ética Médica (CEM) informa que “é vedado ao médico revelar 
fato que tenha conhecimento em virtude do exercício de sua profissão, 
salvo por justa causa, dever legal ou autorização expressa do paciente”.
O princípio da confidencialidade é relativo ao nível de maturidade, 
autonomia e risco do adolescente e estes aspectos devem ser avaliados 
em conjunto com o adolescente. Tanto a aderência cega à 
confidencialidade como a ausência total da mesma são comportamentos 
indesejáveis para a ética e para a lei.
10
“Garantir o acesso do adolescente à consulta é um ato de 
acolhimento e humanização das equipes de saúde e de 
respeito aos princípios do Sistema Único de Saúde.”
Júlia V. F. Cordellini, 2006
ATENÇÃO INTEGRAL PARA UMA SAÚDE INTEGRAL
O resgate da responsabilidade das diversas instituições, 
governamentais e não-governamentais, da família e do próprio 
adolescente são recursos de estratégias indispensáveis na promoção da 
saúde e prevenção de agravos, possibilitando uma assistência integral. 
Há que se trabalhar cada vez mais na construção de redes de prevenção 
e parceria que diminuam as vulnerabilidades dos nossos adolescentes e 
jovens, nos seus diferentes espaços de convivência.
É necessária a criação de diferentes intervenções em saúde, 
educação, esporte e lazer, cultura, oficinas profissionalizantes, estágios 
em empresas, entre outras, que propiciem ao adolescente espaço para 
um aprendizado reflexivo, onde ele comece a se perceber como um 
cidadão de direitos e deveres, fazendo parte da solução dos problemas 
pessoais, do seu grupo de amigos, da escola e da comunidade.
É necessário sensibilizar e capacitar os adultos próximos 
(profissionais da saúde, educação, assistência social, do direito, 
familiares e outros) para que conhecendo as especificidades dos 
adolescentese jovens, haja uma parceria dinâmica e solidária, com 
respeito às diferenças e de crescimento para todos.
É necessário reaprendermos a escutar, dialogar, termos atitudes 
de não-exclusão, não-omissão, e não-indiferença, principalmente perante 
os mais vulneráveis. É preciso ter uma imagem positiva do 
adolescente/jovem a começar pelas nossas casas.
É necessário uma inclusão real e ampla de adolescentes e 
jovens, a começar pela família, nos diferentes níveis sociais. Há que se 
firmar uma política de inclusão educacional, econômica, social e digital 
voltada principalmente aos menos escolarizados, de poder 
socioeconômico menos privilegiado, aos institucionalizados, aos em 
conflito com a lei, aos moradores de rua, da periferia das grandes cidades 
e às pessoas com deficiência.
11
A atenção integral ao adolescente será efetiva e eficaz 
se forem praticados dois cuidados fundamentais:
Acolher o adolescente e sua demanda.
Avaliar cada demanda dentro do cenário em 
que ela ocorre.
Referências Bibliográficas
CONSENSO CURITIBANO. Secretaria Municipal da Saúde, 2006.
CRESPIN, J.; REATO, L.F.N. Hebiatria Medicina do Adolescente. São Paulo: 
Roca, 2007.
FRANÇOSO, L.A.; GEJER, D.; REATO, L.F.N. Sexualidade e Saúde 
Reprodutiva na Adolescência. São Paulo: Atheneu, 2001.
SAITO, MI; Silva LEV. Adolescência: Prevenção e Risco. 1ª ed. São Paulo, 
Ed. Atheneu, 2001
12
O MINISTÉRIO PÚBLICO E A EXECUÇÃO
DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
Mônica Louise de Azevedo*
1. INTRODUÇÃO
A experiência histórica demonstra que a privação da liberdade 
não é a única nem é o melhor instrumento de repressão e prevenção do 
desvio, em especial quando o autor do fato reprovado é um ser humano 
em desenvolvimento. A privação da liberdade corrompe, estigmatiza e 
isola o jovem do seu meio social e, da forma que é executada na grande 
maioria das vezes, ao invés de proporcionar as condições de 
recuperação e inserção social do indivíduo punido, tão-somente o torna 
ainda mais vulnerável ao desvio e à exclusão social. Nesta perspectiva, 
deve-se privilegiar a aplicação das medidas em meio aberto como 
resposta ao ato infracional, desde que efetivamente executadas a partir 
de diretrizes comprometidas com a inserção social, escolar e familiar do 
jovem em conflito com a lei.
Com esta proposta de trabalho, o tema aqui exposto pretende 
inscrever-se como uma contribuição ao debate em torno da execução das 
medidas socioeducativas, apresentando algumas idéias em torno de 
diretrizes construídas a partir da prática cotidiana na Promotoria de 
Justiça de Proteção à Infância e Juventude de Maringá, somada à 
anterior experiência na Central de Execução de Penas Alternativas da 
Comarca de Curitiba e no Juizado Especial Criminal de Curitiba.
* Promotora de justiça da Infância e Juventude da comarca de Maringá, 
graduada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), mestre em 
direito penal pela FUNDINOP (Faculdade de Direito do Norte 
Pioneiro), atuou como membro do Conselho Nacional de Penas 
Alternativas do Ministério da Justiça (CONAPA), membro do Conselho 
editorial da revista do Movimento do Ministério Público Democrático.
