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Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos - UNICEPLAC
Curso de Direito
Trabalho de Conclusão de Curso
Assistência Jurídica gratuita como Meio de Preservação da Cidadania. 
Gama-DF
2020
BRENDON OLIVEIRA DE REZENDE
Assistência Jurídica gratuita como Meio de Preservação da Cidadania. 
Monografia apresentada como requisito para conclusão do curso de Direito do Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos – Uniceplac.
Orientador: Prof. Me. Bruno Gurão
Gama-DF
2020
A biblioteca da UNICEPLAC oferece o serviço de elaboração de fichas-catalográficas, por meio do link: https://uniceplac.com.br/pagina/ficha-catalografica-de-tcc
Cutter
	Rezende, Brendon Oliveira de.
Assistência Jurídica gratuita como Meio de Preservação da Cidadania. / Brendon Oliveira de Rezende. – 2020.
00 p. 
Trabalho de Conclusão de Curso – Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos - UNICEPLAC, Curso de direito, Brasília, 2020.
Orientação: Prof. Me. Bruno Gurão.
1. assistência jurídica integral e cidadania. 2 acesso à justiça e cidadania. 3 assistência jurídica gratuita e cidadania.
CDU: XXX
CDU: XXX
BRENDON OLIVEIRA DE REZENDE
Assistência Jurídica gratuita como Meio de Preservação da Cidadania. 
Monografia apresentada como requisito para conclusão do curso de Direito do Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos – Uniceplac.
Gama, dia de mês de ano.
Banca Examinadora
Prof. Nome completo
Orientador
Prof. Nome completo
Examinador
Prof. Nome Completo
Examinador
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela minha vida, e por me permitir ultrapassar todos os obstáculos encontrados ao longo da realização deste trabalho.
Aos meus pais e à minha irmã, que me incentivaram durante todo o curso.
Aos professores, pelas correções e ensinamentos que me permitiram apresentar um melhor desempenho no meu processo de formação profissional ao longo do curso.
Agradecimento especial ao Professor Orientador Prof. Me. Bruno Gurão pela disponibilidade.
A todos aqueles que contribuíram, de alguma forma, para a realização deste trabalho.
Aos meus colegas de curso, com quem convivi durante os últimos anos, pelo companheirismo e pela troca de experiências que me permitiram crescer não só como pessoa, mas também como formando.
À instituição de ensino UNICEPLAC, essencial no meu processo de formação profissional, pela dedicação, e por tudo o que aprendi ao longo dos anos do curso.
RESUMO
O objetivo geral será descobrir quais foram os principais pontos que levaram o legislador a criar essa ferramenta para igualar os desiguais e se eles ainda são eficazes para proteger os menos favorecidos. Quantos aos demais objetivos, o presente trabalho buscará: analisar se os direitos fundamentais estão sendo respeitados, consoante a finalidade precípua da assistência jurídica, bem como compreender o contexto histórico em que a Defensoria Pública foi inserida no Brasil, estudar os aspectos sociais na prestação jurisdicional gratuita, avaliar a eficácia da Assistência jurídica, analisar se a assistência jurídica é um meio de controle social das ações do Estado e sedimentação dos direitos advindos do exercício da cidadania, evidenciar os desafios dos órgãos que prestão assistência jurídica aos hipossuficientes, estudar ações relacionadas a prestação da assistência jurídica e analisar os institutos: justiça gratuita, assistência judiciária e assistência jurídica. Ademais, tentar propiciar, ao longo do trabalho, a visão macro dos direitos abarcados pela cidadania, bem como evidenciar o desdobramento da evolução do conceito de acesso à justiça, tendo em vista que esse acesso não diz respeito somente ao acesso no poder judiciário; é, além disso, o cumprimento dos direitos humanos por parte do Estado e as formas que esse acesso se dará, seja pela Defensoria Pública, seja por movimentos sociais. Por fim, serão utilizados artigos acadêmicos e obras dos autores Gilmar Ferreira Mendes, Alexandre de Moraes, Celso Antônio Bandeira de Melo, Hely Lopes Meirelles, Norberto Bobbio, Luís Roberto Barroso e outros.
Palavras-chave: Assistência jurídica integral. Acesso à justiça. Assistência jurídica gratuita. Direitos advindos da cidadania. 
ABSTRACT
The overall objective will be to find out what were the main points that led the legislator to create this tool to equal the unequal and if they are still effective in protecting the less favored. As for the other objectives, the present work will seek: to analyze whether fundamental rights are being respected, according to the primary purpose of legal assistance, as well as to understand the historical context in which the Public Defender was inserted in Brazil, to study social aspects in the jurisdictional provision evaluate the effectiveness of legal assistance, analyze whether legal assistance is a means of social control of State actions and sedimentation of rights arising from the exercise of citizenship, highlight the challenges of the bodies that provide legal assistance to the underprivileged, study actions related to providing legal assistance and analyzing the institutes: free justice, legal aid and legal assistance. Furthermore, trying to provide, throughout the work, a macro view of the rights covered by citizenship, as well as showing the unfolding evolution of the concept of access to justice, considering that this access does not only concern access in the judiciary; it is, moreover, the fulfillment of human rights by the State and the ways that this access will take place, either by the Public Defender's Office or by social movements. Finally, academic articles and works by authors Gilmar Ferreira Mendes, Alexandre de Moraes, Celso Antônio Bandeira de Melo, Hely Lopes Meirelles, Norberto Bobbio, Luís Roberto Barroso and others will be used.
 
Keywords: 1 full legal assistance. 2 access to justice. 3 free legal assistance. 4 rights arising from citizenship.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO	9
2	ASSISTÊNCIA JURÍDICA GRATUITA E CIDADANIA 	12
3	CIDADANIA: CONCEITO E HISTÓRICO	14
4 	EVOLUÇÃO DA ASSISTÊNCIA JURÍDICA NO BRASIL	19
4.1 O Acesso à Justiça dentro do Estado Democrático de Direito brasileiro ................21
4.2	Acesso à Justiça como direito fundamental	25
5 ACESSO À ASSISTÊNCIA JURÍDICA NO ATUAL CENÁRIO DE PANDEMIA.............................................................................................................................30
6	CONSIDERAÇÕES FINAIS	37	REFERÊNCIAS	39
1 INTRODUÇÃO
A Constitução Federal dispõe que o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos em suas demandas jurídicas. A assistência jurídica elencada no inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal vai além da mera representação nas demandas judiciais, alcançando também o dever de prestar consultoria e a orientação jurídica adequada. No Brasil, a materialização desse direito se deu por meio da criação, em 1897, da Defensoria Pública, a qual é definida como instituição essencial à justiça.
Nesse sentido, o presente trabalho objetiva compreender a relação da assistência jurídica com os direitos fundamentais abarcados pelo princípio da dignidade da pessoa humana e pelo exercício da cidadania de forma ampla. Dessa forma, diversos fatores sociais levaram o Estado a oferecer serviços jurídicos gratuitos aos hipossuficientes. 
Assim, ao popularizar o acesso à justiça, o Estado contempla os preceitos fundamentais estabelecidos no art. 5, inciso XXXV da Constituição Federal de 1988, qual seja: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Essa premissa busca proteger direitos fundamentais tutelados pelo supraprincípio da dignidade da pessoa humana. 
A assistência jurídica vem sendo alvo de constantes debates entre estudiosos e especialista da área do direito,tendo em vista a obrigatoriedade, por parte do Estado, em oferecer serviços jurídicos aos hipossuficientes. A discussão do tema é ampla, pois envolve a observância dos princípios constitucionais, a importância da cidadania nas demandas sociais advindas das causas jurídicas e a eficácia da prestação da assistência jurídica gratuita e integral. 
Assim, a problemática poderá ser debatida com o estudo semántico, jurídico e social da relação da prestação estatal com um dos fundamentos do Estado democrátido de direito elencado no artigo inaugural da Constituição Federal de 1988.
Dessa maneira, deve-se fortalecer o debate sobre o tema, a fim de que os serviços prestados pelo Estado estejam de acordo com o que os cidãdaos esperam do mesmo. Nesse contexto, torna-se obejtivo precípuo da assistência jurídica a oservância aos princípios da universalidade, da isonomia, da continuidade, da dignidade da pessoa humana e o da obrigatoriedade do Estado de prestar o serviço público.
Isto posto, no capítulo 1, fez-se necessário conceituar a palavra cidadania sob diversos aspectos, para que, após os devidos ajustes de conceito, correlacionar a cidadania ao direito de assistência jurídica e à observância, pelo Estado, dos direitos abarcados pelo exercício da cidadania, em razão da dignidade da pessoa humana recíproca.
Ainda no capítulo 1, foi traçado o histórico da evolução dos conceitos da palavra cidadania, tendo como referência o conceito jurídico-social. Este conceito se baseia nos aspectos que envolvem a aplicabildiade dos direitos resguardados pela constituição, bem como a relação desses direitos e princípios na sociedade.
No capítulo 2, a visão macro da problemática é afastada para dar lugar ao cerne da questão. Neste ponto, busca-se evidenciar como se deu a evolução da assistência jurídica no Brasil, demonstrando toda a dificuldade de sedimentação de um direto tão importante. Ainda nesse sentido, é importante destacar como esse direito se materializa nas demandas pela assistência jurídica. É nesse momento que a Defensoria Pública se mostra essencial para a projeção do Estado Democrático de Direito, que tem como pressuposto a universalidade de acesso às matérias de iniciativa do Estado.
No capítulo 3, será analisada a essência do direito de assistência jurídica, buscando dar importância material para o direito em comento. A tentativa de afastar a fundamentalidade do direito pela mera inclusão na constituição será o desafio encontrado neste capítulo, bem como encontrar o cerne natural do direito, elevando-o à premissa de que direitos naturais são aqueles necessários à manutenção e ao desenvolvimento da pessoa humana.
