Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
1 NEUROCIÊNCIA E APRENDIZAGEM 1 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 3 2. NEUROCIÊNCIA .................................................................................................. 5 2.1 Bases Neuroanatômicas e Neurofisiológicas do Processo Ensino e Aprendizagem ......................................................................................................... 6 2.1.1 As Neurociências e a Educação .............................................................. 6 2.1.2 Neuroplasticidade .................................................................................... 9 3. bases neurobiologicas do cérebro ...................................................................... 11 3.1 Sistema nervoso .......................................................................................... 11 3.1.1 Sistema Nervoso Central ....................................................................... 11 3.1.2 Sistema Nervoso Periférico ................................................................... 12 3.2 Cérebro ........................................................................................................ 12 3.2.1 Cérebro reptiliano .................................................................................. 13 3.2.2 Cérebro Límbico .................................................................................... 13 3.2.3 Córtex Cerebral ..................................................................................... 14 3.2.4 Neurônios e Transmissão de Informações ............................................ 14 3.2.5 Estrutura dos neurônios ......................................................................... 15 3.2.6 Transmissão de informação .................................................................. 15 4. O CÉREBRO EAS IMPLICAÇÕES NA APRENDIZAGEM ................................. 16 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 21 2 NOSSA HISTÓRIA A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior. A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais, científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação. A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica, excelência no atendimento e valor do serviço oferecido. 3 INTRODUÇÃO Por muito tempo o foco da educação esteve voltado para ensino mecânico e direcionado a um grupo homogêneo de alunos, sem dar a devida atenção à especificidade, a individualidade e a forma com que cada um aprende. As informações eram “transmitidas” pelo docente e os alunos as recebiam e aceitavam sem questionamento. O problema é que essas informações eram perdidas, sem ser assimiladas, uma vez que os alunos não conseguiam relacioná-las as vivências ou conhecimentos anteriores. Além disso, o processo de aprendizagem não se dá da mesma forma em cada indivíduo, cada um tem seu ritmo, cada um tem sua habilidade, sua modalidade de aprendizagem; além das influências externas que podem ser decisivas nesse processo. A escola tem a função de ensinar, mas não pode, nunca, ser confundida com produção em massa. Afinal o “produto da escola” é o mais valioso de todos: o ser humano, com ideias, opiniões e sentimentos. Neste caso o termo ensinar acaba tendo uma conotação bem diferente do que antes; pois hoje sabemos que a escola tem um papel que vai além de ensinar conteúdos como: auxiliar o aluno a perceber sua individualidade, tornando-o também responsável pelo ato de aprender, proporcionar a otimização de suas habilidades, facilitar o processo de aprendizagem e criar condições de aprender a aprender. Ensinar a ter autoria de pensamento. A principal questão a ser analisada é: será que escola está preparada para isso? Como podemos conhecer melhor nossos alunos? Como podemos atender as suas necessidades? O processo de ensino/aprendizagem é bem mais complexo do que se pensava há algumas décadas, e as escolas não podem continuar ensinando as gerações atuais por meio de metodologias arcaicas. Hoje, temos a disposição uma infinidade de recursos, além de estudos e pesquisas científicas que podem nortear nossa prática. A Neurociência é um desses valiosos recursos para os educadores. Nada mais justo, se pensarmos que a aprendizagem se dá por processos neurais, onde se concentram os estudos da Neurociência. 