13
2. DIRETRIZES PARA A ATUAÇÃO NA EFETIVAÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS 
EM MEIO ABERTO
2.1 Atuação integrada do Ministério Público com os órgãos 
executores das medidas:
as equipes multidisciplinares, os Centros de Referência e os 
Conselhos Tutelares.
A experiência demonstra que é possível ganhar agilidade e 
celeridade processual, bem como qualidade de atendimento aos 
adolescentes a partir da integração do Ministério Público com os órgãos 
encarregados da execução das medidas socioeducativas, de acordo com 
a realidade de cada comarca.
O ideal seria a integração não apenas física dos diversos órgãos, 
o que já ocorre em alguns locais, onde o adolescente é atendido desde o 
momento em que é entregue pela autoridade policial e apresentado ao 
Promotor de Justiça (artigo 174 do ECA), evitando o estigma policial e 
carcerário, mas especialmente a integração dos ideais que devem nortear 
todos os envolvidos no atendimento ao jovem, dentro da proteção integral 
preconizada pelo ECA e em respeito aos princípios constitucionais de 
primazia, prioridade e preferência nas políticas públicas.
Assim, tão logo recebido o autor do ato infracional e realizada a 
oitiva informal, em sendo o caso de aplicar a remissão, seu imediato 
encaminhamento para o órgão executor da medida em meio aberto é 
imprescindível para a efetividade do caráter socioeducativo da medida.
Para tanto, requer-se o concurso de equipes multidisciplinares 
aptas a conceber, implantar, operacionalizar, fiscalizar e avaliar os 
programas necessários para a execução das medidas em meio aberto, 
em propostas individualizadas, sejam socioeducativas, sejam de 
proteção, em complemento àquelas, numa ótica interdisciplinar, em que 
os profissionais colocam à disposição de outras áreas o seu saber 
específico, para uma prática que promova a integração social do jovem 
em conflito com a lei, atendendo assim aos interesses de toda a 
coletividade, que reside sem dúvida na constituição de uma sociedade 
mais justa e igualitária.
Por outro lado, essa atuação deve ser coerente com a realidade 
de cada município e comarca, seja a partir da rede de atendimento 
psicossocial existente, seja através dos Conselhos Tutelares ou equipes 
14
especialmente destacadas para este fim1, acolhendo e integrando os 
jovens em suas dinâmicas institucionais, na condição de prestadores de 
serviços ou em liberdade assistida, através de programas 
individualizados de inserção escolar e capacitação profissional2, etc...
Os órgãos encarregados da execução das medidas 
socioeducativas devem prever, de início, critérios para o credenciamento 
das entidades que deverão atender os jovens, prevendo mecanismos que 
permitam a verificação da idoneidade da entidade, a adequação à 
legislação que regula o setor onde atua, bem como a disposição para 
assumir suas responsabilidades e investir na qualificação do jovem e sua 
capacitação ao mercado de trabalho e ao mundo adulto. Da mesma 
forma devem ser fomentadas estratégias que visem à capacitação dos 
dirigentes, funcionários e corpo técnico de tais órgãos, de maneira que 
estes possam aumentar sua compreensão acerca das medidas 
socioeducativas, ampliando também a consciência da importância de seu 
papel nesse processo, bem como o aprimoramento dos procedimentos a 
serem adotados em seu trato com os adolescentes em conflito com a lei 
e com a comunidade.
Também importante a fiscalização da execução das medidas 
socioeducativas, condição sine qua non para que estas atinjam 
plenamente seu potencial educativo e socializador, além de pô-las à 
salvo dos críticos que as associam à impunidade. De fato, sem uma 
fiscalização sistemática, contínua e rigorosa do seu cumprimento, corre-
se o risco de que as medidas socioeducativas sejam deslegitimadas, quer 
pela demora na resposta adequada aqueles que as descumprem, quer 
pela lentidão na proposição de soluções para as possíveis dificuldades de 
sua execução.
Desse modo, i.e., verificando-se que o ato infracional é 
conseqüência da dependência química do adolescente, que também está 
em situação de evasão escolar e em conflito familiar, deve ser desde logo 
garantido o encaminhamento para período de desintoxicação, para 
posterior submissão a tratamento médico e psicológico, reinserção 
familiar e, somente após período de acompanhamento, o início da 
execução da medida socioeducativa aplicada, seja em sede de remissão, 
seja em decorrência de sentença condenatória, tudo com a ciência e 
participação do Ministério Público.
1 Em Maringá existe o Centro de ReferênciaSócio Educativo que 
executa as medidas socioeducativas em meio aberto, que atual com 
ligação direta com o Ministério Público, dando efetividade às medidas. 
2 Vale destacar o Programa Adolescente Aprendiz, do governo estadual 
do Paraná, através da Secretaria de Estado da Criança e executado 
em parceria com o município de Maringá. 
15
2.2 Garantia da participação da família, da comunidade escolar e do 
mundo do trabalho na execução das medidas socioeducativas
A participação da comunidade é fator fundamental para que a 
execução das medidas socioeducativas atinja plenamente seus objetivos. 