No capítulo 4, levando-se em consideração o atual momento de pandemia, provocada pelo vírus Sars-cov2 (Coronavírus), o presente trabalho de conclusão de curso buscará apresentar como está sendo o acesso à assistência jurídica gratuita, tendo em vista que os trabalhos do judiciário estão sendo realizados de forma remota, bem como os atendimentos nos postos da Defensoria pública e nos Núcleos de prática jurídica das faculdades de direitos.
Por fim, quanto ao metodo a ser utilizado, será o de estudo de dados particulares, suficientemente constatados, dos quais é possível verificar uma verdade geral e universal. Assim, o objetivo dos argumentos, adquiridos através de um processo mental, é levantar questionamentos mais amplos acerca das premissas nas quais já foram constatadas verdades gerais e universais. Nesse contexto, o presente trabalho terá por base conclusões prováveis, advindas de premissas anteriormente estabelecidas e concluídas, sem que o cerne da questão esteja esgotado.
Ademais, o processo deverá ser dividido em 3 etapas, as quais possuem elementos próprios. A Primeira etapa diz respeito à observação e análise dos fatos e dos fenômenos, com a finalidade de expor as causas de sua manifestação. Já a segunda etapa, busca-se comparar as premissas observadas durante o processo de conhecimento com os fatos e os fenômenos atinentes ao fato gerador. Por último, a terceira etapa evidencia a relação entre os fatos e fenômenos preexistentes com a análise feitao durante o processo de construção das premissas basilares da primeira etapa.
Quanto à forma de análise do tema, será utilizada a forma incompleta ou científica, criada por Galileu e aperfeiçoada por Francis Bacon, a qual permite induzir, de alguns casos observados adequadamente, circunstâncias diferentes das anteriores, que, fundamentadas nas causas e nas normas que regem o fenômeno ou fato, buscam conclusões prováveis a respeito do estudo.
Por último, serão utilizados artigos acadêmicos e obras dos autores José Murlo de Carvalho, Gilmar Ferreira Mendes, Alexandre de Moraes, Celso Antônio Bandeira de Melo, Hely Lopes Meirelles, Norberto Bobbio, Luís Roberto Barroso e outros. 
2 ASSISTÊNCIA JURÍDICA GRATUITA E CIDADANIA 
O abismo social que assola o planeta terra impede que vários direitos fundamentais sejam cumpridos de forma adequada. Nesse sentido, no Brasil, com o intuito de reduzir as desigualdades sociais, a Constituição Federal de 1988 buscou elencar de forma analítica todos os direitos conquistados através da luta, a fim de que a transgressão de qualquer direito ali elencado seja coibida com respaldo constitucional. Nesse cenário, o acesso à justiça, para defesa de direitos, se dá pelo uso da jurisdição do Estado. 
Esse acesso, na maioria das vezes, é feito por advogados imbuídos de uma procuração assinada pela pessoa que teve seus direitos violados. Ainda nesse contexto, a desigualdade social atinge os direitos de segunda dimensão relativos à igualdade, tendo em vista que a igualdade material depende do emprego de meios desiguais para igualar as condições no litígio.
Entretanto, a desinformação é bastante evidente nas comunidades desprovidas de recursos financeiros. Assim, a ausência de recursos acarreta o desconhecimento de direitos fundamentais tutelados pelo Estado. Por isso, cabe ao Estado, de forma paliativa, oferecer a assistência jurídica gratuita, em cumprimento aos mandamentos intrínsecos do princípio da dignidade da pessoa humana. Por outro lado, a resolução do problema se dará com a redução do abismo cultural. Assim entende Augusto Tavares Rosa Marcacini,
(...)a falta de recursos vem, muitas vezes, acompanhada da falta de informação, o acesso à justiça é obstado até mesmo pelo dato do pobre desconhecer que tenha direitos a pleitear ou que possa ter sucesso na tarefa de lutar por seus direitos. A barreiras culturais, são na verdade, mais difíceis de serem vencidas do que as barreiras econômicas. Estas podem ser afastadas isentando-se o carente das despesas com o processo e fornecendo-lhe gratuitamente um advogado para patrocinar seus interesses. As barreiras culturais só serão afastadas de fato na medida em que nível sociocultural da população evoluir. (MARCACINI, 2001, p.22)
Tendo em vista a importância do assunto e sua aplicabilidade no Brasil, vale destacar o que diz o autor José Murilo de Carvalho a respeito do tema. O trecho poderia servir de alerta para os governantes e legisladores, levando em consideração o cenário da educação no país. Entretanto, nesse ponto, faz-se necessário indagar-se se é de interesse das autoridades responsáveis por esse desenvolvimento a popularização dos saberes.
Nos países em que a cidadania se desenvolveu com mais rapidez, inclusive na Inglaterra, por uma razão ou outra a educação popular foi introduzi da. Foi ela que permitiu às pessoas tomarem conhecimento de seus direitos e se organizarem para lutar por eles. A ausência de uma população educada tem sido sempre um dos principais obstáculos à construção da cidadania civil e política. (CARVALHO, 2002, p.11.)
Assim, o reconhecimento de direitos por parte do cidadão fica prejudicado ante a ausência de informação. Dessa forma, o Estado deve proporcionar, além de assistência jurídica gratuita, mecanismos de reconhecimento de direitos tutelados na Constituição Federal.
Corrobora com esse entendimento o sociólogo ThomasHumphrey Marshall que, em sua obra, destaca as dimensões da evolução da cidadania. A primeira dimensão da cidadania foi a conquista dos direitos civis e o seu exercício baseado na liberdade, quase 200 anos após surgiram os direitos políticos caracterizando a segunda dimensão da cidadania e, por último, os direitos sociais marcaram a terceira e última dimensão. O Autor José Murilo de Carvalho, citando T.H Marshall, faz anotações em sua obra Cidadania no Brasil a respeito do tema.
O autor que desenvolveu a distinção entre as várias dimensões da cidadania, T. H. Marshall, sugeriu também que ela, a cidadania, se desenvolveu na Inglaterra com muita lentidão. Primeiro vieram os direitos civis, no século XVIII. Depois, no século XIX, surgiram os direitos políticos. Finalmente, os direitos sociais foram conquistados no século XX. Segundo ele, não se trata de seqüência apenas cronológica: ela é também lógica. Foi com base no exercício dos direitos civis, nas liberdades civis, que os ingleses reivindicaram o direito de votar, de participar do governo de seu país. A participação permitiu a eleição de operários e a criação do Partido Trabalhista, que foram os responsáveis pela introdução dos direitos sociais. (CARVALHO, 2002, p. 11.)
A afirmação que a educação popular deve ser prioridade para o conhecimento das prerrogativas advindas do ser cidadão parece ser unânime entre os estudiosos do assunto. Ela é tratada como exceção aos desdobramentos provenientes dos direitos adquiridos na evolução da cidadania. José Murilo de Carvalho ao citar a obra de T.H Marshall trata a educação popular como pré-requisito para a expansão de outros direitos.
Há, no entanto, uma exceção na seqüência de direitos, anotada pelo próprio Marshall. Trata-se da educação popular. Ela é definida como direito social mas tem sido historicamente um pré-requisito para a expansão dos outros direitos. (CARVALHO, 2002, p. 11.)
Por fim, há o entendimento de que a educação da população é de imperiosa importância para a manutenção dos diretos adquiridos e a conquista de direitos relacionados a evolução natural da sociedade. Por isso, deve-se elevar ao status de direitos naturais, aqueles direitos essenciais para o fomento da cidadania e desenvolvimento no aspecto social. 
3 CIDADANIA: CONCEITO E HISTÓRICO
A palavra cidadania tem origem na Grécia Antiga, derivada do latim civitatem que significa cidade. Tradicionalmente, a palavra cidadania nos remete às cidades-estados da Grécia antiga, baseadas na polis. A polis era formada pelos cidadãos nascidos na cidade-estado em que exerciam seus direitos políticos de forma livre e igual. Assim, Aristoteles, em sua obra Política, correlacionou o conjunto dos interesses coletivos dos cidadãos com a formação do Estado ou de uma sociedade política, a qual buscará gerir as vantagens do relacionamento social.
Como sabemos, todo Estado é uma sociedade, a esperança de um bem, seu princípio, assim como de toda associação, pois todas as ações dos homens têm por fim aquilo que consideram um bem. Todas as sociedades, portanto, têm como meta alguma vantagem, e aquela que é a principal e contém em si todas as outras se propõe a maior vantagem possível. Chamamo-la Estado ou sociedade política. (ARISTÓTELES; CAIERO; 2009)
“A maior vantagem possível” evoluiu de acordo com o momento vivenciado. Inicialmente, pleiteia-se pelas liberdades negativas, que representam a não responsabilidade do Estado com as demandas sociais. Em seguida, o Estado se vê compelido a propiciar direitos individuais fundamentais. Por último, os direitos transindividuais passam a ter notoriedade devido à natureza da prestação, tendo em vista que, nesse ponto, é necessário a colaboração da sociedade, para que se alcance a maior efetividade possível.