4 A Neurociência traz para a sala de aula o conhecimento sobre a memória, o esquecimento, o tempo, o sono, a atenção, o medo, o humor, a afetividade, o movimento, os sentidos, a linguagem, as interpretações das imagens que fazemos mentalmente, as imagens que formam o pensamento e o próprio desenvolvimento infantil. Os neurônios espelho, que possibilitam a espécie humana progressos na comunicação, compreensão e no aprendizado. A plasticidade cerebral, ou seja, o conhecimento de que o cérebro continua a desenvolver-se, a aprender e a mudar, até à senilidade ou à morte também altera nossa visão de aprendizagem e educação. Essas informações são imprescindíveis para nossa ação pedagógica e nos faz rever o “fracasso” e as dificuldades de aprendizagem; uma vez que existem inúmeras possibilidades de aprendizagem para o ser humano, do nascimento até a morte. 5 NEUROCIÊNCIA “A educação pode esculpir seus cérebros.” A neurociência estuda o sistema nervoso de forma mais ampla e completa. Sua atuação comporta desde a formação e a estrutura, passando pelo funcionamento e desenvolvimento das atividades mentais, e culmina com as conexões do cérebro com o nosso comportamento. Apesar de ser uma área de conhecimento há muitos anos estudada, ela nem sempre foi chamada assim.Aliás, a neurociência foi batizada dessa forma há bem pouco tempo – no final dos anos de 1970. Seus “pais” são os cientistas Michael S. Gazzaniga e George A. Miller. Segundo relatos da história, os dois precisavam dar um nome para seus estudos sobre como o cérebro dá origem à mente. Então, a caminho de um jantar oferecido por duas universidades interessadas em suas pesquisas, bateram o martelo e resolveram chamar a “filha” de neurociência. O nome pode levar as pessoas a pensar que a disciplina serve apenas para fins médicos, biológicos e psicológicos. No entanto, os benefícios podem ir muito além da área saúde, abarcando saberes nos âmbitos educacionais, tecnológicos e administrativos. Afinal, todos saem ganhando ao conhecer como se dão nossas emoções e os pensamentos, assim como a forma como eles impactam o comportamento e as memórias. Então, para resumir, a neurociência nada mais é que um campo que procura compreender como as vivências que tivemos e os aprendizados que conquistamos interferem no nosso desenvolvimento mental. Como tudo isso impacta na nossa vida e no nosso jeito de ser? Eis a grande questão, que ainda permanece com lacunas importantes. 6 Figura 1: Desenho esquemático de um neurônio Fonte: http://www.sogab.com.br/anatomia/sistemanervosojonas 1.1 Bases Neuroanatômicas e Neurofisiológicas do Processo Ensino e Aprendizagem 1.1.1 As Neurociências e a Educação As funções intelectuais como a memória, linguagem, atenção, emoções, assim como ensinar e aprender, são produzidas pela atividade dos neurônios no nosso encéfalo (Kolb e Whishaw, 2002). O encéfalo é o órgão da aprendizagem. O encéfalo humano é composto por aproximadamente 86 bilhões de neurônios, as células nervosas, que interagem entre si e com outras células formando redes neurais para que possamos aprender o que é significativo e relevante para a vida. Os neurônios são células altamente excitáveis que se comunicam entre si ou com outras células por meio de uma linguagem eletroquímica. O nosso comportamento depende do número de neurônios envolvidos nesta rede de comunicação neural e dos seus neurotransmissores, que são substâncias químicas que modulam a atividade celular, acentuando ou inibindo a comunicação entre os neurônios. A maioria dos neurônios possui três regiões responsáveis por funções especializadas: corpo celular, dendritos e axônio As sinapses, ou seja, as conexões entre as células nervosas que compõe as diversas redes neurais vão se tornando mais bem estabelecidas e mais complexas, à medida que o aprendiz interage com o meio ambiente interno e externo. Desta forma, é verdadeiro que crianças pouco ou não estimuladas durante a infância podem 7 apresentar dificuldade de aprendizagem. Nestes casos ao encéfalo delas não foi dada a oportunidade de se desenvolver plenamente, alcançando toda a sua potencialidade. Estas crianças, para alcançar os objetivos de desenvolvimento e competência,precisarão de estímulos bem direcionados e de estratégias alternativas de aprendizagem para poderem ter chances de desenvolver as habilidades não desenvolvidas (Guerra, 2011). Além dos neurônios, o sistema nervoso é composto por células da glia, que possuem funções importantes e distintas, como suporte, defesa, auxílio na transmissão do impulso nervoso, produção de líquor, entre outras. No sistema nervoso central, além dos 86 bilhões de neurônios, existem 85 bilhões de células da glia, que são os astrócitos, oligodendrócitos, micróglia e células ependimárias (Figura 2). Estas células possuem funções variadas e primordiais. Resumidamente, os astrócitos captam o excesso de neurotrasmissores e dão suporte para o estabelecimento dos neurônios em seus