Tanto a família, como a comunidade escolar, o mundo do trabalho, os 
órgãos de atendimento à saúde e assistência social, todos devem estar 
envolvidos na execução das medidas socioeducativas, pois a 
participação da comunidade aumenta a confiança e assegura o 
comprometimento do jovem com o cumprimento das medidas. Para o 
sucesso das medidas socioeducativas em meio aberto é indispensável o 
apoio e a participação ativa dos grupos e indivíduos envolvidos com o 
jovem e interessados no seu desenvolvimento saudável na comunidade.
Se as ações necessárias à correta execução das medidas 
socioeducativas forem construídas e discutidas conjuntamente - numa 
relação horizontal entre os corpos técnicos dos órgãos executores, as 
famílias dos jovens em conflito com a lei ou entidades que os abrigam, as 
entidades receptoras do trabalho dos jovens, a comunidade escolar, as 
instâncias de saúde física e mental, entre outras, com a participação do 
Ministério Público da área da Infância e Juventude - o sistema de justiça 
juvenil se apresentará como adequado como resposta à prática do ato 
infracional.
2.3 Atuação integrada do Ministério Público com a rede de 
atendimento às crianças e adolescentes, bem como a articulação 
com os diversos conselhos de defesa de direitos, nas três esferas 
de governo
Visando a atingir o potencial das medidas socioeducativas em 
meio aberto, faz-se necessário a atuação em rede tanto por parte dos 
órgãos encarregados de sua execução quanto o seu reconhecimento 
pelos conselhos de direitos e demais instâncias que dão efetividade aos 
direitos abstratamente previstos pelo ECA (saúde, alimentação, 
educação, capacitação profissional, entre outros), nas três esferas de 
governo, debatendo soluções para os problemas de comunicação, 
sobreposição de ações existentes e pontos de estrangulamento do 
sistema.
Merece destaque a articulação entre os órgãos encarregados da 
execução das penas e medidas alternativas com os movimentos sociais e 
as entidades da sociedade civil interessados na defesa dos direitos das 
crianças e dos adolescentes e na valorização das soluções alternativas 
aos conflitos.
16
Também importante é a produção de conhecimento em torno das 
medidas socioeducativas, com a participação do mundo acadêmico, com 
a função de realimentar teoricamente os envolvidos no atendimento ao 
jovem em conflito com a lei (agregando qualidade às práticas 
desenvolvidas e possibilitando a superação dos obstáculos encontrados) 
e tornar visível à sociedade as vantagens do sistema socioeducativo em 
comparação com o sistema penal, sem negar seus problemas e 
limitações. Nestas ações devem estar previstos seminários, audiências 
públicas, debates, participação nas diversas conferências setoriais, bem 
como outras atividades que estimulem a construção de um saber crítico, 
com a participação da sociedade, que passa a participar da reflexão 
sobre as medidas em meio aberto, sua potencialidade, suas vantagens 
em relação à privação de liberdade, bem como os desafios que ainda 
devem ser enfrentados, superando o estigma da impunidade e a sempre 
presente proposta da redução da idade de imputabilidade penal.
Esta atuação articulada torna visível a todos a existência da rede 
de atendimento, suas conexões e novas possibilidades, com o objetivo de 
construir práticas mais justas, adequadas e racionais que possam 
enfrentar a complexa questão da criminalidade infanto-juvenil.
17
3. CONCLUSÕES
Na esteira do que foi exposto, registram-se as seguintes 
conclusões prepositivas para a atuação do Ministério Público na área da 
execução das medidas socioeducativas em meio aberto:
3.1 O Ministério Público deve promover a atuação integrada dos 
órgãos de atendimento dos adolescentes em conflito com a 
lei e dos órgãos executores das medidas socioeducativas, 
de acordo com a realidade social de cada comarca;
3.2 O Ministério Público deve fomentar a atuação de equipes 
multidisciplinares na execução das medidas socioeducativas, 
dando efetividade ao seu caráter educativo e socializador;
3.3 O Ministério Público deve fiscalizar de forma rigorosa a 
imediata execução das medidas socioeducativas em meio 
aberto após sua aplicação em sede de remissão ou 
sentença condenatória, de maneira que seja dado 
efetividade ao seu potencial preventivo;
3.4 O Ministério Público deve promover a participação da 
sociedade, em suas diversas instâncias de controle social - 
escola, família, mundo do trabalho, conselho de direitos, 
bem como os movimentos sociais, na execução das medidas 
socioeducativas;
3.5 O Ministério Público deve promover a atuação coordenada 
da rede de atendimento às crianças e adolescentes, com 
articulação nos diversos conselhos de defesa de direitos e 
nas três esferas de governo;
3.6 O Ministério Público deve investir na produção de 
conhecimento e divulgação das medidas socioeducativas e 
de proteção.
18
QUEM TEM MEDO DOS JOVENS?
Pedro Rodolfo Bodê de Moraes*
Joyce Kelly Pescarolo*
A compreensão que o ato anti-social
é uma expressão de esperança é vital (...).