Por outro giro, historicamente, a cidadania, até a revolução francesa, era vista como um atributo cedido àqueles que eram detentores de posses e os nascidos nas próprias cidades, em observância ao critério ius solis de concessão da cidadania. Em comparação com os tempos atuais, cidadania era confundida com naturalidade. Essa visão de cidadania está relacionada aos direitos políticos concedidos aos cidadãos, os quais representavam a participação social nas decisões do Estado, tal prerrogativa era negada aos estrangeiros. Aristóteles conclui que: “Portanto, o que constitui propriamente o cidadão, sua qualidade verdadeiramente característica, é o direito de voto nas Assembleias e de participação no exercício do poder público em sua pátria”. Entretanto e ainda aplicando os ensinamentos de Aristóteles, um trecho em seu livro Política deixa em aberto a possibilidade de estrangeiros receberem a cidadania como medida de povoamento das cidades, tendo em vista a perda da população, principalmente de homens, em razão das guerras: “ Dizem que, desde os tempos dos primeiros reis, para solucionar o problema do despovoamento, a cidadania foi concedida a vários estrangeiros...”.
Nessa fase, cidadania se resumia à participação do cidadão nas decisões políticas do Estado, não abarcando os anseios sociais demandados pelas diferentes classes existentes na cidade. É nesse contexto de ausência das condições básicas para se manter a dignidade da pessoa que a cidadania passa a ter diferentes conceitos.
Entretanto, ao conceituar a cidadania como mera participação na vida política do Estado, marginalizamos direitos humanos que são fundamentais para a manutenção e desenvolvimento das pessoas, quais sejam: vida, saúde, educação e outros direitos sociais elencados na Constituição Federal de 1988 e em documentos construídos com a finalidade de garantir a dignidade da pessoa humana.
Insta salientar que a cidadania indica aspectos multifacetários da evolução do homem como ser sociável. Partindo do conceito político e seguindo para o aspecto humanitário da cidadania, o qual se baseia no termo sujeito de direitos, que tem como pressupostos a observância de direitos, bem como a responsabilidade em cumprir deveres estabelecidos, seja por determinação legal ou pelo contrato social vigente naquele momento. Nesse contexto de conceituação e valoração dos efeitos, cidadania também pode ser conceituada, juridicamente, como atributo destinado àquele que possui direitos políticos. Esse conceito perpassa a evolução da palavra e nos dirige à origem da mesma. 
Com o advento da Revolução Francesa, datada em 5 de maio de 1789 a 9 de novembro de 1799, as dimensões da cidadania passaram a se tornar mais evidentes, tendo em vista a proximidade com os direitos de liberdade, igualdade e fraternidade. Os Direitos Civis, políticos e sociais, indicados como dimensões dos direitos da cidadania, tornarem-se, na maioria das vezes, o cerne dos conflitos internos dos países. Assim, historicamente, a cidadania evoluiu conforme eventos globais foram se desdobrando em direitos conquistados. Essa evolução perpassa a idade antiga e a idade média com foco no conceito político da palavra, mas é ao final da idade moderna, com a revolução francesa, que o termo ganha destaque. A Revolução Francesa ergueu a bandeira da liberdade, da igualdade e da fraternidade, motivando diversos avanços sociais para além do velho continente. 
A Revolução Francesa se motrou um ponto importante na história da humanidade, sobretudo no que diz respeito a conquista dos direitos abarcados pela cidadania. Esse tipo de conflito servia, no ocidente, de combustível para o alcance da cidadania plena, que representa a soma da liberdade, da participação e da igualdade. Ao longo dos anos a cidadania plena foi buscada e desenvolvida no ocidente, o autor da obra Cidadania no Brasil, o longo caminho realça a importância de se ter a cidadania plena como medida da cidadania no país.
Uma cidadania plena, que combine liberdade, participação e igualdade para todos, é um ideal desenvolvido no Ocidente e talvez inatingível. Mas ele tem servido de parâmetro para o julgamento da qualidade da cidadania em cada país e em cada momento histórico. (CARVALHO, 2002, p.9.)
Outro ponto que merece destaque, é a evoluçãodos direitos abarcados pela cidadania. Inicialmente, o homem era visto como ser individual. Tal premissa evoluiu conforme os relacionamentos humanos e comerciais foram surgindo com o feudalismo. (COGOY, 2012)
A necessidade de transações entre pessoas e Estados demonstrou que a cidadania não se restringia àqueles que nasceram em determinada cidade-estado, mas sim a todos os que pleiteavam direitos e cumpriam regras de determinada nação, a fim de permanecer e usufruir dos recursos ali existentes, evidenciando a globalização de pessoas. Esse termo nos refere à necessidade de exploração e expansão das potências da idade média. (COGOY, 2012)
Na idade contemporânea, infelizmente, o interesse dos países pelo domínio econômico acarretou em duas guerras mundiais, as quais evidenciaram o retrocesso na valorização da vida e dos direitos sociais, ferindo, dessa forma, o conceito humanitário da cidadania. Entretanto, tais eventos não serviram exclusivamente para prejudicar a evolução dos direitos abarcados pela cidadania, serviram também para que o legislador ou governante normatizasse condutas que atentassem contra direitos fundamentais e naturais.
Ainda nesse contexto, merece destaque como se deu essa evolução no Brasil. Resumidamente e ao contrário do que ocorreu no ocidente, mais precisamente na Inglaterra, no Brasil, a busca pelos direitos sociais foi o marco da primeira dimensão da cidadania, isso aconteceu porque, desde a colonização, os direitos individuais eram suprimos e as classes mais prejudicadas, primeiro os índios e depois os negros, não tinham força para erradicar as violações sofridas. Nesse sentido, essas classes sociais se viram impelidas a lutar por direitos que abarcassem todos e não índividuos separadamente. (CARVALHO, 2002)
	 Após vários anos de violação aos direitos humanos básicos de negros e índios, o Estado se viu obrigado a adotar uma postura democrática e abolir, em 1888, a escravidão. Porém, essa decisão veio carente de ações para a inserção dos homens livres na sociedade. Com isso, as demandas por direitos sociais foram ainda mais incisivar, levando em consideração que, neste momento negros e índios possuiam somente a liberdade negativa, estando ausente os demais direitos fundamentais básicos, em respeito a dignidade do homem. (CARVALHO, 2002)
Assim, o Brasil consolida a primeira dimensão da cidadania baseada no direitos sociais. Passado o tempo e incorporando o lema da Revolução Francesa, os marginalizados pela ausência do Estado, buscam que os direitos civis concedidos aos cidadãos sejam a eles também oportunizados. Vale ressaltar que a conquista desses direitos se deu com bastante sacrifício, isso demonstra uma evolução sangrenta e manchada pela luta. Por fim, buscou-se a igualdade material das classes. Tal fato, está intimamente ligado à representação das classes menos favorecidas nos pleitos políticos e nas decisões do Estado, bem como no entedimento de que, as constituições democráticas buscaram sedimentar essa participação. (CARVALHO, 2002)
Para dizer logo, houve no Brasil pelo menos duas diferenças importantes. A primeira refere-se à maior ênfase em um dos direitos, o social, em relação aos outros. A segunda refere-se à alteração na seqüência em que os direitos foram adquiridos: entre nós o social precedeu os outros. Como havia lógica na seqüência inglesa, uma alteração dessa lógica afeta a natureza da cidadania. Quando falamos de um cidadão inglês, ou norte-americano, e de um cidadão brasileiro, não estamos falando exatamente da mesma coisa. (CARVALHO, 2002, p.11.)
Por outro lado, a evolução da cidadania seguiu por uma linha temporal frágil e suscetível às intervenções políticas. Diante dessa fragilidade, foi possível que, em alguns momentos históricos, pudessem haver o cerceamento de direitos já conquistados pela luta. Contudo, a luta se mostrou necessária novamente para a reconquista dos direitos incorporados ao entendimento subjetivo dos cidadãos. O exemplo mais recente foi o regime militar adotado durante entre 1964 e 1985, o autor José Murilo de Carvalho (2002, p.209), em sua obra Cidadania no Brasil, o longo caminho, em apertada síntese, destaca: “Os direitos civis estabelecidos antes do regime militar foram recuperados após 1985. Entre eles cabe salientar a liberdade de expressão, de imprensa e de organização.”.
Atualmente, a efetivação dos direitos abarcados pela cidadania se mostrou o maior desafio para os governantes, tendo em vista que as necessidades humanas são ilimitadas e os recursos disponíveis limitados. Tendo como base a escassez dos recursos, deve-se questionar qual é o mínimo de direitos a ser oferecido pelo Estado.
Frente a este questionamento, ter a igualdade como parâmetro de ação nos remete à dimensão social da cidadania, em que direitos básicos para o convívio em sociedade devem ser tutelados de forma prioritária. Essa medida busca reduzir as desigualdades, objetivo elencado na atual constituição vigente.
Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:
I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. (BRASIL, 1988)
No entanto, torna-se curioso a velocidade em que o legislador original alterou o seu animus de luta pela igualdade material. No inciso III do artigo anteriormente citado, o Legislador passa de dizimador ou exterminador da pobreza e da marginalização de classes sociais, para a mera valoração daqueles em que vão se tornar mais iguais ou não, no que diz respeito a indivíduos e regiões menos favorecidas. Ademais, não há que se falar em erradicação da pobreza e da marginalização ainda que haja desigualdade social residual do objetivo posto na CF/88. 
A evolução da cidadania nos mostrou que Estado deve respeitar o cerne dos direitos ligados aos direitos humanos, os quais estão em constante mutação. Isso demonstra que o Estado passa a estar abaixo da lei, não mais acima dela. Isso demonstra uma das faces da democracia, baseada no ensinamento do Professor Alexandre de Moraes (2014, pág. 36) em sua obra Direito Constitucional, que a democracia é o governo do Estado em que o povo exerce soberania, ou, “O Estado Constitucional, portanto, é mais do que o Estado de Direito, é também o Estado Democrático, introduzido no constitucionalismo como garantia de legitimação e limitação do poder.”.
