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Aula 12 - Da Nulidade do Casamento

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DIREITO CIVIL V – DIREITO DE FAMÍLIA 
PROFESSORA: CAROLINE BITTENCOURT 
 
 
 
DA NULIDADE DO CASAMENTO 
 
1. CASAMENTO INVÁLIDO 
 
O CASAMENTO INVÁLIDO pode ser NULO ou ANULÁVEL, dependendo do 
grau de imperfeição, ou seja, de inobservância dos requisitos de validade 
exigidos na lei. (Diferença de sexo, Consentimento e Celebração na forma da 
lei). 
Preleciona SILVIO RODRIGUES que, quando um casamento se realiza com 
INFRAÇÃO DE IMPEDIMENTO imposto pela ORDEM PÚBLICA, por 
AMEAÇAR DIRETAMENTE A ESTRUTURA DA SOCIEDADE, esta reage 
violentamente, “FULMINANDO DE NULIDADE O CASAMENTO QUE A 
AGRAVA”. Este tipo de AÇÃO é IMPRESCRITÍVEL. 
 
“Art. 1.548. É nulo o casamento contraído: 
I - pelo enfermo mental sem o necessário discernimento 
para os atos da vida civil; (Revogado); (Redação dada pela 
Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) 
II - por infringência de impedimento.” 
 
Quando a infração se revela MAIS BRANDA, não atentando contra a ordem 
pública, mas ferindo apenas o INTERESSE DE PESSOAS que a lei quer 
proteger, o legislador apenas defere a estas “uma AÇÃO ANULATÓRIA, para 
que seja por elas usada, se lhes aprouver” (ação decadencial – arts. 1.555 e 
1.560 CC). 
 
2. DA NULIDADE 
 
• NULIDADES TEXTUAIS: De forma ampla consideram-se somente as 
NULIDADES TEXTUAIS, isto é, as DESCRITAS PELA LEI, prevalecendo 
assim o princípio assentado pela doutrina francesa: pas de nullité sans 
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texte (não há nulidade sem prejuízo). Esse princípio preconiza que não 
se deve anular um processo ou um ato processual, senão quando 
realmente comprovado o prejuízo da parte interessada. 
 
3. DAS EXCEÇÕES DAS NULIDADES 
 
A teoria das nulidades apresenta algumas EXCEÇÕES em matéria de 
casamento. Assim: 
 
• Embora os atos nulos em geral não produzam efeitos, há uma espécie de 
casamento, o PUTATIVO, que produz todos os efeitos de um casamento 
válido para O CÔNJUGE DE BOA-FÉ. Não se aplica, assim, ao 
matrimônio o fundamento quod nullum est nullum producit effectum 
(aquilo que é nulo não produz efeitos). 
 
• Apesar de o juiz ter que PRONUNCIAR DE OFÍCIO a nulidade dos atos 
jurídicos em geral (art. 168, Parágrafo único, CC), a NULIDADE DO 
CASAMENTO somente poderá ser declarada em AÇÃO ORDINÁRIA, OU 
SEJA, AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE (arts. 1.549 e 1.563 CC), 
não podendo, pois, ser proclamada de ofício. 
 
“Art. 168. As nulidades dos artigos antecedentes podem 
ser alegadas por qualquer interessado, ou pelo Ministério 
Público, quando lhe couber intervir. 
Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas 
pelo juiz, quando conhecer do negócio jurídico ou dos seus 
efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido 
supri-las, ainda que a requerimento das partes.” 
 
“Art. 1.549. A decretação de nulidade de casamento, pelos 
motivos previstos no artigo antecedente, pode ser 
promovida mediante ação direta, por qualquer interessado, 
ou pelo Ministério Público.” 
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“Art. 1.563. A sentença que decretar a nulidade do 
casamento retroagirá à data da sua celebração, sem 
prejudicar a aquisição de direitos, a título oneroso, por 
terceiros de boa-fé, nem a resultante de sentença 
transitada em julgado.” 
 
• Desse modo, enquanto não declarado nulo por decisão judicial transitada 
em julgado, o casamento EXISTE e PRODUZ EFEITOS, incidindo todas 
as regras sobre efeitos do casamento (deveres dos cônjuges, regimes de 
bens, etc). 
 
4. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE (AÇÃO ORDINÁRIA) e AÇÃO 
ANULATÓRIA (AÇÃO PRÓPRIA) 
 
Como visto anteriormente: 
• Quando o CASAMENTO É NULO, a ação adequada é a AÇÃO 
DECLARATÓRIA DE NULIDADE. Os efeitos da sentença são EX TUNC, 
retroagindo à data da celebração. 
 