D. Winnicott
INTRODUÇÃO
Quem tem medo dos jovens ou da juventude? Por que os jovens 
aparecem ora como ameaça ora como absolutamente vulneráveis ou 
influenciáveis? Por vezes as duas coisas ao mesmo tempo? Tentaremos, 
neste texto, apresentar alguns argumentos que problematizam a maneira 
como, na maioria das vezes, representamos os jovens. Ou seja, não o 
que os jovens são, mas o que achamos que eles sejam, e os possíveis 
motivos disto. Como dissemos, cremos que parte dessa representação 
oscila fortemente entre ver o jovem como uma ameaça e, por outro lado, 
o tomar quase como um incapaz e, por isso, vulnerável. Tais percepções, 
assim como as suas conseqüências derivam, é claro, dos contextos 
sócio-históricos nos quais se processaram. Este trabalho privilegiará um 
recorte observando os elementos acima referidos e outros que passamos 
a definir.
* Pedro Rodolfo Bodê de Moraes é Professor Adjunto do Departamento 
de Ciências Sociais/UFPR; Doutor em Sociologia; Coordenador do 
Centro de Estudos em Segurança Pública e Direitos Humanos/UFPR; 
Membro da Comissão da Criança e Adolescente da OAB – Seção PR.
Joyce Kelly Pescarolo é Psicóloga; Especialista em Sociologia 
Política; Mestre em Sociologia; Membro do Centro de Estudos em 
Segurança Pública e Direitos Humanos/UFPR.
18
Existem algumas premissas ou constatações que guiam a nossa 
análise e que gostaríamos de deixar, desde já, enunciadas. A primeira, e 
talvez a mais importante delas, é o fato de que os jovens são a imagem e 
semelhança da sociedade em que vivem e das instituições que 
freqüentam, vale dizer, dos processos de socialização e sociabilidade que 
juntos formam e atualizam os seres sociais (Durkheim, 1977 [1895]; 
Berger & Lukmann, 1985). Sendo mais objetivo, o(s) comportamento(s) 
dos jovens, seja lá qual for ou como o interpretamos, é resultado da 
socialização a que eles foram submetidos. Seus defeitos e virtudes 
espelham, portanto, o mundo dos adultos que os formaram.
O segundo elemento, que se encontra inextricavelmente ligado 
ao primeiro, esta relacionado à responsabilidade pela formaçãodos 
jovens. Parte da resposta já foi dada, a formação dos jovens seria 
responsabilidade de toda a sociedade. De forma mais precisa do conjunto 
de instituições que compõe a sociedade: família, escola, trabalho, etc. 
Talvez não precisássemos lembrar que a família ocuparia um lugar de 
destaque neste processo, motivo pelos quais sociólogos e psicólogos 
consideram-na um espaço de socialização primária. De qualquer forma, a 
instituição familiar não é, para o bem ou para mal, a única responsável. 
Queremos com isto, problematizar a idéia de que, o suposto fracasso na 
formação dos jovens deve ser atribuído única e exclusivamente a uma 
destas instituições e não, ainda que com pesos diferentes, ao conjunto de 
instituições que os jovens freqüentam.
Em terceiro lugar, queremos salientar que, a formação dos jovens 
depende da capacidade da sociedade na qual ele vive de orientá-lo para 
o que é entendido como seus valores, sejam eles positivos ou negativos. 
Para tanto, são necessárias instituições e figuras apropriadas para este 
fim. A primeira qualidade que instituições e pessoas precisam ter é aquilo 
que conhecemos como autoridade que teria o papel de orientar e 
organizar os indivíduos e os grupos (Sennett, 2001). Curiosamente, 
principalmente nas sociedades contemporâneas, as figuras de autoridade 
serão alvos de constantes questionamentos por parte dos jovens. 
Segundo nosso entendimento, ao questionarem a autoridade, os jovens 
não estão fazendo mais do que testar a consistência da suposta 
autoridade. Esse tema será outro importante eixo da nossa discussão.
Postas as balizas da nossa argumentação passemos a 
aprofundá-las e analisá-las tomando por base casos concretos. 
Destacamos que é difícil, pelo menos para os fins a que nos propomos, 
manter separada a análise sobre a juventude e adolescência de questões 
relativas à infância, até mesmo pelas dificuldades em estabelecer os 
limites estritamente etários-biológicos, questão que, diga-se de 
passagem, procuraremos relativizar. Dito de outra maneira, não 
19
acreditamos que seja suficiente para fins da análise em curso, a 
classificação das idades segundo exclusivamente critérios biológicos. 
Desta forma estaremos tratando de crianças e adolescentes, assim como 
aqueles indivíduos que já ingressaram na maioridade, demarcando 
quando necessário, as diferenças entre estas categorias.
DEFININDO JUVENTUDE
Como nos ensina Bourdieu (1983), juventude é uma daquelas 
palavras cuja definição se presta a todo tipo de manipulação, entre outras 
coisas, porque é uma categoria que tende a ser percebida e definida 
biologicamente, ignorando-se que “as divisões entre idades são 
arbitrárias” e “objeto de disputas em todas as sociedades” (Bourdieu, 
1983, p. 112). Ou seja, muito para além do aspecto biológico, a juventude 
e seus atributos seriam uma categoria socialmente construída e 
estruturada segundo condição de classe, proximidade do poder, gênero 
ou raça e que, por sua vez, “acabam sempre por impor limites e produzir 
uma ordem onde cada um deve se manter, em relação à qual cada um 
deve se manter em seu lugar” (Bourdieu, 1983, p. 112).