Por fim, a desigualdade é elevada à escravidão atual, impedindo o desenvolvimento e cumprimento dos direitos sociais, os quais, substancialmente, buscam efetivar o exercício da democracia em uma sociedade, demonstrando a sensibilidade da democrácia às ingêrencias dos detentores de poder e tomadores de decisão. Vejamos o entedimento do Autor José Murilo de Carvalho:
A desigualdade é a escravidão de hoje, o novo câncer que impede a constituição de uma sociedade democrática. A escravidão foi abolida 65 anos após a advertência de José Bonifácio. A precária democracia de hoje não sobreviveria a espera tão longa para extirpar o câncer da desigualdade. (CARVALHO, 2002, p.229.)
Com base no exposto, deve-se valorizar a tomada de decisão democrática em prol da perpetuação de direito conquistados através da evolução histórica da cidadania.
4 EVOLUÇÃO DA ASSISTÊNCIA JURÍDICA NO BRASIL
Durante a expansão colonial, o direito no Brasil foi espelho do direito aplicado em Portugal. Nesse contexto, as ordenações Afonsinas (até 1521), Manuelinas (1521-1603) e Filipinas (1603-1916), impactaram essencialmente o direito nos dois países. Dessa forma, o embrião da assistência jurídica em nosso país foi encontrado nas Ordenações Afonsinas. Inicialmente, o Livro III, Título LXXXIV, §10 tratava apenas do aspecto monetário do direito, formalizando a isenção às custas do agravo.
Em sendo o aggravante tão pobre que jure não ter bens imóveis, nem de raiz, nem por onde pague o aggravo, e dizendo naaudiência uma vez o Pater Noster pela alma Del Rey Don Diniz, ser-lhe-á havido, como que pagasse os novecentos réis, contanto que tire de tudo certidão dentro do tempo, em que havia de pagar o aggravo. (apud ZANON, 1990, p.10).
Destaque-se que, ainda no âmbito dos compilados jurídicos, as Ordenações Filipinas normatizaram, timidamente, a defesa técnica nas demandas judiciais, em observância aos pressuposto do que viria a ser o desdobramento do princípio da ampla defesa, sob seus diversos pontos. A defesa técnica, sob a óptica de Ruy Barbosa Marinho Ferreira, busca contemplar as necessidades daqueles que pleiteiam judicialmente, resultando na igualdade direitos frente ao Estado.
Ao falar se de princípio da ampla defesa, na verdade esta se falando dos meios para isso necessários, dentre eles, assegurar o acesso aos autos, possibilitar a apresentação de razões e documentos, produzir provas documentais ou periciais e conhecer os fundamentos e a motivação da decisão proferida. O direito a ampla defesa impõe à autoridade o dever de fiel observância das normas processuais e de todos os princípios jurídicos incidente sobre o processo. A garantia constitucional a ampla defesa contempla a necessidade de defesa técnica no processo, visando à paridade de armas entre as partes e, assim, evitar o desequilíbrio processual, possível gerador de desigualdades e justiça. (FERREIRA, 2011, p.44.)
Após o destaque, é importante retornar as Ordenações Filipinas no que tange à concessão de assistência jurídica eficaz e de qualidade dentro dos parâmetros da época. Nesse sentido, Joaquim Inácio Ramalho (apud ZANON, 1990, p.10) acentua que esse compilado jurídico estipulou, no Livro III, Título XX, §14, que os juízes deveriam sempre preferir o advogado de mais idade e de melhor fama ao mais moço e principiante, a fim de que a parte contrária não fosse beneficiada com uma assistência mais eficaz.
A partir de 1870, o então presidente do Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, Joaquim Nabuco, buscou dar sentido e materialidade aos conceitos tocantes à prestação de assistência judiciária gratuita. Foi de sua iniciativa a criação, naquele instituto, de um Conselho responsável pela prestação de assistência judiciária aos que viviam na pobreza e sem recursos financeiros. Nessa época a assitência judiciária compreendia dar consultas e defender os direitos dessas pessoas. (CASTRO apud ZANON, 1990, p. 12).
Assim, a criação desse Conselho demonstrou que a evolução da assistência judiciária, no Brasil, carecia de segurança jurídica, tendo em vista a ausência de Leis que regulamentassem de forma ampla essa prestação social. Ainda nesse sentido, esse Conselho teve a importante atribuição de representar o avanço na prestação da assistência judiciária, bem como o acesso dos hipossuficientes à justiça.
Na busca de uma Lei que regulamentasse a Assistência Judiciária, o Conselho responsável pela prestação de assistência judiciária, criado pelo Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, designou o relator Perdigão Malheiros para elaborar um projeto de lei. Embora, o projeto de lei não tenha conseguido alcançar o fim proposto em seu bojo, ele resultou na criação do advogado dos pobres, pago pelos cofres públicos e com a atribuição de defender dos comprovadamente pobres nos processos criminais, exclusivamente. (MORAES; SILVA, 1984, p. 86).
Em 1884, a assistência judiciária sofre mais uma derrota ao se extinguir o advogado dos pobres. Assim, seis anos após essa derrota e com o advento da República, Marechal Deodoro da Fonseca, figura central da proclamação da República e primeiro presidente do Brasil, assinou o Decreto nº 1.030 de 14 de novembro de 1890. Esse Decreto, dentre outros mandamentos, autorizava que o Ministro da Justiça organizasse uma comissão de assistência jurídica aos pobres nas demandas criminais e civeis. (ZANON, 1990, p. 13).
Estabeleceu-se que, com base na criação da Ordem dos Advogados do Brasil, através do Decreto nº 19.408/1930 e regulamentação dada pelo Decreto nº 20.784/1931, o exercício da assistência judiciária seria dever dos advogados. É nesse contexto que a Assistência judiciária aos necessitados foi incluída na ordenamento jurídico em 1950 pela Lei 1.060, de 5 de fevereiro de 1950. Mas foi com a Constituição Federal de 1934 que o instituto ganhou respaldo constitucional, sendo renconhecido pela primeira vez em uma constituição.
A inclusão do instituto na Constituição é de grande importância para evolução do mesmo, tendo em vista que, após se tornar mandamento constitucional, o Estado passa a ser obrigado a prestar os meios necessários ao cumprimento satisfativo do serviço público colocado a disposição formalmente, isso demonstra a igualdade horizontal entre a constituição e o Estado. Moraes (1999, p. 98), em breve síntese, afirma que “o legislador constituinte de modo salutar, ao prever no dispositivo telado, a criação de órgãos especiais para a concessão da então assistência judiciária aos subalternizados não só se preocupa em assegurar o direito, como também em torná-lo exercitável”. 
Assim, em observância a obrigação prestacional, vários estados da República passaram a criar órgãos responsáveis pela prestação da assistência judiciária. Salienta-se que o estado de São Paulo foi o precursor na criação desse serviço público, o qual contava com advogados que percebiam salários pagos pelo próprio Estado (MORAES; SILVA, 1984, p. 91). 
Em 1988, com a promulgação da constituição cidadã, surgiu a Defensoria Pública, conforme estabelece o artigo 134 da CF/88: “A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados...”.
Cabe ressaltar a diferenciação da assistência judiciária para a Assistência jurídica, sendo esta mais ampla do que aquela. Assistência judiciária diz respeito ao serviço gratuito de representação em juízo prestado por instituição competente para tal. Já a Assistência jurídica envolve a assistência judiciária, a consultoria e a orientação jurídica.
Convém mencionar que a normatização da Defensoria Pública se deu após um período em que diversos direitos fundamentais foram cerceados, decorrente do regime militar vivenciado e imposto por quase 25 anos, nesse sentido, o constituinte originário buscou especializar a prestação jurídica aos hipossuficientes, para que os direitos oriundos da reestabilização da democracia fossem devidamente respeitados e continuados. Consequentemente, a inclusão da Defensoria Pública na Constituição Federal de 1988 acarretou no desenvolvimento da forma como os direitos fundamentais dos hipossuficientes são protegidos pelo Estado democrático de direito.
4.1 O Acesso à Justiça dentro do Estado Democrático de Direito brasileiro
Inicialmente convém interpretar o termo ”acesso à justiça” para que o presente estudo seja guiado pelo caminho em que o aspecto marcoestrutural fundamente a base sequencial. Assim, com base nos ensinamentos de Portanova (2001, p.112), o acesso à justiça pode ser interpetrado sob dois institutos diferentes, embora relacionados intimamente. 
O primeiro, atribuindo ao significante justiça o mesmo sentido e conteúdo que o de Poder Judiciário, torna sinônimas as expressões acesso à justiça e acesso ao Judiciário; o segundo, partindo de uma visão axiológica da expressão justiça, compreende o acesso a ela como o acesso a uma determinada ordem de valores e direitos fundamentais para o ser humano.
Nesse sentido, o Acesso à Justiça consistia em peticionar, perante o judiciário, ações de interesses daqueles que possuiam as condições financeiras para fazê-lo. Nesse período, a ideia de que o direito ao acesso à justiça fosse um direito natural era rechaçada pela afirmação que os direitos naturais careciam de intervenções ativas do Estado, emborahouvesse o entendimento que os direitos naturais devessem ser reconhecidos pelo Estado para a sua efetivação. (CAPPELLETTI e GARTH, 1988, p.8)
Nesse contexto, o acesso à justiça era mitigado àqueles que não possuisssem as condições ecônomicas, principalmente, de utilizar a justiça. Esse preceito atacava as igualdades materiais, preconizadas pelos direitos de 2º dimensão. Aqueles que não pudessem arcar com os custos do processo eram responsabilizados pela sua incapacidade, esse entedimento buscava eximir o Estado dos prejuízos indivíduais, embora não pudesse fazê-lo quanto aos danos sociais causados por esse entedimento.