devidos lugares durante o desenvolvimento. Os oligodendrócitos produzem bainha de mielina, uma substância isolante lipoproteica que reveste os axônios, facilitando e acelerando a transmissão do impulso nervoso nos neurônios. A micróglia atua como célula de defesa, enquanto as células ependimárias produzem o líquor ou líquido encéfalo-espinhal, que reveste todo nosso sistema nervoso, funcionando como uma barreira mecânica contra impactos (Lent, 2012) Todas estas células, sejam elas neurônios ou células da glia compõem o tecido nervoso, que é a base de construção do encéfalo. O encéfalo humano é um órgão único, nobre, que juntamente ao cerebelo e tronco encefálico formam o encéfalo. O encéfalo é todo o conjunto de estruturas localizadas no interior do crânio. O cérebro é responsável pelas emoções, raciocínio, aprendizagem, é a sede das sensações e movimentos voluntários. Ele possui áreas responsáveis por funções específicas e globais, conforme demonstrado na figura 3 (Machado, 2013). 8 Figura 2: Funções específicas e globais do cérebro humano. Fonte: Lent, 2010 O cérebro humano possui cinco divisões anatômicas, os lobos cerebrais. Existem cinco lobos: frontal, parietal, occipital, temporal insular. O lobo frontal é responsável pela tomada de decisão, julgamento, memória recente, crítica, raciocínio. O lobo parietal está relacionado às sensações e a interpretação das sensações, pelo senso de localização do corpo e do meio ambiente. O lobo occipital ocupa-se basicamente com a visão, enquanto o temporal, com a audição. O lobo insular está relacionado a processos emocionais fortemente influenciados pelos órgãos dos sentidos. Além desta divisão anatômica, podemos notar que a superfície do cérebro do homem apresenta depressões denominadas sulcos, que delimitam os giros cerebrais. A existência dos sulcos permite considerável aumento de superfície sem grande aumento do volume cerebral e sabe-se que cerca de dois terços da área ocupada pelo córtex cerebral estão "escondidos" nos sulcos (Machado, 2013) 9 Figura 3: Lobos cerebrais Fonte: Netter, 2007. Como as neurociências podem contribuir para melhorar o processo ensino e aprendizagem? O conhecimento sobre funcionamento do encéfalo pode contribuir para beneficiar o processo ensino e aprendizagem? As neurociências descrevem a estrutura e funcionamento do sistema nervoso, enquanto a educação cria condições que promovem o desenvolvimento de competências. Os professores atuam como agentes nas mudanças cerebrais que levam à aprendizagem (Coch e Ansari, 2009). As estratégias pedagógicas utilizadas por professores durante o processo ensino-aprendizagem são estímulos que produzem a reorganização do sistema nervoso em desenvolvimento, resultando em mudanças comportamentais (Guerra, 2011). 1.1.2 Neuroplasticidade A neuroplasticidade é a capacidade que o encéfalo possui em se reorganizar ou readaptar frente a novos estímulos, sejam eles positivos ou negativos. As sinapses ou conexões entre os neurônios se modificam durante o processo de aprendizagem, quando há evocação da memória, quando adquirimos novas habilidades. Ao analisar os neurônios após um processo de aprendizagem, pode-se observar várias modificações estruturais que ocorreram, tais como o brotamento de espículas dendríticas, brotamento axonal colateral e desmascaramento de sinapses silentes. 10 A neuroplasticidade possibilita a reorganização da estrutura do encéfalo e constitui a fundamentação neurocientífica do processo de aprendizagem. As estratégias pedagógicas devem utilizar recursos que sejam multissensoriais, para ativação de múltiplas redes neurais que estabelecerão associação entre si. Se as informações/experiências forem repetidas, a atividade mais frequente dos neurônios relacionados a elas, resultará em neuroplasticidade e produzirá sinapses mais consolidadas. Aprender, entretanto, não depende só dos neurônios em suas redes neurais, das células da glia e do cérebro com seus lobos, mas, sim também, do estado de saúde em que a pessoa se encontra. Simplificadamente, existem cinco fatores que contribuem para um encéfalo saudável: a prática regular de exercícios físicos que sejam prazerosos a quem os realiza. Estes exercícios podem ser caminhadas, dança, natação, musculação, etc...; alimentação balanceada, incluindo proteínas, carboidratos, gorduras, sais minerais e vitaminas; sono tranquilo, regular e satisfatório; bom humor e otimismo ao se viver; Manter a mente em funcionamento, aprendendo algo novo a cada dia Aprenda um pouco mais... O lobo frontal é responsável pela tomada de decisão, julgamento, memória recente, crítica, raciocínio. O lobo parietal está relacionado às sensações e a interpretação das sensações, pelo senso de localização do corpo e do meio ambiente. O lobo occipital ocupa-se basicamente com a visão, enquanto o temporal, com a audição. O lobo insular está relacionado a processos emocionais fortemente influenciados pelos órgãos dos sentidos. 