Vejamos, a título de exemplo e comparação, algumas formas de 
classificação etária. Comecemos por Crouzet-Pavan (1996, pág. 192) que 
explica que na Antiguidade, “a infantia termina aos sete anos quando 
começa a pueritia. A mesma escansão delimita, entre 14 e 21 anos, a 
adolescentia. É então que a juventude começa”. A autora explica ainda 
que, “nenhum limite teórico marca seu término. Na prática, o vocabulário 
flutua, como flutuam um pouco estes limites”. (Crouzet-Pavan, 1996, pág. 
192)
Ariès (1973, pág. 36) relata que na França do século XVI, (...) as 
idades correspondem aos planetas, em número de 7:3‘A primeira idade é 
a infância (...) [que] começa quando a criança nasce e dura até os sete 
anos (...). Após (...), vem a segunda idade... chama-se pueritia (...) e essa 
idade dura até os 14 anos. (...) Depois segue a terceira idade, que é 
chamada de adolescência, que termina, segundo Constantino em seu 
viático, no vigésimo primeiro ano, mas, segundo Isidoro, dura até 28 
anos... e pode estender-se até 30 ou 35 anos. (...) Depois segue-se a 
3 Daqui para frente, Ariès está citando o Le Grand Propriétaire de 
toutes choses. Segundo esse autor, “tratava-se de uma compilação 
latina do século XIII, que retomava todos os dados dos escritores do 
Império Bizantino” (1973, pág. 34). A edição utilizada por Ariès datava 
de 1556.
20
juventude, que está no meio das idades, embora a pessoa aí esteja na 
plenitude de sua forças, e essa idade dura até 45 anos, segundo Isidoro, 
ou até 50, segundo os outros. (...) Depois segue-se a senectude (...). 
Após esta idade segue-se a velhice, que dura, segundo alguns, até 70 e 
segundo outros, não tem fim até a morte.
Já na sociedade camponesa francesa do séc. XIX, as faixas 
etárias estavam assim divididas: “1) primeira infância (da concepção ao 
fim do aleitamento); 2) as crianças; 3) a) os jovens, b) as jovens; 4) os 
recém-casados; 5) os pais e mães de família; 6) os viúvos e as viúvas; 7) 
os velhos; 8) os falecidos” (Varagnac, 1968, pág. 18 e 19).
No caso do Brasil Colônia, Gilberto Freyre (1987 [1933], pág. 
411), partindo da descrição de viajantes e outros documentos, fala-nos 
dos “homenzinhos à força desde de os nove ou dez anos”. Aliás, o texto 
de Freyre é rico ao relatar a violência que marcou, e de certo modo ainda 
marca, a sociedade brasileira fundada no binômio latifúndio - escravidão, 
que por sua vez, produziu uma tradição conservadora que “sempre se 
tem sustentado no sadismo do mando disfarçado em ‘princípio de 
Autoridade’ ou ‘defesa da Ordem’” (Freyre, 1987 [1933], pág. 52). Esse 
autor demonstra como tais relações violentas compunham o cotidiano 
das relações sociais nos primórdios da civilização brasileira. O primeiro 
grande alvo desta violência era, claro, o negro, que sequer era visto como 
humano, mas escravo, propriedade do senhor e objeto de toda sorte de 
sadismo por parte deste. Violência que, por vezes, era igualmente ou 
mais intensa com as crianças, jovens e mulheres negras.
Em níveis diferentes, as mulheres, crianças e jovens brancos 
também sofriam as conseqüências daquela violência assentada na 
perversidade das relações escravocratas. Socializados nesta sociedade:
Transforma-se o sadismo do menino e do adolescente no 
gosto de mandar dar surra, de mandar arrancar dente de 
negro ladrão de cana, de mandar brigar na sua presença 
capoeiras, galos e canários - tantas vezes manifestado pelo 
senhor de engenho quando homem feito; no gosto de mando 
violento ou perverso que explodia nele ou no filho bacharel 
quando no exercício de posição elevada, política ou de 
administração pública (...). (Freyre, 1987 [1933], pág. 52).
Este cenário é fundamental para que entendamos a sociedade 
brasileira contemporânea e a sua relação com os jovens e com todos 
aqueles em posição de inferioridade social. Não são mera coincidência as 
semelhanças observadas, ou melhor, a continuidade de padrões de 
21
sociabilidade violenta4 entre a sociedade escravocrata e a sociedade 
brasileira atual.
A construção do jovem e da juventude no mundo ocidental 
contemporâneo foi igualmente, e não poderia ser diferente, fortemente 
marcada pela dinâmica da industrialização e de especialização da mão-
de-obra. Essa por sua vez, foi acompanhada por processos de 
disciplinarização e normatização, que terão na escola, um de seus 
principais pilares. A adequação ou não dos trabalhadores em geral, e dos 
jovens em particular, será fundamental na atribuição de sentido para esse 
período da vida caracterizado como juventude.
Por fim, destaquemos que tudo leva a crerque, de maneira geral 
e pelo menos no mundo ocidental contemporâneo, há uma percepção de 
que “a juventude se caracteriza por seu marcado caráter de limite”, 
situada que está “no interior das margens móveis entre a dependência 
infantil e a autonomia da vida adulta” (Levi & Schmitt, 1996, p. 8)5. Tal 
processo remeteria à construção da identidade, cuja dinâmica constituiria, 
em muitos casos, uma identidade mesma que teria como marca distintiva 
a provisoriedade. Parecendo ser exatamente esta característica que 
remeteria à juventude, e mais particularmente à adolescência nas 
sociedades ocidentais modernas, para um espaço de “irresponsabilidade 
provisória”, uma vez que “estão numa espécie de no man’s land social” 
conforme a definição de Bourdieu (1983, p. 114).