Num primeiro momento, o Estado se apoia na fase das abstenções negativas, representada pelo não fazer decorrente dos direitos de primeira dimensão. Superada essa fase, o consenso é que a intervenção positiva do Estado se faz necessária para que os direitos individuais e sociais sejam respeitados e alcançados, em observância à segunda dimensão dos direitos sociais, a qual nos remete à igualdade ou à liberdade positiva.
Isto posto, o reconhecimento do acesso efetivo à justiça busca sob o aspecto individual, além de efetivar outros direitos essenciais para o desenvolvimento social, garantir a defesa de direitos fundamentais basilares para o reconhecimento de novos direitos advindos com a evolução do direito, sem que os direitos já adquiridos sejam alvo de ataque dos interesses dos detentores do poder político e ecônomico. Vale ressaltar o entendimento do jurista italiano Mauro Cappelletti:
(7) De fato, o direito ao acesso efetivo tem sido progressivamente reconhecido como sendo de importância capital entre os novos direitos individuais e sociais, uma vez que a titularidade de direitos é destituída de sentido, na ausência de mecanismos para sua efetiva reivindicação. (8) O acesso à justiça pode, portanto, ser encarado como requisito fundamental – o mais básico dos direitos humanos – de um sistema jurídico moderno e igualitario que pretendaa garantir, e não apenas proclamar os direitos de todos. (CAPPELLETTI, GARTH, 1988, p.10)
Em apertada síntese, esse mesmo autor destaca os obstáculos a serem enfrentados na efetivação do acesso à justiça. Na oportunidade, ressalta fatores externos ao mérito jurídico, o qual deveria ser fator elementar na resolução da demanda. Ressalta ainda que essas diferenças alheias ao direito atingem o princípio da paridade das armas, que busca igualar os desiguais perante as demandas pleiteadas no judiciário. Quando a paridade das armas for observada em sua plenitude, alcançaremos o que o autor intitula de “efetividade perfeita” no acesso à justiça. 
A Efetividade perfeita, no contexto de um dado direito substantivo, poderia ser expressa como a completa “igualdade de armas” – a garantia de que a conclusão final depende apenas dos méritos jurídicos relativos das partes antagônicas, sem relação com diferenças que sejam estranhas ao direito e que, no entanto, afetam a afirmação e reinvindicação dos direitos. (CAPPELLETTI, GARTH, 1988, p.13)
O Acesso à justiça, sob o aspecto da inafastabilidade da jurisdição, é previsto na Constituição Federal de 1988, a qual estabelece que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. Na mesma perspectiva o Código de Processo Civil rege que “Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito”, evidenciando a constitucionalização do processo civil, tendência consolidada pelas normas fundamentais do Processo Civil, constantes nos artigos 1º e 8º do Código de Processo Civil, de 16 de março de 2015.
Dessa forma, Adriana Fasolo Pilati Sheleder (2006, p. 157) ressalta que compreender o acesso à justiça como sinônimo de acesso ao Poder Judiciário reduz a amplitude que esse direito nos traz. Esse direito deve ser observado de forma ampla, entendido como um direito positivado na subjetividade do entendimento, não podendo os meios de sua efetivação serem cerciados por mero entendimento diverso. (BEZERRA, 2006, p. 154).
 O acesso à justiça é um direito fundamental, consagrado em nosso sistema jurídico, e com a finalidade precipua de efetivar os demais direitos humanos e naturais, trazendo justiça àqueles que demandam a proteção dos direitos violados. (GORETTI, 2012, p. 55).
O serviço de acesso à justiça aos hipossuficientes se dá de diferentes formas nos diferentes sistemas jurídicos existentes no mundo. Baseado em CAPPELLETTI e GARTH, Destaca-se três sistemas diferentes dessa prestação estatal: o sistema judicare, o staff model e o misto. (CAPPELLETTI e GARTH, 1988)
Entretanto, utilizando-se da doutrina moderna e levando em consideração o lapso temporal existente, são reconhecidos quatro sistemas na prestação da assistencia jurídica e do acesso à justiça, quais sejam: Pro bono, Judicare, Salaried Staff e Misto ou Híbrido. (Franklyn Roger e Diogo Esteves, Frederico Rodrigues Viana de Lima, dentre outros)
O sistema de assistência jurídica pro bono é aquele em que os advogados particulares atuam sem receber nenhuma contraprestação remuneratória. Eles exercem suas atividades para a população carente de recursos, atuando, dessa forma, por razões filantrópicas, buscando promover o bem-estar dos indivíduos, demonstrando a terceira dimensão dos direitos fundamentais, qual seja, a fraternidade.
O Sitema judicare baseia-se no entendimento que a assistência judiciária e o acesso à justiça são direitos de todos que se enquadrem nos termos da Lei. O Estado oferece uma extensa lista de advogados particulares dispostos a defender o mérito jurídico dos litigantes. Além disso, vale ressaltar, que os advogados são pagos pelos cofres do Estado mesmo não tendo vínculo com este. Nesse sentido, a prestação do serviço, em observância aos princípios da administração pública, é delegada aos particulares. 
A crítica feita ao sistema judicare vai no sentido de que, por se tratar de assistência judiciária, ficam prejudicados os desdobramentos externos ao instituto, principalmente no que tange à atividade de consultoria no reconhecimento de um direito lesado.
Por sua vez, o sistema Salaried Staff é o sistema adotado pela Constituição federal de 1988, esse sistema baseia-se na ideia que o Estado prestará diretamente, mas não exclusivamente, a assistência jurídica aos hipossuficientes e o acesso à justiça social. O Estado, através dos seus cofres públicos, remunera um corpo próprio de servidores para que atuem na defesa dos necessitados, judicialmente e extrajudicialmente. 
Por fim, o modelo misto ou híbrido, além de mesclar os três sistemas anteriores, ele busca incorporar as experiências de outros países e adequar ao nosso ordenamento jurídico.
Isto posto, a inclusão da Defensoria Pública na Constituição Federal de 1988 acarretou no desenvolvimento da forma como os direitos fundamentais dos hipossuficientes são protegidos pelo Estado democrático de direito.
O direito é uma ciência que está em constante mutação, outros termos acompanham esse fenômeno. Inicialmente, a concessão da assistência jurídica era avaliada do ponto de vista exclusivamente econômico. Entretanto, atualmente, o aspecto econômico deixou de ser fator precípuo e deu lugar a fatores sociais que impedem o fruição de direitos fundamentais básicos. Nesse sentido, é importante trazer o entendimento do Defensor Público Federal Daniel Mourgues a respeito do tema.
É de se notar que, no paradigma do Estado Democrático de Direito, o próprio conceito de pobreza evoluiu em relação ao adotado pelos modelos anteriores. Assim, se em um primeiro momento concebia-se como pobre aquele que é desprovido de recursos econômicos, no paradigma atual paulatinamente os termos “pobre e pobreza” vêm sendo substituídos pelos conceitos de exclusão e vulnerabilidade social. (COGOY, 2012, p.143.)
Desse modo, a eficácia na prestação de serviços públicos, a exemplo a assistência jurídica, está intimamente ligada à forma como são analisados os casos fáticos de exclusão e vulnerabilidade social no contexto dos direitos e das garantias constitucionais. Por isso, levandoem conta o enxuto quadro de Defensores Públicos, é necessário que o poder público disponibilize advogados dativos, para exercerem a função precípua da DP.	Comment by Bruno Fonseca: Tópico inconcluso. Fazer um fechamento levando em conta, por exemplo, os advogados dativos, que acabam preenchendo uma lacuna própria dos profissionais de carreira da DP e DPF. Questiono: o próprio Estado, ao saber da existência da necessidade de advogados dativos e não investir mais nas DPs não estimula a desigualdade no acesso à justiça, e por sua vez, na efetivação de direitos e garantias fundamentais? 	Comment by Karol ': 
Isto posto, entrando no campo das suposições e da subjetividade, pode-se concluir que o comprometimento com a defesa técnica do advogado dativo é restrita ao juramento feito perante à Ordem de Advogados do Brasil – OAB, tendo em vista que, na maioria dos casos, o conhecimento da causa é reduzido, bem como os honorários pagos não são atraentes aos profissionais particulares. Tal pressuposto fere o princípio da igualdade e escancara a elitização no acesso à justiça. Esse fato dificulta a efetivação de direitos e garantias fundamentais e atenta contra os princípios constituintes do Estado Democrático de Direito.
4.2 Acesso à Justiça como direito fundamental
O acesso à justiça está elencado no inciso XXXV do Artigo 5° da Constituição Federal de 1988. Este princípio fundamental busca garantir a todos os brasileiros a viabilidade de acesso ao Poder Judiciário e à Justiça, bem como a efetivação dos demais direitos fundamentais. Dessa forma, o Estado tem a responsabilidade de assegurar aos brasileiros e estrangeiros residentes no país a possibilidade de demandar seus direitos.
Ele não é apenas o acesso ao Poder Judiciário gratuito mas, uma garantia universal das defesas de todo e qualquer direito, independente da capacidade econômica, os meios para possibilitar o acesso à justiça. São eles: o direito à informação; direito à adequação entre a ordem jurídica e a realidade socioeconômica; direito ao acesso a uma justiça adequadamente organizada e formada, inserida na realidade social e comprometida com seus objetivos: o direito à pré-ordenação dos instrumentos processuais capazes de promover a objetiva tutela dos direitos e o direito à retirada dos obstáculos que se anteponham ao acesso efetivo à justiça. (NASCIMENTO, 2010)
Pelo exposto, a característica da universalidade se mostra uma diretriz importante na observância dos direitos fundamentais. Nesse aspecto, o acesso à justiça, direito constituído pela Carta Política de 1988, deve ser proporcionado de forma ampla. Assim, embora relatitvos, os direitos fundamentais, tendo em vista que são os direitos mais básicos de um ser humano, devem ser garantidos a todas as pessoas, independentemente de grupo, sexo, cor, raça, idade, etc, podendo, o Poder Judiciário, ponderar o conflito decorrente da interpretação da norma legal ou desrespeito do limite pré-estabelecido pelo próprio direito em exercício. 