11 Bases neurobiológicas do cérebro 1.2 Sistema nervoso O sistema nervoso é a parte de um organismo responsável por detectar sinais do mundo externo e interno e criar e transmitir as respostas apropriadas aos órgãos motores. É um dos componentes fundamentais dos organismos animais. No caso dos humanos, o sistema nervoso é especialmente complexo. Considera-se frequentemente que os órgãos responsáveis pela transmissão de informações e pela elaboração de respostas estão organizados em dois grandes grupos: – O sistema nervoso central, constituído pela medula espinhal e pelo cérebro. – O sistema nervoso periférico, formado por vários tipos de nervos que transmitem informações dos órgãos para o cérebro e vice-versa. Ambos os subgrupos do sistema nervoso consistem principalmente em neurônios, um tipo especial de célula responsável pela transmissão e processamento de informações. 1.2.1 Sistema Nervoso Central A grande maioria dos animais multicelulares possui um sistema nervoso central, com exceção de alguns organismos simples, como esponjas. No entanto, a complexidade do sistema nervoso central difere bastante entre as espécies, mas em quase todas elas consiste em um cérebro, um cordão nervoso central e um grande número de nervos periféricos que o deixam. No caso dos humanos, nosso cérebro é o mais complexo de todo o reino animal . Esse órgão é responsável por processar todas as informações fornecidas pelos sentidos, que são recebidas pela medula espinhal graças à ação dos nervos periféricos. Depois que a informação é processada, nosso cérebro é capaz de desenvolver uma resposta apropriada à situação e transmiti-la novamente ao desafio do corpo, especificamente aos órgãos efetores. Essas respostas podem ser feitas consciente ou inconscientemente, dependendo de onde no cérebro elas são formadas. Por sua vez, a medula espinhal é composta de um conjunto de nervos protegidos pela coluna vertebral. 12 Com isso, todas as informações fornecidas pelos órgãos sensoriais e nervos periféricos são coletadas e depois transmitidas ao cérebro. Mais tarde, a medula óssea é responsável por levar a resposta aos órgãos efetores. 3.1.2 Sistema Nervoso Periférico O segundo subconjunto do sistema nervoso é constituído por todos os nervos periféricos, que coletam informações dos órgãos sensoriais e as transmitem para a medula espinhal. Mais tarde, eles também levam as respostas do núcleo para os órgãos responsáveis pela sua execução. Os nervos responsáveis pela transmissão de informações do cérebro para órgãos efetores são chamados de “motores” ou “eferentes”. Por outro lado, aqueles que transmitem informações sensoriais ao sistema nervoso central são conhecidos como “sensoriais” ou “aferentes”. Por sua vez, podemos distinguir três subgrupos dentro do sistema nervoso periférico: – Sistema nervoso somático, responsável por movimentos voluntários. – Sistema nervoso autônomo, relacionado às respostas involuntárias do nosso corpo. Geralmente é dividido em sistema nervoso simpático e parassimpático. – Sistema nervoso entérico, localizado inteiramente dentro do sistema digestivo e responsável pela correta digestão dos alimentos. 1.3 Cérebro O cérebro é o órgão mais importante de todo o sistema nervoso. É responsável por receber e processar todas as informações dos sentidos, além de preparar as respostas apropriadas para cada situação. É também o órgão mais complexo dos organismos vertebrados. O cérebro humano é especialmente poderoso, graças aos seus aproximadamente 33 bilhões de neurônios e aos bilhões de sinapses (conexões entre neurônios) que ele hospeda. Esse grande número de neurônios e sinapses nos permite analisar informações incrivelmente rapidamente: alguns especialistas acreditam que podemos processar cerca de 14 milhões de bits por segundo. 13 Além do processamento de informações, a principal função do cérebro é controlar o restante dos órgãos do corpo. Isso é feito principalmente de duas maneiras: controlando os músculos (voluntário e involuntário) e secretando hormônios. A maioria das respostas do nosso corpo precisa ser processada pelo cérebro antes de ser realizada. O cérebro é dividido em várias partes distintas, mas todas estão interconectadas. As partes mais antigas do cérebro têm mais peso em nosso comportamento do que as de aparência mais recente. Os três principais sistemas do cérebro são os seguintes: – Cérebro reptiliano, responsável por nossos instintos e respostas automáticas. – Cérebro límbico, sistema que processa e gera nossas emoções. – Córtex cerebral, responsável pelo pensamento lógico e racional e pelo surgimento da consciência. 