A NEGAÇÃO DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE: O MENOR
Talvez poucos exemplos históricos sobre a maneira como no 
Brasil tratamos os jovens sejam tão esclarecedores como aqueles que 
levaram à emergência do termo menor, que, como explicaremos, muito 
diferentemente do que possamos imaginar, tem por função negar a 
infância e a juventude, na medida mesma em que cria uma categoria de 
jovem que, todavia, não possui o mesmo status que indivíduos da mesma 
faixa etária originários, porém, de outra classe e/ou população étnico-
4 Sobre esta discussão cf. Machado da Silva, 1999.
5 Para que não se tenha qualquer dúvida em relação à determinação 
social do fenômeno, Levi & Schmitt (1996, p. 8) destacam que 
“nenhum limite fisiológico basta para identificar analiticamente uma 
fase da vida que se pode explicar melhor pela determinação cultural 
das sociedades humanas, segundo o modo pelo qual tratam de 
identificar, de atribuir ordem e sentido a algo que parece tipicamente 
transitório, vale dizer caótico e desordenado”. 
22
racial. A análise da categoria menor é da máxima pertinência inclusive 
porque ele tem sido utilizado de forma intensa pelos operadores jurídicos 
e por todo um conjunto de profissionais responsáveis pela melhoria da 
qualidade de vida das crianças e adolescentes6.
Podemos começar pensando por que não chamamos as crianças 
e jovens que fazem parte dos nossos círculos familiares de menores. 
Esta terminologia aplica-se exclusivamente às crianças e jovens 
tomados, na prática e não nas intenções, como problemas. Não 
problemas quaisquer, mas aqueles derivados da pobreza ou de aspectos 
étnico-raciais devidamente estigmatizados por intermédio de processos e 
dinâmicas criminalizadoras. Expliquemos melhor.
Ao que tudo indica, o processo que leva à emergência do termo 
menor foi enormemente influenciado por idéias que “circulavam na 
Europa e na América do Norte” em fins do século XIX, como explica 
Rizzini (1997, pág.214). Esta autora, ao comentar o processo de 
implantação da justiça de menores no Brasil, ressalta que ela foi:
Concebida com um escopo de abrangência bastante amplo, 
seu alvo era a infância pobre que não era contida por uma 
família considerada habilitada a educar seus filhos, de 
acordo com os padrões de moralidades vigentes. Os filhos 
dos pobres que se encaixavam nesta definição, portanto 
passíveis de intervenção judiciária, passaram a ser 
identificados como “menores” (Rizzini, 1997, pág.214).
Sem que ficasse devidamente explicitado no discurso dos 
teóricos e juristas que participaram deste processo, podemos observar 
que eles estabeleciam uma colagem, ou melhor, uma relação de 
causalidade ente déficit material e déficit moral: “ser menor era carecer 
de assistência, era sinônimo de pobreza, baixa moralidade e 
periculosidade” (Rizzini, 1997, pág. 223). Esta relação é facilmente 
observável nas reflexões de um dos mais importantes teóricos europeus 
que muito influenciou a discussão brasileira. Referimo-nos ao criminalista 
italiano Césare Lombroso e a sua noção de “infância moralmente 
abandonada” (Rizzini, 1997, pág. 198). Tal raciocínio encontra-se, por 
sua vez, perfeitamente encaixado nas formulações mais gerais de 
Lombroso, entre as quais destaca-se a teoria do criminoso nato.
É neste contexto que surge um conjunto de leis e instituições que 
serão responsáveis por tutelar as crianças e os jovens pobres portadores 
de um suposto déficit material e moral. No vocabulário daquelas 
6 Cf. Gadelha, 1998.
23
instituições as crianças e jovens até dezessete anos são denominados 
menores como uma derivação da expressão menor de idade, ou seja, 
menor de dezoito anos. A palavra menor, no entanto, passa a ser 
utilizada de forma isolada, supondo que quem a utilize estaria fazendo-o 
no sentido anteriormente sinalizado. Eis que o termo não somente se 
autonomizou como foi re-signifcado e, neste processo, estigmatizado, 
passando agora, efetivamente, a associar pobreza com o perigo e o 
crime. Assim, o menor passa a figurar como um pequeno adulto capaz 
de cometer crimes como adultos e podendo ou devendo ser tratado como 
tal.
Na lista de instituições que passam a utilizar o termo menor 
destacam-se: em 1923, aparece na Justiça do Distrito Federal o Juiz de 
Menores; em 1924, é instituído o Conselho de Assistência e Proteção aos 
Menores; em 1926 o decreto de criação do Código de Menores.
Deixemos claro que estamos de acordo que a função do Estado 
é, ou deveria ser, proteger por meio de regulamentações diversas, os 
mais vulneráveis, criando condições de acesso a bens como trabalho, 
educação, saúde e justiça, processo este que tem sido chamado de Bem-
estar Social. Entendemos, ainda, que a diminuição das desigualdades 
sociais é um passo decisivo na consecução dos ideais de justiça social. 