Convém lembrar, que esse princípio se estende por diversas áreas do direito, como, por exemplo: o Direito Penal, o Direito Civil, o Direito Administrativo, dentre outros. Entretanto, o acesso a esse princípio difere-se em cada esfera, possuindo áreas onde o processo é mais célere, enquanto outras sofrem com o descaso, quer seja pela alta demanda dos órgãos institucionais, quer seja pela baixa força de trabalho. Nesse cenário a Constituição Federal de 1988 estipula que “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”. (NASCIMENTO, 2010)
No Direito Penal, os litigantes detêm o direito do contraditório e da ampla defesa, que também constam no Artigo 5° inciso LV da Constituição de 1988. O contraditório busca instituir a conformidade entre as partes durante o processo, em observância ao princípio da paridade das armas ou par conditio, permitindo, assim, que ambas as partes possam ser ouvidas, de forma que não haja desigualdades (ALMEIDA, 2016).
 Nesse mesmo contexto, a ampla defesa assegura às partes o poder gerar provas, manifestar-se com os meios necessários, além de sustentar suas alegações e serem ouvidas no julgamento (ALMEIDA, 2016).
Em consequência disso, nota-se a importância da defesa técnica para aqueles que não possuem recursos, visto que é fundamental para decifrar as leis e instruir o cidadão acerca das etapas da persecução penal. Todavia, por falta de conhecimento esse direito ainda não é alcançado por todos os cidadãos brasileiros. (NASCIMENTO, 2010)
Pode-se mencionar, por exemplo, os casos de detentos que ainda permanecem em cárcere, quando já deveriam estar em liberdade. Esse fato ocorre, na maioria das vezes, por não terem a oportunidade de pagar um advogado particular, que esteja integralmente comprometido com a causa de seu cliente. Deve-se destacar ainda que o Estado é responsável objetivamente pelos presos, conforme entendimento jurisprudencial. (NASCIMENTO, 2010)
Ademais, tal fato pode ser derivado da carência de Defensores Públicos, imbuídos da atribuição de acompanhar não somente a persecução penal, mas também o cumprimento da sentença previamente fixada, violando, dessa forma, o que preconiza a Constituição Federal de 1988, a qual estabelece que “o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença”.
Nesse sentido, sabe-se que, nos últimos anos, aconteceram muitas melhorias na assistência judiciária através de medidas importantes que foram adotadas. Em decorrência disso o acesso à justiça fez-se mais acessível para a população, apesar de muitos ainda não terem o conhecimento desse direito. Os hipossuficientes estão cada vez mais buscando seus direitos pelo meio da assistência jurídica gratuita, não apenas direitos mais comuns como, por exemplo, causas familiares ou criminais, mas também, para direitos postos como não tradicionais. (CAPPELLETTI et al, 1988)
Em virtude disso, seria preciso muitos advogados dispostos a assistir àqueles que não possuem condições financeiras para arcar com esse tipo de serviço, sem prejuízo do seu sustento e de sua família. Vale ressaltar que a Defensoria Pública, em parceria com os núcleos de assistência jurídica das Faculdades não possuem capacidade de garantir o atendimento universal às demandas dos hipossuficientes. Atualmente, no Brasil isso não é um problema, pois o país conta com um número grande de advogados, a dificuldade encontra-se no fato de que os honorários pagos aos advogados dativos não são muito atraentes, tornando, em alguns casos, a defesa técnica fraca e prejudicial aos desfavorecidos. (CAPPELLETTI et al, 1988)
Outro meio de acesso gratuito à assistência jurídica são os Juizados Especiais Cíveis e Criminais (Lei n. 9.099/1995), onde o rito processual é mais simples, célere e econômico do ponto de vista processual. Busca-se, num primeiro momento, propiciar o acesso do cidadão ao sistema judiciário para a resolução de conflitos em que o valor da causa seja de menor expressividade. Dessa maneira, por ser um processo mais rápido e estar comprometida com os meios alternativos de solução dos conflitos, os Juizados Especiais acabam favorecendo a tutela satisfativa dos pobres. (Revista da PGE, 2000)	Comment by Bruno Fonseca: Penso que falta você fechar com suas próprias reflexões: aos mais pobres, o que inclui os presos em situação irregular e pessoas que buscam a efetivação de outros direitos, não fica cerceado o acesso a justiça não como resultado do descaso, mas como projeto político do Estado brasileiro? A falta de prioridade para com as DPs não é, em si, um projeto político? Trace um paralelo de quadros do MP e MPF com as DPs e DPFs que acho que ficará claro que sim. Ademais, a desproporção entre as instituições denota violação à paridade de armas na medida em que não se consegue promover uma tutela jurisdicional com igual qualidade ou eficiência. Acho que o caminho para o desfecho do capítulo passa por aí.Questiona-se, portanto, se o descaso com a Defensoria Pública é apenas obra do acaso, ou se há interesses políticos por trás de toda a narrativa feita no que diz respeito à falta de recursos para investimento na assistência jurídica gratuita, sobretudo no âmbito estadual. Ao fazermos uma comparação com a força de trabalho do Ministério Público da União, percebemos, inicialmente, que este se divide em 4 ramos bem definidos, a saber: Ministério Público do Trabalho, Ministério Público Federal, Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e Ministério Público Militar, além dos Ministérios Públicos estaduais.
Nesse sentido, segundo dados da ANADEP de 2013, publicados pelo Instituto de Pesquisa Economica Aplicada – IPEA, a Defensoria Pública da União e a Defensoria Pública dos estados contam com 5.054 Defensores Públicos. Por outro lado, segundo dados do Conselho Nacional do Ministério Público – CNMP de 2015, o Ministério Público da União e os Ministérios Públicos dos estados contam com 12.326 promotores e procuradores de justiça. Outro ponto que merece destaque é a discrepância entre as estruturas administrativas dos órgãos, decorrente do orçamento destinado a cada órgão. (MENDONÇA; 2017)
TABELA 1 – Quantidade de membros do Ministério Público Estadual (MPE) e do Ministério Público da União (MPU), por estado.
	Estados
	Quantidade de membros
do MPE
	Quantidade de membros do MPU
	Acre
	69
	6
	Alagoas
	147
	24
	Amapá
	80
	6
	Amazonas
	167
	28
	Bahia
	559
	84
	Ceará
	362
	81
	Distrito Federal
	Não se aplica
	556
	Espírito Santo
	313
	38
	Goiás
	372
	37
	Maranhão
	301
	36
	Mato Grosso
	216
	41
	Mato Grosso do Sul
	211
	37
	Minas Gerais
	993
	118
	Pará
	302
	52
	Paraíba
	204
	33
	Paraná
	673
	105
	Pernambuco
	391
	73
	Piauí
	160
	36
	Rio de Janeiro
	884
	220
	Rio Grande do Norte
	205
	33
	Rio Grande do Sul
	640
	158
	Rondônia
	135
	24
	Roraima
	47
	16
	Santa Catarina
	437
	66
	São Paulo
	1941
	328
	Sergipe
	134
	23
	Tocantins
	113
	11
	Total
	10056
	2270
Fonte: Quantidade de promotores e procuradores cedida pelo CNMP (2015).
Dado o exposto, a escassez de defensores públicos no Brasil levanta questionamentos acerca do assunto, seria apenas descaso ou um projeto político do Estado? Um estudo realizado pela ANADEP e o Ipea no ano de 2013, buscou saber a proporção de Defensores Públicos distribuídos pelas Comarcas de todo o país. O resultado da pesquisa foi espantoso, faltam Defensores Públicos em 72 % das comarcas no país, isto significa, que das 2.680 comarcas brasileiras apenas 754 possuem Defensoria Pública. Ainda de acordo com a pesquisa, dos 8.489 cargos criados para Defensores Públicos no país, apenas 59% estão ocupados. (INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA; 2013)
Em consequência disso, segundo dados de 2013, nota-se uma desproporção na aplicação dos investimentos no sistema jurídico. Nesse sentido o estudo contabilizou um total de 11.385 magistrados, 9.963 membros do Ministério Público e apenas 5.054 Defensores Públicos. Portanto, o que se encontra na maior parte das comarcas do país é o estado-juiz e o estado-acusação, mas falta o estado-defensor, que é primordial para aqueles que são desprovidos e não podem arcar com um advogado particular.
Em paralelo, a tabela abaixo demonstra os números de cargos providos na Defensoria Pública dos estados, bem como da Defensoria Pública da União.
TABELA 2 – Quantidade de Defensores Públicos no Brasil, por estado.
Fonte: ANADEP, 2013.
Analisando as tabelas postas, conclui-se que a discrepância entre os quadros finalistícos dos órgãos é perceptível pelos usuários dos serviços. Nesse contexto, O Projeto Político de precarização da Defensoria Pública é evidenciado através de uma simples consulta ao sítio da Câmara dos Deputados. Lá, o leitor poderá acessar a Lei Orçamentária Anual de 2020 e fazer um paralelo entre os recursos destinados a cada um dos órgãos. Enquanto a Defensoria Pública dispõe de pouco mais de 588 milhões de reais, o Ministério Público da União conta com mais de 7 bilhões de reais. (CÂMARA DOS DEPUTADOS; BRASIL)
5 ACESSO À ASSISTÊNCIA JURÍDICA NO ATUAL CENÁRIO DE PANDEMIA
O Ano de 2020 ficará marcado na história da humanidade, em razão da pandemia do Sars-cov2, popularmente conhecida como pandemia do covid-19. A pandemia foi declarada pela Organização Mundial da Saúde – OMS em 11 de março de 2020, segundo dados da OMS, até a presente data, são mais de 40 milhões de casos confirmados, dos quais foram confirmadas mais de 1 milhão de mortes em todo o planeta.