1.3.1 Cérebro reptiliano O cérebro reptiliano recebe esse nome porque apareceu evolutivamente pela primeira vez em répteis. No nosso cérebro, esse sistema é formado pelo tronco cerebral e pelo cerebelo. O cérebro reptiliano cuida de todos esses comportamentos instintivos que precisamos para sobreviver. Entre suas funções estão as de controlar funções autônomas, como respiração ou batimentos cardíacos, equilíbrio e movimentos involuntários dos músculos. Nesta parte do cérebro também estão localizadas as necessidades básicas dos seres humanos, como água, comida ou sexo. É por isso que esses instintos são os mais fortes que podemos sentir e dominam completamente nossa mente racional em muitas ocasiões. 1.3.2 Cérebro Límbico O cérebro límbico é formado pela amígdala, pelo hipocampo e pelo hipotálamo. Este subsistema cerebral apareceu pela primeira vez em mamíferos e é responsável por regular as emoções. A principal função do sistema límbico é classificar nossas experiências como agradáveis ou desagradáveis, para que possamos aprender o que nos prejudica e o 14 que nos ajuda. Portanto, ele também lida com a memória, para que nossas experiências sejam armazenadas no hipocampo . No caso dos humanos, embora tenhamos uma série de emoções básicas, nossa interpretação delas é mediada pelo córtex cerebral. Dessa maneira, nossa racionalidade influencia nossas emoções e vice-versa. 1.3.3 Córtex Cerebral O último subsistema do cérebro também é conhecido como neocórtex. É responsável pelas funções superiores do cérebro, como racionalidade, cognição ou movimentos especialmente complexos. Por sua vez, é a parte que nos dá a capacidade de pensar e ter consciência de nós mesmos. Esta parte do cérebro é a mais recente, estando presente apenas em algumas espécies de mamíferos superiores, como golfinhos ou chimpanzés. No entanto, em nenhuma espécie é tão desenvolvido quanto nos seres humanos. Em outras palavras, o neocórtex tem menos influência em nosso comportamento do que os outros dois subsistemas. Alguns experimentos indicam que sua principal função é racionalizar as decisões que tomamos inconscientemente usando cérebros reptilianos e límbicos. 1.3.4 Neurônios e Transmissão de Informações Os neurônios são as células que compõem a grande maioria do sistema nervoso. É um tipo altamente especializado de célula que recebe, processa e transmite informações através de impulsos elétricos e sinais químicos. Os neurônios são conectados entre si por sinapses. Os neurônios diferem do resto das células em muitos aspectos, um dos mais importantes é o fato de não poderem se reproduzir. Até muito recentemente, acreditava-se que o cérebro de um ser humano adulto não era capaz de produzir novos neurônios, embora estudos recentes pareçam indicar que isso não é verdade. Existem vários tipos de neurônios baseados na função que eles desempenham: Neurônios sensoriais, capazes de detectar um tipo de estímulo. 15 – Neurônios motores, que recebem informações do cérebro e da medula espinhal, causando contrações musculares e respostas hormonais. -Interneurônios, responsáveis por conectar neurônios do cérebro ou da medula espinhal, formando redes neurais. 1.3.5 Estrutura dos neurônios Os neurônios são formados principalmente por três componentes: soma, dendritos e axônio. – A soma é o corpo do neurônio, ocupando a maior porcentagem de espaço celular. Dentro estão as organelas que permitem ao neurônio desempenhar sua função. – Os dendritos são pequenas extensões que surgem do soma e se conectam com o axônio de outro neurônio. Através dessas conexões, a célula é capaz de receber informações. – O axônio é uma extensão maior do neurônio, através da qual é capaz de transmitir informações através de uma sinapse. Nos seres humanos, o axônio de um neurônio pode medir até um metro de comprimento. 1.3.6 Transmissão de informação Através de sinapses, os neurônios são capazes de transmitir informações uns aos outros extremamente rapidamente. Esse processo de transmissão de informações é produzido por impulsos elétricos, que viajam entre os diferentes neurônios através da alteração do balanço químico neuronal. Os potenciais elétricos dos neurônios são controlados pela quantidade de sódio e potássio presente dentro e fora; A alteração desses potenciais é o que causa a transmissão de informações nas sinapses. 