Isso, no entanto, é muito diferente do projeto que estava sendo elaborado 
e que acreditamos, encontra-se fortemente enraizado na sociedade atual. 
O que vemos como correto é que a proteção social é fundamental à 
manutenção do equilíbrio social, porque a falta dela sim é indicativa da 
falta de moralidade do sistema. O que, no entanto, acreditamos, tenha 
sido posto em andamento foi um processo de tutela por parte do Estado 
daqueles que eram e são visto como incapazes, mas principalmente 
como ameaças potenciais, portando graus diferenciados de 
periculosidade. Um conjunto de leis e instituições incorporou uma 
percepção negativa da infância e juventude pobres e os colocou em 
operação. Este elemento é o ingrediente mais importante e decisivo na 
tomada de posição daqueles que acreditavam estarem protegendo os 
menores e os pobres em geral, enquanto, na verdade, davam 
continuidade ao processo de exclusão.
A prática daqueles e dos atuais operadores e profissionais que 
herdaram aquela visão, na verdade, no máximo reside naquilo que Szasz 
(1994) chamou de cruel compaixão7. Não pretendiam, efetivamente, 
7 Szasz (1994, pág. 32) argumenta que a “compaixão nem sempre, ou 
necessariamente, é uma virtude”, principalmente quando partindo do 
que ele chama de “altruísmo coercitivo”. Para ele, neste tipo de 
comportamento o indivíduo “precisa convencer-se de que está agindo 
24
proteger ninguém além de si mesmo e do sistema do qual eram parte ou 
representavam, da suposta ameaça que os marginalizados significavam. 
O discurso da proteção advindo do mesmo sistema que marginalizava a 
pobreza, sua criatura mais temida, entre meio culpado e meio bem-
intencionado, continuava, agora por outros meios, a fazer o que sempre 
fez: excluir pela criminalização.
Mesmo porque, o deve ser da proteção era e é muito diferente da 
realidade no interior das instituições de tratamento dos menores. A maior 
parte delas eram depósitos de crianças que davam continuidade à 
experiência do abandono, algumas outras, verdadeiros circos de 
horrores, como aquelas exemplificadas pela famigeradae de triste 
lembrança, Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor.
Parece que a nossa sociedade somente consegue olhar para os 
jovens pobres e negros em uma atitude máxima de benevolência, 
traduzindo o que primeiro vem à cabeça, a saber, o menor, por jovem ou 
coisa parecida. Em geral, ainda se olha para o jovem sem se conseguir 
ver outra coisa que o menor.
Em outra ocasião (Moraes, 2005) tivemos a oportunidade de 
desenvolver um pouco mais sobre como o medo dos jovens, assim como 
o medo do crime e do sobrenatural processa, ou melhor, serve para 
objetivar medos difusos que no atual momento histórico estão ligados a 
incertezas em relação ao futuro em função da precarização do trabalho e 
da previdência social (Castel, 1998; Sennett, 1999). Mas o que queremos 
ressaltar é que uma política fundada no medo dos jovens, na visão deles 
como ameaça, porque membro das classes perigosas8, parece não ter 
em benefício do outro”. Mas como ele pode fazer isto considerando 
que um dos efeitos de sua ação poderia ser um sofrimento maior 
ainda para aquele que é objeto de sua compaixão? Szazs argumenta 
que o “altruísta coercitivo” precisa “fechar os olhos para o sofrimento 
que ele causa. A melhor forma de fazer isto é deixar de respeitar o 
seu beneficiário-alvo como pessoa e, ao invés disto, tratá-lo como um 
membro de um grupo específico”. No caso concreto por ele 
investigado, o paciente mental, mas que creio podemos generalizar 
para o grupo analisado neste artigo, o procedimento básico “estimula 
a compaixão abstrata para como ele com paciente e a indiferença 
concreta para com ele como pessoa” (Szazs, 1994, pág. 24).
8 Guimarães (1981, p. 01 e 02) explica que o termo “classes perigosas 
(dangerous classes)” indicava “um conjunto social formado à margem 
da sociedade civil, surgiu na primeira metade do século XIX”. Seu uso 
foi registrado no Oxford English Dictionary, na edição de 1859, mas o 
termo já havia sido utilizado no título de uma obra sobre um 
25
outro destino que não o das soluções repressivas ou permeadas por uma 
cruel compaixão.
Pensamos que os efeitos das percepções e das políticas públicas 
derivadas da visão do jovem como ameaça podem ser observados por 
intermédio do exame das taxas de homicídios e do encarceramento dos 
jovens, os quais passamos a analisar.
Dados da Unesco (cf. tabela 1)9 indicam que, se a taxa total de 
homicídio manteve-se basicamente a mesma entre 1993 e 2002, houve, 
em contrapartida, um enorme incremento de mortes entre jovens de 15 a 
25 anos. Como explica Waiselfisz (2004), “os avanços da violência 
homicida das últimas décadas no Brasil são explicados, exclusivamente, 
pelos incrementos dos homicídios contra a juventude”. Em dados 
estatísticos, isto significa que se para a população total, entre os anos 
1993 e 2002, a taxa de homicídios por cem mil habitantes variou de 21,3 
para 21,7, em relação ao grupo etário entre 15 e 25 anos, nota-se um 
aumento de 30,0 (por cem mil jovens), em 1993, para 54,5 (por cem mil 
jovens), em 2002. E ainda, se os homicídios são responsáveis por 62,3% 
dos óbitos na população total, correspondem, por sua vez, a 88,6% da 
causa da morte entre jovens. Se considerarmos o item raça 
separadamente, nota-se que os homicídios de jovens pardos e negros 
são 65,3% maiores que os homicídios de jovens brancos.