No Brasil, O Consórcio do G1 estima que são mais de 5 milhões de casos confirmados, além de mais de 150 mil mortes, até a presente data. Entretanto os números demonstram, com frieza, o impacto da pandemia na vida das pessoas, tendo em vista a prejudicialidade nos aspectos financeiros, ecônomicos, sociais, dentre outros. Essa situação atípica, gerou reflexos imensuráveis no sistema público e privado de saúde, bem como no ordenamento político-jurídico como um todo, essa afirmação desafia as autoridades públicas e a população a adotarem medidas inéditas de superação. (LACERDA, 2020)
Nesse contexto, a adaptação ao novo cenário se deu de forma gradual nos diversos estados da federação, buscou-se, no primeiro momento, conter a dissiminação do vírus sem os cuidados com os efeitos advindos das medidas adotadas. Entretanto, após algum tempo de pandemia e sem a estimativa de melhoras, fatores externos à pandemia passaram a ter papel central no combate à doença, por exemplo: o aumento substancial do desemprego, que já era alto; aliado a isso, o cidadão viu os insumos básicos subirem de preço exponencialmente, gerando, com isso, problemas na observância de direitos fundamentais básicos.
Devido à pandemia, os governantes precisaram tomar medidas sanitárias e sociais para evitar a disseminação do vírus, uma delas foi o isolamento social, o qual seguia orientação para que todos permanecessem em suas casas para se manterem seguros. Em virtude disso, no começo da pandemia muitas ruas ficaram vazias e, consequentemente, as casas cheias e as famílias reunidas. Levando em consideração que as famílias passaram a conviver mais tempo juntas, abusos foram cometidos por aqueles que abusam do poder familiar e subvertem o conceito de amor e carinho.
 Dessa forma, o que para alguns tornou-se o fruto de um devaneio, para outros transformou-se em um cenário de angústia e tormento, visto que muitas pessoas convivem com seus agressores, que geralmente são pais, padrastos, cônjuges e companheiros, enquanto mulheres e crianças costumam ser as vítimas da violência doméstica.
Em decorrência disso, os números de casos de violência doméstica aumentaram substancialmente durante a pandemia, derivada do isolamento social e da necessidade de trabalho remoto. Agora, os agressores passam mais tempo em casa e consequentemente agridem mais suas vítimas, além disso, ao permanecerem mais tempo em casa, dificultam e, na maioria das vezes, até impossibilitam a vítima de poder denunciar essas agressões.
 Segundo dados divulgados pela página na internet Agência Brasil, houve o aumento de 22,2% nos casos de feminícidio, entre março e abril deste ano, comparado ao ano anterior. O aumento foi registrado em 12 estados da federação, com destaque negativo para o Acre, estado em que o aumento foi de 300%. Por outro lado, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais viram os números caírem. (AGÊNCIA BRASIL; 2020) 
 Outro fator restritivo é que essas vítimas se sentem inseguras de seguirem com a denúncia feita ao chefe de polícia, principalmente devido ao fato de que os serviços públicos, por exemplo: os Tribunais de Justiça e o Ministério público, estarem prestando serviços de forma remota ou, em alguns casos, suspendendo os prazo processuais.
 A demora na persecução penal acaba gerando diversos problemas psicológicos, derivados do sentimento de insegurança, bem como pela ansiedade da vítima de ver o agressor punido pelo Estado. Outro ponto bastante destacado ao longo do trabalho é que, tratar deuma pessoa hipossuficiente, os meios tecnológicos e o manuseio desse tipo de tecnologia são inalcançáveis para pessoas de menor capacidade financeira. 
Assim, com vistas a amenizar a crise financeira que se instalava, o governo federal, como medida de enfrentamento da pandemia, anunciou o pagamento do auxílio emergencial àqueles que cumpram os requisitos estabelecidos, na maioria dos casos pessoas carentes de recursos financeiros. O benefício assistencial busca prover as pessoas das necessidades mais básicas, como alimentação e moradia.
Vale ressaltar como está sendo a atuação da DPU na assistência dos hipossuficientes no recebimento do auxílio emergencial. Destaca-se, inicialmente, que, até a presente data, foram contabilizados 217.219 atendimentos, com 73.118 processos de assistência jurídica instaurados e 12.029 processos judicializados. Ademais, foi dilvulgado em maio um acordo feito entre a DPU e o Ministério da Cidadania para a contestação das negativas referentes ao auxílio emergencial, gerando aumento na demanda, ultrapassando a capacidade de atuação da instituição. (DEFENSORIA PUBLICA DA UNIÃO; BRASIL)
No período, a unidade da DPU no estado da Bahia registrou 10 mil atendimentos no que diz respeito ao Auxílio Emergencial. Com vistas a prestar a assitência de forma satisfatória, a unidade montou uma força tarefa com 19 defensores públicos federais para atuar nos casos de auxílio emergencial, além do reforço de sete defensores da área cível, que passaram atuar conjuntamente nos casos de negatória do Auxílio emergencial. Entretanto, levando em consideração da alta demanda, associada ao déficit de defensores, servidores e estagiários, as unidades de Salvador, Feira de Santana e Juazeiro/Petrolina tiveram que suspender, por tempo determinado, o atendimento remoto a novos casos até, pelo menos, o final de agosto. (DEFENSORIA PUBLICA DA UNIÃO; BRASIL)
A Crítica vai no sentido de que os quadros da DPU não comportam analisar todos os casos de indeferimento do Auxílio emergencial, cerca de 40 milhões. Atualmente, a DPU conta com 650 Defensores Públicos, que atuam em diferentes demandas relevantes de outras áreas, como saúde, previdenciária, militar e eleitoral, não sendo possível o direcionamento de toda a força de trabalho para a demanda pandêmica. Aliado a tudo isso, as limitações orçamentárias impostas pela Emenda constitucional n. 95 ou Emenda do Teto dos gastos não permitiram à instituição trabalhar com o plano de interiorização, estando presente apenas em parte das subseções da Justiça Federal (Associação Nacional dos Defensores Públicos Federais – ANADEF; BRASIL)
Em observância ao preconizado na Carta Cidadã, a DPU está atenta aos impactos que a pandemia traz às comunidades tradicionais, as quais encontram-se marginalizadas e esquecidas pelo Poder Público na maioria dos casos. Nesse sentido, a DPU pleiteou no Judiciário que os direito fundamentais dessas comunidades sejam respeitados e resguardados.
a Defensoria Pública da União (DPU) requereu ao Supremo Tribunal Federal (STF) admissão como amicus curiae na arguição de descumprimento de preceito fundamental 742/DF, que pede, em caráter liminar, que seja determinado à União a implementação de um Plano Nacional de Combate aos Efeitos da Pandemia de Covid-19 nas Comunidades Quilombolas, em um prazo máximo de 30 dias. (DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO; BRASIL)
Dessa forma, a Defensoria Pública, como órgão imbuído da defesa dos hipossuficientes, por mandamento constitucional, teve que se reinventar para que continue prestando seus serviços da melhor maneira possível.
Nesse sentido, a prestação do trabalho de assistência jurídica gratuita teve que sofrer alterações, decorrentes da imposição do distanciamento social, motivado pela tentativa de conter a dissiminação do vírus. Logo no início da Pandemia, ainda em março, a Defensoria Pública criou um canal para receber denúncias de violações de direitos da população. (AGÊNCIA BRASIL, 2020)
Em virtude do que foi mencionado anteriormente acerca da pandemia, outro fator que influenciou negativamente os hipossuficientes obterem acesso à Justiça foi a dificuldade que os Defensores públicos encontraram em atender essa população carente através do meio virtual. Uma pesquisa feita pelo Núcleo de Estudos da Burocracia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), analisou como os defensores públicos consideram os efeitos da pandemia sobre os assistidos, como os impactos psicológicos causados pelo isolamento e afastamento do trabalho presencial. (BARROS, 2020)
A maior dificuldade relatada pelos Defensores Públicos se trata da continuidade na assistência da população carente. O cenário pandêmico expôs a vulnerabilidade digital que atinge a população mais pobre do país, justamente aqueles que mais necessitam desse tipo de assistência não possuem condições para comprarem ferramentas tecnológicas. Uma parcela de pessoas que necessita desse tipo de serviço depende do atendimento presencial, como, por exemplo, mulheres em situação de violência doméstica, moradores de rua e familiares de pessoas em privação de liberdade, esse público encontra dificuldade de ter assistência do defensor em todas as fases do atendimento. (BARROS, 2020)
Dessa forma, a saída para esse tipo de problema foi criar iniciativas para o desenvolvimento tecnológico de novos canais de atendimento, como, a criação de um assistente virtual adaptado para o acesso ser mais comum em aparelhos celulares, além disso, também foi criado um aplicativo específico para assessoria. (BARROS, 2020)
Nesse sentido, também foram criadas soluções para aqueles que não possuem meios tecnológicos para acessar os defensores, a exemplo da criação de uma unidade da Defensoria Pública, para aqueles que precisam realizar uma audiência pública possa ir lá participar. Outro meio de atendimento é por meio de ligações, logo no início da pandemia os defensores disponibilizaram números telefônicos. Os obstáculos causados por esses tipos de atendimentos não presenciais são de fato prejudiciais, entretanto, os defensores relatam que a comunicação com os assistidos tem uma maior frequência por meios virtuais. (BARROS, 2020)
Outra preocupação constante durante a pandemia é a demanda que se intensificou por várias questões, por exemplo, as associadas ao auxílio emergencial e a negociação de dívidas. Neste momento crítico, muitas pessoas que não estavam dentro desse perfil da Defensoria, agora buscam ajuda a esse órgão. (BARROS, 2020)
Aparte do assunto, surge, nesse momento, o problema de acesso aos serviços disponibilizados por meio de plataforme digital, tendo em vista que as pessoas que necessitam desse tipo de serviço, na maioria dos casos, não dispõem de recursos informáticos e muito menos conhecimento de uso dos mesmos.