16 O CÉREBRO EAS IMPLICAÇÕES NA APRENDIZAGEM Figura 4 O homem percebe o mundo por meio de seu aparelho perceptual, num processo interpretativo dos fenômenos que envolve seus sentidos e sua memória. Memória é a aquisição, a formação, a conservação e a evocação de informação. A aquisição é também chamada de aprendizagem: só se ‘grava’ aquilo que foi aprendido. A evocação é também chamada de recordação, lembrança, recuperação. Só lembramos aquilo que gravamos, aquilo que foi aprendido A percepção é a capacidade de associar as informações sensoriais à memória e à cognição, de modo a formar conceitos sobre o mundo, sobre nós mesmos e orientar nosso comportamento. De acordo com a neurociência cognitiva, cujo foco de atenção é a compreensão das atividades cerebrais e dos processos de cognição, a aprendizagem humana não decorre de um simples armazenamento de dados perceptuais, e sim do processamento e elaboração das informações oriundas das percepções no cérebro. O indivíduo, permanentemente em busca de respostas para as suas percepções, pensamentos e ações, tem suas conexões neurais em constante reorganização e seus padrões conectivos alterados a todo momento, mediante processos de 17 fortalecimento ou enfraquecimento de sinapses. No cérebro, há neurônios prontos para a estimulação. A atividade mental estimula a reconstrução de conjuntos neurais, processando experiências vivenciais e/ou linguísticas, num fluxo e refluxo de informação. As informações, captadas pelos sentidos e transformadas em estímulos elétricos que percorrem os neurônios, são catalogadas e arquivadas na memória. É essa capacidade de agregar dados novos a informações já armazenadas na memória, estabelecendo relações entre o novo e o já conhecido e reconstruindo aquilo que já foi aprendido, num reprocessamento constante das interpretações advindas da percepção, que caracteriza a plasticidade. A aprendizagem, portanto, é o processo em virtude do qual se associam coisas ou eventos no mundo, graças à qual adquirimos novos conhecimentos. Denominamos memória o processo pelo qual conservamos esses conhecimentos ao longo do tempo. Os processos de aprendizagem e memória modificam o cérebro e a conduta do ser vivo que os experimenta. Assim, o cérebro pode ser visto como um sistema dinâmico que tem sua complexidade funcional subsidiada pela sua interação com outros sistemas nele presentes, não podendo ser interpretado como depósito estático para o armazenamento de informação. Segundo Posner e Raichle (2001), os sistemas cognitivos são aqueles sistemas mentais que regem as atividades diárias do ser humano – como ler, escrever, conversar, planejar, reconhecer rostos. Alguns sistemas comportam outros sistemas, agregando complexidade na geração de um comportamento. O sistema cognitivo da linguagem, por exemplo, envolve falar, ler e escrever, ativando diferentes estruturas cerebrais. Esses diferentes sistemas cognitivos têm como base distintas operações mentais: uma dada tarefa mental como jogar xadrez, pode ativar diferentes operações mentais, as quais estão relacionadas a redes neurais de áreas cerebrais específicas. Acrescenta-se a essas proposições a visão de Moraes (2004), para quem a aprendizagem progride mediante fluxos dinâmicos de trocas, análises e sínteses autor reguladoras cada vez mais complexas, ultrapassando o acúmulo de informações e sendo reconstruída, via transformação, por meio de mudanças estruturais advindas de ações e interações provocadas por perturbações a serem superadas. A memória é responsável pelo armazenamento de informações, bem como pela evocação daquilo que está armazenado. E a aprendizagem requer competências para lidar de forma organizada com as informações novas, ou com aquelas já armazenadas 18 no cérebro, a fim de realizar novas ações. Aprender envolve, assim, a execução de planos já formulados, resultando de ações mentais bem pensadas, ensaiadas mentalmente e que influenciam o planejamento de atos futuros. O cérebro está preparado para funcionar com o feedback interno e externo, pois é autorreferente, isto é, o que é recebido em qualquer nível cerebral depende de tudo o mais que acontecer nesse nível, e o que é enviado para o nível seguinte depende do que já estiver acontecendo nesse nível. Apesar da proximidade entre os conceitos de aprendizagem e memória. O processo de aquisição de novas informações que vão ser retidas na memória é chamado aprendizagem. Através dele nos tornamos capazes de orientar o comportamento e o pensamento. Memória, diferentemente, é o processo de arquivamento seletivo dessas informações, pelo qual podemos evocá-las sempre que desejarmos, consciente ou inconscientemente. De