• A ANULABILIDADE DO CASAMENTO reclama a propositura de AÇÃO 
ANULATÓRIA, em que a sentença, segundo determinada corrente, 
produz efeitos somente a partir de sua prolação, não retroagindo. Efeito 
EX NUNC. 
 
• A IRRETROATIVIDADE dos efeitos da sentença anulatória é sustentada 
por Orlando Gomes, Maria Helena Diniz, Carlos Alberto Bittar, dentre 
outros. 
 
• Pontes de Miranda, Clóvis Beviláqua, Antunes Varela, José Lamartine 
Corrêa de Oliveira, dentre outros afirmam que a anulação do casamento 
“produz efeitos iguais à decretação da nulidade, salvo onde a lei civil abriu 
explícita exceção”. Ex.: Tal como no casamento nulo, no anulável não há 
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se observar o efeito de antecipação da maioridade pela emancipação, 
salvo caso de putatividade. 
 
• Neste último sentido, a lição de Beviláqua, por sua clareza, merece ser 
transcrita: “Se o casamento é nulo, nenhum efeito produz (...), e, quando 
anulável, desfaz-se como se nunca tivesse existido. Nem um nem outro 
formam sociedade conjugal, e sim mera união de fato, a que o direito 
atribui, em dados casos, certos efeitos jurídicos e econômicos. Somente 
quando se realizam as condições do casamento putativo é que há, 
propriamente, uma sociedade conjugal, que se dissolve pela nulidade ou 
anulação do casamento”. 
 
• A AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DO CASAMENTO e a AÇÃO 
ANULATÓRIA, são AÇÕES DE ESTADO e versam sobre DIREITOS 
INDISPONÍVEIS. 
 
➢ ASSIM: 
 
a) Não se operam os efeitos da revelia (NCPC, art. 345, II), não se 
presumindo verdadeiros os fatos não contestados. 
b) Não existe o ônus da impugnação especificada (NCPC, art. 341), não se 
presumindo verdadeiros os fatos não impugnados especificamente. 
c) Imprescritibilidade da AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE, como bem 
explica San Thiago Dantas: “Quando o ato é nulo, a ação que tem o 
interessado, para fazer declarar a sua nulidade, não prescreve. Pode ser 
proposta em qualquer tempo; precisamente porque o ato é nulo, não 
existe, não vale e toda época será oportuna para se demonstrar 
judicialmente a sua inexistência”. 
d) O prazo para a propositura da AÇÃO ANULATÓRIA é decadencial (arts. 
1.555 e 1.560): 
 
“Art. 1.555. O casamento do menor em idade núbil, quando 
não autorizado por seu representante legal, só poderá ser 
anulado se a ação for proposta em cento e oitenta dias, por 
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iniciativa do incapaz, ao deixar de sê-lo, de seus 
representantes legais ou de seus herdeiros necessários. 
§ 1o O prazo estabelecido neste artigo será contado do dia 
em que cessou a incapacidade, no primeiro caso; a partir 
do casamento, no segundo; e, no terceiro, da morte do 
incapaz. 
§ 2o Não se anulará o casamento quando à sua celebração 
houverem assistido os representantes legais do incapaz, 
ou tiverem, por qualquer modo, manifestado sua 
aprovação.” 
 
“Art. 1.560. O prazo para ser intentada a ação de anulação 
do casamento, a contar da data da celebração, é de: 
I - cento e oitenta dias, no caso do inciso IV do art. 1.550; 
II - dois anos, se incompetente a autoridade celebrante; 
III - três anos, nos casos dos incisos I a IV do art. 1.557; 
IV - quatro anos, se houver coação. 
§ 1o Extingue-se, em cento e oitenta dias, o direito de 
anular o casamento dos menores de dezesseis anos, 
contado o prazo para o menor do dia em que perfez essa 
idade; e da data do casamento, para seus representantes 
legais ou ascendentes. 
§ 2o Na hipótese do inciso V do art. 1.550, o prazo para 
anulação do casamento é de cento e oitenta dias, a partir 
da data em que o mandante tiver conhecimento da 
celebração.” 
 
e) Pré-dissolução do casamento: A pré-dissolução do casamento por morte 
de um dos cônjuges ou pelo divórcio não exclui a possibilidade de existir 
legítimo interesse que justifique a propositura da AÇÃO DECLARATÓRIA 
DE NULIDADE, como enfatizam Corrêa de Oliveira e Ferreira Muniz, pois 
o cônjuge sobrevivo “pode ter legítimo interessena propositura da ação 
de nulidade, quer por desejar excluir os efeitos do regime de bens, quer 
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por desejar excluir outra espécie de efeitos, como, por exemplo, o direito 
ao nome”. 
 