Destaque-se, finalmente, que, segundo o Instituto Brasileiro de 
Geografia e Estatística, o número de homicídios, somado aos de 
acidentes de trânsito envolvendo jovens, impactam nossa expectativa de 
vida em até três anos. Ou seja, não fossem estes índices escandalosos, 
os brasileiros teriam sua expectativa de vida aumentada de 71,3 anos 
para 74,3 anos.
reformatório para jovens em 1849. Uma importante autora de 
“trabalhos sobre matéria criminal”, a saber, Mary Carpenter, utilizava 
este conceito para denominar os grupos formados “pelas pessoas 
que houvessem passado pela prisão ou as que (...) já vivessem 
notoriamente da pilhagem”, convencidos de que poderiam “ganhar 
mais praticando furtos do que trabalhando”. 
9 Nota do editor: a Tabela 1 que se encontra em Anexos, na página 53, 
foi alterada para o formato e tamanho do livro.
26
Em relação ao encarceramento de jovens10, constatamos que a 
grande maioria encontra-se nesta condição por ter cometido furtos e 
pequenos roubos e apenas um pequeno grupo, por homicídio. No caso 
dos internos na Fundação Estadual de Bem-Estar do Menor de São 
Paulo, roubos e furtos somam a maioria dos crimes, a saber, 70,6%. Por 
sua vez, os homicídios perfazem 8,0%11.
Aquelas taxas alarmantes de homicídios de jovens refletem vários 
componentes, no entanto, é impossível não relacioná-los a uma certa 
indiferença ou naturalização daqueles homicídios, que nos levam a 
pensar que na sociedade brasileira atual, os jovens poderiam ser 
incluídos na categoria do homo sacer, como sugerido por G. Agambem 
(2004, pág. 79), ou seja, aqueles “que qualquer um podia matar 
impunemente”, vale dizer, aqueles cuja morte não tinha qualquer 
conseqüência jurídica12.
Outro importante indicativo da visão do jovem como ameaça é 
maneira como boa parte da população brasileira, inclusive muitos dos 
responsáveis em lidar com os jovens, concebe o Estatuto da Criança e do 
Adolescente (doravante ECA). Primeiro devemos destacar que o referido 
estatuto é, como tantas outras leis, desconhecido da maioria das pessoas 
e de muitos profissionais que trabalham com jovens. Os professores 
talvez sejam o caso mais comum. O desconhecimento objetivo daquele 
estatuto é, no entanto, substituído por interpretações do mais absoluto 
senso comum e má vontade. Para muitos, o ECA é um dos maiores 
responsáveis pelo suposto aumento da indisciplina e da delinqüência 
10 O Estatuto da Criança e do Adolescente denomina as punições 
aplicadas aos jovens como medidas socioeducativas, e o 
encarceramento deles uma medida socioeducativa que implica na 
internação do delinqüente (Art. 90, inciso VII do ECA). Acreditamos, 
outrossim, que o que está posto é a mesma lógica punitiva imposta 
aos adultos, configurando, na expressão de Sérgio Adorno, uma 
“experiência precoce de punição” e, completaríamos, de 
encarceramento. 
11 Onde 100% = 21.146. Levantamento feito pela FEBEM/SP em 2000. 
Não conseguimos dados mais recentes e de uma amplitude maior. 
Cremos, no entanto, que não haveria diferenças expressivas para a 
realidade nacional.
12 O extermínio de crianças e adolescentes não se constitui novidade 
alguma no cenário brasileiro, muito pelo contrário, é um fenômeno 
recorrente como atestam, além da já citada pesquisa de Waiselfisz, 
Pinto, 1991; Minayo, 1991; Alvim, 1992; OAB, 1993; Cedeca, 1999.
27
juvenil. Esta ignorância, repetimos, é certamente um dos resultados 
daquela percepção satanizada da juventude, pois como é possível que 
pessoas que não estudaram ou sequer folhearam o referido estatuto 
podem concebê-lo como um instrumento facilitador da indisciplina e 
delinqüência, senão por meio daquela predisposição sociocultural que 
percebe os jovens como uma ameaça? Longe desta leitura, o ECA, tenta 
sim proteger, no melhor sentido do termo, os jovens dos perigos a que 
estão submetidos. O ECA é ainda um instrumento rigoroso instrumento 
no que diz respeito à punição dos delitos cometidos pelos jovens.
AUTORIDADE, AUTORITARISMO E LIMITES
O que entendemos por autoridade? Gostaríamos de iniciar 
salientando que em países, assim como o nosso, cuja tradição autoritária 
viceja, tende-se, com freqüência, a confundir autoridade com 
autoritarismo, enquanto na verdade, o autoritarismo é o oposto da noção 
de autoridade. Passemos a definir o sentido do termo a partir da 
construção do conceito no interior da reflexão

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