certo modo, a memória pode ser vista como o conjunto de processos neurobiológicos e neuropsicológicos que permitem a aprendizagem. Considerando a flexibilidade do cérebro para reagir às demandas do ambiente, explicada pela sinaptogênese – capacidade de formação de novas conexões, sinapses, entre as células cerebrais –, e o fato de que o conhecimento deve ser codificado nas ligações entre os neurônios, a aprendizagem, possibilitada pela plasticidade cerebral, modifica química, anatômica e fisiologicamente o cérebro, porque exige alterações nas redes neuronais, cada vez que as situações vivenciadas no ambiente inibem ou estimulam o surgimento de novas sinapses mediante a liberação de neurotransmissores. Oferecer situações de aprendizagem fundamentadas em experiências ricas em estímulos e fomentar atividades intelectuais pode promover a ativação de novas sinapses. As informações do meio, uma vez selecionadas, não são apenas armazenadas na memória, mas geram e integram um novo sistema funcional, caracterizando com isso a complexificação da aprendizagem. Uma informação pode, pela desordem que gera, levar à evolução do conhecimento do indivíduo, pois ele precisará desenvolver estratégias cognitivas a fim de reorganizar e retomar o equilíbrio na construção do conhecimento. E isso é obtido por meio de um processo dinâmico e recursivo presente na reconstrução do próprio ato de conhecer. A aprendizagem, embora dependa de substratos físicos estruturados caracteriza-se pelo processo de contínua inovação, maleável por natureza, flexível e dinâmico 19 A aprendizagem surge de um acoplamento estrutural: as interações recíprocas entre o indivíduo e o meio fazem surgir mudanças estruturais na organização do ser vivo e do contexto em que está inserido; perante as informações, o organismo, num processo auto organizador, opera com propriedades emergentes, a fim de se adaptar às condições cambiantes presentes no processo de conhecer. Transferir para a educação, o entendimento da aprendizagem como acoplamento estrutural implica uma visão nova do aprender, a qual passa a estar fundamentada no fato de que experiências de aprendizagem em contextos pedagógicos geram alterações na estrutura do indivíduo. As experiências em sala de aula estimulam reflexões recursivas sobre os pensamentos, sentimentos e ações, permitindo que a aprendizagem seja concebida como processo reconstrutivo, envolvendo autor reorganização mental e emocional daqueles que interagem nesse contexto. Aprender não é somente reconhecer o que, virtualmente, já era conhecido; não é apenas transformar o desconhecido em conhecimento. É a conjunção do reconhecimento e da descoberta. Aprender comporta a união do conhecido e do desconhecido. A memória e a aprendizagem são fundamentais para a evolução do indivíduo como ser social, pois ultrapassam a simples apreensão das informações pelo sujeito aprendente, passando a fundamentar seu pensamento e suas ações. Pensar é, com efeito, um processo, uma função biológica desempenhada pelo cérebro. O processamento do pensamento é o ato de receber, perceber e compreender, armazenar, manipular, monitorar, controlar e responder ao fluxo constante de dados. A capacidade para ligar de forma competente as informações oriundas das áreas de associação motora, sensorial e mnemônica é decisiva para o processamento do pensamento e para a consideração e planejamento de futuras ações. Deve-se ressaltar também que as emoções desempenham um papel decisivo na aprendizagem. Posner e Raichle (2001), retomando os estudos de Friedrich e Preiss, lembram que o sistema límbico, formado por tálamo, amígdala, hipotálamo e hipocampo, avalia as informações, decidindo que estímulos devem ser mantidos ou descartados, dependendo a retenção da informação no cérebro da intensidade da impressão provocada nele. A consciência da experiência vivenciada é atingida quando, ao passar pelo córtex cerebral, compara-se a experiência com reflexões anteriores. Assim, quando conseguimos estabelecer uma ligação entre a informação nova e a memória 20 preexistente, são liberadas substâncias neurotransmissoras – como a acetilcolina e a dopamina – que aumentam a concentração e geram satisfação. É dessa maneira que emoção e motivação influenciam a aprendizagem. Os sentimentos, intensificando a atividade das redes neuronais e fortalecendo suas conexões sinápticas, podem estimular a aquisição, a retenção, a evocação e a articulação das informações no cérebro. Diante desse quadro, os autores defendem a importância de contextos que ofereçam aos indivíduos os pré-requisitos necessários a qualquer tipo de aprendizado: interesse, alegria