5. IMPORTANTES EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE NULIDADE 
 
Alguns efeitos da declaração de nulidade merecem destaque: 
 
• O casamento nulo não produz o efeito de antecipar a maioridade pela 
emancipação, salvo caso de boa-fé. 
 
• Nulo o casamento, o pacto antenupcial, de caráter acessório, segue o 
mesmo destino. 
 
• No tocante aos filhos, determina o art. 1.587 do Código Civil que se 
observe o disposto nos arts. 1.584 e 1.586. Estabelece o primeiro que, 
não havendo acordo entre as partes quanto à guarda dos filhos, “será ela 
atribuída a quem revelar melhores condições para exercê-la”; e o 
segundo, que, “havendo motivos graves, poderá o juiz, em qualquer caso, 
a bem dos filhos, regular de maneira diferente da estabelecida nos artigos 
antecedentes a situação deles para com os pais”. 
 
• Declaração de nulidade do casamento e regime de bens: Em matéria de 
regime de bens, “faz-se sentir de modo nítido a eficácia retroativa da 
sentença de nulidade. A sentença faz desaparecer retroativamente o 
regime de bens. Isso quer dizer que a liquidação das relações 
patrimoniais, eventualmente surgidas em função da vida em comum que 
existiu, deverá ser feita com base nas regras referentes à sociedade de 
fato, como se procederia na hipótese de mero concubinato. 
 
• Essa solução só é, porém, incidente nas hipóteses de casamento nulo em 
que ambos os cônjuges estivessem, no momento da celebração, de má-
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fé. No caso de boa-fé da parte de um ou de ambos os cônjuges, toda 
solução será dominada pelos princípios próprios do casamento putativo. 
 
6. DO CASAMENTO NULO 
 
CASOS DE NULIDADE 
 
Atualmente o Código Civil, no art. 1.548, somente considera nulo o casamento 
quando se INFRINGIR OS “IMPEDIMENTOS” PREVISTOS NO ARTIGO 1.521 
DO CÓDIGO CIVIL. 
 
Os impedimentos para o casamento são somente os elencados no art. 1.521, I 
a VII, do referido diploma. 
 
Apurado que os nubentes infringiram qualquer deles, É NULO O CASAMENTO. 
Não importa que não tenha havido impugnação na fase do processo preliminar, 
ou mesmo que haja sido rejeitada. As situações, erigidas em impedimentos, 
condizem com a ordem pública, e, assim sendo, não se coadunam com a 
subsistência do matrimônio. 
 
EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE NULIDADE 
 
A declaração de nulidade proclama, RETROATIVAMENTE, JAMAIS TER 
EXISTIDO CASAMENTO VÁLIDO. Por isso se diz que, em princípio, a nulidade 
produz efeitos ex tunc. Desde a celebração o casamento não produzirá efeitos. 
Estatui, com efeito, o art. 1.563 do Código Civil: 
 
“Art. 1.563. A sentença que decretar a nulidade do 
casamento retroagirá à data da sua celebração, sem 
prejudicar a aquisição de direitos, a título oneroso, por 
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terceiros de boa-fé, nem a resultante de sentença 
transitada em julgado”. 
 
ASSIM: 
 
• Os bens que se haviam comunicado pelo casamento retornam ao antigo 
dono. 
 
• Não se cumpre o pacto antenupcial, como foi dito no item anterior. 
 
• O casamento nulo, entretanto, aproveita aos filhos, ainda que ambos os 
cônjuges estejam de má- fé, segundo dispõe o § 2º do art. 1.561 do 
Código Civil, e a paternidade é certa. 
 
• Se reconhecida a boa-fé de um ou de ambos os cônjuges, ele será 
putativo e produzirá efeitos de casamento válido ao cônjuge de boa-fé até 
a data da sentença. 
 
• A mulher, no entanto, não deve casar-se novamente, até dez meses após 
a sentença, salvo se der à luz algum filho ou provar inexistência de 
gravidez, na fluência do prazo (CC, art. 1.523, parágrafo único, segunda 
parte). 
 
De relembrar que, enquanto NÃO DECLARADO NULO POR DECISÃO 
JUDICIAL TRANSITADA EM JULGADO, o casamento EXISTE E PRODUZ 
TODOS OS EFEITOS, especialmente quanto aos deveres conjugais e ao regime 
de bens.

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