 Essa situação é vivenciada diariamente no núcleo de prática jurídica da UNICEPLAC, em que os assistidos são, na maioria das vezes, analfabetos funcionais e tecnólogicos, demostrando a importância do atendimento presencial às demandas dos hipossuficientes.
Retornando às ações da DPU durante a Pandemia, observamos o comprometimento da instituição, apesar dos limites técnicos e de pessoal do órgão, tanto no âmbito federal, quanto no ambito estadual. A DPU vem atuando em diversas frentes, principalmente no que tange à saúde e na análise da negativa, pelo poder público, do pagamento do auxílio emergencial, que tem bases fundamentais na continuidade da estabilidade social.
Insta salientar que a violação de direitos, no Estado Democrático, devem encontrar sua última barreira no limite da reserva do possível e do mínimo existencial. Ou seja, a partir do momento que o Estado marginaliza a prestação dos meios de concretização dos direitos elencados na CF/88 e conquistados pela evoluação social decorrente dos anseios coletivos, evidenciados nas revoltas populares, o príncipio que garante o mínimo aos cidadãos é desrespeitado. (MONTEIRO; 2013)
Nesse contexto, para Bonaventura (1985), existem três tipos de obstáculos que impedem que as classes populares tenham acesso à justiça: econômicos,sociais e culturais. Entretanto, tendo em vista o atual momento vivenciado, conclui-se que há um quarto elemento obstaculizador do acesso à assistência jurídica gratuita, qual seja: a necessidade de estabilidade sanitária. Esse elemento se coloca no topo da pirâmide, tendo em vista que sem a estabilidade sanitária os demais elementos, automaticamente, entram em colapso.
Na seara dos maiores desafios do Direito na atualidade, qual seja: a efetiva concretização do direito de assistência jurídica gratuita. A Defensoria Pública acumula importante papel na efetivação do princípio fundamental da Assistência Jurídica, além de se motrar bastante presente na sua missão de defender grupos desfavorecidos do ponto de vista social, econômico, jurídico e cultural. (MONTEIRO; 2013) 
Embora a força de trabalho da Defensoria Pública tenha sofrido bastante com a pandemia, a Casa Cidadã não deixou de prestar os atendimentos de forma remota. Entretanto o serviço se mostrou bastante caótico, tendo em vista que o uso das novas tecnologias ainda pode ser problema para os assistidos. Nesse contexto, a Defensoria Pública atua sempre em consonância com os movimentos sociais e globais, dessa forma, embora o atual movimento não seja social, mas sim sanitário, requer a mesma intensidade de prestação nos serviços de assistência jurídica. (MONTEIRO; 2013)
Anteriormente foi falado que a educação é base para o conhecimento dos direitos e efetivação dos mesmos. Somente ela pode propiciar o questionamento a respeito de quando o mínimo existencial foi violado pelo Estado. Pertinente se faz colacionar a inteligência da Defensora Pública do Estado do Ceará, Camila Vieira Nunes Moura.
Dessa forma, a educação em direitos é pressuposto da própria orientação jurídica prestada Defensoria Pública, sendo anterior a esta e corretamente prestada pela instituição, pois a Defensoria Pública, ao promover a educação em direitos, está contribuindo para a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, para a erradicação da pobreza e da marginalização e redução das desigualdades sociais, bem como para a promoção do bem de todos. (NUNES; 2013; p.105)
Ante o exposto, a Defensoria Pública torna-se responsável pela assessoria jurídica popular nos diversos aspectos da busca pela efetivação dos direitos fundamentias e humanos.
No Poder Judiciário, durante a pandemia, o acesso à justiça mudou completamente, pelo fato de que todas as atividades presenciais passaram a ser realizadas de forma remota, a fim de manter o isolamento social. Somado a isso diversos serviços prestados pelos órgãos do Poder Judiciário começaram a ocorrer exclusivamente através de dispositivos tecnológicos.
 Desse modo, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), com o intuito de possibilitar a realização de ações que demandavam a presença das partes, Magistrados, Desembargadores e Ministros, além de audiências e sessões dos Tribunais, disponibilizou o sistema Cisco Webex, que consiste em um programa que permite a criação de salas virtuais pelos magistrados para realização dessas ações. (CALDAS et al, 2020)
Assim, depois de uma situação vivenciada na 4° Vara do Trabalho de Curitiba, onde um trabalhador pretendeu fazer uso do princípio do jus postulandi, mas não fazia ideia de como seguir adiante, foi designada uma sessão via Cisco Webex Meetings, de modo a possibilitar a juntada de documentos.
 Diante disso, averiguou-se que o sistema Cisco Webex além de ser útil para audiências e sessões, também seria proveitoso para reuniões e atendimento às partes, pois se assemelhava ao atendimento no balcão da secretaria da Vara, uma vez que o sistema proporciona a entrada de arquivos e a secretaria só necessita de certificar a juntada. (CALDAS et al, 2020)
Tal ferramenta, ajudou bastante neste momento tão difícil em que o atendimento necessita ser remoto. Por outro lado, prejudicou cidadãos hipossuficientes que, por falta de recursos para contratar um advogado, tiveram que abrir mão, em parte, de direitos reconhecidos. (CALDAS et al, 2020)
 Anteriormente à pandemia, essas pessoas, na maioria dos casos, buscaram a assistência jurídica de forma pessoal, postulando suas alegações para que, no caso da Justiça do Trabalho, a Secretaria da Vara reduza suas alegações a termo. Todavia, sem atendimento presencial os trabalhadores se viram sem alternativas, justamente no momento em que o desemprego está batendo números recordes, pois os empregadores encontram-se sem capital para cumprir suas obrigações e foram obrigados a fechar as portas, demitindo, consequentemente, seus funcionários. (CALDAS et al, 2020)
 Ocorre que, em alguns casos, as verbas rescisórias não foram honradas devidamente. Esse fato demonstra a necessidade de acesso ao judiciário mesmo em tempos de pandemia. (CALDAS et al, 2020)
Isto posto, a eficácia e a aplicabilidade das normas atinentes aos direitos fundamentais refletem o enunciado positivado na CF/88. Nesse contexto, diversos direitos ali postos necessitam da intervenção do Estado para a sua efetivação. Entretanto por serem normas prográmaticas, o Estado encontra pressupostos de não cumprimento de direitos fundamentais, tendo em vista a discricionaridade advinda das normas de eficácia limitada. Vale ressaltar que, embora a aplicabilidade esteja condicionada ao comportamento ativo do Estado, esse tipo de norma possui um núcleo mínimo de observância, podendo ser objeto de análise pelo Poder Judiciário. Nesse aspecto, ao se possibilitar o exercício de um direito fundamental, é necessário, também, que o Estado formule os meios que se dará o exercício. Vale destacar trecho do Livro do Ministro Alexandre de Moraes.
São direitos constitucionais na medida em que se inserem no texto de uma constituição cuja eficácia e aplicabilidade dependem muito de seu próprio enunciado, uma vez que a Constituição faz depender de legislação ulterior a aplicabilidade de algumas normas definidoras de direitos sociais, enquadrados entre os fundamentais. (MORAES; 2014; p. 30)
Convém mencionar, portanto, que as políticas estatais devem ir no sentido de que as condições para o exercício desses direitos devem estar de acordo com o público que faz uso das prestações sociais estatais. A contrário sensu, o Estado demonstra com as políticas implementadas que o cumprimento do mandamento constitucional faz parte de planos secundários. Dentre essas políticas que não agregam valor para a universalização dos direitos fundamentais, podemos citar a Emenda do Teto de Gastos que foi amplamente criticada pelos diferentes movimentos sociais, bem como o Sistema Tributário adotado pelo Brasil. Nesse sentido, o Brasil adota o sistema tributário regressivo, o qual busca tributar o consumo, por meio dos impostos indiretos. Ocorre que a alta carga tributária incidente sobre os produtos atinge severamente os mais pobre, tendo em vista a escassez de recursos.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento do presente estudo possibilitou uma análise de como a assistência jurídica gratuita é importante no desenvolvimento de direitos, bem como na manutenção dos direitos já adquiridos. Por se tratar de tema transversal, a assistência jurídica gratuita no Brasil sofre com as interferências políticas e de movimentos antisociais.
Inicialmente, o horizonte que o conceito de cidadania nos traz hoje é diferente do que o mesmo nos trazia há algumas décadas ou séculos. Ao longo do tempo, a cidadania se desenvolveu em conceito e em potêncialidade principiológica. Com isso, o Estado se viu obrigado a acompanhar os direitos advindos da evolução da Cidadania, tendo em vista que, com o passar do tempo, direitos foram se acumulando no cerne dos direitos dos cidadãos em sentido amplo.
Ademais, os direitos abarcados pela cidadania encontram respaldo no supraprincípio da dignidade da pessoa huamana, razão pela qual há óbice em retroceder no que diz respeito a direitos adquiridos.
Ao mesmo tempo que a cidadania convertia lutas e revoluções em direitos, surgia a demanda pela satisfação desses direitos pelos mais necessitados, civilmente chamados de hipossuficientes.

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