e motivação. A razão é fortemente relacionada com a emoção. De um modo ou de outro, nossos atos e pensamentos são sempre influenciados pelas emoções. Dentro de uma perspectiva de aprendizagem sustentada nas relações entre os elementos constituintes da percepção – sentidos e memória – e no pensamento sistêmico, no qual essas relações acontecem inseridas na complexidade da reestruturação permanente do conhecimento no cérebro/mente, é imprescindível que o professor se reconheça como responsável pela configuração de um ambiente que propicie a autor reorganização dos indivíduos. Ainda que a inteligência do indivíduo dependa, pela interação entre as células neuronais, do desenvolvimento biológico, somente as mediações que o indivíduo sofre em suas interações com o meio ambiente onde está inserido é que permitirão expandir essa inteligência em todo seu potencial. À luz desses argumentos, entender como o aluno aprende permite ao professor, assim, buscar uma forma mais adequada de ‘didatizar’ os conhecimentos científicos, pois compreender a forma de cognição do aluno melhora a organização do ensino. 21 REFERÊNCIAS Beatty, J. (2001). The human brain: essentials of behavioral neuroscience. Thousand Oaks, CA: Sage Publications. Berninger, V. W., Corina, D. (1998). Making cognitive neuroscience educationally relevant: creating bidirectional collaborations between educational psychology and cognitive neuroscience. EducationalPsychology Review, 10(3):343-354. Bizzo, N. (1998). Ciências: fácil ou difícil. São Paulo, SP: Editora Ática. Bossa, N. A. (2000). Dificuldades de aprendizagem: o que são? Como tratá-las. Porto Alegre, RS: Artmed Editora. Fields, R. D. (2005). Memórias que ficam.Scientific American Brasil, 34:61-67. Fischer, K. W., Rose, S. P. (1998). Growth cycles of the brain and mind. EducationalLeadership, 56(3):56-60. Flores, R. Z. (2002). Neurociências: as conseqüências da valorização do neurônio. Em: Mota, R., Flores, R. Z., Sepel, L., Loreto, E. (orgs.) Método científico & fronteiras do conhecimento. Pp.141-156. Santa Maria, RS: CESMA. Freire-Maia, N. (1997). A ciência por dentro. Petrópolis, RJ: Editora Vozes. Gazzaniga, M. S., Ivry, R. B. (2002). Cognitive Neuroscience: the biology of the mind. New York, NY: W. W. Norton. Geake, J. (2004). Cognitive neuroscience and education: two-way traffic or one-way street? Westminster Studies in Education, 27(1):87-98. Geake, J., Cooper, P. (2003). Cognitive neuroscience: implications for education? Westminster Studies in Education, 26(1):720. Given, B. K. (1998). Food for thought. Educational Leadership, 56(3):68-71. Herculano-Houzel, S. (2002). Do you know your brain? A survey on the public neuroscience literacy at the closing of the decade of the brain. The Neuroscientist, 8(2):98-110 Pereira, C. D. (2002). Neurociência e educação. Em: Martins, R.P., Mari, H. (orgs.) Universo do Conhecimento. Pp. 221-241. Belo Horizonte, MG: Faculdade de Letras da UFMG. Purpura, P.D. (1992). A neuroscience curriculum. Em: Marston, R. Q., Jones, R. M. (eds). Medical Education in transition. Pp. 58- 66. Princeton, NJ: Robert Wood Johnson Foundation. Purves, D. ,Augustine, G. J., Fitzpatrick, D., Katz, L. C., La Mantia, A-S., McNamara, J. O. (1997). Neuroscience. Sunderland, MA: SinauerAssociatesRushton, S., Larkin, E. (2001). Shaping the learning environment: connecting developmentally appropriate practices to brain research. EarlyChildhoodEducationJournal, 29(1):25-33. Saavedra, M. A. (2002). Algumas contribuiciones de lasneurociencias a laeducacion. RevistaEnfoquesEducacionales, 4(1):65-73. Schacter, D. (1996). Searching for memory: the brain, the mind and the past. New York, NY: Basic Books. Shepherd, G. M. (1994). Neurobiology. 3a. ed., New York, NY: Oxford University Press. 22 Stanovich, K. E. (1998). Cognitive neuroscience and educational psychology:what season is it? Educationalpsychology Review, 10(4): 419-426. Werner, D. (1997). O pensamento de animais e intelectuais: evolução e epistemologia. Florianópolis, SC: Editora UFSC. Westwater, A., Wolfe, P. (2000). The brain-compatible curriculum. Educational Leadership, 58(3):49-52. Williams, L. V. (1986). Teaching for the two-sided mind: a guide to right brain/left brain education. New York, NY: Simaon& Schuster. Wilson, N. V., Battistich, V., Syme, S. L., Boyce, W. T. (2002). Does elementary school alcohol, tobacco and marijuana use increase middle school risk? Journal of Adolescent Health, 30:442-447. Zardetto-Smith, A. M., Mu K., Phelps, C.L., Houtz, L. E., Royeen, C. B. (2002). Brainsrule! Fun=learning=neuroscience literacy. The Neuroscientist, 8(5): 396-404.
Compartilhar